Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
METODOLOGIA
CIENTÍFICA
CIÊNCIA,
ENSINO
E PESQUISA
3ª
edição
CARLOS ESTRELA
ORGANIZADOR
ADQUIRIDO COM
PCBOOKS@OUTLOOK.COM.BR
CDU 616.34
MÉTODOS DE PESQUISA
METODOLOGIA
CIENTÍFICA
CIÊNCIA,
ENSINO,
PESQUISA
3ª
edição
Versão impressa
desta obra: 2018
2018
© Editora Artes Médicas Ltda., 2018.
Editoração: Techbooks
Carlos Estrela: Professor titular de Endodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás
(FO/UFG). Especialista em Endodontia. Mestre em Endodontia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Doutor e
Livre-Docente pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP). Pesquisador do CNPq.
Alex Nogueira Haas: Professor associado de Periodontia e tologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Implantodontia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Doutor em Microbiologia pela Universidade Federal do Rio de
(UFRGS). Professor permanente dos Cursos de Especialização, Janeiro (UFRJ). Pós-Doutor pelo The Forsyth Institute, Boston,
Mestrado e Doutorado em Periodontia da UFRGS. Mestre e Estados Unidos.
Doutor em Periodontia pela UFRGS.
Bernardo Antonio Agostini: Mestre em Ciências Odontoló-
Aline Arêdes Bicalho: Professora do Ensino Básico, Técnico e gicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Tecnológico da Escola Técnica de Saúde (ESTES) da Universi-
Brenda P. F. A. Gomes: Professora titular de Endodontia da
dade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Dentística
FOP/Unicamp. Especialista e Mestre em Endodontia pela FO/
Restauradora pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba
UFRJ. Doutora em Odontologia Restauradora (Endodontia)
(FOP) da Universidade de Campinas (Unicamp). Mestre e Dou-
pela University Dental Hospital of Manchester, UK. Pesquisa-
tora em Odontologia pela UFU.
dora do CNPq.
Altair Antoninha Del Bel Cury: Professora titular de Prótese
Brunno S. de Freitas Silva: Coordenador de Pesquisa do Curso
Dentária da FOP/Unicamp. Mestre em Materiais Dentários pela
de Odontologia do Centro Universitário de Anápolis. Espe-
FOP/Unicamp. Doutora em Reabilitação Oral pela FORP/USP.
cialista em Patologia Bucal pela Fundecto/FOUSP. Mestre e
Pesquisadora do CNPq.
Doutor em Patologia Bucal pela FOUSP.
Ana Helena G. Alencar: Professora titular de Endodontia da
Carlos Alberto de Souza Costa: Professor titular do Depar-
FO/UFG. Especialista em Endodontia. Mestre e Doutora em
tamento de Fisiologia e Patologia da FOAr/UNESP. Pesqui-
Endodontia pela FO de Araraquara (FOAr)/Universidade Es-
sador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
tadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Pós-Doutora
Tecnológico (CNPq). Mestre e Doutor em Biologia e Patologia
pela Cardiff University, Reino Unido.
Buco-Dental pela Unicamp. Pós-Doutor pela Universidade de
Andomar Bruno Fernandes Vilela: Especialista em Ortodontia Michigan, Estados Unidos.
pela ABO. Mestrando em Odontologia pela UFU.
Carlos Alberto Feldens: Professor adjunto de Odontopediatria
Andre Luis Faria-e-Silva: Professor adjunto do Departamento da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Especialista em
de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Odontopediatria pela UFRGS. Mestre em Saúde Coletiva pela
Especialista em Dentística. Mestre e Doutor em Clínica Odon- Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Doutor em
tológica: Dentística pela FOP/Unicamp. Epidemiologia pela UFRGS.
Antonio Miranda da Cruz Filho: Professor associado do Depar- Carlos José Soares: Professor associado 4 de Dentística e Mate-
tamento de Odontologia Restauradora da FORP/USP. Espe- riais Dentários da FO/UFU. Pesquisador do CNPq. Coordenador
cialista em Endodontia. Mestre e Doutor em Reabilitação Oral da Área de Odontologia da CAPES. Especialista em Dentística
pela FORP/USP. pela UFU. Mestre e Doutor em Clínica Odontológica: Dentística
pela FOP/Unicamp.
Antônio Paulino Ribeiro Sobrinho: Professor titular de Endo-
dontia do Departamento de Odontologia Restauradora (ODR)
da FO/UFMG. Especialista em Endodontia. Mestre em Odon-
vi Autores
Carlos Nelson Elias: Professor titular do Instituto Militar de Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Mestre em Biotecnologia
Engenharia (IME). Mestre e Doutor em Ciência dos Materiais pelo Inmetro.
pelo IME.
Ester Alves Ferreira Bordini: Mestre em Biociências, Biomate-
Carolina Cavalieri Gomes: Professora associada do Departa- riais e Ciências Forenses e Doutoranda em Reabilitação Oral
mento de Patologia Geral do Instituto de Ciências Biológicas da pela FOAr/UNESP.
UFMG. Especialista em Patologia Bucal pela FO/UFMG. Mestre
Fausto Medeiros Mendes: Professor associado de Odontope-
em Odontologia: Patologia Bucal pela FO/UFMG. Doutora em
diatria da FOUSP. Especialista em Odontopediatria pela Uni-
Ciências pelo Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
castelo. Mestre e Doutor em Odontopediatria pela FOUSP.
Caroline Coradi Tonon: Especialista em Implantodontia pela
Fernanda Gonçalves Basso: Especialista em Patologia Bucal
ABO/Araraquara. Mestre em Odontologia pela FOAr/UNESP.
pela FOP/Unicamp. Mestre e Doutora em Estomatopatologia
Cassiano Kuchenbecker Rösing: Professor titular de Perio- pela FOP/Unicamp.
dontia da UFRGS. Mestre e Doutor em Periodontia pela FOAr/
Flaviana Bombarda de Andrade: Professora associada de
UNESP. Pesquisador do CNPq.
Endodontia da FOB. Especialista em Endodontia pela FOAr/
Cláudio Rodrigues Leles: Professor associado da UFG. Especia- UNESP. Mestre e Doutora em Endodontia pela Faculdade de
lista em Odontologia em Saúde Coletiva pela UFG. Mestre em Odontologia de Bauru (FOB)/USP. Pós-Doutora em Genética
Odontologia: Reabilitação Oral pela FOAr/UNESP. Doutor em Microbiana pela Universidade de Nova Iorque, Estados Unidos.
Reabilitação Oral: Prótese pela UNESP. Pesquisador do CNPq.
Graziela Bianchi Leoni: Professora assistente da FORP. Espe-
Crisnicaw Veríssimo: Professor de Denstística Restauradora da cialista em Endodontia pela FORP/USP. Mestre e Doutora em
UFG. Especialista em Prótese Dentária pelo HD Ensinos Odon- Ciências: Endodontia pela FORP/USP.
tológicos. Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Odontologia pela
Hélio Pereira Lopes: Doutor em Endodontia pela Universidade
UFU.
Estácio de Sá (UNESA). Livre-Docente pela Universidade do
Cristiane Caldeira da Silva: Toxicologista. Mestre em Ciências Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP)/
Isabela Almeida Pordeus: Professora universitária. Especialista
Fiocruz. Doutora em Ciências pelo Instituto Nacional de Con-
em Odontopediatria pela UFMG. Mestre em Odontopediatria
trole de Qualidade em Saúde (INCQS)/Fiocruz.
pela USP. Doutora em Epidemiologia e Saúde Coletiva pela
Cyntia Estrela: Professora do Programa de Pós-graduação em Universidade de Londres, Inglaterra. Pesquisadora do CNPq.
Ciências Odontológicas Integradas da Faculdade de Odonto-
Isabella Fernandes Delgado: Doutora em Ciências pela Freie
logia da Universidade de Cuiabá (FO/UNIC). Especialista em
Universität Berlin (FUB), Alemanha.
Epidemiologia pelo Instituto de Patologia Tropical e Saúde
Pública (IPTSP) da UFG. Mestre em Microbiologia pelo IPTSP/ Jardel Francisco Mazzi Chaves: Especialista em Endodontia
UFG. Doutora em Biologia Celular e Molecular pelo Instituto de pela FORP/USP. Mestre e Doutorando em Ciências (Odonto-
Ciências Biológicas (ICB) da UFG. logia Restauradora: Endodontia) pela FORP/USP.
Daniel A. Decurcio: Professor adjunto de Endodontia da FO/ Jesus Djalma Pecora: Professor titular aposentado de Endo-
UFG. Especialista em Endodontia. Mestre em Reabilitação Oral dontia da FORP/USP. Especialista em Endodontia pelo
pela UFU. Doutor em Ciências da Saúde pela UFG. CRO/SP. Mestre e Doutor em Reabilitação Oral pela USP.
Livre-Docente em Endodontia pela FORP/USP.
Danilo Rocha Dias: Cirurgião-dentista. Especialista em prótese.
Mestre em Reabilitação Oral pela UFU. Doutor em Ciências da João Batista de Souza: Professor associado da FO/UFG. Espe-
Saúde e Pós-Doutorando pela UFG. cialista em Dentística pelo Conselho Federal de Odontologia.
Especialista em Prótese pela UFG. Mestre e Doutor em Dentís-
Denise M. Palomari Spolidorio: Bióloga. Professora adjunta de
tica pela FOB/USP.
Microbiologia. Mestre e Doutora em Biologia e Patologia Buco-
Dental pela FOP/Unicamp. João Eduardo Gomes Filho: Professor titular da Disciplina de
Endodontia da FOA/UNESP. Especialista em Endodontia pela
Diana Gabriela Soares: Pesquisadora da FOAr/UNESP. Espe-
FOB/USP. Mestre e Doutor em Clínica Odontológica: Endo-
cialista em Prótese Dental, Mestre e Doutora em Reabilitação
dontia pela FOP/Unicamp.
Oral e Pós-Doutora em Biologia Pulpar pela FOAr/UNESP.
Pós-Doutora e fellow em Biomateriais pela Universidade de José Antônio Poli de Figueiredo: Professor associado de Bio-
Michigan, Estados Unidos. logia dos Tecidos Bucais da UFRGS. Professor adjunto de Endo-
dontia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Elisa Rosa dos Santos: Bióloga. Pesquisadora-tecnologista em
(PUCRS).
Metrologia e Qualidade do Instituto Nacional de Metrologia,
// Autores vii
José Mauro Granjeiro: Professor adjunto da Universidade em Endodontia pela FORP/USP. Presidente da Comissão de
Federal Fluminense (UFF). Pesquisador sênior do Inmetro. Pós-graduação da FORP/USP. Editor do Brazilian Dental Journal.
Mestre em Ciências: Bioquímica pela Unicamp. Doutor em
Marco A. Versiani: Tenente-coronel dentista da Polícia Militar
Ciências: Físico-Química pela Unicamp. Pesquisador do CNPq.
de Minas Gerais. Gerente regional de saúde da 16ª Região da
José Valladares Neto: Professor adjunto de Ortodontia da FO/ Polícia Militar. Especialista em Endodontia pela ABO. Mestre
UFG. Professor do Programa de Pós-graduação em Odonto- em Endodontia pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp).
logia (Mestrado e Doutorado) da FO/UFG. Especialista em Doutor e Pós-Doutor em Endodontia pela USP.
Ortodontia e Ortopedia Facial pelo Hospital de Reabilitação de
Marco Antonio Hungaro Duarte: Professor titular do Departa-
Anomalias Craniofaciais da USP. Mestre em Biologia: Morfo-
mento de Dentística, Endodontia e Materiais Odontológicos da
logia pela UFG. Doutor em Ortodontia pela USP.
FOB/USP. Bolsista 1D de produtividade em pesquisa do CNPq.
Josimeri Hebling: Professora titular da FO/UNESP. Pesqui- Especialista em Endodontia pelo CRO. Mestre e Doutor em
sadora do CNPq. Especialista em Odontopediatria. Mestre e Endodontia pela FOB/USP.
Doutora em Ciências Odontológicas: Odontopediatria pela
Marcos Britto Correa: Professor da Faculdade de Odonto-
FO/UNESP. Pós-Doutora pelas Universidades de Michigan e
logia da UFPel. Mestre e Doutor em Odontologia pela UFPel.
Augusta, Estados Unidos. Pesquisadora do CNPq.
Pós-Doutor em Epidemiologia pela UFPel.
Julio Almeida Silva: Professor adjunto de Endodontia da FO/
Marcos Pascoal Pattussi: Professor adjunto do Programa de
UFG. Especialista em Endodontia pela ABO/GO. Mestre em
Pós-graduação em Saúde Coletiva da Unisinos. Especialista
Reabilitação Oral pela UFU. Doutor em Ciências da Saúde pela
em Saúde Bucal Coletiva pela Universidade de Brasília (UnB).
Faculdade de Medicina da UFG.
Mestre em Odontologia em Saúde Coletiva pela University Col-
Karolina Kellen Matias: Professora de Anatomia Humana da lege London (UCL), Inglaterra. PhD em Odontologia em Saúde
PUC Goiás e da Faculdade Estácio de Sá de Goiás. Especialista Pública e Epidemiologias pela UCL, Inglaterra. Pós-Doutor pela
em Docência Universitária pela PUC Goiás. Mestre em Ciências Harvard School of Public Health.
Ambientais e Ciências da Saúde pela PUC Goiás. Doutora em
Maria do Carmo Matias Freire: Professora titular da FO/UFG.
Ciências da Saúde pela UFG.
Especialista em Saúde Pública pela Fiocruz. Especialista em
Laís Rani Sales Oliveira: Mestre em Clínica Odontológica Inte- Metodologia do Ensino Superior pela UFG. Mestre em Odon-
grada pela UFU. tologia em Saúde Coletiva pela UCL, Inglaterra. Doutora em
Odontologia em Saúde Pública e Epidemiologia pela UCL,
Lidiane Albuquerque: Analista executiva em Metrologia e Qua-
Inglaterra.
lidade do Inmetro. Mestre em Biologia Parasitária.
Marina Gonçalves Diniz: Bióloga. Mestre em Farmacologia
Lucas Guimarães Abreu: Professor adjunto do Departamento
Bioquímica e Molecular pela UFMG. Doutora em Medicina
de Odontopediatria e Ortodontia da UFMG. Professor per-
Molecular pela UFMG.
manente do Programa de Pós-graduação em Odontologia
da UFMG. Especialista em Ortodontia pela UFMG. Mestre e Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu: Professor
Doutor em Odontologia: Odontopediatria pela UFMG. associado do FO/UFMG. Especialista em Saúde Pública pela
Faculdade de Farmácia da UFMG. Mestre em Saúde Coletiva
Luciane Ribeiro de Rezende Sucasas da Costa: Professora
pela FO/UFMG. Doutor em Epidemiologia pela Escola de Vete-
titular da FO/UFG. Especialista, Mestre e Doutora em Odonto-
rinária da UFMG.
pediatria pela USP. Professora visitante da University of British
Columbia (UBC), Vancouver, Canadá. Mike Bueno: Especialista em Radiologia pela FOB/USP. Mestre
em Radiologia pela São Leopoldo Mandic. Diretor do CROIF,
Luciene Bottentuit López Balottin: Pesquisadora em Metro-
Cuiabá-MT.
logia e Qualidade. Mestre em Biofísica pela UFRJ. Doutora em
Bioquímica pela UFRJ. Monise de Paula Rodrigues: Cirurgiã-dentista. Mestranda em
Clínica Integrada da UFU.
Luís Carlos Spolidorio: Professor titular da Disciplina de Pato-
logia do Departamento de Fisiologia e Patologia da FOAr/ Nelson Cardoso Amaral: Professor associado da UFG. Doutor
UNESP. em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba
(Unimep).
Manoel Damião Sousa-Neto: Professor titular do Departa-
mento de Odontologia Restauradora da FORP/USP. Coorde- Octavio A. F. Presgrave: Biólogo. Mestre em Ciências pelo Ins-
nador do Curso de Especialização em Endodontia da Fundação tituto Oswaldo Cruz (IOC)/Fiocruz. Doutor em Vigilância Sani-
Odontológica de Ribeirão Preto. Bolsista 1A de produtivi- tária pelo INCQS/Fiocruz.
dade em pesquisa do CNPq. Mestre, Doutor e Livre-Docente
viii Autores
Orlando Aguirre Guedes: Professor adjunto de Endodontia Ricardo Santiago Gomez: Professor universitário. Mestre em
da FO/UNIC. Professor do Programa de Pós-graduação em Patologia pela UFMG. Doutor em Patologia Bucal pela USP.
Ciências Odontológicas Integradas da FO/UNIC. Especialista Pesquisador do CNPq.
em Endodontia pela ABO/GO. Mestre em Odontologia pela
Ricardo Tadeu Lopes: Físico. Professor titular da UFRJ. Cien-
UFU. Doutor em Ciências da Saúde pela UFG.
tista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Patricia Milagros Maquera Huacho: Especialista em Implanto- Janeiro. Pesquisador 1A do CNPq. Mestre em Física Nuclear
dontia pela FOB/USP. Especialista em Periodontia pela FOAr/ Aplicada pela UFRJ. Doutor em Engenharia Nuclear pela UFRJ.
UNESP. Mestre em Odontologia: Periodontia pela FOAr/
Roberto Holland: Professor titular aposentado do Departa-
UNESP. Doutoranda em Odontologia: Implantodontia da
mento de Odontologia Restauradora da FOA/UNESP.
FOAr/UNESP.
Rui V. Oppermann: Professor titular de Periodontia da UFRGS.
Paul M. H. Dummer: Professor of Endodontic, Department of
Doutor em Odontologia pela Universidade de Oslo, Noruega.
Adult Dental Health, Dental School, University of Walles Col-
Reitor da UFRGS.
lege of Med. PhD in Endodontics. Editor of International Endo-
dontic Journal. Sandramara Matias Chaves: Pedagoga. Professora associada
da Faculdade de Educação da UFG. Professora do Programa
Paulo Floriani Kramer: Professor adjunto de Odontopedia-
de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática da
tria do Curso de Odontologia da ULBRA. Mestre e Doutor em
UFG. Especialista em Avaliação da Aprendizagem. Mestre em
Odontopediatria pela USP. Pós-Doutor em Saúde Pública pela
Educação pela UFG. Doutora em Educação pela USP.
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Saul Martins Paiva: Professor titular de Odontopediatria da
Paulo Sérgio Sucasas da Costa: Médico pediatra. Professor
UFMG. Mestre em Odontopediatria pela UFSC. Doutor em
associado de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFG. Espe-
Odontopediatria pela FOUSP. Pós-Doutor em Epidemiologia e
cialista em Infectologia Pediátrica pelo Instituto da Criança do
Saúde Pública pela Universidade McGill, Canadá.
Hospital das Clínicas da FMUSP. Mestre e Doutor em Pediatria
pela USP. Pós-Doutor pela UBC, Vancouver, Canadá. Sebastião Sérgio da Silveira: Professor titular da Faculdade
de Direito da Unaerp. Professor da Faculdade de Direito de
Pedro Paulo Chaves de Souza: Professor assistente do Depar-
Ribeirão Preto (FDRP)/USP. Promotor de Justiça do Estado
tamento de Fisiologia e Patologia da FOAr/UNESP. Mestre
de São Paulo. Mestre e Doutor em Direito pela PUC-SP.
em Ciências Odontológicas pela FOAr/UNESP. Doutor em
Pós-Doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de
Ciências: Bioquímica pela FMRP/USP.
Coimbra.
Rafael Gustavo Dal Moro: Cirurgião-dentista. Coordenador da
Sergio P. Marcondes: Mestre em Física Aplicada pela Univer-
Plataforma Telessaúde do Ministério da Saúde (Núcleo RS)/
sidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Doutor em
UFRGS. Mestre em Saúde Bucal Coletiva pela UFRGS.
Ciências e Engenharia de Materiais pela Escola de Engenharia
Ramon Targino Firmino: Mestre em Odontologia pela Univer- de São Carlos da USP.
sidade Estadual da Paraíba (UEPB). Doutorando em Odonto-
Sicknan Rocha: Professor adjunto de Clínica Odontológica da
logia pela UFMG.
FO/UFG. Especialista em Prótese Dentária e Implantodontia
Renata Castro Martins: Professora adjunta de Departamento pela FO/UFG. Mestre e Doutor em Reabilitação Oral pela
de Odontologia Social e Preventiva da FO/UFMG. Especia- UNESP.
lista em Endodontia pela PUC Minas. Mestre em Odontologia
Stella Sueli Lourenço Braga: Cirurgiã-dentista. Mestre em Clí-
pela UFMG. Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Minas
nica Odontológica Integrada pela UFU.
pela UFMG. Pós-Doutora em Endodontia e Saúde Coletiva pela
UFMG. Tales Candido Garcia da Silva: Mestre e Doutor em Materiais
Dentários pela Unicamp. Pós-Doutorando da FO/UFU.
Renata Serignoli Francisconi: Especialista em Ortodontia pelo
Grupo de Estudos Ortodônticos e Serviços (Gestos). Mestre em Tássia Silvana Borges: Professora assistente I do Centro Uni-
Dentística Restauradora pela UNESP. Doutoranda em Odonto- versitário Luterano de Palmas. Mestre em Promoção da Saúde
logia pela UNESP. pela Universidade de Santa Cruz do Sul. Doutoranda em Odon-
tologia pela ULBRA.
Ricardo Gariba Silva: Cirurgião-dentista e advogado. Professor
titular de Endodontia da FORP/USP. Mestre e Doutor em Rea- Thiago Machado Ardenghi: Professor associado da UFSM.
bilitação Oral pela FORP/USP. Doutor em Direito pela UNESP, Especialista em Odontopediatria pela FOUSP. Mestre e Doutor
Campus de Franca. em Odontopediatria pela USP.
// Autores ix
Tiago Fiorini: Professor adjunto da UFRGS. Coordenador do Wagner Luis de Carvalho Bernardo: Mestre em Biologia Buco-
Curso de Especialização em Implantodontia da UFRGS. Espe- Dental pela FOP/Unicamp. Doutor em Biologia Craniofacial e
cialista em Periodontia pela UFRGS. Especialista em Implanto- Ciências Forenses pela FOAr/UNESP.
dontia pela PUCRS. Mestre e Doutor em Clínica Odontológica
Wlamir Corrêa de Moura: Tecnologista em Saúde Pública.
pela UFRGS.
Doutor em Vigilância Sanitária pelo INCQS/Fiocruz.
Valdir de Souza: Professor titular aposentado do Departa-
Yara T. Corrêa Silva-Sousa: Professora titular do Curso de
mento de Odontologia Restauradora da FOA/UNESP.
Odontologia da Unaerp. Especialista em Odontopediatria pela
FORP/USP. Mestre e Doutora em Patologia pela Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
Ao sentido da minha vida, reflexo da luz divina, meus amores: Cyntia Estrela (pelo encontro
nesta vida, por todas as nossas lembranças e expectativas, descobertas, todo o amor e dedi-
cação); Lucas Estrela, Matheus Estrela, Maria Cristina Estrela e Pedro Estrela (diamantes que
iluminam nosso dia e guardiões que nos ensinam a viver). A vocês que acreditam na vida, no
amor, na luz divina e na consciência Crística dedico minha vida.
A meus pais, Odilon Estrela e Maria Silveira Estrela (in memorian, minha professorinha), por
me ensinarem a ler, a escrever, a perdoar, a amar e a rezar.
A todos os espíritos de Luz que nos acompanham nesta jornada, mantendo uma imensa pa-
ciência, nos intuindo na construção do eterno, nos transformando em homens de bem, nos
mostrando o caminho da verdade, a necessidade da autonomia, de libertar-se do medo, da
ilusão, a entender o perdão, a caridade, o trabalho, enfim, a servir com dedicação. A todos
vocês, meus queridos irmãos, obrigado por tudo, e em especial por rememorar continua-
mente a beleza de Deus na natureza, na luz, na energia e na ciência.
A todos os meus professores, que nesta caminhada foram meus super-heróis, essenciais
para que eu chegasse neste momento e ressaltasse a todos, em tom maior, como foram
importantes para a humanidade, pois a força e a energia de todos vocês, me deram incen-
tivos e motivos para divulgar uma ciência de valor, comprometida e criativa.
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
A todos os mestres, que têm me ensinado o valor do aprender, a necessidade da busca,
a riqueza dos verbos, a simpatia do sorriso, a força da perseverança, a importância das
mudanças, a necessidade de recomeçar, a tolerância e a humildade, a evolução da ciência, a
força do amor e a beleza de Deus.
Agradeço a todos os coautores deste livro, que representam a excelência da pesquisa odon-
tológica brasileira, e a todos aqueles pesquisadores cujos estudos, empenho, dedicação, cui-
dado e confiança foram essenciais para a composição destes capítulos e cuja contribuição é
valiosa para nossos alunos.
xiv AGRADECIMENTOS
Reflexão Mensagem
Pesquisador, professor e pai – a eterna missão.
Na escola
Um dia passeando na infância sonhei em ser um construtor de
A terra é uma grande e abençoada escola, em cujas classes e sonhos. Estava determinado a construir os mais belos sonhos que a
cursos nos matriculamos, solicitando – quando já possuímos a humanidade jamais teria sonhado. As naves que embarquei voavam
graça do conhecimento – as lições necessárias à nossa subli- na mesma velocidade do pensamento, e andávamos em lugares fan-
mação. tásticos, lugares que pareciam que o homem ainda não havia con-
Todas as matérias que constituem o patrimônio do educandário, se quistado, pois eram jardins de cristais, uma energia contagiante,
aproveitadas por nossa alma, podem conduzir-nos aos resultados um aroma inebriante, e uma densa neblina de fluidos cósmicos que
que nos propomos atingir. Não existe, porém, ensinamento gratuito somente mais tarde reconheci. Os sonhos não pareciam sonhos e
para a comunidade dos aprendizes. Cada aquisição tem o preço que sim realidades, que foram materializadas, convertidas em conheci-
lhe corresponde. mentos. Os sonhos do pesquisador e a construção do conhecimento
são realidades legítimas.
A aprovação da riqueza é sedutora, mas repleta de perigos cruéis.
A passagem na pobreza é simples e enternecedora; contudo, oferece Mais tarde, quando a adolescência tomou conta de um destino
tentação permanente ao extremo desespero. O estágio na beleza guiado por fortes intuições, a rebeldia na transmissão da verdade,
física é fascinante; entretanto, mostra escuros abismos ao coração de como aprender, de como me educar, resplandeceu um sen-
desavisado. A demora no poder é expressiva; todavia, atrai dificul- tido de reflexão dos fatos falados, do conhecimento proferido, do
dades infernais, que podem comprometer-nos o futuro. O ingresso na poder da comunicação. Profetas que não eram profetas profeti-
cultura da inteligência favorece a posse de verdadeiros tesouros; no zavam. O professor não é somente um professor, ele se educa para
entanto, nesse setor, o orgulho e a vaidade representam impertinentes ser educador, transmite o que deveria aprender, tem sentimentos,
verdugos da alma. emoções, tristezas e alegrias como os demais seres humanos. Seus
sonhos vão além da sala de aula, eles também destinam a alvos
A estação de calmaria na vida familiar é tempo doce e agradável ao
complexos, nos mais diferentes espaços e tempos. Esses sonhos,
espírito, mas, aí dentro, no oásis do carinho, o monstro do egoísmo
além de transmitidos a destinos incertos, deveriam ser focados para
pode enganar-nos o coração.
uma autêntica aplicação. Criatividade é um refrão constante, per-
Em qualquer parte onde estiverdes, acordai para o bem!... severança outro. O professor, além do sujeito que pratica a ação de
transmitir conhecimentos, também vive e participa da peça.
Recordai que o ouro e a intelectualidade, os títulos e as honras, as
aflições e os sofrimentos, as posses e os privilégios são meros aci- Então, chegou a vida adulta. Os sonhos queriam fazer parte do pas-
dentes no longo e abençoado caminho evolutivo. Lembrai-vos de sado, e a luta aumentou, porque insistia em não admitir perder os
que a vida é a eternidade em ascensão e não vos esqueçais de que, mais belos atos de uma peça, e não teria outro personagem para
em qualquer condição, só no cultivo do amor puro conseguireis edi- dar exemplo do que a própria existência. Colocar em prática tudo
ficar para a vitoriosa imortalidade. aquilo se transformou no maior desafio, com lágrimas de dores e de
alegrias... O silêncio, a reflexão, a intuição, o querer aprender, o per-
Francisco Cândido Xavier
mitir aprender, a doação, o carinho, a paciência, o amor, foram cons-
“Emmanuel” (Correio Fraterno) tantes lições aprendidas. O ato de ser pai, de aplicar todo o conhe-
cimento, com exemplos e criatividade e, ao mesmo tempo, construir
e transmitir, exige muita doação, disciplina e determinação. Tenho
que confessar que cheguei a pensar que seria impossível desen-
volver as três atividades com as habilidades necessárias para não
enfraquecer nenhuma delas. Essas habilidades são muito similares,
pois se caracterizam por atitudes muito próximas umas das outras: a
dedicação, o foco, e um sentimento que nutre, o amor. A aplicação
desse dom é melhor incorporada pelo criador do conhecimento,
pelo pai.
Este foi o desafio que estava necessitando para avançar um pouco
mais nesta caminhada, nesta evolução, ser pesquisador, professor
e pai ao mesmo tempo, em um mesmo espaço – a eterna missão.
Carlos Estrela
Prefácio
O complexo processo de aprendizagem e construção do áreas do saber científico contribuíram para o desenvolvimento
conhecimento é desafiador, exige disciplina e determinação, o e a aplicação de protocolos de ensino e pesquisa modernos,
que o torna emocionante. As respostas às mais variadas experi- capazes de auxiliar a busca de respostas a vários problemas.
mentações científicas podem não ser exatas, todavia, requerem
A vitória ao agregar em uma mesma obra científica vários pes-
absoluto rigor durante a execução, o que impõe o valor do
quisadores do ensino e da pesquisa odontológica brasileira
método.
realça a máxima do esforço e do trabalho ao bem comum.
Essa compreensão nos encorajou a reconstruir modelos do Decorridos 17 e 13 anos da 1ª e da 2ª edição desta obra, a expec-
aprender, do construir um novo conhecimento dentro dos tativa é cada vez maior na busca de soluções para problemas
preceitos metodológicos contemporâneos. O ensino (trans- importantes e necessários (úteis). Cada capítulo reflete o
missão), a pesquisa (construção) e a extensão (aplicação) carac- porquê do impacto da odontologia brasileira no contexto mun-
terizam etapas específicas de aprendizagem. A aplicação dos dial, a disponibilidade, o entusiasmo, a dedicação e a compe-
melhores métodos de estruturação do conhecimento realça o tência de cada um daqueles que escreveram as linhas deste
valor requintado da ciência e da tecnologia. livro. A necessidade de métodos de pesquisas e estratégias
de transmissão e construção da aprendizagem é essencial não
Parte do processo evolutivo do homem moderno está asso-
apenas àqueles indivíduos pertencentes à academia, mas a
ciado ao nível científico e tecnológico conquistado, e parte está
todos os homens que buscam a construção de uma sociedade
aderido às fases vividas e ao crescimento interno do seu “eu”.
digna, justa e humana.
A formação acadêmica no ensino e na pesquisa conduz natural-
Agradeço à forte intuição e aos mentores para dar sequência
mente à aquisição de novas habilidades e atitudes para estabe-
à construção do conhecimento a partir de uma pesquisa sau-
lecer informações inovadoras determinadas pela necessidade
dável. Muito obrigado a todos os coautores, editores e demais
de evolução humana, científica e tecnológica. A metodologia
profissionais que contribuíram para o desenvolvimento e finali-
científica estabelece parâmetros prudentes para o desenvolvi-
zação deste livro.
mento de tais conhecimentos.
O conhecimento é luz que redime o homem da ignorância e o ali-
A partir de uma forte premissa da lógica da aprendizagem e das
menta para a vida.
inovações aplicáveis à melhora da qualidade de vida foi prepa-
rada esta nova edição de Metodologia científica. Para tanto, edu- Carlos Estrela
cadores e pesquisadores dedicados e pertencentes a diferentes
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
Prefácio da 2a edição
A vontade de aprender “como aprender” continua acesa em docência e a pesquisa, por este sentido e rumo de vida defendo
nossos ideais, o que manteve o estímulo e a ousadia de rever, como causas prioritárias a educação e a ciência.
atualizar e reconstruir a 2ª edição deste livro.
Entre os educadores que traduzem a prática da atividade
O “educar” é um desafio fantástico. Nossa maior preocupação docente, pude identificar a grandiosidade de Pestalozzi, que
foi direcionada ao resgate de princípios básicos da verdadeira se refere ao amor como a fonte de iluminação da educação,
e real atividade do educador, independentemente da área da sendo que “o objetivo final não representa o aperfeiçoamento
saúde e da formação específica, mas que alertasse, em espe- das noções escolares, mas o preparo para a vida, não de dar o
cial o cirurgião-dentista, professor ou mestre, para o verdadeiro hábito da obediência cega e da diligência comandada, mas de
sentido do conhecimento e do ofício a ser cumprido. preparar para agir como autônomo”.
A prática docente necessita de conhecimentos que sinalizam o O aprender como aprender, o pensar corretamente, o como me
“fazer educação” e o “saber científico”. Ser um bom professor educar, privilegiaram o sentido de entender, assimilar e viven-
difere de ser um bom educador. Ser um real educador impõe ciar o processo educativo. A associação entre o ensino e a pes-
bem mais que professar alguns conhecimentos, requer, além quisa em odontologia valoriza a compreensão do método cien-
da formação cultural e científica, a vivência humana, o caráter tífico, deixando clara a necessidade de o educador e educando
moral e ético. entendê-la com vistas à melhor aplicação. A maior abrangência
que este livro tomou reflete consequências da aceitação e
O Século da Ciência chegou e nos exibe a prova de nos educar
necessidade de evolução e atualização diante das mudanças
e inventar o novo. A perfeita união entre o ensino e a pesquisa
vividas.
certamente diferencia e engrandece o educador pesquisador
como o educando, pois constitui o objetivo básico do conheci- É prudente lembrar que a ciência de educar e de pesquisar
mento. Igualmente, o valor do mestre e do pesquisador digni- é difícil de ser explicada e transmitida em frases e palavras,
fica a construção e a transmissão do conhecimento, em um pro- impondo, para a perfeita aprendizagem, a necessidade de
cesso inseparável de aprendizagem, da ciência e da tecnologia, vivê-las e estar aberto a mudá-las a todo o momento.
do fazer e do servir.
Nossos agradecimentos especiais a todos os colaboradores,
O estudo, a interpretação e a discussão sobre o processo edu- pertencentes às diferentes áreas do saber, que também valori-
cativo, que envolveu o ensino e a pesquisa em odontologia, zaram a inter-relação entre o ensino e a pesquisa.
apontaram resultados surpreendentes, mesmo considerando
Ao editor e amigo Milton Hecht, meu muito obrigado pela opor-
os riscos acadêmicos. Continuei vivendo naturalmente o que
tunidade e, por mais uma vez, acreditar neste trabalho, o que
estava dissertando, descobertas e suas implicações, o que me
destaca a presteza, a dedicação, a atenção e o profissionalismo
levou a refletir mais ainda sobre o homem, que nasce, evolui e
qualificado.
busca aprimorar seus dons. Antes de tudo, busquei aprender a
Carlos Estrela
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
Prefácio da 1a edição
Nos últimos anos, tenho percebido o interesse crescente pela espaço, é feita uma abordagem geral sobre o processo edu-
interdisciplinaridade dos conteúdos, objetivando a concreti- cativo; na sequência, a temática é concentrada na dinâmica do
zação de um efetivo diálogo entre as áreas do conhecimento ensinar, do estudar e do avaliar; e finalmente, é apresentada
responsáveis pela construção do perfil daqueles que atuam uma discussão minuciosa a respeito dos problemas do ensino
na área odontológica. Como consequência (ou será causa?), superior no país.
o progresso da odontologia tem sido superlativo, à medida
A pesquisa, especificamente, está contemplada nos itens
que modernas abordagens, no campo da investigação odon-
subsequentes (Capítulos 7-15), começando com as recomen-
tológica, têm sinalizado para a identificação da etiologia das
dações a serem obedecidas durante a elaboração de um tra-
doenças, aplicação de adequados recursos de prevenção, ins-
balho científico, e seguidas de capítulos relacionados à apre-
tituição de terapia pertinente e utilização de elevada tecno-
sentação, análise e discussão da variada gama de modelos
logia, respeitando, outrossim, o paradigma da responsabili-
de estudo de uso corrente na odontologia. Outrossim, os
dade humano-social. Assim, os livros-texto, que representam
dois últimos capítulos oferecem os parâmetros necessários e
importante fonte de informação à educação dos agentes de
indispensáveis à avaliação crítica de resultados, ao estabele-
saúde – alunos de graduação e pós-graduação, professores,
cimento de comparações e/ou à tirada de conclusões de um
pesquisadores e clínicos –, têm se constituído em referenciais
trabalho de investigação.
de divulgação e multiplicação de conhecimento.
A odontologia data de muitos anos atrás, entretanto, o primeiro O Capítulo 16 concentra o estudo das atividades que consti-
livro a ela dedicado, de modo exclusivo, foi lançado, sob ano- tuem as atividades fins da universidade – ensino, pesquisa e
nimato na Alemanha, em 1530. Desde o século XVI até os pri- extensão – cujas práticas sustentam o desempenho pleno da
meiros dias do Terceiro Milênio, muitas publicações foram profissão e oportunizam o exercício da cidadania.
viabilizadas, abrangendo as múltiplas especialidades e docu- Um outro destaque deste livro é encontrado no Capítulo 17, que
mentando o referido aprimoramento. aborda o respaldo da informática ao ensino e à pesquisa. A sala
Metodologia científica, que tenho a honra de prefaciar, de de aula e os diferentes ambientes de pesquisa, que constituem
autoria do conceituado educador, pesquisador e endodon- o palco de interação científica, cultural e social dos segmentos
tista Dr. Carlos Estrela e que leva a coassinatura de reconhe- que buscam o ensinar e o aprender, possuem, nos dias atuais,
cidos profissionais, a partir de sua 1a edição, vem enriquecer a essa fantástica ferramenta auxiliar e complementar. As inú-
ampla e profunda literatura odontológica disponível. Alguns meras estratégias, por meio das quais a informática pode sus-
capítulos deste livro versam sobre temas clássicos, relativos tentar a sua colaboração à odontologia, estão apropriadamente
a modelos de estudo e métodos críticos de análise, enquanto discutidas nesse capítulo.
outros possuem matizes inovadores para um livro desta natu- Um livro com as características deste não poderia prescindir
reza, à medida que contemplam complexas etapas construtivas dos juízos de apreciação referentes à conduta humana susce-
do binômio ensino aprendizagem, retroalimentadas pela pes- tível de qualificação sobre o bem e o mal e, de modo seme-
quisa, e diversificadas informações sobre normatização, e um lhante, em relação ao certo e ao errado. Essa abordagem, com
deles aborda relevantes princípios éticos. muito conhecimento de causa e grande sensibilidade, está vei-
Este compêndio está composto por 21 capítulos adequada- culada pelo Capítulo 18, intitulado Ética em pesquisa.
mente estruturados e distribuídos e de expressivo cunho peda-
Os últimos capítulos (Capítulos 19-21) tratam das maneiras de
gógico.
apresentação – de artigos científicos, de cursos e da carreira de
Os conteúdos dos primeiros capítulos (Capítulos 1-6) con- vida dos indivíduos. Essas três modalidades de apresentação
correm para uma ação filosófico-pedagógica e perseguem as são compulsórias para que as publicações sejam reconhecidas
competências básicas dos preceitos acadêmicos. No primeiro pela população a que se destinam; para que os cursos, em nível
xx PREFÁCIO DA 1 a EDIÇÃO
de graduação e pós-graduação, desempenhem o seu indis- Portanto, ao finalizar este prefácio, gostaria de parafrasear
pensável papel na formação de profissionais responsáveis e Amos Bronson Alcott, dizendo... este é um excelente livro, que
competentes; e para que os candidatos a cargos e/ou funções será aberto com muita expectativa e fechado com encanta-
possam referir seus dados pessoais, habilitações acadêmicas, mento e recompensa.
científicas e/ou artísticas de modo sequencial e objetivo, garan-
Lili Luschke Bammann
tindo a adequada avaliação de sua vida pregressa numa deter-
minada área de atuação.
Sumário
Capítulo 6 SEÇÃO 2
O desafio de estudar 81 PRINCÍPIOS DA PESQUISA:
Cyntia Estrela DO PROJETO À PUBLICAÇÃO
Orlando Aguirre Guedes
Carlos Estrela Capítulo 9
Introdução 81
Tipos de estudo 109
Planejamento para o estudo 82
Maria do Carmo Matias Freire
Técnica de leitura 84 Marcos Pascoal Pattussi
Análise de texto 85
Introdução 109
Procedimentos para aprendizagem 86
Estudo de caso 109
Referências 87
Investigação experimental em laboratório 110
Pesquisa populacional ou epidemiológica 111
Capítulo 7 Estudos transversais 113
A comunicação no ensino de odontologia 89 Estudos ecológicos 114
Carlos Estrela Estudos observacionais 115
Sicknan Rocha Estudos de caso-controle 116
Introdução 89 Estudos de coorte 117
O orador 90 Estudos experimentais ou intervencionais 120
Comunicação verbal e não verbal 90 Estudos experimentais não randomizados ou
Conteúdo 93 estudos quase-experimentais 123
SEÇÃO 3 Capítulo 22
ESPECIFICIDADES DA PESQUISA Revisões sistemáticas e metanálise 339
CLÍNICA EM ODONTOLOGIA Cassiano Kuchenbecker Rösing
Tiago Fiorini
Capítulo 19 Rui V. Oppermann
Alex Nogueira Haas
Cálculo amostral na pesquisa odontológica 301
Introdução 339
Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu
Odontologia baseada em evidências 339
Renata Castro Martins
Isabela Almeida Pordeus O papel das revisões sistemáticas da literatura 340
Diferenças entre revisões sistemáticas e revisões
Introdução 301
narrativas da literatura 341
Tamanho de amostra em estudos de uma proporção 301
Diferenças entre revisões sistemáticas da literatura
Tamanho de amostra em estudos de uma média 304 com e sem metanálise 341
Tamanho de amostra em estudos de duas proporções O passo a passo de uma revisão sistemática 342
(independentes e pareados) 307
Metanálise 345
Tamanho de amostra em estudos de duas médias
Considerações finais 350
(independentes e pareados) 310
Referências 350
Tamanho de amostra em estudos de correlação 313
Tamanho de amostra em situações especiais 313
Referências 314 SEÇÃO 4
ESPECIFICIDADES DA PESQUISA
Capítulo 20 LABORATORIAL EM ODONTOLOGIA 351
Validação de instrumentos para a pesquisa
odontológica 315 Capítulo 23
Saul Martins Paiva Princípios das boas práticas de laboratório 353
Ramon Targino Firmino
Elisa Rosa dos Santos
Lucas Guimarães Abreu
Lidiane Albuquerque
Introdução 315 José Mauro Granjeiro
Adaptação transcultural de instrumentos de pesquisa 315 Introdução 353
Confiabilidade e validade 318 Princípios das BPL 354
Responsividade e mínima diferença clinicamente Reconhecimento da conformidade aos princípios das BPL 356
importante 320
Princípios das BPL e estudos in vitro 359
Considerações finais 321
Considerações finais 362
Referências 321
Referências 362
Capítulo 21
Capítulo 24
Ensaios clínicos randomizados 325
Métodos alternativos ao uso de animais 365
Carlos Alberto Feldens
Octavio A. F. Presgrave
Paulo Floriani Kramer
Wlamir Corrêa de Moura
Tássia Silvana Borges
Cristiane Caldeira da Silva
Introdução 325 Luciene Bottentuit López Balottin
Fundamentos de um ECR 325 Isabella Fernandes Delgado
José Mauro Granjeiro
Planejamento e execução do ECR 329
Redação de um ECR 334 Introdução 365
Considerações finais 337 Os 3Rs 367
Referências 337 Regulamentação brasileira e infraestrutura laboratorial 368
xxvi Sumário
Métodos alternativos na experimentação 370 Exposição das células aos materiais experimentais 415
Validação de métodos alternativos 372 Ensaios de citotoxicidade em culturas de células 417
Métodos alternativos no ensino 375 Protocolos dos testes de citotoxicidade 420
Principais instituições e centros de referência Ensaio de Trypan Blue 420
em métodos alternativos 375 Morte celular por necrose e apoptose 420
Revistas científicas especializadas e listas de Síntese de proteínas 421
discussão na web 376
Síntese de DNA 422
Métodos alternativos aplicáveis à odontologia 376
Viabilidade celular (MTT ASSAY) 422
Considerações finais 377
Microscopia eletrônica de varredura (MEV) 423
Referências 378
Vantagens e desvantagens dos testes de citotoxicidade 423
Agradecimentos 424
Capítulo 25 Referências 424
Documentação em pesquisa 379
Mike Bueno Capítulo 28
Introdução 379 Testes de biocompatibilidade dos materiais
Registros fotográficos 379 odontológicos 427
Fotografia de materiais tridimensionais 380 Diana Gabriela Soares
Fotografia de materiais bidimensionais 386 Fernanda Gonçalves Basso
Considerações éticas e legais em documentações 387 Josimeri Hebling
Pedro Paulo Chaves de Souza
Arquivo RAW 388
Carlos Alberto de Souza Costa
Introdução 427
Capítulo 26
Definição de biocompatibilidade 428
Métodos moleculares de interesse na pesquisa em Testes em animais 428
odontologia 391 Técnicas cirúrgicas 430
Marina Gonçalves Diniz Testes em seres humanos 435
Carolina Cavalieri Gomes Procedimentos histopatológicos 438
Ricardo Santiago Gomez
Vantagens e limitações dos testes de biocompatibilidade 443
Introdução 391 Agradecimentos 445
Bases para o entendimento da utilização das diferentes Referências 445
técnicas de biologia molecular 391
Técnicas de biologia molecular 394
Capítulo 29
Considerações finais 405
Protocolos de estudo de materiais endodônticos:
Capítulo 27 resposta tecidual, mineralização e reparo após
obturação de canal radicular 447
Testes de citotoxicidade em cultura de células 407
Roberto Holland
Fernanda Gonçalves Basso Valdir de Souza
Diana Gabriela Soares João Eduardo Gomes Filho
Josimeri Hebling Carlos Estrela
Pedro Paulo Chaves de Souza
Carlos Alberto de Souza Costa Introdução 447
Tecido conjuntivo subcutâneo de ratos como modelo
Introdução 407
experimental para materiais endodônticos 447
Cultura de células 408
Delineamento experimental para implantação de materiais
Citotoxicidade 409 endodônticos em tecido subcutâneo de ratos 448
Modelos de estudo e linhagens utilizadas 409 Alvéolo dental de ratos como modelo experimental 450
Isolamento de culturas primárias 413 Dente de cão como modelo experimental 454
Manutenção das células em cultura e subcultivo 414 Referências 465
// Sumário xxvii
Capítulo 35
Microtomografia aplicada à pesquisa odontológica 637
Marco A. Versiani
Yara T. Corrêa Silva-Sousa
Graziela Bianchi Leoni
Ricardo Tadeu Lopes
Manoel Damião Sousa-Neto
Introdução 637
A evolução da tomografia computadorizada 638
Fundamentos da microtomografia 642
Aquisição e processamento dos dados 646
Qualidade da imagem 656
Artefatos 658
Aplicações na pesquisa odontológica 661
Referências 663
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
SEÇÃO 1
ESPECIFICIDADES DA
PESQUISA LABORATORIAL
EM ODONTOLOGIA
1
A pesquisa e a odontologia
e evolucionária da autonomia, uma autonomia que nunca é plena uma necessidade de análise crítica da prática diária e uma capa-
(somos seres dependentes), mas pode alargar-se, à medida que cidade reflexiva constante. Não faltam oportunidades. Os
soubermos aprender e conhecer.” O educar pela pesquisa inclui recursos existem. O que falta é colocá-los em prática.
algumas características, como: projeto pedagógico próprio;
O exercício docente praticado por muitos professores não
textos científicos próprios; material didático próprio; inovações
deixa de ser uma tentativa, mesmo que frustrante e inoperante
da prática didática; e permanente recuperação da competência.5
para alguns, porém necessária e nutritiva para outros. Contudo,
A falácia de que essa prática do ensino-pesquisa é intrínseca e a força de vontade, a persistência e a motivação de outros, de
habitual nas nossas escolas muitas vezes é retratada pela pobre aprender “como aprender”, a pensar “como pensar”, mantém
participação dos docentes nos programas de pós-graduação, e vivo esse desafio fantástico que é o educar-se. Pestalozzi7 se
também pela relação de publicações entre todos os docentes refere à educação como uma luz, e aponta a necessidade de se
de uma faculdade – salvo aquelas instituições de excelência preparar para a vida, e agir como autônomo, a partir de um pro-
que têm tal atividade como rotina. Alguns tentam justificar cesso de observação ou percepção (intuição).
que o mais importante recai no ensino da graduação, outros na
O aprender como aprender, o pensar corretamente, o como me
supervalorização da pós-graduação, e outros, ainda, culpam a
educar, privilegiaram o sentido de entender, assimilar e viven-
péssima qualidade dos alunos.
ciar o processo educativo e investigativo. A associação entre o
Ora, o que ficou inoperante foram os instrumentos de recupe- ensino e a pesquisa valoriza a compreensão do método cien-
ração dos docentes, estrangulados ao longo dos anos, impe- tífico, o que deixa clara a necessidade de o educador/pesqui-
dindo um sensato resgate das funções do exercício e ofício do sador/educando entendê-la com vistas à melhor aplicação.
professor profissional.6 Os alunos nada mais são do que reflexo É prudente lembrar que a ciência de educar e de pesquisar
de um modelo educacional que pede socorro e mudanças é difícil de ser explicada e transmitida em frases e palavras,
urgentes. Um processo de controle de qualidade educacional, em impondo, para a perfeita aprendizagem, a necessidade de vivê-
que se busca excelência, com metas bem construídas, discutidas -las e estar aberto a mudá-las a todo o momento.
e avaliadas, certamente pode reverter um quadro de inutilidade
de muitos conteúdos rotineiramente exigidos aos nossos alunos.
Pesquisa: imunidade contra a ignorância
O professor que constrói sua prática alicerçada na pesquisa,
transmite e aplica aos seus alunos ao longo dos anos certa- A pesquisa como instrumento para se alcançar o conhecimento,
mente o faz dentro do correto pressuposto da lógica racional a ciência, cada vez mais fica em evidência no mundo globalizado,
do aprendizado, em que ambos (professor e aluno) se ali- indiferente ao nível social ou educacional. A necessidade de evo-
mentam do processo de aprendizagem. lução em todos os setores da humanidade trouxe uma nova fonte
Assim, constantemente tem sido problematizada aos docentes de energia à ciência. A qualidade de vida moderna é o reflexo vivo
a capacidade e frequência de leitura. O hábito de leitura deveria desse fato. O poder das informações e seus valor, volume, varie-
ser uma rotina entre os docentes, uma prática de vida, essencial dade e disponibilidade aproximaram muito o homem moderno e
não apenas para melhorar a capacidade de argumentação, mas a ciência. A distância do entendimento anterior, o campo de força
para uma evolução cultural. Uma alegação constante é a falta negativo, o medo, a rejeição, derruba esse muro invisível e dá
de tempo, não de hábito de vida. A incapacidade de interpre- lugar a novas possibilidades e soluções de inúmeros problemas.
tação de um texto dificulta muito a permanente recuperação de Muitos desses desafios podem ser solucionados em tempo
competências no exercício profissional como docente, e mais menor, e com qualidade, em comparação a pouco tempo atrás.
ainda como pesquisador.
Todas essas mudanças na qualidade de vida também auxiliaram
Dentro do contexto da aprendizagem e da inteligência na abertura para uma nova razão científica, teológica e filosó-
destacam-se como elementos essenciais a predisposição e fica. Não há dúvida de que o mundo passa por necessárias trans-
treinamento, o juízo e o raciocínio lógico. Para que o processo formações, não apenas científicas, o que inclui principalmente a
de ensino e pesquisa se desenvolva integralmente, há necessi- moral e a ética, como reguladoras naturais desse processo.
dade de construir um novo modelo de se educar e de se cons-
Todavia, para o desenvolvimento de pesquisa, um laboratório
truir como educador. Somente pode ser considerado educador
com apropriada infraestrutura, além da sala de aula e da clínica,
aquele que apresenta habilidade de se educar, um processo
torna-se essencial. O referencial e o endereço de um pesqui-
natural de autoeducação, de autonomia, de autoalimentação e,
sador é o laboratório de pesquisa. Ali nascem ideias, surgem
por fim, de cultura.
problemas, discutem-se soluções. O laboratório de pesquisa
No contexto da inteligência em que se busca construir conhe- é o berço intelectual do pesquisador, sendo o principal refe-
cimento, a capacidade de argumentação, de buscar soluções rencial para as mudanças, para se chegar a um novo conheci-
para problemas importantes e prioritários, de estruturar novas mento. A presença do pesquisador no laboratório também é
alternativas para problemas em vigentes, entre outros, impõe essencial.
1 // A pesquisa e a odontologia 5
A transformação que a pesquisa traz na sociedade impõe novos dominar e ter recursos acessíveis se não forem bem aplicados.
conceitos, como as alterações esperadas. Na pesquisa básica, Nesse contexto, o maior patrimônio de um país é a educação
em que se busca chegar ao conhecimento de fenômenos e de seus habitantes e, por isso, além de obedecer a uma política
fatos, como na aplicada em que se utiliza de técnicas e ferra- nacional de educação que defina seus rumos e prioridades, ela
mentas para alcançar o destino a que se propôs, o impacto (a deve ser oferecida até o limite possível da riqueza nacional.2,3,11
mudança) esperado deve ser funcional, real e aplicável.
A redução dos investimentos em ciência e tecnologia afeta gra-
Em recente estudo, Marques8 destaca os tipos de impactos vemente o desenvolvimento do País. A força de uma nação
gerados pela produção do conhecimento – impacto científico, está associada ao poder intelectual, à capacidade e à compe-
político, organizacional, tecnológico, econômico, na saúde, cul- tência das pessoas – o capital humano, que sem dúvida implica
tural, no ambiente, simbólico, social e educacional. O avanço na conhecimento, ciência e tecnologia; ao capital financeiro, à dis-
aplicação do conhecimento, da oportunidade de este conheci- ponibilidade monetária do país; e, por fim, aos recursos natu-
mento ser um gerador de riqueza, impõe a necessidade de inves- rais, quanto à sua diversidade e riqueza.1
timento, de um orçamento cada vez maior. A distribuição segue
A importância da pesquisa é real e vital ao desenvolvimento de
uma lógica de prioridades. É fundamental a participação das
um país. Assim, o que se desenvolve nas pesquisas deve ser de
empresas na universidade, uma vez que elas operacionalizam a
efetiva contribuição, com mérito e relevância científica, capaz
inovação tecnológica, bem como devido ao fato de uma relação
de justificar o investimento aplicado.
direta com fornecedores e clientes. A partir da ciência produzida
nas universidades as empresas viabilizam desenvolvimento.
Brito-Cruz9 traz uma reflexão dos desafios em pesquisa e desen- O pesquisador da odontologia
volvimento brasileiro. A necessidade é estruturar essas ati-
vidades dentro das empresas e transformá-las em inovação A odontologia tem sido destaque em publicações e citações
tecnológica para o País. “A geração de conhecimento e sua con- graças a uma nova concepção de entender o ensino pela pesquisa
versão em riqueza e desenvolvimento social dependem da ação e, mais especialmente, ao avanço dos cursos de pós-graduação.
das empresas, das universidades e do governo. No Brasil, ativi- A melhoria que a pós-graduação no Brasil presenciou nos últimos
dades de pesquisa científica e tecnológica têm ficado limitadas anos contribuiu extensivamente para esse ganho quantitativo da
ao ambiente acadêmico. O intercâmbio universidade-empresa pesquisa em odontologia, sendo necessário ainda direcionar
torna-se importante na medida em que contribui para a melhor maiores esforços em manter padrão de qualidade.
formação dos estudantes. A verdade é que o principal mecanismo Durante muitos anos, os pioneiros da pesquisa odontoló-
para a interação entre a universidade e a empresa é a contratação gica brasileira eram reduzidos a um pequeno grupo de idea-
dos profissionais formados nas universidades pelas empresas. listas que, com imenso esforço e dedicação, deixaram um bom
Assim, ao mesmo tempo que a ciência brasileira tem avançado e legado de orientações e princípios científicos. Com o estímulo à
obtido mais destaque internacional, a tecnologia não tem acom- saída de docentes para pós-graduação no exterior, a sedimen-
panhado essa evolução. Cabe à empresa aproveitar tais condições tação de parcerias internacionais de pesquisa, e o investimento
e convertê-las em competitividade, riqueza e desenvolvimento.”.9 com a infraestrutura dos laboratórios de pesquisa ocorreram
As mudanças esperadas frente aos avanços científicos e tecno- destaques merecidos da odontologia.
lógicos estão envolvidas por ações aplicáveis no campo cien- Alguns questionamentos trazem reflexões para nomear o pro-
tífico (humanidade mais inteligente, sábia), no campo social
fessor pesquisador. O pesquisador é aquele que busca desco-
(políticas públicas que reduzam as diferenças sociais, e capazes
brir novos fatos relativos à sua área do saber e, dentro de seu
de aplicar os conhecimentos produzidos) e no campo econô-
mundo imaginário (fábrica de conhecimento), o laboratório, se
mico (desenvolvimento industrial, empresarial, capaz de pro-
esforça para vencer desafios com a resolução de problemas
duzir novos empregos).10
simples a complexos. No entanto, alguma habilidade deve des-
A pesquisa como fonte de vida e imunidade contra a igno- tacá-lo dos demais, como uma apropriada formação. Não basta
rância deve servir como um nutriente energético à educação, o título de doutor em odontologia para a apropriação da força
pois representa a ferramenta da qual dispõe a ciência e a tec- e do efeito de criador de conhecimentos. É comum, nos dias
nologia. O homem deve usufruir de todos os benefícios propor- atuais, certo número de professores achar que por ser detentor
cionados pela ciência e tecnologia, inclusive para minimizar as do título de doutor apresenta capacidade para orientar alunos
diferenças sociais e culturais. No mundo atual, não se admite em atividades clínicas e em pesquisas nas diferentes especiali-
tanta afronta contra a própria humanidade, como a fome, a dades. Esta falácia não se aplica, pois o preparo de um docente
doença e a guerra. A falta de conhecimento humano sobre o com habilidades de pesquisador vai além da titulação. Além da
universo, de questões básicas como sua origem, mantém um boa formação intelectual, o pesquisador deve apresentar habi-
homem moderno repleto de recursos, mas inoperante diante lidades como determinação, esforço, perseverança, talento,
da índole genética do poder e da dominação. De nada adianta raciocínio, observação, foco, análise crítica, estímulos, criativi-
6 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
dade, motivação e lógica. Contudo, é necessário dispor de um nas análises feitas em banco de dados por artigos publicados e
bom problema e estar preparado para solucioná-lo. pelas citações destes em revistas de impacto.
A criatividade é uma qualidade necessária a um bom pesqui- Precisamos investir em pessoal qualificado, em laboratórios
sador. Porém, não é todo mundo que dispõe dessa virtude. com tecnologias de ponta, estimular maiores interações inte-
Insisto que não é apenas uma falta de recursos. O desafio rinstitucionais entre grupos de pesquisas nacionais e internacio-
implica disponibilizar de uma imaginação criativa e operaciona- nais. O estímulo ao desenvolvimento de tecnologia brasileira
lizar os recursos disponíveis. certamente contribui para uma melhora de nossa competitivi-
dade e qualidade de vida. A participação ativa da indústria em
Igualmente a todos esses atributos, o pesquisador tem a res-
nossas universidades e um intercâmbio ativo são necessários.
ponsabilidade de coordenar um laboratório com vários indi-
Assim, não basta apenas ser possuidor de uma tecnologia,
víduos que necessitam se relacionar uns com os outros, dentro
torna-se essencial se incorporar a ela. Por conseguinte, além
de um departamento; sua sobrevivência implica atividades
das boas ideias, precisamos colocá-las em prática.
docentes, administrativas (gestão), além de estar apto a captar
recursos para assegurar e manter as pesquisas. Uma função Nesse momento, presenciamos um momento crítico em todos
muitas vezes de um super-herói. os setores da sociedade mundial, em especial no setor polí-
tico. Não podemos deixar que a ciência seja contaminada por
As diferenças são naturais entre os seres humanos, bem como
pessoas providas de má conduta, de falta de credibilidade,
aqueles que apenas dão aulas, e aqueles que, além de lecionar,
pois, de igual maneira, seremos contaminados e, em última
fazem pesquisas. Uma crítica de quem não faz pesquisa é de que
instância, nossa família, a base saudável da sociedade. A meta
aqueles que fazem sejam privilegiados. Não constitui privilégio
real da qualidade de vida desejada por um novo conhecimento
algum trabalhar mais do que ninguém, ter maior responsabili-
transformador deve alcançar igualmente todos os cidadãos.
dade, mas o mesmo provento. O desconhecimento de quem não
faz pesquisa muitas vezes alimenta esse censurável conceito. A pesquisa é desenvolvida dentro de uma sensatez de indi-
víduos comprometidos com a evolução humana. A criatividade,
A pesquisa tem alcançado a graduação, como fonte de estí-
a perseverança e a determinação incorporadas ao espírito ino-
mulos aos jovens. Nessa fase, a pesquisa, além de comple-
vador do pesquisador determinam a revolução das informações
mentar a formação, permite um intercâmbio transformador,
científicas e tecnológicas que são responsáveis por mudanças
a partir de uma série de contribuições, entre as quais: possibi-
no padrão de vida da sociedade.
litar construir o próprio conhecimento, estimular a criatividade,
favorecer a análise crítica, desenvolver hábitos de mudanças,
fortalecer o trabalho em equipe, induzir a cidadania e reforçar os Referências
princípios de educação para a vida.
1. Fava de Moraes F. A missão da universidade e a odontologia. In: Estrela
Novos desafios surgem em todo processo de desenvolvimento, C. Metodologia científica. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas; 2005.
especialmente na construção de conhecimento. Fava de Moraes1 2. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
salienta que o conhecimento tem um valor (virou uma commo- Documento de política para el cambio y el desarrollo em la educación
superior. Paris: UNESCO; 1995.
dity), podendo ser vendido e monopolizado, pois quem sabe tem
poder, e quem tem poder tem capital, tem riqueza. Dessa forma, 3. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Declaración mundial sobre la educación superior em el siglo XXI: visión
cuidados devem ser observados a todo o momento quanto e acción [Internet]. Conferencia Mundial sobre la Educación Superior.
à fragmentação de resultados de pesquisas (Salame Science), Paris: UNESCO; 1998 [capturado em 23 jul. 2017]. Disponível em: http://
www.unesco.org/education/educprog/wche/declaration_spa.htm.
com vistas a aumentar o número de artigos publicados por um
pesquisador, além da questão da ética na pesquisa. Os juízos 4. Demo P. Universidade, aprendizagem e avaliação. Porto Alegre:
Mediação; 2004.
da conduta e os valores elevados devem sempre prevalecer
5. Demo P. Educar pela pesquisa. 3. ed. Campinas: Autores Associados; 1998.
ante as oportunidades que podem trazer prejuízos para toda a
ciência, como má conduta ou conduta eticamente questionável. 6. Perrenoud P. 10 competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed; 2000.
A honestidade e a credibilidade não constituem virtudes, mas 7. Incontri D. Pestalozzi: educação e ética. São Paulo: Scipione; 1996.
devem ser partes integrantes dos valores humanos.12 8. Marques F. Os impactos do investimento. Pesquisa FAPESP.
2016;246:16-23.
9. Brito-Cruz CH. A Universidade, a empresa e a pesquisa que o país pre-
Perspectivas da ciência e da cisa. Rev Humanidades. 1999;45:15-29.
tecnologia aplicadas à odontologia 10. Chaimovich H. Avaliação e impactos da ciência brasileira [Internet].
Rio de Janeiro: ABC; 2016 [capturado em 23 jul. 2017]. Disponível em:
https://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-6986.pdf.
A odontologia avançou muito nos últimos anos, tanto em pes-
11. Amaral NC. Financiamento da educação superior. In: Estrela C. Metodo-
quisa básica quanto aplicada. A ciência odontológica brasileira logia científica. São Paulo: Artes Médicas; 2001.
tem sido destaque internacional, porém dependemos muito 12. Estrela C, Cury AAB. Evaluation of scientific merit. Braz Oral Res.
de tecnologia estrangeira. Esse fato é facilmente observado 2013;27:297-8.
2
A educação superior brasileira:
papel, funções e financiamento
Nelson Cardoso Amaral são públicas. A Constituição ainda determinou que se elabo-
rassem planos nacionais de educação (PNEs) decenais.2 As
Introdução diretrizes e as bases da educação brasileira foram estabelecidas
pela Lei no 9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
A educação superior no Brasil é oferecida por um conjunto de Nacional, ou LDB.3
instituições em que impera uma grande diversidade. O Censo A importância e sensibilidade na discussão sobre o financia-
da Educação Superior de 2015, divulgado pelo Instituto Nacional mento da educação superior se deve ao fato de que a depen-
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apre- dência dos recursos financeiros é responsável pela existência
senta um conjunto de 2.364 instituições de educação superior de amarras à liberdade acadêmica das instituições. O que se
(IESs), em que 195 são universidades (8,2%), 149 são centros nota, nas instituições públicas e, portanto, financiadas com
universitários (6,3%), 1980 são faculdades (83,8%) e 40 são ins- recursos do fundo público,* é a “tentativa ou a tentação do
titutos federais ou centros federais de educação tecnológica controle estatal, a fim de obrigar a universidade a cumprir seus
(1,7%).1 As instituições são públicas – federais, estaduais, muni- deveres com a sociedade”.4 Nas instituições privadas, a depen-
cipais – ou privadas – particulares em sentido estrito, comunitá- dência financeira revela-se no quase-mercado** educacional,
rias, confessionais ou filantrópicas. Predomina, portanto, nesse através das mensalidades dos estudantes e dos contratos com
cenário, um conjunto de instituições que prioritariamente desen- a iniciativa privada. Nesse caso, é o mercado que tende a fazer o
volvem atividades relacionadas ao ensino de graduação, uma controle dos rumos das atividades acadêmicas da universidade.
vez que apenas as universidades têm a obrigatoriedade consti-
tucional de realizar atividades de ensino, pesquisa e extensão de Quando o financiamento com recursos do fundo público se
forma indissociável. revela insuficiente e as instituições públicas se dirigem forte-
mente às atividades de prestações de serviços, oferecendo
O financiamento das instituições que compõem a educação
cursos, assessorias e consultorias remuneradas, elas passam,
superior de um país é um ponto sensível no debate sobre esse
então, a enfrentar dois polos de controle: o estatal e o do mer-
nível de ensino. Entretanto, não se pode falar sobre o financia-
cado. Cada um deles, a seu modo, procura, em geral, tolher a
mento das IESs sem se perguntar o que se espera delas, ou
liberdade intelectual da instituição.
seja, que papel e que funções devem desempenhar. Uma res-
posta para essa questão, no Brasil, pode ser encontrada exa- As instituições públicas, por viverem essa tensão entre o
minando-se a legislação emanada do Congresso Nacional. estatal e o mercado, passaram a desenvolver um conjunto de
atividades que as caracteriza como uma multiversidade, que é elas, há méritos, reconhecidos publicamente, quanto à eficácia
“[...] muito sucintamente, uma universidade funcionalizada, e à qualidade das ações. Contudo, parece faltar a definição de
disponível para o desempenho de serviços públicos e a satis- um rumo de atuação aglutinador de forças e concentrador de
fação de necessidades sociais conforme as solicitações das energias para grandes ações que provoquem mudanças con-
agências financiadoras, estatais e não estatais”.6 Essas institui- cretas na sociedade e suportem um conjunto original de ideias,
ções seguiram esse caminho, talvez, por se encontrarem, entre posturas e conhecimento, que contribuam com a construção
outros motivos, pressionadas por crises de hegemonia de legi- de um País com menor desigualdade social e melhor inserção
timidade e institucionais, que se abateram sobre as instituições no cenário internacional, atualmente dominado pela mundiali-
de ensino superior, em diversos países, a partir dos anos 1960. zação do capital e pela tendência à uniformidade cultural pre-
Segundo Sousa Santos:6 “A universidade sofre uma crise de tendida pelos países mais ricos do mundo.7,8
hegemonia na medida em que a sua incapacidade para desem-
penhar cabalmente funções contraditórias leva os grupos Iremos, neste estudo, apresentar, em primeiro lugar, o que a Lei
sociais mais atingidos pelo seu déficit funcional ou o Estado de Diretrizes e Bases da Educação Nacional especifica como
em nome deles a procurar meios alternativos de atingir os seus papel e funções da educação superior; em seguida, será discu-
objetivos [...]. A universidade sofre uma crise de legitimidade tida a legislação sobre o financiamento da educação brasileira.
na medida em que se torna socialmente visível a falência dos Em segundo lugar, o financiamento das instituições federais de
objetivos coletivamente assumidos [...]. A universidade sofre ensino superior será detalhado, e, finalmente, nas considera-
uma crise institucional na medida em que a sua especificidade ções finais, serão apresentadas as metas diretamente relacio-
organizativa é posta em causa e se lhe pretende impor modelos nadas à educação superior presentes no PNE (2014-2024).9
organizativos vigentes noutras instituições tidas por mais efi-
cientes”. (Grifos nossos)
Papel e funções da educação
A presença dessas categorias de crises se apresentou nas insti-
superior: o público e o privado
tuições mais pela ausência de um planejamento e direção esta-
belecidos entre governos e instituições que pela omissão, ine-
O parlamento brasileiro, por meio da LDB de 1996, apresentou,
ficiência e ineficácia destas últimas. A criação e expansão das
em nome da sociedade, o papel e as funções que as institui-
instituições públicas ocorreu mais fortemente durante o regime
ções de ensino superior brasileiras devem exercer para que elas
militar que se iniciou em 31 de março de 1964, e, desde então, se
participem ativamente da vida cultural e econômica brasileira.3
impôs a elas um regime em constante estado de desequilíbrio e
instabilidade. Isso promoveu muita desconfiança e o abandono A LDB, em seu artigo 43, estabelece as finalidades da educação
de projetos institucionais ousados que, se implementados, superior: (a) estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
poderiam alterar o perfil cultural e científico de muitos setores espírito científico e do pensamento reflexivo; (b) formar diplo-
da sociedade brasileira. mados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a
A crise de hegemonia se expressa, por exemplo, pela incapa- inserção em setores profissionais e para a participação no desen-
cidade – pelo não incremento de seus recursos financeiros – volvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
de as instituições públicas expandirem consideravelmente suas contínua; (c) incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
atividades para atender à enorme demanda pelo ensino supe- científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecno-
rior, havendo então uma grande expansão do sistema privado. logia e a criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver
A crise de legitimidade se apresenta quando as instituições não o entendimento do homem e do meio em que vive; (d) promover
conseguem dar respostas rápidas às demandas que lhes são a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos
dirigidas pelos diversos segmentos da sociedade. Já a crise ins- que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber
titucional se instala no momento em que surgem críticas em através do ensino, de publicações ou de outras formas de comu-
relação a eficiência, custos e competitividade, no contexto do nicação; (e) suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
quase-mercado. Como solução para esses problemas, as pro- cultural e profissional e possibilitar sua correspondente concre-
postas são de que lhes seja imposta uma gestão empresarial, tização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos
nos moldes de uma empresa privada. numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de
Em resposta à situação de pressão em que se viram ao longo cada geração; (f) estimular o conhecimento dos problemas do
do tempo, as instituições públicas tendem a abraçar o maior mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
número possível de atividades, procurando, com isso, justi- serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
ficar os recursos financeiros do fundo público a elas atribuídos. uma relação de reciprocidade; (g) promover a extensão, aberta
A constante cobrança de eficiência das instituições e as muitas à participação da população, visando à difusão das conquistas e
acusações que lhes são feitas levaram-nas a dispersar a sua dos benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa cien-
atuação num espectro muito grande de atividades. Em todas tífica e tecnológica geradas na instituição.3
2 // A educação superior brasileira: papel, funções e financiamento 9
Vê-se, portanto, que há um complexo de funções a serem cum- Registra-se, portanto, que as escolas privadas devem funcionar
pridas pelas instituições de ensino superior brasileiras, que conforme as normas e processos avaliativos estabelecidos
percorrem um largo espectro de atividades – desde estimular pelo poder público.
a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e
Especificamente com relação à educação superior, o artigo 207
do pensamento reflexivo, até encontrar soluções para os pro-
da CF estabeleceu que (grifos nossos):
blemas atuais, em todos os campos da vida e da atividade
humana, abrindo um horizonte para um futuro melhor para a As universidades gozam de autonomia didático-científica,
sociedade brasileira, reduzindo as desigualdades. administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obede-
cerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa
e extensão.
O financiamento na
§1o É facultado às universidades admitir professores, técnicos e
legislação brasileira cientistas estrangeiros, na forma da lei.
A Constituição Federal do Brasil (CF) de 1988 estabeleceu as §2o O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa
bases para o financiamento da educação brasileira. O artigo científica e tecnológica.2
205 da CF afirma que: “A educação, direito de todos e dever do Isso significa que os recursos financeiros devem ser colocados
Estado e da família, será promovida e incentivada com a cola- à disposição das universidades, por elas possuírem autonomia
boração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da para gerir esses recursos.
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi-
cação para o trabalho.”.2 Ao considerar o federalismo brasileiro, o artigo 18 da CF esta-
beleceu que a União, os Estados, o Distrito Federal (DF) e os
Dessa forma, a educação poderia ser financiada tanto com municípios são autônomos, nos termos estabelecidos pela
recursos públicos quanto com recursos oriundos diretamente das Constituição.2
famílias, por exemplo, por meio do pagamento de mensalidades.
O artigo 206 da CF estabeleceu que:2 Considerando esse fato, o artigo 211 da CF explicitou em seu
caput que a “União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: cípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na de ensino”.2 Os cinco parágrafos desse artigo estabelecem os
escola; papéis e responsabilidades dos entes federados:
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen- §1o A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Ter-
samento, a arte e o saber; ritórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e
exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e suple-
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexis-
tiva, de forma a garantir equalização de oportunidades edu-
tência de instituições públicas e privadas de ensino;
cacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal
V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, e aos Municípios.
na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente §2o Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino funda-
por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; mental e na educação infantil.
VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; §3o Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no
VII – garantia de padrão de qualidade. ensino fundamental e médio.
VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da §4o Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os
educação escolar pública, nos termos de lei federal. Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de
colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino
Portanto, as escolas públicas devem ser gratuitas, possuir obrigatório.
planos de carreiras para professores e funcionários, bem como
ter a garantia de um determinado padrão de qualidade; e os §5o A educação básica pública atenderá prioritariamente ao
profissionais da educação precisam ter um piso salarial pro- ensino regular.2
fissional nacional (PSPN). Com relação às escolas privadas, o A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei no 9.394 de 20/12/19963
artigo 209 da CF afirmou que:2 estabeleceu ainda que os municípios somente poderiam atuar
O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes con- no ensino médio e na educação superior “quando estiverem
dições: atendidas plenamente as necessidades de sua área de compe-
tência e com recursos acima dos percentuais mínimos vincu-
I – cumprimento das normas gerais da educação nacional;
lados pela Constituição à manutenção e desenvolvimento do
II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. ensino”.2
10 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
cação pelo menos 25% do volume dos impostos por eles arre-
2010 938.656 601.112 103.530 4.736.001 6.379.299
cadados, adicionando-se os recursos transferidos pela União
e descontando-se os recursos transferidos pelos Estados aos 2015 1.214.635 618.633 118.877 6.075.152 8.027.297
Municípios. Por sua vez, os Municípios deveriam aplicar pelo
menos 25% do volume de impostos por eles arrecadados, adi- Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira.1
cionando-se os repassados pela União e pelos Estados.
2 // A educação superior brasileira: papel, funções e financiamento 11
O número total de estudantes com idade entre 18 e 29 anos que gurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino
poderiam pagar mensalidades estaria em torno de 5.500.000, médio”.
analisando-se os dados do Censo Demográfico de 2010,15-17 o
Com relação ao ensino superior, fica bem claro que os Estados,
que, comparado aos 6.075.152 estudantes matriculados atual-
o Distrito Federal e os municípios podem oferecê-lo, desde
mente nas instituições privadas, mostra uma possível exaustão
que cumpram também as suas responsabilidades relativas aos
financeira das famílias para o pagamento de mensalidades.13 outros níveis de ensino. Além disso, no caso dos municípios,
Portanto, atingir a meta de mais de 11 milhões de estudantes no deve-se utilizar recursos acima dos percentuais mínimos vincu-
ensino superior dependeria fundamentalmente da expansão de lados pela CF.
vagas no setor público, e, para que isso ocorra, torna-se uma
medida urgente elevar o volume de recursos financeiros apli- Assim, a participação dos governos estaduais e municipais
cados nessas instituições. nos orçamentos das instituições de ensino superior é extre-
mamente variada, indo desde o sistema paulista que espe-
cifica claramente os recursos que devem se destinar à USP,
O financiamento das UNICAMP e UNESP – 9,57% da arrecadação do ICMS es-
instituições públicas tadual – até situações em que o repasse do cofre público não
permite que a instituição cumpra os seus compromissos, obri-
As atividades das instituições públicas de ensino superior são gando-as até a cobrar mensalidades de seus alunos, como no
realizadas com recursos financeiros provenientes da arreca- caso das municipais, que utilizam de fundações privadas para
dação de tributos pagos pela população. A soma desses tri- esse fim.
butos, que são os impostos, taxas e as contribuições, forma os No sistema paulista, além do aporte orçamentário vinculado
fundos públicos federal, estaduais e municipais, que são res- à arrecadação do ICMS, a Fundação de Amparo à Pesquisa de
ponsáveis pelo financiamento dos programas governamentais São Paulo (FAPESP), que deveria servir de exemplo para os
relacionados a educação, saúde, saneamento, habitação, assis- demais Estados, complementa os orçamentos das instituições
tência social, salário-desemprego, bolsa-família, subsídios à através da aprovação de projetos e convênios que envolvem os
agricultura e à instalação de indústrias, juros subsidiados à par- professores e as instituições.
celas da população, socorro a bancos, renúncia fiscal, paga-
Embora os dados de execução orçamentária das instituições
mento de juros, encargos e amortização da dívida pública, etc.
estaduais e municipais sejam, em geral, difíceis de se com-
A distribuição dos recursos pelos diversos programas orçamen- pilar, pode-se afirmar que os recursos não permitem que elas
tários provoca uma tensão entre aqueles que propiciam a acu- desenvolvam plenamente suas atividades. Tanto é assim que
mulação de capital, como o pagamento de juros e encargos é comum os deputados estaduais apresentarem emendas
das dívidas públicas e aqueles que favorecem a reprodução da aos orçamentos, procurando alocar recursos para solucionar
força de trabalho, como educação e saúde.18 Essa tensão expli- questões específicas das instituições. Proliferam nas institui-
cita claramente a finitude dos recursos públicos e provoca aná- ções estaduais e municipais as prestações de serviços, através
lises especializadas sobre cada um dos componentes de gasto de cursos de especialização, cursos de extensão, assesso-
das diversas esferas governamentais. rias e consultorias, valendo-se das estruturas fundamentais
que orbitam atualmente as instituições de ensino superior
públicas.
O financiamento das instituições
estaduais e municipais
O financiamento das instituições
A LDB ao tratar da organização da educação nacional esta-
federais de ensino superior
beleceu responsabilidades à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos municípios, no que se refere às ações educacionais As instituições federais de ensino superior constituíam, em
a serem implementadas nos diversos níveis de ensino. Ao tratar 2014, um conjunto formado pelas seguintes instituições: dois
das incumbências dos municípios, a LDB estabelece em seu centros federais de educação tecnológica, o Cefet Minas (Cefet
artigo 11, inciso V, que os municípios incumbir-se-ão de “oferecer MG), e o Cefet Celso Suckow da Fonseca (Cefet RJ); a Escola
a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE); o Instituto Militar de
o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis Engenharia (IME); o Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES); o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); 38 insti-
de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente
tutos federais de educação, ciência e tecnologia; e 63 univer-
as necessidades de sua área de competência e com recursos
sidades federais.
acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição
Federal, à manutenção e ao desenvolvimento do ensino”.3 Aos As universidades federais possuem ainda, “vinculadas” a elas,
Estados, o artigo 10, inciso VI, estabelece que compete “asse- uma rede de hospitais universitários, constituída de 32 hospitais
12 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
Quadro 2.1
Fontes de recursos financeiros que se destinaram às instituições federais de ensino superior em 2014
Recursos destinados “Fonte composta pela parcela mínima de 18% do produto da arrecadação dos impostos,
à manutenção e líquidos de transferências constitucionais, que a União deve aplicar na manutenção e
desenvolvimento desenvolvimento do ensino, de acordo com o art. 212 da Constituição Federal.”
do ensino (MDE)
Recursos de concessões “Fonte composta pelos recursos originados da concessão ou permissão de serviços públicos a
e permissões particulares, os quais estão sujeitos ao controle, fiscalização e regulação do Poder Público. É destinada
ao desenvolvimento de projetos nos respectivos setores, conforme legislação específica.”
Recursos próprios “Fonte composta por recursos não financeiros que têm origem no esforço próprio de arrecadação
não financeiros de entidades da Administração Pública. Esses recursos têm trânsito obrigatório pela conta do
Tesouro Nacional e retornam às unidades de origem ou aos fundos por elas geridos.”
Recursos próprios “Fonte composta por recursos financeiros que têm origem no esforço próprio de arrecadação
financeiros de entidades da Administração Pública. Esses recursos têm trânsito obrigatório pela conta
do Tesouro Nacional e retornam às unidades de origem ou aos fundos por elas geridos.
Recursos de convênios “Fonte composta por recursos originários de convênios e instrumentos congêneres (acordos, contratos
e ajustes), realizados entre a Administração direta e indireta da União e os Estados, o Distrito Federal e
suas Entidades, os Municípios e suas Entidades e Instituições Privadas, para consecução de objetivos de
interesse comum dos partícipes. Considera-se convênio ou instrumento congênere, qualquer acordo ou
ajuste que discipline a transferência de recursos públicos e tenha como partícipe órgão da administração
pública federal direta, autárquica ou fundacional, empresa pública ou sociedade de economia mista
que estejam gerindo recursos dos orçamentos da União, visando à execução de programas de
trabalho, projeto/atividade ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação.”
Doações de pessoas físicas Fonte composta pelos recursos não reembolsáveis recebidos pelo Governo Brasileiro de pessoas
e instituições públicas ou de agências nacionais de desenvolvimento que possuem personalidade jurídica de direito
e privadas nacionais público ou direito privado, dentre as quais: Sociedades de Economia Mista e Empresas Públicas.
A especificação de fonte própria para acolhimento de doações, anteriormente classificadas
como as fontes 150 e 250, atendem à necessidade de facilitar o controle da execução, uma vez
que geralmente esses recursos são dirigidos a finalidades pré-determinadas em contratos.
Remuneração das “Fonte composta pela receita proveniente da remuneração das disponibilidades do Tesouro
disponibilidades do Nacional na Conta Única, no Banco Central. Por força do disposto no § 3o do art. 164 da
tesouro nacional Constituição Federal, as disponibilidades de caixa da União são depositadas no Banco Central
e, de acordo com o art. 1o da Medida Provisória no 2.179, de 24 de agosto de 2001, remuneradas
pela taxa média aritmética ponderada da rentabilidade intrínseca dos títulos da dívida pública
mobiliária federal interna de emissão do Tesouro Nacional em poder do Banco Central. Tal
remuneração é calculada diariamente e capitalizada no último dia do decêndio posterior.”
e/ou complexos hospitalares que possuem execução orçamen- a totalidade dos recursos financeiros é oriunda dos recursos
tária independente e são vinculados às universidades federais destinados à MDE, 83,00% ou dos recursos ordinários, 13,35%.
e/ou à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Ressalte-se a fonte relacionada à doações de pessoas físicas e
instituições públicas e privadas nacionais que, no Brasil, pos-
As fontes dos recursos financeiros que se dirigiram para as ins-
suem valores insignificantes e foi de R$ 113.511,00 em 2014.
tituições federais de ensino superior em 2014 foram aquelas
que constam do Quadro 2.1. Os recursos aplicados, por fonte, Os recursos financeiros utilizados pelas instituições federais de
em 2014, são relacionados na Tabela 2.2. Verifica-se que quase ensino superior serão apresentados neste capítulo separados
2 // A educação superior brasileira: papel, funções e financiamento 13
O financiamento do Instituto Nacional de R$ 182 milhões, bem como flutuações ao longo do período,
de Educação de Surdos (INES) chegando em 2014 com um total executado de R$ 121 milhões.
O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) existe há
150 anos e oferece, além da educação básica – da infantil até O financiamento do Cefet MG e Cefet RJ
o ensino médio –, a educação superior nos seguintes cursos: Os Cefets MG e RJ não se transformaram em universidades
Pedagogia-Licenciatura e Libras.22
como o Cefet PR (que era, em 2014, a Universidade Federal Tec-
A Tabela 2.3 mostra a evolução dos recursos financeiros apli- nológica do Paraná [UTFPR]) e nem se transformaram em insti-
cados pelo INES, todas as fontes, separados em recursos de tutos federais como ocorreu com diversos Cefets instalados no
pessoal e encargos sociais, outras despesas correntes, inves- País. São, portanto, os dois únicos centros federais de educação
timentos (Inv.), inversões financeiras (Inv. finan.), juros e tecnológica entre as instituições federais de ensino superior.
encargos da dívida (JED), amortização da dívida (AD), no pe-
A execução financeira do Cefet MG, adicionada à do Cefet RJ no
ríodo 1995-2014.18
período 1995-2014 está explicitada na Tabela 2.4, a preços de
O INES não teve nenhum pagamento de juros e encargos da janeiro de 2016, corrigidos pelo IPCA.
dívida e sua amortização, tampouco fez nenhuma inversão
financeira. Os recursos de investimento cresceram muito, pas- Os Cefets MG e RJ não tiveram nenhuma inversão financeira e
sando de R$ 93.408,00 em 1995 para R$ 1.544.379,00 em não pagaram valores relativos à dívida. Os recursos de inves-
2014, e os recursos de pessoal e encargos sociais e outras des- timentos cresceram muito, passando de R$ 12 milhões em
pesas correntes flutuaram muito. A Figura 2.1 mostra a evo- 1995 para R$ 52 milhões em 2014, um crescimento de 333,3%.
lução dos recursos totais. Houve um valor máximo, em 2007, A Figura 2.2 mostra a evolução dos recursos totais.
Tabela 2.3
Evolução dos recursos financeiros do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) (1995-2014)
(Valores a preços de janeiro de 2016, corrigidos pelo IPCA)
Fonte: Brasil.18
2 // A educação superior brasileira: papel, funções e financiamento 15
180.000.000
160.000.000
140.000.000
120.000.000
100.000.000
80.000.000
60.000.000
40.000.000
20.000.000
2010
2011
2012
2013
2014
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Figura 2.1
Evolução dos recursos financeiros do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) (1995-2014).
Fonte: Brasil.18
Tabela 2.4
Fonte: Brasil. 18
16 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
700.000.000
600.000.000
500.000.000
400.000.000
300.000.000
200.000.000
100.000.000
2010
2011
2012
2013
2014
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Figura 2.2
A Tabela 2.5 mostra a evolução dos recursos financeiros dos Instituto Federal do Sul de Instituto Federal do Piauí
institutos federais no período 1995-2014, separando-os por Minas Gerais
Instituto Federal do Ama- Instituto Federal Catarinense Instituto Federal do Mato Instituto Federal Fluminense
zonas Grosso do Sul
Instituto Federal Baiano Instituto Federal de Sergipe Instituto Federal do Pará Instituto Federal do
Rio Grande Norte
Instituto Federal do Ceará Instituto Federal do Tocantins
Instituto Federal da Paraíba Instituto Federal
Instituto Federal do Espírito Instituto Federal do Acre Sul-Rio-Grandense
Instituto Federal Goiano Instituto Federal do Amapá Instituto Federal de Instituto Federal de Roraima
Pernambuco
Instituto Federal do Instituto Federal da Bahia
Maranhão Instituto Federal do Rio Instituto Federal de
Grande do Sul Santa Catarina
Instituto Federal de Minas Instituto Federal de Brasília
Gerais Instituto Federal Farroupilha Instituto Federal
de São Paulo
Instituto Federal do Norte Instituto Federal de Goiás
de Minas Gerais Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira.23
2 // A educação superior brasileira: papel, funções e financiamento 17
Tabela 2.5
Fonte: Brasil.18
grupos de classificação das despesas, todas as fontes, a preços siderando os grupos de classificação de despesas, todas as
de janeiro de 2016, corrigidos pelo IPCA. fontes, a preços de janeiro de 2016, corrigidos pelo IPCA.
Os institutos federais fizeram inversões financeiras nos anos Nesse período, as universidades federais fizeram inversões
de 1995, 1997 e 2003 e não tiveram despesas relacionadas ao financeiras e pagaram valores relativos à dívida, nos anos de
pagamento de dívida. 1995 e 1997. Os recursos de investimentos tiveram uma forte
queda de 1995 até 2003, de 75%, e, a partir de 2003, cresceram
Os recursos de investimentos tiveram queda de 1995 a 2001,
de um patamar de R$ 186 milhões para o de R$ 2,0 bilhões em
passando de R$ 313 milhões para R$ 56 milhões e um cresci-
2014, o que significou uma elevação de 975,0%. A Figura 2.4
mento constante de 2003 a 2014, passando de R$ 66 milhões
mostra a evolução dos recursos totais.
para R$ 1,467 bilhão, o que significou um aumento de 2.123,0%.
Os recursos totais cresceram 56,5% de 1995 para 2014. Os recursos totais passaram de R$ 22 bilhões em 1995 para R$
A Figura 2.3 ilustra a evolução dos recursos totais. Verifica-se 42 bilhões em 2014, o que significou uma elevação de 91,0%.
que houve uma queda constante de 1995 a 2005 e um cresci-
As matrículas nas universidades federais cresceram de
mento constante de 2005 a 2014.
362.072 em 1995 para 1.046.467 em 2014, um crescimento
de 189%, e a partir de 2009 foram oferecidos cursos a dis-
O financiamento das universidades federais
tância. A Tabela 2.7 e a Figura 2.5 mostram essa evolução.
O Quadro 2.3 mostra a relação das universidades federais no O gráfico apresenta um consistente crescimento no período,
ano de 2014. A Tabela 2.6 mostra a evolução dos recursos finan- acentuando-se a partir de 2007, fundamentalmente pela
ceiros das universidades federais no período 1995-2014, con-
18 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
12.000.000.000
10.000.000.000
8.000.000.000
6.000.000.000
4.000.000.000
2.000.000.000
2010
2011
2012
2013
2014
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Figura 2.3
Quadro 2.3
UFRJ Fund. Univ. Fed. do Piauí
As universidades federais no ano de 2014
UFSC Fund. Univ. Fed. de São Carlos
FUF – Vale São Francisco Universidade Federal de Lavras
UFTM UFRB
UFMG Fund. Univ. Fed. do Maranhão
UFJM UFABC
UFPA Fund. Univ. Fed. Rio Grande/RS
UTFP UFFS
UFPB Univ. Fed. de Uberlândia
UNIFAL-MG UFOPA
UFPR Fund. Univ. Fed. do Acre
UFSP
UFRN Fund. Univ. Fed. de Ouro Preto
Tabela 2.6
Fonte: Brasil.18
implementação do Plano de Reestruturação e Expansão das lação – no campo, entre os mais pobres e negros –; aumentar a
Universidades Federais (Reuni). titulação dos professores da EB em nível de mestrado ou dou-
torado; assegurar planos de carreira para os profissionais da EB;
Considerações finais: as metas do PNE efetivar a gestão democrática nas escolas e instituições; dimi-
(2014-2024) vinculadas à educação superior nuir o percentual de estudantes matriculados nas instituições de
educação superior (IES) privadas; elevar a proporção de mestres
A Lei no 13.0059 de 24 de junho de 2014 aprovou o Plano Nacional e doutores nos corpos docentes das IES privadas; e formar, em
de Educação para o período 2014-2024, o PNE (2014-2024). nível de pós-graduação, a metade dos professores da EB.9
O Plano contém 20 metas que permeiam diversas vertentes:
expandir o quantitativo de matriculados na educação básica Um conjunto importante de metas trata objetivamente da
(EB) e na educação superior (ES), tanto na graduação quanto na expansão das matrículas nos diversos níveis, etapas e modali-
pós-graduação; melhorar o fluxo e a aprendizagem dos estu- dades educacionais. As metas 1, 2, 3, 11, 12 e 14 constituem esse
conjunto, por serem bem objetivas e, portanto, quantificáveis,
dantes; alfabetizar na idade adequada; diminuir o analfabetismo;
bem como por tratarem diretamente da expansão tanto da edu-
expandir a educação em tempo integral; elevar a qualificação
cação básica quanto da educação superior:9
dos professores da EB e aumentar a titulação dos professores da
ES; elevar os salários dos professores da EB; incluir jovens com a. a meta 1 determina a universalização da pré-escola, até
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habi- 2016, e o atendimento de 50% das crianças de até 3
lidades ou superdotação, elevar a escolaridade média da popu- anos, até 2024;
20 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
40.000.000.000
35.000.000.000
30.000.000.000
25.000.000.000
20.000.000.000
15.000.000.000
10.000.000.000
5.000.000.000
2010
2011
2012
2013
2014
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Figura 2.4
2013 932.263 83.605 1.015.868 As Tabelas 2.8 e 2.9 apresentam a quantificação da meta 12 que
trata especificamente da expansão da graduação na educação
2014 958.659 87.808 1.046.467 superior.
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira.23
2 // A educação superior brasileira: papel, funções e financiamento 21
1.200.000.000
1.000.000.000
800.000.000
600.000.000
400.000.000
200.000.000
2010
2011
2012
2013
2014
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Figura 2.5
A Tabela 2.8 mostra que para atingir a taxa líquida de 33% Tabela 2.8
as matrículas dos jovens de 18 a 24 anos devem se ampliar
de 3.984.707 em 2014 para 7.721.874 em 2024, um aumento Meta 12 – Acréscimos de matrículas para se atingir
a taxa líquida de 33% e a taxa bruta de 50%
de 93,8%; e para atingir uma taxa bruta de 50%, seria pre-
ciso atingir um total de 11.699.810 em 2024, um acréscimo de
52,9% em relação a 2014, quando eram 7.651.864 estudantes. Estudantes
matriculados 2014 2024 Acréscimo
É preciso chamar atenção para o fato de que estas duas condi-
ções precisam ocorrer simultaneamente, o que pode ampliar,
Matriculados com
ainda mais, a necessidade de novas matrículas de todas as idade de 18 a 24 anos
3.984.707 7.721.874 3.737.167
idades.
Total de
A Tabela 2.9 apresenta a expansão que precisa ocorrer no seg- matriculados, todas 7.651.864 11.699.810 4.047.946
mento público em relação ao privado, para que 40% das novas as idades
matrículas ocorram no segmento público. As projeções foram rea-
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,15,17 e Ence.ibge.gov.16
lizadas considerando-se os quantitativos existentes em 2014 em
cada uma das esferas administrativas e mesmos percentuais de
expansão para as esferas federal, estaduais e municipais. Tabela 2.9
A Meta 20 é fundamental para todas as outras, pois ela é a que trole social na utilização dos recursos públicos aplicados em
estabelece a ampliação do volume de recursos que se dirigem educação, especialmente a realização de audiências públicas, a
para a educação pública brasileira: “ampliar o investimento criação de portais eletrônicos de transparência e a capacitação
público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o dos membros de conselhos de acompanhamento e controle
patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto – PIB social do Fundeb, com a colaboração entre o Ministério da Edu-
do País no 5o (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o cação, as Secretarias de Educação dos Estados e dos Municípios
equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio”.9 e os Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos Municípios;
Tabela 2.10
Fonte: Brasil.24
2 // A educação superior brasileira: papel, funções e financiamento 23
nota e fazer prova, em troca do que recebem, ao final, um diploma, complexo; caminha do concreto ao abstrato; o importante
como prova de que aprenderam a reproduzir conhecimento”.6 não é ensinar o que tem valor apenas para a escola; e sim, o
que serve para a vida. O complemento da sabedoria universal
Considerando importantes os fatores mencionados, procurou-se,
neste livro, analisar alguns pontos críticos relevantes à formação é a aspiração democrática do ensino, ao qual todos teriam
do educador e do pesquisador voltados à odontologia. acesso, homens e mulheres, ricos e pobres, inteligentes ou
inaptos.5,10 A educação é um direito natural de todos. A assimi-
lação de conhecimentos não ocorre instantaneamente, como
O processo de aprendizagem uma imagem refletida no espelho, mas parte da observação
(breve histórico) direta, com posterior registro. Por isso mesmo, deve-se partir
do conhecido para o desconhecido.9
O processo de aprendizagem envolve a estruturação da for-
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) influenciou a educação de
mação do homem como um todo, membro de uma família, e
integrado a uma sociedade. Desse modo, busca o enriqueci- sua época com o livro Emílio. A educação discutida destaca a in-
mento e o desenvolvimento das potencialidades de uma pessoa, fluência dos pais e das escolas sobre uma pessoa; a continui-
capaz de incorporar conhecimento e evolução de um determi- dade do processo educacional, que dura uma vida toda; a sim-
nado aprendizado (incluindo a prática cotidiana o domínio de plicidade da educação, como a da natureza; o aprendiz deve
novas tecnologias), de modo consciente e responsável. aprender a pensar, não como um processo que vem de fora para
dentro, mas com desenvolvimento interno e natural (“Fazei o
A história da educação registra uma evolução, por diferentes
contrário do usual e quase sempre fareis bem”).10,15
mudanças conceituais do mundo globalizado, além das neces-
sidades e influências de cada época. Filósofos, cientistas, psi- No final do século XVIII e início do século XIX, foram sintetizados
cólogos, sociólogos, religiosos e pedagogos procuraram des- os princípios educacionais, propostos por Johann Heinrich Pes-
crever e aplicar suas ideias nas diferentes formas de educar.12,15 talozzi (1746-1827),12 com as características que o conhecimento
Entre os muitos educadores que se destacaram com suas pro- começa pelos elementos mais simples e concretos, estimu-
postas, foram discutidos alguns aspectos representativos ao lando a compreensão; o emprego do processo de observação
enfoque específico deste trabalho, envolvendo os estudos de ou percepção (intuição).12 Pode-se, assim, resumir os princípios
Platão, Santo Agostinho, Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Her- gerais adotados por Pestalozzi em: “a base da instrução parte
bart, Rogers, Piaget, Montessori, Skinner e Freire.10-19 da observação ou percepção sensorial (intuição), o que facilita
Platão (428-347 a.C.) destacou que “aprender é lembrar”. ao educando elaborar seu conceito; a instrução escolar deve
Educar não é levar conhecimento de fora para dentro, mas des- favorecer o desenvolvimento físico, mental e moral do edu-
pertar no indivíduo o que ele já sabe, proporcionando ao corpo cando; as relações entre o professor e o aluno, especialmente
e à alma a realização do bem e da beleza que eles possuem e em disciplina, devem ser baseadas e reguladas pelo amor; o
não tiveram ocasião de manifestar.10 professor deve respeitar a individualidade do aluno; a principal
Santo Agostinho (354-430), cristão e educador, escreveu o livro finalidade do ensino não é ministrar conhecimentos e talento
De Magistro (Do Mestre), no qual buscou a origem e natureza ao aluno, mas, sim, desenvolver e aumentar os poderes de sua
do conhecimento. Sua preocupação voltou-se à adaptação da inteligência; o saber deve corresponder ao poder e a aprendi-
explicação da teoria da iluminação. O saber não é transmitido zagem à conquista de técnicas; o professor deve dedicar a cada
pelo mestre ao aluno, já que a posse da verdade é uma expe- tópico do conteúdo, o tempo necessário para assegurar que
riência que não vem do exterior, mas de dentro de cada um. o aluno o domine inteiramente; a instrução deve estar subor-
Toda educação é, dessa forma, uma autoeducação, possibili- dinada ao fim mais elevado da educação (‘Hesitante se torna
tada pela iluminação divina.10 o caminho dos homens que, na confusão do seu muito saber,
encontram muito falatório, mas sacrificam o sentido silencioso
Galileu Galilei (1554-1642), responsável pelos novos rumos da
da pura sabedoria humana’)”.12,15,22,23
ciência, a observação dos fenômenos, formulação de hipótese e
verificação de hipótese mediante experimentação, destacou que: Johann Friedrich Herbart (1776-1841) representa o precursor de
“Ninguém ensina nada a ninguém, o máximo que podemos fazer uma psicologia aplicada à pedagogia, valorizando o rigor do
é ajudar as pessoas a descobrir as coisas dentro de si mesmas.”. método. A instrução compreendida como construção favorece
Assim, Galileu, discutindo o conhecimento científico da natureza, não separar a instrução intelectual da moral, porque uma é con-
realçou uma visão aberta do universo, indefinido e infinito.18,19 dição da outra. A educação completa provém do estímulo ao
João Amós Comênio (1592-1670), renomado educador e peda- aparecimento de interesses múltiplos. O método de instrução
gogo, autor do livro Didática magna, trabalhou no sentido de compreende: preparação, apresentação, assimilação, sistema-
facilitar a aprendizagem, tornando-a eficaz. Reporta que a tização e aplicação. É considerado como o primeiro a elaborar
aprendizagem se inicia pelo conhecido, direcionando-se ao uma pedagogia que pretende ser ciência da educação.10
3 // O processo educativo 29
A instrução como mera informação não é educativa. Só é edu- está vinculado a evidenciar comportamento, à participação
cativa a instrução que modifica os grupos de ideias já possu- ativa. Assim, é essencial o respeito ao ritmo de aprendizagem e
ídas pelo espírito, levando-as a formar uma nova unidade ou à apresentação de conteúdos em etapas, bem como que estas
uma série de unidades harmoniosas que determinam a conduta. sejam sempre reforçadas.
A educação só é possível na medida em que se desperta o inte-
Ante os estudos apresentados, percebem aspectos particulares
resse dos alunos pelas matérias. E esse interesse só pode ser
e especiais na maneira de pensar o processo educacional. A in-
despertado pela seleção adequada dos conteúdos de instrução e
fluência do modo de pensar e de viver de cada um desses edu-
pela utilização de métodos condizentes com o desenvolvimento
cadores apresentou forte influência da forma de criação de cada
psicológico do aluno. Considere-se, ainda, grande importância à
um (família), da educação recebida (cultural, científica, religiosa,
instrução e à técnica de ensino, sem as quais não há educação.22
filosófica, social) e do período em que viveram. No entanto,
(“A instrução formará o círculo do pensamento e a educação o
percebe-se uma preocupação real com uma edificação sólida do
caráter. A última não é nada sem a primeira.”)23
saber, dentro de suas mais diferentes abrangências.
Maria Montessori (1870-1952) destacou a individualização do
Bordenave e Pereira24 reportaram que a ação de ensinar pode
ensino, estimulando a atividade livre concentrada, priorizando
ser desenvolvida de modo simples e espontâneo, como o índio
a autoeducação. Com o método ativo, o aprendiz emprega o
que ensina seu filho a caçar, ou de forma muito técnica e precisa,
material na ordem que escolher, sendo que o professor apenas como nos modernos sistemas de instrução, na chamada peda-
dirige a atividade, não atua propriamente no ato de ensinar. gogia cibernética. Pode-se considerar, desta forma, que o ensino
(“Um homem é aquilo que é, não pelos professores que teve, presencia uma verdadeira tecnologia educacional, em que pro-
mas por aquilo que ele mesmo realizou.”)10 cura aplicar descobertas das ciências ao processo de ensino.
Piaget14 (1896-1980) caracteriza a participação ativa do aluno A atuação docente dentro do processo de ensino ocupa posição
no processo de construção da aprendizagem, conduzindo-a de destaque, sendo responsável pelo planejamento, orien-
por descoberta. Outro importante fator é a valorização da lin- tação e controle do aprendizado. O ensino não implica a apren-
guagem, sendo o objetivo do ensino a resolução de problemas dizagem para aquele que recebe. Para a aquisição de conheci-
da vida real.24 O construtivismo realça a capacidade adaptativa mentos, o centro essencial da atividade não está naquele que
da inteligência e da afetividade.10 ensina, mas naquele que aprende, como enfatizado por Not.25
Rogers16 (1902-1987) reportou que, na transmissão de conhe- Os saberes necessários (exigências do ensinar) à prática edu-
cimentos, onde está tudo mudando, o objetivo primeiro não é cativa, segundo Freire,11 caracterizam três importantes tópicos:
o ensinar, mas facilitar a mudança e a aprendizagem. O único não há docência sem discência; ensinar não é transferir conhe-
homem educado é aquele que aprendeu como aprender, como cimento; ensinar é uma especificidade humana. O Quadro 3.4
adaptar-se à mudança; o homem deve compreender que descreve os subitens dessas três abordagens.
nenhum acontecimento é seguro e que somente o processo de
buscar o conhecimento dá uma base para a segurança. A socie- Freire e Shor,25 discutindo o medo e a ousadia no cotidiano do
dade, ante as mudanças técnico-científicas, não pode repousar professor, analisam o envolvimento apaixonado com a apren-
nas respostas passadas, mas deve depositar confiança nos dizagem. “O professor precisa ser um aprendiz ativo e cético na
processos pelos quais os novos problemas são enfrentados. sala de aula, que convida os estudantes a serem curiosos, críticos
Torna-se necessário mudar o foco do ensino para facilitar a e criativos. Quando se correlaciona o ensino e a pesquisa, diz-se
que o ensino não se vincula à produção de conhecimento. Há um
aprendizagem. Para tanto, a aprendizagem depende do tipo de
mito que diz que se você é um professor que não faz nenhum
atitude existente na relação interpessoal entre o facilitador e o
tipo de pesquisa, você perde prestígio. Deve-se entender dois
aprendiz, como: “o facilitador deve apresentar-se como uma
momentos do ciclo do conhecimento – a produção do conheci-
pessoa real, autêntica; apreciar e respeitar o aluno; escutar com
mento novo e o do conhecer o conhecimento existente.” 26
empatia, colocando-se no lugar de quem lhe fala; confiar sin-
ceramente na capacidade potencial do estudante, de crescer e A educação libertadora não propõe uma mera técnica para se
aprender, proporcionando um clima de liberdade e de apoio”.24 chegar a alfabetização, à especialização, etc. O diálogo crítico
A relação entre as pessoas que promove o crescimento de cada vincula-se a um ato de conhecimento e não a uma mera trans-
uma, favorece o ato educativo, que é fundamentalmente rela- ferência de conhecimento. “A criatividade precisa de liberdade.
cional e não individual.10 Rogers16 destaca condições significa- Uma pedagogia autoritária não permite a liberdade necessária à
tivas à aprendizagem: contato com o problema; autenticidade criatividade, e é preciso criatividade para se aprender.”26
do professor; aceitação e compreensão; recursos disponíveis;
Perrenoud26 relata que diferenciar o ensino é “fazer com que cada
motivo fundamental (clima positivo em aula).18
aprendiz vivencie, tão frequentemente quanto possível, situações
Estudando a tecnologia do ensino, Skinner18 enfatiza a impor- fecundas de aprendizagem”. Assim, a diferenciação cons-
tância do reforço às respostas desejáveis, sendo que aprender titui um empreendimento que desafia nossos conhecimentos.
30 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
Quadro 3.4
• Comprometimento
Saberes necessários à prática educativa
• Compreender que a educação é uma
forma de intervenção no mundo
Não há docência sem discência 11
• Liberdade e autoridade
Ensinar exige:
• Tomada consciente de decisões
• Rigorosidade metódica
• Saber escutar
• Pesquisa
• Reconhecer que a educação é ideológica
• Respeito aos saberes do educando
• Disponibilidade para o diálogo
• Criticidade
• Querer bem aos educandos
• Estética e ética
Fonte: Freire.11
• Corporificação das palavras pelo exemplo
• Risco, aceitação do novo e rejeição a Destacam-se, dessa forma, 10 competências para ensinar:25
qualquer forma de discriminação “1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2. Administrar a
progressão das aprendizagens; 3. Conceber e fazer evoluir os dis-
• Reflexão crítica sobre a prática
positivos de diferenciação; 4. Envolver os alunos em sua aprendi-
zagem e em seu trabalho; 5. Trabalhar em equipe; 6. Participar da
• Reconhecimento e assunção da identidade cultural
administração da escola; 7. Informar e envolver os pais; 8. Utilizar
novas tecnologias; 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da
Ensinar não é transferir conhecimento11 profissão; 10. Administrar sua própria formação contínua”.27
Ensinar exige: Nesse contexto, a educação deve ser um ato coletivo, solidário
– um ato de amor, não devendo haver imposição. Educar é uma
• Consciência do não cessar tarefa de trocas entre pessoas e não pode nunca ser feita por
sujeito isolado. Até a autoeducação é um diálogo a distância
• Reconhecimento de ser condicionado (“Não há educadores puros, nem educandos”).11
Considerando o apanhado de ideias acerca dos programas de Durante algum tempo pôde-se presenciar mudanças expres-
educação, nota-se uma variedade de teorias preocupadas com sivas no processo de aprendizagem, que pode ser conside-
o processo de ensino, seus envolvimentos históricos e sociais, rado transição entre dois modelos de educação: os métodos
bem como as influências no contexto econômico e político. tradicionais e os métodos ativos (modernos). Algumas altera-
O processo de aprendizagem é dinâmico e deve estar voltado ções da escola tradicional para a nova foram marcantes. No
ao desenvolvimento do educando, induzindo a capacidade de modelo tradicional, o professor representava a figura central
observação, questionamento, análise crítica, pesquisa, traba- do ensino, apresentando a comunicação e o conhecimento
lhos, espírito científico, avaliação, julgamento e disciplina, orga- verbalmente; no método ativo, o aluno é a figura central e
nização – o que proporciona, desta forma, uma participação o objeto essencial é fazê-lo aprender. O ensino tradicional
ativa, bem como estimula o prazer pelo estudo, a criatividade, a estava fundamentado na didática, já os métodos modernos
reflexão e a análise crítica, a arte de aprender a pensar.1-40 de educação têm como base a psicologia da aprendizagem.29
Vilarinho29 reportou que a partir do movimento da escola
Para Dewey,28 o pensamento reflexivo constitui uma boa
moderna surgiram novas direções para o processo de ensino,
maneira de pensar, o que representa uma atitude intencional
e a metodologia didática atribuiu real importância à parti-
com destino à descoberta e envolve dúvida, indagação, investi-
cipação ativa do aprendiz. A Tabela 3.1 sintetiza a diferença
gação, voltados à busca de uma solução.
entre essas linhas.30
Do mesmo modo, naturalmente tem-se vivenciado mudanças
Percebem-se distintos parâmetros quando se discute o ensino.
nos métodos de ensino, que, a partir de novas experimen-
No entanto, é difícil congregá-los à provável aplicação generali-
tações, se aproximam daquele que pode ser considerado o
zada, visto que fatores relativos à ciência a ser ensinada, ao públi-
modelo ideal.
Tabela 3.1
Aspecto
considerado Escola tradicional Escola moderna
elemento mais importante do processo deve se tornar cada vez mais desnecessário ao aluno
2. Professor
autoridade máxima independência de ação
conhecimento memorizado
5. Método verbalista, cunho intelectual visa a participação ativa do aluno, sua integração,
Fonte: Vilarinho.29
32 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
co-alvo, à classe social, à época, etc. podem exigir alterações das tivos e seleciona se certos conteúdos e atividades (métodos),
propostas de ensino. É importante frisar que o elemento essen- que são aplicados na situação docente; os alunos não são
cial ao estabelecimento do processo de ensino aponta para o todos iguais, são, antes de tudo, pessoas diversas e singulares;
educando. O desenvolvimento de estratégias aplicáveis e des- por conseguinte, reagirão de forma diferente a nós como pro-
tinadas ao processo de aprendizagem na odontologia é funda- fessores, a nossos objetivos, a nossos conteúdos, a nossas
mental, devido a fatores particulares da estruturação curricular, formas de relacionamento e aos métodos de ensino e de ava-
inerentes ao curso e aos gestores. A obediência à aplicação das liação. As reações diferentes os levarão a aprender de modo
etapas do processo de aprendizagem deve ser seguida a partir diferente (ou a não aprender). Ao exame do problema das dife-
do planejamento do curso, da disciplina e da estrutura de aula. renças pessoais entre os alunos e os professores, à luz da teoria
e das pesquisas, uma ideia parece ter ficado bem clara: não
há um método bom para todos. Como a dinâmica interna de
O educador e o educando cada aluno é diferente da dos demais, uns encontram desafio
e satisfação, outros acham aborrecimento e frustração. Por sua
Os valores conceituais que caracterizam a educação, o educador
vez, cada professor é um ser humano com crenças e emoções
e o educando são abrangentes e relacionam-se dentro de um
diversas.”.24
contexto individual e social. A prática educacional, que objetiva
professar um determinado conhecimento, no intuito de orientar Para alcançar boas qualidades como educador, torna-se ne-
a formação do estudante, não deveria recair simplesmente cessário não apenas o domínio técnico e didático, mas uma
na transferência de conhecimento. Uma função primordial é perfeita interação entre ambos domínios e os valores morais
seu direcionamento à evolução e produção de um novo saber e culturais. O educador ocupa papel de destaque no processo
(aprendizado), estimulado pela criatividade, análise e reflexão educacional, constituindo o grande intérprete do ensino para
crítica. A investigação e análise da prática pedagógica muitas o educando, com o objetivo essencial de facilitar esse pro-
vezes estimula o educador a descobrir suas reais funções.17 cesso. A tradução específica de conhecimento ao educando
requer uma ação dinâmica do educador, impondo a necessi-
Neste sentido, o educador acaba aprendendo a arte de ensinar,
dade de questionamentos, análise crítica e reflexão científica.
dentro de uma contínua necessidade de mudanças, construção
Esses requisitos diminuem o risco de o educador se trans-
de um novo conhecimento, apoiado por pesquisas e questio-
formar em especialista de transferência de conhecimento.
namentos. Assim, o processo de formação do educador, como
O educador, como um dos elementos constituintes do pro-
parte de sua produção geral de conhecimento, deve ocorrer em
cesso educacional, se interpõe entre a instituição de ensino
sala de aula durante a efetivação do processo de aprendizagem
e a expectativa do educando. O ensino e a pesquisa devem
do educando. O ato, por parte do educador, de estimular o edu-
caminhar juntos, o que leva o educador e o educando a buscar
cando a refletir criticamente implica em reflexos positivos nas
e descobrir conjuntamente o conhecimento. É oportuno lem-
atitudes desenvolvidas e é tão importante quanto o conheci-
brar que diferentes enfoques podem direcionar a discussão
mento específico, pois, além de habilitar, institui uma conduta
ao educador, podendo ser analisado isoladamente como pro-
fundamental, que é ensinar e aprender a pensar.40
fessor, pesquisador, administrador, membro de uma classe
Do mesmo modo, cabe ao educador a criatividade de pro- social, homem.
mover condições que estimulem, insultem e ensinem a pensar.
Nas qualidades do bom professor estudadas por Cunha30 estão
A prática do ensino impõe ao educador a necessidade de apre-
caracterizadas dificuldades intimamente relacionadas a ques-
sentar alguns quesitos, entre os quais: conhecimentos espe-
tões mais amplas da educação: desvalorização do magistério,
cializados na área a ser ministrada (formação científica, capa-
estrutura de ensino e condições de trabalho. Ao investigar o
cidade de desenvolvimento e orientação de pesquisas e
campo educacional, procurou-se desvendar a prática e a meto-
habilidade clínica); conhecimento didático e pedagógico; reco-
dologia de um bom professor. A observação de aulas favoreceu
nhecimento da necessidade de contínuo aperfeiçoamento;
o conhecimento e a análise do bom professor. Toda prática
formação cultural diferenciada; relacionamento profissional
pedagógica tem sentido a partir dos incentivos aos alunos. Um
equilibrado (com professores, com alunos, com funcioná-
deles relaciona a motivação do aluno ao professor e ressalta
rios, com pacientes); formação ética; responsabilidade; entu-
o quanto torna-se influente o comportamento docente. A for-
siasmo, dom para aprender e ensinar, ouvir, estimular, orientar
mação do educador representa um processo que pertence às
(doação); respeito para com professores e educandos; e equi-
condições históricas em que ele mesmo vive. Entre as habili-
líbrio emocional.7,17
dades de ensino, pode-se reunir cinco grupos: organização do
O problema do professor e do aluno como pessoas, segundo contexto da aula, incentivo à participação do aluno, trato da
Bordenave e Pereira,24 envolve questões básicas, como: matéria de ensino, variação de estímulo e uso da linguagem.31
“quando se ensina, deseja-se que o aluno aprenda e cresça O Quadro 3.5 enumera aspectos relevantes nas habilidades de
como pessoa humana. Para ensinar, definem-se certos obje- ensino do bom professor.31
3 // O processo educativo 33
Quadro 3.5
• Estimula a divergência e a criatividade
Habilidades de ensino do bom professor
• Preocupa-se em instalar a dúvida
• Formula perguntas
A real ação do professor foi discutida por Vilarinho30 a partir
• Valoriza diálogos da consecução de seus objetivos de ensino: “1. Ser antes de
tudo um educador; 2. Reconhecer que o processo educativo
• Provoca o aluno para realizar as próprias perguntas está inserido num contexto global, em que múltiplas variáveis
interferem; 3. Analisar o processo educativo através de pers-
• Transfere indagações de um aluno para pectiva crítica; 4. Ser uma pessoa que ame e acredite naquilo
outro ou para toda classe
que faz, o que determina automotivação em relação à sua pro-
• Usa palavras de reforço positivo
fissão; 5. Realizar estudos permanentes e contínua reciclagem
em relação aos problemas educacionais, mais especificamente
• Aproveita as respostas dos alunos para dar continuidade à aula aqueles relacionados à sua área de atuação; 6. Acreditar no
potencial de seus alunos, estimulando-lhes o autoconceito
• Ouve as experiências cotidianas dos alunos positivo, condição básica para o desenvolvimento de qualquer
aprendizagem; 7. Assumir que, no processo educativo, o mais
Habilidade de tratar a matéria de ensino importante é dar ao aluno o instrumental para que proceda de
modo autônomo, com independência de pensamento e ação,
• Esforça-se para tornar a matéria de ensino acadêmica acessível o que depende basicamente de ensinar-se ao educando o
‘aprender a aprender’; 8. Usar sua criatividade para desenvolver
• Clareia conceitos a atividade docente; 9. Possuir abertura pessoal, comporta-
mentos sem radicalismos ou extremismos, que lhe permitam
• Faz analogias sempre uma análise do contexto educacional sob óptica da jus-
tiça e da imparcialidade.”.
• Estabelece relação de causa e efeito
Diferentes medidas para se conseguir um melhoramento sen-
• Vincula teoria e prática sível do ensino superior foram determinadas por Bordenave
e Pereira,24 entre as quais: “1. Ter uma visão integral dos pro-
• Usa exemplos blemas que afetam o ensino; 2. Compreender o processo de
aprendizagem; 3. Conhecer melhor o aluno como pessoa
• Utiliza resultados de pesquisa e membro de uma comunidade; 4. Planejar os cursos de
forma sistêmica e integrada; 5. Ensinar os alunos a estudar e
Habilidade de variação de estímulos aprender; 6. Saber como introduzir inovações; 7. Incentivar a
participação ativa dos alunos; 8. Melhorar a comunicação pro-
• Usa adequadamente recursos audiovisuais fessor-aluno; 9. Desenvolver nos alunos a atitude e a habi-
lidade da pesquisa; 10. Racionalizar a avaliação; 11. Criar uni-
• Movimenta no espaço de ensino
dades de apoio pedagógico.”.
34 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
De todos os fatores expostos, observa-se que o educando repre- gias da comunicação e informação na sala de aula (televisão,
senta um elemento fundamental para se desenvolver o processo vídeo, games, computador, internet, CD-ROM, etc.); 7. Atender
educativo. Uma das finalidades da universidade é sua formação, à diversidade cultural e respeitar as diferenças no contexto da
com vistas ao benefício da sociedade. A busca do aprendizado, escola e da sala de aula; 8. Investir na atualização científica, téc-
elaborando questionamentos, análise crítica, aplicando os conhe- nica e cultural, como ingredientes do processo de formação
cimentos adquiridos, torna o educando um membro essencial da continuada; 9. Integrar no exercício da docência a dimensão
sociedade. afetiva; 10. Desenvolver comportamento ético e saber orientar
os alunos em valores e atitudes em relação à vida, ao ambiente,
A expectativa é que o processo provoque mudanças fundamen-
tais no educador e no educando. O novo paradigma substitui o às relações humanas, a si próprios.”.34
conceito de aluno (aquele que é ensinado) pelo de estudante O homem, a ciência e a educação estarão sempre em contínua
(que participa ativamente do processo, que assume e dirige a evolução e sujeitos a mudanças constantes. A busca incessante
própria transformação). A ideia de que o professor apresenta sempre fará parte do projeto da vida humana, mesmo sabendo
absoluto domínio do saber e o estudante apenas a necessi- que o fim está no infinito.
dade de absorver conhecimentos previamente estabelecidos,
deve ser repensada. Na educação ativa ou nova, é o estudante Spector35 reporta que Karl Popper, filósofo nascido em 1902,
quem trabalha, faz as pesquisas, as visitas, é ele quem dá uma influenciou profundamente nossa maneira de compreender o
lição. O professor se transforma em perito, em conselheiro. Ele processo científico: “A ciência não é um sistema que caminha
orienta mais do que ensina, dá exemplos por meio de seu pró- continuamente em direção a uma verdade final. Nossa ciência
prio comportamento, mostra que têm profundamente inte- não é conhecimento; não pode jamais alegar ter alcançado a
grados nele mesmo os princípios que recomenda.2,16,24 verdade, ou até mesmo um substituto dela, a probabilidade.
Nós não sabemos: só podemos conjeturar. E nossas conjec-
Nérici30 salienta que o estudante tem o dever de aprender, ela- turas são determinadas por pressupostos e regularidades
borar, assimilar e aplicar a ciência em benefício do maior número que fazem parte do nosso saber contemporâneo. Entretanto,
de pessoas. O estudante contemporâneo está se diferenciando
estas nossas antecipações ou conjecturas, corajosas e maravi-
daquele de outras épocas, principalmente, pelo seu interesse por
lhosamente inventivas, são cuidadosamente controladas por
questões sociais e científicas e vontade de atuar na sociedade.
testes sistemáticos. Uma vez proposta, nenhuma de nossas
A participação ativa do educando nesse processo de aprendi- antecipações é mantida por dogmatismo. Nosso método de
zagem é essencial para que se desenvolva de forma completa. pesquisa não é defendê-las, de modo a provar que estamos
Assim, o desenvolvimento do processo educacional será maior certos. Ao contrário, tentamos derrubá-las. Utilizando todas
quanto maior for a busca e vontade de aprender do educando.17 as armas de nosso arsenal lógico, matemático e técnico, ten-
tamos provar que nossas antecipações são falsas. E é preciso
O professor na era digital deixou de ter o papel de provedor de
correr o risco para obter o prêmio. Aqueles que não desejam
conteúdo, mas exerce o de catalizador de reflexões e conexões
expor suas ideias à possibilidade de refutação não participam
para os alunos.33 Gabriel33 acrescenta ainda que a conexão por
do jogo científico. O velho ideal da epistéme – da certeza
meio da internet e rede sociais alterou o processo de aquisição
absoluta, demonstrável – provou ser um mito. A demanda
de conteúdo, mas também catalisou processos de aprendi-
por objetividade científica requer que cada afirmativa científica
zado fora da sala de aula. Dessa forma, a educação baseada na
deva permanecer provisória para sempre. Somente em nossas
memorização de conteúdos deve ceder lugar à educação pela
experiências subjetivas de convicção, em nossa fé subjetiva,
criatividade para a solução de problemas.
podemos estar absolutamente certos.”.
Dentro das novas exigências educacionais e a profissão
docente, Libâneo34 destaca e discute alguns aspectos valiosos,
que sinalizam as novas atitudes docentes dentro de um mundo Considerações finais
contemporâneo: “1. Assumir o ensino como mediação: apren-
dizagem ativa do aluno com ajuda pedagógica do professor; O sucesso de um perfeito modelo educacional está na depen-
2. Modificar a ideia de uma escola e de uma prática pluridis- dência da adequada relação entre a instituição, o educador e o
ciplinares para uma escola e uma prática interdisciplinares; 3. educando, com o planejamento e a evolução permanente do
Conhecer estratégias do ensinar a pensar, ensinar a aprender a projeto pedagógico. A aplicação educacional compreende o
aprender; 4. Persistir no empenho de auxiliar os alunos a bus- desenvolvimento do programa proposto, englobando os obje-
carem uma perspectiva crítica dos conteúdos, a se habituarem tivos educacionais, o conteúdo programático, as atividades de
a aprender as realidades enfocadas nos conteúdos escolares ensino e aprendizagem e o controle educacional. A partir do
de forma crítico-reflexiva; 5. Assumir o trabalho de sala de aula entendimento de como se conquistar a aprendizagem, o nivela-
como um processo comunicacional e desenvolver capacidade mento apropriado dos educadores permite a obtenção mais efi-
comunicativa; 6. Reconhecer o impacto das novas tecnolo- ciente dos objetivos pré-estabelecidos no processo.
3 // O processo educativo 35
Em uma importante discussão sobre a universidade e a odonto- 11. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educa-
tiva. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra; 1996.
logia, Fava de Moares7 considera que uma instituição de ensino,
para ter sucesso, adquirir e consolidar credibilidade, deve apre- 12. Incontri D. Pestalozzi: educação e ética. São Paulo: Scipione; 1996.
sentar algumas características: “identidade institucional (a 13. Marz E. Grandes educadores. São Paulo: EPU; 1987.
missão de avançar o conhecimento, fazer pesquisa; qualidade 14. Piaget J. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Zahar; 1972.
do ensino (geração e domínio do conhecimento e não apenas
15. Piletti N, Piletti C. História da educação. 5. ed. São Paulo: Ática; 1996.
sua transmissão); preservar o conhecimento, ter boa biblio-
teca (acervo bibliográfico, acesso informatizado a bancos de 16. Rogers C. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros; 1972.
dados); usar o conhecimento (gerar, divulgar, preservar e usar 17. Paula MHC. Didática I. Belo Horizonte: PUCMG; 1996. 1 Apostila.
o conhecimento produzido); boa qualidade dos docentes, dis- 18. Descartes R. Discurso do método. São Paulo: Martin Clanet; 2003.
centes e ambiência. O autor reporta ainda que o poder e a força
19. Skinner BE. Tecnologia do ensino. São Paulo: Herder; 1972.
de uma país estão associados a três aspectos: o primeiro seria
20. Bruno G, Galilei G, Campanella T. Sobre o infinito, o universo e os
o poder intelectual, a capacidade e competência das pessoas, mundos: o ensinador, a cidade do sol. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural;
o capital humano; o segundo, o capital financeiro, a disponibili- 1983.
dade monetária do país; o terceiro, os recursos naturais, quanto 21. Cordeiro D. Ciência, pesquisa e trabalho científico. 2. ed. Goiania: UCG;
a sua diversidade e riqueza.”. 1999.
Assim, o maior patrimônio de uma nação, chamado educação, 22. Haydt RCC. Curso de didática geral. 5. ed. São Paulo: Ática; 1998.
deve contemplar a todos os seus habitantes.40 O procedimento de 23. Monroe P. História da educação. 6. ed. São Paulo: Nacional; 1983.
autonomia, envolvido na aprendizagem de todos os indivíduos, 24. Bordenave JD, Pereira AM. Estratégias de ensino-aprendizagem. 11. ed.
muito discutido por Freire,11 representa um fator de referência. Petrópolis: Vozes; 1989.
Todos os aspectos voltados à construção do conhecimento, 25. Not L. Ensinando a aprender: elementos de psicodidática geral. São
e não particularmente a sua transmissão, fortalecem a sedi- Paulo: Summus; 1993.
mentação do saber. A aprendizagem deve fazer parte do coti- 26. Freire P, Shor I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 8. ed. São
diano de todas as pessoas, sem distinção. O raciocínio lógico, Paulo: Paz e Terra; 1987.
a reflexão sábia e a apropriada interpretação do conhecimento 27. Perrenoud P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre:
se transformam em rotina quando a forma de pensar se estabe- Artmed; 1999.
lece corretamente. 28. Dewey J. Como pensamos. São Paulo: Nacional; 1959.
29. Weil P. A criança, o lar e a escola. 11. ed. Petrópolis: Vozes; 1984.
Referências 30. Vilarinho LRG. Didática: temas selecionados. Rio de Janeiro: Livros Téc-
nicos e Científicos; 1984.
1. Hadji C. Pensar e agir a educação: da inteligência do desenvolvimento ao 31. Cunha MI. O bom professor. 3. ed. Campinas: Papirus; 1994.
desenvolvimento da inteligência. Porto Alegre: Artmed; 2001.
32. Nérici IM. Didática do ensino superior. São Paulo: IBRASA; 1993.
2. Rosenthal R, Jacobson L. Pygmalion à lécole. Paris: Casterman; 1971.
33. Gabriel M. Educar:a revolução digital na educação. São Paulo: Saraiva;
3. Perrenoud P. 10 competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed; 2000. 2013.
4. Demo P. Educar pela pesquisa. 3. ed. Campinas: MG Autores Asso- 34. Libâneo JC. Adeus professor, adeus professora? 13. ed. São Paulo: Cortez;
ciados; 1998. 2011.
5. Silva EG, Tunes E. Abolindo mocinhos e bandidos: o professor, o ensinar 35. Spector N. Manual para a redação de teses, dissertações e projetos de
e o aprender. Brasília: UnB; 1998. pesquisa. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997.
6. Demo P. Universidade, aprendizagem e avaliação. Porto Alegre: 36. Brandão CR. O que é método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense; 1981.
Mediação; 2004.
37. Franco A. Metodologia de ensino: didática. Belo Horizonte: Lê; 1997.
7. Fava de Moraes F. A missão da universidade e a odontologia. In: Estrela
C. Metodologia científica. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas; 2005. p.1-9. 38. Santana EM, Enricone D, Grillo M, Medeiros ME. Dimensões básicas do
ensino. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; 1979.
8. Novaski AJC. Sala de aula: uma aprendizagem do humano. In: Morais R.
Sala de aula: que espaço é esse? 10. ed. Campinas: Papirus; 1996. p. 11-5. 39. Weil P. A arte de viver em paz. 6. ed. São Paulo: Gente; 1993.
9. Libâneo JC. Didática. São Paulo: Cortez; 1994. 40. Amaral NC. Financiamento da educação superior. In: Estrela C. Metodo-
logia científica. São Paulo: Artes Médicas; 2001.
10. Aranha MLA. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna; 1997.
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
4
Planejamento no ensino superior
Carlos Estrela Um projeto competente deve ser a base sólida para o planeja-
Brunno S. de Freitas Silva mento das atividades educacionais, capaz de induzir alterações
afetivas, cognitivas e psicomotoras no educando, evidenciando,
Julio Almeida Silva
assim, o aprendizado. Dentro do apanhado de metas a se
definir, observam-se os objetivos a serem alcançados, a seleção
Introdução de conteúdos programáticos, as estratégias de ensino-aprendi-
zagem (os métodos e técnicas educacionais), os recursos didá-
O planejamento representa uma etapa essencial dentro do
ticos auxiliares, o processo de avaliação, a bibliografia básica e
processo de ensino, podendo favorecer o desenvolvimento
complementar complementar, e o cronograma a ser seguido.
das atividades docentes. A necessidade da organização
das atividades educacionais, da definição de objetivos, da Dentre as finalidades a serem alcançadas e valorizadas pelos
seleção de conteúdo, do domínio de estratégia educacional objetivos definidos no planejamento, verificam-se: visão geral
e do controle de qualidade reforça a importância da estrutu- e minuciosa do ensino; controle e eficiência; evitar improvisa-
ração apropriada do projeto de ensino. Toda ação humana é ções, rotina e perda de tempo; permitir organização e verifi-
planejada com a finalidade de racionalização e previsão dos cação gradual do desenvolvimento das atividades de ensino;
acontecimentos. possibilitar distribuição dos conteúdos, seleção adequada das
estratégias educativas e didáticas.3-6
O planejamento sistemático permite uma tomada de
consciência quanto às implicações de ordem pedagógico, A estruturação dos objetivos e sua apropriada distribuição favo-
financeiro, administrativo e político. O planejamento didá- rece o educador no desenvolvimento de sua prática docente e
tico representa a racionalização do trabalho docente, no que o educando em uma melhor lógica de recepção. A formulação
diz respeito à aprendizagem. Planejar resulta de uma reflexão do projeto de ensino fortalece a definição e priorização dos
sobre o mundo, sobre a relação homem-mundo e sobre a prá- objetivos, o que melhora os métodos e as técnicas de ensino
tica pedagógica necessária a determinado momento. É impor- e aprendizagem. Por conseguinte, a definição do método e téc-
tante prever as atividades que envolvem uma aula, revisar, de nica de trabalho, tanto para o ensino quanto para a pesquisa,
maneira pensada e crítica, visando a construção do saber e a reflete na obtenção dos objetivos propostos. O Quadro 4.1
transformação do conhecido, inventando e reinventando solu- agrupa fatores relevantes ao estabelecimento do adequado
ções para a problemática constante do viver.1 planejamento. Como parte do planejamento, constam o plano
de ensino, o plano de disciplina e o plano de aula.
Durante o planejamento das ações que podem ser desenca-
deadas em sala de aula, as atividades se revestem de novas
e produtivas formas de tratar o conteúdo a ser descoberto. Plano de ensino
São invocações educativas derivadas de pensamentos refle-
xivos e originais, em que cada educador organiza o seu pro- O plano de ensino compreende a previsão das atividades
cesso de aprendizagem conforme as particularidades e nível docentes a serem desenvolvidas durante o período corres-
dos educandos. O educador, durante o exercício profissional, pondente às atividades propostas a determinado conteúdo
exterioriza sua visão de mundo, seus valores, o conhecimento (semestre, ano). Deve ser estruturado com base em um roteiro
das pessoas com quem convive, o domínio da tarefa que lhe flexível, capaz de ser revisto periodicamente, e deve estar ade-
compete.1,2 quado às necessidades de cada turma.
O planejamento de ensino é a previsão inteligente e bem calcu- Os pontos importantes à estruturação do plano de ensino (curso),
lada de todas as etapas do trabalho educacional que envolvem de acordo com Nérici,6 abrangem tempo disponível, objetivos,
atividades docentes e discentes, de modo a tornar o ensino programa, vivência, trabalhos discentes, condições do meio,
seguro, mais econômico e satisfatório.2 possibilidades da instituição, material didático, bibliografia e ati-
38 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
O plano de ensino é parte integrante do planejamento. Os obje- O Quadro 4.2 demonstra um esquema de um plano de ensino.
tivos programados, o roteiro de decisões e metas a alcançar,
não devem ser estabelecidos como mera necessidade institu-
cional, mas sim dentro de um projeto educacional que deve ser
Plano de disciplina
seguido, aplicável, dinâmico, definido e bem organizado.1-6
O plano de disciplina apresenta uma característica mais especí-
Abreu e Masseto3 esclareceram que o plano de ensino não é um fica dentro do planejamento no ensino superior, ou seja, cons-
esquema a ser seguido rigidamente, porém uma sugestão, um titui parte do plano de ensino, capaz de valorizar os objetivos
roteiro. É imprescindível a dedicação do educador nessa ativi- educacionais, os conteúdos programáticos e os métodos e téc-
dade de planejamento. Várias informações apresentadas nesse nicas de ensino. As unidades devem ser programadas de modo
momento proporcionam a verificação da qualidade do tra- adequado, coerente e uniforme, a fim de facilitar o processo de
balho, seu aperfeiçoamento e sua renovação, além de permitir aprendizagem, bem como para o correto manejo de sua inte-
uma comunicação objetiva com os educandos e com a comuni- gração e/ou inter-relação. Observa-se assim, que o plano de
dade científica. disciplina se assemelha ao plano de ensino, porém, mais minu-
cioso, específico e objetivo.
De acordo com Bordenave e Pereira,8 desde que o professor
saiba o tipo de conhecimento que o aluno deve assimilar, e as As etapas do plano de ensino e de aula acompanham as
prováveis situações que deve experimentar, é notável que se etapas das leis da aprendizagem, compostas pela predispo-
preocupe por achar a melhor maneira de fornecer oportunidades sição, reforço e exercício, uma vez que “o homem só aprende o
para que esse aluno viva tais experiências, o que se enquadra que lhe interessa e dá satisfação”. Para haver aprendizagem, é
dentro dos procedimentos para o planejamento da disciplina. necessário haver ação e repetição.1,9
4 // Planejamento no ensino superior 39
Desenvolvimento • Professores
Avaliação
• Avaliar o nível de desempenho alcançado aprendizagem a esses três domínios (cognitivo, afetivo e psi-
pelos alunos frente aos objetivos comotor). O Quadro 4.6 registra os componentes de cada um
desses domínios.1
• Indicar como avaliará o alcance dos objetivos
Abreu Masetto3 relataram que é fundamental e necessário ao pro-
Fonte: Paula.1
cesso educativo, que o educando adquira determinados conheci-
mentos (informações, fatos, conceitos, princípios, teorias, aná-
ragem ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendi-
lises, estudos, interpretações, hipóteses, pesquisas, etc.). Dessa
zagem. Os objetivos específicos são estruturados por verbos
forma, o domínio de conhecimentos relaciona-se aos objetivos
mensuráveis (fazer, escrever, identificar, executar, selecionar).
específicos que o educando deve aprender. O domínio de atitudes
Ao considerar diferentes as classificações e modelos de ela- enfatiza as mudanças e comportamentos, posicionamentos, res-
boração dos objetivos, Bloom10 relacionou os produtos da postas e apreciações ao conteúdo dos domínios de conhecimento
4 // Planejamento no ensino superior 41
Quadro 4.6
Conhecimento Definir, repetir, apontar, escrever, registrar, marcar, recordar, nomear, enunciar, etc.
Compreensão Traduzir, reafirmar, discutir, descrever, explicar, identificar, narrar, traçar, etc.
Aplicação Interpretar, aplicar, usar, demonstrar, praticar, ilustrar, esboçar, traçar, etc.
Síntese Compor, planejar, propor, coordenar, reunir, construir, criar, organizar, etc.
Avaliação Julgar, avaliar, taxar, validar, escolher, valorizar, estimar, medir, etc.
Percepção Primeiro passo para a ação motora (conhecimento de objetos, qualidade, relações por meio do sentido)
Resposta complexa evidente Desempenho de um ato motor complexo, em razão do padrão de movimentos adquiridos
Fonte: Paula.1
42 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
lógica e racionalização de aprendizagem; bem como utilização volvimento dessas atividades educacionais, diferentes são as
e funcionamento. A organização dos temas deve obedecer uma estratégias que podem ser utilizadas.
disposição lógica ante determinada orientação, favorecendo
a ordenação, a importância, o ganho de tempo e o esforço na
aprendizagem, caminhando, preferencialmente, do mais sim- Processo de avaliação
ples ao mais complexo, do concreto ao abstrato.1,11,21,33,34
A avaliação constitui-se de um processo contínuo e diário. Fre-
quentemente estamos avaliando, medindo, comparando, apre-
Métodos educacionais e ciando, julgando. Essa atividade é inerente ao ser humano, uma
recursos utilizados vez que somos incapazes de olhar alguma coisa sem avaliá-la
de acordo com nossos padrões, experiências, valores, emo-
As experiências vividas por estudantes em diferentes períodos ções, momentos.1 O resultado da medida é um número frio
da história da educação, ao lidar com os meios de avaliação do e desapaixonado. Porém, quando avaliamos, esse ato deve
aprendizado, evidenciam momentos de verdadeiro “terror”, representar uma tomada de decisão e de posição. Repre-
como de indiferença. Quando se fala a qualquer estudante da senta uma atividade ampla, ligada a uma hierarquia de valores
experiência de uma avaliação (prova), uma rejeição visível e de cada avaliador, e depende dos objetivos que se pretende
imediata se desenvolve. A avaliação ainda é considerada por alcançar. Em educação, temos que decidir a respeito dos fins e
muitos como meio exclusivo de seleção. Isso ainda existe por dos meios para melhor promover o processo de aprendizagem.
motivo de uma ação persistente de alguns educadores, que O perfeito aproveitamento do ensino pelos educandos pode
mantém e empregam as avaliações como meio de controle da ser verificado nesse momento, quando se fazem as verificações
classe, e dentro de um enfoque meramente seletivo.1 do planejamento e da aplicação educacional.1
A mudança na forma de pensar e agir dos educandos é razão A avaliação inicia-se com o estabelecimento de propósitos.
direta dos conceitos que prevalecem do processo de avaliação É importante a descrição minuciosa do que se quer analisar, o
no ensino superior (a supervalorização da nota, do conceito, que faz com que a avaliação constitua um instrumento de “pres-
da aprovação no final do ano). O abuso e excesso do número tação de contas”, envolvendo a utilização de metodologia, ins-
de aulas expositivas, em que se privilegia a passividade dos trumentos e técnicas de pesquisa, além de constituir uma res-
alunos, dificulta a estruturação e construção do conhecimento. ponsabilidade conjunta dos elementos envolvidos no processo
técnico-administrativo e pedagógico.1
A avaliação deve sempre buscar a aprendizagem, a construção
do conhecimento e sua sedimentação. Para tanto, seu enten- Por conseguinte, a avaliação determina a extensão em que as
dimento por parte da instituição de ensino e dos educadores mudanças de comportamento ocorreram, comparando-as com
deve sempre estar em processo de renovação e aperfeiçoa- padrões de desempenho apresentados nos objetivos. Essa
mento. O planejamento dos métodos educacionais repre- ação determina até que ponto os objetivos da aprendizagem
senta elemento essencial na prática docente. foram ou estão sendo alcançados, denotando aprimoramento
nas estratégias de aprendizagem e fornecendo subsídios para o
Os procedimentos de ensino facilitam a mobilização do edu-
planejamento e replanejamento das atividades de ensino.1
cando, organizando o pensamento, com possibilidade de par-
ticipar de maneira ativa das experiências educativas, obser- Assim, o processo de avaliação compreende uma ação abran-
vando, lendo, escrevendo, experimentando, investigando, gente, em que a estruturação do aprendizado deve ser testada
solucionando problemas, comparando, classificando, orde- com vistas ao contínuo aprimoramento e mudanças.1-32 A ava-
nando e sintetizando ideias.5 liação não deve estar vinculada ao ato de fazer prova, e visar
apenas obter uma nota. A avaliação torna-se um momento de
Para a seleção das estratégias de aprendizagem, alguns cri-
consolidar uma lógica de raciocínio e aprendizagem.
térios devem ser considerados, como: análise dos objetivos
educacionais previamente determinados; o conteúdo progra- A avaliação deve auxiliar o educando a progredir na apren-
mático adotado; o nível dos educandos; o tempo disponível dizagem e o educador a aperfeiçoar sua prática pedagógica.
para o conteúdo; o domínio de métodos e técnicas pelo edu- Dessa forma, pode-se considerar a “avaliação como sendo um
cador. Os métodos educacionais normalmente são selecio- processo contínuo e sistemático; funcional, porque se realiza
nados de acordo com o assunto a ser ensinado. O educador em função dos objetivos propostos; orientadora, porque indica
desenvolve suas estratégias com atividades teóricas e/ou os avanços e dificuldades do educando, auxiliando-o a pro-
práticas. Essas atividades podem envolver aula expositiva, gredir na aprendizagem, e no alcance dos objetivos requeridos;
estudo dirigido, investigação científica, seminário, estudo em integral, pois considera o educando como um ser total e inte-
grupos, aula prática, aula demonstrativa, etc. Para o desen- grado e não de forma compartimentada”.5
4 // Planejamento no ensino superior 43
O processo de avaliação deve apresentar como propósitos: o aos conhecimentos, habilidades, permitindo a continuidade ou
conhecimento dos educandos; a identificação das dificuldades o redimensionamento do processo de ensino. Estabelece uma
de aprendizagem; a determinação de que se os objetivos pro- função de controle e possibilita ao educador o planejamento de
postos para o processo ensino aprendizagem foram ou não atividades corretivas, de enriquecimento, de complementação,
atingidos; o aperfeiçoamento do processo de ensino aprendi- evolução e aperfeiçoamento dos objetivos estabelecidos. Os ins-
zagem; a promoção dos educandos para um grau superior.4 trumentos mais empregados são questões, exercícios, plano de
observação, fichas de autoavaliação e outros.10 A avaliação soma-
A interpretação quantitativa e/ou qualitativa para se determinar
tiva ocorre com frequência e é usada ao final do curso, da unidade,
critérios orientadores do processo de aprendizagem é muito
do semestre ou período letivo. Objetiva classificar os educandos
importante. A qualidade e a eficiência do ensino é interpretada
de acordo com os desempenhos apresentados. Os instrumentos
pelo resultado do processo de avaliação. Isso posto, pode-se
mais utilizados são provas, questões dissertativas, orais, etc.12
admitir que a avaliação fornece informações valiosas quanto
ao domínio da aprendizagem, aos métodos educacionais, ao A avaliação de diagnóstico caracteriza o processo de entrada
desempenho do educador na utilização e adequação do plano visando o diagnóstico; a formativa avalia o processo apresen-
de aula, características do conteúdo programático. O processo tado com a função de controle; e a somativa avalia o produto
de avaliação envolve não apenas o educando, mas também o dentro de um contexto classificatório.12
educador. O diagnóstico inicial, verificando os domínios cog-
O Quadro 4.9 exemplifica a elaboração de um plano de aula.
nitivos, afetivos e psicomotores nos educandos, a análise da
efetividade do processo educacional empregado, bem como
a mudança de nível dos educandos, caracterizam as principais Matriz curricular
funções do processo de avaliação.1,10,14
A função formadora da universidade perpassa pela estruturação
Diferentes recursos têm sido aplicados para esse fim, como de um currículo que sirva minimamente como percurso para
provas escrita (objetiva, dissertativa, de consulta), oral e se chegar ao perfil profissional almejado. Tal perfil é orientado
prática. O processo deve englobar, da parte do educando, por diretrizes nacionais curriculares (DCNs) dos cursos de gra-
o conhecimento adquirido, as atitudes e habilidades; da duação, que permitem uma flexibilização maior na organização
parte do educador, as atividades do ensino (planejamento e
dos cursos e da estruturação dos seus currículos, inclusive na
desenvolvimento da disciplina) e de pesquisa (publicações,
escolha do perfil profissional a ser formado. As DCNs são orien-
aperfeiçoamento contínuo).
tações estruturadas pelo Conselho Nacional de Educação para
A avaliação constitui o momento de reflexão e análise do os diferentes cursos de graduação, que garantem às instituições
desenvolvimento educacional do educando, do educador e da de ensino superior (IESs) liberdade na composição do conteúdo
instituição de ensino, o que impõe uma tomada de decisão ao programático e tempo de integralização a serem cumpridos no
final do processo. Em um enfoque didático moderno, obser- currículo proposto. Vale ressaltar que as DCNs de forma geral,
va-se a necessidade da avaliação sistêmica (contínua, cumu- nas diferentes áreas e cursos, permitem uma formação de pro-
lativa, descritiva, compreensiva), que tem por finalidade favo-
recer a melhoria na qualidade.11 O Quadro 4.7 descreve as Quadro 4.7
funções básicas da avaliação, as quais fornecem informações
Funções básicas da avaliação
com vistas à tomada de decisões, intimamente vinculadas ao
processo de aprendizagem.11 • Informar sobre o domínio da aprendizagem
Para que essa proposta educacional logre êxito, se faz neces- Componentes curriculares
sário que o professor e o colegiado de professores do curso
Na matriz curricular são apresentadas informações sobre as
atendam os planejamentos institucionais, curriculares e do
disciplinas, os períodos em que estas ocorrem no curso, sua
ensino. O planejamento institucional, previsto no plano de
carga horária (teórica e prática), número de créditos, número de
desenvolvimento institucional (PDI), representa a identificação
semestres para integralização curricular e carga horária total do
da instituição de ensino superior, destacando sua missão, orga-
curso. Tais elementos são indispensáveis para regulamentação
nização, filosofia e estratégias de autoavaliação e crescimento.
e administração do curso de graduação, além de demonstrar
O PPC está subordinado ao PDI, representando o planejamento
claramente o caminho a ser percorrido pelo estudante durante
curricular do curso de graduação. Apesar de não se restringir
a sua formação.
a um único modelo estrutural, é reconhecido que o currículo
do curso, ou matriz curricular, reconhecidamente o cerne do
PPC, determina e ordena o que deve ser aprendido, bem como Créditos
define a ordem de cada componente curricular, estruturando Os créditos na matriz curricular representam uma unidade de
esses componentes em disciplinas, créditos, carga horária, medida que apresenta correspondências com um número
assuntos, anos ou semestres. Ressalta-se, então, a subordi- específico de horas/aula letivas do curso. Os créditos visam
nação dos planos de disciplina e de aula ao PPC. auxiliar de maneira sintética, no cálculo do cumprimento das
4 // Planejamento no ensino superior 45
Quadro 4.9
Plano de aula
Patologia Pulpar
Plano de Aula
Goiânia, 2017
(Continua)
46 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
PLANO DE AULA
Universidade Federal de Goiás
Disciplina: Endodontia
Unidade: Patologia Pulpar
Duração: 4 horas
Público-alvo: Alunos do 3o ano do curso de graduação da Faculdade de Odontologia da UFG
Professor: Carlos Estrela
OBJETIVOS GERAIS
• Despertar a consciência crítica ante a importância e necessidade de se realizar o tratamento conservador da polpa dental inflamada.
• Desenvolver um comportamento de autoavaliação no final do estabelecimento do diagnóstico e tratamento da polpa dental inflamada.
1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Identificar os aspectos teóricos básicos e científicos, em relação aos aspectos referentes a biologia pulpar, etiologia da doença pulpar,
recursos auxiliares no diagnóstico, classificação clínica das alterações pulpares, opções de tratamento da inflamação pulpar.
• Demonstrar clinicamente o reconhecimento de uma polpa dental normal e inflamada.
• Reconhecer as respostas ante o teste de estimulação pulpar (a frio e com calor), em tecido
normal e inflamado, permitindo uma interpretação correta dessas respostas.
• Descrever a correta aplicação de uma técnica de tratamento conservador da polpa dental inflamada.
• Utilizar com segurança os recursos semiotécnicos aplicados à endodontia (testes de vitalidade pulpar).
• Executar de forma perfeita a técnica do tratamento de uma polpa dental alterada.
2. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Biologia pulpar
• Histofisiologia e histopatologia do complexo dentino pulpar
• Componentes estruturais da polpa dentária
• Funções reconhecidas da polpa dentária
• Inervação e vascularização
Reação do complexo dentino pulpar ante agentes agressores
• Principais fatores etiológicos das patologias pulpares (microbianos, físicos, mecânicos, térmicos, químicos)
Método de diagnóstico clínico
Agentes estimulantes
• Oximetria de pulso
• Bastão de gelo
• Gás refrigerante
• Neve carbônica
• Guta-percha aquecida
• Teste elétrico
• Teste de cavidade
• Teste pela anestesia
Resposta pulpar ante a aplicação dos testes térmicos
• Polpa dentária normal
• Polpa dentária inflamada
Microcirculação e inflamação pulpar
• Principais eventos do processo inflamatório
Diagnóstico clínico da polpa dental
• Pulpalgia hiper-reativa
• Pulpite sintomática
• Pulpite assintomática
• Necrose pulpar
4 // Planejamento no ensino superior 47
ou seja, em que período esta ocorre durante o tempo previsto Clínica odontológica infantil II
para integralização do curso. O período pode ser definido de Ortodontia preventiva I
acordo com as normas de ingresso do curso, variando periodici- Ortodontia preventiva II
dade anual ou semestral. Odontogeritria
Periodontia I
Periodontia II
Quadro 4.10 Prótese I
Prótese II
Exemplo de distribuição das disciplinas nas
áreas temáticas de uma matriz curricular de Prótese III
um curso de graduação em odontologia Odontologia legal e deontologia
Clínica integrada I
Área 1 – Ciências básicas Clínica integrada II
Clínica integrada III
Anatomia humana I Clínica integrada IV
Anatomia humana II Clínica integrada V
Anatomia e escultura dental Internato odontológico I
Fisiologia Internato odontológico II
Biologia Estágio extra-muros I
Histologia e embriologia Estágio extra-muros II
Genética Disciplinas optativas I
Patologia geral Disciplinas optativas II
4 // Planejamento no ensino superior 49
Pré-requisitos
Área 3 – Aspectos sociais, humanos e científicos e a
prática odontológica São condições pré-estabelecidas na matriz curricular que
estipulam quais disciplinas apresentam relações de depen-
Saúde coletiva I dência de conteúdo, ou seja, quais conteúdos disciplinares dos
Saúde coletiva II períodos iniciais do curso são essenciais para o educando cursar
Saúde coletiva III determinadas disciplinas de períodos vindouros. Essas condi-
Administração odontológica I ções, denominadas pré-requisitos, são a expressão da auto-
Administração odontológica II nomia didático-pedagógica das IESs, o que inclui a prerrogativa
Língua portuguesa dessas instituições de organizar a sua matriz curricular con-
Informática forme for conveniente do ponto de vista pedagógico.
Inglês instrumental
Metodologia do trabalho científico I Apresentação da matriz curricular
Metodologia do trabalho científico II
O detalhamento das áreas temáticas e componentes curri-
Metodologia do trabalho científico III
culares da matriz podem ser expressos em um quadro, pri-
Trabalho de conclusão I
vilegiando a apresentação clara e objetiva de todos os ele-
Trabalho de conclusão II
mentos já discutidos até aqui. Um exemplo de matriz curricular
Trabalho de conclusão III
de um curso de graduação em odontologia pode ser visto no
Quadro 4.11.
Quadro 4.11
1 Fisiologia 60 30 30 3
1 Biologia 60 40 20 3
8 disciplinas
1º período
1 Histologia e embriologia 80 50 30 4
600 30
1 Genética 60 50 10 3
2 Materiais dentários 80 50 30 4
2 Pré-clínica I 80 50 30 4
3 Língua portuguesa 80 80 0 4
(Continua)
50 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
1 Anatomia humana II 80 50 30 4
1 Patologia geral 80 40 20 4
2 Oclusão 60 40 20 3
10 disciplinas
2 Pré-clínica II 80 60 20 4
2º período
700 34
2 Radiologia e imaginologia 80 40 40 4
odontológica I
2 Semiologia 60 40 20 3
2 Cariologia 60 40 20 3
2 Dentística operatória 80 40 40 4
3 Informática 40 20 20 2
2 Anestesiologia 60 40 20 3
2 Patologia bucal 80 60 20 4
2 Radiologia e imaginologia 80 60 20 4
odontológica II
2 Dentística restauradora I 80 40 40 4
10 disciplinas
3º período
2 Pré-clínica III 80 50 30 4
680 33
2 Periodontia I 60 30 30 3
3 Saúde coletiva I 60 40 20 3
2 Estomatologia I 80 50 30 4
3 Inglês instrumental 40 20 20 2
2 Estomatologia II 80 40 40 4
2 Dentística restauradora II 80 20 60 4
2 Periodontia I 80 40 40 4
9 disciplinas
4º período
2 Prótese I 80 40 40 660 4 32
2 Endodontia I 80 30 50 4
3 Saúde coletiva II 40 20 20 2
2 Emergências médicas 40 30 10 2
2 Endodontia II 80 30 50 540 4 28
2 Prótese II 80 40 40 4
2 Periodontia II 80 60 20 4
2 Odontopediatria I 80 40 40 4
6 disciplinas
6º período
2 Prótese III 80 30 50 4
3 Administração odontológica I 40 40 2
2 Odontologia hospitalar 80 40 40 4
2 Odontopediatria II 80 40 40 4
2 Ortodontia preventiva II 60 24 36 3
3 Administração odontológica II 40 40 0 2
3 Trabalho de conclusão I 20 20 0 1
2 Ortodontia preventiva II 60 30 30 3
3 Trabalho de conclusão II 20 10 10 1
(Continua)
52 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
2 Odontogeriatria 80 40 20 4
Áreas: 1 - Ciências básicas; 2 - Ciências odontológicas; 3 - Aspectos sociais, humanos e científicos e a prática odontológica.
7. Nervi R. La prática docente e sus fundamentos psicopedagógicos. 23. Masetto MT. Competência pedagógica do professor universitário. São
Buenos Aires: Kapelusz; 1969. Paulo: Summus; 2003.
8. Bordenave JD, Pereira AM. Estratégias de ensino-aprendizagem. 11. ed. 24. Medeiros EB. As provas objetivas: técnicas de construção. Rio de Janeiro:
Petrópolis: Vozes; 1989. FGV; 1971.
9. Demo P. Universidade, aprendizagem e avaliação. Porto Alegre: 25. Molina A, Ontoria A, Gómez JPR. Potencializar a capacidade de aprender
Mediação; 2004. e pensar. São Paulo: Madras; 2004.
10. Bloom B. Taxonomia de objetivos educacionais: domínios cognitivo e 26. Perrenoud P. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed;
afetivo. Porto Alegre: Globo; 1972. 2000.
11. Vilarinho LRG. Didática: temas selecionados. Rio de Janeiro: Livros Téc- 27. Perrenoud P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens:
nicos e Científicos; 1979. entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed; 1999.
12. Bloom BS, Hastings T, Madaus G. Manual de avaliação formativa e 28. Perrenoud P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre:
somativa do aprendizado escolar. São Paulo: Pioneira; 1971. Artmed; 1999.
13. Universidade Federal de Goiás. Patologia pulpar: plano de unidade. Goi- 29. Perrenoud P. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto
ânia: UFG; 2017. Alegre: Artmed; 2000.
14. Bagno M. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola; 30. Pimenta SG, Anastasiou LGC. Docência no ensino superior. São Paulo:
2001. Cortez; 2002.
15. Cunha MI. Docência na universidade. Campinas: Papirus; 1998. 31. Silva EG, Tunes E. Abolindo mocinhos e bandidos: o professor, o ensinar
e o aprender. Brasília: UnB; 1999.
16. Demo P. Complexidade e aprendizagem não linear do conhecimento.
São Paulo: Atlas; 1996. 32. Vianna HM. Testes em educação. São Paulo: IBRASA; 1973.
5
Sala de aula contemporânea
Ana Helena G. Alencar o docente do ensino superior se capacite para redefinir e redi-
Carlos Estrela mensionar o espaço da sala de aula,6 compreenda o que signi-
fica “o aprender a aprender” e esteja habilitado a estruturar uma
Daniel de Almeida Decurcio
educação permanente, flexível e versátil tanto para a formação
do estudante quanto para sua própria qualificação.1
Introdução
A sala de aula é o espaço concreto do ensino e da aprendi-
A maneira como se ensina e se aprende vive um momento cru- zagem, o local onde se podem mensurar progressos, inovações
cial. A concepção de educação e de aprendizagem ultrapassou e produção de conhecimento. A observação direta de uma sala
os limites da sala de aula, e as fontes de saber têm se multi- de aula de uma universidade mostra que, apesar das evidências
plicado e se diversificado.1 O mundo modificou-se, e a sala da incompatibilidade do modelo de ensino tradicional com as
de aula? Morais2 afirma que a sala de aula é um ambiente que necessidades do aprendizado atual, as modificações realizadas
contém muitas realidades e que pode ser pensada em termos nesse ambiente foram limitadas. Torres1 salienta que a justifi-
do que era, do que é e do que pode ser. cativa para essa realidade está na indiferenciação entre ensinar
e aprender, tendo como pressuposto que o que é ensinado se
A maior parte das competências adquiridas na sala de aula por
aprende. Desse modo, o docente não tem privilegiado a capaci-
um estudante durante a graduação apresenta-se obsoleta ao
dade cognitiva e intelectual dos estudantes nem a produção de
final de sua carreira, fato inusitado na história da humanidade.
conhecimento, atuando somente em sua transmissão.
Para o docente, o trabalhar significa cada vez mais aprender.3
Essa realidade evidencia a necessidade de o professor de A escola não tem acompanhado a evolução dos meios de
aceitar a impossibilidade tanto de ensinar e aprender tudo comunicação.6 Na Idade Média, quem estudava tinha de anotar
como de fazê-lo dentro do espaço e dos limites da sala de aula.1 e decorar tudo o que o professor ensinava. A partir do momento
em que os livros foram impressos e o acesso democratizado,
O modelo de transmissão de conhecimentos praticado na
o estudante não precisaria mais usar tanto a memória, pois o
maioria das salas de aula de instituições de ensino superior pre-
conhecimento estava impresso: se ele soubesse usar o livro, já
cisa ser modificado. O desenvolvimento das novas competên-
não seria necessário reter todas as informações na memória, e
cias que têm sido requeridas atualmente deve ser incorporado
outras habilidades poderiam ser desenvolvidas. Mas, mesmo
pelo novo estudante. Nesse sentido, é primordial que ele saiba
usando o livro didático, a escola continuou exigindo que as
não só buscar a informação utilizando os recursos existentes,
informações fossem memorizadas, sem, no entanto, avançar
mas que também desenvolva a capacidade de organizá-la cri-
para a produção de conhecimento em sala de aula.6
ticamente, que esteja habilitado para identificar erros, discre-
pâncias e ausência de lógica nas informações disponíveis, que Esse modelo pedagógico tem sido ampla e longamente ques-
seja um profissional capaz de ser flexível e aprender sempre. tionado, não somente por conduzir a reprodução de conheci-
O desenvolvimento dessas competências é fundamental para mento, mas também pela sua rápida obsolescência, decorrente
o estudante lidar de forma construtiva com as ambiguidades, do crescimento acelerado de informações, e pela dificuldade
aplicar conhecimentos antigos de formas novas e com eficácia de conciliação entre quantidade e qualidade de informações.
e aprender rapidamente novas técnicas, as quais são propostas A sala de aula como única proposta de educação, em detri-
com grande frequência no mundo moderno.4,5 mento dos meios de comunicação e da velocidade de difusão
da informação, possibilitada pelas novas tecnologias, sinaliza
Como um docente pode auxiliar o estudante a desenvolver
a necessidade de mudanças no exercício da docência e nesse
essas habilidades em sala de aula? “Como se ensina” e “o que
espaço de ensino.1
e como se aprende” permanecem como um terreno pouco
explorado, ainda que os conhecimentos de educação e neu- Hoje sabe-se que o estudante tem de aprender a aprender.
rociência tenham avançado expressivamente.1 É preciso que Mas, como mudar? Como dar o salto para essa nova sala de
54 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
aula? Semler e colaboradores6 afirmaram que são necessárias complexo; como encurtar os prazos extensos existentes entre
alterações de algumas características básicas da sala de aula a descoberta, a produção científica e sua incorporação à sala de
tradicional, sendo indispensáveis duas rupturas: a da sala de aula; e como superar o atraso científico fornecendo conheci-
aula como espaço e a da turma como escala. Mesmo quando mentos já ultrapassados pela indústria.1
o professor passou a usar computador, microfone ou projetor
Todas essas mudanças ocorridas ao longo do século mostram
no lugar do livro, em classes com 60 estudantes, essas rup-
a necessidade de o docente do ensino superior apropriar-se dos
turas não aconteceram, pois a disposição do espaço, o formato,
conhecimentos das áreas de educação, neurociências e mídia e
a turma como parâmetro e o conteúdo permaneceram iguais.
também da significação de novos termos, como metacognição,
Houve modificação apenas do aspecto exterior.6
nova maneira de reposicionar o sistema de ensino e a educação
O redimensionamento do número de estudantes em sala de em relação ao conhecimento; aprender a aprender, compreender
aula é um fator importante. A figura do mestre cumpriu seu como construir o próprio conhecimento; e ensinar a ensinar, a
papel durante um longo período, porque era, na verdade, um didática.1
professor particular.6 Os sumérios ensinavam seus filhos a Assim, neste capítulo serão discutidas as mudanças que a ciber-
escrever em casa. Depois disso, a história relata que Platão, em cultura está provocando nos processos cognitivos da nova
Atenas, nos Jardins de Academo, de onde surge o termo “aca- geração e o seu reflexo na sala de aula, os avanços das neu-
demia”, ensinava seus discípulos, ainda em turmas pequenas. rociências que podem auxiliar o docente a melhorar a aprendi-
Surgiram, na sequência, os mestres contratados por famílias zagem e diferentes estratégias de ensino-aprendizagem.
ricas da Grécia para ensinar os filhos, permanecendo o estudo
individualizado.7 Esse modelo de educação funcionava porque
era bastante seletivo, e não havia educação em massa.6 O educador e o processo de ensino
Após a Revolução Industrial, a educação tornou-se acessível a
Ensinar é levar o estudante a aprender (aprender a pensar, a
todos, e o número de estudantes aumentou. Porém, a deter-
sentir, a agir), pois “não há ensino sem aprendizagem”. Assim,
minação da quantidade de estudantes em uma sala de aula pode-se conceituar ensino como “a arte e técnica de orientar a
foi estabelecida pelo espaço físico, sem considerar a apren- aprendizagem do aluno”. 8
dizagem. O número de 40-50-60 estudantes em uma sala de
aula permitiria que o professor falasse sem microfone e todos O ensino estrutura-se a partir das atividades do educador e do
ouvissem. Como as mudanças na educação tornam-se evi- educando em busca da apropriação de conhecimentos e tenta
dentes a longo prazo, os resultados desse sistema de ensino explicar a ciência de modo a ser compreendida, viabilizando
somente emergiram recentemente e têm indicado que esse construir e reconstruir o saber. A ação didática registra o desen-
modelo não é eficiente para grupos numerosos de estudantes.6 volvimento de métodos e técnicas para orientar e facilitar a
aprendizagem, de modo sistemático e dinâmico.
A crescente produção e disponibilização de informações mostra
que a sala de aula organizada como turma já cumpriu o seu papel. A palavra didática é definida como “a ciência e a arte do
Atualmente, os estudantes apresentam níveis heterogêneos de ensino” ,9 enquanto arte é tão antiga quanto o próprio ensino.
escolaridade, bagagem cultural distinta e interesses diversos. Em toda a história da humanidade, houve exímios educa-
O acesso à informação dentro e, principalmente, fora da escola dores e mestres que, guiados por um grande talento inato e
torna ineficaz planejamentos rígidos. A educação precisa ser in- muita observação, conseguiram os melhores resultados com
o ensino e a educação, antes mesmo da existência da “ciência
dividualizada. O estudo em grupos menores surge como uma
da didática”. 10 Como ciência, a didática é recente. As primeiras
alternativa para melhorar o desenvolvimento de competências,
evidências de sua utilização datam do século XVII, tendo evo-
sendo alicerçado pela aprendizagem cooperativa.5
luído lentamente e alcançado somente no século XX um valor
É inegável que a sala de aula, compreendida tanto como orga- indiscutível. A atuação na didática com embasamento cientí-
nização de espaço físico como de gerenciamento de estra- fico deu-se, inicialmente, no âmbito do ensino fundamental, e
tégias de ensino-aprendizagem, incide no como e no quanto até a segunda metade do século XX não existia nenhuma exi-
se aprende. Aprender significa desenvolver competências, gência de formação do docente do ensino superior, fato esse
habilidades e atitudes, em vez de acumular dados no arquivo atribuído ao pressuposto de que “quem sabe, sabe ensinar”.
mental.1,5 Desde então, a comunidade acadêmica tem se conscientizado
de que somente o domínio do conteúdo ministrado em sala de
O extraordinário crescimento do conhecimento científico tem
aula não é suficiente para ensinar. É preciso também, no ensino
exigido do docente um papel complexo e com maior responsa-
superior, aprender a ensinar.11,12
bilidade. Os desafios atuais do professor universitário em sala
de aula estendem-se também a questões de como evitar que Houve momentos, na história da didática, “em que a importância
o estudante se perca no volume de informação cada vez mais do ensinar predominou sobre o aprender”,13 constituindo-se como
5 // Sala de aula contemporânea 55
fundamento da denominada didática tradicional. A partir dessa e das reprovações, a falta do planejamento do ensino tem sido
concepção, o ensino tornou-se um paradigma, em todos os seus identificada como um dos principais problemas no magistério
níveis, especialmente no superior. Para Masetto,14 em grande superior. O processo de ensino consiste em planejar, orientar
parte das salas de aulas, o ensino é praticado no seu sentido e controlar a aprendizagem do estudante. Uma vez que esse é
mais simples: o professor entra em sala de aula para transmitir um processo pragmático, ou seja, é um mecanismo pelo qual
aos estudantes informações e experiências consolidadas por ele se pretendem alcançar objetivos definidos, devem ser empre-
por meio de seus estudos e atividades profissionais, esperando gadas, para tanto, estratégias organizadas de modo sequencial
que o estudante as absorva e as reproduza nas atividades ava- e/ou combinatório.15
liativas. Nessa perspectiva de didática, a ênfase é depositada em
Na literatura são apresentadas diversas orientações pedagó-
quem ensina. Essa centralidade pode ser evidenciada, também,
gicas, com diferentes formas de planejar, orientar e controlar
pela organização espacial da sala de aula, onde os estudantes
a aprendizagem.15-17 De modo geral, os modelos de processo
estão posicionados em cadeiras dispostas em colunas, sentados
de ensino ressaltam que, primeiramente, deve ser constatado o
um olhando para as costas do outro, o que dificulta a comuni-
conhecimento prévio do estudante sobre o conteúdo a ser ensi-
cação entre eles, e, bem à frente e ao centro, está posicionado o
nado. A seguir, o professor estabelece os objetivos do ensino,
professor. Nessa organização, o docente considera a turma com
os quais podem ser cognitivos, afetivos e/ou motores. Para que
escala, tem uma visão ampla, que facilita a manutenção da auto-
a aprendizagem ocorra, é necessário que, sequencialmente, o
ridade e da disciplina, enquanto o estudante permanece passivo,
estudante realize práticas ou tenha experiências identificadas
ouve, decora, repete e responde a perguntas realizadas pelo pro-
como indispensáveis pelo professor, e para isso podem ser uti-
fessor, sem nenhum uso de estratégia de ensino-aprendizagem.
lizadas estratégias variadas. O controle da aprendizagem deve
Na didática tradicional, o ensino restringe-se à transmissão de
efetuar-se mediante um processo constante de avaliação, o
conteúdos pelo professor. Se os estudantes apresentam dificul-
qual pode ser formal ou informal, sendo imprescindível que o
dades, são orientados a “estudar mais”. E caso as dificuldades
estudante seja informado dos seus resultados e progressos.15
permaneçam, o caminho é o da reprovação.12
A organização espacial da sala de aula é a primeira etapa do pro-
De acordo com Masetto,14 com a mudança desse paradigma, a
cesso de ensino, tendo um impacto favorável sobre o estudante,
ênfase do ensino passou a ser depositada no “ser que aprende”,
que se motiva dependendo do ambiente. Em espaços onde o
modificando o papel dos participantes desse processo: “ao
aluno pode se manifestar e questionar, o professor controla
estudante cabe o papel central de sujeito que exerce as ações
melhor a aprendizagem. A segunda etapa do processo de ensino
necessárias para que aconteça sua aprendizagem”.14 Nessa
inclui a realimentação e o reforço, os quais são fundamentais na
nova perspectiva, o docente deixa de ser o único elemento
fixação do conteúdo e por meio dos quais o estudante tem a con-
ativo do processo de ensino.12
firmação de que está compreendendo. A terceira etapa envolve
Como o aprender é uma atividade realizada pelo estudante e recapitulações para que a aprendizagem não se limite à memória
como o professor não pode obrigar o estudante a aprender, o a curto prazo. Para que haja memorização a longo prazo e capa-
processo de ensino mostra-se pouco eficiente no modelo tra- cidade de tomada de decisão, é necessária a aplicação do con-
dicional, demandando grande esforço por parte do docente e teúdo aprendido, ou seja, a realização de exercícios, simulações
determinando baixo aproveitamento discente. Vários estudos ou experiências com situações reais.15,18
apresentam a percepção de professores atribuindo essa defi-
A otimização do processo de ensino tem se mostrado como
ciência aos estudantes que “estão desmotivados. Não prestam
uma necessidade no contexto atual. Nessa perspectiva,
atenção. Não querem fazer esforço. Só querem o diploma”.11,15
desenvolveu-se o planejamento do ensino para a competência,
De acordo com Bordenave e Pereira,15 diversos fatores podem o qual tem os seguintes fundamentos: informar ao estudante
influenciar o processo de aprendizagem por parte do estudante, claramente o que dele se espera; conceder tempo variável para
como a motivação para aprender, os conhecimentos prévios, a que os estudantes produzam conforme a velocidade individual
relação com professor e a atitude com a disciplina. Quanto ao de aprendizagem e o domínio dos pré-requisitos; e a verificação
assunto a ser estudado, este pode ser influenciado pela estru- da aprendizagem em qualidade e quantidade, utilizando meca-
tura do conteúdo, pelos tipos de aprendizagem requeridos e pela nismos de correção e superação.15
ordem de apresentação. Por parte do professor, existem fatores
Para que o processo de ensino se desenvolva de maneira efe-
que são passíveis de controle no processo de ensino, como
tiva é fundamental que o docente conheça os objetivos da dis-
recursos didáticos, estratégias de ensino-aprendizagem, comuni-
ciplina, domine o seu conteúdo, seja o responsável pela seleção
cação verbal e não verbal, informações ao estudante sobre o pro-
das estratégias mais adequadas e tenha a percepção do desen-
gresso, relação com o aluno e atitude com a disciplina que ensina.
volvimento individual dos estudantes. O exercício de uma
Apesar do conhecimento dos professores, dos prováveis resul- docência produtiva, com situações de aprendizagens mais sig-
tados em termos de abordagem completa ou não do conteúdo nificativas, exige que o educador ensine o estudante a aprender.
56 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
A aplicação da ciência da didática em sala de aula possibilita a 6. Proporcionar reforço aos comportamentos desejáveis
formação de estudantes que ultrapassam as barreiras da assi-
milação de conteúdos. A inserção de aulas dialogadas, em que 7. Controlar a participação do aluno
se prioriza a forma como o estudante aprende, enfatizando a
construção do conhecimento, contribui para a formação de
8. Usar exemplos, com adequação
estudantes motivados, críticos, opinativos e investigativos.12
Nessa perspectiva, o termo “interesse” pode resultar em con- 9. Usar repetição para facilitar a fixação
fusão, quando alguns professores acreditam que “motivar é
despertar o interesse”, pois, o professor não motiva, uma vez 10. Perguntar
que esse ato representa um processo interior ao sujeito. O pro-
fessor incentiva e acaba por despertar a motivação.23 A moti- 11. Usar perguntas de alta ordem
vação é um processo interior, individual, que mantém e dirige
o comportamento, resultante da ativação de motivos que 12. Usar perguntas exploratórias
estimulam a ação com intensidade e empenho.24 O incen-
tivo relaciona-se a situações que proporcionam a ação com 13. Usar silêncios e sinais não verbais
empenho e entusiasmo, manipulando as condições externas ao
sujeito, a ponto de despertar a motivação que mantém o pro- 14. Utilizar perguntas formuladas pelo aluno
cesso de aprendizagem.23
A relação da motivação com a aprendizagem permite obter infor- 15. Conseguir comunicação com os alunos
mações importantes ao processo,8 apresentadas no Quadro 5.3.
O Quadro 5.4 demonstra algumas fontes de incentivo.23 16. Variar os estímulos para a aprendizagem
Quadro 5.2
O professor percebe o aluno como mais importante O professor preocupa-se somente com conteúdos
Mostra-se flexível e toma decisões conjuntas com o aluno ou, Mostra-se fechado, rígido e toma decisões unilaterais,
no mínimo, demonstra ser democrático em certo grau. até mesmo sem comunicá-las ao aluno.
Torna-se congruente, isto é, preocupado com as relações Torna-se impessoal, isto é, mantém distância formal
interpessoais na aula, mostrando-se sensível e receptivo e não se preocupa em demonstrar calor humano.
às manifestações do aluno e às suas próprias atitudes.
É entusiasmado e estimulado, criando clima de aprendizagem que Pode ser entusiasmado com o conhecimento abrangido pela sua
conduz à abertura, à honestidade intelectual e à exploração. disciplina e exigente com relação ao domínio desse conteúdo.
Após examinar algumas alternativas, divide-se por objetivos Formula e busca alcançar objetivos somente instrucionais,
múltiplos, isto é, por aqueles que conduzem atividades diversificadas, comportamentais, envolvendo fatos, conceitos e princípios.
em função do alcance de mais do que a aquisição de conhecimentos.
Formula objetivos integrativos, isto é, que envolvem pelo menos Orienta sua ação somente a partir de objetivos que envolvem
cognição e afetividade conjuntas (atitudes, valores, julgamentos, etc.). conhecimento, memória ou processos intelectuais.
Orienta-se por objetivos que conduzem ao alcance Preocupa-se mais com a quantidade de conhecimentos
de conceitos, ideias e princípios relevantes. abrangidos nos objetivos do que com a sua qualidade.
Tenta individualizar o ensino, isto é, ajustar procedimentos Fornece a realização de experiências de aprendizagem, como se
e experiências de aprendizagem a cada aluno em particular, o grupo de alunos fosse um todo uniforme e não diferenciado.
tomando como base suas necessidades e possibilidades.
Organiza seu ensino com procedimentos que se Organiza seu ensino com procedimentos voltados
voltam para a solução de problemas, aprendizagem de basicamente para a aquisição de conhecimentos,
princípios e de conceitos, bem como a aprendizagem como estudo de livros-texto, exposições, etc.
de valores, atitudes e comportamentos sociais.
Seleciona materiais de estimulação (textos, recursos visuais e Seleciona materiais de estimulação que contenham
auditivos, etc.), bem como desenvolve seu comportamento verbal um número significativo de dados, fatos, conceitos
em estreita conexão com os objetivos, mas se preocupando mais e ideias, sem, contudo, dar maior atenção às suas
com o potencial artístico, criativo e enriquecedor desses materiais possibilidades de uso criativo e inteligente.
do que com o número de dados e fatos que possam contar.
Quanto à avaliação
Faz constante uso da avaliação formativa, isto é, durante o Faz uso da avaliação com o propósito de julgar se
processo de ensino-aprendizagem informa aos alunos os o aluno adquiriu ou não o conhecimento, usando
resultados alcançados e, de acordo com esses resultados, o conceito ou o grau como recompensa.
prevê novas experiências, se forem necessárias para
melhorar o comportamento do professor e do aluno.
Vale-se da autoavaliação do aluno, como recurso tanto para melhorar Vale-se raramente do julgamento do aluno,
seu ensino como para atribuir um conceito ou nota final ao aluno. para enriquecer seu próprio julgamento sobre
os resultados do ensino-aprendizagem.
• Recursos de ensino: empregados inteligentemente, No ensino da odontologia, a relação entre a teoria e a prática
facilitam a obtenção dos objetivos envolve a estrutura do conteúdo. É comum alguns “professores
especialistas” supervalorizarem a prática, acreditando que esta
• Personalidade do professor: rica fonte de incentivos surgiu de uma experiência particular, sem qualquer vínculo
(interessado, dinâmico, capaz, criativo) com os conhecimentos teóricos. Presencia-se a transmissão
de conhecimentos práticos por práticos, e não por educadores
Fonte: Vilarinho.23
formados para orientar e auxiliar na construção e reconstrução
do conhecimento. Outros, indiferentemente, determinam que
o conteúdo teórico deva sempre anteceder a prática, sem con-
nologias ou não. Alguns possíveis efeitos do emprego dessa
siderar os diferentes processos de aprendizagem. Para a exe-
pedagogia são: elevada absorção de informação, hábito de
cução de uma boa odontologia, é necessário e fundamental o
tomar notas e memorizar, passividade, falta de atitude crítica,
conhecimento teórico, apropriado e bem fundamentado. No
distância entre teoria e prática e individualismo.25
entanto, é imprescindível que os professores se apropriem dos
Na pedagogia do condicionamento são enfatizados compor- conhecimentos da relação entre ordem de apresentação dos
tamentos, ou seja, atitudes e habilidades a serem desenvol- conteúdos, estrutura e forma de aprendizagem. Determinados
vidas mediante estímulos e recompensas, capazes de condi- conteúdos, por serem novos e abstratos, são mais bem com-
cionar o estudante a emitir respostas esperadas pelo professor. preendidos após atividades práticas. O educador deve ter obje-
Esta pedagogia baseia-se, principalmente, no alcance de obje- tivos supremos a apresentar, estando em constante mudança
tivos quantitativamente mensuráveis. Nessa perspectiva, ativi- na construção de novos conhecimentos. Considerando todos
dades são programadas, recompensando o estudante quando esses aspectos, é questionado se realmente muitos dos
5 // Sala de aula contemporânea 59
áreas, somente agora começam a repercutir na sala de aula.28,29 cepção e raciocínio. Segundo Lèvy,3 a representação em escalas
As tecnologias mais antigas serviam como instrumentos para lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas por níveis, orga-
aumentar o alcance dos sentidos (tato, visão, etc.), enquanto nizadas pela noção de pré-requisito e convergindo para saberes
as novas tecnologias ampliam o potencial cognitivo do ser superiores, tem sido preterida a favor da imagem dos espaços de
humano (cérebro e mente). 30 Essa constatação exige tanto a conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não li-
apropriação do uso de novas tecnologias por parte do docente neares, que se reorganizam de acordo com os objetivos ou con-
quanto de conhecimentos atuais sobre o impacto da mídia nos textos. O conceito e o modelo hipertextual de simultaneidade e
processos cognitivos da nova geração. não linearidade precisam alcançar a sala de aula.32
Diversos estudos têm analisado os diferentes efeitos do Quando lê um livro impresso, o estudante está em contato
impacto da tecnologia na sociedade e na educação e mostram com algo concluído, enquanto por meio do computador conec-
que as tecnologias são mais do que meras ferramentas a ser- tado à internet elabora seu roteiro de leitura multidisciplinar,
viço do homem. Por interferir nos modos de perceber o mundo, interage e constrói seu próprio conhecimento.33,34 As modali-
de expressar-se e de transformá-lo, as tecnologias resultam na dades de leitura tendem a transformar-se, e os processos cog-
modificação do próprio ser humano.28 nitivos também. Na internet, a metáfora central da relação com
o saber é a navegação, que implica na capacidade de enfrentar
Há quase 40 anos, Mc Luhan31 afirmou que “o meio é a men-
correntes de informações que conduzem a outros destinos, que
sagem”, e, desde então, muitos especialistas têm procurado com-
não o objetivado no início, em uma extensão plana, sem fron-
preender como e o que aprende-se por intermédio das mídias.
teira e sempre variável.3,29 De acordo com Assmann,30 o pro-
Com essa frase, o pensador canadense queria negar a tese da cesso do conhecimento transforma-se intrinsecamente em
neutralidade do meio tecnológico, afirmando que, ao transmitir a uma versatilidade de iniciativas, escolhas, opções seletivas e
mensagem, o meio transmite também algo mais, que lhe é ine- constatações de caminhos propícios ou equivocados.
rente e que age sobre o conteúdo, transformando-o.28
As novas tecnologias facilitaram a simulação. As técnicas de
Mesmo em países como o Brasil, pessoas sem educação formal simulação, principalmente as que utilizam imagens intera-
podem ter acesso a mídias sofisticadas, que permitem interati- tivas, não substituem o raciocínio humano, mas prolongam e
vidade e acesso a informação e entretenimento. As práticas de transformam as capacidades de imaginação e do pensamento.
uso da internet e dos telefones celulares, os quais são dispo- Enquanto a memória de longo prazo pode armazenar grande
sitivos técnicos sofisticados imediatamente incorporados pela quantidade de informação e de conhecimentos, a memória de
nova geração sem necessidade de formação específica, têm curto prazo tem capacidade muito limitada, e esse é o campo
levado ao desenvolvimento de maior autonomia, a qual, por de atuação da simulação. A possibilidade de fazer variar facil-
sua vez, favorece o surgimento de outras competências. Esses mente os parâmetros de um modelo e observar de modo ime-
jovens não podem ser considerados meramente receptores, diato e visual as consequências dessa variação constitui a ver-
já que uma autodidaxia importante está desenvolvendo-se há dadeira ampliação da imaginação. A simulação conduz a um
vários anos por meio das mídias. É necessário que o docente novo estilo de raciocínio e conhecimento, que não resulta nem
entenda como funciona essa autodidaxia para adequar as estra- da dedução lógica, nem da experiência pessoal, mas da prática
tégias de ensino-aprendizagem na sala de aula.28,29 incansável, que modifica sua aprendizagem.3
De acordo com Lévy,3 o ciberespaço é o meio de comuni- A partir da simulação, na cibercultura, o estudante estabelece
cação que emerge da interligação mundial dos computadores, uma nova relação com o erro. Em um tempo não muito dis-
também denominado de rede. O termo designa não só a infra- tante, o erro era inaceitável e significava reescrever toda uma
estrutura material para a comunicação digital, mas também o página escrita à mão ou datilografada. O computador e seus
universo das informações que ele alberga, bem como seres programas possibilitaram a aproximação à versão final de um
humanos que nele navegam e o alimentam. Quanto ao neolo- texto, permitindo observação, mudança e redimensionamento
gismo “cibercultura”, ele designa o conjunto de técnicas, prá- antes da impressão, sendo estabelecida a aprendizagem
ticas, atitudes, maneiras de pensar e valores que se desen- por simulação. Dessa forma, tanto a leitura como a escrita
volvem conjuntamente ao crescimento do ciberespaço3,29. modificaram-se com as novas tecnologias, determinando a
Nessa perspectiva, o docente e a sala de aula contempo- ampliação da capacidade cognitiva dos estudantes, economia
rânea estão diante de problemas complexos, os quais exigem de tempo e garantia de qualidade. Portanto, é compreensível
novos modos de ensinar, conceitos, posturas e orientações, que a geração digital não perceba o significado de rascunhos.5
adequados ao modo de aprender que essa nova geração está
A World Wide Web transforma-se permanentemente, cons-
desenvolvendo com o contato com as tecnologias de infor-
tituindo-se em um fluxo, e são inúmeras as fontes de infor-
mação e comunicação.28
mação. Seu aumento constante oferece uma imagem sur-
As tecnologias têm amplificado, exteriorizado e modificado as preendente da inundação de informação contemporânea. Esse
funções cognitivas do estudante: memória, imaginação, per- fato tem sido referido como o segundo dilúvio, ou “o dilúvio da
5 // Sala de aula contemporânea 61
informação”. Porém, não significa que tudo, enfim, esteja aces- escala, repense o caráter redutor da tecnologia educacional,
sível como se pensava, mas, pelo contrário, representa que o supere o “deslumbramento” que tende ao uso indiscriminado
“todo” está definitivamente fora de alcance. Portanto, a uni- da tecnologia e reconheça a influência da mídia nos processos
versidade, como instituição, e os professores, em sala de aula, cognitivos dos estudantes, para, enfim, poder compreender
têm de construir um novo sentido e aprender a reconstruir como funciona a autoaprendizagem. Embora pareça ser ainda
conteúdos em totalidades parciais.3 uma utopia o estudante autodidata que considera o professor
um aliado para a construção do conhecimento, a autodidaxia é
A experiência da busca na internet para a realização de estudos
uma característica evidente dos modos de aprendizagem das
tem mostrado que examinar todas as referências sugeridas é
novas tecnologias de informação e comunicação.28
improdutivo. Mesmo quando se delimita o tema, esse número
apresenta-se muito elevado. Apropriar-se da totalidade é A mídia-educação é um campo novo do saber que vem desen-
impossível. Nesse novo contexto provocado pelo ciberespaço, volvendo-se no mundo moderno. De acordo com Belloni,28
por exemplo, o mundo empresarial mudou o seu padrão de mediatizar, do ponto de vista de produção de materiais peda-
referência, que, em décadas anteriores, era produzir mais em gógicos, significa definir as formas de apresentação de con-
menos tempo; e hoje, busca produzir o que é necessário na teúdos didáticos, previamente selecionados e elaborados, de
quantidade ideal, o modelo denominado just in time. Na edu- modo a construir mensagens que potencializam ao máximo as
cação, o cenário é o mesmo, evidenciando-se a impossibilidade virtudes comunicacionais do meio técnico escolhido. As tecno-
e a falta de necessidade de acumular informação. As práticas de logias de informação e comunicação, ao mesmo tempo em que
ensino tradicional não se sustentam na cibercultura. Uma nova trazem grandes potencialidades de criação, acrescentam muita
forma de organização correlata tem sido proposta como just in complexidade ao processo de ensino, devido à dificuldade
time learning, com o objetivo de se capacitar estudantes para de apropriação dessas técnicas pelo docente. Sua utilização
acessar e assimilar a informação quando necessário.5 com finalidade educacional exige mudanças substanciais nos
modos de compreender o ensino e a didática.28 Para Torres,1 o
O reconhecimento do saber adquirido ou prévio pelo estudante
professor terá de aprender “a ensinar a aprender”.
por meio da internet é uma outra realidade na cibercultura e
da qual o professor tem de se tornar consciente. A universi- Na cibercultura, a interatividade é a modalidade comunica-
dade perde progressivamente o monopólio da transmissão do cional que conquista centralidade. A geração digital está cada
conhecimento, tendo de atribuir-se a nova missão de orientar o vez menos passiva perante a mensagem fechada à intervenção.
saber e contribuir para o desenvolvimento das novas compe- Os estudantes migraram da tela estática da televisão para a
tências dos estudantes.3,29 tela do computador conectado à internet, em que são capazes
de esquivar de programações, interferir, modificar e produzir.
Para Bévort e Belloni,35 é primordial admitir que os estudantes
O conceito de interatividade exprime a disponibilização cons-
aprendem com o ciberespaço, mas que, principalmente, desen-
ciente de comunicação, prevista pelo educador, que abre ao
volvem novas habilidades cognitivas, ou seja, “novos modos
estudante a possibilidade de responder e dialogar com ele.
de aprender”, mais autônomos e colaborativos, ainda que igno-
O modo de comunicação interativa qualifica a educação, entre-
rados pela maioria dos professores. De acordo com Ramal,5
tanto, para isso, mostra-se necessária uma nova sala de aula.33,34
aprender será desenvolver competências, habilidades e ati-
tudes, em vez de acumular dados no arquivo mental. Na era Segundo Assmann,30 o conceito de informação admite muitos
da cibercultura, talvez os educadores sejam os mesmos, mas significados. No entanto, da informação ao conhecimento existe
certamente os estudantes não o são, e eles demandam uma um longo processo, não sendo uma questão de mera operação
relação diferente com o professor e com a sala de aula.35 tecnológica. Ressignificar a educação na cibercultura significa
superar todas essas dificuldades e tornar-se um docente com
Um aspecto importante dessa temática, extremamente ampla e
complexa, é a integração das tecnologias de informação e comu- conhecimento expressivo em tecnologias de informação e
nicação à sala de aula contemporânea, em suas duas dimensões, comunicação, um educador para as mídias, com objetivo de for-
ou seja, como ferramenta pedagógica, extremamente rica e pro- mação de profissionais ativos, críticos e criativos.28,29,33,34
veitosa para a melhoria e expansão do ensino, e também como
objeto de estudo complexo e multifacetado, que modifica os Contribuições das neurociências ao
processos cognitivos e, portanto, exige mudanças no ensino
com abordagens criativas, críticas e interdisciplinares.28
processo de ensino-aprendizagem
A interdisciplinaridade, nesse contexto, envolve dois compo- O objetivo da educação é a aquisição de conhecimentos e o
nentes principais da cibercultura: mídia e educação. Para que desenvolvimento de novos comportamentos, mediada por
haja uma mudança efetiva no ensino e na aprendizagem do nível um processo que envolve a aprendizagem. Aprender é uma
superior, será necessário que o docente, primeiramente, reorga- característica intrínseca do ser humano, que é influenciada
nize a sala de aula como espaço, faça a ruptura da turma como por aspectos culturais, sociais e econômicos. Comumente,
62 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
diz-se que alguém aprende quando adquire competência para estabelecidos pelo próprio professor, sem haver entendi-
resolver problemas e realizar tarefas, utilizando-se de atitudes, mento de “como se aprende”. 1 Estudos mostram o baixo nível
habilidades e conhecimentos que foram adquiridos ao longo de de reflexão dos professores sobre sua própria prática pedagó-
um processo de ensino-aprendizagem.4,36 gica, das estratégias de ensino empregadas e suas limitações,
assim como dos processos cognitivos e mecanismos de apren-
Estudos realizados em diversos países são coincidentes em
dizagem dos estudantes.40 Para Torres,1 aprender a aprender
mostrar a realidade da sala de aula e a falsa impressão de
tem sido um tema corrente na educação, porém, pouco tem
aprendizagem que podem dar as avaliações de desempenho
sido realizado concretamente visando a assumir esse objetivo.
acadêmico. A escola tem negado a possibilidade de aprendi-
zado fora dela e se beneficiado pouco dos conhecimentos das Apesar de o ato de estudar estar intrinsecamente relacio-
neurociências, que possibilitam uma abordagem mais cientí- nado ao aprender a aprender, não significa o mesmo: pode-se
fica do processo ensino-aprendizagem, fundamentada na com- estudar sem aprender, e pode-se aprender sem estudar. A sala
preensão dos mecanismos cognitivos. Cotidianamente, educa- de aula com a perspectiva somente do ensino desvinculou-se
dores atuam como agentes de mudanças neurobiológicas que da forma como os estudantes aprendem e assumiu que essas
conduzem a aprendizagem, entretanto, desconhecem como o capacidades e habilidades eram um problema do estudante.
cérebro funciona.1,36 Atualmente, o professor do ensino superior especializa-se em
uma área e na forma de como ensiná-la, mas não no modo
De acordo com Cosenza e Guerra,4 o cérebro é considerado o
de como ensinar os estudantes a estudar e aprender. Ainda,
órgão da aprendizagem. Essa constatação, hoje aparentemente
concentra-se nas estratégias de transmissão e armazenamento
tão óbvia, não foi sempre assim. Embora o educador atribuísse, da informação, mas sem prestar atenção à capacidade dos
frequentemente, as dificuldades de aprendizagem a um pro- estudantes para recuperá-las.1,4
blema neurológico, não havia clareza de que o processo de
aprendizagem normal fosse mediado por estruturas cerebrais Oliveira38 questiona: como falar em aprendizagem sem a função
com suas respectivas propriedades e funções. Grande parte dos da memória? No entanto, memorizar foi considerado por muito
conhecimentos acerca do funcionamento do cérebro é recente.4 tempo sinônimo de decorar datas, nomes e fórmulas, porque eram
os conhecimentos exigidos nas avaliações das universidades.41 No
Os anos 1990 foram proclamados como a “década do cérebro” Código Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde,42
(1990-1999), designação estabelecida pelo conjunto de ações, as memórias são definidas como “funções específicas de registro
investimentos e pesquisas em nível mundial sobre o cérebro.37 e armazenamento de informações e de recuperação quando ne-
O desenvolvimento e o aperfeiçoamento de técnicas de neu- cessário”. Para Squirre e Kandel43 “a memória é o processo pelo
roimagem, de eletrofisiologia e da neurobiologia molecular, qual aquilo que é aprendido persiste ao longo do tempo”. Sem
bem como achados no campo da genética e da neurociência memória não há aprendizagem, e, por isso, ela é a base do conhe-
cognitiva, possibilitaram o mapeamento do cérebro humano cimento e o melhor caminho para o ensino eficiente, desde que
e trouxeram subsídios para o avanço no conhecimento dos adequadamente estimulada e utilizada.38
mecanismos cognitivos. Embora a mente ainda não seja total-
mente compreendida devido às limitações técnicas e éticas que Tem sido considerado que decorar é uma capacidade inata
o estudo do comportamento humano impõe, esses avanços do estudante e, por essa razão, não requer treinamento; ao
mesmo tempo, considera-se que memorizar equivale a lem-
revolucionaram diversas áreas do saber.4,36,38
brar automaticamente. As descobertas das neurociências têm
Os constantes estudos proporcionaram o surgimento das neu- mostrado que tanto a memória quanto a capacidade para recu-
rociências, definidas como “um conjunto de ciências cujo objeto perar o conhecimento podem ser aprimoradas mediante pro-
de investigação é o sistema nervoso, com particular interesse em cedimentos sistemáticos. Apesar da memória ser considerada
entender como a atividade do cérebro relaciona-se com o com- imprescindível para a aprendizagem e ser o recurso didático
portamento e a aprendizagem”.39 Essas descobertas, ao longo usado por excelência, ou seja, em que se apoia o sistema edu-
dos últimos anos, ultrapassaram os nichos acadêmicos especia- cativo, ainda é reduzida a compreensão que se tem dela, de
lizados nas neurociências e estenderam-se aos profissionais de seus processos e de mecanismos no âmbito da sala de aula.
outras áreas, como ciências exatas, humanas e sociais, incluindo, Desse modo, a seleção de uma metodologia de ensino que uti-
naturalmente, a educação. Uma das contribuições das neuroci- lize adequadamente os novos conhecimentos sobre como fun-
ências para a educação é o conhecimento do neurodesenvolvi- ciona a memória e como acontece a recuperação do conheci-
mento do cérebro, o qual pode auxiliar o professor a compreender mento poderá converter-se em um instrumento auxiliar para a
os elementos inerentes ao processo de ensino-aprendizagem e otimização do processo de ensino-aprendizagem.1,41
otimizar as capacidades do seu estudante.4,38
Na antiguidade, os filósofos imaginavam o cérebro como uma
No entanto, ainda hoje nas salas das universidades, as aulas caixa vazia esperando para ser preenchida. Na segunda metade
são centradas na preocupação com o rendimento acadêmico, do século passado, essa metáfora mudou para uma ana-
com base no nível de satisfação dos objetivos de aprendizagem logia com um computador esperando para ser programado,
5 // Sala de aula contemporânea 63
acreditando-se que estímulos externos e não uma motivação é armazenado de maneira arbitrária, não se relacionando com
intrínseca eram os propulsores da aprendizagem. Ensino e apren- informações prévias existente na estrutura cognitiva, levando
dizagem eram vistos como sinônimos. O professor é que contro- facilmente ao esquecimento. Um ensino de qualidade con-
lava a aprendizagem, e não o cérebro do estudante. Diferenças figura-se acima de tudo com aprendizagem significativa.48
entre a inteligência individual eram vistas como hereditárias e
Um fator importante no processo de aprendizagem é a moti-
praticamente imutáveis. Entretanto, recentes pesquisas revelam
vação e o interesse do estudante, assim como seu nível de
que o cérebro é formado por um conjunto de sistemas com-
maturidade e experiências anteriores. É importante que o pro-
plexos, que funcionam em circuitos de rede, tratando-se de um
fessor saiba que, ao mesmo tempo em que o cérebro tem uma
sistema biológico aberto, flexível, auto-organizável, que cresce
motivação intrínseca para aprender, está disposto a fazê-lo
e transforma-se em resposta a desafios e estímulos adequados,
somente para aquilo que reconheça como significante. Por-
tendo sido denominado esse processo de neuroplasticidade.38,44
tanto, a maneira primordial de capturar a atenção é apresentar
De acordo com Wolynec,44 o cérebro prefere buscar e descobrir o conteúdo a ser estudado de maneira que o estudante o reco-
padrões por si próprio, gerenciando mais facilmente situações nheça como importante. Quem ensina precisa ter sempre pre-
reais complexas do que artificiais mais simples e está sempre sente a questão: por que aprender aquele conteúdo? E em
tentando fazer conexões entre novos padrões e os existentes. seguida: qual a melhor forma de apresentá-lo aos estudantes,
Não existem duas pessoas que aprendam do mesmo jeito na de modo que o reconheçam como significante? Transformar o
mesma velocidade, porque cada cérebro é único. Uma vez que conteúdo programático de uma disciplina em algo relevante
a aprendizagem produz mudanças no encéfalo, quanto mais para o aprendiz é um grande desafio para o docente.4,36,38
uma pessoa aprende, mais diferenciado torna-se o órgão.44
Na sala de aula, o estudante aprende o que considera relevante.
À medida que os cientistas estudam o processo da aprendi- Alcançar uma nota alta é o mais importante para o contexto de
zagem, verificam que esta é essencialmente ativa. Um estudante sua vida acadêmica. O cérebro, então, selecionará estratégias
aprendendo um conteúdo novo incorpora a essa experiência que levem a obtenção dessa nota, e não necessariamente à aqui-
toda a sua bagagem anterior de práticas e padrões mentais. sição de novas competências. A melhor maneira de envolvê-lo
Cada informação nova é assimilada em uma rede viva de com- é fazer com que o conhecimento novo esteja de acordo com as
preensão já presente na mente do estudante. A aprendizagem expectativas do estudante e que tenha ligações com o conhe-
não é nem uma atividade passiva nem simplesmente objetiva.44 cido e importante para ele. Com esse único objetivo durante a
Na contemporaneidade, pesquisas e estudos fundamentados graduação (obter boas notas), é comum que os alunos estudem
em tecnologias não invasivas, especialmente a ressonância somente nas vésperas das provas.4 De acordo com Cosenza
magnética, permitem aprofundar os conhecimentos sobre o sis- e Guerra,4 dessa forma um grande número de informações
tema nervoso, observando em tempo real imagens da fisiologia acumula-se, sem muita elaboração na memória operacional.
associada com o processo de aprendizagem. É possível identi- Como essa memória é transitória, caso não haja novas ativações
ficar regiões específicas do cérebro sendo ativadas quando são da mesma experiência, o resultado é o esquecimento rápido.4,36
realizadas atividades que envolvem funções cognitivas, como, Se uma informação é considerada como significativa pelo
por exemplo, a leitura. A evolução tecnológica permite visua- estudante, ela passa pelo filtro da atenção, para, em seguida,
lizar a atividade elétrica de uma única molécula do cérebro.45–47 sofrer um processo de codificação, provocando a ativação de
Para Cosenza e Guerra,4 a aprendizagem, em uma perspectiva neurônios. Dependendo da relevância da informação, poderão
neurobiológica, traduz-se pela formação e consolidação das ocorrer alterações estruturais em circuitos nervosos específicos,
ligações entre as células nervosas e é consequência de modi- cujas sinapses tornarão mais eficientes, permitindo o apareci-
ficações químicas e estruturais no sistema nervoso de cada mento de um registro. Para uma informação fixar-se e formar
ser, exigindo energia e tempo para manifestar-se. Professores o registro permanente, ou seja, para ocorrer a aprendizagem
podem facilitar esse processo, no entanto, a aprendizagem é definitiva, são necessárias a formação e a estabilização das
um fenômeno individual e privado e obedecerá ao contexto his- novas conexões sinápticas, o que requer trabalho adicional que
tórico de cada estudante. demanda tempo e esforço pessoal, sendo importante os pro-
cessos de repetição, elaboração e consolidação.4
Baseado no pressuposto anterior, Ausubel48 destaca dois tipos
de aprendizagem, tendo como fundamento a experiência prévia A repetição do uso da informação, junto com sua elaboração,
do estudante: aprendizagem significativa e aprendizagem mecâ- fortalece o traço de memória, fazendo com que o registro seja
nica. O conhecimento significativo é, por definição, o produto fixado de forma definitiva. Quanto mais se repetir essa atividade,
de um processo cognitivo que envolve a interação de novas quanto mais ligações forem estabelecidas com as informações
informações lógica e culturalmente compatíveis com as ante- disponíveis no cérebro, melhor será a memorização. A elabo-
riores, presentes na estrutura cognitiva particular do aprendiz. ração pode ser realizada de forma simples ou complexa, ou seja,
Diferentemente, na aprendizagem mecânica, o conhecimento pode envolver diferentes níveis de processamento. Informa-
64 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
ções aprendidas utilizando um nível mais complexo de elabo- é uma função mental muito importante para a aprendizagem,
ração têm mais chances de tornar um registro forte, uma vez que sendo o processo cognitivo o controlador dos estímulos irre-
mais redes neuronais estarão estabelecidas. Os processos de levantes.40 Estudos dos mecanismos cerebrais envolvidos na
repetição e elaboração é que vão determinar a força de registro. atenção indicam a existência de dois sistemas ou circuitos dife-
Informações muito repetidas, ou muito elaboradas, resultarão rentes que regulam exatamente os processos mencionados.
em novas conexões nervosas estabilizadas no cérebro.4 Inicialmente, há o circuito orientador localizado no córtex do
lobo parietal. Ele permite o desligamento do foco atencional de
O processo da consolidação é indispensável para que os regis-
um determinado alvo e o seu deslocamento para outro ponto,
tros no cérebro sejam retidos por um tempo maior, e existem
bem como o ajuste fino para que os estímulos sejam mais bem
evidências de que esse processo se realize durante o sono. Na
percebidos. O segundo circuito, chamado de circuito execu-
consolidação, ocorrem alterações biológicas nas ligações entre
tivo, permite que se mantenha a atenção de forma prolongada,
os neurônios que envolvem a produção de proteínas que são
ao mesmo tempo em que são inibidos estímulos distraidores.
utilizadas para o fortalecimento ou a construção de sinapses
Seu centro mais importante localiza-se em uma área do córtex
nos circuitos nervosos, facilitando a passagem do impulso ner-
voso e, por meio das quais o registro é vinculado a outros exis- frontal, sendo a atenção executiva essencialmente importante
tentes, tornando-se permanente.4 para a aprendizagem consciente.4,35
A recuperação da informação será mais eficiente dependendo Quando o aprendizado se orienta por metas, como tomada
do processo de elaboração. Se o processo de elaboração foi de decisão, planejamento e execução de planos e escolhas de
complexo, criando muitos vínculos com as informações exis- comportamentos, serão incluídas funções mentais complexas
tentes, haverá uma rede de interconexões mais extensa, que chamadas de executivas. De acordo com Eslinger,32 a função
poderá ser acessada em múltiplos pontos, tornando o acesso executiva é um conceito neuropsicológico de formulação
mais fácil. Em contrapartida, uma informação pode estar ainda recente e relaciona-se com a organização da informação pelo
presente, mas seu acesso pode ser dificultado pelo enfraque- executor, com definição de objetivos e controle de variantes,
cimento e pelo desuso das ligações que poderiam recuperá-la. para a formulação de planos. No entanto, as áreas cerebrais res-
É por isso que, muitas vezes, reaprender é mais fácil, justamente ponsáveis pelas funções executivas amadurecem tardiamente,
porque a informação não está totalmente perdida.4 na idade adulta jovem.38 Aulas centradas nos estudantes, o
uso da interatividade e a apresentação e supervisão de metas
A gestão da sala de aula tem grande influência na aprendi- a serem atingidas auxiliam no desenvolvimento das funções
zagem. Um ambiente estimulante e agradável pode ser criado executivas.4
envolvendo os estudantes em atividades em que assumam um
papel ativo e não sejam meros expectadores. A minimização de Contudo, o estado de alerta extremo, causado por uma con-
elementos distraidores, o uso de diferentes recursos didáticos, dição de ansiedade, pode prejudicar a atenção e a aprendi-
oratória e postura adequada, bem como a utilização de ele- zagem. É necessário, então, um nível adequado de vigília
mentos como humor, música e imagens, podem ser essenciais, para que o cérebro possa manipular a atenção, focando
sendo a novidade e o contraste também estratégias eficientes a consciência em diferentes modalidades sensoriais, em
na conquista da atenção. Uma parte da informação fornecida eventos ou objetos notáveis. Logo, é importante que o
em sala de aula não chega a ser processada, não só porque ambiente da sala de aula seja planejado de forma a mobilizar
é desnecessária e seria pouco econômico cuidar dela, mas emoções positivas, como entusiasmo, curiosidade, envolvi-
também porque o cérebro, apesar de constituído por bilhões de mento e desafio; enquanto as negativas, como medo, apatia,
células interligadas por trilhões de sinapses, não tem a capa- ansiedade e frustração, devem ser evitadas para que não per-
cidade de examinar tudo ao mesmo tempo. Por isso, a natu- turbem a aprendizagem.4
reza dotou-o de mecanismos que permitem selecionar a infor-
Com as evoluções tecnológicas e a internet, o uso de diversos
mação que é importante. Por meio do fenômeno da atenção, o
equipamentos eletrônicos ao mesmo tempo tem sido cons-
cérebro é capaz de focalizar em cada momento determinados
tante em todos os espaços, inclusive na sala de aula contem-
aspectos, deixando de lado o que for dispensável. Aprender
porânea. No entanto, a ciência mostra que duas informações
não é absorção de conteúdos e exige uma rede complexa de
que viajem por um mesmo canal, por exemplo, do livro aberto e
operações neurofisiológicas e neuropsicológicas.4,38
do computador, não serão processadas ao mesmo tempo, pois
Para o estudante é difícil prestar atenção por muito tempo. o cérebro será obrigado a alternar a atenção entre as informa-
A manutenção da atenção por um período prolongado exige a ções concorrentes. Mesmo quando se divide a atenção durante
ativação de circuitos neurais específicos, e, após algum tempo, a utilização de canais sensoriais diferentes, por exemplo, dirigir
a tendência é de que o foco atencional seja desviado por outros carro e ouvir rádio, o desempenho não é o mesmo, e aspectos
estímulos do ambiente ou por outros processos centrais, como importantes da informação podem ser perdidos. Isso ocorre,
novos pensamentos, por exemplo.4 Nessa perspectiva, atenção principalmente, se a demanda de um dos canais é aumen-
5 // Sala de aula contemporânea 65
tada. Ao tentar dividir a atenção, o cérebro sempre processará buições e limitações das atividades de ensino, tipos de alunos e
melhor uma informação de cada vez.4,36 aceitação e experiências dos alunos.
Quais seriam as contribuições do conhecimento das neuro- A escolha da estratégia de ensino-aprendizagem apresenta-
ciências no cotidiano da sala de aula? As neurociências não se como um processo simples para professores com formação
propõem uma nova pedagogia, não trazem uma receita para pedagógica adequada. Contudo, programas de pós-graduação
a construção de uma estratégia infalível a ser utilizada no de mestrado e doutorado apenas recentemente incluíram dis-
ambiente escolar nem prometem soluções definitivas para ciplinas com esse objetivo. Portanto, para os professores que
as dificuldades de aprendizagem. Contudo, podem contribuir ingressaram no magistério superior sem formação em didá-
para fundamentar práticas pedagógicas que são realizadas tica, realizar essa seleção configura-se como um processo com-
com sucesso, demonstrando que as estratégias eficientes são
plexo, o qual muitas vezes mostra-se inibidor.11,15
as que respeitam os princípios de funcionamento do cérebro.
Assim, podem sugerir também intervenções em casos de difi- As principais dificuldades enfrentadas pelo docente durante a
culdade de aprendizagem.4,37,38 seleção da técnica a ser utilizada são: falta de critérios que o
orientem na escolha, conhecimento de um número reduzido
Torna-se importante o professor criar oportunidades em que o
de estratégias e das possibilidades e limitações de cada uma e
mesmo assunto possa ser examinado diversas vezes e em dife-
carga horária excessiva sem disponibilidade de tempo para ela-
rentes contextos, para que os processos cognitivos possam
ocorrer com maior efetividade. Como mencionado anterior- boração de dinâmicas de ensino variadas.15
mente, a produção do conhecimento resultante das novas Trabalhar utilizando diferentes estratégias de ensino-apren-
conexões entre as células nervosas demanda nutrientes, tempo dizagem não é uma tarefa que possa ser considerada fácil.17
e esforço.4 A sala de aula contemporânea necessita das con- Existe no magistério superior um habitus de trabalho com pre-
tribuições das neurociências para subsidiar mudanças que pro- dominância de aulas expositivas ou palestras, que reforça a
movam a construção das habilidades e das competências exi- ação de transmissão de conteúdos prontos, acabados e deter-
gidas pelo novo contexto social.
minados. Ainda, foi assim que a maioria dos docentes que
hoje atuam no magistério superior vivenciou a universidade. O
Estratégias de ensino-aprendizagem êxito na introdução de uma inovação metodológica pode ser
atribuído, em grande parte, à competência e ao prestígio do
Entre os termos normalmente empregados para referir-se professor; todavia, mostra-se também relevante a estratégia
aos processos de ensino que o docente pode utilizar em sala empregada para inserir a inovação.15
de aula, encontram-se as palavras “estratégia”, “técnica” e
“método”, as quais podem ser consideradas sinônimos e, por- Palestra versus discussão
tanto, assim serão usadas neste capítulo.17 A palavra “estra-
Um questionamento muito habitual é de qual seria a estratégia
tégia” se originou do termo grego strategía e do latim estratégia,
que significa conjunto de manobras ou estratagemas usados de ensino-aprendizagem mais eficaz. Svinicki e McKeachie49
para alcançar um objetivo ou um resultado; a palavra “técnica” respondem com outra pergunta: “Eficaz para quê?”. Uma estra-
origina-se do termo grego technikós e refere-se ao conjunto tégia pode ser boa para determinados objetivos e não tão efi-
de métodos e processos de uma arte ou de uma profissão, ciente para outros.
maneira, jeito ou habilidade especial de executar ou fazer algo; Comparações são realizadas, frequentemente, entre a palestra
“método” é uma palavra que provém do termo grego methodos e
e a discussão como métodos de ensino. A palestra ou expo-
que se refere ao meio utilizado para chegar a um fim.
sição oral é útil para comunicar informações que são facilmente
O emprego de um método aplicável a todas as circunstâncias transmitidas na forma escrita e é superior à discussão quanto à
educacionais, que possa ser adotado para o ensino de todas as ordenação e apresentação de conteúdos. Após uma palestra, é
disciplinas, caracteriza a inexistência de um modelo único e uni- interessante e fácil fazer questionamentos que provoquem dis-
versal. A seleção de uma estratégia está relacionada a diversas cussão entre os estudantes, com produção de conhecimento.
perspectivas e objetivos pedagógicos importantes. Cada No entanto, uma das falhas mais cometidas pelos profes-
método tem um potencial didático diferente bem como limita- sores quando formulam perguntas é indagar questões que têm
ções específicas, não havendo “receitas didáticas”.15 somente uma resposta correta, que é conhecida pelo professor,
Para Bordenave e Pereira,15 alguns fatores são determinantes e não gera uma discussão. Ainda, a formulação de perguntas
na seleção da estratégia de ensino-aprendizagem, como a em um nível de abstração impróprio para uma determinada
experiência didática do professor, a etapa no processo de sala de aula implicará na participação de poucos estudantes,
ensino, o tempo disponível, a estrutura do assunto e o tipo de uma vez que o problema não apresentará significado para a
aprendizagem envolvido, facilidades físicas disponíveis, contri- maioria.49
66 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
As diferentes técnicas de dinâmicas de grupo são ferramentas A comunicação dialogada, que se inicia com a mensagem do edu-
que podem ser empregadas para alcançar o objetivo preten- cador, constitui um artifício que estimula a participação organizada
dido pelo professor, podendo ser modificadas ou adaptadas, dos estudantes, apresentando e discutindo os novos conheci-
quando se fizer necessário. Entretanto, existem técnicas de mentos, contrapondo os resultados e valorizando a investigação.
eficácia comprovada que o professor deve conhecer e experi-
Essa ação educadora prestigia o incentivo, estimula a reflexão
mentar antes da realização de modificações.15
e a criatividade do educando e destaca o papel do educador. As
Para o desenvolvimento do trabalho em grupo, faz-se neces- críticas à aula expositiva são provenientes das históricas expo-
sária a execução de atividades que objetivam aumentar a pro- sições dogmáticas, quando a mensagem deveria ser aceita de
dutividade, tais como: coordenação, controle do tempo, coleta modo incontestável e indiscutível, sem a participação dos estu-
e elaboração de informações e dados, tomada de decisões, dantes (passivos e receptivos), enquanto o educador exibia-se
resolução de problemas, construção de produtos, avaliação de como dominante dono da verdade. Mattos21 relaciona várias
métodos e resultados, síntese e exposição dos resultados. Ini- características para uma boa exposição (Quadro 5.7).
cialmente pode haver uma inibição no grupo para indicação do
O preparo antecipado da aula é essencial à correta exposição
papel de cada participante, mas, com o decorrer do trabalho, o
didática, propiciando o domínio integral do conteúdo progra-
próprio grupo o faz, desde que os estudantes tenham desen-
mático e favorecendo o incentivo e a motivação. O arranjo da
volvidas habilidades de redação, exposição oral ou liderança.
aula expositiva dialogada requer: definição clara dos objetivos;
Entretanto, o estabelecimento dos papéis pode ser realizado
seleção adequada dos conteúdos; organização sequencial e
por sorteio ou eleição mediada pelo professor, com o objetivo
transmissão do assunto em relação ao tempo; apresentação
de desenvolver novas habilidades.17
inteligente de exemplos; desenvolvimento de raciocínios;
É de fundamental importância que, antes da utilização de um e emprego correto dos recursos didáticos. A interligação do
método, o docente tenha claramente definido o seu objetivo. assunto com os demais deve ser naturalmente enfocada, che-
Bordenave e Pereira15 registram diversas estratégias de ensino- gando à conclusão pertinente aos objetivos propostos.
-aprendizagem com diferentes objetivos, os quais estão apre-
O estudante deve ser estimulado pelo professor a participar
sentados no Quadro 5.6.
desse momento de aprendizagem, exercitando a criatividade
Todos as estratégias de ensino-aprendizagem são válidas, e a reflexão. Provoca-se, desse modo, um diálogo aberto e
desde que aplicadas ativamente, favorecendo a reflexão e a ativo. Com perguntas, estabelecem-se comunicações, debates
análise crítica, tomando-se como parâmetro o que se pretende e explicações e, ainda, esclarecem-se dúvidas e evidenciam-se
alcançar.50 Várias classificações de métodos são encontradas, exemplos. Alguns cuidados devem ser tomados pelo pro-
dependendo da concepção de ensino de cada autor. Neste fessor, principalmente no que se refere ao valor da linguagem
capítulo, serão discutidas as estratégias de interesse e que (que deve ser simples, clara, objetiva, sem verbalismos e diva-
podem ser utilizadas no ensino da odontologia. gações) e ao abuso e à supervalorização no emprego de certos
recursos didáticos (dependência e exagero no emprego de
Aula expositiva dialogada slides, Data Show, etc.). A atenção da aula expositiva dialo-
A aula expositiva dialogada é uma estratégia que vem sendo gada deve se concentrar no professor e nos estudantes, e não
proposta para superar a tradicional palestra docente, sendo que nos fantásticos recursos auxiliares, dosando-se sua utilização.
o seu ponto de partida é o conhecimento prévio dos estudantes. O requinte desse procedimento didático sedimenta-se com
Apesar de haver muitas diferenças entre elas, a principal é a par- a perfeita interpretação do assunto, explorado de forma que
ticipação do estudante, que tem suas observações consideradas todos os ouvintes entendam, com clareza e honestidade, a
e analisadas. Primeiramente, o professor contextualiza o tema ponto de convencer o ministrante a buscar cada vez mais infor-
proposto, com objetivo de estimular o interesse do estudante, e mações que possam ser compreendidas por todos.
realiza a exposição oral, com a transmissão de informações con- Esse tipo de atividade permite exteriorizar algumas qualidades
dizentes ao conteúdo programático, de maneira lógica e sequen- do educador estimulando o poder de comunicação, o valor da
cial, mas permitindo o diálogo, com espaço para críticas e ques- interpretação do assunto da aula e sua transformação em men-
tionamentos. É imperioso o domínio do conteúdo teórico para sagem de fácil e rápido entendimento e receptividade. A apre-
que o “fio da meada” não seja interrompido com perguntas e sentação da aula expositiva dialogada impõe a necessidade de:
observações, e o professor não perca o controle do processo.17
1. Possuir conhecimento novo e estar aberto a expô-lo e
Para ter uma retroalimentação programada durante uma aula reconstruí-lo, com base biológica e científica.
expositiva de 60 minutos, o professor pode solicitar exemplos ou
2. Interpretar o tema em questão (podendo ou não ser com-
fazer três perguntas planejadas que conduzam o estudante a usar,
plexo e interessante), transformando-o em conhecimento
manipular e transformar o conteúdo da exposição, podendo ser as
simples, compreensível e de interesse aos estudantes
respostas individuais, por escrito, e entregues ao docente.15
(desmistificando o complexo e o desconhecido).
68 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
Quadro 5.6
Dar aos alunos, em uma classe numerosa, oportunidade de Phillips 66 Grupos de cochicho
participar, quer formulando perguntas, quer formulando respostas
e perguntas ou expressando opiniões e posições. Diade Times de observação
Meditar coletivamente sobre um tema importante, com a ajuda de obras Reflexão ou círculo de estudos
e pessoas para consulta, a fim de chegar a uma tomada de posição.
Enfrentar pessoas com ideias opostas para que de sua confrontação Debate
surjam subsídios para orientar as opiniões do público presente.
Painel de oposições
Desenvolver a capacidade analítica e preparar-se para saber enfrentar situações Estudo de casos
complexas, mediante o estudo coletivo de situações reais ou fictícias.
Demo27 questiona a aula reprodutiva fútil e inócua e demarca o • Prender a atenção do educando com exposição ativa, aberta
papel da aula não reprodutiva. Deve-se valorizar a aula recons- e dialogada, discutindo sua importância e aplicação
trutiva e interpretativa. A aula deve se mostrar como expressão
autopoética, de dentro para fora, ser um processo dinâmico, • Estimular a reflexão, a criatividade e a
investigação de novos conhecimentos
complexo e não linear, buscando a autonomia do aluno. “A
aula deve influenciar o aluno de tal modo que ele não se deixe
• Demonstrar segurança nos conhecimentos transmitidos,
influenciar”.51 “O processo educativo se instala de dentro, expondo ideias e trabalhos bem embasados cientificamente
quando os dois lados se comportam como sujeitos envol-
vidos em dinâmicas recíprocas, nas quais a influência precisa • Fazer demonstrações oportunas
tornar-se libertadora, não cerceadora”.27
O Quadro 5.8 expressa os aspectos necessários à adequada • Explorar corretamente os recursos didáticos
aula expositiva dialogada.52
• Valorizar a apresentação (linguagem acessível,
A energia e a vibração das palavras do professor devem induzir simples, direta, pronúncia correta em tom adequado,
disposição contagiante e ação motivadora nos estudantes, boa velocidade, com palavras transmitidas com
entusiasmo e variação de tonalidade)
transformando o interesse pelo assunto, enriquecendo e edifi-
cando a exposição, favorecendo a explicação e compreensão.
• Concluir mantendo correlação com os objetivos,
A inter-relação harmônica, profissional e científica qualifica o
enfatizando as ideias principais
sentido da aula expositiva como valioso recurso didático para o
ensino e o aprendizado de novos conhecimentos.
• Respeitar o tempo de exposição
A avaliação da aprendizagem pode ser realizada pela parti-
cipação dos estudantes e por meio de formas diferentes de • Comprometer-se com a aprendizagem
síntese da exposição oral, a qual pode ser escrita, oral, pela
entrega de perguntas, respostas, esquemas, portfólio, comple- • Ser bem construída/ reconstruída
Fonte: Paula.52
70 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
Ao final da dramatização, o professor pode solicitar aos estu- a sua seleção conforme o critério combinado, o qual pode ser,
dantes a identificação oral dos pontos-chave do conteúdo, por exemplo, a possibilidade de execução das ideias, ou a efi-
realizar a teorização e convocar os estudantes a exporem suas cácia a curto, médio e longo prazo. Ao final, cada ideia, palavra
conclusões. A avaliação do desempenho do grupo e da aprendi- ou frase pode ser desenvolvida, explorada e transformada pelo
zagem pode ser realizada pelo professor e pelos colegas. Essa professor, sendo que o tempo estabelecido para a atividade
estratégia possibilita o desenvolvimento de habilidades como deve ser de 10 minutos a 1 hora.15,17
criatividade, oratória, liberdade de expressão e desinibição.15,17
Mapa conceitual
Phillips 66
O mapa conceitual consiste na construção de um diagrama
Nessa estratégia, os estudantes são agrupados em número de que indica a relação de conceitos em uma perspectiva bidimen-
seis, sendo concedido um minuto para cada grupo escolher sional, procurando demonstrar as relações hierárquicas entre
um líder que ao mesmo tempo exerça o papel de secretário e os conceitos e a estrutura do conteúdo abordado.17
relator. Deve ser explicado que cada grupo tem seis minutos
para discutir o assunto, formular ou responder às perguntas ela- O mapa conceitual pode configurar-se como uma estra-
boradas pelo professor, o qual define se a tarefa deve ser feita tégia de ensino-aprendizagem ou uma ferramenta avaliativa,
verbalmente ou por escrito. Ao final, em seis minutos, o líder ou entre outras diversas possibilidades. Todavia, deve ser com-
relator de cada grupo apresenta ao grupo maior, disposto em preendido e ligado a uma proposição teórica clara e de metas
círculo, o resumo das perguntas ou respostas, sugere a melhor previamente estabelecidas.53,54 Apesar de ser considerado
solução representativa, em caso de problema, ou expõe os uma importante ferramenta auxiliar no ensino-aprendizagem, o
pontos principais discutidos conforme a proposta do professor, mapa conceitual ainda é muito pouco utilizado na educação.52
sendo o momento da socialização.15,17 Segundo Paiva e Freitas,55 a construção de um mapa conceitual
Essa é uma técnica em que a objetividade é bastante estimulada, pode ser a partir de leitura de artigos ou livros, conhecimentos
portanto, os estudantes devem conhecer claramente o objetivo prévios ou construções cooperativas. Para a construção do
da discussão e preparar-se para serem concisos e breves em mapa conceitual a partir de leitura de artigos ou livros, podem
suas intervenções. Um fator positivo é a possibilidade de ser uti- ser seguidos os seguintes passos: 1) leitura inicial do texto para
lizada em salas de aula com número maior de estudantes, além a compreensão geral do assunto; 2) releitura destacando-se os
de permitir excelente feedback ao professor a respeito de dúvidas conceitos mais importantes; 3) retirada de palavras ou expres-
dos estudantes sobre o conteúdo abordado.17 sões destacadas e organização em arquivo digital ou em folha
de papel; 4) conexão entre as palavras com verbo ou expressão
Tempestade cerebral que caracteriza ação, sendo importante as conexões atribuírem
significado às palavras ou frases interligadas; e 5) reorgani-
Na estratégia da tempestade cerebral, existe a possibilidade
de estimular a geração de novas ideias de forma espontânea zação dos conceitos de forma que as interligações estabele-
e natural. Geralmente, é utilizada como uma técnica de mobili- cidas fiquem claras.
zação, com o objetivo de despertar nos estudantes uma rápida A construção do mapa conceitual a partir de conhecimentos
vinculação com o conteúdo de estudo. Deve-se partir do pressu- prévios pode ser executada da seguinte maneira: relação dos
posto de que não há palavras ou expressões certas ou erradas: vários conceitos que têm ligação com o conteúdo a ser abor-
todas devem ser consideradas manifestações, solicitando-se, se dado; organização das palavras ou expressões em arquivo
necessário, uma explicação posterior do educando.17 digital ou em uma folha de papel; conexão entre as represen-
De acordo com Bordenave e Pereira,15 esse método fun- tações dos conceitos com verbo ou expressão que caracteriza
damenta-se na proposta de obter ideias em estado nascente, ação; e reorganização dos conceitos de forma que as interliga-
antes de serem submetidas aos esquemas fechados e rígidos ções fiquem claras.55
dos processos do pensamento lógico, ao mesmo tempo em As construções cooperativas do mapa conceitual requerem: dis-
que é estabelecida a regra de que cada estudante é capaz de cussão prévia a respeito do tema ou da leitura realizada; que
produzir ideias. Para tanto, em lugar de proceder com a análise cada componente do grupo indique um conceito a ser listado
crítica dos elementos, solicita-se ao grupo que se manifeste es-
(esta etapa pode ser repetida quantas vezes forem necessário);
pontaneamente, evitando o controle.
seleção das palavras ou expressões a serem exploradas com
A estratégia pode ser aplicada deixando os estudantes se verificação de reincidência; organização das palavras ou expres-
expressarem oralmente ou escreverem palavras ou frases sões em arquivo digital ou em folha de papel; conexão entre
curtas no quadro ou em cartazes sugeridas pelo conteúdo pro- as representações dos conceitos com verbo ou expressão que
posto. O professor ou o secretário de cada grupo deve registrar caracteriza ação, sendo que as conexões devem dar significado
e organizar a relação de ideias ou palavras espontâneas e fazer aos dois conceitos interligados; e reorganização dos conceitos.55
5 // Sala de aula contemporânea 71
O professor poderá aplicar a estratégia do mapa conceitual pro- São descritas como vantagens oferecidas pelo uso do portfólio
pondo ao estudante a ação individual e, em seguida, compar- o desenvolvimento do pensamento reflexivo, de modo que
tilhar os mapas conceituais coletivamente, comparando-os e o estudante perceba que é responsável pelo seu processo de
complementando-os. O fundamental é a identificação dos con- aprendizagem; a possibilidade de aprendizagem individual de
ceitos básicos e das conexões entre eles, sendo que o resultado acordo com necessidades e condições de cada um; e o acom-
leva à elaboração de uma representação gráfica semelhante a panhamento da construção do conhecimento do discente pelo
uma teia.17 professor durante todo o processo, bem como das dificuldades
apresentadas, sendo possível a proposição de soluções ime-
Portfólio diatas.16,17 No entanto, para o alcance dos objetivos estabele-
Originalmente, o termo “portfólio” provém do italiano portafo- cidos, a estratégia requer um alto grau de comprometimento e
glio, que significa “recipiente onde se guardam folhas soltas”. No organização do professor e do estudante.
contexto educacional, refere-se à identificação e à construção de
registros, análise, seleção e reflexão das produções mais signi-
Estudo dirigido
ficativas ou da determinação dos maiores desafios em relação É uma atividade realizada com roteiros previamente traçados
ao conteúdo de estudo, assim como das formas de superação.17 pelo professor, conforme a necessidade do estudante ou da
turma. A atividade obedece a um planejamento e roteiro, desti-
Danielson e Abruptin56 apresentam três tipos de portfólios:
nados a leitura e interpretação de artigos, capítulos de livros ou
display, demonstrativos e de avaliação do trabalho. Os deno-
casos clínicos.52
minados display são utilizados para documentar as atividades
executadas em sala de aula. O portfólio de demonstração de O estudo parte de um texto selecionado pelo professor,
trabalho é aquele que exibe os melhores trabalhos realizados tratando-se, porém, de uma leitura ativa. Quando bem pla-
pelo estudante, os quais podem selecionados pelo professor, nejado, o estudo dirigido tem várias funções positivas, como
pelo estudante ou por ambos. O portfólio de avaliação permite motivar os estudantes, desenvolver a capacidade analítica,
uma visão do progresso do estudante, relacionando-o com ensinar a integrar ideias, excitar o talento criador ao oferecer
os objetivos pretendidos, e auxilia na determinação de novas oportunidades de manifestações pessoais de tradução, interpre-
metas a serem alcançadas. tação e extrapolação. De acordo com Bordenave e Pereira15, as
etapas compreendidas no planejamento do estudo dirigido são:
A utilização do portfólio como técnica de ensino-aprendizagem
1) síncrese, a qual representa a visão global, sincrética do texto,
exige uma preparação por parte do professor, podendo ser
mediante normas oferecidas pelo professor; 2) análise, estágio
seguidas as subsequentes etapas: 1) estabelecer as formas de
em que professor formula questões para serem respondidas
registro, as quais podem ser escritas manualmente ou digi-
pelo estudante; e 3) síntese, a qual deve ser construída a partir do
tadas; 2) solicitar que o material seja identificado com dados
que foi lido e assimilado, por meio de proposição de problemas
como nome, ano/semestre, data e disciplina, podendo ser in-
práticos a serem resolvidos ou elaboração de conclusões.
cluídas fotos que demonstrem o momento que o acadêmico
vivencia; 3) incluir orientações de formatação de trabalho cien- O estudo dirigido propõe tanto atividades individualizadas
tífico, tais como capa, sumário, etc.; 4) esclarecer que deve ser como grupais, como, por exemplo, leitura individual de um
escrito em apenas um lado da folha, deixando o outro como texto a partir do roteiro elaborado pelo professor, seguida de
espaço para o diálogo com o professor; 5) informar que os resolução em grupo de questões ou situações-problema. No
relatos podem ser renomeados e que os registros podem caso de grandes grupos, o debate sobre o tema estudado pode
conter trabalhos de pesquisa, textos individuais/coletivos, ser empregado, permitindo a socialização do conhecimento, a
considerados interessantes, e sempre acrescidos de reflexão; reflexão e o posicionamento crítico dos estudantes. Entre as
7) requerer que o estudante anote avanços e dificuldades pes- ações que competem ao professor estão acompanhar e regular
soais percebidos; 8) inserir uma ficha de avaliação do desem- o tempo necessário ao desenvolvimento de cada etapa, escla-
penho pessoal e do professor.16,17 recer dúvidas, observar os resultados, discuti-los com perspec-
tiva de novos estudos e investigações e solicitar conclusões por
Nessa estratégia, compete ao docente proceder às leituras,
parte dos estudantes. A avaliação pode ser realizada pelo pro-
identificar avanços e realizar críticas favoráveis à aprendizagem.
fessor de acordo com a produção do educando durante a exe-
Podem ser utilizados como indicadores gerais para avaliação do
cução das atividades propostas.17
portfólio, por exemplo, organização, documentação e demons-
tração do conhecimento do estudante sobre o conteúdo desen- A motivação e o empenho do estudante em executar essa
volvido; presença de reflexões sobre os temas; evidências que estratégia favorecem a dinâmica da atividade. Dessa forma,
demonstrem como o progresso aconteceu; demonstração do observa-se o surgimento de atividades estimuladoras ao tipo
conhecimento obtido e a sua aplicação; e reflexões do estu- de estudo, hábitos de leitura e trabalho, análise e interpretação
dante com os indicadores do desenvolvimento de competên- de texto, método de estudo com ação reflexiva, observadora,
cias conceituais, atitudinais e procedimentais.57 de treinamento, para a execução de síntese, conclusão e res-
72 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
soluções e reproduzir conhecimentos por conta própria, desen- O que o texto apresenta com relação à unidade
e ao que meus alunos precisam?
volvendo a capacidade de análise e observação.
Como vou apresentar o texto aos alunos?
As instruções para o educando adiante da realização e do pro-
cessamento das atividades dirigidas devem ser claras e pre- 3. Análise do texto
cisas, favorecendo certa independência. O modelo de estudo
Quais os termos novos?
deve ser adequadamente orientado com objetivos definidos e
resultados previsíveis diante do conteúdo em questão. Quais conhecimentos novos o texto traz de forma clara?
Quais conhecimentos novos o texto
Alguns verbos podem ser empregados na busca de exploração traz, mas exigem explicação?
do assunto, como: classificar, seriar, relacionar, analisar, reunir,
Há possibilidades para os alunos fazerem associações?
sintetizar, localizar, representar, conceituar, definir, provar,
transpor, julgar, induzir, deduzir.58,33 Há possibilidades para relacionar, raciocinar?
Qual é a extensão do texto?
Haydt59 relata que a técnica de estudo dirigido foi apoiada em
Há necessidade de adaptação,
seu conceito teórico em Piaget, ou seja, na concepção constru-
condensação ou reestruturação?
tivista, quando explicou relações entre a ação efetiva e as ativi-
dades cognitivas na construção do conhecimento. 4. Elaboração das questões
Para uma aplicação mais efetiva da estratégia, Bordenave A. Orientar a leitura quanto a:
e Pereira15 propõem que o estudo dirigido seja dividido nas • terminologia, fatos, conceitos,
seguintes partes: 1) trabalho individual, tempo de 20 minutos, classificação, análise, crítica.
para leitura do texto com evidenciação de informações interes- B. Orientar a assimilação dos conhecimentos e
santes e palavras novas, buscando o seu significado; 2) trabalho o desenvolvimento de habilidades, mediante
individual, tempo de 25 minutos, para responder às questões a formulação de perguntas que exijam:
elaboradas pelo professor; 3) trabalho em grupo, tempo de 30 • respostas com elaboração mental,
minutos, para discussão das perguntas da parte 2 e respostas revisão de classificação, formulação de
esquema, relação entre fatos;
para as questões da parte 3; 4) painel de correção, tempo de 20
• explicação dos termos;
minutos. O Quadro 5.9 demonstra como o professor pode ela-
• síntese;
borar um estudo dirigido.15
• elaboração de conceitos próprios, extrapolação;
Para Anastasiou e Alves,17 o estudo dirigido pode também • interpretação de símbolos, legenda, gráfico;
tratar-se de um processo avaliativo eminentemente diagnós- • crítica ou avaliação;
tico, sem preocupação classificatória. Nesse contexto educa- • conhecimentos apresentados no texto e, mais
cional, essa estratégia requer a identificação dos estudantes ainda, a associação de conhecimentos adquiridos
anteriormente, requerendo o uso de habilidades
que necessitam complementar conteúdos não dominados do intelectuais. Podem ser usadas questões abertas,
programa de aprendizagem proposto. O professor pode, então, ordens diretas, perguntas de múltipla escolha,
selecionar o tema, referindo-se a aspectos pontuais de dificul- perguntas verdadeiro-falso ou a técnica de lacunas.
em no máximo uma hora e meia, sendo destinados de 15 a 20 O professor pode reinterpretar algumas afirmações que consi-
minutos para cada apresentação; 2) o professor é o responsável derar pouco claras, com intervenções como: “deixe-me ver se
pela indicação das bibliografias a serem consultadas por cada compreendi o que você quis dizer...”. Dentro de determinados
grupo para evitar repetições; 3) cada pequeno grupo indica seu intervalos de tempo, o professor pode fazer também um resumo
representante, que exercerá a função de apresentador e com- do estado da discussão. A primeira etapa do painel deve ser
porá a mesa; 4) durante a exposição, os apresentadores não encerrada quando o interesse do grupo maior ainda está no auge,
devem ser interrompidos; 5) o grande grupo assiste à apresen- isto é, antes que a discussão comece a perder o dinamismo.
tação do assunto anotando perguntas e dúvidas e encaminhan-
Na segunda etapa, o professor concede a palavra aos estu-
do-as para o coordenador da mesa; e 6) não há necessidade de
dantes que estão assistindo, esclarecendo que podem formular
fechamento de ideias.
perguntas, dirigindo-as ao moderador, que as encaminha a um
Painel painelista de sua escolha. A distribuição de cartões para que as
perguntas sejam realizadas por escrito também pode ser utili-
O painel constitui uma discussão informal de um grupo de auto- zada. Se o número de estudantes é grande, uma alternativa é
ridades no assunto em análise. Como a discussão é informal e
dividi-los em grupos menores para que elaborem perguntas
ativa, desperta maior interesse dos estudantes. O objetivo pri-
coletivamente.15
mordial é auxiliar na análise de diferentes aspectos de um pro-
blema (ou tema), não necessariamente tendo que chegar a con- Para encerrar o painel, o professor menciona o tempo utilizado,
clusões ou soluções. apresenta um resumo das posições e dos pontos principais e
agradece os painelistas e a turma pela participação.14 Para a
As atividades do painel são coordenadas por um moderador
avaliação dos estudantes, painelistas e ouvintes, podem ser
que planeja e orienta os painelistas sobre a estratégia (tempo de
considerados critérios como habilidade de atenção e concen-
exposição, áreas de discussão, sequência de assuntos e limite
tração, síntese de ideias, consistência de argumentos e nível
do tempo), bem como apresenta os objetivos da discussão.
das perguntas elaboradas.17
De acordo com os critérios utilizados na seleção dos paine-
listas, o painel poderá ser composto por um grupo de estu- Estudo de casos
dantes, indicados pelo professor, que estudaram o conteúdo
O estudo de casos é uma estratégia desenvolvida por um grupo,
e se interessam por ele; por estudantes de outros anos; por
pessoas interessadas no assunto ou/e em posições antagô- que apresenta uma situação real (ou hipotética) que necessita
nicas; ou, ainda, por especialistas. Podem ser destacados dois ser investigada, sendo desafiadora para os envolvidos. Essa téc-
tipos de painéis: painel de interrogação, em que um ou dois nica possibilita a análise, a discussão e a busca de alternativas
especialistas são interrogados sobre o assunto, e painel de para a solução de um problema. A descrição e a apresentação
oposição, em que os painelistas confrontam pontos de vista do caso permitem transportar uma situação real (clínica) para
sob a coordenação do moderador. O tempo para discussão não que o educando (ou participante) interprete, reflita e deduza
deve ser fixo, de modo que o professor pode limitá-lo ou pro- sobre um determinado assunto. A participação ativa e dinâmica
longá-lo de acordo com o dinamismo da discussão; entretanto, do estudante favorece a aproximação entre o fato teórico e o
não deve exceder uma hora e meia.15,17 fato real, incentivando e permitindo maior compreensão.8
A dinâmica do painel pode seguir a sequência técnica apresen- Para a preparação do caso podem ser utilizados jornais,
tada15 a seguir ou ser modificada de acordo com os objetivos do revistas, textos didáticos ou experiências do professor. Borde-
professor. Cinco a oito convidados posicionam-se, sem formali- nave e Pereira15 distinguem no estudo de casos dois tipos, de
dade, em semicírculo, diante da sala de aula ou ao redor de uma acordo com os objetivos: o caso-análise (que estimula a capa-
mesa. A seguir, inicia-se a estratégia informando aos painelistas cidade analítica) e o caso-problema (que estimula a capacidade
o tempo (2 a 10 minutos) de que dispõem para fazer uma breve de tomar decisão).
exposição ou apresentando uma pergunta geral e estimulando
A atribuição do docente é selecionar o material de estudo,
os painelistas a respondê-la. O professor, como moderador da
apresentar um roteiro para o trabalho, orientar os grupos no
atividade, pode fazer questionamentos, procurando constante-
decorrer da atividade e elaborar instrumentos de avaliação,
mente manter a discussão envolvente, informal e útil, mas sem
enquanto a do aluno é apresentar proposições para mudança
expressar opiniões próprias. Deve ser evitado que a discussão
na situação analisada.17
saia do tema ou que a personalidade de algum dos participantes
crie conflitos, seja falando por muito tempo ou usando expres- As seguintes etapas podem ser empregadas para o estudo de
sões negativas. Diversas intervenções podem ser realizadas casos:15,17 1) o professor expõe aos participantes, na forma de lei-
com o objetivo de manter a discussão interessante, como, por tura, apresentação oral ou distribuição por escrito, o caso a ser
exemplo: depois de escutar um painelista, o professor pode per- estudado, que pode ser um para cada grupo ou o mesmo para
guntar a outro colega: “E você concorda com essa opinião?”. todos; 2) o professor relata seus pontos de vista e os aspectos
5 // Sala de aula contemporânea 75
sob os quais o problema deve ser abordado; 3) cada grupo previamente estudado pelos participantes. A seguir, deve expor
inteira-se do caso, por um período de tempo determinado, a dinâmica selecionada: 1) um estudante faz o papel de juiz, cuja
anota os fatos que consideram mais importantes e elabora per- função é controlar o tempo das apresentações e das argumen-
guntas ou expressa as dúvidas suscitadas; 4) a discussão é ini- tações, e outro, o papel de escrivão, com a atribuição de relatar
ciada com o professor fazendo uma pergunta e concedendo, a síntese do que é apresentado, antes do encerramento. O res-
sucessivamente, a palavra aos que a solicitem; 5) o estudante tante da turma é dividido em outros quatro grupos: promotoria,
deve justificar suas proposições mediante a aplicação dos ele- defesa, conselho de sentença e os demais estudantes com-
mentos teóricos de que dispõe; 6) após cada intervenção, o põem o plenário; 2) a promotoria e a defesa devem ter tempo
professor realiza comentários, reinterpretações ou novas per- para preparar as apresentações orais, sob orientação do pro-
guntas; 7) ao final do período planejado, o professor expressa as fessor, e cada parte tem 15 minutos para apresentar seus argu-
soluções discernindo as melhores conclusões. mentos; 3) o conselho de sentença, após ouvir os argumentos
Essa atividade é, geralmente, empregada em cursos de espe- de ambas as partes, apresenta a decisão oral e de forma justifi-
cialização, porque apresenta uma característica que privilegia cada; 4) no final, a discussão do assunto pode ser aberta para os
a dinâmica clínica, por favorecer o aprendizado, discutindo as estudantes que compõem o plenário.56
hipóteses de diagnóstico e as terapêuticas diante de diferentes
situações clínicas. Grupo de verbalização e de observação
O grupo de verbalização e observação é uma estratégia apli-
Oficina (laboratório ou workshop) cada com sucesso ao longo do processo de construção do
A oficina consiste em uma reunião de um pequeno número de conhecimento e, nesse caso, requer leituras e estudos prelimi-
pessoas com interesses comuns, a fim de estudar e trabalhar para nares. O grupo de verbalização e de observação constitui-se na
o conhecimento ou o aprofundamento de um tema, sob orien- abordagem de um conteúdo sob a coordenação do professor.
tação de um especialista.17 A palavra em inglês workshop significa É uma estratégia que pode ser utilizada quando o número de
laboratório, indicando a natureza eminentemente prática e, por estudantes é elevado, sendo, porém, conveniente limitar cada
esse motivo, tem sido uma estratégia de ensino cada vez mais grupo a um máximo de 15 participantes.17
comum e utilizada em congressos e cursos de pós-graduação A dinâmica em sala de aula é suscetível a diversas adaptações e
stricto sensu, pois, além de favorecer a atualização de conheci- pode ser empregada da seguinte forma: 1) a turma é dividida em
mentos, desenvolve habilidades psicomotoras.15
dois grandes grupos; 2) a cada grupo é distribuído um conteúdo,
O professor organiza o grupo e providencia com antecedência previamente ao dia da atividade, para que possam estudá-lo
o espaço físico e o material didático necessário. A atividade e preparar uma apresentação oral de 10 minutos; além disso,
pode ser desenvolvida por meio de variadas dinâmicas, como: cada estudante do grupo prepara um material escrito na forma
estudos individuais, consulta bibliográfica, palestras, discus- de quadro, diagrama ou fluxograma; 3) no dia da atividade, os
sões, resolução de problemas e atividades práticas. Ao final, os dois grupos, de verbalização e de observação, são organizados
estudantes devem apresentar a materialização das produções.17 em dois círculos, um interno e outro externo, um estudante de
frente para o outro; 4) em um primeiro momento, cada membro
Na odontologia, o desenvolvimento dessa estratégia tem sido
do grupo interno expõe e entrega o material que elaborou para o
representado por uma demonstração clínica ou por uma ativi-
membro do grupo externo à sua frente, enquanto isso cada par-
dade laboratorial de um determinado procedimento. Em con-
ticipante do grupo externo observa, registra e avalia a exposição;
junto com o desenvolvimento da atividade, o ministrante apre-
5) no momento seguinte, todos os estudantes do grupo externo
senta a técnica ou o procedimento, e concluído o caso, abrem-se
movimentam-se para a cadeira à sua direita, permanecendo em
oportunidades para prática laboratorial, discussão e debate.
frente a outro colega do grupo interno e passando a oferecer
Júri simulado sua contribuição, ficando o grupo interno na escuta, no registro
e na avaliação; 6) em seguida, mais uma vez o grupo externo
Essa técnica consiste na simulação de um júri em que, a partir movimenta-se para a direita, e os estudantes do grupo interno,
de um problema, são apresentados argumentos de defesa e de
utilizando o material recebido, verbalizam o que compreen-
acusação. A estratégia pode ser realizada com dramaturgia, o
deram da exposição do colega anterior, enquanto o membro do
que deixa a atividade interessante a todos, independentemente
grupo externo complementa e esclarece dúvidas se necessário;
do papel que representarão. Essa técnica envolve momentos
7) no momento seguinte, após mais uma rotação, o membro do
de construção do conhecimento, desde a mobilização até a sín-
grupo externo tem a oportunidade de verbalizar o que compre-
tese, e possibilita o envolvimento de um número elevado de
endeu, a partir da exposição e do material recebido do membro
estudantes.17
oponente; 8) divide-se o tempo conforme a capacidade do tema
O professor deve apresentar claramente a meta da estratégia, em manter os estudantes mobilizados; 9) o fechamento é papel
a partir de um problema concreto e objetivo, de um conteúdo do professor e deve contemplar os objetivos propostos.17
76 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
de maneira que a pesquisa seja identificada como parte impor- Mesmo no ensino a distância, o docente ainda trata os estu-
tante do processo de aprendizagem. A dinâmica inicial em sala dantes como receptores de informação, apenas reafirmando o
de aula pode ser uma exposição do conteúdo a ser estudado, que tem sido feito até hoje.33
de forma controversa, e que os estudantes sejam desafiados
É evidente que a evolução das tecnologias de informação e
a buscar na literatura ou em campo um caminho a ser seguido.
comunicação, que está revolucionando os processos de ensino
É de fundamental importância para o sucesso da metodologia
e aprendizagem, não se restringe ao uso do computador ou do
que o estudante compreenda o que deve investigar e por quê.17
Data Show em sala de aula, estende-se aos estudantes com
Pensar o ensino com pesquisa no mundo contemporâneo, no perceptível impacto em seus processos cognitivos.
qual o volume de informações cresce extraordinariamente,
Os estudantes da chamada “geração digital”32,67 evitam acom-
significa compreender o papel do professor na perspectiva do
panhamento de argumentos lineares, que não permitem inter-
aprender a aprender. A pesquisa em termos de estratégia rea-
ferência, e lidam facilmente com a diversidade de conexões,
lizada para aprender é algo que deve transformar-se em rotina
modificando, produzindo e compartilhando conteúdos. A interati-
na vida acadêmica, sem relação com atividades desenvolvidas
vidade é a modalidade de comunicação que tem centralidade na
em laboratórios ou cursos de pós-graduação.65 Demo66 afirma
cibercultura. Essa atitude diante da mensagem é uma exigência
que o conceito de pesquisa é polêmico, sendo, pois, importante
da sala de aula contemporânea na educação universitária.32
delimitá-lo. Primeiramente, deve-se distinguir a dupla face do
significado: a científica, normalmente mais evidenciada, em que Para Assmann,30 as novas tecnologias não substituirão o pro-
aparece a produção de conhecimento por meio de artigos; e a fessor nem diminuirão a necessidade do esforço disciplinado
educativa, que engloba a capacidade de questionar a realidade, de estudo do estudante. Assim como a produção de dados não
aplicar o conhecimento e intervir na prática. Segundo, pesquisa estruturados não conduz automaticamente à criação da infor-
não se reduz a produtos e momentos, mas a atitudes básicas e mação, informação não é sinônimo de conhecimento. Toda
cotidianas de investigação e questionamento crítico e autocrí- informação tem de ser classificada, analisada, estudada e pro-
tico diante da realidade. A pesquisa deveria fazer parte de todo cessada a fim de gerar saber. Ensinar e aprender com o digital
processo educacional.66 é, portanto, o mais recente desafio para os professores, ao
mesmo tempo essencial para a inclusão das salas de aula na
Outras atividades didáticas que fornecem mais diretamente ao
cibercultura.33
aluno oportunidades de desenvolver as qualidades de investi-
gador são: pesquisa e prática de campo, métodos de projeto, A evolução tecnológica possibilitou também extraordinário
construção de modelos e simulações.15 avanço nas neurociências e no conhecimento sobre o processo
de aprendizagem. Ao longo dos últimos anos, foram inúmeras
as descobertas sobre o cérebro e seu funcionamento. A apro-
Considerações finais priação do conhecimento sobre os mecanismos da atenção,
da memória, sobre as relações entre cognição, emoção, moti-
Na medida em que, na educação tradicional, o estudante foi
vação e desempenho, bem como sobre as dificuldades de
caracterizado como o único que aprende, não foi possível
aprendizagem e as intervenções a elas relacionadas, contribuirá
pensar na possibilidade de que os professores também apren-
em muito para o cotidiano do educador em sala de aula.4,37
dessem. A idealização do professor como detentor, guardião e
transmissor do saber reduziu ainda mais as possibilidades de No entanto, saber como o cérebro aprende não é suficiente
aprendizado e de aproximação com um conhecimento em con- para a “mágica do ensinar a aprender”.4 É necessário que o pro-
tínuo aprimoramento.1 fessor possua uma sólida e atualizada formação científica, bem
como critérios para o planejamento do ensino, entre os quais
Com o processo de ensino centralizado na memorização e na
devem estar ressaltadas as habilidades e potencialidades do
reprodução, acreditava-se que o estudante desenvolveria por
estudante como fatores determinantes.
conta própria a habilidade de selecionar informações rele-
vantes, planejar o estudo e monitorar o próprio progresso. Muitas questões continuam ainda sem resposta, como, por
Entretanto, evidenciou-se que isso não ocorreu.3,4 No contexto exemplo, por que alguns estudantes se adaptam melhor a
do mundo moderno, com os avanços tecnológicos e agravado uma determinada metodologia pedagógica do que a outra. Um
pelo dilúvio da informação, o resultado é a sala de aula cada vez diálogo entre educação e as neurociências é desejável e neces-
mais sem atrativos e estudantes mais desinteressados no seu sário, evidenciando a importância da realização de pesquisas
modelo clássico.3,4,34 transdisciplinares.
A sala de aula tradicionalmente baseada na oratória do pro- O mundo contemporâneo requer que o educador estimule
fessor tem sido cada vez mais questionada, em seu sentido a criatividade e o desenvolvimento de um pensamento autô-
unidirecional associado ao perfil de um estudante que perma- nomo e crítico, que seja capaz de fomentar o prazer pela apren-
nece demasiado tempo inerte, olhando, ouvindo e copiando. dizagem e por hábitos que permitam ao estudante construir
78 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
seu conhecimento no contexto da educação permanente, for- 11. Pimenta SG, Anastasiou LGC. Docência no ensino superior. 4. ed. São
Paulo: Cortez; 2010.
mando profissionais interessados na inovação científica e tec-
nológica.1 Nessa perspectiva, mostra-se evidente a necessi- 12. Rodrigues LP, Moura LS, Testa E. O tradicional e o moderno quanto à
didática no ensino superior. Rev Cient ITPAC. 2011;4(3):1-9.
dade de que o docente realize uma reflexão sobre a sala de aula
contemporânea, aproprie-se dos novos conhecimentos sobre 13. Pimenta SG. O estágio na formação de professores: unidade teórica e
prática? 3. ed. São Paulo: Cortez; 2005.
cibercultura, mídia, educação e neurociências e modifique seus
métodos de ensino, sem, no entanto, minimizar sua autoria, 14. Masetto MT. Competência pedagógica do professor universitário. São
Paulo: Summus; 2003.
vontade e ousadia.33
15. Bordenave JD, Pereira AM. Estratégias de ensino-aprendizagem. 33. ed.
Diversas estratégias de ensino-aprendizagem, com particulari- Petrópolis: Vozes; 2015.
dades distintas, têm sido propostas. Embora tenham sido apre- 16. Alvarenga GM, Araújo ZR. Portfólio: conceitos básicos e indicações para
sentadas, neste capítulo, as de maior emprego na odontologia, utilização. EAE. 2006;17(33):137-48.
cabe ao educador a seleção da que melhor convier, de modo a 17. Anastasiou LGC, Alves LP. Processos de ensinagem na universidade:
oferecer subsídios adequados diante dos objetivos propostos, pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 5. ed. Joinville:
do número e do nível dos alunos, do tempo disponível e do Univille; 2009.
4. Cosenza RM, Guerra LB. Neurociência e educação: como o cérebro 33. Silva M. De Anísio Teixeira à cibercultura: desafios para a formação
aprende. Porto Alegre: Artmed; 2011. de professores de ontem, hoje e amanhã. Boletim Técnico do SENAC.
2003;29(3):31-41.
5. Ramal AC. Avaliar na cibercultura. Pátio. 2000.
34. Silva M. Educação presencial e online: sugestões de interatividade na
6. Semler R, Dimenstein G, Costa ACG. Escola sem sala de aula. Campinas: cibercultura. São Paulo: ABCiber Dez; 2009.
Papirus; 2004.
35. Bévort E, Belloni ML. Mídia-educação: conceitos, história e perspectivas.
7. Chedid KAK. Hora de repensar a escola. Rev Neuroeduc. 2016;7:60-5. Educ Soc. 2009;30(109):1081-102.
8. Carvalho IM. O processo didático. Rio de Janeiro: FGV; 1972. 36. Guerra LB. O diálogo entre a neurociência e a educação: da euforia aos
desafios e possibilidades. Interlocução. 2011;4(4):1-10.
9. Haydt RCC. Curso de didática geral. São Paulo: Ática; 2011.
37. Rato JR, Caldas AC. Neurociências e educação: realidade ou ficção? Por-
10. Otão J. Didática do ensino superior. Porto Alegre: La Salle; 1965.
tugal: Universidade de Minho; 2010.
5 // Sala de aula contemporânea 79
38. Oliveira GG. Neurociências e os processos educativos: um saber neces- 53. Rebes DSC. Mapas conceituais: uma metodologia inovadora para intro-
sário na formação de professores. Educação. 2014;18(1):13-24. duzir conceitos matemáticos no ensino médio. Rev Bras Educ Saúde
Pombal. 2011;1(1):19-26.
39. Morales MN. La educación necesita de las neurociencias. Chile: Univer-
sidad Del Mar; 2009. 54. Sakai MH, Lima GZ. PBL: uma visão geral do método. Olho Mágico.
1996;2(3).
40. Entwistle N. La comprensión del aprendizage em el aula. Barcelona:
Paidós; 1988. 55. Paiva MAV, Freitas RCO. O uso de mapas conceituais como instrumento
de apoio à aprendizagem da matemática. Sapientia. 2005;4:10-7.
41. Silva MM, Bezerra EL. Contribuições das neurociências ao processo de
ensino-aprendizagem. 5. Colóquio Internacional “Educação e contem- 56. Danielson C, Abruptin L. An introduction to using portfolios in the class-
poraneidade”; 2011 set 21-23; São Cristóvão. São Cristóvão: UFS; 2011. room. Alexandria: Association for Supervision and Curriculum Deve-
lopment; 1997.
42. Organização Mundial de Saúde. Classificação internacional de funciona-
lidade, incapacidade e saúde. Lisboa: OMS; 2004. 57. Crockett T. The portfolio journey: a creative guide to keeping stu-
dent-managed portfolios in the classroom. Englewood: Libraries Unli-
43. Squirre LR, Kandel ER. Memória: mente das moléculas. Porto Alegre: mited; 1998.
Artmed; 2003.
58. Castro AD. Didática para escola de 10 e 20 graus. São Paulo: Pioneira;
44. Wolynec E. Evolução dos conceitos sobre o cérebro e o processo de 1974.
aprendizagem. Technne. 2004;1-3.
59. Haydt REC. Curso de didática geral. 5. ed. São Paulo: Ática; 1998.
45. Duboc MJO. Neurociência: significado e implicações para o processo de
aprendizagem. Evidência. 2011;7(7):25-32. 60. Oliveira AL. Nova didática. 3. ed. Belo Horizonte: Eddal; 1973.
46. Eliot L. What’s going on in there?: how the brain and mind develop in the 61. Oliveira,AL. Nova didática. Belo Horizonte: Álvares; 1968.
first five years of life. New York: Bantam; 1999.
62. Berbel NAN. Metodologia da problematização: uma alternativa metodo-
47. Raichle ME. Visualizing the mind: the scientific American book of the lógica apropriada para o Ensino Superior. Semina. 1995;16(2):9-19.
brain. New York: Lyons; 1999.
63. Berbel NAN. Problematização e a aprendizagem baseada em pro-
48. Ausubel DP. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva blemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface – Comunic
cognitiva. Lisboa: Paralelo; 2002. Saúde. 1998;2(2):139-54.
49. Svinicki MD, McKeachie WJ. McKeachie’s Teaching tips: strategies, 64. Goulart AT. A importância da pesquisa e da extensão na formação do
research, and theory for college and university teachers. 40th ed. Cali- estudante universitário e no desenvolvimento de sua visão crítica. Hori-
fornia: Cegage Learning; 2014. zonte. 2004;2(4):60-73.
50. Nérici IM. Didática do ensino superior. São Paulo: IBRASA; 1993. 65. Demo P. Crise dos paradigmas na educação superior. Educação Brasi-
leira. 1994;16(32):15-48.
51. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educa-
tiva. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra; 1996. 66. Tapscott D. Geração digital: a crescente e irredutível ascensão da
geração net. São Paulo: Makron Books; 1999.
52. Paula MHC. Didática I. Belo Horizonte: PUCMG; 1996. 1 Apostila.
Esta página foi deixada em branco intencionalmente.
6
O desafio de estudar
Quadro 6.2 para o ponto B? Quais desafios terei pela frente? Qual a litera-
tura mais atual sobre o conteúdo que tenho disponível? Qual
Atividades de estudo do educando
a literatura básica e complementar necessária? Quanto tempo
eu tenho para estudar? Onde vou estudar? (Em casa, sala de
Momento de estudo Atividade de estudo
aula, biblioteca, laboratório, trabalho.) Como vou estudar?
(Apenas por meio de leitura, anotações, resumos, cópias.)
Motivação para a aprendizagem
Estes representam alguns questionamentos comuns e mentais
feitos durante o planejamento de estudo. Um fator importante
Atenção às explicações do professor
é o reconhecimento da necessidade de aprender e querer se
Recepção de conhecimentos esforçar para alcançar um determinado conhecimento.
Quadro 6.5
Técnica de leitura
Regras elementares para uma leitura eficiente
A leitura representa o ponto básico para o perfeito método de
estudo. A análise e a interpretação de um texto são influen- 1. Realizar uma leitura de estudo com propósito definido
ciadas pela correta técnica de leitura. Em qualquer levanta-
2. Reconhecer sempre que cada assunto, cada gênero
mento bibliográfico, o educando precisa ler muito e apro- literário, requer uma velocidade própria de leitura
veitar o máximo possível dessa leitura, pois, assim, aumenta
seus conhecimentos e enriquece seu vocabulário, o que favo- 3. Entender o que se lê
rece a comunicação e disciplina o arranjo das ideias. Um
aspecto importante para gostar e adquirir o hábito pela leitura 4. Avaliar de modo crítico o que se lê:
é a atração por novos conhecimentos. No entanto, urge que se
• Para que serve esta leitura?
aprenda a ler corretamente, e que adquira prazer e hábito.9-11
• Como o autor está demonstrando o tema?
O prazer pela leitura permite ao estudante sempre estar na
• Qual é a ideia principal deste texto?
frente daqueles que não apresentam essa rotina. O gosto pela
• Posso aceitar a argumentação do autor?
leitura influencia na correta forma de escrever, de se posicionar
ante a redação científica. • O que estou aprendendo com este texto?
Podem-se distinguir duas espécies de leitura, a que se pratica • Vale a pena continuar a leitura?
para cultura geral (leitura de jornais e revistas de atualidade) e
5. Discutir o que se lê
a direcionada ao aprendizado e conhecimento (leitura de textos
científicos). Nenhuma deve ser menosprezada, porém, é pre-
6. Aplicar o que se lê
ciso maior concentração, dedicação e atenção mental quando
se deseja aprofundar o conhecimento.10 O Quadro 6.5 men-
Fonte: Galliano.10
ciona regras elementares para uma leitura eficiente.
A ciência não representa um produto finalizado; está em con- Inicialmente, leia e avalie o livro ou a revista em que o texto cientí-
tínuo processo de edificação.12 Caracteriza-se como processo
fico foi publicado, observando os dados catalográficos, editora e
cumulativo, e faz com que haja constante necessidade de atua-
ano de publicação. Muitos textos podem mostrar condutas e tra-
lização, fato este desafiador. Para a superação, precisa-se de
tamentos não mais recomendados ou desatualizados. Caso haja
método e habilidade, o que pode ser resumido em: saber sele-
interesse pela leitura, analise o título do texto e o nome do autor.
cionar o que se deve ler e saber ler com maior velocidade e pro-
Questione se o título vai direto ao assunto, se chama o interesse
veito possíveis. A habilidade de uma leitura caracteriza o perfil
do leitor ou é prolixo. Deve-se verificar ainda se o autor é apenas
do leitor, o que pode ser identificado dentro de aspectos posi-
educador, se é um pesquisador, e apresenta linha de pesquisa
tivos e negativos.12 As características do bom leitor, segundo
sobre o assunto, ou este constitui o primeiro trabalho na área. Em
Salomon,12 podem ser enumeradas em: “1. Lê com objetivo
caso de livro, leia sempre o prefácio e, para trabalhos científicos,
determinado; 2. Lê unidades de pensamento; 3. Tem vários
após a leitura inicial do resumo, relacione o título, a proposição e
padrões de velocidade; 4. Avalia o que lê; 5. Possui bom voca-
as conclusões que foram descritas, verificando a coerência entre
bulário; 6. Tem habilidades para conhecer o valor do livro;
7. Sabe quando deve ler um livro até o fim, quando interromper essas partes. Observe uma justificativa aceitável para o estudo
a leitura definitivamente ou periodicamente; 8. Discute fre- em questão. Em seguida, investigue se a metodologia utilizada é
quentemente o que lê com colegas; 9. Adquire livros com fre- a mais recomendada (atualizada) para o que está sendo proposto
quência e cuida de ter sua biblioteca particular; 10. Lê assuntos e se foi adequadamente desenvolvida. Analise criticamente a dis-
vários; 11. Lê muito e gosta de ler; 12. O bom leitor é aquele que cussão do trabalho, a discussão da metodologia, a apresentação
não é só bom na hora de leitura. É bom leitor porque desen- dos resultados, a correlação com outros estudos anteriores,
volve uma atitude de vida: é constantemente bom leitor. Não identificando tendências e interferências pessoais. Valorize uma
só lê, mas sabe ler.“. bibliografia atualizada e com trabalhos expressivos.1-18
A seleção da boa leitura requer rigorosa análise crítica (reflexão), É oportuno, toda vez que for praticar uma leitura, valer-se
sendo adquirida pelo hábito e aprimoramento da leitura e com do auxílio de um bom dicionário. Outro aspecto relevante é a
o decorrer do tempo. O conhecimento dos autores e pesquisa- criação de uma biblioteca e um arquivo pessoal para fonte de
dores de uma área ocorre naturalmente a partir das leituras e consulta periódica. Para tanto, deve-se considerar modalidades
interpretações de seus trabalhos científicos.1-18 distintas de leitura,1-17 como a leitura oral, a técnica de infor-
6 // O desafio de estudar 85
mação, de estudo, de higiene mental e o prazer.12 De cada leitura metodologia; a demonstração de resultados; a explanação, cor-
deve-se extrair o maior número possível de informações, o que relação e discussão dos resultados; os fatores secundários.1
aumenta o rendimento e torna dinâmico o método de estudo.
A análise do texto acontece paralelamente à leitura, quando
O ambiente tranquilo, com silêncio e boa fonte de iluminação se verificam elementos básicos (tema, problema, hipótese,
permite melhor concentração e melhor desempenho do método justificativa, estrutura do trabalho, resultados, conclusões); as
de estudo. A mesa de estudo deve estar preparada, limpa, com relações (inferências, relação entre as ideias principais, as jus-
o livro, o manuscrito e a cadeira em posição correta para o corpo. tificativas); e a estrutura (emprego adequado da metodologia,
intenção e posição do autor).11,12
Para a leitura de estudo,14 pode-se destacar as seguintes moda-
lidades: leitura de reconhecimento (pré-leitura); leitura seletiva; Os critérios de análise de um texto podem variar, dependendo
leitura crítica (reflexiva); leitura interpretativa. do tipo de estudo e do que se pretende analisar. Pode-se con-
siderar, segundo Galliano,10 três tipos de análises: textual (deli-
Na técnica da leitura oral, impõe-se: leitura em voz alta; com
mitação do assunto, de elementos); temática (compreensão de
clareza e expressão; sem tropeços; todos entendem e o leitor
texto, identificação da ideia central); interpretativa (análise de
gosta do que lê; faz pontuações e modulações com natura-
ideias e correlação com o texto científico).
lidade e agrado; quando lê após um sinal convencional, sem
olhar para o livro é capaz de dizer no mínimo quatro palavras; A reflexão extraída de um bom texto posterior a uma leitura
o bom leitor revela-se pela leitura oral, porque não apenas lê, crítica é essencial, pois um artigo oriundo de um livro, revista,
mas interpreta o que leu.12 A velocidade e a compreensão da tese, dissertação ou monografia pode não contemplar a ver-
leitura não são incompatíveis, andam juntas. dade pura ou encerrá-la toda. O referencial ou o ponto de vista
de quem escreveu o trabalho deve ser adequadamente anali-
Quando encontrado um novo termo, não se deve parar a lei-
sado, interpretado. A cada conclusão de um estudo surgem
tura, mas, sim, procurar buscar seu sentido dentro do texto e,
vários questionamentos adicionais. Esse fato é fantástico sob
do contrário, consultar o dicionário para maior esclarecimento.
a ótica da movimentação, da transformação e dinâmica cien-
Alguns aspectos influenciam a leitura, como: a capacidade de
tífica. Dessa maneira, um fator importante é sempre buscar a
visão; quanto mais curta a pausa, mais raras as fixações e os
leitura do texto original, para que o leitor não seja passível da
retrocessos, melhor a leitura. Outros fatores associam-se a
influência pessoal de outro autor, destituindo a possibilidade
maus hábitos, como: movimentos labiais durante a leitura silen-
de convencimento ou persuasão. O leitor somente terá condi-
ciosa; movimento da cabeça, do dedo ao longo da linha; hábito
ções de uma análise profunda quando tiver familiaridade com o
de ler sinais e letras e não ideias.12
assunto ou desenvolver estudos em linha similar de pesquisa.
A literatura apresenta sugestões para se alcançar uma leitura efi-
Neste contexto, Barrass13 destaca o estabelecimento de signi-
ciente. A determinação, o foco, o hábito e a criatividade são carac-
ficativas conexões entre observações novas e trabalhos ante-
terísticas importantes ao leitor. A oportunidade de aprender desde
riores, o que favorece uma compreensão mais profunda do
cedo um método de leitura e interpretação de texto incentiva e
problema. Além disso, o intercâmbio entre os pesquisadores
permite ao indivíduo o hábito de ler e escrever corretamente. Um
torna-se essencial. Entende-se que a ciência contém uma lin-
dos graves problemas entre os universitários e pós-graduandos
guagem universal e quase todas as descobertas resultam não
é a dificuldade em analisar criticamente textos científicos, redigir
apenas de observações e de interpretações, mas da comuni-
apropriadamente, de forma lógica e bem estruturada.
cação entre os especialistas. Diante do grande número de pes-
A distinção de ideias principais das secundárias, bem como a quisas e trabalhos publicados a cada mês no mundo, é difícil
síntese de conteúdo textual, requerem interpretação, e conhe- ou quase impossível saber o que outros autores já escreveram
cimento do significado das palavras nas frases. O indivíduo, ao sobre um determinado assunto.
finalizar a leitura de um texto, se fortalece com maior poten-
A análise de texto requer uma leitura atenciosa, a qual pode ser
cial de argumentos sobre o assunto estudado, o que aumenta a
feita mais de uma vez e em diferentes momentos. Para cada
motivação em busca de novos conhecimentos.
leitura, um aspecto específico deve ser identificado. Os ele-
mentos necessários são determinados dentro da natureza do
Análise de texto texto, com uma leitura exploratória, leitura para entendimento,
e leitura interpretativa. Dessa maneira, os argumentos necessá-
O estudo de um texto científico vincula-se aos objetivos alme- rios ao raciocínio correto e lógico do texto podem ser expressos
jados. A análise detalhada permite caracterizar alguns pontos e narrados criticamente, em ordem coerente. O alcance de uma
interessantes, entre os quais destacam-se o tipo de texto (ou tra- boa análise de texto, além de profunda leitura atenciosa, soli-
balho); a autoria do trabalho; a organização; as ideias principais; a cita treinamento, concentração e conhecimento.
86 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
Na análise de texto, o processo de aprendizagem parte de Assim, alguns fatores podem colaborar com o processo de
uma leitura inicial com intuito de identificar informações que aprendizagem, tendo início no ambiente de estudo (casa, sala
envolvam a estrutura do manuscrito, uma justificativa bem fun- de aula, laboratório, clínica, etc.). A organização da estrutura, o
damentada e o apropriado delineamento da metodologia. No horário, o estudo de forma individual ou em grupo (tamanho da
segundo momento, a leitura deve distinguir de forma clara a turma), a distribuição de tempo necessário conforme a comple-
ideia central, os argumentos, a lógica do problema em questão, xidade do conteúdo e a ambiência constituem condições deter-
o raciocínio do autor e a coerência para a existência do estudo. minantes ao bom desempenho do processo de aprendizagem.
A terceira leitura direciona a interpretação da ideia principal, No que diz respeito ao educando, a predisposição, a autonomia
as correlações, as associações, a análise crítica, as influências na aprendizagem, o hábito de leitura, a capacidade de argumen-
dos resultados em novos estudos, enfim, o avanço do conhe- tação, o raciocínio lógico, a criatividade e a dedicação caracte-
cimento. A análise do texto deve ser reflexiva, a partir da forma rizam os elementos essenciais para a competência de aprender
direta e clara da apresentação do título, introdução, metodo- novos conhecimentos. Por sua vez, o supervisor do processo
logia, resultados, discussão e conclusão, bem como da quali- ocupa uma posição de facilitador, a partir de suas competências
dade dos documentos utilizados (referências). Dessa maneira, e estratégias aplicadas a cada situação, capaz de possibilitar a
certifica-se a contribuição desse texto (estudo) para a inovação construção e assimilação do conhecimento (Quadro 6.6).
do conhecimento.
As estratégias para a aprendizagem podem diferir quanto aos
Finalizadas as leituras do texto (para exploração, entendimento objetivos do processo de aprendizagem (cognitivo, atitude
e interpretação), a partir de um pressuposto que o leitor apre- e psicomotor) ou quanto ao modelo de conteúdo – um texto
sente um conhecimento prévio do tema, busca-se chegar à científico, uma prática laboratorial, uma atividade clínica.
análise crítica do conteúdo presente. O texto analisado pode
Desta forma, o domínio cognitivo envolve disposições voltadas
conter um conteúdo inovador, confirmatório ou não, ou então o
ao conhecimento, mudanças mentais, memória, informação
leitor não apresenta conhecimento daquele determinado tema.
(conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e
Uma síntese da ideia central do estudo interpretado deve ser
avaliação); o domínio afetivo indica mudanças em interesses,
incorporada dentro de uma perspectiva lógica, argumentativa,
atitudes (sentimento) (habilidades de receptividade, reação,
reflexiva e criativa. A abertura às novas inferências e tomadas
organização e caracterização); o domínio psicomotor indica
de decisões sobre o tema estudado reflete a qualidade da aná-
mudanças comportamentais, habilidades no plano motor (per-
lise textual.
cepção, predisposição, resposta orientada, resposta mecânica,
resposta complexa evidente).1
Procedimentos para aprendizagem O estudo de um texto científico por parte do educando impõe
inicialmente uma análise exploratória (estrutura do texto) com
A possibilidade de um indivíduo incorporar um novo conheci- vistas a obter informações relativas ao seu nível de conheci-
mento à sua prática de vida é infinita, basta acessar a mente e mento do conteúdo, ao(s) autor(es) do estudo, e a estruturação
colocá-la em funcionamento. A capacidade de aprender é ine- do trabalho (correlação entre o título, problema e conclusões).
rente ao ser humano; porém, alguns indivíduos mostram-se Em seguida, em uma segunda leitura, a análise dos compo-
mais predispostos a agregar novas informações ao cotidiano nentes essenciais permite verificar o poder de fundamentação
científico, filosófico, cultural, social ou teológico do que outros.
O processo se desenvolve de dentro para fora, a partir da pró- Quadro 6.6
pria vontade ou necessidade, autoestima, autodedicação, auto-
confiança, em sintonia perfeita com a autonomia. Aspectos favoráveis ao processo de aprendizagem
O educando consciente deve aprender como estudar, adotar e Ambiente Limpo, organizado, silencioso, iluminado,
seguir um método, apresentando-se sempre motivado e disci- organizado de acordo com a estratégia adotada.
plinado, em busca incessante de novos conhecimentos. O con-
teúdo científico aumenta à medida que se estruturam o hábito Aprendiz Predisposição, autonomia, autoestima,
hábito de leitura, capacidade de
e a frequência de leitura e estudo. O benefício deste procedi- argumentação, criatividade, dedicação,
mento de vida certamente é coletivo. O potencial que um indi- determinação e raciocínio lógico.
víduo adquire com hábito de leitura permite a facilidade na
comunicação, nas relações sociais, além da capacidade de sín- Supervisor Boa formação, entendimento do seu papel no
tese, a qual favorece o raciocínio lógico e o potencial de argu- processo, cria estratégias de acordo com as
necessidades, clareza nos objetivos do que e
mentação. A busca incessante de um efetivo modelo de apren-
porque o conteúdo a aprender, visão formativa
dizagem para os diferentes níveis de educação direciona a uma do processo, comprometimento, renovação
estratégia de autoconhecimento e a necessidade de autonomia e permanente aperfeiçoamento de acordo
no processo. com a evolução humana dos educandos.
6 // O desafio de estudar 87
do estudo, uma justificativa coerente, uma pergunta clara (pro- moderno, de uma política educacional eficiente e de um edu-
blema eminente – caráter confirmatório ou inovador); uma cador perfeitamente preparado para esse ofício?
metodologia detalhada, bem descrita, que permita a reprodu-
O processo de aprendizagem do educando, por melhor reper-
tibilidade; resultados bem apresentados; discussão coerente
cussão do método de estudo, recebe influências de diferentes
do método, correlações pertinentes com a literatura atual e
setores – familiar, cultural, religioso, moral, político, social, eco-
representativa. A análise interpretativa e crítica é o foco de
nômico, humanístico, ético, etc.
uma terceira leitura, quando o educando busca refletir sobre a
relevância e o caráter inovador do problema, a originalidade, o A conjuntura contemporânea da odontologia sinaliza um
impacto dos resultados, a profundidade e imparcialidade dos quadro preocupante, pois a sensação transmitida pelos estu-
argumentos, o real avanço do conhecimento (Quadro 6.7).1,8,10 dantes é que o nível de motivação pelos estudos está cada
vez menor, abaixo das necessidades essenciais. Entende-se
Em todos os domínios, a aprendizagem em uma atividade
também que esse fato recebe influências diretas e na mesma
laboratorial ou clínica com demonstração antes da abor-
ordem dos professores, apesar da grande procura e preocu-
dagem teórica, o nível de assimilação e poder de aplicabilidade
pação com o aperfeiçoamento científico observada em cursos
aumenta o entendimento, visto que os objetivos e a impor-
de pós-graduação. Para que se possa alcançar o êxito na apren-
tância do conteúdo ficam mais evidentes.
dizagem, tanto por parte dos educandos como dos educadores,
O importante no método de estudo não é decorar o texto, mas o desejo por mudanças impõe a necessidade de um novo com-
assimilar e compreender o conteúdo, as ideias do autor, relacio- portamento, dentro de um processo dinâmico e permanente –
nando-as a outras, sendo capaz de uma conclusão pessoal sobre a busca pela evolução científica, cultural, moral e espiritual.
o que estudar.16 Galliano10 reporta que “a eficiência do método
Todos os setores das atividades humanas voltadas à cons-
depende de quem o aplica, não devendo esperar milagre, pois,
trução de conhecimento devem se apoiar em planejamentos
não há método de estudo capaz de servir a todos em grau similar
adequados, aplicados dentro de métodos e técnicas eficazes,
de eficiência, nem que evite todo esforço de quem estuda”.
quando se pretende lograr o sucesso. Tanto o processo de
O controle de qualidade de inúmeros profissionais da área ensino como o de estudo direcionam-se aos aspectos essen-
da saúde, incorporados anualmente ao mercado de trabalho, ciais no contexto educativo, “como aprender” e “como educar”.
deveria ser melhor avaliado. Questões inerentes à qualidade do
O desafio de estudar baseia-se em uma simples atitude do indi-
ensino, aos métodos e às técnicas de ensino e de estudo devem
víduo – estar predisposto a incorporar um novo conhecimento.
ser bem discutidas, melhoradas cuidadosamente a favor do
Para tanto, requer exercícios que infiram raciocínio, reflexão e
processo de aprendizagem. Como considerar os educandos
interpretação. Um dos desafios é reconhecer que o processo é
deficientes, desinteressados, desmotivados e portadores de
de dentro para fora, necessita de autonomia e autoconfiança.
elevados graus de dificuldades nos estudos, sem envolver no
A motivação é um forte alimento gerador de energias vincu-
processo educativo a participação de um projeto pedagógico
ladas a criatividade, determinação, disciplina e foco. A con-
quista da lógica no raciocínio apresenta origem na apropriada
interpretação de fatos e fenômenos descritos textualmente,
Quadro 6.7
9. Figueiredo LC. A redação pelo parágrafo. Brasília: UnB; 1999. 14. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: McGraw-
-Hill; 1983.
10. Galliano AG. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Mosaico;
1979. 15. McCarthy MJ. Domine la era de la información. Barcelona: Robin Book;
1991.
11. Lakatos EM, Marconi MA. Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São
Paulo: Atlas, 1995. 16. Morgan CT, Deese J. Como estudar. 5. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos;
1972.
12. Salomon DV. Como fazer uma monografia. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes; 1993. 17. Ruiz JA. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 4. ed.
São Paulo: Atlas; 1996.
13. Barrass R. Os cientistas precisam escrever: guia de redação. 3. ed. São
Paulo: T. A. Queiroz; 1994. 18. Libáneo JE. Didática. São Paulo: Cortez; 1994.
7
A comunicação no ensino de odontologia
Atualmente, verifica-se uma requintada evolução dos o aspecto científico. O comando e a liderança do espetáculo
recursos didáticos exibidos nas apresentações. Contudo, devem ser sempre do orador.
alguns professores se enganam por acreditar que a comuni-
cação supervalorizada por imagens é mais significativa que
um bom conteúdo presente em uma comunicação verbal. O orador
O excessivo valor que a comunicação com excesso de dispo-
sitivos, exagero na montagem do material para multimídia, Para o sucesso da boa oratória o conhecimento e o domínio do
pode apresentar efeito contrário, e enfraquecer e limitar a que vai ser falado constituem um fator determinante. A orde-
apresentação. Alguns especialistas que se passam por “pro- nação do raciocínio interligado à habilidade da comunicação per-
fessores”, e mesmos “aqueles professores” que foram colo- mite facilitar a transmissão do conteúdo da mensagem, passível
cados na universidade, desprovidos de qualquer habilidade de ser mais acessível e preparada (moldada) para o aprendizado.
e preparo apropriado para o magistério, se atrapalham fre- O treinamento e a persistência são pontos importantes na mani-
quentemente em apresentações cujo requinte baseou- festação da fala. O conhecimento das características de um bom
se apenas no material didático. Esse fato é real e preocu- orador se estabelece a partir da comunicação. Dessa maneira,
pante, pois impõe a necessidade da valorização de cursos de observa-se sua formação social, profissional, cultural e espiritual.
pós-graduação no sentido de melhorar a estruturação didáti- Por mais que a comunicação não verbal tenha influência na fala
co-pedagógica, prática docente e da pesquisa. (a aparência, a estética, a beleza, a roupa), o importante e impac-
Por conseguinte, vale a pena realçar uma análise reflexiva e crítica tante é que a apresentação seja marcada por uma boa comuni-
feita por Alves5 (em Entre a ciência e a sapiência). “Há os pianos. Há cação verbal, com oratória exemplar. A arte de um orador está
a música. Ambos são absolutamente reais. Ambos são absoluta- em favorecer ao ouvinte a incorporação da mensagem, o que
mente diferentes. Os pianos moram no fundo das quantidades. impõe a necessidade de seleção do conteúdo, e a forma de apre-
Deles se diz: como são bem feitos. A música mora no fundo das sentação da mensagem que se quer transmitir.
qualidades. Dela se diz: como é bela. A fabricação de pianos é O conhecimento da comunicação verbal, indiferente à magni-
uma ciência porque tudo no piano está submetido ao critério da tude do evento, influencia no sucesso da apresentação. O orador
medida – tamanho, pesos e tensões. Mesmo as afinações, que que se expressa de maneira apropriada e utiliza um vocabulário
normalmente requerem ouvidos delicados e precisos, podem conveniente ao nível do público desperta sempre a atenção.9-11
prescindir dos ouvidos dos afinadores – o afinador que pode ser
Em todas as áreas do saber ocorre necessidade de estudo,
surdo! Desde que haja um aparelho que meça o número de vibra-
treinamento e aperfeiçoamento permanentes. Assim,
ções das cordas. Pianos não são fins em si mesmos. Pianos são
mesmo para os indivíduos que têm o dom da fala, há neces-
meios. Existem para ser tocados. A música é tão real quanto os
sidade de aprimoramento técnico e treinamento. Alguns
pianos. Mas a realidade da música não é da mesma ordem que a
aspectos importantes para se aplicar no ensino da odonto-
dos pianos. A realidade da música se encontra no prazer de quem
logia, capazes de auxiliar para a melhor compreensão do que
a ouve. As cozinheiras cozinham para dar prazer aos que comem.
é falado e explicado, serão destacados por tópicos. É impres-
Os pintores pintam para dar prazer aos que olham. Também os
cindível, além do conhecimento técnico-científico, uma habi-
amantes beijam por causa do prazer. O desejo move o mundo.
lidade para expressar aos educandos, aos ouvintes, e mesmo
O prazer é uma experiência qualitativa. O que comove os homens
aos clientes, o que se pretende ensinar (conhecimento), os
e os faz agir é o qualitativo. Inclusive a ciência.”
avanços científicos (resultados das pesquisas), e mesmo o
A arte de explorar um conteúdo em palavras coloca em prática tratamento a ser proposto ou planejado. Por conseguinte,
o requinte e a reverência da qualidade da comunicação verbal. a partir da necessidade diária de melhorar a própria comu-
O mais importante no processo de comunicação são a presença nicação, alguns aspectos devem ser bem analisados pelos
e as boas atitudes do orador, do educador, do comunicador, e educadores e profissionais da odontologia, como: a comu-
do ator. nicação verbal e não verbal; o conteúdo, a fonética, o voca-
Na transmissão do conhecimento, para que haja uma perfeita bulário, o domínio da fala e do ouvinte, as dificuldades da
interação educador-educando, torna-se decisiva a qualidade comunicação.1-16
de transmissão e incorporação da comunicação. Nas apresen-
tações, o abuso de imagens, dispositivos desnecessários, asso- Comunicação verbal e não verbal
ciado a pobre conteúdo científico e de comunicação, desva-
loriza a apresentação. A dosagem deve ser apropriada, tanto “Sem conhecer a força das palavras, é impossível conhecer os
na comunicação verbal como na não verbal. É claro que deve homens.”
ficar evidente que o comandante da palavra deve privilegiar
Confúcio
7 // A comunicação no ensino de odontologia 91
A comunicação constitui um elemento essencial na vida do De outra parte, o domínio do assunto não é garantia plena de
indivíduo.4-16 Diferentes veículos e formas de comunicação uma boa apresentação. A forma com que os conhecimentos
alcançam a sociedade: jornais, revistas, rádio, televisão, cientí- são transmitidos é importante, pois existem professores que
fica, popular, política, parlamentar, forense, propaganda (anún- detêm um bom conhecimento em um tema específico, mas
cios, outdoor), etc. A comunicação verbal é muito efetiva, pois apresentam dificuldade na transmissão de suas ideias, che-
representa a prática em que os indivíduos buscam conheci- gando ao ponto de não se fazer entendido.
mento. A comunicação não verbal sedimenta a expressão
Em síntese, para se alcançar um bom nível de transmissão de
da fala. Os procedimentos envolvem gestos (expressão cor-
conhecimento e, consequentemente, chegar aos objetivos pro-
poral), ou imagens (escrita no quadro de giz, de pincel, folhetos,
postos sinalizados pela aprendizagem, o professor deve dominar
textos, símbolos, cartazes, slides), vídeos, aplicativos, etc.
o conteúdo (ter conhecimento do que vai ser apresentado),
A comunicação pela pronúncia (fala) implica em constante jul-
dominar a arte de falar em público (boa oratória), empregar
gamento e comparação.4-16
apropriadamente os recursos didáticos. O Quadro 7.1, segundo
O planejamento de uma apresentação oral, seja ela uma aula, Polito6, descreve um roteiro com cuidados importantes que o
uma conferência, um curso ou um discurso, implica em estru- orador deve ter quanto ao planejamento de uma conferência.
turar o raciocínio de modo ordenado para a melhor emissão
e incorporação da mensagem. Isso evita apresentações com
Quadro 7.1
conteúdos que não despertam interesses nos ouvintes. A habi-
lidade do orador na organização das ideias, na exposição de Planejamento de uma conferência
conteúdo adequado ao público presente, favorece a aprendi-
zagem, o interesse e a interpretação. 1. Seleção do tema
• que seja atual
É comum ministradores de cursos que falam para si próprios,
e se esquecem dos ouvintes. Existem os que querem apenas • que tenha conhecimento (autoridade)
chamar atenção, excedendo pela autovalorização; aqueles que • que seja do interesse pessoal
deixam explícita a vaidade; aqueles que apenas comercializam
• que desperte atenção
produtos; os confusos, os austeros, os antipáticos, os simpá-
• que seja adequado ao momento
ticos, os carismáticos, os que se mostram claros, objetivos e
convincentes. É importante que o orador não se esqueça que • que o tempo seja suficiente para a pesquisa
durante a apresentação (fala) são julgados nos mais variados do assunto e para a apresentação
níveis intelectuais, não unicamente sob o ponto de vista profis- • que o enfoque seja novo, mesmo com um assunto antigo
sional. Neste momento fica clara a exposição da personalidade
do apresentador. Em todo momento, a boa educação sempre 2. Determinação dos objetivos
se distingue. A atitude de subestimar o público, de ser indife- • destinado à informação
rente, não pertence aos quesitos do bom orador, e nem sequer • destinado à análise crítica e reflexiva
do ser humano.6-16
• destinado a incentivo e estímulo (motivação)
Para que uma comunicação seja interessante e alcance os • destinado a persuasão e promoção
objetivos propostos, deve-se ter um conhecimento profundo
sobre o conteúdo em questão. Quando o orador não domina 3. Conhecimento do público
o tema de que está falando, não consegue transmitir segu-
• quem compõe o público (importância de ouvir)
rança aos ouvintes, os quais certamente ficarão presos aos
recursos didáticos, sempre esperando pelo efeito do disposi- • quais os motivos que levaram o público ali
tivo seguinte. O material didático não deve superar a comu- • o que move os ouvintes
nicação verbal, tampouco o orador. Quando isso ocorre, fica • quantos sabem sobre o assunto
evidente a pequena eficiência do orador. O material didático
• qual o espírito de participação dos ouvintes – receptivo,
constitui apenas um recurso auxiliar na prática docente. Con- motivado, amistoso, hostil, indiferente, apático, desatento
tudo, observam-se muitos shows pirotécnicos, uma extra-
• características do público (gênero,
vagância e abuso nos recursos didáticos. A superação dos idade, nível sociocultural, raça)
recursos impõe o domínio de conteúdo científico e a capaci-
dade de comunicação do educador. (Continua)
92 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
Fonte: Polito.6
Quadro 7.2
O educador deve tomar cuidado com as comunicações em
sala de aula, para que, de modo voluntário ou involuntário, não Roteiro para a apresentação de uma conferência
deixem os alunos passivos. Cabe ao educador alterar a forma 1. Introdução
de comunicação e as estratégias para melhorar o aprendizado
• cumprimentar os ouvintes
em detrimento do público, do momento e do conteúdo a ser
transmitido (ensinado). • apresentar o assunto a ser abordado
• informar sobre a importância e relevância
Nesse sentido, cabe uma reflexão oportuna, reportada por Freire
e Shor,7 em Medo e ousadia: o cotidiano do professor, quanto aos • expor hipóteses
sons e imagens como estímulo à atenção crítica dos alunos. • justificar o porquê do tema em estudo
Freire e Shor7 relatam como ajustar a substância verbal, no sen-
• conquistar a atenção
tido de estetizar a sala de aula por meio de expressões verbais
• definir os objetivos
variadas. “As vozes humanas falam de muitas maneiras – per-
guntas, afirmações, generalizações, especificidades, imagens, • convidar à reflexão
comédia, sarcasmo, mímica, sentimentalidade. Como professor
libertador começo minha inversão criativa no momento de falar. 2. Desenvolvimento
Modulo a voz em ritmo de conversa, mais do que em tom didá- • demonstrar os fundamentos do assunto
tico ou de conferência. Ouço atentamente cada pronunciamento • certificar dos objetivos propostos
dos alunos e peço que os demais alunos também ouçam quando
• identificar documentos
um de seus companheiros fala. Não começo minha réplica logo
que o aluno começa sua primeira frase, mas peço que fale mais • trazer uma retrospectiva temática
sobre o assunto. Se estou recriando o professor como alguém • levantar problemas e soluções
que fala e escuta, também estou induzindo o aluno a se recriar • executar o projeto experimental
como alguém que escuta e que fala, dentro de um novo roteiro a
• interpretar dados obtidos
ser seguido na sala de aula. Penso que, aqui, a arte é a reinvenção
verbal, a recriação vocal através do diálogo. O silêncio do aluno • explicar e discutir mecanismos (causa e efeito)
é criado pelas artes da dominação. Os alunos não são silenciosos • destacar com argumentos científicos e contestar objeções
por natureza. Reinventar os aspectos visuais e verbais da sala de • discutir vantagens e desvantagens
aula são duas formas de se opor às artes destrutivas da educação
• apresentar aspectos concordantes e discordantes
passiva. Os gestos, a entonação da voz, o caminhar pela sala, a
postura – participam do impacto da estética de conhecimento e • apresentar soluções
formação dos alunos, através do ensino.”
3. Conclusão
Convém esclarecer diferenças que envolvem um curso, uma
• recapitular os objetivos propostos
conferência com uma aula em curso de graduação. Um aspecto
importante é o público ou o alvo envolvido. Existe momento • descrever com análise sintética e crítica os resultados
oportuno para a participação dos ouvintes no curso ou na confe- • manter coerência e imparcialidade dos resultados
rência, e este momento pode ser combinado com o orador, em • recapitular pontos essenciais
função do planejamento de trabalho. Na aula para a graduação,
• definir a reflexão
os alunos não devem ser passivos, comportando-se apenas
como ouvintes. A abertura deve partir do professor. Nessa • estruturar um desfecho com informações consistentes
situação, o orador deve proporcionar diálogo, e necessita saber • desenvolver sentimentos positivos
ouvir. A apresentação bem estruturada facilita o raciocínio do
• agradecer a oportunidade da apresentação
professor e a compreensão dos ouvintes.
7 // A comunicação no ensino de odontologia 93
constantemente há necessidade de recordar ideias, ordená-las, Ela deve ser diafragmática, a ponto de proporcionar absoluto
colocá-las em ordem cronológica, certificar-se de datas, esta- controle do estado emocional, imprescindível para quem deseja
tísticas, etc. São comuns apresentadores e professores que ini- sucesso na arte de falar. Recomenda-se, antes de qualquer expo-
ciam suas apresentações e, de repente, têm um branco, tendo sição ao público, no momento que antecede o início de uma fala,
de solicitar auxílio da própria plateia. Por esse motivo que uma respiração profunda, que proporcione tranquilidade.12
uma atividade decorada sempre é seguida de esquecimento.
O exercício da respiração diafragmática consiste em contar len-
A vivência, a criatividade e o conhecimento com o assunto for-
tamente de 1 a 10, repetindo três vezes. Esse exercício é muito
talecem e valorizam a apresentação e o conteúdo.6,9-13
útil por proporcionar uma maior oxigenação do cérebro, tra-
Todo bom orador gosta e apresenta hábito e prazer na leitura. zendo equilíbrio emocional e agilidade no raciocínio.12
Essa virtude aumenta seus conhecimentos gerais, melhora seu
Polito6 relata que a voz, sendo um dos mais importantes
vocabulário e dá oportunidade de treinamento da dicção.
recursos para o sucesso da comunicação, depende, além da
respiração, da harmonia entre algumas características espe-
Linguagem ciais – dicção, volume, velocidade, ritmo e pausa. A dicção está
associada à pronúncia dos sons das palavras, a articulação para
A linguagem bem pronunciada é apreciada em todo lugar. pronunciar as palavras e as frases. Os erros mais comuns de
A importância de uma boa comunicação tem sido cada vez mais dicção envolvem a omissão de algumas letras, principalmente
valorizada nos meios científicos, o que demanda conhecimento no final das palavras. É o que ocorre frequentemente com o “r”
e treinamento. Estudos têm sido publicados com intuito de pre- e o “s” em palavras como “fazê”, em vez de “fazer”, e “fizemo”,
parar melhor os oradores.1-16 no lugar de “fizemos”. Erros de dicção como esses são relati-
vamente frequentes na comunicação coloquial e devem ser
Assim, com a fonética o aspecto acústico e fisiológico dos sons categoricamente evitados. Muitos professores perdem a cre-
reais e concretos dos atos linguísticos é determinado. Deve-se dibilidade dos alunos por não usar uma correta pronúncia ao
considerar na descrita dos sons da fala (fonética) a produção, a falar. Uma expressão como: “Esse professor sequer sabe falar
transmissão e a percepção. Os sons da fala são provenientes da direito, e vem querer chamar minha atenção” é bastante cons-
ação de certos órgãos sobre o ar vindo dos pulmões. Os sons trangedora e perfeitamente passível de se evitar. O controle do
da fala são formados a partir de três condições: a corrente de ar; volume (intensidade) da voz é importante para que não canse
o obstáculo encontrado por essa corrente; uma caixa de resso- ou desmotive o ouvinte. O uso de uma voz muito alta para um
nância. A pronúncia correta das palavras, sua interpretação per- público pequeno pode representar uma forma de intimidação e
feita, sempre prestigia e privilegia o orador.6,9-11 não traz bons resultados. Em contrapartida, uma voz com inten-
A voz representa a expressão do estado de espírito, e da pró- sidade muito baixa, ou sussurros, para um público maior dificulta
pria personalidade, da pessoa que fala. Castelliano12 destacou o entendimento das palavras. Ambas as situações colaboram
para a dispersão dos ouvintes e perda de interesse pelo assunto,
a necessidade de se trabalhar a voz, para que sua mensagem
resultando num grau insatisfatório de aprendizado. Para a velo-
tenha veracidade, veemência, entonação, brilho, colorido,
cidade não há um padrão a ser seguido. Cada orador e cada
entusiasmo. Uma voz sem vida, por mais lógico que seja o con-
assunto terá uma velocidade particular. Quanto ao orador, irá
teúdo, com certeza não prenderá a atenção de ninguém. Reafir-
depender da sua capacidade de respiração, da emoção, da cla-
mando, de nada adianta um lindo material didático, uma bela
reza da pronúncia e da mensagem transmitida.6, 9-11, 13
aparência, se o apresentador não se preocupar com a pronúncia
e a melodia da voz. A voz, portanto, está dentro de um con- Há, entretanto, alguns conteúdos que são mais bem enten-
texto maior que é a expressão verbal, a comunicação verbal ou didos quando se apresenta uma velocidade de pronúncia ade-
a palavra falada. quada. O ritmo se refere à entonação das palavras, à alter-
nância entre o volume e a velocidade das sílabas dentro de
A orientação, prevenção, diagnóstico e tratamento das altera-
uma mesma palavra, ou entre as palavras dentro de uma frase.
ções da fala destaca a fonoaudiologia, uma vez que valoriza a
Não há também um padrão rígido; cada orador deve programar
importância e o papel da correta comunicação verbal. Assim, a
um determinado ritmo que seja adequado às características da
educação ao pronunciar as palavras, a limpeza e a lubrificação
sua voz, ao seu estilo. E, o que é fundamental, que o ritmo seja
das cordas vocais antes e durante uma apresentação refletem
capaz de exprimir o real sentido que se queira dar à mensagem.
cuidados que todo orador deve conhecer e utilizar.6,9-11
A pausa durante a fala dá o aspecto de naturalidade. É um dos
A atenção do ouvinte pode ser conquistada pela voz de quem está principais fundamentos da didática, uma vez que quando utili-
falando; para tanto, deve-se trabalhar sua modulação. A respi- zada de maneira adequada, permite que o ouvinte acompanhe
ração correta é o primeiro cuidado a ser tomado na fabricação de o raciocínio e tenha tempo de assimilar a ideia do conteúdo,
uma voz mais adequada, pois representa um grande referencial dando oportunidade ao surgimento de questionamentos.
no controle do nervosismo durante a apresentação em público. A ausência de pausa na palavra falada pode representar
7 // A comunicação no ensino de odontologia 95
um desastre no aprendizado de um assunto que está sendo público. Só os humildes são carismáticos. A arrogância e a pre-
visto pela primeira vez. No intuito de facilitar a compreensão potência só colaboram para aumentar o descrédito do orador.11
ao público, sempre que se mudar de tema ou se referir a um
Independente da distância entre seu conhecimento, ou titu-
assunto diferente, deve-se dar uma pausa.6, 9-11, 13
lação e o público, nunca demonstre superioridade ou subestime
o conhecimento do público. É difícil conhecer na íntegra a per-
Vocabulário sonalidade dos ouvintes. Tudo que é falado numa apresentação
pode viajar quilômetros e chegar a destinos certos ou incertos.
O vocabulário é a forma de tradução de nossas ideias por meio Nem sempre a abordagem feita chega com a mesma clareza e
de palavras e expressões. Idealmente, o vocabulário deve ser o integridade. A chance de distorções e acréscimos do contexto
mais rico possível. Porém, mais importante que um vocabulário existe e é real. Por diferentes motivos, a plateia geralmente é
rico é equlibrá-lo para o público apropriado. formada por pessoas que acreditam e esperam aprender com
você. Não as decepcione, tenha a hombridade em reconhecer
Muitos comunicadores se preocupam excessivamente em usar que provavelmente a maioria daquelas pessoas não teve a
um vocabulário muito sofisticado para causar boa impressão, oportunidade de adquirir conhecimentos e que aquele é um
passar a imagem de uma pessoa culta. O foco principal momento oportuno.6, 9-13
não deveria ser o de comunicar para simplesmente causar
impressão, e sim priorizar o aprendizado do ouvinte, em seus A criatividade é outra virtude a ser considerada no bom orador,
diferentes níveis de educação. pois apresenta recursos capazes de estimular os ouvintes e
desenvolver um ambiente favorável ao aprendizado, desper-
O uso de palavras muito rebuscadas pode dificultar a compreensão tando o entusiasmo.10 Quando se expressam palavras com
da mensagem, impedindo o ouvinte de acompanhar o raciocínio. motivação e interesse, envolvidas por um sentimento verda-
O vocabulário também não pode ser “pobre” ao ponto de se ter deiro, consegue-se prender a atenção dos ouvintes. Dessa
dificuldade em associar as ideias construídas durante uma apre- maneira, os assuntos tornam-se agradáveis.13
sentação.9-12
O professor ministra uma boa aula, é empolgante e transmite
O vocabulário ideal é aquele que se adapta a qualquer público. segurança e conhecimento do que fala. Os gestos muitas vezes
Que seja simples, mas claro o suficiente para expressar as são utilizados para dar ênfase à palavra falada, para realçar e for-
ideias e que favoreça o melhor entendimento. O vocabulário talecer sua compreensão. A gesticulação, de mãos e de braços,
técnico deve se restringir às pessoas do ramo, e deve ser evi- deve ser natural e espontânea. O uso de gestos apropriados e
tado em plateias heterogêneas, pois pode causar constrangi- em consonância com uma boa voz transmite a imagem de um
mento e/ou revolta àqueles que não o conhecem. profissional firme e confiante. Assim, todos esses requisitos
demandam treinamento. Em contrapartida, uma voz fraca é
acompanhada de gestos desarticulados com a mensagem, faz
Domínio do conteúdo e do orador uma pessoa insegura e sem credibilidade.10,13
da apresentação
Apesar de a expressão corporal envolver todo o corpo, o pro-
O orador experiente deve dominar a público a partir do conhe- fissional do ensino na área de odontologia deve estar atento
cimento profundo do conteúdo e ser capaz de contornar as e procurar trabalhar principalmente a posição e postura das
situações mais complexas, evitando constrangimentos. pernas e os movimentos das mãos e braços. A movimentação
desordenada das pernas normalmente identifica no apresen-
A habilidade ao responder um ouvinte ou aluno impõe suti- tador insegurança e nervosismo.13 Como a expressão corporal
leza, clareza e respeito. Quando há necessidade de mudanças deve ser espontânea, não há regras rígidas quanto à movimen-
de conceito do público a respeito de determinado assunto que tação das mãos e braços. Há uma tendência em se colocar os
tenha provocado dúvida ou tema contraditório, a habilidade braços à frente do corpo, acima da cintura. Uma vez que as
ao lidar com situações difíceis revela importante caracterís- ideias se sucedem e devem ser acompanhadas de gestos, essa
tica de convencimento. Deve-se ponderar com flexibilidade posição seria mais correta por estar mais próxima dos gestos.13
quando um assunto causa polêmica, ou quando os ouvintes Os gestos das mãos, inseridos no contexto da expressão
não estão receptivos às mensagens. Muitas vezes, nem todos verbal, devem ser usados para reafirmar e realçar a ideia central
os ouvintes apresentam um nível de entendimento e racio- da mensagem e apresentada de forma natural.7
cínio compatível ao do orador, o que faz com que as mensa-
Polito13 faz uma reflexão quando se emprega um microfone, pois
gens se tornam difíceis de serem interpretadas e pode gerar
pode gerar constrangimento e gestos incorretos. O orador com
alguns problemas.9-13
pouca experiência, ao empregar um microfone, pode-se demons-
Para que o ensino e o aprendizado caminhem em sincronia, trar nervosismo e deixar que esse recurso comprometa a apre-
o professor deve ser carismático e despertar empatia com o sentação. O equilíbrio emocional a partir da respiração é útil.
96 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
Uma posição ideal do microfone é aquela em que fique abaixo do Quando não existe segurança sobre o que transmitir, o nervo-
queixo (2 a 3 dedos). O microfone é imprescindível diante de pla- sismo sobressai. A chance de a comunicação não convencer e
teia numerosa e grandes ambientes, o que facilita a comunicação frustrar o público é real. A autoconfiança constitui um aliado na
sem perda de qualidade e atenção dos ouvintes.13 vitória ante o medo de falar em público. A experiência e a tran-
quilidade fazem com que o medo deixe de incomodar. Desse
Dentro da expressão corporal, a comunicação visual requer cui-
modo, evidencia-se o “dom da fala”, e transmite-se confiança
dado, pois é a partir dela que se obtém um retorno do que se
e credibilidade aos ouvintes. Em muitas ocasiões, o orador
fala. O olhar do ouvinte nos diz como ele recebeu a mensagem,
domina o conteúdo da fala, é profundo estudioso do assunto
se entendeu, se está interessado, se concorda se é resistente a
e a ansiedade toma conta do momento. Um episódio cons-
alguma ideia.13 Em muitos casos, o orador não se pode abater
trangedor ou a presença inoportuna de alguém pode alterar
com um olhar de indiferença, pois alguns ouvintes já entraram
o equilíbrio e o estado de espírito do orador. Uma alternativa
com um conceito pré-formado de como seria a apresentação
para vencer esse problema e buscar o controle se desenvolve
e se mantêm resistentes a mudanças durante todo o tempo.
a partir da respiração, que auxilia no equilíbrio emocional.10
A direção do olhar reflete uma comunicação visual, que se cor-
O controle respiratório, com inspiração profunda e expiração
retamente usada possibilita valorizar a presença dos ouvintes.
lenta, com seguidas repetições, representa um valioso auxílio
Desta forma, para que o ouvinte sinta a importância de sua pre-
nessas ocasiões. Igualmente, todos os aspectos discutidos
sença, o olhar do apresentador deve correr todo o ambiente,
quanto ao sucesso de uma apresentação valorizam o correto
evitando visualizar apenas alguns ouvintes.13
emprego da comunicação verbal e não verbal, o conhecimento
A aparência também é fundamental a um orador. Quando for científico (conteúdo), a fonética (produção e transmissão do
a primeira oportunidade de apresentação para um determi- som), o vocabulário (riqueza e adequação da linguagem à oca-
nado público, os cuidados devem ser maiores, pois uma boa sião), o domínio da fala e do ouvinte (didática, oratória, moti-
impressão perpetua por um longo período. A personalidade vação, estímulo, humildade, emoção e conhecimento). Todos
na visão do público pode estar sendo definida neste momento. esses aspectos foram demonstrados em muitos trabalhos dis-
Não tente chamar atenção pela aparência, utilizando-se de cutidos previamente.1-16
roupas extravagantes; atente-se para um aspecto sóbrio. Pro-
cure, porém, diferenciar-se na maneira de vestir, mesmo que o A reflexão sobre a relevância da oratória no ensino da odon-
público seja de seu relacionamento.13 tologia provoca mudanças de atitudes, de comportamentos.
Este fato privilegia as futuras apresentações, as quais certa-
O mais importante na aparência de um profissional, vestido com o mente serão diferentes, melhores, a ponto de direcionar um
traje mais adequado ao momento, é que ele não permita mudança conteúdo entendido como complexo a algo simples, acessível
em seu caráter, pois sua luz deve manter o mesmo brilho. ao entendimento. Toda nova oportunidade sempre auxilia nos
momentos futuros, o que também traz incentivos positivos
para o orador.
Vencer os desafios na comunicação
Toda oportunidade que um indivíduo tiver de se comunicar e
Um fator importante ao orador da odontologia indica a neces- se apresentar com excelência deve ser muito bem aprovei-
sidade de detenção de conhecimento para enfrentar e vencer tada, pois não se sabe quando será a próxima chance para
as dificuldades da comunicação. Todos os aspectos discutidos desfazer a pobre impressão deixada com os ouvintes. Por con-
anteriormente previnem o improviso, que se associa a falta de seguinte, a primeira impressão que se deixa com a oportuni-
planejamento, estudo e organização. dade e o valor da comunicação é essencial e, no mundo glo-
O esquecimento ou o branco na memória pode estar associado a balizado, constitui uma habilidade uma habilidade de elevado
pouca ou nenhuma vivência do conhecimento a ser transmitido. valor.
Muito provavelmente esse conhecimento não foi construído pelo
apresentador, que apenas o está reproduzindo, transmitindo. Isso
Agradecimentos
pode ocorrer quando o orador ou o professor decorou ou apre-
senta pequena familiaridade com o conteúdo a ser apresentado. A todos os oradores mencionados nas referências, que contri-
O esquecimento pode estar relacionado com a ansiedade. 9 buíram com o desenvolvimento deste capítulo. O texto repre-
Toda vez que um apresentador aceita falar de algum assunto senta uma síntese dessas obras e palestras assistidas.
com o qual tenha pouca intimidade, naturalmente é induzido
ao receio, ao medo. Porém, quando se conhece e domina o
assunto a ser abordado, o medo deixa de ser incômodo e o
Referências
esquecimento é substituído por um raciocínio lúcido e orde- 1. Bechara E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro:
nado, o que evidencia uma boa comunicação.9 Lucerna; 1999.
7 // A comunicação no ensino de odontologia 97
2. Cunha C, Cintra L. Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. 9. Polito R. A influência da emoção do orador no processo de conquista
Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 2001. dos ouvintes. 2. ed. São Paulo: Saraiva; 2001.
3. Guareschi PA. Sociologia crítica. 7. ed. Porto Alegre: Mundo Jovem; 1986. 10. Polito R. Assim é que se fala: como organizar a fala e transmitir ideias.
7. ed. São Paulo: Saraiva; 1999.
4. Libáneo JE. Didática. São Paulo: Cortez; 1994.
11. Polito R. Como falar corretamente e sem inibições. 100. ed. São Paulo:
5. Alves R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 6. ed. São Saraiva; 2005.
Paulo: Loyola; 2001.
12. Castelliano T. Desperte! É tempo de falar em público. Rio de Janeiro:
6. Polito R. Como preparar boas palestras e apresentações. 4. ed. São Record; 1997.
Paulo: Saraiva; 1997.
13. Polito R. Gestos e postura para falar melhor. 23. ed. São Paulo: Saraiva;
7. Freire P, Shor I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 8. ed. São 1991.
Paulo: Paz e Terra; 1987.
14. Haydt REE. Curso de didática geral. 5. ed. São Paulo: Ática; 1998.
8. Weil P, Tompakow R. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comuni-
cação não verbal. 58. ed. Petrópolis: Vozes; 2004. 15. Nérici IM. Didática do ensino superior. São Paulo: IBRASA; 1993.
zação da prática docente e a propostas de avaliação mais justas de treinamentos e não ao objetivo principal de nortear os rumos
e integradas ao processo de ensinar e aprender. Tais dificuldades da formação.
são justificadas, via de regra, pela precária formação teórica e
Historicamente, nem a formação pedagógica nem o desenvol-
prática para o exercício do magistério na universidade oferecida
vimento profissional do professor fazem parte da nossa cultura
nos cursos de licenciatura e pela ausência dessa formação nos universitária, ou pelo menos não faziam, pois esse movimento e
cursos de bacharelado”. essa preocupação são bem recentes e têm a ver com uma con-
Para agravar esse quadro, no que diz respeito à legislação, o cepção de ensino e um determinado modelo de universidade.
que se pode observar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nesse sentido, admite-se que a dinâmica do processo de
Nacional em vigência4 é a escassez de objetivos propriamente ensino e do processo de aprendizagem não deve ser somente
pedagógicos, quando contrapostos à profusão de artigos que pautada sobre a transmissão e aquisição de conhecimento, seja
poderiam ser denominados de administrativos. Para Morosini,5 teórico, seja prático. Para configurar-se em aprendizado signifi-
“a principal característica dessa legislação sobre quem é o pro- cativo, é mister promover o desenvolvimento de uma postura
fessor universitário, no âmbito da sua formação didática, é o de comprometimento com os processos formativos, tanto por
silêncio”. Ou seja, não há preocupação com a formação peda- parte da instituição quanto por parte de professores e alunos,
gógica de quadros para atuar na docência universitária, como imersos na realidade interna e externa própria do ambiente de
fica explícito nos artigos da LDB. formação.
O que a lei define não é muito, pois encaminha para a com- A dificuldade de os alunos utilizarem os conhecimentos apre-
preensão de que a competência docente advém do domínio endidos no seu cotidiano, de relacioná-los e articulá-los com
do campo científico, compreensão esta que se mantém nos outros conhecimentos, a par com a dificuldade de se avaliar
programas de mestrado e doutorado, os quais, em regra, não os processos com os quais eles enfrentam esse movimento,
contemplam também tal formação, visto que, embora em sua a expectativa mágica quanto aos resultados, sem haver com-
maioria dirigidos para professores universitários, priorizam os promisso com qualquer tipo de acompanhamento, requer
conteúdos específicos e a pesquisa. Essas dimensões também pensar a profissão docente alicerçada em novas bases, as
são fundamentais para o exercício dessa profissão, no entanto quais possibilitem a esse profissional atender às exigências de
deixam a desejar no que diz respeito a municiar os professores formação que vão além das regras do mercado e dos indica-
sobre os saberes próprios para sua atuação no ensino. dores de qualidade.
Diante das considerações anteriores, um aspecto importante Nesse sentido, professores com um perfil que consiga atender
as demandas no campo do ensino, capazes de atuar integrando
no contexto universitário é a formação do professor – ou a
os processos de ensino e de aprendizagem, voltados para um
ausência de formação – para o exercício do magistério nesse
aluno já em fase adulta, com interesses, habilidades e neces-
nível de ensino. Grande parte dos professores universitários é
sidades peculiares, poderiam conseguir melhor desempenho e
composta por profissionais liberais ou bacharéis, que acabam
envolvimento desses indivíduos nos processos formativos.
por exercer a profissão de professor.
Atualmente, vivemos na sociedade processos de transfor-
A prática docente, nos seus múltiplos aspectos (técnico-cien-
mações aceleradas e de demandas diversificadas postas aos
tífico, da formação e vivência da prática profissional, pedagó-
profissionais egressos da universidade. As mudanças que se
gico-didático e político), requer não só domínio dos conheci-
observam são decorrentes de fatores econômicos, políticos,
mentos específicos, mas também habilidades para conduzir
sociais e culturais que explicitam conflitos e tensões histó-
e estimular processos de aprendizagem na aula, selecionar e
ricas de toda ordem, especialmente aquelas relativas ao aten-
organizar conteúdos, procedimentos de ensino e de avaliação. dimento das necessidades básicas da população, na busca de
Segundo Vasconcelos,6 é “da competência pedagógica que uma sociedade mais democrática, justa e igualitária.
surge, naturalmente, o comprometimento com as questões do Mediante esse contexto, é urgente reavaliar o ensino superior
ensino e da Educação. É quando se trabalha a formação peda- e a formação de futuros profissionais nas diferentes áreas, que
gógica do professor que se dá a ele o tempo absolutamente se veem diante de uma sociedade que exige muito mais do que
indispensável para “pensar” a Educação: seus objetivos, seus uma base teórica sólida para promover as mudanças sociais tão
meios, seus fins, seu raio de influência, seu envolvimento com almejadas e fazer frente a problemas complexos que emergem
a sociedade, seu compromisso com todos os alunos que pela cotidianamente.
escola passam”.
Ao refletir sobre a situação do ensino superior sob a ótica dos
Quando se discute a função do professor na educação superior, docentes, Cunha7 observa que, para eles, a educação sofre pela
não se pode relegar a sua atuação ao plano de uma perspectiva falta de estímulo para pesquisa, que não é prioridade e carece
instrumentalista, o que certamente leva o indivíduo a uma série de um elo mais consistente entre a teoria e a prática.
8 // O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA ÁREA DA SAÚDE 101
Cunha e Leite8 complementam: “Há como que uma voz comum Com efeito, Masetto11 lembra a importância da formação peda-
entre os professores, no sentido de que os alunos não sabem gógica do professor de ensino superior. De acordo com o seu
pensar, não foram preparados para o desenvolvimento do espí- ponto de vista, faz-se necessário reconfigurar a docência uni-
rito crítico e científico. A própria estrutura universitária que ato- versitária de maneira que esta possa responder às multiplici-
miza o ensino é vista como um entrave à iniciativa do aluno.”. dades do desenvolvimento tecnológico e dos desafios atuais
do mundo do trabalho e da sociedade em geral.
Via de regra, os professores valorizam mais a pesquisa em detri-
mento do ensino, especialmente na graduação, o que reforça Chaves e Oliveira,12 também abordam a questão da formação
a necessidade de discussões e processos formativos voltados pedagógica do professor universitário, chamando atenção para
para a dimensão pedagógica da sua atuação, sem desconsi- os seguintes aspectos:“A qualificação pedagógica é, na prática,
derar os demais elementos constitutivos da profissão de pro- uma variável fundamental para a reestruturação da educação
fessor universitário: a pesquisa, a produção de conhecimentos,a superior. Percebe-se que há uma relação de mútua determi-
extensão, a cultura e a gestão. Na verdade, é desejável a articu- nação entre: a reestruturação da educação superior e a recon-
lação e integração desses elementos na formação do estudante. figuração da docência universitária. Não parece ser possível
modificar essa realidade da educação superior sem uma meta-
Percebe-se a necessidade de democratizar as relações que se
morfose da universidade brasileira e sem uma reconfiguração da
estabelecem nas salas de aula na universidade, onde formu-
docência universitária. Pode-se afirmar que a universidade só se
lações-padrão prontas e estereotipadas, bem como posturas
torna permeável e sensível às mudanças quando os docentes
conservadoras e autoritárias, contribuem pouco para a aqui-
que nela atuam percebem o cenário mais amplo que determina,
sição do conhecimento e mais para aumentar a falta de inte-
em grande parte, a instituição universitária e concluem pela
resse e tornar as aulas improdutivas, tanto para o professor
necessidade de refletir e mudar a sua prática pedagógica per-
como para os alunos.
manentemente. Trata-se, portanto, de sintonizar a universidade,
A escolha da metodologia a ser utilizada, evidentemente, especialmente os docentes universitários, com as demandas,
depende do perfil dos sujeitos envolvidos, dos objetivos da prá- exigências e desafios da sociedade do conhecimento.”.
tica pedagógica assumida e da formação profissional almejada.
Como diz Santos,13 a universidade e os professores devem
Como em geral as turmas não são homogêneas, a formação
exercitar a crítica, ajudar a produzir consciência, interpretar o
deverá levar em consideração, além desses fatores, a diversi-
mundo e, a partir daí, tentar modificá-lo.
dade de ideias, comportamentos, interesses e capacidade de
compreensão de cada indivíduo. É preciso compreender que o professor universitário é um
profissional com capacidade e competência singulares, ou
Para Cunha,9 os professores sentem-se bem em estar na sala
seja, diferenciadas das demais profissões. Falar em profis-
de aula quando existe reciprocidade e empatia com os alunos.
sionalização do professor universitário, atualmente, implica
Sua forma de trabalhar na sala reflete sua posição – assumida
dizer que se exige do professor mais do que a transmissão de
– de “articuladores do processo de aprendizagem que ocorre
saberes e conhecimentos para um aluno que não sabe e não
nos alunos”.10
conhece, especialmente quando se tem em mente o exercício
O bom professor constitui-se muito além do domínio do con- da docência com profissionalidade. Exige-se capacitação pró-
teúdo, do gostar de ensinar, do estar em sala de aula, uma pria e específica.
vez que está envolvido com a educação e com o educar, preo-
A crença de que quem sabe automaticamente sabe ensinar
cupado com a transformação das relações que são estabele-
não coaduna com a aprendizagem ativa, criadora e significa-
cidas na sala de aula universitária e com a busca de uma edu-
tiva que hoje se faz necessária na formação de cidadãos e pro-
cação emancipatória e crítica, que contribua para a formação de
fissionais competentes, autônomos intelectualmente e social-
profissionais socialmente comprometidos.
mente comprometidos. Delinear aspectos fundamentais que
A análise dos momentos mais significativos da constituição permitam a alteração de rumo da universidade, bem como
da educação superior no Brasil e do exercício da docência no promovam a reconfiguração da profissão do docente univer-
ensino superior, tendo como referência o panorama da socie- sitário, passa por algumas questões básicas, conforme expli-
dade contemporânea, leva-nos a uma constatação: o modelo citam Chaves e Oliveira:12 “a transformação da universidade,
de universidade que temos e o tipo de docência que prati- do ensino-aprendizagem e da ação docente se tornam uma
camos, em geral, são diametralmente opostos às necessidades necessidade em razão: a) do novo paradigma emergente, ou
presentes e, muito provavelmente, futuras da sociedade. Dito seja, da sociedade do conhecimento ou técnico-informacional
de outra maneira, entramos em um novo tempo com velhos decorrente, especialmente, da revolução tecnológica; b) da
problemas ou problemas mal resolvidos que podem repercutir exigência de formação de profissionais capazes de enfrentar o
negativamente na universidade como instituição. novo mundo do trabalho e de cidadãos preparados para contri-
102 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
A formação de professores universitários passa, então, por De acordo com Leite,15 admite-se que para o homem, visto
questões cruciais diante dos desafios postos pela realidade, em sua dimensão de totalidade, a aprendizagem constitui um
envolvendo ações que orientem os docentes na organização de processo de interação entre o genético neuronal e o ambiente
seus propósitos de ensino, na escolha de estratégias pedagó- social, com vistas à construção do conhecimento.
gicas mais variadas e adequadas ao curso e à natureza da disci- A autora afirma ainda que: “A aprendizagem estabelece-se pois
plina, na habilidade de transformar o conhecimento produzido como uma força que produz a evolução, tanto biológica quanto
pelas pesquisas em matéria de ensino e de dominar as diversas social, e é dela resultado. No seu desenvolvimento, reflete o
linguagens – científica, política,didático-pedagógica, corporal,- trabalho humano na sua ânsia constante de auto superação, de
gestual, tecnológica – em prol de processos formativos que transformação da natureza, da ciência, da sociedade, da cultura;
promovam a inclusão, o respeito às diferenças e a permanência constitui um esforço de antecipação, via pensamento e ação
dos estudantes na universidade. das modificações a introduzir no meio.”.
8 // O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA ÁREA DA SAÚDE 103
Essa autora investigou a aprendizagem do estudante universi- • Preso ao conteúdo que é dado em aula, ao que está no livro,
tário por meio de pesquisa realizada na Universidade Federal no texto, no xerox, no caderno.
do Rio Grande do Sul e na Universidade Federal de Pelotas
• Estuda antes da prova.
(1990), pesquisa também desenvolvida por Cunha e Leite em
19968 e, dentre outros aspectos, categorizaram as orientações • Aceitação do que é dado sem questionamento, sem formar
de estudos e formas de aprender dos estudantes participantes, dúvida.
resumidas a seguir:
• Envolve esforço pessoal de organização, de concentração,
de leituras repetidas, de esforço antes da prova.
Superficial
• Estuda por meio de resumos compilados de anotações e Profissionalização I:
provas de anos anteriores, das aulas, apostilas.
• Motivação extrínseca, fora da universidade, considera o que
• Estuda por meio de resumos, anotações e provas de anos é dado na universidade como muito teórico e o que existe
anteriores, estuda para passar. no trabalho, no estágio, como prático e, portanto, como
facilitador da aprendizagem.
• Estuda um pouquinho e já está bom.
• O que facilita a aprendizagem é a prática, anseia por ela.
• Dispersão, divagação, dificuldade em seguir orientações,
em esforçar-se para trabalhar regularmente. • Associação com a aprendizagem superficial e por repro-
dução.
• Serialismo: estudo em função da prova, em cima da hora,
por causa da nota. • Atitudes negativas para com o curso e a universidade.
• Estilo holista: visão geral sobre o todo a partir de resumos e • Preocupação com a especialização.
de uma certa ordenação pessoal resumida do material.
os conhecimentos adquiridos e com os cenários da prática, o Em pesquisa realizada com estudantes e professores de
estabelecimento de relações, o desenvolvimento de estraté- dois cursos da área da saúde de uma universidade federal,
gias, habilidades e de princípios que possam contribuir para Lotterman17 conclui que: “Os alunos tendem a concordar que
produzir novos significados, com vistas a uma formação de não são tratados pelos professores como sujeitos de sua for-
melhor qualidade. Nesse contexto, Matias2 apurou, em pes- mação bem como não reconhecem nestes um propósito em
quisa feita em uma universidade federal com professores de facilitar sua aprendizagem e os professores tem opinião oposta,
um curso da área da saúde, que consideravam condições essen- ou seja, tendem a concordar que tratam seus alunos como in-
ciais para docência: despertar o interesse do aluno, conseguir divíduos ativos da formação e facilitam sua aprendizagem. Os
ensinar, a disposição para aprender, adaptação a mudanças, alunos não identificam diálogo com seus professores quando
ter abertura para o novo, ter humildade, ter capacidade para necessitam de apoio e orientações e os professores discordam.
assumir limitações, ser bom ouvinte, ser acessível, disponível Ambos reconhecem que não existe um clima de confiança e
e atualizado. Esse mesmo estudo apontou por meio da con- respeito mútuo, favorecendo o crescimento dos alunos como
vicção dos alunos que se deve estabelecer um clima favorável pessoas. Os alunos reconhecem em seus professores uma ati-
para o aprendizado, em que características como respeito, pa- tude autoritária numa relação verticalizada e os professores dis-
ciência, interação e acessibilidade aparecem como primordiais cordam.”.
para o ambiente de estudo. Os anseios dos alunos nesse sen-
Por certo, estabelecer uma cultura dialógica e formativa no
tido referem-se aos modelos de relações pedagógicas estabe-
processo de ensino e de aprendizagem coloca ao ensino na
lecidas por Rios e Schraiber,16 expressando que a formação do
vínculo entre professor e aluno favorece o aprendizado, e a des- instituição universitária possibilidades de reorientação das
qualificação do aluno e a onipotência do professor entravam o suas bases, já que estudantes e professores poderão juntos
aprendizado. compreender as situações de ensino, as necessidades e as res-
ponsabilidades de cada um e, consequentemente, as razões
Pelo exposto, pode-se perceber que um dos aspectos que de ser da formação de determinado perfil profissional. Uma
explicita as concepções pedagógicas dos professores é a forma inovação dessa natureza não significa uma ruptura total com
com que lidam com a aprendizagem de seus alunos e com as o “velho” para a implantação do “novo”. Pensando de outro
suas próprias estratégias de ensino. Na produção do conheci- modo, a mudança vai se dar por meio da ruptura em níveis dife-
mento sobre a temática, destacam-se as teorias que chamam renciados e em determinadas circunstâncias, nas relações que
atenção para o significado social da aprendizagem e para a se estabelecem na sala de aula e nas possibilidades que uma
dialogicidade como possibilidade para qualquer tipo de ação outra postura cria para lidar com a complexidade do ensino e da
comunicativa. O diálogo não deve ser considerado numa pers- aprendizagem na universidade.
pectiva instrumental, mas como um aspecto essencial dos pro-
cessos de ensino e de aprendizagem, tendo em vista favorecer Ainda nesse contexto, uma outra pesquisa, realizada por
a comunicação entre educador e educando, favorecendo assim Matias,2 revelou pela perspectiva dos alunos de um curso de
a construção de um ambiente que permita negociar os dife- formação na área da saúde o anseio em serem ouvidos, evi-
rentes pontos de vista e chegar a um acordo e à definição de denciado pela pronta disposição em participar do estudo em
novos procedimentos metodológicos e de avaliação. questão, pela seriedade com a qual discorreram sobre todos
os tópicos que foram abordados e pelo interesse em saber se
Na interação dialógica com seus alunos, o professor vai
seus relatos poderiam contribuir para possíveis alterações no
construindo e reconstruindo as bases da sua docência, pois
contexto na formação profissional, fundamentando a necessi-
quem é capaz de olhar a sua realidade e o contexto no qual
dade de mudanças.
se insere é capaz de distanciar-se dela para compreendê-la e
transformá-la. Um aspecto fundamental, portanto, que nos apontam os
estudos sobre a questão é o redimensionamento do processo
Do ponto de vista da relação professor-aluno-matéria de
de ensino e de aprendizagem na educação superior. A produção
ensino, o diálogo é salutar porque contribui para torná-la mais
e socialização do conhecimento e a formação de profissionais,
expressiva, uma vez que as partes implicadas podem chegar
bem como os avanços na ciência e tecnologia e a dinamici-
a um acordo sobre em que bases se dará o processo de for-
dade das mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais,
mação e sobre a compreensão dos objetivos implicados nele.
impõem novas e outras exigências a esse processo.
Essa postura acarretará a modificação de atitudes e valores,
mediante a definição consensual de objetivos, a escolha de Freitas e colaboradores18 reforçaram a necessidade de prover
metodologias mais adequadas e de instrumentos e procedi- ao aluno aparato de formação específica, mas para além disso,
mentos de avaliação que contribuam para o recolhimento de apoiá-los no processo de aquisição de habilidades e atitudes
informações significativas sobre o desempenho do estudante, que componham também um cidadão, corroborando o papel
em função dos resultados que se almeja na disciplina e do perfil de uma instituição de ensino e ressaltando a importância de
do profissional que se quer formar. uma parceria profícua entre educador e educando.
8 // O ENSINO E A APRENDIZAGEM NA ÁREA DA SAÚDE 105
Em razão disso é que ganha fundamental relevância o repensar ser desafiado e mobilizado a desenvolver habilidades e ati-
sobre a docência universitária e a reconceptualização do pro- tudes que lhe permitam fazer uma análise da realidade social e
cesso de ensino e de aprendizagem. Para Masetto,11 há uma do seu papel nesse contexto.
omissão na universidade com relação ao processo de aprendi-
zagem decorrente da ênfase que se dá ao processo de ensino,
desde a instituição da educação superior no Brasil, a partir Para não concluir, mas desafiar
de 1808, que mantém a organização disciplinar, fechada e
estanque dos currículos; a transmissão e a exposição oral como No decorrer desse estudo procuramos discutir e refletir sobre
formas centrais do ato de ensinar; a avaliação como averi- aspectos fundamentais que auxiliem a compreender melhor
guação da assimilação das informações transmitidas; e o recru- os processos de ensino e de aprendizagem na universidade,
tamento de docentes sem a preocupação com a qualificação visando promover uma formação de melhor qualidade, bem
pedagógica e política necessárias. como a reconfiguração do papel do docente nesse processo.
3. Rosa DE. Investigação: ação colaborativa sobre práticas docentes na 13. Santos M. O professor como intelectual na sociedade contemporânea.
formação continuada de formadores [tese]. Piracicaba: Unimep; 2003. Anais do 9. Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino; 1998;
Águas de Lindóia, SP. São Paulo: ENDIPE; 1998. p. 15-20.
4. Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 [Internet]. Brasília: Casa
Civil; 1996 [capturado em 23 abr. 2017]. Disponível em: http://www.pla- 14. Contreras JD. Currículo democrático e autonomia do magistério. In: Silva
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. LH. Século XXI: qual conhecimento? Qual currículo? Petrópolis: Vozes;
1999.
5. Morosini M. Professor do ensino superior: identidade, docência e for-
mação. Brasília: Plano; 2001. 15. Leite D. Aprendizagens do estudante universitário. In: Leite D, Morosini
M, organizadores. Universidade futurante: produção do ensino e ino-
6. Vasconcelos MLMC. A formação do professor de ensino superior. São vação. Campinas: Papirus; 1997.
Paulo: Pioneira; 2000.
16. Rios IC, Schraiber LB. A relação professor-aluno em medicina: um estudo
7. Cunha LA. A universidade temporã:o ensino da colônia à Era Vargas. Rio sobre o encontro pedagógico. Rev Bras Educ Med. 2012;36(3):308-16.
de Janeiro: Civilização Brasileira; 1980.
17. Lottermann KS. Trabalho docente em saúde: desafios e perspectivas
8. Cunha MI, Leite D. Decisões pedagógicas e estruturas de poder na uni- [tese]. Goiânia: Universidade Federal de Goiás; 2016.
versidade. Campinas: Papirus; 1996.
18. Freitas MAO, Cunha ICKO, Batista SHSS, Rossit RAS.Docência a em
9. Cunha MI. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus; 1992. saúde: percepções de egressos de um curso de especialização em enfer-
10. Cunha MI. O professor universitário na transição de paradigmas. Arara- magem. Interface. 2016;20:427-36.
quara: JM; 1998. 19. Zabala A. Aprendizaje significativo: el profesor como mobilizador de las
11. Masetto MT. Reconceptualizando o processo ensino aprendizagem competencias de sus alumnos. 6. Seminário Educação e Sociedade. São
no ensino superior e suas consequências para o ambiente de aula. São Paulo.
Paulo: FEUSP; 1998.
PRINCÍPIOS DA PESQUISA:
DO PROJETO À PUBLICAÇÃO
9
Tipos de estudo
Maria do Carmo Matias Freire volume de publicações usando essa abordagem em saúde
Marcos Pascoal Pattussi coletiva.1-4 Em odontologia, ainda são relativamente escassos
os estudos utilizando o método qualitativo.
Introdução Nem todos os dados podem ser obtidos por meio de métodos
quantitativos ou analisados usando os métodos mais conven-
O delineamento cuidadoso do estudo é a base da pesquisa cionais. Tobar e Yalour4 oferecem um comparativo dos dois
científica de qualidade, e a definição do tipo de estudo a ser métodos. Métodos qualitativos são especialmente importantes
utilizado constitui uma etapa fundamental nesse processo. Na para estudos exploratórios, quando conceitos relevantes e va-
área da saúde, diversos tipos de estudos têm sido utilizados, riáveis são desconhecidos ou suas definições não são claras.
e cada um deles apresenta certas vantagens e limitações. Permitem ainda pesquisas profundas sobre tópicos particu-
A escolha do mais adequado deve ser baseada no(s) objetivo(s) lares ou para estudar fenômenos muito específicos, casos ou
da pesquisa, além de fatores como o tempo disponível para a fatos em profundidade e em detalhe. Métodos quantitativos
pesquisa, as questões éticas, os custos e a disponibilidade de são úteis quando o tema ou objeto está claramente definido e é
dados. familiar. Aplicam-se também quando a medição de problemas
De maneira geral, os estudos podem ser classificados quanto é menor, quando a possibilidade de repetição das medições é
à forma de obtenção dos dados ou quanto ao método de pes- importante ou quando é preciso generalizar resultados e com-
quisa adotado. Com relação à forma de obtenção, os dados pará-los entre populações diferentes.
podem ser classificados em primários e secundários. Os primá- Este capítulo tem por objetivo apresentar uma visão geral dos
rios são geralmente aqueles em que o pesquisador é o primeiro principais tipos de estudos quantitativos em saúde. Busca ofe-
a coletar os dados. As fontes de obtenção desses dados podem recer ao leitor subsídios para a escolha dos delineamentos mais
ser exames clínicos, entrevistas, observações e outras. Cons- apropriados em resposta a questões de pesquisa em odonto-
tituem o tipo mais comum de publicação na área da saúde, e logia obtidas. Para tanto, são discutidos os conceitos envolvidos,
suas principais vantagens incluem menor erro de mensuração os princípios básicos e as vantagens e limitações de cada tipo de
e melhor adequação dos métodos aos objetivos da pesquisa. estudo. São abordados o estudo de caso, a investigação experi-
Em contrapartida, podem ser caros ou não factíveis. Já nos mental em laboratório, a pesquisa populacional ou epidemioló-
dados secundários os dados são coletados por “outros”, com gica e os estudos diagnósticos.
outros objetivos que não aqueles do estudo original. As fontes
de coleta desses estudos incluem prontuários médicos, estatís-
ticas vitais e dados censitários. Estudo de caso
Com relação aos métodos de pesquisa, dois métodos básicos
O estudo (ou relato) de caso é o tipo mais básico de estudo des-
podem ser utilizados: o qualitativo e o quantitativo. Tradicional-
critivo. Costuma ser a primeira abordagem de um tema, e é usado
mente, as pesquisas na área da saúde têm utilizado o método
para a avaliação inicial de problemas ainda mal conhecidos e
quantitativo, que é derivado da filosofia positivista, centrada na
cujas características ainda não foram suficientemente detalhadas.
objetividade da ciência. A busca de explicações objetivas para
O estudo de caso tem enfoque qualitativo e exploratório, embora
os fenômenos tem levado à ênfase nos dados numéricos, que
muitas facetas possam ser quantificadas. Assim como as pes-
constituem a base da pesquisa quantitativa. O método quali-
quisas qualitativas, geralmente é usado em combinação com
tativo, por sua vez, é baseado numa filosofia naturalista e tem
estudos quantitativos de natureza epidemiológica, para compor
sido largamente usado nas ciências sociais. Esse método busca
um quadro mais completo da situação.5
explicar a realidade em termos de conceitos, comportamentos,
percepções e avaliações das pessoas. Sua aplicação na área Estudos de caso estão entre os tipos mais comuns em perió-
da saúde ainda é restrita, embora tenha havido um crescente dicos da área da saúde. Na pesquisa clínica, consiste de um
110 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
casos são necessários estudos clínicos complementares em podem ser de natureza genética, ambiental, biológica, social ou
humanos para que os resultados possam servir como base para psicológica.
a prática clínica.
O conceito de causa é outro aspecto importante dos estudos
Mais detalhes sobre alguns tipos de investigação experimental epidemiológicos. A observação de que uma doença é estatis-
em laboratório encontram-se nos Capítulos 27 a 32 desta ticamente associada a um agente suspeito não é prova de que
edição. esse agente causa doença. Os seguintes critérios foram suge-
ridos por Hill16 para se estabelecer uma relação causal:
Quadro 9.2 originar questões científicas que forneçam indícios para a formu-
lação de hipóteses epidemiológicas consistentes com o conhe-
Classificação convencional dos
cimento existente sobre a ocorrência das doenças. Do mesmo
estudos epidemiológicos
modo, os resultados dos estudos analíticos podem gerar ideias
para estudos descritivos adicionais, assim como novas hipóteses.
Tipo de estudo Unidade de estudo
Essa sequência de eventos pode ser sistematizada como um sis-
tema de feedback ou ciclo de estudos epidemiológicos (Fig. 9.1).
Estudos descritivos
Uma proposta mais recente e difundida no Brasil (Quadro 9.3) não
Estudos transversais ou Indivíduos considera a natureza descritiva ou analítica dos estudos, mas tem
estudos de prevalência como eixo estruturante principal o tipo de unidade de observação
e de análise, que podem ser indivíduos ou agregados humanos
Estudos ecológicos ou de correlação Populações (grupos de indivíduos). Nessa lógica, os dois tipos básicos de
estudos são os individuados e os agregados, e a partir desse
Estudos analíticos
critério os estudos são classificados de acordo com a posição
ou o papel do investigador (observacional e experimental) e a
Estudos observacionais
dimensão temporal do estudo (transversal e longitudinal).22
• Estudos transversais Indivíduos Outra classificação para os estudos observacionais nos quais o
indivíduo é a unidade de análise e o desfecho é dicotômico foi
• Estudos de caso-controle Indivíduos proposta por Pearce,23 considerando o tipo de desfecho (preva-
lência ou incidência) e a forma de seleção da amostra (na popu-
• Estudos de coorte Indivíduos lação em geral ou com base no desfecho). De acordo com esses
dois critérios, quatro tipos básicos são apresentados: estudos
• Prospectivo de incidência, estudo de caso-controle incidentes, estudos de
prevalência e estudos de caso-controle prevalentes.
• Retrospectivo
A classificação dos estudos em descritivo e analítico tem sido
Estudos experimentais considerada artificial, visto que, com o avançar dos conhe-
ou intervencionais
• Ensaio clínico randomizado Indivíduos doentes Classificação dos estudos epidemiológicos proposta
ou pacientes por Almeida Filho e Barreto22
1. Estudos descritivos –
agregação e análise dos
dados
Figura 9.1
cimentos, a grande maioria das investigações tem apresen- denominações utilizadas são estudos seccionais, corte-trans-
tado ambos os componentes. Assim, a descrição dos estudos versal e inquéritos ou surveys. São realizados em amostras
apresentada a seguir utiliza as denominações dos estudos de representativas e aleatórias da população, independentemente
acordo com a classificação convencional, sem ênfase no seu da existência da exposição e do desfecho.
caráter descritivo ou analítico. Cabe ao pesquisador a escolha
Embora na abordagem convencional os estudos transversais
da classificação a ser utilizada.
sejam classificados como descritivos, eles também podem ser
classificados como analíticos, porque esse tipo de estudo per-
Estudos transversais mite, também, investigar associações entre a doença ou outro
desfecho e prováveis fatores de risco, sendo estes últimos
Neste tipo de estudo observacional, a situação de saúde de geralmente coletados simultaneamente à doença (Fig. 9.2).
uma determinada população é avaliada a partir do estado de A análise é comparativa, buscando saber se há associações
cada indivíduo que a compõe. Estudos transversais medem a entre a exposição e o desfecho. A medida de associação utili-
prevalência da doença (proporção da população que tem a zada nesse caso é chamada de razão de prevalências (RP), que
doença num determinado momento), e, por essa razão, são é calculada pelas diferentes prevalências entre expostos e não
frequentemente chamados de estudos de prevalência. Outras expostos a esses fatores.
População
Figura 9.2
Estudos transversais apresentam vantagens pelo fato de des- exemplo, além do número de pessoas afetadas, o número de
creverem grandes populações e permitirem uma avaliação dentes ou superfícies dentárias afetadas por indivíduo oferece
abrangente dos fatores de confusão. Porém, devido ao fato de informação adicional sobre severidade, já que reflete diferenças
avaliarem tanto o desfecho (doença ou evento) quanto a expo- na quantidade da doença de forma mais detalhada. Os índices
sição num mesmo momento, nem sempre é possível distinguir de cárie mais utilizados são os índices de dentes cariados, per-
se a exposição precede o desenvolvimento da patologia, ou se didos e obturados por dente (CPO-D) ou por superfície (CPO-S).
esta afeta o nível de exposição do indivíduo. Ou seja, causali-
No Brasil, inquéritos nacionais sobre a prevalência dos princi-
dade reversa não pode ser descartada. Para fatores que perma-
pais problemas de saúde bucal foram realizados pelo Ministério
necem inalterados no decorrer do tempo, tais como sexo, raça
da Saúde em 1986, 1996, 2003 e 2010.27 Dados sobre saúde
ou grupo sanguíneo, o estudo transversal pode fornecer evi-
bucal podem ser obtidos também em inquéritos nacionais de
dência de uma associação estatisticamente válida. No entanto,
saúde. Um exemplo é o estudo acerca da prevalência da dor
essas situações são raras, e para a grande maioria das associa-
dentária e fatores associados em adolescentes escolares bra-
ções avaliadas a relação temporal entre exposição e doença
sileiros, utilizando os dados da PeNSE - Pesquisa Nacional de
não pode ser claramente determinada. Assim, estudos trans-
Saúde do Escolar.28
versais são, em geral, úteis para levantar a questão da presença
de uma associação em vez de testar uma hipótese. Inferências Para mais informações sobre como conduzir inquéritos epide-
sobre etiologia com base nas associações encontradas devem miológicos em saúde bucal, recomendamos consultar o manual
ser realizadas com cautela. da Organização Mundial da Saúde,29 a documentação técnica da
Pesquisa Nacional de Saúde Bucal30 e Peres e Peres.31
Estudos transversais estão entre os estudos mais amplamente
difundidos e publicados. Esse tipo de estudo permite estimar a O Quadro 9.4 mostra as principais vantagens e limitações do
prevalência da doença e, quando analítico, pode fornecer uma estudo transversal.
estimativa da associação entre os indivíduos expostos com-
parados aos não expostos. Em saúde pública, são frequente-
mente usados para subsidiar ações de planejamento, imple- Estudos ecológicos
mentação e avaliação de programas de controle de doenças,22
Os estudos ecológicos (também chamados correlacionais) usam
bem como etapa inicial (linha de base) de estudos de coorte
dados sobre populações inteiras ou grupos de pessoas para com-
ou experimentais. Os dados podem ser obtidos por meio de
parar as frequências da doença ou outro efeito entre diferentes
coletas diretas, também chamadas de fontes primárias, ou a
partir de fontes secundárias.
Quadro 9.4
É importante ressaltar que os desfechos avaliados em estudos
transversais dessa natureza não incluem somente informações Vantagens e limitações do estudo
sobre as condições clínicas diagnosticadas por profissionais transversal ou de prevalência
da saúde, mas também sobre morbidade referida e diversos
Vantagens
fatores relacionados às patologias, como sintomas, comporta-
mentos, conhecimentos, atitudes, aspectos psicossociais e qua- • Pode investigar diversas doenças ou outros efeitos
lidade de vida. Morbidade referida é aquela informada pelos • Controle sobre a seleção dos indivíduos
próprios indivíduos e tem sido empregada nos inquéritos nacio- • Controle sobre as mensurações
nais de saúde,25 como o VIGITEL – Vigilância de Fatores de Risco • Duração relativamente curta
e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico e a • Representa um bom passo inicial
Pesquisa Nacional de Saúde. Esses estudos são fundamen- para um estudo de coorte
tais para as ações de vigilância e monitoramento de doenças e • Possibilita estimar prevalências e prevalências
relativas (razão de prevalências)
agravos não transmissíveis do Sistema Único de Saúde (SUS).
grupos durante um mesmo período de tempo ou na mesma popu- são inerentes. Os dados utilizados foram coletados anterior-
lação em diferentes pontos no tempo. Os grupos ou agregados mente para outros propósitos e, por essa razão, variáveis sobre
podem ser classes em uma escola, indústrias e áreas geográficas diferentes exposições e fatores socioeconômicos podem não
como cidades, regiões, estados ou países. Os estudos ecológicos estar disponíveis. Isso aumenta o risco de ocorrência de viés
têm um papel claro quando a variável de interesse é, por defi- residual, isto é, a omissão de variáveis relevantes. Além disso,
nição, uma medida de grupo ao invés de uma medida individual. esses estudos referem-se a populações como um todo ao invés
Alguns exemplos são as variáveis socioeconômicas e ambien- de indivíduos, não sendo possível relacionar uma exposição à
tais, como o nível de renda da população, o Índice de Desenvol- ocorrência de uma doença na mesma pessoa. Esse problema
vimento Humano (IDH), o nível de escolaridade e o percentual da com os estudos ecológicos têm sido chamado de “falácia eco-
população com acesso a saneamento básico. lógica” ou viés ecológico, ou seja, o erro no qual a associação de
variáveis ao nível de grupos (ecológico) é assumida como verda-
Os estudos ecológicos são relativamente rápidos e de baixo
deira para as mesmas variáveis no nível individual. Por exemplo,
custo porque dispensam algumas etapas, tais como amos-
estudos sugerindo que a água fluoretada é um fator de risco
tragem e coleta de dados por meio de entrevista e exames clí-
para a fratura de quadril, têm usado dados populacionais tanto
nicos ou acesso a registros médicos individuais.
para exposição como para efeito.34,35 O problema é que não se
Os dados a serem analisados nessa modalidade de estudo sabe com certeza se as pessoas que tiveram fratura de quadril
geralmente são secundários. Três tipos de dados ou variáveis são as mesmas que utilizavam água fluoretada.
podem ser utilizados: agregadas, ambientais e globais. 32
Apesar desses problemas, os estudos ecológicos têm sido
Medidas agregadas constituem uma síntese dos dados cole-
úteis para descrever diferenças em populações e para pla-
tados em indivíduos, como, por exemplo, o Índice CPO-D aos
nejar ações em saúde pública. Outro exemplo clássico na área
12 anos e a renda média familiar em um determinado município.
da saúde bucal é o estudo realizado nos Estados Unidos, mos-
Medidas ambientais se referem a características físicas do local,
trando que o índice de cárie em crianças era mais alto naquelas
como cobertura de água fluoretada e disponibilidade de açúcar.
com baixos níveis de flúor natural na água do que naquelas com
Medidas globais são características próprias de grupos, como
altos níveis de flúor.36 Posteriormente, outra pesquisa estabe-
densidade populacional e sistema de saúde.
leceu que essa associação era causal e que a fluoretação da
As fontes são registros de dados coletados rotineiramente, água reduziu sensivelmente os índices de cárie.
geralmente por sistemas e informações oficiais. Exemplos de
O uso dessa modalidade de estudo em odontologia tem sido
fontes de abrangência nacional que podem ser úteis em odon-
crescente e tem contribuído para evidenciar a determinação
tologia são os sistemas de informação do SUS, como o Sistema
social das doenças e agravos bucais. Bueno e colaboradores37
de Informações da Atenção Básica (SIAB), e bancos de dados
encontraram correlações entre indicadores de saúde bucal de
de inquéritos populacionais de saúde ou de outros setores,
adultos das capitais brasileiras,30 indicadores sociais e da Polí-
como a Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares (POF).
tica Nacional de Saúde Bucal (obtidos de censos demográficos
Dados regionais, municipais ou locais também podem ser utili-
e do Ministério da Saúde).
zados, dependendo da abrangência geográfica do estudo.
Para uma abordagem teórica mais aprofundada sobre estudos
Alguns autores classificam os estudos ecológicos em dois sub-
ecológicos, consultar Castellanos.38
grupos: transversais e longitudinais.33 Os estudos ecológicos
transversais indicam a frequência com que determinada doença
ou outro efeito de interesse ocorrem em uma determinada Estudos observacionais
população ou área geográfica num determinado momento.
São feitas análises comparativas entre as variáveis ecológicas, Em um estudo observacional, o investigador pode somente
geralmente por meio de correlação entre indicadores de con- observar a ocorrência da doença em pessoas que já estão
dição de vida e indicadores de condição de saúde. Os estudos divididas em grupos com base em alguma exposição (p. ex.,
ecológicos longitudinais usam vigilância em andamento ou fumantes e não fumantes). Ou seja, nesse tipo de estudo, a alo-
estudos transversais frequentes para medir a tendência das cação dos participantes nos grupos expostos ou não expostos
taxas de doença ao longo do tempo, em uma determinada a um fator não está sob o controle do investigador.
população ou área geográfica. Através deste último é possível
determinar, por exemplo, o impacto de mudanças populacio- Embora os estudos experimentais sejam mais adequados para
nais (tais como guerras, imigração, introdução de vacinas ou an- estabelecer a associação causal entre um fator e uma doença,
tibióticos) em suas taxas de doenças. os estudos observacionais proporcionam uma grande con-
tribuição para a compreensão de muitas doenças ou outros
Estudos ecológicos permitem obter respostas rápidas. Embora eventos de interesse.21 Uma das vantagens dos estudos obser-
sejam úteis para a formulação de hipóteses, nem sempre podem vacionais é que são geralmente realizados em condições mais
ser usados para testá-las, devido a algumas limitações que lhes naturais, e com isso a população de estudo é mais represen-
116 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
tativa da população-alvo. Essa característica tem importantes proporção de indivíduos que tiveram a exposição ou característica
implicações para aqueles que atuam no planejamento das de interesse. Se houver associação entre a exposição e a doença,
ações de saúde e que baseiam suas decisões parcialmente nos a proporção de pessoas expostas entre os casos será maior do
resultados das investigações epidemiológicas. que entre os controles. A medida utilizada para detectar a magni-
tude dessa associação é a razão de chances ou odds ratio.
Uma dificuldade inerente a esse tipo de estudo é que os grupos
observados geralmente diferem em algumas características, Esse tipo de delineamento é mais apropriado para doenças
além do fator específico que está sendo estudado. Devido a raras, com baixa incidência ou períodos de latência prolon-
essas características, chamadas de fatores de confundimento, gados. De acordo com o procedimento de seleção dos grupos
as quais muitas vezes não podem ser medidas, o papel de de comparação, podem ser de base populacional ou aninhado,
uma determinada exposição sob investigação é mais difícil de conforme descrito a seguir.
demonstrar. Para ser considerado um fator de confundimento,
• Caso-controle de base populacional: quando casos e con-
a variável deve estar associada com a exposição e com o des-
troles são selecionados da população. Os casos podem
fecho e não fazer parte da cadeia causal que leva essa expo-
ser identificados por meio de triagem populacional, em
sição ao desfecho. Por exemplo, em um estudo sobre a asso-
área geográfica ou grupo populacional definido durante um
ciação entre o hábito de fumar e o câncer bucal, idade seria um
determinado período de tempo ou de registros de hospitais
fator de confusão se a média de idade dos grupos de fumantes
(estudo de base hospitalar). Os controles são selecionados
e não fumantes na população estudada fosse muito diferente, já
através de uma amostra probabilística dos indivíduos sem
que a incidência de câncer bucal aumenta com a idade (Fig. 9.3).
a doença ou outro efeito, pertencentes à mesma área geo-
Fatores de confundimento podem ser controlados no plane- gráfica ou comunidade dos casos.
jamento do estudo, através da restrição ou pareamento de in-
• Caso-controle aninhado: quando casos e controles são sele-
divíduos em determinados grupos ou durante a análise dos
cionados no decorrer de uma coorte pré-definida, na qual
dados, utilizando-se métodos estatísticos específicos.
algumas informações sobre exposições e fatores de risco já
Além dos estudos transversais, os dois tipos básicos de estudos se encontram disponíveis.
analíticos observacionais são os estudos de caso-controle e de
Quanto à seleção dos grupos de comparação, esses estudos
coorte, os quais serão abordados a seguir.
podem ser:
TEMPO
Direção da investigação
Inicia com
Expostos
• Casos
(pessoas com a doença)
Não expostos
População
Expostos
• Controles
(pessoas sem a doença)
Não expostos
Figura 9.4
366 pacientes com câncer de boca ou de faringe (casos) foram Quadro 9.5
comparados com 469 pacientes não portadores de câncer ou
Vantagens e limitações do estudo de caso-controle
outras condições associadas (controles). O consumo de arroz e
feijão foi mais frequente entre os indivíduos do grupo-controle, Vantagens
indicando que esses alimentos são fatores de proteção para o
• É relativamente rápido e barato se
câncer oral, independentemente de outros fatores de risco.40 comparado a outros estudos analíticos
As vantagens e limitações do estudo de caso-controle • É particularmente apropriado para a investigação
encontram-se no Quadro 9.5. de doenças com períodos de latência longos
• É o melhor tipo de estudo para a
investigação de doenças raras
Estudos de coorte • Permite examinar fatores etiológicos
múltiplos para uma única doença
TEMPO
Direção da investigação
Com a doença
Expostos
Sem a doença
População Pessoas sem
a doença
Com a doença
Não expostos
Sem a doença
Figura 9.5
interesse, isso pode limitar as vantagens ou enviesar os resul- Estudo de coorte prospectivo
tados de um estudo de coorte.
Em um estudo prospectivo, também chamado de estudo con-
O estudo de coorte é o estudo observacional que fornece as corrente ou seguimento, a doença ainda não ocorreu no início
melhores informações sobre a causa das doenças e a medida da pesquisa, e o investigador deve conduzir um seguimento
mais direta do seu risco. Seu desenho é considerado o mais (follow-up) durante um intervalo de tempo apropriado para
próximo do desenho experimental “ideal”. No entanto, cos- determinar o evento de interesse em relação ao fator de expo-
tuma ser de operacionalização complexa e de alto custo, que sição. Assim, um estudo prospectivo inicia com um grupo de
podem limitar o seu uso. pessoas (uma coorte) consideradas livres de uma determinada
doença, mas que apresentam variações em relação à exposição
Estudos de coorte prospectivos e retrospectivos a um fator supostamente nocivo. Os indivíduos são classifi-
cados em expostos e não expostos.
Estes termos referem-se à relação temporal entre o início do
estudo pelo investigador e a ocorrência da doença em estudo. Pelo fato dos possíveis fatores causais serem medidos antes de
A característica que distingue uma coorte prospectiva de uma a doença ocorrer, um estudo de coorte pode estabelecer que tais
retrospectiva é unicamente se a doença de interesse já ocorreu fatores precedem a patologia. Essa sequência no tempo fortalece
ou se ainda não aconteceu no momento em que o investigador a inferência de que o fator pode ser uma causa da doença ou outro
inicia o estudo. evento. Um estudo prospectivo dá ao investigador uma oportuni-
dade de medir importantes variáveis completa e acuradamente.
Existe muita confusão quanto ao emprego dos termos retros-
Entretanto, é pouco adequado para se investigar doenças ou
pectivo e prospectivo em estudos epidemiológicos. Alguns
outros eventos raros ou com longos períodos de latência.
investigadores têm usado esses termos como sinônimos de
caso-controle e coorte, respectivamente, considerando que o Em odontologia, ainda são poucos os estudos de coorte,
primeiro parte da doença para uma possível causa, enquanto em comparação aos demais delineamentos. Um exemplo
o último parte de uma exposição para a doença ou outro é o estudo longitudinal com duração de 10 anos realizado
evento. Segundo Hennekens e Buring,8 é mais informativo usar entre os moradores de Estocolmo, na Suécia, com o objetivo
os termos para se referir à relação temporal entre o início do de avaliar a associação entre o hábito de fumar e a doença
estudo pelo investigador e a ocorrência da doença sob inves- periodontal. A perda óssea alveolar marginal foi avaliada
tigação. Assim, embora essa terminologia seja teoricamente radiograficamente em 349 pessoas em 1970 e 1980, e os
aplicável aos estudos de caso-controle, ela é mais útil para dife- resultados mostraram que a maior perda ocorreu entre os
renciar os dois principais tipos de estudos de coorte: o estudo indivíduos que eram fumantes em 1980, enquanto a menor
de coorte retrospectivo e o estudo de coorte prospectivo. taxa ocorreu entre aqueles que eram não fumantes em
ambos os exames.42
A Figura 9.6 ilustra a inter-relação entre a exposição, a doença e
o tempo de início da investigação para os estudos de caso-con- No Brasil, destacam-se os estudos utilizando dados das coortes
trole, coorte prospectivo e coorte retrospectivo. A escolha do de Pelotas, no Rio Grande do Sul, um importante seguimento
tipo de estudo depende da natureza da doença em estudo, do de indivíduos desde o nascimento.43 Diversos estudos foram
tipo de exposição e dos recursos disponíveis. conduzidos para investigar as principais doenças e agravos
9 // Tipos de estudo 119
ESTUDO DE CASO-CONTROLE
Exposição Doença
? Presente
? Ausente
Exposição Doença
Presente ?
Ausente ?
Exposição Doença
Presente ?
Ausente ?
Legenda
Investigador no início do
estudo
? A ser determinada
Figura 9.6
Relação temporal dos estudos de caso-controle, coorte prospectivo e coorte retrospectivo, em relação à exposição e resultado.
Fonte: Hennekens e Buring.8
bucais ao longo da vida e fatores associados, como comporta- retrospectivo a investigação é iniciada depois que a exposição e
mentos e condições socioeconômicas.44 a doença já ocorreram. É, portanto, mais adequado para inves-
tigar doenças de prevalências baixas e períodos de latência
Estudo de coorte retrospectivo longos. Nesse caso, o investigador identifica os membros do
Este tipo de estudo é também chamado estudo não concorrente coorte a partir dos registros de uma exposição prévia. Os dados
ou coorte histórica. Ao contrário do estudo prospectivo, em um de interesse para o estudo podem ser coletados através de pes-
120 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
sença e posição dos terceiros molares inferiores (exposição) e • Se o estudo for prospectivo, minimiza o
viés da determinação da exposição
fraturas de ângulo de mandíbula (desfecho).45 Nesse estudo, as
• A seleção dos controles é relativamente simples,
fontes de dados foram os prontuários médicos e as radiografias ao contrário dos estudos de caso-controle
dos pacientes atendidos com fraturas de mandíbula entre janeiro • Permite medir diretamente a incidência da
de 1993 e abril de 1998, num hospital universitário em Atlanta, doença nos grupos exposto e não exposto
nos Estados Unidos. Pacientes com presença do terceiro molar • Não apresenta problemas éticos quanto à exposição
apresentaram uma probabilidade 1,9 vez maior de ter fratura de dos participantes a fatores de risco ou tratamento,
ângulo, se comparados àqueles com ausência do referido dente. como ocorre nos estudos experimentais
e vacinas. Outras aplicações incluem a avaliação da eficácia e cados. É, portanto, indicado para os casos em que o tratamento
efeitos colaterais de cirurgias, condutas médicas, exames pe- pode ser aplicado somente aos dentes selecionados, não tendo
riódicos, orientações dos profissionais e outras formas de inter- ação sobre os demais. Essa modalidade é utilizada com frequência
venção no processo da doença. Devido a limitações práticas e em ensaios para se testar a eficácia dos selantes de fóssulas e
éticas, a etiologia das doenças é dificilmente pesquisada pelo fissuras, comparando-se diferentes materiais ou técnicas num
método experimental. mesmo indivíduo, ou deixando-se um hemiarco sem tratamento,
que serve como controle.52 O desenho experimental de boca divi-
No processo de alocação dos participantes aos grupos de
dida tem sido muito utilizado também em periodontia.53,54
estudo, dois princípios devem ser considerados:
relação ao ensaio clínico, porque é necessário um maior número Segundo Bonita e colaboradores,20 os ensaios comunitários
de participantes e um tempo de seguimento mais longo para se podem subestimar o efeito da intervenção em estudo, devido
observar a ocorrência da doença. às seguintes limitações:
O alto custo desses estudos tem limitado seu uso ao estudo • somente um pequeno número de comunidades pode ser
das medidas preventivas de doenças extremamente comuns incluído no estudo, e a alocação aleatória de comunidades
ou extremamente severas, como, por exemplo, experimentos não é possível;
com o objetivo de determinar a eficácia de novas vacinas ou a
• é difícil isolar as comunidades onde a intervenção está
eficácia da vitamina C na prevenção do resfriado. Esse método
sendo realizada, das mudanças sociais em geral que
pode também ser usado para avaliar intervenções com o obje-
possam estar ocorrendo.
tivo de reduzir a exposição, sem necessariamente medir a ocor-
rência dos seus efeitos à saúde, o que pode ser realizado em Nos casos em que a alocação aleatória de comunidades não
menor escala e com custo mais baixo. é possível, o desenho do estudo é chamado de quase-experi-
mento, o qual será descrito a seguir. Outra limitação inerente a
Assim como nos ensaios clínicos, o ideal é procurar sempre a
esse tipo de estudo é que nem sempre é possível o emprego do
randomização dos grupos de tratamento, para se minimizar a
cegamento. Quando isso ocorre, outras estratégias são neces-
variação de fatores externos que possam afetar a comparação,
sárias para reduzir os efeitos negativos do não cegamento.
embora isso seja difícil em grandes estudos de campo.
Apesar das limitações, os ensaios comunitários são de alta
Conforme mencionado anteriormente, o termo ensaio clínico
relevância para subsidiar a tomada de decisões relacionadas a
tem sido utilizado em odontologia de forma generalizada. Da
diversas questões em saúde pública.
mesma forma, é comum encontrar na literatura estudos des-
critos como ensaios de campo, mas que foram realizados em
indivíduos com diferentes experiências das doenças bucais. Estudos experimentais não
Por exemplo, num ensaio de campo sobre o uso de balas com randomizados ou estudos
xilitol na prevenção da cárie, realizado em escolares da Estônia,
participaram todas as crianças de 10 anos de idade, com dife-
quase-experimentais
rentes índices de cárie.57
Ensaios comunitários não randomizados, também chamados de
quase-experimentos, são análogos aos randomizados, mas não
Ensaios comunitários existe randomização, ou seja, não há emprego de alocação alea-
O ensaio comunitário é uma intervenção realizada em popula- tória dos participantes na formação dos grupos de estudo.58,5
cões ou comunidades, ao invés de indivíduos.58-60 Em compa- Apresentam-se, portanto, como alternativa nos casos em
ração com os ensaios clínicos e de campo, geralmente envolve que não é possível ou não é ético realizar a randomização. No
um número maior de participantes. O uso desse tipo de estudo entanto, a falta de randomização também significa que o investi-
é crescente em saúde coletiva. Quando aplicados os mesmos gador tem menor controle sobre a influência de fatores de risco.
princípios do ensaio clínico, é chamado de ensaio comunitário Assim, embora seja um delineamento aceitável, esse tipo de
controlado randomizado (ECCR). estudo requer tratamento estatístico diferente daquele normal-
mente utilizado, considerando-se que fatores dentro dos grupos
Outra diferença entre o ensaio clínico e o ensaio comunitário
podem afetar os resultados.
é que, enquanto o primeiro é conduzido num ambiente artifi-
cial, o segundo é conduzido dentro de um contexto sociopo- O termo grupo de comparação tem sido utilizado para ensaios
lítico de uma população naturalmente formada. Além disso, não randomizados, enquanto o termo grupo controle aplica-se
o objetivo primário do ensaio clínico é testar tratamentos, aos ensaios randomizados, embora ambos sejam, às vezes, uti-
enquanto o ensaio comunitário geralmente visa a implemen- lizados como sinônimos. As seguintes situações costumam ser
tação e avaliação da eficácia e efetividade de intervenções empregadas:
que busquem a prevenção primária por meio da modificação • comparação de um grupo: também chamada comparação
do fator de risco em uma população definida. Esses fatores de interna, na qual cada unidade experimental serve como seu
risco podem ser comportamentos individuais, características próprio controle, por meio de observação da resposta antes
biológicas ou aspectos do meio ambiente. As possíveis inter- e depois de uma ou mais intervenções. Outras denomina-
venções incluem modificações de comportamento (p. ex., edu- ções são estudos não randomizados e não concorrentes ou
cação em saúde) ou consumo de um agente preventivo (p. ex., históricos;
fluoretos). A intervenção é então realizada em uma das comu-
nidades (grupo de intervenção), enquanto a outra (grupo-con- • comparação de grupos múltiplos: também chamada com-
trole) não a recebe. paração externa, na qual os grupos de intervenção ou tra-
124 Metodologia científica: ciência, ensino, pesquisa
tamento são comparados com outros grupos controle não uma descrição mais detalhada dos ensaios de comunidades, o
randomizados. Os grupos de tratamento são formados por leitor deve consultar Lilienfeld e Stolly.59
conveniência (p. ex., áreas geográficas) ou de acordo com o
O experimento natural é um tipo de investigação quase-expe-
comportamento voluntário dos indivíduos (p. ex., pacientes
rimental, não planejada, baseada nas circunstâncias ocorridas
que vão se submeter a cirurgia eletiva);
naturalmente, em que as populações sofreram diferentes graus
• comparação mista: este tipo de estudo combina os ele- de exposição a um dado fator, supostamente causal, simu-
mentos das comparações interna e externa, melhorando o lando uma verdadeira experiência aleatorizada.5 O processo
potencial para inferência causal. de alocação parece ser ao acaso, embora nenhuma tentativa
deliberada tenha sido feita para se randomizar. Experimentos
Em odontologia, um bom exemplo de ensaio comunitário é o
naturais podem também ser considerados estudos observa-
clássico estudo da eficácia da água fluoretada na prevenção da
cionais.58 Na área da saúde bucal, destacam-se dois exemplos
cárie dentária, realizado nos Estados Unidos,61 no qual comu-
clássicos desse tipo de experimento:62
nidades inteiras foram selecionadas e a exposição foi determi-
nada em nível comunitário. Nesse caso, o estudo de campo não Estudos sobre a relação entre níveis de fluoretos na água e
seria apropriado, pois o flúor não é administrado aos indivíduos, baixa experiência de cárie: foram os primeiros estudos sobre
mas à água de abastecimento que beneficia grupos de pessoas flúor e cárie e surgiram a partir da detecção de manchas nos
ou comunidades. Além disso, grupos-controle randomizados não dentes de uma comunidade dos Estados Unidos. Posterior-
puderam ser obtidos. Assim, a cidade de Newburgh concordou mente, foi demonstrado que algumas crianças de uma comu-
em servir como grupo de tratamento (aumentando-se o teor de nidade que usavam água de fonte natural não apresentavam
fluoreto da água de 0,1 ppm para 1 ppm), enquanto a cidade de tais manchas, se comparadas àquelas que usavam a água de
Kingston concordou em servir como grupo ou comunidade-con- abastecimento usual.63 Mais tarde, análises químicas da água
trole (mantendo-se o teor natural de fluoreto de 0,1 ppm). Após identificaram o fluoreto como o elemento responsável pelas
10 anos, foi observada menor experiência de cárie (CPO-D) em manchas e foi também observada uma menor prevalência de
Newburgh, mostrando claramente a eficácia da fluoretação da cárie nas comunidades que tinham manchas (fluorose) nos
água de abastecimento. dentes.64,63 A partir daí foram desenvolvidos outros estudos
com o objetivo de estabelecer os níveis ideais de fluoreto na
Os ensaios comunitários não randomizados podem ser plane-
água para a prevenção da cárie.
jados (estudos de programas ou políticas) ou não planejados
(experimento natural). Estudos sobre o efeito do racionamento de alimentos
durante períodos de guerra na prevalência de cárie:
Estudos de programas ou políticas são geralmente planejados
demonstraram que houve um aumento dramático na preva-
e implementados por outras pessoas não envolvidas na investi-
lência da cárie na Europa no século XIX, quando o consumo
gação, com o objetivo de controlar algum problema social rela-
de açúcar aumentou devido à eliminação das taxas sobre o
cionado à saúde. Esse tipo de estudo não randomizado está
produto. Contudo, durante as Primeira e Segunda Guerras
intimamente ligado ao processo de planejamento em saúde
ocorreu um declínio dos níveis da doença, como conse-
pública. Seus maiores objetivos são avaliar a efetividade de
quência do racionamento do açúcar.65,66
uma intervenção planejada e sugerir mudanças nos programas
ou políticas em resposta à avaliação. Nesse caso, a randomi-
zação não é aceita, por ser julgada desnecessária, inviável na Estudos diagnósticos
prática ou eticamente não recomendável.
Muitas vezes, a intervenção já foi iniciada quando o estudo O estudo diagnóstico, também conhecido como teste diag-
começou, então a alocação aleatória não é mais possível. nóstico ou de acurácia, é empregado para avaliar os testes uti-
Formam-se, então, dois grupos de indivíduos com diferentes lizados no diagnóstico das doenças ou agravos à saúde, bus-
características, o grupo dos beneficiados e o dos não benefi- cando determinar qual o melhor procedimento para este fim.
ciados pelo programa. Quando a avaliação é planejada antes Erros diagnósticos constituem um tipo de erro de mensuração,
da implementação da intervenção (nova estratégia, programa então o que se busca é desenvolver procedimentos que sejam
ou política), geralmente não consta nos seus objetivos deixar capazes de minimizá-los.
uma proporção da população-alvo sem a intervenção. Assim, o Essa modalidade de estudo é um exemplo de epidemiologia
estudo de programa/política não é usado primariamente para aplicada à clínica. Segundo Newman e colaboradores,67 a
testar a eficácia de uma medida terapêutica ou preventiva, mas maioria dos testes diagnósticos é similar aos estudos epidemio-
para avaliar até que ponto as metas em saúde pública têm sido lógicos observacionais: caso-controle (para estudos diagnós-
alcançadas, ou seja, avaliar a efetividade da intervenção. Para ticos) e coorte (para estudos prognósticos), mas é também pos-
9 // Tipos de estudo 125
sível usar ensaios clínicos. A variável preditora (ou exposição) é da aplicação de testes, exames ou outros procedimentos que
o resultado do teste e a variável de desfecho é a doença. podem ser aplicados rapidamente na população.14 Os testes
de rastreamento separam indivíduos aparentemente bem ou
Em pesquisa clínica, os procedimentos costumam ser os diversos
sadios que provavelmente têm a doença daqueles que prova-
exames complementares, como os laboratoriais ou exames por
velmente não têm. Seu objetivo não é fazer diagnóstico, então
imagem. Em epidemiologia, incluem também procedimentos
indivíduos com resultados positivos ou suspeitos devem ser
como a anamnese ou história clínica e o exame físico.22
referidos para diagnóstico e tratamentos apropriados.
Nesse tipo de estudo são utilizados os mesmos princípios para
Em odontologia, o rastreamento tem sido empregado em
a aferição da exposição a fatores de risco dos estudos epide-
ações de prevenção (secundária) do câncer bucal, buscando
miológicos.68 Estudos diagnósticos são úteis para o diagnós-
seu diagnóstico precoce e encaminhamento para tratamento.
tico clínico da doença e para o seu rastreamento (screening)
No entanto, segundo as diretrizes atuais do Instituto Nacional
na população. Quando aplicado ao diagnóstico clínico, serve
do Câncer (INCA), evidências não permitem indicar o rastrea-
para investigar a acurácia ou validade dos testes diagnósticos,
mento populacional desse tipo de câncer.71 A utilização de pro-
ou seja, se determinado teste, que é novo e está em fase de
gramas dessa natureza tem sido objeto de discussão entre os
estudo, é capaz de detectar a presença de uma doença quando
pesquisadores e gestores em saúde coletiva. Para mais deta-
ela realmente existe (sensibilidade) ou a sua ausência quando
lhamento sobre a aplicação de testes diagnósticos e rastrea-
ela não existe (especificidade).
mento em odontologia, consultar Costa e Nadanovsky.72
Em sua execução, um grupo de indivíduos com determinada
doença e outro grupo saudável são submetidos ao padrão de
referência chamado de “padrão-ouro” (gold standard), que é o Considerações finais
procedimento aceito como sendo o melhor disponível para o
diagnóstico da doença em questão. Os mesmos indivíduos são No presente capítulo foi apresentada uma visão geral dos
também submetidos ao novo teste, e os resultados de ambos diversos tipos de estudos em saúde, discutindo e exemplifi-
são comparados. Como muitos testes envolvem julgamento, cando a sua aplicação na pesquisa odontológica. Embora o
é recomendável aplicar o cegamento dos examinadores para método quantitativo tenha sido o foco do capítulo, os métodos
evitar vieses. quanti e qualitativo se complementam. Portanto, a combinação
de ambos, à luz de suas vantagens e limitações, pode ser a
A acurácia é geralmente calculada pela proporção de indivíduos melhor opção para algumas questões de pesquisa.
verdadeiramente positivos com aqueles verdadeiramente
negativos em relação aos falsos positivos e falsos negativos. De todo modo, um aspecto essencial no processo de planeja-
Além da acurácia, a avaliação da qualidade de um teste diag- mento do tipo de estudo a ser adotado é adequar o seu deli-
nóstico envolve também a reprodutibilidade ou repetibilidade, neamento ao(s) objetivo(s) proposto(s). A escolha do método
que consiste na consistência de resultados quando o exame é de pesquisa mais apropriado requer também a consideração
repetido. Outra medida é a razão de probabilidade diagnóstica, detalhada de uma série de fatores que incluem o tempo dispo-
ou razão de verosimilhança, que representa o quociente entre nível para a pesquisa, as questões éticas, os custos e a dispo-
as probabilidades de um determinado resultado em indivíduos nibilidade de dados existentes. Além disso, uma investigação
doentes e não doentes. detalhada de uma doença ou outro evento de interesse pode
envolver a realização de estudos de diferentes tipos. Negligen-
Um exemplo em odontologia é a comparação de imagens de ciar tais considerações pode resultar em pesquisas e publica-
ultrassonografia de alta resolução com as de ressonância mag- ções com pouco valor científico ou pouco impacto para saúde
nética (padrão-ouro) para avaliar distâncias capsulo-condilar coletiva. Em qualquer caso, a preocupação com a qualidade da
laterais e anteriores na detecção de deslocamento de disco da pesquisa deve prevalecer.
articulação temporo-mandibular.69
4. Tobar F, Yalour MR. Como fazer teses em saúde pública: conselhos e 27. Roncalli AG, Souza TMS. Levantamentos epidemiológicos em saúde
ideias para formular projetos e redigir teses e informes de pesquisas. Rio bucal no Brasil. In: Antunes JLF, Peres MA. (Org.). Epidemiologia da
de Janeiro: Editora Fiocruz; 2001. Cap. 5, p.95-109. saúde bucal. 2ª ed. São Paulo: Santos; 2013. Cap. 3, p.51-69.
5. Pereira MG. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara 28. Freire MCM, Leles CR, Sardinha LMV, Paludetto Junior M, Malta DC,
Koogan; 1995. Peres MAA. Dor dentária e fatores associados em adolescentes brasi-
leiros: a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), Brasil, 2009.
6. von Zeidler SV, Guidi R, Alencar R de C, Aguiar R, Mendonça EF, Batista Cad Saúde Públ 2012; 28:s133-45.
AC, Ribeiro-Rotta RF. Atypical esthesioneuroblastoma invading oral
cavity: a case report and review of the literature. Diagn Pathol 2014; 29. World Health Organization. Oral health surveys: basic methods. 5th ed.
9:10-5. Geneva: WHO; 2013.
7. Siddique I, Mahmood H, Mohammed-Ali R. Paracetamol overdose sec- 30. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departa-
ondary to dental pain: a case series. Br Dent J 2015; 219:E6. mento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Pro-
jeto SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: projeto técnico.
8. Hennekens CH, Buring JE. Epidemiology in medicine. Boston: Little, Brasília: Ministério da Saúde; 2009. 27p.
Brown; 1987.
31. Peres MA, Peres KG. Levantamentos epidemiológicos em saúde bucal
9. Aquilante AG, Aciole GG. O cuidado em saúde bucal após a Política – Recomendações para os serviços de saúde. In: Antunes JLF, Peres MA.
Nacional de Saúde Bucal – “Brasil Sorridente”: um estudo de caso. Cien (Org.). Epidemiologia da saúde bucal. 2. ed. São Paulo: Santos; 2013.
Saude Colet 2015; 20:239-48. Cap. 2, p.31-49.
10. Kite OW, Shaw JH, Sognnaes RF. The prevention of experimental tooth 32. Medronho RA. Estudos ecológicos. In: Medronho RA, Carvalho DM,
decay by tube-feeding. J Nutr 1950; 42:89-103. Bloch KV, Luiz RR, Werneck GL. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu;
11. Cavalcanti AL, Lucena RN, Martins VM, Granville-Garcia AF. Caracteri- 2003.
zação da pesquisa odontológica experimental em animais. RGO 2009; 33. Jekel JF, Elmore JG, Katz DL. Epidemiologia, bioestatística e medicina pre-
57:93-8. ventiva. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2005.
12. Pereira RD, Brito-Júnior M, Leoni GB, Estrela C, de Sousa-Neto MD. Eval- 34. Jacobsen SJ, Goldberg J, Cooper C, Lockwood SA. The association
uation of Bond Strength in Single-Cone Fillings of Canals with Different between water fluoridation and hip fracture among white women and
Cross-Sections. Int Endod J 2015. men aged 65 years and older. A national ecologic study. Ann Epidemiol
13. Pound P, Ebrahim S, Sandercock P, Bracken MB, Roberts I. Where is the 1992; 2:617-26.
evidence that animal research benefits humans? Br Med J 2004; 328:514- 35. Suarez-Almazor ME, Flowerdew G, Saunders LD et al. The fluoridation
17. of drinking water and hip fracture hospitalization rates in two Canadian
14. Porta M. A dictionary of epidemiology. 6th ed. New York: Oxford Univer- communities. Am J Public Health 1993; 83:689-93.
sity Press; 2014. 36. Arnim S, Aberle S, Pitney E. A study of dental changes in a group of
15. Rose G, Barker DJP. Epidemiology for the uninitiated. 2nd ed. London: Pueblo Indian children. J Am Dent Assoc 1937; 24:478.
British Medical Association; 1990. 37. Bueno RE, Moysés ST, Bueno PAR, Moysés SJ. Determinantes sociais e
16. Hill AB. The environment and disease: association or causation? Proc R saúde bucal de adultos nas capitais do Brasil. Rev Panam Salud Publica
Soc Med 1965; 58:295-300. 2014; 36:17-23.
17. Rothman KJ. Modern epidemiology. Boston: Little, Brown; 1986. 38. Castellanos PL. O ecológico na epidemiologia. In: Almeida Filho N, Bar-
reto ML, Veras RP, Barata RB. (Org.). Teoria epidemiológica hoje: fun-
18. Scheutz F. Basic principles and methods of oral epidemiology. In: Pine damentos, interfaces e tendências. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ABRASCO;
CM, editor. Community oral health. Oxford: Wright; 1997. 1998. Cap. 7, p.129-147.
19. Nadanovsky P, Luiz RR, Costa AJL. Causalidade em saúde bucal. In: Luiz 39. Bonita R, Beaglehole R, Kjellström T. Basic Epidemiology [Internet] 2nd
RR, Costa AJL, Nadanovsky P. Epidemiologia e bioestatística na pesquisa edition. Genebra: WHO; 2006 [capturado em 10 nov. 2017]. Disponível
odontológica. 2ª ed. São Paulo, Atheneu; 2008. Cap. 4 p.71-87. em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43541/1/9241547073_
eng.pdf.
20. Bonita R, Beaglehole R, Kjellström T. Epidemiologia básica. São Paulo:
Santos; 2010. 40. Marchioni DMLM, Fisberg RM, Gois-Filho JF, Kowalski L, Carvalho MB,
Abrahão M, et al. Fatores dietéticos e câncer oral: estudo caso-controle
21. Mausner JS, Bahn SK. Epidemiology: an introductory text. 2nd ed. Phila-
na região metropolitana de São Paulo. Cad Saúde Públ 2007; 23:553-64.
delphia: Saunders; 1985.
41. Cummings SR, Newman TB, Hulley SB. Delineando um estudo obser-
22. Almeida Filho N, Barreto ML. Desenhos de pesquisa em epidemiologia.
vacional: estudos de coorte. In: Hulley SB, Cummings SR, Browner WS,
In: _____ Epidemiologia & saúde: fundamentos, métodos, aplicações.
Grady DG, Hearst N, Newman TB. Delineando a pesquisa clínica. 2ª ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013. cap. 14, p.165-174.
Porto Alegre: Artmed; 2003. Cap. 7, p.113-125.
23. Pearce N. Classification of epidemiological study designs. Int J Epidemiol
42. Bolin A, Eklund G Frithiof L, Lavstedt S. The effect of changed smoking
2012; 41:393-7.
habits on marginal alveolar bone loss: a longitudinal study. Swed Dent J
24. Gordis L. Epidemiologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2010. 1993; 17:211-6.
25. Malta DC, Leal MCC, Costa MFL, Morais Neto OL. Inquéritos Nacionais 43. Victora CG, Barros FC. Cohort Profile: the 1982 Pelotas (Brazil) Birth
de Saúde: experiência acumulada e proposta para o inquérito de saúde Cohort. Int J Epidemiol 2006; 35:237-42.
brasileiro. Rev bras epidemiol 2008; 11:159-67.
44. Peres KG, Peres MA, Demarco FF et al. A saúde bucal nas coortes de nas-
26. Newman TB, Browner WS, Cummings SR, Hulley SB. Delineando um cimentos de Pelotas, RS, Brasil. Rev bras epidemiol 2014; 17:281-4.
estudo observacional. In: Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady
45. Lee JT, Dodson TB. The effect of mandibular third molar presence and
DG, Hearst N, Newman TB. Delineando a pesquisa clínica. 2a ed. Porto
position on the risk of an angle fracture. J Oral Maxillofac Surg 2000;
Alegre: Artmed; 2003. Cap. 8, p.127-145.
58:394-8.
9 // Tipos de estudo 127
46. Cummings SR, Grady D, Hulley SB. Delineando um experimento: 60. Pereira SM, Barreto ML. Estudos de intervenção. In: Almeida Filho N, Bar-
ensaios clínicos I. In: Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady reto ML. Epidemiologia & saúde: fundamentos, métodos, aplicações.
DG, Hearst N, Newman TB. Delineando a pesquisa clínica. 2ª ed. Porto Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. Cap. 19, p.215-24.
Alegre: Artmed; 2003. Cap. 10, p.165-179.
61. Ast DB. Effectiveness of water fluoridation. J Am Dent Assoc 1962;
47. Marinho VCC. Prevenção eficaz da cárie dentária com flúor. In: Bönecker 65:581.
M, Sheiham A, org. Promovendo saúde bucal na infância e adolescência:
conhecimentos e práticas. São Paulo: Santos; 2004. 62. Scheutz F, Sheiham A. Teaching oral and dental epidemiology. In: Olsen
J, Trichopoulos D, editors. Teaching epidemiology: what you should
48. Marinho VC. Cochrane reviews of randomized trials of fluoride therapies know and what you could do. Oxford: