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transformarem em heróis, porque a sociedade não compactua com os seus valores.
Simão não cede aos valores sociais da época que condenam o seu amor por Teresa.
Assim, a morte é o regresso
Capítulo I
“O Corregedor admirava a bravura do seu filho Simão e dizia à consternada mãe que o
rapaz é a figura e o génio do seu bisavô, Paulo Botelho Carriço, o mais valente fidalgo
que dera Trás- Os -Montes.”
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A propósito das ameaças que Baltasar Coutinho faz a Teresa de Albuquerque, esta
escreve uma carta a Simão Botelho.
“O académico, chegado ao período das ameaças, já não tinha luz nos olhos para
decifrar o restante das cartas. Tremia de sazões e as artérias centrais arfavam-lhe
entumescidas. Não era sobressalto de coração apaixonado. Era a índole arrogante que
lhe escaldava o sangue. Defesa da sua dignidade que lhe provém de uma força interior
muito grande e que o define desde o início.”
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“A submissão é uma ignomínia, quando o poder paternal é uma afronta.”
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Vergonha subjacente a crítica à autoridade paterna.
Não aceita as regras e os valores.
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- É parvo este homem! – disse o académico. Eu não discuto com sua Senhoria… Minha
Senhora - disse ele a Teresa com a voz comovida e o semblante alterado unicamente
pelos afetos do coração.- Sofra com resignação da qual eu lhe estou dando um
exemplo
(A vivência do amor) Leve a sua cruz, sem amaldiçoar a violência e bem poder ser que a
meio caminho do seu calvário a misericórdia divina lhe redobre as forças.”
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Amor
Sofrimento
Resignação
Rebeldia face à sociedade
Neste momento, dá-se aquela peripécia terrível que é a morte de Baltasar Coutinho.
Simão vai matar Baltasar, nessa luta que ambos estabelecem um com o outro e vai
mostrar a sua nobreza de carácter e a sua honra, uma vez que não foge. É-lhe
proposta a fuga. Mas Simão não aceita.
(…)
Baltasar tinha o alto do crâneo aberto por uma bala (…). Os liteireiros e os criadores
rodearam Simão que conservava o dedo no gatilho da outra pistola (…)
- Fuja, que a égua está ao cabo da rua – disse o ferrador ao seu hóspede.
- Não fuja… salve-se e depressa – respondeu Simão.
- Fuja, que se ajunta o povo e não tardam aí soldados.
- Já lhe disse que não fujo - replicou o amante de Teresa, com os olhos postos nela,
que caíra desfalecida nas escadas da igreja.
- Está perdido! – tornou João da Cruz.
- Já o estava. Vá-se embora, meu amigo. Por sua filha lhe rogo. Olhe que pode ser-me
útil. Fuja.
capítulo XII
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Nobreza de carácter e sentido de honra de Simão Botelho. Não foge.
Condenado à forca,
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“- Vossa Senhoria! – disse o Meirinho espantado e, aproximando-se, acrescentou a
meia voz – Venha que eu deixo-o fugir.
- Eu não fujo – tornou Simão. Estou preso. Aqui tem as minhas armas. E entregou as
pistolas …
(…)
“Simão Botelho vira imperturbável o seu julgamento.”
(…)
Ouviu o réu a sentença de morte natural para sempre na forca arvorada no local do
delito,
- Ides ter um belo espetáculo, senhores. A forca é a única festa do povo.”
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Simão mostra-se desdenhoso dos valores desta sociedade, nos quais não se
reconhece.
Mantém a sua integridade e condena os valores da época.
Carta de Tersa a Simão no Convento de Monchique - Porto, capítulo XIII
“Simão, meu esposo, sei tudo. Está connosco a morte…
(:..) Ouvi a notícia da tua própria morte, e então compreendi porque estou morrendo
hora a hora
Aqui está o nosso fim, Simão (…)
Ver-nos-emos num outro mundo, Simão?
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Misticismo cristão – consolo e crença numa vida eterna, mas não dentro desta
sociedade, não na vida terrena.
Dá-se mais tarde a possibilidade de comutação da pena da forca para a pena do
degredo. E Tadeu Albuquerque, o pai de Teresa, vai interferir, para que a pena não seja
comutada, para que Simão seja condenado.
Capítulo XIV – O Desembargador diz a Tadeu Albuquerque que se não se tivesse
oposto a esta relação amorosa, nada disto teria acontecido. O Desembargador tem
consciência da figura de exceção de Simão Botelho, que tem tudo para ser um
desgraçado, é um desgraçado e, no entanto, não pede clemência.
Simão Botelho idealiza um mundo melhor. É o indivíduo em oposição à sociedade.
“ Esse infeliz moço contra quem o senhor solicita desvairadas violências, conserva
honra na altura da sua imensa desgraça.”
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Há um reconhecimento por parte da figura do Desembargador da figura de exceção de
Simão.
“Disse-me que não pedia nada a quem consentiu que os delitos do seu coração e da
sua dignidade e do pundanor do seu nome fossem expiados num patíbulo (local da
forca). Há uma grandeza nesse homem de 18 anos, Sr. Albuquerque.
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Revela grande força vital, nobreza de carácter, assume uma rebeldia, porque é
impossível aceitar, subjugar-se às convenções sociais com as quais não se identifica.
“- Fique o que quiser, mas vá na certeza, se isso lhe serve de alguma coisa, que Simão
Botelho não vai à forca.”
“Quando intimaram Simão Botelho, a decisão do recurso e a graça do Príncipe Regente
(cumprir a sua sentença na prisão de Vila Real) o preso respondeu que não queria, que
não aceitava a graça , que queria a liberdade do degredo (…) não vai à forca . “Cap.
XVIII
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Simão rege a sua vida pelo valor da liberdade.
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Por esse motivo, Simão entra em conflito com os seus pais e com aqueles que são um
obstáculo à realização dos seus ideais e dos seus princípios. Consequentemente, o
académico compreende que não pode (nem pretende) integrar-se na sua comunidade.
Como resultado, o seu projeto de vida naufraga e a personagem, que se mantém fiel
aos seus compromissos e aos seus códigos de conduta, mergulha numa profunda
angústia e num isolamento existencial, que nem as cartas nem a presença de Mariana
rompem.
Concluindo, como sucede com outros heróis românticos, a ideia de fracasso acaba por
conduzir Simão a um final trágico.
Síntese
Figuras de exceção que rompem com o que está instituído, que assumem desafios e
que os levam até ao fim