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Saijay Subrahmanyaii COMERCIO E CONFLITO GOO A Presenca Portuguesa no Golfo de Bengala 1500-1700 edicoes TO CAPITULO VIT A Cauda Abana 0 Cio: © subimperialismo 0 Estado da India, 1570-1600 Introducao (© que poder motivar 0 estulo do Estado da fndia no dlkimo quartel do século XVI? Bem vistas as coisas, se seguirmos na esteira {da maioria dos relatos de cardcter geral, em que ineluiremos a histria ‘concisa de Portugal mais conhecida das eseritas reventemente, depa~ rum-se-nos poucos acontecimentos de relevo ocorridos na fndia Por- {uguesa que, a partir de 1580, justifiquem uma abordagem ('. Mas, € precisamente isso que nos leva a sentir mais a vontade para apreciar a fundagao do Estado, por aceao de D. Francisco de Almeida e de Afon= so de Albuquerque, os dias douracos de D, Joo de Castro, ow ainda as melancélicas historias de cercos, perdas, operagdes entra Holan- deses, Ingleses e outros rivai, entre Ormu (1622) e Cothim (663). Se considerurmos. que vale a pena tomar por objecto de est l= timo quartel do século Xvt, al deve-se apenas ao Fact ils se wotst de uma época bem documentada, 0 que, em certa medida, fica 4 anro- ximagao do historiador a esta estruura ostensivamente eestticls. HG 0 seu qué de curioso no facto de este tipo de abordagei da histéria do Estado da India encontrar apoio em duts correntes, bis- tante divergentes, da historiografia. Para uma visio ortodoxa, mais convencional, que punha 0 problema em termos do paradigma do Conquistador e do seu heroismo, depois de Albuquerque, ou, na me 151 COMEREIO F.CONFLITO thor das hipsteses, de D, Joio de Castro, <6 se podia seguir a dec dncia. Aqui temos umn abordagem relativamente ingéns da lite tura de Finais do século XVI, e que, a semelhanga da sua Congénere no Iinpérie Otomano, apés a morte do kanun Suleyman, apontava 0 ex- trom declino da morale das qualidades dos que governavan a A Portuguesa (3), Mais recentemente, esta perspectiva deu lugar a uma ooutra ortodoxia, que se fundamenta no volumoso trabalho (porém, hhastuntedifiei de digetir), produrido por Vitorino Magalhies Godi- nho, © privilegia ums sbordagem westraturaly: partir do momento em que se entende a esiutura ebisica» portuguesa a fii, os re lanes axpectos apenas merecem um interesse superficial Encontram- -se vestigios desta abordagem nos eseitos de Fernand Braudel e de Michel Pearson, mas a sua versio mais incisiva e provocatGria &, do tenhamos dvidas, a obra Carracks, Caravans and Companies (Naus, Caravinas e Companhias) de Niels Steensgaard (). ‘Para sermos justos, teremos, no entanto, de admitir que se levar taram vores discondantes,algumas delas respeitadas. Dificilmente se imagina a subserever esta posigdo alguém como Charles Boxer que. ‘com 0s seus trabalhos sobre Macau ¢ 0 se aumentar e comservar 9 sobejar Fortaleza Fr se goardarem, ¢ diveniem as forgas do mesmo estado» (") [Nao impedi isto que Domingos Carvalho e Manuel de Matos e, ais tare, Sebastiae Gongalves Tibau, sueessores de Sousa Godino ‘na chefia oficiosa da comunidade portuguesa de Bengala ocidental, essen) seguimento a esta empresa, provando que a iniciativa privada ‘ultrapassava kargamente « politica oficial Durante 0 governo do Vice-Rei Matias de Albuquerque, em Goa, ha década de 1590, Pegu ¢ Bengala, bem como 0 Sueste Asitico continental, mantiveram-se marginais, na perspectiva do Estado indial. Segundo a Vida e Accdes de Matias de Albuquerque, obra aandnima, de caricter apologético, que pretende defender 0 Vice-Rei dagueles' que, apds 0 seu regresso a Portugal, o criticam, Albuquer- {que enviow um embaixador, Luis Barbalho, a Pegu, em 1593, a fim ide impedir a construgio de navios em Martabio, 05 quais serviam talvez. aos mereadores de Aceh e de Masulipatio) para o comércio com Mar Vermelho @). A embaixada encontrou a Baixa Birminia pres de tumultos, apés uma campanha desastrosa contra Ayuthi Todayia, voltou de Pegu com um embaixador que, de acordo com informago do autor da Vida, (oi © primeyro, © derrudeyro, que daguelle Reyno veyo aos Vis Reys da India». Este embaixador vinha animado do propdsito de pedir 0 apoio I dos Portugueses contra Ayuthia, pedido este que, na década de 90, foi reiterado com frequéncia. Goa no mostrou pressa em aceder a cesta solicitaglo, sueedenio mesmo que, depois do falhango da troca de uma embaixada, chefiads, em finais do século XVI, por Belchior Colago, foi decretada a proibigio de trocas comerciais com a Baixa Birmania (®), Constava de uma ordem assinada pelo Vice-Rei, 0 Conde da Vidigueira, em Abril de 1598, que wvemdo respeita a na hid que os Mogos flzeri0 a0 Reino de Pegu soceder aos Portugueses que li estavdo 0 ruym sucesso que tiverdo de perdas de sus fazendas e vidas, em tanto descredito deste estado como he notorio, por atalhar 30 mais que thes pode suceder, € fa periga certo a que se arisguio por sua muita cobiga, ey por sér~ igo de Sin Magestade € em seu nome defemdo © mando que hus Purtuges nem christio de qualquer calidade © eondigio que Seja va ao dito Pept em nao nem mavio, nem outea alga embar- Cagio sua nem alhes.. sob pena que quem o ontario fizer, © for em ‘slguma eousa esta defesa, perder em dlr aval da embarcaga0 © fazemda que the fer achada..» (") A.CAUDA ABANA 0 CAO: 0 SUBIMPERIALISMO E 0 ESTADO DA INDIA Quer esta proibigo tenha ou nfo sido acatada em S20 Tomé © Negapatio, foi letra morta para Filipe de Brito, que paricipara na campanha de Minkhamaung, na Baixa Birmnia, como mercensrio 30 servigo do rei de Arakan Pouco chegou sé nés do percurso inicial de Filipe de Brito em Pegu. Segundo Manuel de Abrsu Mousinho, que 0 apreciava pouco, er 0 vedor da facenda do senhor de Arakan, sshavendo por espago de quasi vine annos negociado naqullas partes como mereador, com © amparo do, mesmo Rey de Ara hon (7), Ha, porém, motivos que nos levam a pensar que algumss fontes portuguesas sobrevalorizam a imporncia de Brito. Com efeito, um AAgostinho de Pegu menciona, epetidamente, no principio do séeulo Vth, 0s vultuosos presentes didos por Brito a Minyazagyi (30 000 crizados em moeda e mercaderias no valor de 15.000 pardaus), em ttoca da autorizagio deste para o arrangue de um empreendimento, a aber, aedifieagao de um balusre, par, pretensamente, gvantar mer cadorias (), Esta fortaleza foi edificada no ano de 1601, no porto de Siriam. No ano imediato, Filive de Brito chegou a Goa com uma proposta de intresse para 0 Vice-Rei Sabe-se da existencia de dois relatos diferentes dos sucessos desta época, No que foi elaberado por Mousinho, a intervengio de Brito até 1604 merece fraco reilee. No outro, fundamentado por um amplo conjunto de documentos oficiais, Brito figura como o inierve- hiente principal. O her6i de Mousinho 6 mais obscura; trta-se de Salvador Ribeiro de Sousa, natiral de Guimardes, um cavaheiro que, a partir de meados de 15H0, serviea na India, nas patrulhas de Bab-el- “Mandeb, 20 largo da costa de Malabar, e n0 Sri Lanka, com D. Jeré- imo de Azevedo. Ribeiro de Sousa chegou a Pegu, em 1600, em Circunstinelas por eselarecer. Nio se nos afigura muito eoavincente & histéria do seu apotogista Mousinho, segundo a qual Ribeiro de Sou- sa prtendia rearessar a Porisal quando, pelo conto, sa adversi dade de tempos o atirou para a Birmania (4). Tora-se,ntidamente, incémoda para Mousinho a presenga de Ribeiro de Souss em Peg, dada interdigdo de comerciar dectetada por D. Francisco da Gama, tm 1598, Mas, seja como for, 0 retrato que nos chega de Ribeita de Sousa revela-nos um homem totalmente abnegado, impelido pelo servigo a Deus e ao Rei, manioulado polo cobarde e astto Filipe de Brito. A\crermos na versio dé Mousinho, foi Salvador Ribeiro de Sousa, enire 1600 © Margo de 1603, ano da sua partida de Pegu, Quem efectivamente dirigiu o empreendimento. de Siriams, enquanto Brito colhia os louros do recoahecimento oficial 163 COMEREIO CONFLITO Alguma verdade existird nesta caracterizagdo, pois s6 apés a sua missio a Goa, no ano de 1602, € que Brito conheceu 0 sucesso. Enyolveu-se numa compexa série de acordos com o Vice-Rei, Aires dle Saldanha, que © apoiou. bastante nos contactes com Lisboa ¢ The ddeu por esposa Luisa de Saldanha, sua sobrinha, que em outras ver- ses € apresentada como sua fitha ilegitima (°). Basicamente, a pro- posta de Brito constava do seguinte: a fortaleza de Siriam passaria a ser formalmente controlada pela Coroa Portuguesa, que ali instalaria, uma alfindega e, em troca, Brito receberia beneficios do Estado da fndia e da Coroa. Para comecar, 0 apoio do Estado © da coroa tradu zit-se-ia no envio de armadas, homens e mantimentas, uma parte dos quais serviria a Filipe de Brito no seu regresso (°). Em segundo lugar, seria feita & Brito a doagio i sida dita Fortaleza em dias de sua vida com a comedia e despeza se su pessoa a custs do rendimento da dita alfandega: e ye por sua ‘morte Hleasse a dita comedia a sua mulher Dona Luiza de Saldanha, «tendo filho legit the Ficasse a capitania da dita fortaleza» (”) 0 rei concedeu ainda o Habito de Cristo a Filipe de Brito € flo fidalgo da Casa Real. Mas isto nio foi tudo, pois alvards posteriores lornaram legitimios ex past facto os seus filhos bastardos, © garant ram-the © direito de nomear oficiais de justiga e funcionarios adua- neiros em Siriam, se no fosse possivel envisi-los de Goa (*). F, para cencerrar com chave de ouro, um alvaré régio, de Margo de 1608, atribuia a Filipe de Brito poder, jrisdigi ¢ alguda sobre os ditos Portuguezes [de Ben: gla), ¢ cada hum delles para os reduc», ‘© que implicava que Brito podia perdoar-thes crimes, mesmo que 0 ‘castigo merecido fosse a morte (") A alfindega de Siriam representou apenas uma das. yantagens as desta empresa. Se cabia a esta alfindega cobrar os direitos sobre todos os navios provenientes de Coromandel, do Sri Lanka e da costa ocidental da india, ¢ destinados & Birmania, # Mergui e & Penin- Sula da Makisia, o facto $ que a Fazenda Real mais no recebeu del do que quantias irrisérias, Mas estava destinado outro papel a Siriam ‘gue, nesta fase dos acontecimentos, o leitor ser capa de definir: 0 de rampa de langamento de uma operagao, a uma escal mais alar- ida, de integragio de toda a Birmania no Estado da India, Neste so, © em oposigio wo sucedido no Camboja, a Coroa Portugues jestava convencids de que a empresa seria levauda a bom termo pelt jung de dois meios. Exes eram a waclamacio popular» de Filipe de Fspanha © Portugal con» senhor de Pegu © a comprovagaio, através A CAUDA ABANA © CAO: O SUBIMPERIALISMO F 0 ESTADO DA INDIA, de um apelo a legitima tradigio cris, de que este era 0 herdeiro legitimo ¢ l6gico desse tron, Entre 1605 ¢ 1610 foi escrito um docu- mento, de autor anénimo, mas talvez um Agostinho ou Jesulta, eujo objectivo € demonstrar 0 dltimo dos aspectos mencionados © que tem por titulo «Questia acerca do derejto do rejno de Pegu e como pode pertencer a Sua Magestade» (). A este documento se junta outro, eproduzido no Apéndice inserido neste livro, com grandes seme Thangas ao documento que versa o Camboja, a que foi dado © titulo de «Apontamentos das couras q daa 0 reino de Pegi» ("), (O empreendimento de Pegu subsistiu durante mais tempo do que ‘6 do Camboja. Filipe de Brito opds resisténcia no seu reduto de Si- riam até 1613, ano em que acsbou por ser capturado e empalado pe- Jas forgas da dinastia Taung-ngu, que, entretanto, fora restaurada. Isto deitou por tema a construgo co Império na zona, tal como sucedera {if na Indochina, Reconhegamos, no entanto, que nio deixaram de ter 41 sua importancia os meios em armadas, homens € mantimentos que suportaram este estorgo. Para uma compreensito do «Aventureiro» Dr este 0 aspecto que Drevaleceu no relacionamento eriado com Aceh, e que se raduziu, na década de 15%), numa tentativa de rapprochement entre o Estado Portugués € 0 Sultanato, sobretudo por aego dos casardos © dos rene- zzndos, A situagio vivida em finais da década de 1580 e prineipio da de 1390, quando o Estado da india pretendia apenas desestabilizar ‘Aceh, que & época estava enredada em. chogues de sucesso, veio a softer alteragies a partir de 1594-95, Surge entio uma forma nova de felacionamento, para que, ene outros, trabalhamn, como interme- didrios, Tomas Pinto e Aforso Vicente, 0 timo dos quais, um ‘comerciante, mantinha, de hi muito, contaetos com o sultao Alauddin Riayat Syah, que reinow de 1589 a 1604 (*). O sultao chegou a en- Viar uma embaixada a Goa, entre 1598-99, que, face 20s resultados Pouca positives que obteve, rezressou a Acch em Junho de 1599 (*). Poues atengio se prestava aos Portugueses que haviam partido em busea de Kota Biram, na for do estusrio do Aceh. A partir de. 1600, as relagoes vollaram & deteriour-se, principalmente devido a entrada em eampo de um novo e importante elemento, a Companhia Holan- ddesa (#), Quanto as relagdes dos Portugueses com 0 Sultanate de 16s COMERCIO E CONFLITO Goleonda, foram seriamente abaladas, por causa da aegao de um mercendrio, Fernio Rodrigues Caldeira, que exercia as fungdes de conselheiro do sulldo Muhammad Qui Qutb Shah para a politica de relagdes com Goa (*). ‘Que Tucros pensariam estes aventurciros obter da sua interven: 0? Se quisermos dar resposta a esta pergunta, tornar-se~i forgoso Fetomarmos a questio da estrutura social portuguesa na Asia. Tere- ‘mos jgualmente de nos interrogarmos acerca do motivo por que exis- tiriam esses elementos marginais, Diz-nos Diogo do Couto, que dis pe de resposta pronta para todas ay perguntas, que a impossibilidade de pagar a tempo aos soldados constituta ‘aro, por que ha ja to poweos, que queiram invernae AS for talezas de EI Rey, e tantos que se fazem ehatins, © © yam quasi ‘morar aos Reynos de Pegu, ¢ Bengals pera ajudarem aquelles Reys, ‘que tem guerra huns contra outros» ¢. Porém, esta resposta geca por ser simplista e incompleta e, quan- to muito, fornece a explicagao de parte da processo. A historiadort portuguesa Maria Augusta Lima Cruz arquitecta outras explicagoes, Saber, «0 exilio, 0 cativeiro, pendéncias com a justiga ow com os ceapities» (7), Todas estes aspectos se podem resumir da forma que vou expor seguidamente. Do ponto de vista das autoridades de Go de finais do século XVI, as zonas costeiras do fndico inelufam-se, in- ubitavelmente, em duas Categorias. Havia as que se encontravam proximas do centro do Estado © aquelas que eram terrtérios «tron- leirigos» em grau varidvel, Em geral, © discurso oficial designava estas tiltimas como sendo refiigio da ese6ria dos Portugueses na cde homens violentos e incontrolaveis, praticamente desprovidos do sentido da disciplina ou da justiga. Uma caraeterizagio destas, que recafa, nomeadamente, nes Portugueses de Coromandel ou de Ben- ‘veio a ser absorvida e reproduzida in foto pelos Holandeses e pelos Ingleses, Quando lemos os comentirios de Paulus van Soldt ov de William Methwold sobre os Portugueses da costa oriental da in- dia, temos a quinta-esséncia dos preconceitos enraizades no funcio~ fosse motivagao, em Bijapur e Ahmadnagar, ndo perdiant a esperan- de voltar a0 redil, pele menos com o nivel igual aquele com que de Ii tinham saido, Assim sucedeu com numerosos fidalzos, entre os {quais D. Bris de Castro, que trocaram Goa pelos territérios de Adil Shahi, devido i «perseguigion movida por D. Filipe Mascarenhas, no Final da década de 1640, Neste aspeeto, registaram-se diferencas no 166 ESTADO DA INDIA ACAUDA ABANA 0 CAO: 0 SUBIMPERIALISMO E 0 E litoral oriental do Golfo de Bengala © no sueste asistico continental gos Carvalho de solicitar,e obtr, o Habito de Cristo e o titulo de fidalgo da Casa Real. No tocaate a Diogo Veloso. sio postos a ni fs mecanismos que regem este processo, pois assistimos ao ins6lito especticula de ser © senhor do Camboja quem esereve ao rei de Por- tugal, pedindo que seja concedido a um Portugués, que habits no seu reino, o Habito de Cristo! Toma-se perfeitamente claro © que aguar- dava 0 «aventureiro» bem sucedido: abria-se-Ihe a possbilidade de subir ma hierarquia ofeial, definida, essencialmente, em fungo dos valores por que a soviedade luso-asitico se regia, que mio parecem ter sido postos de lado, pelo menos no respeitante & mentalidade, e no tanto em rermos da «sociedade que 0 acolhiaw ou dos seus valo~ res. Mas, eram jé bastante diferentes as expectativas de um renegado ‘que se convertesse ao Isl, vivesse © morresse «como Mouro per- feito, com sia mulher e filhos»(faz-se aqui referencia a Gongalo Vaz Coutinho, em meados do século XVI) (*). A quase todos estes ho- mens nada mais restava do que © conformarem-se com aquilo que Thes podiam oferccer os estados que os recebiam e as estrutras de elite abertas, x que aludi neste enssio. Conclusto Direi, para concluir, que 0 ditimo quartel do séeulo Xvi constitui tuma época de mudanga'e de (enativas expansionistas na historia do. Estado da fndia, 0 qual nao se encontrava mergulhado na apatia que as abordagens convencionais the atribuer. wuiren fapesar de existirem directivas centrais que apontavam, exactamente, no sentido inverso. E claro que se pusermos a questio em termos de um balancete, os Iueros reais foram inferiores aos projectos, © mesmo estes acabaram por ser anulados durante as lutas travadas com (os Holandeses, nos anos que decorreram até 1664. No entanto, con- sidero que, se formos capazes de compreender 0 que era o Estado da India, nos sentiremos compensados por essa ultrapassagem da pers- pectiva habitual de Goa, ¢ da énfase posta, tadicionalmente, na cor- rupgdo, na crise financeira, nas vicissitudes. por que passou a Car reira da India 167 COMRCIO E CONFLITO huto, no séeulo Xvi, para a eriagio do Impétio Brivinico da In- obedeceu a expansiio curopeia na Asia, entre os empreendimentos de 108 ACAUDA ABANA 0 CAO> 0 SURIMPERIALISMO I 0 ESTADO DA INDIA. APENDICE 1 Cousas que ha no Reino de Camboya 1 Primeiramente pode Camboya sostentar Toda a India de todo necessario 4 Podemsse fazer & Camboya gales, ¢ todo modo de embarea- ‘Ges e muyto pouquo custo, e da melhor madeira que ba na India # A ha que el Rei tem dado pera se fazer a fortaleza be ehave de todo 0 Reino, ¢ desta ilha pera dentro he 0 porto donde sergem todos os navios; E de fronte della esta hua cidade a principal de Camboya estara da ilha hi tiro de bergo 4 A terra tem em si seda amareta—ouro de lavadeiro cardamo- mo—sapam—muita sera—muito mariim—muita roupa de toda a sorte—muito saitre o melhor que ha en toda a India— pao preto—calamba—agila—disto pouguo— 4 E esta aberto © porto de Lao, donde ve multas fazendas ¢ pedraria, ¢ donde vem todo o beyoi # © mayor trata que ha € Camboya he o do sal, ¢ todo passa ‘por esta ilha © niio podem viver sem elle 1» Podemos de Camboya tomar Champa sem q custe a el Rei nada, e depois de tomado feita fortaleza que a podem sost tar vinte homes— # A vingem de Japdo feita por nos éportara trinta mil cruza- ‘dos—que a fazem os Camboyas— # Ja falta pegu que sostentava Malaquoa daRos # Haem Camboya muyio azeite, breu, estopa— Fontes ANTT, Manuscritos i Livratia 1108, 0. 1 109 Comm IO FE CONELIT ACAUDA ABANA 0 CAO! 0 SUBIMPERIALISMO FO ESTADO DA INDIA, 10 APENDICE I Apontamentos das cousas q daa 0 reyno de Pegi dade antiga do rey de Pegu levou este rei principalm® de m" lacre, pimerta longa, ¢ brev, disto pode ser sdr S. Mg facilm' des principalm Martavio ha m' fero, e mad", acode da tera 4 0 porto de Tanagarim, ham" ambre, m' sapio, m* vinhos, brew m* madejra, principalmy"® mastos e ventas: he porto aonde acode as fazendas do Sido, Lanjiio, e Camboja € on reins, outros eins (ve) ham Dejohim, lee, caalamba, calaim, chabo, em fazendas da China gp via do Sito ahy vem ter, ¢ aguilla ue # om Juncalio ha algum ealaim No Sato ha algum ouro @ no tpo del rey de Pegi se lel rey de Pegi se trav: na bara de Martavao tambem ha (fl, 98) # cm Diga ha peda hume, a enxofre, ha tambem em todas as partes destes reyios a folha de q se faz 0 anil de @ se pode # Com a forga q se aqui fizer pode sugeitar bengala de feieio q pode S Mgt escuzar 0 socoro do sul de o mandar da India Senile de c@, e de bengalla pella m'* eGmodidade Q ha p* isso a viagem he facil q ne o longo da costa allem de ser teras muy abundantes para se repartirem pellos pobres na India ‘io tem hum palmo # Para esta conquista permaneger ha S. Mg de prover de por- tugal todos os annos ci ha nao pore a pimenta para ella de ha do dachem se faraa m" facil de hi anno para o outro como se faz em Cochitn ¢ as mais fazendas na tera ¢ na costa as ha ede bengala virio mais facilm’ do q. vio a Cochim todos os lannos por @ nio he mais q oitenta legous da costa @ se nave- {Blo inverno ¢ verfo, ¢ se fer porto fermosissimo q he a bara de negraes q estaa na altura da cidade de Goa. # Nao virem a este porto de Sirido as fazendas @ ariba digo an- tigam vinhio q era por oecasiso da roupa de Charamandel, s00 a este porto de pgu vinha onde tantas naos de mequat ccareguavio das fazendas q por occasiao da roupa vinhio afora mq 0s portuguezes levaviio por euyja oceasiio o mn” era m® grosso, e oje se niio vem como dantes he pord the Jevo a roupa de Charamandel a tanacarim donde se prove 0 Sitio, Lanio, Camboja, © outros mats reinos, a Tavaj 9 mesmo, € de Martavio se prové todo Jamgoma e outros reinos eomar- bes mq tem muitas fazendas # De tanguu se prove oje de ta tambem # o reino de Uva se prové desta roupa de Amracao ¢ levio para 1.0 cano da pedraria q vinha p* este m” por onde fica sendo esta fortaleza pello permitir assi 0 estado da India de nenbia fffeito, nem ter nunca com q se sustentar, podendo ella ter sobejo, soomente cB se Ihe guardar 0 precejto @ antiguamente Se guardavio a0 rey barbaro q era q toda a roupa de Chara- imanidel viesse em ba nao a este porto, € oje o0 provisdes da tollaciio no a todos @ acima digo, e com viagens novas S00 a ceffeito de destruir este (Escrito em Siriam, ©. 1605) Fonte: ANTT, Manuscrivo Miscelineos, 1104, fs. 97-8. 1 NOTAS | (AGB de Olin Manes, Mra de Pog, eh Liss, 1976, vol pt 7) CF Jounim Verisno Serio, Mtirta de Portugal, vol Ml, Lisbon, 187% po Ink: GD. 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(U8) ANT, Misceldneos m2 1104s, 101-15 (8) ANT, Miselineos n° 110 fh 97% (2) Sobre ‘Aceh, yer AHU, Ci 281, M195, Ms. 226, 366, 405-¥, € nda AHU, Codice 282, passim. Para una discuss de Ambito geral. consular ‘qualmene D. Lombard, Le Sulanat “AVjéh au temps d'lshandar Muda Pas 1967. pp. 3659, 69°70. 987 (Conta Rivara, Archiv, Mk, pp. 47-8, ainda Cowie, Da Asi, Década XU, Ligeo V, pp. 512-16 5) Lombard, Le Sutumar sane o. (2) CF Sanjay Subramanyam, cay. 6, desta bea 4) Couto, Du Asia, Vil, p. 74, ctado tn Lima Cri — Sey Lama Cru, sid, pp. 29840. (28 Bid. e et Comet, Lendas du hui, WW, pp. 148-52. (CC a nota 11 supra e também P. J. Marsball, Bengal — The British Brideeead, Cambridge, ONT, © CA. Bayly, Indian Society andthe Maki of the Brush Enpire, Cambridge, 1988 ‘com data de 2 de Janeiro is

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