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Coleção Lutero para Hoje

Martim Lutero

Como orar
(Uma singela forma de orar,
para um bom amigo)
editora

JSinodal 1999
© Editora Sinodal, 1999 Co-editora:
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O texto “Como orar” é uma versão atualizada do original “Uma
singela forma de orar, para um bom amigo” , que se encontra em
“Obras Selecionadas de Martinho Lutero” , volume 5, Editora Sino­
dal, São Leopoldo/RS, Concórdia Editora, Porto Alegre/RS, 1996,
páginas 132-148
A Comissão Interluterana de Literatura (CIL) cedeu gentilmente a
permissão para a publicação deste texto
Adaptação do texto: Rui J. Bender
Assessores: P. Dr. Martin Norberto Dreher. professor no Progra­
ma de Pós-graduação em História na UNISINOS, São
Leopoldo/RS
P. Dr. Ricardo Wi//y Rieth: professor de História Ecle­
siástica na Escola Superior de Teologia, São Leopol­
do/RS
Produção editorial: Editora Sinodal
Produção gráfica: Gráfica Sinodal

C1P - BRASIL CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


Bibliotecária responsável: Rosemarie B. dos Santos CRB 10/797
L973c Lutero, Martim
Como orar/Martim Lutero. - São
Leopoldo : Sinodal, 1999
60 p. - (Coleção Lutero para hoje).
ISBN 85-233-0565-3
I. Reliqião. 2. Luteranismo. I. Título
CDU 284.1
Apresentação

arbearias e salões d e beleza são ex celen tes

B lugares para ficar bem informado. Barbeiro


e cabeleireira são terapeutas co m importan­
te fu n çã o social. Ouvem e dão conselhos. Barbeir
e cabeleireiras são confidentes. Por cerca d e 18 anos,
Pedro B esk endorf foi barbeiro d e Martim Lutero.
Fazia-lhe a barba, o cabelo e ... era seu m édico. Por
muito tempo, barbeiros foram m édicos. Aplicavam
ventosas, sanguessugas e realizavam sangrias.
Nas barbearias e nos salões d e beleza, também
s e travam discu ssões teológicas e s e expressam cri­
ses d e fé. Ali s e fala sob re Deus e o diabo. Pois,
numa dessas conversas, Pedro B esk endorf disse a
Lutero que iria escr ev er um livro sob re o p o d e r e as
ciladas d o diabo. Lutero d ev e ter falado co m ele
sob re o p o d er da oração, maior que o p o d er d o dia­
bo. Fato é que dedicou-lhe o livrinho Uma singela
forma de orar, para um bom amigo. Em algumas

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edições, o título muda: Como se deve orar, para
mestre Pedro Barbeiro.
O livro teve uma aceitação muito boa. Só no ano
d e seu lançamento, 1535, teve quatro edições. Pou­
c o após a publicação, Pedro Beskendorf deixou d e
ser barbeiro d e Lutero, pois foi banido para Dessau.
C om etera um crime, assassinando seu próprio g e n ­
ro, Dietrich. Este gabara-se d e ter o co rp o fech a d o
a armas d e guerra. P edro tirou a contraprova, en-
fiando-lhe uma faca na barriga. O gen ro acabou m or­
rendo, e Pedro, exilado. Não s e brinca co m a vida
im punem ente. Pedro d e v e ter usado depois, mui­
tas vezes, o livro d e Lutero.
Uma singela forma de orar é um exercício d e ora­
çã o para a d ev o çã o dom éstica. Tem recom en d a çã o
d e disciplina na oração. S egu n do Lutero, edu ca do
na tradição monástica e pessoa em cuja vida a ora­
çã o tinha importância central, deveríam os tomar
tem p o para orar pela manhã, cedinho, e à noite,
sem serm o s interrompidos. C om o p essoa que ora a
todo instante, cujos escritos estão p erm ea d os d e
oração, Lutero mostra c o m o p o d em o s orar, m edi­
tando os salm os e o catecism o. Pai-nosso, manda­
m en tos e Credo são incentivos para a oração.
Muito se cantou que “a m elhor oração é o am or”.
Lutero não o nega. Também na atividade d e bar-
beiro-m édico p o d e haver testem u n h o d e fé. M esmo
assim, insiste na oração oral, pois em nossa fraque­

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za nos esq u ecem o s d e buscar força para a vida no
diálogo co m Deus.
Tomando o Pai-nosso, transforma cada uma das
sete p etiçõ es em oração. Depois, faz uma “coroa
trançada quatro vez es” co m os Dez Mandamentos.
Os Dez M andamentos são instrução, canto, co n fis­
são e petição. Pai-nosso e Dez Mandamentos p od em
ser acom panhados, ainda, da leitura d e Salmos ou
d e capítulos da Bíblia. O importante é que co m a
prática e o exercício da oração dom éstica s e tem
“isqueiro para a cen d er uma cham a no co r a çã o ”.

Martin N. Dreher

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Para o mestre Pedro Barbeiro
Caro mestre Pedro! Passo a você minha experiên­
cia com a oração e a forma como a faço. Nosso Se­
nhor Deus permita a você e a todos os outros que o
consigam fazer melhor. Amém.
Sinto, às vezes, que fiquei frio ou perdi a vontade
de rezar por causa do trabalho ou de pensamentos
estranhos. A carne e o diabo estão sempre dificultan­
do e estorvando a oração. Então pego meu livro de
Salmos, vou para o meu quarto ou, dependendo do
dia e da hora, para a igreja. Lá me misturo às pessoas
e passo a ler em voz alta para mim mesmo os Dez
Mandamentos, o Credo e, conforme o meu tempo,
diversos textos de Cristo, Paulo ou dos Salmos, tudo
assim como fazem as crianças.
Por isso é bom que a oração seja a primeira ativi­
dade da manhã e a última da noite. Tome muito cui­
dado com esses pensamentos falsos e enganosos que
dizem: Espere um pouco, daqui a uma hora vou rezar,
mas antes ainda preciso resolver isso ou aquilo. Com
esse pensamento se passa da oração para os traba­
lhos que prendem e envolvem a gente, a ponto de
não mais sair oração o dia inteiro.
É certo que podem surgir tarefas diferentes, tão
boas ou até melhores do que a oração. Principalmen­
te se houver necessidade. Há uma expressão de São
Jerônimo que diz: Todo trabalho do crente é uma ora­

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ção. E há um provérbio que diz: Quem trabalha bem
ora em dobro. Isso significa que uma pessoa crente
teme e honra Deus em seu trabalho e lembra-se de
seu mandamento para não fazer injustiça a ninguém,
nem roubar, enganar ou prejudicar ninguém. Sem
dúvida, essa atitude faz de sua ação também uma ora­
ção e um sacrifício de louvor.
Por outro lado, não é menos verdade que a obra
de um descrente é pura desgraça. Quem trabalha de
modo desonesto amaldiçoa em dobro. Os pensamen­
tos de seu coração durante o trabalho só podem levá-
lo a desprezar Deus, desobedecer aos mandamentos
e fazer injustiça a seu próximo, procurando roubá-lo e
enganá-lo. Esses pensamentos não seriam outra coisa
senão pura maldição contra Deus e as pessoas, assim
que sua obra e trabalho também passem a ser uma
dupla desgraça? Com isso os descrentes também amal­
diçoam a si próprios. Assim finalmente acabam se tor­
nando mendigos e pessoas sem nenhuma aptidão. Mas
Cristo diz em Lucas 1 1 .19s que se deve orar sem pa­
rar, pois é preciso prevenir-se sempre contra pecados
e injustiça. Isso não pode acontecer onde não se teme
Deus e não se tem diante de si seu mandamento, con­
forme diz o Salmo 1.2: “Bem-aventurado aquele que
medita dia e noite na lei do Senhor”, etc.
Também precisamos cuidar para não nos desacos­
tumar da oração. Temos que ter cuidado para não
julgar necessárias obras que na verdade não são, fi­

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cando relaxados e preguiçosos, frios e aborrecidos em
relação ã oração. O diabo não é preguiçoso nem frou­
xo quando nos persegue. Nossa carne ainda está por
demais viva e disposta para o pecado, dirigindo-se
contra o espírito de oração.
Com o coração aquecido por essa leitura e tendo-
se encontrado a si próprio, ajoelhe-se ou fique de pé,
com as mãos postas em oração e os olhos voltados
para o céu. Fale ou pense o mais breve possível:
Pai do céu, Deus querido, sou um pecador pobre
e indigno. Não mereço levantar meus olhos ou minhas
mãos a você e rezar. Você mandou que todos oremos
e ainda prometeu atender-nos, inclusive nos ensinou
as palavras que devemos usar e a forma como fazê-lo
através de seu Filho amado, nosso Senhor Jesus Cris­
to. Por isso obedeço a esse mandamento e confio em
sua graciosa promessa. Rezo em nome de Jesus Cris­
to com todos os seus santos na terra, conforme ele me
ensinou.

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1. “Pai nosso, que estás”, etc.
Repita depois uma parte ou quanto você quiser,
por exemplo, a primeira petição: Santificado seja
teu n o m e e diga: Venha, Deus Senhor, Pai querido,
santificar seu nome tanto em nós mesmos como em
todo o mundo. Destrua e elimine os medos, a idolatria
e heresia do turco, do papa e de todos os falsos
doutrinadores ou espíritos sectários que usam seu nome
de forma enganosa e assim abusam dele de forma
descarada e blasfemam terrivelmente. Eles afirmam
que se trata da Palavra de Deus e da doutrina da Igre­
ja. Mas não passa de mentira e esperteza do diabo,
com a qual enganam miseravelmente muitas almas
pobres em seu nome no mundo inteiro. Além disso,
ainda matam, derramam sangue inocente e perse­
guem pessoas, pensando que assim estão prestando
culto a você.
Senhor Deus querido, converta aqueles que ainda
precisam ser convertidos, para que nós juntos venha­
mos a orar, santificar e glorificar seu santo nome com
uma doutrina pura e genuína e com uma vida boa e
santa. Mas não permita que aqueles que não se que­
rem converter continuem a abusar, ofender e deson­
rar seu santo nome e a enganar as pessoas pobres.
Amém.

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2. A segunda petição:
“Venha teu reino”
Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai! Você está
vendo que não são apenas a sabedoria e a compreen­
são do mundo que falam mal de seu nome e entre­
gam sua glória à mentira e ao diabo. Todo o poder e
comando, riqueza e glória que você deu a eles sobre a
terra para governar no âmbito secular e com isso ser­
vir a você estão'Se opondo e resistindo a seu reino.
Eles são grandes, poderosos e em grande número,
gordos e nutridos, atormentam, impedem e pertur­
bam o pequeno rebanho de seu reino, gente fraca,
desprezada e sem importância. Não os querem tole­
rar sobre a terra e ainda acham que estão prestando
um grande serviço a você.
Querido Senhor, Deus e Pai, converta aqui e po­
nha um fim a tudo isso. Converta aqueles que ainda
precisam tomar-se filhos e membros de seu reino, para
que nós juntos sirvamos a você, com fé autêntica e
amor legítimo, e passemos desse reino iniciado para
seu reino eterno. Impeça aqueles que não querem
deixar de usar seu próprio poder e capacidade para
perturbar o reino de Deus, assim que, derrubados de
seu trono e humilhados, tenham que parar com isso.
Amém.

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3. A terceira petição:
“Faça-se a tua vontade,
assim na terra como no céu”
Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, você sabe
que o mundo não pode eliminar por inteiro seu nome
e acabar por completo com seu reino. Por isso ele
ocupa-se dia e noite com manhas traiçoeiras e mano­
bras estranhas. As pessoas armam todo tipo de estra­
nhos atentados, ficam tramando e conspirando,
apóiam-se e se fortalecem umas às outras. Ameaçam
e se enfurecem, têm as piores intenções contra seu
nome, sua palavra, seu reino e seus filhos, tentando
matá-los. Por isso, querido Senhor Deus e Pai, leve-os
à conversão e acabe com isso. Converta aqueles que
ainda devem reconhecer a boa vontade divina, para
que juntos obedeçamos a ela e assim suportemos com
paciência e alegria todo mal, cruz e instabilidade. Nis­
so podemos reconhecer, provar e experimentar sua
vontade benigna, misericordiosa e perfeita. Mas des­
trua aqueles que não querem desistir de sua fúria, rai­
va, ódio, ameaça e má intenção de prejudicar. Elimi­
ne e desmascare seus planos, atentados e tramóias
malvadas. Que caiam sobre eles próprios, como can­
ta o Salmo 7.16. Amém.

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4. A quarta petição:
“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”
Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, abençoe
também esta vida temporal e física. Dê-nos a paz pre­
ciosa com misericórdia. Proteja-nos de guerra e tu­
multo. Conceda a nosso caro senhor imperador boa
sorte e sucesso contra seus inimigos, dê-lhe sabedoria
e entendimento, para que governe seu império terre­
no com tranqüilidade e felicidade. Dê a todos os reis,
príncipes e autoridades bom conselho e a intenção de
manterem seus países e sua gente em plena paz e
justiça. Principalmente ajude e oriente nosso querido
senhor territorial, sob cuja proteção você nos man­
tém: que ele nos proteja de todo mal e governe de
forma feliz e a salvo de más línguas e gente desleal.
Conceda a todos os cidadãos a graça de servirem fiel­
mente e de serem obedientes. Que todas as classes,
gente da cidade e do campo, se tornem piedosas e
manifestem amor e lealdade entre si. Permita bom
tempo e frutos da terra; também encomendo a você
casa e propriedade, mulher e filhos. Ajude para que
eu os guie bem e os crie e eduque de forma cristã.
Rechace e domine o pervertedor e todos os anjos
malignos, que provocam dano e estorvo. Amém.

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5. A quinta petição:
“Perdoa-nos as nossas dívidas,
assim com nós perdoamos
aos nossos devedores”
Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, não nos jul­
gue porque diante de você nenhuma pessoa viva é
justa (Salmo 143.2). Não entenda como pecado o fato
de sermos tão ingratos com toda a sua extraordinária
bênção espiritual e corporal e de tropeçarmos e pe­
carmos muitas vezes todos os dias, mais do que sabe­
mos ou podemos notar (Salmo 19.12). Não pense em
nossa piedade ou maldade, mas em sua inexplicável
misericórdia, concedida a nós em Cristo, seu Filho
amado. Perdoe também todos os nossos inimigos, to­
dos aqueles que nos fazem sofrer ou nos fazem injusti­
ça, assim como também nós os perdoamos de cora­
ção. Eles fazem o maior mal a si próprios quando pro­
vocam a ira divina por meio de seu comportamento
em relação a nós. De nada adianta sua desgraça para
nós. Antes gostaríamos de que eles fossem felizes co­
nosco. Amém. Quem sente que não pode perdoar com
facilidade deve pedir a graça de poder perdoar. Mas
isso faz parte da pregação.

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6. A sexta petição:
“E não nos deixes cair em tentação”
Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, conserve-
nos corajosos e bem dispostos, entusiasmados e esfor­
çados em sua palavra e serviço. Não nos tornemos
convencidos, preguiçosos e relaxados, como se agora
tivéssemos tudo, para que o diabo perverso não nos
assalte e surpreenda e nos tire de novo a preciosa
palavra divina ou provoque discórdia e intolerância
entre nós. Ou ainda nos leve de outra forma ao peca­
do e à vergonha, seja espiritual ou corporal. Dê-nos
sabedoria e força por meio de seu Espírito, para que
resistamos com bravura e conquistemos a vitória.
Amém.

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7. A sétima petição:
“Mas livra-nos do mal”
Diga: Ah, querido Senhor Deus e Pai, esta vida
miserável está tão cheia de tristeza e infelicidade, tão
cheia de perigo e insegurança, tão repleta de desleal­
dade e maldade (como diz São Paulo: “Os dias são
maus” - Efésios 5.16). Com razão deveríamos estar
cansados da vida e ansiosos pela morte. Mas você, Pai
amado, conhece nossa fraqueza. Por isso ajude-nos a
atravessar firmes essas numerosas maldades. Quando
chegar a hora, dê-nos um fim misericordioso e uma
feliz despedida deste vale de agonia. Não tenhamos
medo diante da morte nem desanimemos, mas com
fé decidida entreguemos nossas almas em suas mãos.
Amém.
Por fim, observe que cada vez você tem que dizer
o Amém bem forte, sem duvidar de que Deus está
certamente ouvindo você com toda a graça e aceita a
sua oração. Lembre-se de que você não está ajoelha­
do e parado sozinho. Todos os cristãos piedosos estão
com você, e você está no meio deles, orando com eles
da mesma forma, o que Deus não pode desprezar.
Não se desvie da oração antes de ter dito ou pensado:
Bem, esta oração foi ouvida por Deus. Tenho certeza
disso e sei de verdade. Isso é o que significa “amém”.
Você também deve saber que não quero que todas
essas palavras sejam ditas na oração. Isso acabaria

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num palavreado e pura conversa fiada, recitados do
livro ou da letra, assim como foram o rosário entre os
leigos e as orações dos padres e monges. Muito pelo
contrário, quero com isso ter incentivado e ensinado o
coração sobre os pensamentos que você deve ter du­
rante o Pai-nosso. O coração (quando estiver bem aque­
cido e disposto a rezar) pode expressar perfeitamente
esses pensamentos com muitas outras palavras, tam­
bém com menos ou mais palavras. Eu mesmo tam­
bém não me ligo nessas palavras e sílabas, mas as falo
hoje de um jeito, amanhã de outro, dependendo da
minha disposição. Mesmo assim, sempre me prendo,
o quanto posso, a este pensamento e sentido. Muitas
vezes, acontece que em alguma parte ou petição do
Pai-nosso. chego a demorar-me em pensamentos tão
ricos, que esqueço todas as outras seis. Quando vêm
tais pensamentos ricos e bons, deve-se deixar de lado
as outras preces e dar lugar a esses pensamentos e
ouvi-los em silêncio, nunca impedi-los. Pois até o pró­
prio Espírito Santo está pregando. Uma única pala­
vra de sua pregação é melhor do que mil orações nos­
sas. Com freqüência, aprendi mais em uma só oração
do que poderia ter conseguido com muita leitura e
reflexão.
Por isso é muito importante que o coração fique
livre e disposto para a oração. Assim também diz o
Pregador 4 (Eclesiástico 5.2): “Prepara teu coração
antes de orar, para que não ponhas Deus à prova”.

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Não é tentar Deus quando a boca fica tagarelando e o
coração está distraído? Como aquele padre que orou
da seguinte forma: O Deus, vem ajudar-me - Peão,
você já desatrelou o cavalo? - Senhor, apresse-se em
socorrer-m e - Criada, vá ordenhar a vaca -G lória ao
Pai, ao Filho e ao Espírito Santo - Ande, menino,
que a peste leve você, etc.
Ouvi e experimentei muitas dessas orações no
papado em meu tempo. Quase todas as suas orações
são desse tipo e com elas apenas se debocha de Deus.
Melhor seria se brincassem em vez disso, já que não
podem ou não querem fazer nada melhor. Infelizmen­
te, eu mesmo rezei muitas dessas horas canônicas em
meus dias. O salmo ou a hora da oração passavam
sem que eu me desse conta se estava no começo ou
no meio.
Nem todos deixam escapar as palavras como o
padre acima mencionado, misturando o trabalho com
a oração. Eles agem assim no coração com os pensa­
mentos. Perdem-se em mil fantasias. Quando chegam
no fim, não sabem o que fizeram ou por onde passa­
ram. Começam dizendo “louvai” e já estão na “Menti-
rolândia”. Acho que não pode haver espetáculo mais
ridículo do que se alguém pudesse ver os pensamen­
tos que um coração frio e sem afeto vai misturando na
oração. Mas agora, louvado seja Deus, estou vendo
que não é uma boa oração quando alguém se esque­
ce daquilo que falou. Uma oração bem feita observa

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cuidadosamente todas as palavras e pensamentos do
início ao fim da oração.
Assim, um barbeiro esforçado e competente tem
que voltar seu pensamento, sua atenção e seus olhos,
com muita exatidão, para a navalha e os cabelos. Não
se deve descuidar, não sabendo se está afiando ou
cortando. Mas se, ao mesmo tempo, conversasse mui­
to ou ficasse pensando ou olhando outras coisas, cer­
tamente cortaria fora a boca ou o nariz, e até o pesco­
ço. Dessa forma, para ser bem feita, cada coisa exige
a pessoa toda, com todos os seus sentidos e membros,
como se diz: “Quem pensa em muitas coisas não pen­
sa em nada, também não faz nada direito”. A oração
precisa ter o coração todo para si, por inteiro e exclu­
sivamente, para que seja uma boa oração.
Assim está descrita, em poucas palavras, a forma
como eu próprio costumo orar o Pai-nosso ou qualquer
outra oração. Ainda hoje mamo no Pai-nosso como uma
criança, como e bebo dele como um adulto. Não consi­
go cansar-me dele. Para mim ele está acima dos Sal­
mos (que tanto amo). O Pai-nosso é a melhor oração.
Na verdade, nota-se que foi o verdadeiro Mestre que a
formulou e ensinou. E profundamente lamentável que
essa oração de tão excelente Mestre seja feita sem qual­
quer devoção e assim desvirtuada em todo o mundo.
Há muitos que talvez rezem mil Pai-nossos por ano, e
mesmo que rezassemdurante mil anos, não teriam pro­
vado nem orado sequer uma única letra ou pontinho.

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Enfim, o Pai-nosso é o maior mártir sobre a terra (assim
como o nome e a Palavra de Deus). Todo mundo mal-
trata-o e abusa dele. Poucos o consolam e alegram com
um uso adequado.
Se sobrar tempo e oportunidade, além do Pai-nos­
so vou proceder da mesma forma com os Dez Manda­
mentos. Pego um ponto depois do outro, para que
fique totalmente livre para a oração (o quanto isso for
possível). Faço de cada mandamento um quadrado ou
uma coroa trançada quatro vezes, ou seja: tomo cada
mandamento primeiro como um ensinamento, o que
efetivamente é, e penso sobre o que nosso Senhor
Deus exige nele de mim com tanta seriedade. Em se­
gundo lugar, faço dele uma ação de graça. Em tercei­
ro lugar, uma confissão. E, em quarto, uma oração.
Faço-o com pensamentos e palavras deste tipo:

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“Eu sou o Senhor teu Deus”, etc.
“Não terás outros deuses
além de mim”, etc.
Aqui penso, em primeiro lugar, que Deus exige de
mim e me ensina a confiar nele de coração. Ele dese­
ja, muito seriamente, ser meu Deus. Devo considerá-
lo como tal, sob pena de perder a eterna bem-
aventurança. Meu coração não deve confiar em mais
nada, seja em algum bem, honra, sabedoria, poder,
santidade ou qualquer criatura. Em segundo lugar, sou
grato pela inexplicável misericórdia de Deus. Ele se
volta tão paternalmente a mim, um homem perdido.
Oferece-se a si mesmo sem ser solicitado ou procura­
do e sem qualquer merecimento meu, para ser meu
Deus. Aceita-me, querendo ser meu consolo, prote­
ção, ajuda e força em todos os sofrimentos físicos. Se
Deus mesmo não se fizesse ouvir tão claramente e
não se oferecesse em nossa linguagem humana, que­
rendo ser nosso Deus, nós pobres e cegos seres hu­
manos teríamos procurado diversos outros deuses e
ainda os procuraríamos. Quem lhe pode agradecer o
bastante para sempre por tudo isso? Em terceiro lu­
gar, confesso e reconheço meu grande pecado e mi­
nha ingratidão: desprezei, de forma muito vergonho­
sa, uma doutrina tão bela e uma dádiva tão valiosa
durante toda minha vida e provoquei sua fúria de for­
ma muito horrível com inúmeras idolatrias. Isso dói, e

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peço misericórdia. Em quarto lugar, peço e digo: Meu
Deus e Senhor, ajude-me por sua graça para que eu,
a cada dia, consiga aprender e compreender melhor
esse seu mandamento. Que eu possa, sinceramente,
agir de acordo com ele. Proteja meu coração, para
que eu não me torne tão esquecido e ingrato e não
procure outros deuses nem consolo em quaisquer cri­
aturas. Antes permaneça unicamente com você de todo
o coração, meu único Senhor. Amém, querido Senhor
Deus e Pai, amém.

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O segundo mandamento:
“Não abusarás do nome do Senhor
teu Deus”, etc.
Primeiramente, aprendo deste mandamento que
tenho que manter o nome de Deus glorioso, santo e
belo. Não devo jurar, amaldiçoar ou mentir sobre ele,
não devo ser pretensioso nem procurar a própria dig­
nidade ou fama. Humildemente tenho que invocar, ado­
rar, exaltar e glorificar seu nome, deixando que toda
a minha honra e glória manifestem-se no fato de ele
ser meu Deus e eu sua pobre criatura e servo indigno.
Em segundo lugar, agradeço por sua dádiva maravi­
lhosa: Deus me revelou e concedeu seu nome, eu posso
gabar-me de seu nome e me deixar chamar de servo
e criatura de Deus, etc. Seu nome é meu refúgio como
um castelo forte (conforme diz Salomão), no qual o
justo se abriga e é protegido (Provérbios 18.10). Em
terceiro lugar, confesso e admito meu vergonhoso e
grave pecado contra esse mandamento: não só deixei
de invocar, exaltar e glorificar seu santo nome, mas
também fui ingrato com essa dádiva. Abusei dela com
todo tipo de desonra e pecado, jurando, mentindo,
enganando, etc. Arrependo-me disso e peço miseri­
córdia e perdão, etc. Em quarto lugar, suplico auxílio
e força para que, de agora em diante, eu possa apren­
der bem esse mandamento. Peço que Deus me livre

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dessa vergonhosa ingratidão, do abuso e do pecado
contra seu nome. Pelo contrário, que eu seja grato e
tema e glorifique o seu nome.
Como eu disse antes sobre o Pai-nosso, recomen­
do também aqui: se o Espírito Santo meter-se nesses
pensamentos e começar a pregar em seu coração com
pensamentos ricos e iluminados, dê-lhe a honra e dei­
xe de lado esses pensamentos premeditados. Fique
quieto e escute aquele que o sabe fazer melhor do
que você. Grave e tome nota daquilo que ele prega.
Você verá maravilhas na lei de Deus (como diz Davi
no Salmo 119.18).

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O terceiro mandamento:
“Lembra-te de santificar
o dia de descanso”
Fico sabendo aqui, em primeiro lugar, que o dia de
descanso não foi criado para o lazer nem para o pra­
zer carnal, mas para ser santificado por nós. No en­
tanto, não é santificado por nosso trabalhar e agir,
porque nossas obras não são santas. Ele é santificado
pela Palavra de Deus, pois só ela é pura e santa e
santifica tudo o que está em contato com ela, seja
tempo, lugar, pessoa, trabalho, descanso, etc. Atra­
vés da Palavra também nossas obras se tornam san­
tas, conforme diz São Paulo em 1 Timóteo 4.4s: “Toda
criatura é santificada através da Palavra e da oração”.
Por isso reconheço que no dia de descanso devo, em
primeiro lugar, ouvir a Palavra de Deus e refletir so­
bre ela. Segundo a mesma Palavra, tenho que agra­
decer e louvar Deus por todos os seus favores, bem
como orar por mim e por todo o mundo. Quem age
assim no dia de descanso santifica este dia. Quem não
o faz age pior do que aqueles que trabalham nesse
dia.
Em segundo lugar, agradeço através desse man­
damento pela grande bênção e graça de Deus por
nos ter dado sua Palavra e pregação. Ele mandou
que nós as praticássemos em especial no dia de des­
canso. Não há coração humano que possa valorizar

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o bastante esse tesouro. A Palavra de Deus é a única
luz na escuridão desta vida. É Palavra da vida, de
consolo e de toda bem-aventurança. Onde não esti­
ver presente a querida e fortalecedora Palavra, exis­
tem só a terrível e assustadora escuridão, engano,
intolerância, morte, todo tipo de infelicidade e tira­
nia do diabo, como vemos todos os dias diante de
nossos olhos.
Em terceiro lugar, confesso e reconheço meu gran­
de pecado e minha vergonhosa ingratidão por ter
passado os dias de descanso de forma tão odiosa em
minha vida. Desprezei de maneira lamentável a que­
rida e preciosa Palavra de Deus. Também admito meu
pecado e minha ingratidão por ter sido preguiçoso,
indisposto e entediado para ouvi-la, isso para não fa­
lar de que nunca a procurei de coração nem agradeci
por ela. Portanto, deixei que meu Deus pregasse para
mim em vão e desprezei o precioso tesouro, pisando
nele com os pés. Deus tolerou isso de minha parte
por pura bondade. Nem por isso deixou de continuar
a pregar para mim e de me chamar para a bem-
aventurança de minha alma, com todo o amor e toda
a fidelidade paterna e divina. Lamento por isso e peço
misericórdia e perdão.
Em quarto lugar, suplico por mim e por todo o
mundo que o Pai amado nos queira conservar junto à
sua santa Palavra. Não a tire de nós por causa de
nosso pecado, ingratidão e descuido. Proteja-nos con­

26
tra espíritos sectários e falsos mestres e mande-nos
bons e fiéis obreiros para a seara, isto é, pastores e
pregadores leais e piedosos. Dê-nos também a graça
de com humildade ouvir, aceitar e fazer jus a essa
Palavra e de agradecer e louvar de coração por isso.

27
O quarto mandamento:
“Honrarás a teu pai e tua mãe”
Primeiramente, aprendo aqui a reconhecer que
Deus é meu criador e que me criou de forma tão ma­
ravilhosa com corpo e alma. De meus pais ele me deu
a vida e a eles deu o coração de terem servido a mim,
o fruto de seu corpo, com todas as suas forças. Eles
me geraram, alimentaram, dedicaram-se a mim, cui­
daram de mim e me educaram com muita dedicação,
preocupação, risco, esforço e trabalho. Até hoje Deus
protegeu a mim, sua criatura, em corpo e alma, con­
tra inúmeros perigos e dificuldades e me socorreu
muitas vezes. Assim me cria de novo a cada instante.
Pois o diabo não deixa de invejar a nossa vida por um
momento sequer.
Em segundo lugar, agradeço ao rico e bondoso
Criador, por mim e todo o mundo, por ter criado e
preservado com esse mandamento o crescimento e
a conservação da espécie humana - a vida familiar
e a vida pública. Sem essas duas, o mundo não po­
deria sobreviver um ano sequer, porque sem o modo
de vida secular não há paz. Onde não há paz, não
pode haver vida familiar, não podem ser gerados
nem educados filhos. Paternidade e maternidade
teriam que acabar por completo. Mas é para isso
que existe este mandamento, que mantém e prote­
ge ambas, a vida familiar e a vida pública. Ordena

28
obediência para filhos e cidadãos, cuidando também
para que ela realmente seja prestada. Ou então, se
isso não acontecer, ele castiga. Caso contrário, os
filhos já teriam arruinado há muito tempo toda a
vida familiar com sua desobediência. Os cidadãos
teriam acabado com a vida política através de tu­
multos, porque seu número é muito maior do que o
de pais e governantes. Por isso também esse bene­
fício é de altíssimo valor.
Em terceiro lugar, confesso e reconheço minha la­
mentável desobediência e pecado por ter desrespei­
tado este mandamento de meu Deus: não honrei meus
pais nem fui obediente. Revoltei-me e ofendi-os segui­
damente. Aceitei sua disciplina paternal com impa­
ciência e resmunguei contra eles. Não considerei sua
sincera advertência, preferindo a convivência irrespon­
sável com malandros e perversos. O próprio Deus
amaldiçoa esses filhos desobedientes e lhes nega uma
vida longa. Aliás, muitos morrem por causa disso e
desaparecem de forma vergonhosa antes de alcançar
idade adulta. Quem não obedece a pai e mãe tem
que obedecer ao carrasco ou então perder cruelmen­
te sua vida pela fúria de Deus, etc. Lamento por tudo
isso e peço misericórdia e perdão.
Em quarto lugar, suplico por mim e todo o mundo
que Deus nos queira dar sua graça e derramar rica­
mente sua bênção sobre a vida familiar e pública.
De agora em diante, tornemo-nos piedosos, honre­

29
mos os pais, sejamos obedientes às autoridades, re­
sistamos ao diabo e não nos deixemos instigar à de­
sobediência e ao tumulto. Portanto, ajudemos ativa­
mente a melhorar o lar e o país e a manter a paz,
em honra e louvor a Deus, para nosso próprio pro­
veito e todo o bem. Reconheçamos essas suas dádi­
vas e sejamos gratos por elas. Aqui deve ser incluída
também a súplica pelos pais e autoridades: Deus lhes
conceda juízo e sabedoria para nos liderar e gover­
nar de forma pacífica e feliz. Proteja-os da tirania,
de excessos e fúrias desenfreadas. Livre-os disso, para
que honrem a Palavra de Deus, não provoquem per­
seguições nem causem injustiça a alguém. Essas gran­
des dádivas têm que ser alcançadas através da ora­
ção, como ensina São Paulo (Romanos 12.12). Se­
não o diabo se torna o superior da corte, e as coisas
andam mal e desordenadas.
Se você também for pai ou mãe, essa é a oportu­
nidade para não esquecer a você mesmo, nem seus
filhos e sua criadagem. E ocasião para pedir com se­
riedade que o querido Pai, que colocou você na honra
de seu nome e quer que também você seja chamado
de pai e honrado como tal, conceda a você a graça e
a bênção de governar e sustentar a mulher, os filhos e
seus criados de forma divina e cristã. Ele dê sabedoria
e força a você para educá-los bem. A eles conceda
um bom coração e boa vontade para seguir seus ensi­
namentos e obedecer a você. Tanto as próprias crian­

30
ças como seu desenvolvimento, sua boa formação e a
continuidade nela são dádivas divinas. Caso contrário,
um lar não passa de um chiqueiro, sim, de uma escola
de malandros, como se observa entre a gente sem fé
e libertina.

31
O quinto mandamento:
“Não matarás”
Aqui aprendo, em primeiro lugar, que Deus deseja
de mim que eu ame meu próximo. Não devo causar
nenhum dano a seu corpo, seja em palavras, seja em
ações. Não devo me vingar nem prejudicá-lo com mi­
nha raiva, impaciência, inveja, ódio ou qualquer outra
maldade. Tenho a obrigação de ajudá-lo e aconselhá-lo
adequadamente em todas as suas necessidades físicas.
Com este mandamento Deus me incumbiu da guarda
do corpo de meu próximo. Ordena, por outro lado, a
meu próximo que guarde meu corpo, como diz Siraque:
“A cada um de nós confiou seu próximo”.
Em segundo lugar, agradeço pelo extraordinário
amor, providência e fidelidade de Deus para comigo.
Deus levantou um muro grande e forte ao redor de
meu corpo, providenciando que todas as pessoas te­
nham a obrigação de me poupar e proteger. Tam­
bém eu tenho essa mesma obrigação para com todas
as outras pessoas. Deus cuidou para que isso fosse
cumprido e instituiu a espada para castigar aqueles
que não o cumprem. Caso contrário, se não existisse
este seu mandamento, o diabo cometeria uma grande
matança entre nós seres humanos, a ponto que nin­
guém poderia viver em segurança por uma hora se­
quer. De fato, isso acontece quando Deus se revolta e
castiga o mundo desobediente e ingrato.

32
Em terceiro lugar, confesso e lamento minha pró­
pria maldade e a do mundo. Não somos apenas tão
terrivelmente ingratos em relação a este paternal
amor e cuidado de Deus para conosco. O mais ver­
gonhoso é que não conhecemos tal mandamento e
tampouco queremos tomar conhecimento dele. Ao
contrário, nós o desprezamos, como se não nos dis­
sesse respeito ou como se não pudéssemos ter ne­
nhum proveito dele. Além disso, andamos despreo­
cupados e nem sequer deixamos que nossa consciên­
cia se impressione com o fato de que, à revelia desse
mandamento, desprezamos, abandonamos, sim, per­
seguimos e prejudicamos o próximo. Ou até o mata­
mos em nosso coração, motivados por nossa fúria,
raiva e toda maldade, como se estivéssemos agindo
bem e corretamente. A verdade é que está na hora
de lamentar e gritar contra nós criminosos malvados
e gente cega, selvagem e má. Nós nos pisamos, ba­
temos, esfolamos, mutilamos, mordemos e devora­
mos mutuamente, como animais enfurecidos. Não nos
deixamos intimidar nem um pouco por este manda­
mento sério de Deus.
Em quarto lugar, peço que o Pai amado nos queira
ensinar a reconhecer este santo mandamento seu e
ajudar para que também nós ajamos e vivamos de
acordo: proteja-nos todos daquele homicida que é o
mestre e exemplo de toda matança e dano (cf. João
8.44). Conceda sua abundante graça para que as

33
pessoas (e nós com elas) sejam amáveis, mansas e
bondosas entre si, perdoem-se sinceramente e cada
uma tolere a falha e o defeito da outra de forma cristã
e fraternal. Vivam em boa paz e união, como nos en­
sina e exige de nós este mandamento.

34
O sexto mandamento:
“Não cometerás adultério”
Aprendo aqui, mais uma vez, aquilo que Deus quer
comigo e o que ele deseja de mim: que eu viva pura e
moderadamente em pensamentos, palavras e ações.
Não desonre a mulher, filha ou criada de quem quer
que seja, mas ajude a socorrer, proteger e fazer tudo
em favor de sua honra e pureza e também ajude a
frear as más línguas que comprometem ou roubam
sua honra. Tudo isso é minha obrigação. Deus quer
que eu não apenas deixe intacta a honra da mulher e
dos familiares de meu próximo, mas me sinta obriga­
do a ajudar a preservar e guardar a honra e a integri­
dade moral dele. Também desejo que meu próximo
aja assim comigo e ponha em prática este manda­
mento em relação a mim e aos meus.
Em segundo lugar, agradeço ao Pai amado e fiel
por essa sua bênção. Com este mandamento ele colo­
cou sob sua proteção e amparo meu marido, filho e
criado, minha mulher, filha e criada, ordenando seve­
ra e rigorosamente que não sejam desonrados. Ele
me conduz em segurança, cuida para que este man­
damento seja observado e não deixa ninguém sem
castigo, mesmo que ele próprio tenha que punir quan­
do alguém deixa de cumprir ou infringe este manda­
mento e proteção. Ninguém escapa; ou a pessoa tem
que pagar aqui ou então deverá satisfazer esse desejo

35
camal no fogo do infemo. Deus insiste com a pureza e
não tolera adultério, como verificamos diariamente
entre todos os relapsos e perversos. No fim, a ira de
Deus os alcança e eles morrem desonrados. Caso con­
trário, nem seria possível conservar a pureza e honra
de sua mulher, filho, criadagem por uma hora sequer
contra o diabo imundo. Isso acabaria em casamento
de cachorro e pura grosseria, como acontece quando
Deus, enfurecido, retira sua mão e solta as rédeas
para todos os excessos.
Em terceiro lugar, confesso e reconheço meu pe­
cado (e o de todo o mundo) que cometi contra este
mandamento, seja em pensamentos, palavras ou
ações, em toda a minha vida. E não apenas por ter
mostrado ingratidão ante ensino e presente tão belos,
mas também porque resmunguei contra Deus por ele
ter ordenado essa disciplina e pureza. Ele não permi­
tiu que ficasse livre e impune toda espécie de luxúria
e malandragem, tampouco que o matrimônio fosse
desprezado, ridicularizado e condenado, etc. Já que
os pecados relativos a este mandamento são os mais
evidentes e mais facilmente reconhecíveis de todos,
não há jeito de escondê-los ou disfarçá-los. Lamento
muito isso.
Em quarto lugar, peço por mim e todo o mundo
que Deus nos queira permitir a graça de cumprir este
seu mandamento com muito amor. Ele queira que não
apenas nós vivamos em pureza, mas também possa­
mos ajudar e apoiar outros nesse plano.
36
Da mesma forma continuo com os outros manda­
mentos, à medida que tenho tempo, disponibilidade
ou vontade. Como já disse, não quero prender nin­
guém a essas palavras ou reflexões. Quero apenas
apresentar meu exemplo, ao qual queira seguir quem
puder, assumindo de uma só vez todos os mandamen­
tos ou alguns. Pois a alma, quando procura alguma
coisa, seja boa ou má, e o caso é sério para ela, con­
segue pensar num único momento mais do que a lín­
gua consegue falar em dez horas e a caneta escrever
em dez dias. Tão esperta, talentosa e capaz é a alma
ou o espírito; por isso ela terá tratado com rapidez
todos os Dez Mandamentos, passando pelas quatro
partes, desde que realmente o queira.

37
O sétimo mandamento:
“Não furtarás”
Em primeiro lugar, aprendo aqui que não devo ti­
rar os bens de meu próximo nem possuí-los contra
sua vontade, seja abertamente ou às escondidas. Não
devo ser desleal ou desonesto ao agir, servir ou traba­
lhar, para que não obtenha o que é meu como um
ladrão, mas me sustente no suor de meu rosto e coma
meu próprio pão honestamente. Também devo con­
tribuir para que, pelos pontos acima mencionados, não
se tire de meu próximo aquilo que é seu (como tam­
pouco de mim mesmo). Aprendo também que, atra­
vés deste mandamento, Deus vigia e protege meus
bens com um cuidado paternal e grande seriedade,
pois proíbe que me roubem qualquer coisa. Onde isso
não se cumpre, ele impõe o castigo, entregando a
forca e a corda ao carrasco. Se esse não puder exe­
cutar o castigo, Deus mesmo o põe em prática. No
fim restam mendigos, conforme o ditado: Quem rou­
ba quando jovem vai mendigar na velhice. Ou então:
Bens ilegítimos não prosperam, e: Danosamente obti­
do, ruinosamente perdido.
Em segundo lugar, agradeço a Deus por sua fideli­
dade e bondade de ter dado a mim e a todo o mundo
um ensinamento tão bom e assim também proteção e
amparo. Pois onde ele não protege, não fica dentro
de casa sequer um centavo nem um pedaço de pão.

38
Em terceiro lugar, confesso todo o meu pecado e
ingratidão com que em toda a minha vida fiz injustiça
a alguém, despojei-o de algo ou com ele fui desones­
to, e assim por diante.
Em quarto lugar, peço que Deus nos conceda a
graça para que eu e todo o mundo aprendamos este
seu mandamento e o observemos. Peço a Deus que
através dele também melhoremos, para que diminuam
furto, roubo, exploração, fraude e injustiça. E que em
breve, com o dia final, para o qual urge a oração de
todos os santos e todas as criaturas (Romanos 8.18ss),
isso tudo tenha um fim. Amém.

39
O oitavo mandamento:
“Não prestarás falso testemunho”
Este mandamento nos ensina, em primeiro lugar,
a ser sinceros uns com os outros e a evitar todo tipo de
mentiras e calúnias, a ouvir e falar de bom grado o
melhor sobre os outros. Assim se ergue um muro de
proteção para a nossa boa fama e integridade, prote­
ção contra as más línguas e bocas falsas, as quais Deus
também não deixará impunes, como foi dito sobre os
outros mandamentos.
Por isso devemos agradecer a Deus, tanto pelo
ensinamento como pela proteção que ele nos dá de
graça.
Em terceiro lugar, devemos confessar-nos e rezar
pela graça por ter passado nossa vida em semelhante
ingratidão e pecado, mentindo, usando de falsidade e
má língua contra o próximo. Afinal, temos o dever de
defender toda a honra e integridade do nosso próxi­
mo, como desejaríamos para nós próprios.
Em quarto lugar, pedimos forças para cumprir
daqui em diante este mandamento e por uma língua
bondosa, etc.

40
O nono e décimo mandamentos:
“Não cobiçarás a casa de teu próximo,
nem sua mulher”, etc.
Estes mandamentos nos ensinam, em primeiro lu­
gar, que não devemos sob a aparência da legitimida­
de seduzir, tirar ou extorquir os bens de nosso próxi­
mo e aquilo que lhe pertence. Mas devemos ajudar
para que ele os possa conservar, como nós gostaría­
mos que acontecesse conosco. Isso também é uma
proteção contra as espertezas e tramóias dos astutos,
que, afinal, também receberão seu castigo. Em se­
gundo lugar, devemos ser gratos por isso. Em terceiro
lugar, devemos confessar nosso pecado com arrepen­
dimento; em quarto lugar, devemos orar por auxílio e
fortalecimento para nos tornar íntegros e cumprir es­
tes mandamentos de Deus.
Estes são os Dez Mandamentos, tratados de qua­
tro formas: como livrinho de doutrina, como livrinho
de canto, como livrinho de confissão e como livrinho
de oração. Com eles um coração deveria encontrar-
se a si mesmo e aquecer-se para a oração. Mas cuide
para não assumir tudo ou demais, para que o espírito
não se canse. Uma boa oração não deve ser longa
nem repetida muitas vezes. Deve ser freqüente e ca­
lorosa. E suficiente que você consiga tratar um ponto
ou mesmo só a metade, com que possa acender uma
chama em seu coração. Bem, isso nos dará o Espírito

41
e tem que ser dado por ele. Há de continuar a ensiná-
lo no coração quando este estiver em sintonia com a
Palavra de Deus e livre de negócios e idéias estra­
nhas.
Esta não é uma ocasião para falar a respeito da fé
ou da Sagrada Escritura, porque demoraria indefini­
damente. Quem tiver prática pode muito bem assu­
mir os Dez Mandamentos num dia, noutro dia um Sal­
mo ou um capitulo da Escritura, para com esse isquei­
ro acender uma chama em seu coração.

42
A vida cristã não pode parar

Martim Lutero não escreveu um liuro d e orações.


Suas ora ções encontram -se em m eio a seus escritos,
nas an otações feitas em conversas que teve à mesa
co m seus alunos. Um texto p o d e ser interrom pido
p o r uma oração. Tal interrupção dá-lhe novo vigor.
Ao interpretar J o ã o 4.13-14, Lutero deixa claro:
“Não p o d em o s encontrar cristão sem oração, assim
co m o não p o d em o s encontrar ser hum ano sem pul­
sação, que jamais cessa nem pára d e s e m over e ba­
ter, m esm o que o ser hum ano durma ou faça outra
coisa, d e m od o que nem o nota”. Oração é a pulsa­
çã o da vida cristã; quando pára, a vida cristã pára.
Por isso, trazemos algum as ora çõ es d e Lutero para
animar a prática da oração em n ossos dias.

43
Gratidão

Agradeço a ti, Deus e Pai etemo e


misericordioso, por teres presenteado a
nós pecadores com teu amado e único
Filho. Ele tomou-se humano e sofreu por
nós. Foi crucificado e morreu, ressusci­
tou dos mortos e subiu ao céu. Ele aca­
bou com a nossa prisão. Com isso nos
tornamos teus filhos amados e seus ir­
mãos co-herdeiros de todos os seus bens
celestes. Dá graça e teu Espírito Santo,
para que ele nos mantenha nessa fé até
o fim de nossos dias.

Misericordioso Deus, tu és um Pai tão


amigo e querido. Ages de forma tão pa­
ternal e és bondoso conosco, pobres pe­
cadores, merecedores de condenação.
Atiras teu único Filho Jesus Cristo, teu
maior e mais precioso dom, à morte e
na goela do demônio. Permites que ele
vá ao fundo, para que suba novamente
às alturas e termine com a prisão que a
todos nós mantém presos.

44
Senhor Deus, Pai do céu, todo dia
recebemos de ti tudo o que é bom em
grande quantidade. Diariamente nos pro­
teges com misericórdia de tudo o que é
mau. Deixa-nos reconhecer tudo isso por
intermédio de teu Espírito, de todo o
coração e na verdadeira fé, para que te
agradeçamos agora e sempre por tua
grande bondade e misericórdia e te lou­
vemos por Jesus Cristo, teu Filho, nosso
Senhor.

Agradeço a ti, meu Senhor Cristo.


Com palavras e ação confesso ao mun­
do que tu és misericordioso comigo e me
ajudas. No meu Batismo também acei­
tei que tu, e nenhum outro, deverias ser
meu Senhor e Deus.

45
Alegria no coração

Querido Senhor, devo e quero rezar,


seguindo teu mandamento e tua promes­
sa. Mas não sei fazer isso bem. Além dis­
so, a oração não presta nem vale quan­
do feita em meu nome. Por isso, deixa-a
valer e ser boa, em nome de meu Se­
nhor Cristo.

Querido Deus e Pai, sei perfeitamen­


te que me amas; pois amo teu Filho e
meu Salvador Jesus Cristo. Nessa con­
fiança quero pedir-te agora: Ouve-me,
dá-me o que peço! Não porque eu seja
pessoalmente santo ou piedoso. Sei, no
entanto, que por causa de teu Filho Je­
sus Cristo gostas de dar e presentear
tudo. Em seu nome apresento-me agora
diante de ti e peço. Não duvido de que
ouves minha oração.

46
Autoconhecimento

Querido Senhor, infelizmente não


consigo gravar-te corretamente em meu
coração. Ajuda-me, para que eu te re­
conheça acertadamente e me torne tua
imagem.

Querido Senhor, tenho a tua palavra.


Também sei que estou ali onde tu me
colocaste. Mas vês que nem tudo é como
deveria ser. Por isso não conheço outro
socorro senão junto a ti. Ajuda! Tu dis-
seste e mandaste que pedíssemos, bus­
cássemos e batêssemos. Então, com toda
a certeza, também receberíamos, encon­
traríamos e teríamos o que pedimos.

47
Senhor Deus, desobedeci a teu man­
damento. Não tive paciência quando
tudo parecia estar contra mim. Não sou
misericordioso nem bondoso. Não ajudo
o meu próximo. (Aqui quem ora pode
incluir aquilo que o incomoda). No en­
tanto, querido Deus, enche-me comple­
tamente com tua graça. Dá-me teu San­
to Espírito, para que obedeça a ti e pos­
sa agir, pelo menos um pouco, segundo
a tua vontade.

Senhor, recebo tua bondade e graça


como pecador e ser humano desespera­
do. Caso agisses segundo a lei e o méri­
to comigo, assim como sou, seria digno
de eterna ira e condenação. No entan­
to, não olho para o meu pecado, tam­
bém não para aquilo que mereci, mas
para a tua Palavra. Pois tu disseste que
ninguém consegue obter algo de ti por
méritos próprios. E somente de tua pa­
terna misericórdia que recebo o perdão
dos meus pecados e tantos benefícios.
Permite que eu permaneça confiante em
tua graça.

48
Pai, consola nossa consciência, ago­
ra e na hora de nossa morte. Temos
medo da morte por causa de nosso pe­
cado. Temos medo de teu juízo, porque
não podemos viver diante de ti por cau­
sa do extraordinário peso de nossa cul­
pa. Dá a nossos corações a tua paz, para
que possamos esperar por teu juízo com
alegria. Não julgues teus servos, pois dian­
te de ti nenhum ser vivo é justo. Ensina-
nos, querido Pai, a não depositar nossa
confiança em nosso próprio bom com­
portamento e a não colocar nossa espe­
rança em nossos méritos, mas a confiar
em tua misericórdia imerecida. Não per­
mitas que desanimemos por causa de
nossa vida pecaminosa, merecedora de
castigo, mas que consideremos tua mi­
sericórdia maior, mais larga e mais forte
do que toda a nossa vida.

49
Dia-a-dia

Todo-poderoso e eterno Deus, man-


tém-nos misericordiosamente no verda­
deiro conhecimento de tua palavra divi­
na, por teu Espírito Santo. Concede paz
e saúde. Permite que cumpramos as ta­
refas de nossa vocação com felicidade,
por Jesus Cristo, teu amado Filho, nosso
Senhor.

Pai do céu, és meu Senhor e meu


Deus. Criaste-me quando nada existia.
Também me salvaste através de teu Fi­
lho. Agora me impuseste esta vocação.
Mas as coisas não andam como eu gos­
taria que fosse. Há tantas coisas que afli­
gem e assustam. Eu, porém, não encon­
tro conselho nem ajuda. Por isso confio
tudo a ti. Aconselha-me. Sê tu mesmo
tudo nessa questão.

50
Intercessão

Querido Senhor e Deus, protege bon­


dosamente os frutos nos campos e na
horta. Purifica o ar. Dá chuva e bom tem­
po quando convém. Permite que os fru­
tos sejam bons. Não deixes que sejam
envenenados, para que nós e os animais
não fiquemos doentes nem soframos qual­
quer mal. Muitas de nossas desgraças são
causadas pelo ar envenenado, e em con­
seqüência os frutos, o vinho e o cereal,
estão contaminados. Se deixares isso
acontecer, teremos que comer nossa mor­
te em nossos próprios produtos e bebê-
la. Por isso, permite que os frutos sejam
abençoados, que cresçam para a nossa
saúde e bem-estar. Cuida para que não
abusemos deles, colocando a vida em
perigo ou provocando injustiça, voraci­
dade e malandragem. Pois daí resultam
falta de moderação, adultério, briga, en­
gano, assassinato, guerra e muitas ou­
tras desgraças. Muito antes concede-nos
graça, para que usemos tuas dádivas em
favor da melhoria de nossa vida, para
que os frutos mantenham nossa saúde e
para que nós os usemos de maneira res­
ponsável diante de ti.
51
Orações pela Igreja

Pai de toda a misericórdia, tu inicias-


te tua obra entre nós. Continua preen­
chendo-nos com sabedoria e conheci­
mento, para que tenhamos certeza em
nossos corações e reconheçamos plena­
mente como o Espírito, que ressuscitou
nosso Senhor, também age em nossa fé.
Pois com isso também nós ressuscitamos
dos mortos, segundo tua todo-poderosa
força que atua em nós, através de tua
santa Palavra. Concede-nos o amor para
servirmos uns aos outros e para que te­
nhamos um só sentimento em Cristo,
nosso Senhor, a fim de que não tenha­
mos medo diante do mau inimigo e da
fúria do diabo. Queiras combatê-lo, que­
rido Pai, para que sua falsidade não atin­
ja a pureza de nossa fé. Fortalece-nos,
antes, para que nossa cruz e sofrimento
nos levem a uma esperança bem-aven­
turada e firme na vinda de nosso Salva­
dor Jesus Cristo, com o que contamos
diariamente.

52
Todo-poderoso, eterno, misericordio­
so Deus, Pai de nosso querido Senhor e
Salvador Jesus Cristo, vemos e sentimos
como está tua Igreja nessa vida, qual a
sua situação e como é atormentada de
várias formas pelo diabo e pelo mundo.
Por isso nós te pedimos, pelo amor de
teu Filho: Consola e fortalece nossos co­
rações através de teu Santo Espírito,
para que não sejamos dominados nem
vencidos por tanto e tão grande perigo.
Impede os planos e atentados de teus
inimigos; sim, mostra, declara e prova a
todo o mundo, por intermédio de teu
auxílio fiel e maravilhoso, que te preo­
cupas com tua Igreja, que a governas,
proteges, sustentas e salvas. Pois tu vi­
ves e governas, um Deus eterno, Deus
Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, de
eternidade a eternidade.

53
Senhor Deus, Pai de todas as dádi­
vas e firmeza, fortifica por graça o que
começaste em nós por intermédio de teu
Santo Espírito, para que satanás não nos
enfraqueça e tome cansados através de
falsidade e violência, de modo que dei­
xemos tua Palavra e Reino. Vivemos em
época perigosa, porque muitos são en­
ganados por entusiastas e também de­
caem. Iludidos pela falsidade de satanás,
julgam ter o bastante e saber tudo. As­
sim se tomam preguiçosos e ingratos. Por
isso deixa-nos permanecer no fervor da
fé, para que cresçamos nela diariamen­
te, em Jesus Cristo, nosso verdadeiro e
único auxílio.

(Orações extraídas de Q uerido D eus! Orações,


Martim Lutero, Editora Sinodal, São Leopoldo, 1993)

54
A

índice
Apresentação....................................................... 3

Para o mestre Pedro Barbeiro............................... 7

1. “Pai nosso, que estás”, etc............................. 10

2. A segunda petição .......................................... 11

3. A terceira petição........................................... 12

4. A quarta petição.............................................13

5. A quinta petição..............................................14

6. A sexta petição...............................................15

7. A sétima petição.............................................16

“Eu sou o Senhor teu Deus”, etc.......................... 21

O segundo mandamento..................................... 23

O terceiro mandamento...................................... 25

O quarto mandamento........................................ 28

55
O quinto mandamento.......................................32

O sexto mandamento........................................ 35

O sétimo mandamento.......................................38

O oitavo mandamento .......................................40

O nono e décimo mandamentos......................... 41

A vida cristã não pode parar............................. 43

Gratidão............................................................44

Alegria no coração............................................ 46

Autoconhecimento............................................. 47

Dia-a-dia...........................................................50

Intercessão ..........................................................51

Orações pela Igreja............................................. 52

56
Minibiografia
1483 - 10 de novembro: Martim Lutero nasce em
Eisleben, na Alemanha, filho de João e Mar­
garida.

1501 - Cursa o primeiro ciclo das artes liberais e, ao


1505 concluir, recebe o título de Mestre de Artes.

1505 - 2 de julho: Lutero promete ser monge.


17 de julho: Procura o Convento dos Eremi­
tas Agostinianos em Erfurt, para entrar na
vida monástica.

1507 - 3 de abril: Lutero é ordenado sacerdote.

1507 - Realiza seus estudos de teologia.


1512 Recebe o título de Doutor em Teologia e é
designado para ser professor de Bíblia na Uni­
versidade de Wittenberg.

15 13 / -Lutero é pregador no convento e na igreja


1514 de Wittenberg.

1517 - 31 de outubro: Lutero torna conhecidas suas


95 Teses sobre o valor da indulgência, em
Wittenberg.

57
1519 - No Debate de Heidelberg toma conhecida sua
Teologia da Cruz.

1520 - Publicação dos seus principais escritos, entre


eles: Serm ão sob re as boas obras, Da liber­
dade cristã, Do cativeiro babilônico da Igreja
e À nobreza cristã da Nação Alemã.

1521 - 3 de janeiro: Papa Leão X emite a bula de


excomunhão de Lutero.
26 de maio: Publicação do Édito de Worms,
que proíbe a divulgação e o ensino da doutri­
na defendida por Martim Lutero. Lutero é
banido. No Wartburgo, ele traduz o Novo Tes­
tamento.

1522 - Distúrbios em Wittenberg.


Março: Martim Lutero retorna para
Wittenberg e restabelece a ordem, voltando
a pregar na igreja principal da cidade.

1525 - Guerra dos Camponeses. Lutero manifesta-


se sobre o acontecimento em escritos, como:
Exortação ã paz, a prop ósito dos doze arti­
g o s dos ca m p o n eses da Suábia, Contra os
ca m p o n eses homicidas e salteadores.
Discute com Erasmo, de Rotterdam, no es­
crito De servo arbitrio.

58
13 de junho: Casamento de Martim Lutero
com Catarina von Bora.

1529 - Martim Lutero publica o Catecismo Maior e


Menor.
Os príncipes do Norte e de catorze cidades
do Sul da Alemanha protestam contra as de­
cisões da Dieta de Espira para impedir o avan­
ço da Reforma. Daí surge a expressão “pro­
testantes”.
1 - 4 de outubro: Martim Lutero e Zwínglio
encontram-se em Marburgo, Alemanha, para
um diálogo. Concordam em todos os pontos
da doutrina evangélica, menos na Santa Ceia.

1530 - 25 de junho: Leitura da C o n fiss ã o d e


Augsburgo, redigida por Felipe Melanchthon,
na Dieta convocada para esclarecer a doutri­
na de fé testemunhada por Lutero e seus se­
guidores (pastores, comunidades e príncipes).
A Confissão d e Augsburgo fica sendo um
documento-base das igrejas luteranas no mun­
do.

1534 - Publicação da primeira edição da Bíblia tradu­


zida por Martim Lutero.

59
1537 - Martim Lutero escreve os Artigos d e Esmal-
calda, onde, mais uma vez, o Reformador re­
sume os pontos principais da doutrina cristã.

1539 - Publicação do primeiro volume de seus escri­


tos alemães. No mesmo ano, publica o escri­
to Dos Concílios e da Igreja.

1545 - Publicação do folheto Contra o Papado Ro­


m ano fu n da do p elo Diabo, escrito por Mar­
tim Lutero.

1546 - Martim Lutero viaja para Eisleben, para ser


o mediador de um conflito entre os condes de
Mansfeld.
18 de fevereiro: Martim Lutero falece em
Eisleben.
22 de fevereiro: Martim Lutero é sepultado
em Wittenberg.

60
A Coleção Lutero para H oje tem como
objetivo levar ao público em geral
textos significativos do reformador
numa linguagem simples e atualizada.

Este volume - Como orar - contém


o texto Uma singela fo rm a d e orar,
para um bom am igo, escrito por
Martim Lutero em 1535.
Como orar é um exercício de oração
para a devoção doméstica.

788523 3056

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