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Capítulo 2

Funções Reais de Duas Variáveis Reais


FUNÇÕES REAIS DE VÁRIAS
VARIÁVEIS REAIS

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 12 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 1
SUMÁRIO

Funções Reais de Várias Variáveis Reais


Funções Reais de Duas Variáveis
● Introdução

– Definição e Notação

– Domínio e Representação Gráfica

– Limites e Propriedades

– Continuidade

● Derivadas Parciais

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FUNÇÕES REAIS DE VÁRIAS VARIÁVEIS REAIS

Exemplos:
1. A área de um retângulo A = x y é uma função de duas
quantidades independentes que são os comprimentos x e y
dos lados.

2. O volume de um paralelepípedo retangular V = x y z é uma


função de três quantidades independentes que são os
comprimentos x, y e z das suas arestas.

Vamos limitar o nosso estudo ao caso de duas variáveis


independentes x e y. Os conceitos que vamos tratar são
facilmente estendidos ao caso de 3 ou mais variáveis
independentes.

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FUNÇÕES REAIS DE DUAS VARIÁVEIS REAIS

Definição:
Função f de duas variáveis reais é uma regra que associa a
cada par ordenado de valores ( x, y ), do domínio de definição D
de duas variáveis independentes x e y, um valor bem
determinado da variável (dependente) z.
f : ( X ,Y ) → Z
( x, y ) ֏ z = f ( x, y )
Variáveis independentes x e y – podem ser escolhidas
arbitrariamente no domínio D.
Variável dependente z – é completamente determinado por x
e y e por f.

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DOMÍNIO DE DEFINIÇÃO OU DE EXISTÊNCIA

Definição:
Domínio de definição ou de existência de f é o conjunto D
de todos os pares ordenados de valores ( x, y ) para os quais f
está definida.

Interpretação Geométrica:
Como a cada par ordenado ( x, y ) corresponde um ponto do
plano cartesiano xOy , o domínio de definição é um conjunto
de pontos deste plano.

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DOMÍNIO – EXEMPLO

Determine o domínio de cada uma das funções seguintes:


3
(a) f ( x, y ) = x + ln( x − y − 1) (b) z =
25 − x 2 − y 2
Resolução:
(a) f ( x, y ) = x + ln( x − y − 1)

D = {( x, y ) ∈ ℝ 2 : x − y − 1 > 0} = {( x, y ) ∈ ℝ 2 : y < x − 1}
y

1 x
−1

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DOMÍNIO – EXEMPLO

Resolução (cont.):
(b) z = 3
25 − x 2 − y 2
D = {( x, y ) ∈ ℝ 2 : 25 − x 2 − y 2 > 0}
= {( x, y ) ∈ ℝ 2 : x 2 + y 2 < 25}
y

5 x

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REPRESENTAÇÃO GEOMÉTRICA DE UMA FUNÇÃO DE
DUAS VARIÁVEIS – EXEMPLOS

z z

z = x2 + y 2
z = x2 + y2
x y
z = − x2 + y 2

x
y

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LIMITE DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS

Definição:
O número L é o limite da função z = f ( x, y ) quando
( x, y ) → ( x0 , y0 ) , isto é,
lim f ( x , y ) = L,
( x , y )→( x0 , y0 )

se para ε > 0 arbitrário, existe um número δ > 0 tal que para


todos os pontos ( x, y ) a uma distância de ( x0 , y0 ) inferior a δ ,
isto é, 2 2
0 < ( x − x0 ) + ( y − y0 ) < δ
2

a desigualdade
f ( x, y ) − L < ε
é satisfeita.
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LIMITE DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS

UNICIDADE DO LIMITE:
Uma consequência direta da definição de limite é que o limite
de uma função, quando existe, é único.

Assim para que exista


lim f ( x, y )
( x , y )→( x0 , y0 )

é necessário que o valor obtido não dependa do caminho


escolhido para fazer ( x, y ) convergir para ( x0 , y0 ).

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CÁLCULO DE LIMITES

(1) Todas as regras para o cálculo de limites de funções de


uma variável (limite da soma, do produto, do quociente)
são estendidas sem alterações ao caso de várias variáveis.

(2) No caso de funções de uma variável, há dois limites


laterais num ponto x0 que refletem o facto de existirem
duas formas de x convergir para x0 : aproximação por
valores crescentes de x e aproximação por valores
decrescentes de x.

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CÁLCULO DE LIMITES

(3) No caso de funções de várias variáveis, existe uma


infinidade de direções ao longo das quais um ponto móvel
P(x, y) se pode aproximar de outro ponto P ( x0 , y0 ) . Assim,
nos casos de cálculo de limites que nos conduzam a
indeterminações, uma técnica corrente, para provar que não
existe limite, é calcular o limite quando ( x, y ) → ( x0 , y0 ) ao
longo de uma reta com uma direção genérica (definida por
um declive m – observe-se que m é um parâmetro, não é
uma variável) e que passa por x0 .

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CÁLCULO DE LIMITES

(4) Ou seja, usa-se a equação da reta


( y − y0 ) = m ( x − x0 ) ⇔ y = y0 + m ( x − x0 )
para substituir y na expressão de limite, passando de
lim f ( x, y ) para lim f ( x, m)
( x , y )→( x0 , y0 ) x → x0
que é calculado pelos processos descritos no estudo de
funções de uma variável.
(5) Se lim f ( x, m) depender de m (ou seja, do caminho
x → x0
escolhido), então o limite não é único e consequentemente,
não existe.
(6) Se lim f ( x, m) não depender de m, nada podemos
x → x0
concluir. Neste caso, usa-se a definição para tirar
conclusões.
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CÁLCULO DE LIMITES – EXEMPLO

Calcule os limites seguintes:


2
(a) 5x y
lim
( x , y )→(1,2) x 2 + y 2
2
(b) lim 5 x y
( x , y )→(0,0) x 2 + y 2

(c) lim x + 2 y − 7
( x , y )→(1,3) 3x − y
Resolução:
5x2 y 5 × 12 × 2
(a) lim = 2 =2
2
( x , y )→(1,2) x + y 2 2
1 +2

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CÁLCULO DE LIMITES – EXEMPLO

Resolução (cont.):
2
(b) lim
5 x y 0
2 2
= ( Ind.)
( x , y )→(0,0) x + y 0
(1) Cálculo do limite quando ( x, y ) → ( x0 , y0 ) ao longo
de rectas do tipo y = m x.
y − 0 = m ( x − 0)
2 2
5x y 5 x (mx)
lim 2 2
= lim 2
( x , y )→(0,0) x + y x →0 x + ( mx ) 2

5mx
= lim 2
x →0 m + 1

=0
Como este limite não depende de m, nada podemos
concluir.
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CÁLCULO DE LIMITES – EXEMPLO

Resolução (cont.):
(2) Vamos usar a definição, para provar que o limite
é zero.
Como x 2 + y 2 < δ 2 ⇒ y ≤ x 2 + y 2 < δ
e x2 ≤ x2 + y 2 ,
podemos escrever 2
5x y
f ( x, y ) − 0 = 2 2
−0
x +y
2 2 2 2
5( x + y ) x + y
≤ 2 2
x +y
≤ 5 x2 + y2
≤ 5δ ≤ ε
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CÁLCULO DE LIMITES – EXEMPLO

Resolução (cont.):
f ( x, y ) − 0 ≤ 5δ ≤ ε
ε
Então, para ε arbitrário, basta que δ ≤
5
para a desigualdade f ( x, y ) − 0 < ε se verificar e
provar-se assim a existência de limite.

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CÁLCULO DE LIMITES – EXEMPLO

Resolução (cont.):
(c)
x + 2y − 7 0
lim = ( Ind.)
( x , y ) →(1,3) 3 x − y y − 3 = m0( x − 1)

x + 2y − 7 x + 2 [3 + m( x − 1) ] − 7
lim = lim
( x , y )→(1,3) 3x − y x →1 3 x − [3 + m( x − 1) ]
( x − 1)(2m + 1)
= lim
x →1 ( x − 1)(3 − m)

2m + 1
=
3−m
O limite depende de m, logo não existe.

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CONTINUIDADE

Definição:
A função f ( x, y ) é contínua num ponto interior ( x0 , y0 ) do seu
domínio se está definida numa vizinhança desse ponto – conjunto
de todos os pontos contidos num círculo de centro em
( x0 , y0 ) – e se
lim f ( x, y ) = f ( x0 , y0 ).
( x , y )→( x0 , y0 )

Definição:
Uma função é contínua num domínio D se for contínua em
todos os pontos desse domínio.

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CONTINUIDADE

Observação:
A definição de continuidade da função num ponto ( x0 , y0 ) não
interior (ou seja, da fronteira) do domínio deve ser adaptada.
Assim, o limite
lim f ( x, y ) = f ( x0 , y0 )
( x , y )→( x0 , y0 )
deve ser entendido de forma análoga ao de limite lateral de
uma função de uma variável. A definição de limite não deve
envolver todos os pontos contidos num círculo de centro ( x0 , y0 )
mas apenas os pertencentes ao domínio.

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CONTINUIDADE – EXEMPLOS

 5x2 y
 2 , ( x, y ) ≠ (0,0)
1. Verifique se f ( x, y ) =  x + y 2

 0 , ( x, y ) = (0,0)
é contínua no ponto (0,0).
Resolução:
Vimos anteriormente que
5x2 y
lim 2 2
=0
( x , y )→(0,0) x + y

Como lim f ( x, y ) = f (0,0) = 0 a função é contínua no


( x , y )→(0,0)
ponto (0,0).

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CONTINUIDADE – EXEMPLOS

2, x 2 + y 2 ≥ 9
2. Considere a função f ( x, y ) = 
2 2
 − 1, x + y <9

Estude a continuidade de f no seu domínio ℝ 2 . ( )


Resolução:
(i) Se ( x0 , y0 ) for um ponto exterior à circunferência de
2 2
equação x + y = 9 tem-se f ( x0 , y0 ) = 2, que por ser
uma constante é contínua.
(ii) Se ( x0 , y0 ) for um ponto interior à circunferência de
equação x 2 + y 2 = 9 tem-se f ( x0 , y0 ) = −1, que por ser
uma constante é contínua.

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CONTINUIDADE – EXEMPLOS

Resolução (cont.):
(iii) Se ( x0 , y0 ) for um ponto da circunferência de equação
2 2
x + y = 9 tem-se que:
lim f ( x, y ) = 2 ∧ lim f ( x, y ) = −1
( x , y )→( x0 , y0 ) ( x , y )→( x0 , y0 )
( x 2 + y 2 >9) ( x 2 + y 2 <9)

Logo a função é descontínua em todos os pontos da


circunferência.

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DERIVADAS PARCIAIS

No caso de funções de duas (ou mais) variáveis também tem


interesse calcular-se a taxa de variação “instantânea” da
função em relação a cada uma das variáveis independentes.
Essas taxas de variação são as derivadas parciais.

Definição:
A derivada parcial de f em relação a x é, se existir, dada por
f ( x + ∆x, y ) − f ( x, y )
lim
∆x →0 ∆x
∂z ∂f
Notação: (símbolo ∂ em vez de d ); ; f x′( x, y ); z′x
∂x ∂x

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DERIVADAS PARCIAIS

Definição:
A derivada parcial de f em relação a y é, se existir, dada por
f ( x, y + ∆y ) − f ( x, y )
lim
∆y →0 ∆y
∂z ∂f
Notação: (símbolo ∂ em vez de d ); ; f y′( x, y ); z′y
∂y ∂y

Observação:
Uma função de duas ou mais variáveis tem derivadas parciais
em relação a cada uma das variáveis independentes.

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CÁLCULO DE DERIVADAS PARCIAIS

Considere-se a definição de derivada parcial de f em relação a x:


∂f f ( x + ∆x, y ) − f ( x, y )
= lim .
∂x ∆x→0 ∆x
Observe-se que o limite é calculado, fixando y e deixando x
variar.
Ao fixar-se y, obtém-se uma função de apenas uma variável x.
A derivada desta função de uma variável é a derivada parcial
de f em relação a x.
Analogamente para o cálculo da derivada parcial de f em
relação a y, fixa-se x deixando y variar.

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INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA

Para um valor fixo y0 de y, temos y = y0 que é a equação de


um plano paralelo ao plano coordenado xOz. A interseção
deste plano y = y0 com a superfície z = f ( x, y ) é uma curva
C1 que só depende de x. A derivada parcial de f em relação a
x no ponto de interesse P é o declive da reta tangente a esta
curva C1 no ponto P. z f ′( x , y ) x 0 0
y

C1 z = f ( x, y )
y0 P

y = y0

x0
x

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CÁLCULO DE DERIVADAS PARCIAIS – EXEMPLO

2 2 ∂f   ∂f 
Seja f ( x, y ) = x + xy − y . Determine   x =2 e
  y =−1  ∂y  x=2
∂x
(a) pela definição. y =−1

(b) pelas regras de diferenciação.


Resolução:
(a)  ∂f  f (2 + ∆x, −1) − f (2, −1)
  x=2 = ∆lim
 ∂x  y =−1 x→0 ∆x
(2 + ∆x) 2 + (2 + ∆x)(−1) − (−1) 2  − 1
= lim
∆x →0
2 ∆x
3∆x + (∆x)
= lim
∆x →0 ∆x
= lim (3 + ∆x)
∆x →0
=3
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CÁLCULO DE DERIVADAS PARCIAIS – EXEMPLO

Resolução (cont.):
 ∂f  f (2, −1 + ∆y ) − f (2, −1)
 ∂y  = lim
  xy==−2 1 ∆y →0 ∆y
 4 + 2(−1 + ∆y ) − (−1 + ∆y ) 2  − 1
= lim
∆y →0
2
∆y
4∆y − (∆y )
= lim
∆y →0 ∆y
= lim (4 − ∆y )
∆y →0

=4

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CÁLCULO DE DERIVADAS PARCIAIS – EXEMPLO

Resolução (cont.):
(b) Para derivar em ordem a x, supõe-se y constante.
∂f  ∂f 
= 2x + y ⇒   x =2 = 2 × 2 − 1 = 3
∂x  ∂x  y =−1

Para derivar em ordem a y, supõe-se x constante.


∂f  ∂f 
= x − 2y ⇒  ∂y  = 2 − 2(−1) = 4
∂y   xy==−2 1

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SUMÁRIO
Funções Reais de Várias Variáveis Reais (Cont.)

● Derivadas Parciais de Ordem Superior


● Diferencial Parcial e Diferencial Total *
– Caso de funções de duas variáveis
● Extremos
– Aplicações em Ciências Empresariais

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 1
DERIVADAS PARCIAIS DE SEGUNDA ORDEM

As derivadas parciais
∂f ∂f
e
∂x ∂y
são, no caso geral, funções de x e de y.
Consequentemente, podem ser elas próprias deriváveis em
relação a x e a y.
Obtemos assim as derivadas parciais de segunda ordem
que são quatro:
∂2 f ∂2 f ∂2 f ∂2 f
2
, , 2
,
∂x ∂x ∂y ∂y ∂y ∂x

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DERIVADAS PARCIAIS DE SEGUNDA ORDEM

As derivadas parciais de segunda ordem obtêm-se derivando


f duas vezes, conforme se indica:
∂2 f ∂  ∂f  ∂2 f ∂  ∂f 
2
=   = f x′′x =   = f x′′y
∂x ∂x  ∂x  ∂x ∂y ∂y  ∂x 

2
∂ f ∂  ∂f  ∂2 f ∂  ∂f 
=   = f y′′y =   = f y′′x
∂y 2
∂y  ∂y  ∂y ∂x ∂x  ∂y 

Continuando o processo de derivação, obtêm-se as derivadas


parciais de ordem superior à segunda.

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 3
DERIVADAS PARCIAIS DE ORDEM SUPERIOR

1) O resultado da derivação repetida de uma função de


variáveis independentes não depende da ordem pela qual é
efetuada a derivação, se todas as derivadas parciais em
questão forem contínuas.
2 2
Por exemplo, ∂ f ∂ f
=
∂x ∂y
∂y ∂x2
∂ f ∂2 f
se as derivadas parciais e são contínuas.
∂x ∂y ∂y ∂x
2) Assim, demonstra-se que f ( x, y ) tem n + 1 derivadas
parciais de ordem n que podem ser denotadas por:
∂n f ∂n f ∂n f ∂n f ∂n f
n
, n−1 , n−2 2 ,⋯, n −1
,
∂x ∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y ∂x n
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DERIVADAS PARCIAIS DE SEGUNDA ORDEM – EXEMPLO

Determine todas as derivadas parciais de segunda ordem de


f ( x, y ) = e 2 x y .
Resolução:
∂f 2x y ∂f 2x y
= 2ye ; = 2x e
∂x ∂y
∂2 f ∂  ∂f  ∂
2
=   = (2y e ) = 4y e
2x y 2 2x y

∂x ∂x  ∂x  ∂x
∂2 f ∂  ∂f  ∂ ∂ 2
f
=   = ( 2 y e ) = 2e (1 + 2 xy ) =
2x y 2x y

∂x ∂y ∂y  ∂x  ∂y ∂y ∂x
∂2 f ∂  ∂f  ∂
∂y 2
=   =
∂y  ∂y  ∂y
( 2 x e 2x y
) = 4 x 2 2x y
e

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DIFERENCIAIS PARCIAIS *

Incremento parcial de z = f ( x, y ) é a variação provocada


em z quando se incrementa apenas uma das variáveis:

∆ x z = f ( x + ∆x , y ) − f ( x , y )
∆ y z = f ( x, y + ∆y ) − f ( x, y )

Diferencial parcial de z = f ( x, y ) é a parte principal do


incremento parcial (tal como nas funções de uma variável).
∂z
Diferencial parcial em relação a x: d x z = dx
∂x
∂z
Diferencial parcial em relação a y: d y z = dy
∂y
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DIFERENCIAL TOTAL *

Incremento total de z = f ( x, y ) é a variação provocada em


z quando se incrementa simultaneamente e de forma
independente todas as variáveis:
∆z = f ( x + ∆x, y + ∆y ) − f ( x, y )
Diferencial total de z = f ( x, y ) é a parte principal do
incremento total:
∂z ∂z
dz = dx + dy = d x z + d y z
∂x ∂y
Observe-se que o diferencial total é a soma dos diferenciais
parciais.

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 7
CÁLCULO APROXIMADO USANDO OS CONCEITOS DE
DIFERENCIAIS PARCIAIS E TOTAL *

Tal como no caso de funções de uma variável, a ideia base do


cálculo aproximado reside na substituição do incremento total
pelo diferencial total
f ( x, y ) − f ( x0 , y0 ) = f ( x0 + ∆x, y0 + ∆y ) − f ( x0 , y0 ) ≈ dz
Substituindo dz pela sua expressão em termos de derivadas
parciais, obtemos
f ( x, y ) ≈ f ( x0 , y0 ) + f x′( x0 , y0 ) ∆x + f y′( x0 , y0 ) ∆y
Fazendo ∆x = x − x0 e ∆y = y − y0 obtemos a aproximação
linear
f ( x, y ) ≈ f ( x0 , y0 ) + f x′( x0 , y0 ) ( x − x0 ) + f y′( x0 , y0 ) ( y − y0 )

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EXTREMOS

Definição:
A função f admite um máximo relativo no ponto P0 ( x0 , y0 ) ∈ D f ,
se existir um círculo centrado em P0 ( x0 , y0 ) tal que
f ( x0 , y0 ) ≥ f ( x, y ) para todos os pontos P ( x, y ) do domínio
de f situados no interior do círculo.

Definição:
A função f admite um mínimo relativo no ponto P0 ( x0 , y0 ) ∈ D f ,
se existir um círculo centrado em P0 ( x0 , y0 ) tal que
f ( x0 , y0 ) ≤ f ( x, y ) para todos os pontos P( x, y ) do domínio
de f situados no interior do círculo.
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EXTREMOS E DERIVADAS PARCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Teorema:
Condição necessária para a existência de extremo
Se a função f admite um extremo relativo em P0 ( x0 , y0 ) ∈ D f ,
então cada uma das derivadas parciais de primeira ordem é nula
ou não existe em P0 ( x0 , y0 ) , isto é,

 ∂f 
  x = x = 0 ou não existe
 ∂x  y = y0
e 0

 ∂f 
 ∂y  = 0 ou não existe.
  xy==xy0
0

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 10
EXTREMOS E DERIVADAS PARCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM

Observações:
1. Ao fixar, por exemplo, o valor de y, y = y 0, obtém-se a
função f ( x , y 0 ) que é uma função de apenas uma variável
x. Se, por hipótese, esta função admite um extremo em
x = x0 , então f x′( x0 , y0 ) = 0 ou não existe. Da mesma
forma se conclui que f y′ ( x0 , y0 ) = 0 ou não existe.

2. O ponto ( x0 , y0 ) designa-se por ponto crítico ou ponto


estacionário.

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EXTREMOS E DERIVADAS PARCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM
– EXEMPLOS

z z
f ( x, y ) = x 2 + y 2

x y

f ( x, y ) = 3 − x 2 − y 2

x
y
f x′(0,0) = f y′(0,0) = 0
máximo em (0,0) f x′(0,0) e f y′(0,0) não existem
mínimo em (0,0)

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TESTE DAS DERIVADAS PARCIAIS DE SEGUNDA ORDEM

Teorema:
Condição suficiente para a existência de extremo
Seja f ( x, y ) uma função contínua e com derivadas parciais de
1.ª e 2.ª ordem também contínuas num domínio que contém o
ponto estacionário P0 ( x0 , y0 ) , isto é,

 ∂f   ∂f 
  x= x = 0 e  ∂y  = 0.
 ∂x  y = y0   xy==xy0
0 0

Para facilitar a exposição, defina-se a quantidade


2
∂ f  ∂ f 
2
 ∂ f 
2 2
∆= 2   2  − 
 ∂x  xy==xy0  ∂y  xy==xy0  ∂x ∂y  x = x0
y = y0
0 0

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 13
TESTE DAS DERIVADAS PARCIAIS DE SEGUNDA ORDEM

Então, no ponto P0 ( x0 , y0 )
 ∂2 f 
1. f ( x, y ) tem um máximo se ∆ > 0 e  2 
<0
 ∂x  xy==xy0
0

 ∂2 f 
2. f ( x, y ) tem um mínimo se ∆ > 0 e  2 
>0
 ∂x  xy==xy0
0

3. f ( x, y ) não tem nem máximo nem mínimo (tem um ponto


de sela) se ∆ < 0

4. f ( x, y ) pode ou não ter extremo (inconclusivo) se ∆ = 0

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 14
PONTO DE SELA – EXEMPLO

Ponto de sela
(0,0)
z

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DETERMINAÇÃO DE EXTREMOS – EXEMPLO

Determine os pontos críticos (ou estacionários) da função


3 3
f ( x, y ) = x − 3 xy + y e estude a sua natureza.
Resolução:
Condição necessária:
 ∂f  2
 y = x 2
 y = x 2
 ∂x = 0 3 x − 3 y = 0
  
 ∂f ⇔ ⇔ ⇔
 =0 3 y 2 − 3x = 0 3( x 2 ) 2 − 3x = 0 3 x ( x3 − 1) = 0
 ∂y   
y = 0 y =1 Os pontos críticos são:
 
⇔ ∨ (0,0) e (1,1)
x = 0 x =1
 
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DETERMINAÇÃO DE EXTREMOS – EXEMPLO

Resolução (cont.):

Condição suficiente:

∂2 f ∂
∂x 2
=
∂x
( 3 x 2
− 3y ) = 6x

∂2 f ∂
∂y 2
=
∂y
( 3 y 2
− 3x ) = 6 y

∂2 f ∂
= ( 3 x 2 − 3 y ) = −3
∂x ∂y ∂y

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 17
DETERMINAÇÃO DE EXTREMOS – EXEMPLO

( x, y ) (0,0) (1,1)

∂2 f 0 6
∂x 2
∂2 f
0 6
∂y 2
∂2 f
−3 −3
∂x ∂y
2 2
∆ 0 × 0 − (−3) = −9 6 × 6 − ( −3) = 27
Ponto de Sela Mínimo
Conclusão ∂2 f
∆<0 ∆>0 e 2
>0
∂x
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APLICAÇÕES – EXEMPLO

Uma loja vende dois tipos de máquinas fotográficas, tipo 1 e


tipo 2, ao preço de x e y euros, respetivamente. Sendo a função
lucro
L( x, y ) = 915 x − 30 x 2 − 45 xy + 975 y − 30 y 2 − 3500
determine os preços que maximizam o lucro. [H. pag. 778: 8]
Resolução:
Condição necessária:
 ∂L x=7
 ∂x = 0  915 − 60 x − 45 y = 0
 
 ∂L ⇔ ⇔
 =0 −45 x + 975 − 60 y = 0  y = 11
 
 ∂y
O ponto crítico é: (7,11)
António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 19
APLICAÇÕES – EXEMPLO

Resolução (cont.):
Condição suficiente:

∂2L ∂  ∂2L 
2
= ( 915 − 60 x − 45 y ) = −60 ⇒  2  = −60
∂x ∂x  ∂x  x =7 y =11

∂2L ∂  ∂2L 
2
= ( −45 x + 975 − 60 y ) = −60 ⇒  2  = −60
∂y ∂y  ∂y  x =7 y =11

∂2L ∂  ∂2L 
= ( 915 − 60 x − 45 y ) = −45 ⇒   = −45
∂x ∂y ∂y  ∂x ∂y  x =7 y =11

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 20
APLICAÇÕES – EXEMPLO

Resolução (cont.):
Logo,
∆ = −60(−60) − (45) 2 = 1575 > 0
e
 ∂2L 
 ∂x 2  = −60 < 0
  xy==11
7

A função tem um máximo no ponto (7,11).


O Lucro será máximo, quando a máquina fotográfica
do tipo 1 é vendida a 7 euros e a do tipo 2 a 11 euros.

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EXERCÍCIOS

1. Considere a função f ( x, y ) = 5 − ln( x) + ln( y ) + 2 x y.


Mostre que 2 2 2
∂ f ∂ f
2 2 ∂ f
x 2
− −y 2
=0
∂x ∂x ∂y ∂y
Resolução:
∂f 1 ∂f 1
= − + 2y , = + 2x
∂x x ∂y y
∂2 f ∂  ∂f  ∂  1  1
2
=   = − + 2y = 2
∂x ∂x  ∂x  ∂x  x  x
∂2 f ∂  ∂f  ∂  1 
=   = − + 2y = 2
∂x ∂y ∂y  ∂x  ∂y  x 
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EXERCÍCIOS

Resolução (cont.):
2
∂ f ∂  ∂f  ∂  1  1
2
=   =  + 2x  = − 2
∂y ∂y  ∂y  ∂y  y  y
Logo,

2 1  2 1 
2 2 2
2 ∂ f ∂ f 2 ∂ f
x 2
− −y 2
= x  2 −2− y − 2  = 0
∂x ∂x ∂y ∂y x   y 

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EXERCÍCIOS

x− y  ∂2 f 
2. Dada a função f ( x, y ) = determine e
x − 3  ∂x 2 
 ∂2 f    xy==24
 ∂x ∂y 
  x=2y =4
Resolução:
∂f x − 3 − ( x − y ) y −3
= 2
=
∂x ( x − 3) ( x − 3) 2
∂2 f ∂  y − 3  −2( y − 3)( x − 3) −2( y − 3)
2
=  2 
= 4
=
∂x ∂x  ( x − 3)  ( x − 3) ( x − 3)3
∂2 f ∂  y − 3  ( x − 3) 2 1
=  2 
= 4
=
∂x ∂y ∂y  ( x − 3)  ( x − 3) ( x − 3) 2
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EXERCÍCIOS

Resolução (cont.):

 ∂2 f  −2(4 − 3)
 ∂x 2  = (2 − 3)3 = 2
  xy==24
 ∂2 f  1
 ∂x ∂y  = (2 − 3) 2 = 1
  xy==24

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EXERCÍCIOS

3. Determine os pontos críticos (ou estacionários) da função


x2 + y 2
f ( x, y ) = e e estude a sua natureza.

Resolução:
Condição necessária:
 ∂f 2x e
2
+ 2

x y
= 0 =0 x=0
 ∂x  
 ∂f ⇔ ⇔
 =0  x2 + y 2 y = 0
 ∂y 2 y e =0 
O ponto crítico é: (0,0)

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EXERCÍCIOS

Resolução (cont.):
Condição suficiente:
2
∂ f2 ∂ f 2 x2 + y 2
= (2 + 4 x 2
) e
2
x +y 2
; 2
= (2 + 4 y ) e ;
∂x 2 ∂y
∂2 f x2 + y2
= 4x y e
∂x∂y
 ∂2 f   ∂2 f   ∂2 f 
 ∂x 2  = 2,  ∂y 2  = 2,  ∂x ∂y  = 0
  xy==00   xy==00   xy==00

António Carvalho Pedrosa e Cristina Torres Aula 13 - Funções Reais de Várias Variáveis Reais 27
EXERCÍCIOS

Resolução (cont.):

 ∂2 f 
Logo, ∆ = 2 × 2 − 0 = 4 > 0 e  2  = 2 >0
 ∂x  xy==00

A função tem um mínimo no ponto (0,0)

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