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Propriedades Mecânicas e Condutividade Elétrica de Argamassas

Produzidas com Adição de Grafite em Pó


Mechanical Properties and Electrical Conductivity of Mortars Produced with the Addition of
Graphite Powder

Camila T. Ozaki e Silva(1); João B. L. Palma e Silva(2); Rosa C. C. Lintz(3); Luísa A. Gachet(3).

(1) Mestranda em Tecnologia, Faculdade de Tecnologia, Universidade Estadual de Campinas


(2) Doutorando em Tecnologia, Faculdade de Tecnologia, Universidade Estadual de Campinas
(3) Professora Livre-Docente, Faculdade de Tecnologia, Universidade Estadual de Campinas
Rua Paschoal Marmo, 1888 - Jd. Nova Itália - CEP:13484-332 - Limeira, SP

Resumo
Compósitos cimentícios como argamassas e concretos possuem como principais finalidades de uso o
assentamento/revestimento de alvenarias e a produção de estruturas, respectivamente. Tem sido cada vez
mais comum à busca por agregar mais funcionalidades à finalidade principal destes compósitos, como, por
exemplo, implementar autorregeneração, automonitoramento e armazenamento de energia no concreto e
na argamassa. Entretanto, para que isso seja possível, torna-se necessário na maioria dos casos o
emprego de outros materiais em conjunto com o cimento Portland, como a adição de materiais
eletricamente condutivos. Esta pesquisa tem por finalidade avaliar propriedades mecânicas e a
condutividade elétrica de argamassas produzida com cimento Portland e grafite em pó nas proporções de 5
e 10% em relação ao traço de referência (sem adição de grafite). Os corpos de prova tiveram eletrodos de
alumínio instalados durante a moldagem para que, após endurecimento da argamassa, fossem medidas
grandezas elétricas para determinar a condutividade elétrica de cada traço. Também foram avaliadas as
propriedades mecânicas de cada traço, como a resistência à compressão aos 7 e aos 28 dias, bem como o
módulo de elasticidade dinâmico, permitindo a análise da influência da adição de grafite no comportamento
mecânico das argamassas estudadas. Com a adição de grafite houve o aumento da capacidade de
condutividade elétrica, mas com redução da fluidez da argamassa no estado fresco e da resistência à
compressão no estado endurecido, apesar de se manter dentro dos limites de resistência à compressão da
NBR 13281.
Palavra-Chave: condutividade elétrica; propriedade mecânica; multifuncionalidade; argamassa; grafite.

Abstract
Cementitious composites such as mortars and concrete have as main purposes of the laying/coating of
masonry and the production of structures, respectively. Research has sought to add more functionality to the
main purpose of these composites, such as, for example, implementing self-healing, self-monitoring, and
energy storage in concrete and mortar. However, for this to be possible, it is necessary in most cases to use
other materials combined with Portland cement, such as the addition of electrically conductive materials. This
research aims to evaluate the mechanical properties and electrical conductivity of mortars produced with
Portland cement and powdered graphite in the proportions of 5 and 10% in relation to the mix proportion
reference (without graphite). During the molding of the specimens were embedded aluminum electrodes, so
that, after hardening of the mortar, electrical quantities could be measured to determine the electrical
conductivity of each mix proportion. The mechanical properties of each mix proportion were also evaluated,
compressive strength at 7 and 28 days, as well as the dynamic modulus of elasticity, allowed analysis of the
influence of the addition of graphite on the mechanical behavior of the mortars studied. With the addition of
graphite there was an increase in the electrical conductivity capacity, but a reduction in the fluidity of the
mortar in the fresh state and in the compressive strength in hardened state, despite remaining within the
compressive strength limits of Brazilian standard.
Keywords: electrical conductivity; mechanical properties; multifunctionality; mortar; graphite.

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1 Introdução

Métodos de monitoramento de integridade estrutural são amplamente estudados, mas em


sua maioria, os sensores embutidos ou acoplados ao concreto diminuem a durabilidade e
tem baixa sensibilidade, apresentando resultados localizados, não representativos de toda
a estrutura. Por isso, a busca por Compósitos Cimentícios Autossensíveis (CCA’s) que
não diminuam a resistência a cargas aplicadas e tenham a habilidade de monitoramento
integral da estrutura podem ser a solução para essa barreira (DEMIRCILIOĞLU et al.
(2020)).
CCA’s são materiais inteligentes, de multifuncionalidade e com papel importante no
cenário de ambiente construído do futuro, uma vez que se presente em toda a estrutura,
pode promover um monitoramento mais abrangente (SILVA, LINTZ e GACHET (2021a)).
Além disso, pode ainda ser um material ecofriendly com a combinação de materiais
menos nobres (mais baratos e de rejeitos), viabilizando efetiva utilização na integridade
de estruturas reais (SILVA, LINTZ e GACHET (2021b)).
Para obter um CCA, ao compósito cimentício tradicional é adicionado um material
condutivo que promove propriedades condutoras que auxiliarão no monitoramento da
estrutura, sem fazê-lo perder as vantagens do concreto comum (LIU et al. (2019)).
DEMIRCILIOĞLU et al. (2020) produziram um CCA usando fibras recicladas de latão,
cimento Portland, sílica ativa, agregados de calcário triturado, superplastificante e água.
Este CCA permitiu, então, avaliar a integridade da estrutura de maneira rápida,
econômica e robusta, possibilitando reparos e manutenções, prevendo falhas
catastróficas.
Os pesquisadores têm se voltado para CCA’s obtidos com a adição de vários fíllers
e materiais à base de carbono como negro de fumo, grafeno e fibra, nanofibra e nanotubo
de carbono (DEMIRCILIOĞLU et al. (2020)), ou seja, materiais a base de carbono se
mostram muito promissores no campo dos CCA’s.
Porém, materiais à base de carbono como fibras, nanotubos e nanografite são
materiais de alto custo e também limitam a aplicação desses compósitos cimentícios já
que causam a diminuição das propriedades mecânicas e durabilidade (FRĄC e PICHÓR
(2020)). Por isso a importância de pesquisas que analisem não apenas a condutividade
dos CCA’s como as propriedades mecânicas.

1.1 CCAs com materiais carbonosos

Compósitos cimentícios sem aditivos condutores exibem mudanças na resistividade


elétrica com tensões que são imensuráveis ou pequenas e que não se repetem (FRĄC e
PICHÓR (2020)). Essa resistividade elétrica deve diminuir gradualmente com o aumento
do conteúdo de material condutor no compósito (CORDON et al. (2020)), aumentando,
portanto, a condutividade e as propriedades piezoresistivas, tornando-as mensuráveis.

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Dessa forma, a condutividade elétrica do concreto aumenta quanto maior a
quantidade incorporada de grafite em pó (CORDON et al. (2020)). É possível fazer
adições de rejeitos de grafite que influenciam menos nas propriedades mecânicas, porém
têm menos efeito condutor, sendo necessário adicioná-los junto a outro material condutor
(LIU et al. (2018)).
Para DONG et al. (2021), condutores à base de carbono podem ser mais
adequados que condutores metálicos em CCA, isso porque pós metálicos em condições
úmidas são facilmente oxidados, comprometendo ambas propriedades (mecânicas e
piezoresistivas). Além disso, o formato do condutor também influencia o desempenho no
monitoramento de tesão/deformação: fibras apresentam-se melhores que condutores
esféricos.
LIU et al. (2019) investigaram a influência da finura e teor de grafite em pó nas
propriedades e microestruturas em CCA. Constatou que a adição de grafite em pó
diminuiu a resistência mecânica do concreto, bem como quanto maior o teor de grafite em
pó e maior tamanho da partícula, menor a resistividade do CCA e que o teor ideal
recomendado é de 5 a 10% de adição, no estudo em questão.
Além de afetar as propriedades mecânicas no estado endurecido, o CCA apresenta
redução de fluidez no estado fresco. Por isso, PAPANIKOLAOU et al. (2020)
recomendaram o uso de grafite com partículas menores, pois isso melhora a manutenção
do desempenho mecânico, reduz a dosagem para atingir limite de percolação elétrica e
permite ajustar a mistura para melhor fluidez.
Além do percentual de adição de grafite, a temperatura de cura dos compósitos
influencia na condutividade elétrica, como pode ser observado na figura 1 que apresenta
os valores da condutividade elétrica em função da porcentagem de grafite para dois
diferentes compósitos RT (cura completa em câmara com temperatura controlada de 20 ±
3 ºC e umidade relativa de 100%) e TT (primeiros sete dias de cura ocorreram em forno à
40 ºC e umidade relativa de 100%, os demais dias foram em câmara controlada conforme
RT).

Figura 1 – Condutividade elétrica para os compósitos curados de forma TT e RT.


(Adaptado de FRATTINI et al. (2017))

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Os compósitos cimentícios que incorporam em sua composição quantidades
significativas de materiais que os tornam mais condutores podem atingir níveis de menor
resistividade elétrica entre 1-100 Ωcm, o que permite os classificar como semicondutores,
o que denota ter atingido a zona do limiar de percolação (YOU et al. (2017)).
Frattini et al. (2017) também estudaram a relação do percentual de adição de
grafite e concluíram que em valores baixos de teor de grafite as amostras se comportaram
como isolantes (condutividade na ordem de 10-5 S/m) e valores elevados de teor de
grafite geraram condutividades com grandeza entre 1 e 10 S/m, típico do grafite. Por fim,
para valores intermediários de teor de grafite (30 a 60%) há várias ordens de grandeza
para a condutividade (de 10-5 a 1 S/m). Apesar de ser possível determinar faixas claras da
grandeza da condutividade com o teor de grafite, nota-se que não é uma função linear,
sendo possível chegar ao valor de 1-10 S/m indicado para o grafite puro.
Por fim, para medir a condutividade elétrica, pode-se colocar eletrodos de fitas de
cobre, fios ou pasta de prata ao redor do perímetro ou embutir eletrodos na amostra de
CCA. DEMIRCILIOĞLU et al. (2020) constataram que eletrodos colocados no perímetro
da amostra dificultam a passagem de elétrons no material devido a resistência de contato,
tendo-se resultados limitados a superfície da amostra (figura 2a). Por outro lado, segundo
o autor, eletrodos embutidos fazem o transporte de elétrons para toda a seção transversal
da amostra, tendo-se, assim, resultados sobre a totalidade da amostra (figura 2b).

Figura 2 – Fluxo de elétron e íon no CCA por meio do a) método do eletrodo perimetral e b) Método de
eletrodo embutido. (Adaptado de DEMIRCILIOĞLU et al. (2020)).

Com base no exposto, essa pesquisa tem por objetivo produzir e investigar
argamassas com adição de grafite em pó comparando a influência dessa adição com a
argamassa de referência com relação às propriedades tanto no estado fresco quanto
endurecido, bem como a condutividade elétrica.

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2 Materiais e Métodos

2.1 Materiais

Os diferentes traços de argamassas utilizadas (adaptados de FRĄC e PICHÓR (2020)),


conforme tabela 1, foram preparados conforme preconizações da NBR 16541 (ABNT,
2016). O cimento utilizado foi o CPV-ARI do fabricante Cauê. Como agregado miúdo foi
utilizado areia quartzosa, a qual foi caracterizada conforme NBR 248 (ABNT, 2003), com
um Módulo de Finura 2,13 e dimensão máxima característica de 2,4mm. A grafite em pó
utilizada, conforme laudo de análise (lote 17654) do fornecedor, dispõe de 94,65% de
carbono e granulometria predominante de 0,075mm. Por fim, a água de amassamento
utilizada foi a água potável disponível na rede pública do município de Limeira-SP.

Tabela 1 – Traços das argamassas em relação à massa de cimento


Traço Cimento Areia Grafite Água
TR 1 0,75 0 0,50
TG5 1 0,75 0,05 0,50
TG10 1 0,75 0,10 0,50

Os corpos de prova para ensaio de resistência à compressão e para ensaio de


determinação do módulo de elasticidade dinâmico, foram moldados nas dimensões de
40mm x 40mm x 160mm (figura 3a), dimensões estas previstas na NBR 13279 (ABNT,
2005). Os corpos de prova para determinação da condutividade elétrica, foram moldados
na dimensão cúbica de 40mm, com a inserção de 4 eletrodos em chapas de alumínio,
equidistados aproximadamente 10mm entre si, com uma área de 500mm² inserida na
argamassa em cada eletrodo, conforme figura 3b.

Figura 3 – Corpos de prova prismáticos (a) e cúbicos com eletrodos (b)

As disposições de cada um dos eletrodos embutidos foram mensuradas após instalação


nos corpos de prova, devido a desalinhamentos ocorridos durante o processo de
instalação dos mesmos. Tais valores foram utilizados nos cálculos de condutividade
elétrica conforme mostrado na seção 2.2.
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2.1 Métodos

Inicialmente foi realizado o ensaio de determinação do índice de consistência das


argamassas no estado fresco, conforme NBR 13276 (ABNT, 2016), de acordo com figura
4.

Figura 4 – Ensaio de consistência dos traços TR (a), TG5 (b) e TG10 (c)

Tanto aos 7 dias, quanto aos 28 dias, foram realizados os ensaios para determinação do
módulo de elasticidade dinâmico das argamassas, através da propagação de onda
ultrassônica (figura 5a), por meio do equipamento modelo USLab (fabricante Agricef). Os
ensaios de resistência à compressão foram realizados aos 7 e aos 28 dias, conforme
NBR 13279 (ABNT, 2005) na máquina universal de ensaios modelo EMIC-23-600
(fabricante INSTRON), conforme figura 5b.

Figura 5 – Ensaio de módulo de elasticidade (a) e resistência a compressão (b)

Para determinação da condutividade elétrica (σ) das argamassas por meio da equação 1
(CORDON et al. (2020)), é necessário obter-se a resistividade elétrica (ρ) por meio da
equação 2 (adaptado de KONKANOV et al. (2020)), em que: a resistência elétrica da
argamassa é dada por “R”; a área de contato do eletrodo com a argamassa é dada por
“A”; e a distância dos eletrodos por “L”.
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1
𝜎=𝜌 (Equação 1)

R∗A
𝜌= (Equação 2)
L

Foi utilizado o circuito da figura 6, para obtenção das tensões elétricas (U) e consequente
determinação da resistência elétrica (R) da argamassa.

Figura 6 - Circuito elétrico de divisor de tensões aplicado à medição de resistência elétrica sendo os
esquemas simplificado (a) e real (b). (elaborado a partir de DEMIRCILIOĞLU, TEOMETE e OZBULUT
(2020) e DONG et al. (2021))

Para o circuito apresentado na figura 7, foi utilizada a equação 3 (adaptado de NALON et


al. (2020)), para a determinação da resistência elétrica da argamassa (R), por meio da
medição das tensões elétricas nos eletrodos centrais da argamassa (Uarg) e no resistor de
referência (Uref), para possibilitar a substituição de “R” na equação (2).
Uarg
R= R ref (Equação 3)
Uref

Os valores de tensão elétrica (U) foram aquisitados por dois módulos data loggers modelo
365F (marca Hantek), com transmissão via UBS para um notebook, conforme figura 7.

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Figura 7 – Sistema de medição de tensões elétricas (a) e respectivo circuito (b)

O circuito foi alimentado com corrente continua (CC), fornecida por uma fonte modelo PS-
1502DD (marca Yaxun), sendo que os valores considerados de tensão elétrica (U) foram
aqueles após pelo menos 5 minutos de funcionamento do circuito com o corpo de prova
conectado, visando à estabilização das leituras.

3 Resultados

Com a adição de grafite nos traços TG5 e TG10, foi possível observar a redução do índice
de consistência da argamassa conforme gráfico da figura 8, o que se deu pelo aumento
da superfície especifica da massa anidra a ser hidratada com a mesma relação
água/cimento do traço TR (a/c=0,50).

400
Indíce de Consistência

300 339,05
290,45
(mm)

200 252,2
100

0
TR TG5 TG10
Figura 8 – Valores de índice de consistência da argamassa para cada traço

Em relação ao módulo de elasticidade, foi observado o aumento esperado entre 7 e 28


dias para cada traço, conforme gráfico da figura 9. Aos 28 dias, houve aumento de
16,26% e 10,07% do módulo de elasticidade, para TG5 e TG10 respectivamente, em
relação ao traço de referência, demonstrando aumento na velocidade de propagação da
onda ultrassonora. Este aumento no módulo de elasticidade por meio de onda
ultrassônica também foi constatado por MEDINA, BARBERO-BARRERA e JOVÉ-
SANDOVAL (2018) quando da adição de grafite em até 20% em compósitos cimentícios.
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30,00
Módulo de Elasticidade

25,00
26,22
24,82
20,00 22,55 21,52 22,60
21,02
(GPa)

15,00 7 dias
28 dias
10,00

5,00

-
TR TG5 TG10

Figura 9 - Valores médios de módulo de elasticidade da argamassa para cada traço aos 7 dias e aos 28
dias

Quanto à resistência à compressão, observou-se a redução com a adição de grafite,


conforme gráfico da figura 10. Essa redução foi de 5,32% e 17,91% para TG5 e TG10 em
relação a TR, respectivamente, aos 28 dias. Contudo, ainda que tenha ocorrido tal
redução de resistência nos traços com adição de grafite, a norma ABNT NBR 13281:2005
classifica essas argamassas como “P6”, por estarem acima do limite mínimo de 8,0 MPa.

50,00
45,00
Resistência à compressão

40,00 45,07
41,81 42,67
35,00
36,71 37,00
30,00 34,10
(MPa)

25,00 7 dias
20,00 28 dias
15,00
10,00
5,00
-
TR TG5 TG10

Figura 10 - Valores médios de resistência à compressão da argamassa para cada traço aos 7 dias e aos 28
dias.

Por fim, conforme gráfico da figura 11 nota-se que ocorreu o aumento da condutividade
elétrica das argamassas, o que ficou próximo do esperado, com base no obtido por
FRATTINI et al. (2017), que conseguiu aumento significativo de condutividade somente
com adições de grafite superiores a 35% em relação a massa de cimento. A máxima
condutividade (σ) obtida foi de 2,23E-4 S/cm no CP de traço TG10, o que corresponde a
uma resistividade (ρ) de 4.50E+3 Ωcm.

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2,50E-04
Condutividade elétrica (S/cm)

2,00E-04
2,09E-04
1,96E-04
1,66E-04
1,50E-04

1,00E-04

5,00E-05

0,00E+00
TR TG5 TG10

Figura 11 - Valores médios de condutividade elétrica da argamassa para cada traço no estado endurecido

Foi realizada análise de variação percentual em relação aos resultados de cada uma das
grandezas obtidas, em comparação ao traço de referência (TR), conforme dados da
tabela 2.

Tabela 2 – Variações percentuais dos resultados em relação ao traço de referência e relação entre ambos
Elasticidade Compressão
Traço Consistência Condutividade
7 dias 28 dias 7 dias 28 dias
TG5 -14,33 % 2,39 % 16,26 % -12,19 % -5,32 % 18,28 %
TG10 -25,62 % 7,54% 10,07% -18,43 % -17,92 % 25,92 %
Relação
TG10/TG5 1,79 3,15 0,62 1,51 3,37 1,42

Da tabela 2, é possível verificar que há pouca correção linear entre os resultados das
diferentes grandezas analisadas, quando da adição de grafite, a qual ocorreu
respectivamente em 5% e 10% em relação ao traço de referência.

4 Conclusões

A área de CCA’s é ampla, apresentando diversas possibilidades de materiais condutores


e métodos de medição de condutividade a serem explorados. Trata-se de uma área
relativamente recente e promissora. Nesta pesquisa, a adição de grafite em pó na
argamassa de traço estudado atingiu as expectativas, obtendo-se resultados esperados
conforme a literatura tanto para propriedades mecânicas quanto para condutividade
elétrica. Destacam-se os pontos:
1) No estado fresco, a adição de grafite em pó causou a redução do índice de
consistência da argamassa em relação à amostra de referência;
2) O módulo de elasticidade aumentou nas amostras contendo grafite;

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3) Quanto a resistência a compressão, foi reduzida em relação a amostra de
referência, apesar disso, os traços com grafite ainda são classificados na maior
classe de resistência a compressão segundo a NBR 13281 (ABNT, 2005),
indicando potencial para que mais estudos sejam realizados, visando uma
futura utilização em construções reais;
4) Conforme o esperado houve aumento na condutividade elétrica, porém não o
suficiente para caracterizar o compósito como um elemento semicondutor (YOU
et. al, 2017)
5) Constatou-se pouca correlação linear entre os resultados de consistência,
elasticidade, resistência à compressão e condutividade elétrica, o estudo de
mais traços deve ser realizado para que se possa afirmar que não há nenhuma
correlação linear.
O presente artigo apresentou resultados preliminares de uma argamassa com
potencial para conduzir eletricidade sem perder significativamente a resistência à
compressão.

5 Agradecimentos
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Brasil - Cod. de
Financiamento 001; CNPq (Conselho Nacional de Des. Científico e Tecnológico) Processos
n.ºs 310375/2020-7, 406234/2018-3 e 310376/2020-3).

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13276: Argamassa


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para assentamento e revestimento de paredes e tetos — Determinação da
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para assentamento e revestimento de paredes e tetos — Determinação do módulo
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ANAIS DO JUBILEU DE OURO IBRACON - 2022 13

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