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Estudo Dirigido I de Ergonomia

Disciplina: EPD071 - Ergonomia I


Data: 21/09/2022

Alunos:

Matheus Avellar - 2021018886


Vitor Avila - 2021019017

1) Tarefa prescrita, tarefa real, variabilidade, regulação e atividade são conceitos


centrais em Ergonomia. A apropriação e apreensão desses conceitos é fundamental
para permitir uma boa condução da ação ergonômica na análise e intervenção nas
situações de trabalho, que é o objetivo primordial da Análise Ergonômica do Trabalho e
da Ergonomia da Atividade em geral.

Discuta os conceitos apresentados acima a partir do livro de Guérin et al. (2010), do


artigo de Souza, Lima e Varella (2004), do caso das Centrais Mecanizadas de Triagem, e
do documentário Carne e Osso, buscando responder à seguinte questão: “O que
significa dizer que a atividade de trabalho possui uma função integradora?”. Para
ilustrar seu entendimento, dê exemplos de como esses conceitos aparecem e se
articulam na prática, a partir dos casos mencionados ou de outros que conheça.

Ao realizar um trabalho, as pessoas não fazem exatamente o que lhes foi ordenado,
devido ao fato de existirem fatores externos ao Procedimento Operacional Padrão (POP)
planejado que trazem consequências que podem atrapalhar, surgindo a necessidade de
adaptarem para o trabalho real. Tais fatores, nomeados variabilidades, muitas vezes, estão
ligados à falta de condições para que realizem os trabalhos de forma contínua, ou até
mesmo por cansaço físico, mental e cognitivo, assim, gerando a regulação, visando reduzir
essas causas da variabilidade. Para continuar a discussão, urge-se a necessidade de
entender os conceitos centrais da Ergonomia, de forma a ser possível apresentar os reais
problemas e paralelos entre cada uma das partes e suas consequências. São cinco os
principais a serem discutidos, cujos significados serão apresentados a seguir:
● Tarefa prescrita → É a tarefa descrita de acordo com o que deveria ser,
normalmente por pessoas de fora do ciclo operatório, com consequente
desconsideração de fatores humanos e de detalhes importantes. Refere-se ao que é
esperado no âmbito de um processo de trabalho específico e em poucos casos
descreve a realidade.

● Tarefa real → Apesar de constar, conceitualmente, de forma semelhante à atividade,


tendo em vista as semelhanças, principalmente relacionadas à execução prática de
ambas, a tarefa real possui um significado referente à mobilização corporal e
psicológica do proletário. Isto significa pontuar o quão incitado, em termos físicos,
emocionais e morais, o indivíduo é durante a realização e cumprimento de suas
tarefas cotidianas. Se trata de algo mais pessoal, ainda mais quando se estabelece
um comparativo com a tarefa prescrita, na qual não se faz referências pessoais,
construindo parâmetros robotizados de execução trabalhista.
● Variabilidade → A consciência por trás da variabilidade, no âmbito ergonômico, está
correlacionada diretamente à divergência entre o que se espera e o que é,
efetivamente, realizado. É válido ressaltar que, por vezes, durante a concepção do
que se denomina como trabalho não se possui discernimento da atividade real e, por
conta disso, a tarefa prescrita e seus meios de execução rejeitam, inevitavelmente,
as variáveis inerentes à concretização do trabalho e ao sujeito que o intermedia.
Dessa forma, nos deparamos com a realização de uma tarefa real, que lida com a
variabilidade.

● Regulação → O conceito de regulação é utilizado em ergonomia conforme o objeto


em que a regulação incide, como foi colocado por Hubault em “Le métier
d'ergonomie, entre intelligence politique et posture clinique”. A título de exemplo,
pode-se citar a atividade humana como ela própria, na qual o operador, tido como
indivíduo, é capaz de regular sua atividade laboral, no intuito de evitar conflitos
internos e atingir o resultado final, esperado pelo próprio ser humano.
Ademais, a regulação age de acordo com a tarefa propriamente dita. Isto
significa que, nos contextos em que não se alcancem os objetivos pré-determinados,
por exemplo, ocorra uma alteração nos modos de operação e processamento,
radical, ou não, caso haja a comprovação da divergência entre a performance
desejada e a que foi efetivamente alcançada.

● Atividade → A atividade é o que, efetivamente, ocorre no cotidiano laboral do


trabalhador, ou seja, é o que ele faz para cumprir as obrigações prescritas na tarefa.
Estabelecendo-se um comparativo com a tarefa prescrita, pode-se observar que se
trata de algo coletivo, haja vista que várias pessoas podem ser contratadas para
exercer essa função. A atividade, por sua vez, é individual e não bastaria ler a
descrição documentada da tarefa para que chegasse à conclusão do que acontece
no dia a dia. Fica claro, assim, que a saúde e segurança laboral, temáticas
ergonômicas imprescindíveis para se discutir, não são determinadas pela tarefa, e
sim pela atividade.

Partindo para uma parte prática, serão os exemplificados os conceitos apresentados


com os casos apresentados em sala de aula, tais como o caso “Centrais Mecanizadas de
Triagem” e o documentário “Carne e Osso”. No documentário, ao pegarmos como base o
processo de desossa das carcaças de frango, em que os funcionários tinham, idealmente,
seis segundos para a tarefa (tarefa prescrita), estabelece-se um contraponto, tendo em vista
que, ao definir o POP para tal ação, foi ignorado o fato de que os trabalhadores deveriam
amolar as facas para realizar a desossa, além de apenas cortar as peças (tarefa real).
Sendo assim, surgiu, por consequência, uma diferença a ser corrigida pelos operadores
(variabilidade), visto que estavam em uma linha de produção e o número de carcaças a
serem trabalhadas é definido, surgindo a necessidade de diminuir o tempo de desossa
médio para conseguirem amolar a faca (regulação).
Tal exemplo é muito realista e aplicável na conceituação apresentada, pois
demonstra a clara discrepância entre as atividades realizadas pelos trabalhadores e as
tarefas prescritas, mostrando a falta de realismo ao montarem os POPs para os operadores.
Porém, em relação às atividades, é possível perceber uma clara integração entre as
pessoas durante todo o documentário, em que as atividades, que são complementares, são
feitas com interação entre si. Além disso, é clara a necessidade dos trabalhadores em
distinguir as tarefas prescritas e reais, surgindo a função integradora da atividade.
Entrando, finalmente e, de fato, na função integradora e suas relações com as
atividades de trabalho, entendemos como a diferença entre o que a empresa quer (tarefa
prescrita) e os objetivos que o trabalhador se dá (tarefa real). Tal divergência é clara, pois
toda atividade é diferenciada entre o divulgado e o interpretado, visto que cada pessoa tem
uma forma de raciocínio e que condições anômalas não são consideradas, como a queda
da luz de uma empresa, por exemplo. Tais problemas tecnológicos podem ser tratados
como um caso particular de uma categoria mais geral de problemas: o desajuste dos
artefatos técnicos às condições em que devem operar, que resulta da desconsideração do
caráter singular das situações de trabalho, tornando imprescindível o trabalho humano na
“pavimentação” do caminho das máquinas, e isso mesmo em sistemas automatizados
(Collins, 1990; Lima, 2005). Demonstrando, portanto, a questão da Função Integradora das
Atividades.
Em suma, a função integradora do trabalho se constitui como a relação entre o
trabalho, a empresa e as variáveis e elementos que os compõem. O proletariado é descrito
e explicitado a partir de suas características pessoais e intrínsecas (sexo, idade…), de suas
experiência, formações e competências desenvolvidas nos processos profissionais e
acadêmicos e a partir de suas condições momentâneas durante o exercício laboral, levando
em consideração, basicamente, fatores de saúde física e emocional. Por outro lado, a
empresa se retrata a partir de seus objetivos e norteadores estratégicos, da organização
laboral interna e tudo que a circunda, como as instruções, delegação de tarefas e
documentação de métodos e procedimentos, além de se fundamentar a partir do espaço
físico e das ferramentas utilizadas interna e externamente. Entre ambos os agentes
supracitados, há fatores que integram e fomentam essa relação, tais como: o contrato; as
tarefas prescritas e aquelas efetivamente realizadas pelo trabalhador; a atividade laboral
propriamente dita, incluindo suas variáveis de atuação; a questão de saúde e eventuais
acidentes.

2) Qual a relação existente entre variabilidade, regulação, modos operatório e carga


de trabalho? Quais os possíveis efeitos e consequências dessa relação, de um lado,
para a produção, e, de outro, para a saúde dos trabalhadores? E, de maneira mais
ampliada, quais as possíveis consequências (diretas e/ou indiretas) para o conjunto
da sociedade?

De uma forma mais geral, conceitua-se a questão do modo operatório e a carga de


trabalho, para futura correlação entre os demais conteúdos, mesmo que sejam ideias que
pareçam triviais. Assim, temos o primeiro como maneiras de equacionar os objetivos, meios
e prescrições, e o segundo como a quantidade de trabalho a ser desenvolvido. Essas partes
tem bastante relação, pois quanto maiores forem a carga de trabalho e os modos
operatórios, menor a possibilidade do funcionário de desenvolver o trabalho de forma
natural, virando, basicamente, um repetidor de ações.
Utilizando as explicações realizadas, na questão um, sobre variabilidade e
regulação, somadas aos significados dados anteriormente, sobre os modos operatórios e
carga de trabalho, podemos chegar à uma conclusão clara para os trabalhadores: “com o
aumento da carga de trabalho, menor será a quantidade dos modos operatórios
disponíveis.” Ou seja, quanto mais a pessoa trabalhar, menos tempo ela tem de melhorar
suas práticas e promover mudanças, ou melhor, fazer suas regulações, além de aumentar a
variabilidade com o aumento da carga, de forma física, cognitiva ou de tempo, pelo cansaço
que gerará nos trabalhadores ao longo do tempo trabalhado.
É válido pontuar, ainda, que o trabalhador utiliza os meios de que dispõe, levando
em conta seu estado de saúde, seus conhecimentos, e, por conseguinte, desenvolvendo
um modo operatório peculiar de agir nas situações de trabalho. Desta maneira, para os
autores que corroboram com este ideal, a estratégia de regulação é um processo
multideterminado por fatores de natureza distinta, dentre eles: a interação do trabalho com a
pré-determinação da tarefa (prescrita); condições pessoais experienciadas (estado de
saúde, competências e projeções pessoais…); condições locais (iluminação,
manutenção…); dentre outros.
Levando em consideração o supracitado, fica fácil, portanto, estabelecer-se a
conclusão de que, diante de um número considerável de variáveis atuantes no processo, o
trabalhador não é, simplesmente, um mero feitor, mas também exerce o ofício de operador,
realizando o controle de suas próprias exigências, como ser humano. Isso significa que ele
aprende enquanto age, se adapta às variações e condições inerentes ao plano laboral e
tem poder de decisão parcial sobre o exercício de algumas dessas funções. Porém, em
muitos casos, isso é mal visto pelas empresas, já que, por vezes, consideram que essas
mudanças são contrárias aos POP’s, ocasionando a demissão e realocação dos
funcionários simplesmente por se mostrarem contra as regras impostas ao processo. Além
de que, com as regulações, sua produtividade cai drasticamente por cansaço ou por não
conseguirem realizar a meta definida, gerando, também, uma consequente demissão ou
substituição. Tais possibilidades geram medo e pressão nos trabalhadores para
conseguirem alcançar a meta proposta, os fazendo cumprir mais horas do que estão sendo
pagos, perder horas de sono tanto por conta de longas jornadas de trabalho quanto pelo
fator da ansiedade gerada por ele e, em casos mais extremos, sofrer problemas
psicológicos e físicos mais sérios, como a depressão e problemas sérios de coluna. Sendo
assim, ocorre uma situação em que ambos perdem, tanto o lado da sociedade, quanto a
empresa.
Entretanto, é possível constatar que, por mais que o proletariado exerça funções que
asseguraram sua eficácia no exercício da tarefa e, por conseguinte, realizam a manutenção
da sua saúde pessoal, a carga horária e a pressão pela realização exata da tarefa prescrita
afetam, inevitavelmente, o estado de saúde do trabalhador. Ademais, as variáveis, como as
presentes no local de trabalho (iluminação, temperatura, poluição sonora…), por exemplo,
prejudicam diretamente à saúde do trabalhador, comprometendo, assim, a produção geral
do empreendimento. A regulação, por mais que delimite o que é e não é permitido no
ambiente laboral, por vezes, não leva em consideração tais variáveis e, consequentemente,
estabelece limites subumanos e inviáveis para execução na prática, levando, novamente, à
deterioração na qualidade produtiva e complicações na saúde laboral.
De forma generalizada, os impactos gerados pela correlação desses tópicos em
termos de sociedade são inúmeros, dentre os quais podem-se destacar as decorrências
sociológicas e humanitárias em termos, primordialmente, de saúde. Desta forma, a
subvalorização do trabalho torna-se realidade e, com ela, a normalização de condições
laborais subumanas, o que envolve remuneração e o ambiente de ofício do trabalhador.
Ademais, com a saúde proletária prejudicada severamente, a superlotação de hospitais
públicos torna-se uma questão, tratando não somente casos psicológicos, como também
casos de saúde física, como acidentes causados por problemas de manutenção ou até
mesmo pelas condições laborais impostas.

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