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1
Cultura Corporal: Interfaces com a
Psicomotricidade
Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade
Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros
Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a
Psicomotricidade. Valinhos: 2016.
Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no
07
processo de aprendizagem vivido na escola
Unidade 2: Representação e comunicação sociocultural pelo movimento 38
Unidade 3: As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com
66
elementos do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica
Unidade 4: Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação
90
temporal e espacial
Unidade 5: Percepção da formação da personalidade por meio do movimento 113
2/210
2/221
Cultura Corporal: Interfaces com a Psicomotricidade
Autor: Leonardo Augusto D’Almeida Barros
Como citar este documento: Barros, Leonardo Augusto D´Almeida. Cultura Corporal: Interfaces com a
Psicomotricidade. Valinhos: 2016.
Sumário
Unidade 6: Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consci-
135
ência do corpo
Unidade 7: O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais 161
Unidade 8: O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais 186
3
3/210
Apresentação da disciplina
Objetivos
7/210
Introdução
Para iniciarmos nossas reflexões, gostaria de pontuar que o conceito de cultura corporal será o
horizonte de análise que permeará todas as construções conceituais que iremos desenvolver ao
longo desta disciplina. Assim, para que você já possa se apropriar desta categoria conceitual,
apresento que cultural corporal deve ser compreendida como
11/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Após ao nascimento as interações da criança com o mundo e com o seu próprio corpo tornam-se
cada vez mais intensas. Acompanhar o desenvolvimento motor da criança é fundamental tanto
para seu processo de maturação, crescimento, como para a aquisição e reorganização psicoló-
gica.
Este reconhecimento sobre o próprio corpo, como mordidas e agarradas nos pés, contemplação
das mãos, entre muitos outros, será fundamental para que as crianças possam construir as ha-
bilidades relacionadas ao seu desenvolvimento relacionado ao domínio motor, cognitivo e emo-
cional.
Ainda referente a este processo de desenvolvimento, podemos pontuar que
14/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Figura 1 – O desenvolvimento do bebê em relação à psicomotricidade
15/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Para Emmi Pilker, este processo de desenvolvimento da motricidade deveria ser livre, pois a ex-
periência da criança faz com que ela amplie suas experiências e necessidades sobre o próprio
corpo.
19/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Para saber mais
Piaget foi um grande estudioso do desenvolvimento humano. Em sua teoria ele subdividiu o desen-
volvimento humano em quatro estágios. Para que você tenha maior conhecimento sobre ele, reco-
mendo que acesse a reportagem sobre sua biografia. Disponível em: <http://www.portaleducacao.
com.br/psicologia/artigos/53974/jean-piaget-biografia>. Acesso em 29 set. 2016.
Para que possamos ser mais assertivos, neste capítulo vamos nos pautar nos dois primeiros es-
tágios da pirâmide baseada em Piaget e nos três primeiros estágios na pirâmide baseada em
Gallahue.
Assim, observe o quadro a seguir, atente-se que apenas abordaremos as fases correspondentes
às faixas etárias presentes na Educação Infantil:
20/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Quadro 1 - Fases do desenvolvimento para Piaget e Gallahue
21/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Denominado também como Do nascimento até 1 ano: Es-
estágio da inteligência sim- Fase Motora Rudi- tágio de inibição de reflexos.
bólica – pois a criança con- mentar
De 1 a 2 anos:
segue criar símbolos para (0 a 2 anos)
representar os objetos e lidar Estágio de pré-controle.
Fase Motora Funda- De 2 a 3 anos:
mentalmente com eles. Ca-
mental
racteriza-se pela interiori- Estágio inicial (02 a 03 anos)
Pré-operatório
zação de esquemas de ação (2 a 7 anos) - primeiras tentativas de rea-
(2 a 7 anos) construídos no estágio ante- lização dos movimentos.
rior.
Estágios Elementar (04 a 05
anos) - aprimora-se a sincro-
nização dos elementos tem-
porais e espaciais, porém os
padrões de movimentos são
restritos ou exagerados.
Fonte: O autor.
22/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Compreender estes estágios servirá para diferenças, até por estarem em estágios di-
ser uma vertente dentro do planejamen- ferentes.
to escolar relacionado ao desenvolvimento Tani et al. (1988) afirmam que “pode-se di-
motor, bem como para nos aproximarmos zer que a ordem em que as atividades são
de algumas características que as crianças dominadas depende mais do fator matura-
pequenas poderão apresentar ao iniciarem cional, enquanto o grau e a velocidade em
sua socialização dentro da Educação Infan- que ocorre o domínio estão mais na depen-
til. Gostaria de enfatizar que estes estágios dência das experiências e diferenças indi-
não serão vivenciados de forma igual entre viduais”. Como podemos perceber, dentro
todas as crianças, até porque não podemos desta corrente teórica denominada de “De-
esquecer que elas possuem experiências senvolvimentista”, o fator ambiental é pre-
múltiplas e características singulares. ponderante em relação ao cultural.
Conhecer os estágios do desenvolvimento
é importante ao educador para que saiba
quais os momentos que as crianças podem
estar vivenciando. Mas, novamente enfati-
zo que as fases do desenvolvimento não são
um padrão, uma vez que os alunos possuem
23/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
• Intransitividade: Considerar que o
Para saber mais desenvolvimento pleno das aprendi-
Go Tani é um estudioso da Educação Física, for-
zagens em cada estágio é fundamen-
mado em Educação Física pela Universidade de
tal para a consolidação dos estágios
São Paulo, com mestrado e Doutorado em Hi-
subsequentes e, ainda, que as carac-
roshima University. Dedica a sua vida em estudos
terísticas de cada período são incor-
da Educação Física voltados ao desenvolvimento
poradas de forma qualitativa nas eta-
humano.
pas posteriores;
• Crescimento: Aumento do tamanho e
Dentro da linha desenvolvimentista, além do volume da estrutura;
dos estágios do desenvolvimento, é impor- • Desenvolvimento: Aperfeiçoamento
tante ressaltar que o processo maturacional e aquisição de novas funções.
humano também está pautado nos seguin- Segundo Rosa Neto (2002), o desenvolvi-
tes itens: mento da motricidade compreende: motri-
• Universalidade: Todas as crianças cidade fina; motricidade global; equilíbrio;
esquema corporal; organização espacial;
passarão por todas as fases de desen-
organização temporal e lateralidade.
volvimento;
24/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Para Costa (2008, p. 6):
25/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
nico sobre a criança e um ambiente esco- to pleno da criança. Chamo sua atenção
lar com o objetivo exclusivo de promover o em perceber que é pela compreensão do
bem-estar físico. próprio corpo, de sua corporeidade, como
apontado por Pilker e a motricidade livre,
que a criança irá desenvolver os conceitos e
Para saber mais o esquema corporal.
Recomendo que você leia “As múltiplas lin-
guagens na Educação Infantil”. Disponível em:
<http://www.profala.com/arteducesp145. Para saber mais
htm>. Acesso em 29 set. 2016. Recomendo que assista ao vídeo que irá mos-
trar o desenvolvimento motor da criança a partir
Segundo Mattos e Neira (2002), a Educação de seus movimentos com liberdade. Disponível
Física vai muito além de uma determina- em: <https://www.youtube.com/watch?v=-
da disciplina presente no currículo, pois é 48seR2DRrUw>. Acesso em 29 set. 2016.
considerada, hoje, um meio privilegiado, na
medida em que abrange a pessoa na sua to-
talidade. O caráter de unidade da educação
por meio das atividades físicas é reconhe-
cido como essencial para o desenvolvimen-
26/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Glossário
Desenvolvimento motor: contínua alteração no comportamento motor, durante o processo
permanente de aprender a mover-se com controle e competência, ao longo do ciclo da vida.
Fases do desenvolvimento: Períodos nos quais os seres humanos passam em busca do seu de-
senvolvimento por completo.
Estímulos: Acontecimentos externos que favorecem o desenvolvimento das crianças.
27/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
?
Questão
para
reflexão
28/221
Considerações Finais
29/210
Referências
ARROYO, Miguel G., SILVA, Maurício Roberto da (orgs). Corpo Infância: Exercícios Tensos de ser
criança, por outras pedagogias do corpo. São Paulo, Editora Vozes, 2012.
CARVALHO, M. V. P. O desenvolvimento motor normal da criança de 0 a 1 ano: orientações para
pais e seus cuidadores. Dissertação de Mestrado. Fundação Oswaldo Aranha. Centro Universitá-
rio de Volta Redonda: Programa de Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do
Meio Ambiente, 2011.
COSTA, Anderson Dalla. Educação física escolar: uma abordagem desenvolvimentista. São Pau-
lo, 2008
GARANHANI, Marynelma Camargo. O corpo em movimento na Educação Infantil: uma lingua-
gem da criança. Universidade Federal do Paraná. Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/
educere/educere2005/anaisEvento/documentos/pal/PAL001.pdf. Acesso em 13 out. 2016.
GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, ado-
lescentes e adultos. São Paulo, Phorte Editora, 2003.
MATTOS, Mauro Gomes de; NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Infantil: construindo o movi-
mento na escola. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2002.
PIAGET, Jean. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas cognitivas. Lis-
30/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Referências
31/210 Unidade 1 • Crianças corpo-vida: trajetórias da cultura corporal e relação corpo/movimento no processo de aprendizagem
vivido na escola
Questão 1
1. Os estágios do desenvolvimento humano são:
32/210
Questão 2
2. O processo de desenvolvimento das crianças no primeiro ano de vida
em sua maioria é:
33/210
Questão 3
3. Para Piaget, a fase sensório-motora ocorre entre o seguinte período da
vida da criança:
a) De 0 a 1 ano
b) De 3 a 5 anos
c) De 0 a 5 anos
d) De 0 a 2 anos
e) De 0 a 7 anos.
34/210
Questão 4
4. Para Gallahue, a fase de 0 a 2 anos é denominada:
35/210
Questão 5
5. Em uma análise do desenvolvimento humano a partir de uma linha
desenvolvimentista, é importante destacar os seguintes quesitos:
a) Universalidade, Criticidade, Crescimento e Desenvolvimento.
b) Universalidade, Intransitividade, Crescimento e Cultura corporal do movimento.
c) Universalidade, Intransitividade, Crescimento e Desenvolvimento.
d) Universalidade, Intransitividade, Criatividade e Desenvolvimento.
e) Universalidade, Interdisciplinaridade, Criatividade e Desenvolvimento.
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Gabarito
1. Resposta: D. 3. Resposta: D.
De acordo com a bibliografia, todas as pes- De acordo com Piaget, a fase Sensório-mo-
soas passarão pelas etapas descritas, salvo tora ocorre na vida da criança entre 0 e 2
casos onde existam limitações intrínsecas anos.
ou extrínsecas às pessoas.
4. Resposta: A.
2. Resposta: B.
De acordo com Gallahue, a fase motora ru-
A fase de 0 a 1 ano é uma fase na qual o ser dimentar ocorre na vida da criança entre 0 e
humano se desenvolve de forma muito di- 2 anos.
nâmica, por exemplo, o fato de controlar os
membros do corpo, sentar, engatinhar e até 5. Resposta: C.
andar.
A Universalidade, Intransitividade, Cresci-
mento e Desenvolvimento são quesitos que
devem ser levados em consideração no de-
senvolvimento humano a partir da aborda-
gem desenvolvimentista.
37/210
Unidade 2
Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
Objetivos
38/210
Introdução
No item anterior, estudamos o desenvolvi- do, jogando, dançando, sua observação in-
mento das crianças a partir de uma visão dica um “olhar sensível” sobre o desenvol-
desenvolvimentista, mas também por uma vimento motor, no qual o brincar é um mo-
perspectiva culturalista, que compreende mento privilegiado para o desenvolvimento
a criança como um ser histórico, cultural, infantil, isto é, você analisa o desenvolvi-
social e de direitos. Neste momento iremos mento da criança em termos de equilíbrio,
aprofundar a nossa discussão compreen- força, flexibilidade, mas também em rela-
dendo o desenvolvimento da criança em ção à aquisição cada vez mais complexa da
um contexto no qual o desenvolvimento linguagem, dos processos de socialização
da criança e do movimento vai além do ato e interação social, entre tantos outros. Ou
motor, ou seja, o professor deve transgredir seja, não estamos observando um sujeito
apenas as questões “físicas”, planejando em sua constituição integral e completa.
com as crianças atividades que possam de- Desta forma, observamos e planejamos vi-
senvolver a criança em sua totalidade (cog- vências que vão além de apenas uma perna
nitiva, afetiva social e motora). que chuta uma bola, uma mão que segura
Para começar, é necessário refletir: quando um carrinho ou uma boneca, ou um aglo-
você, educador, está em contato com uma merado de ossos, articulações e músculos
criança (ou um grupo de crianças) brincan- que dança. A partir de agora, você verá que
39/210 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
existem neste movimento humano, seja ele crianças que ficam deitadas, que sentam,
qual for, signos muito fortes, derivados de que engatinham, que andam, pois para cada
experiências advindas de sua cultura. etapa será necessário compreender suas
E como deverá ser a comunicação com esta necessidades de aprendizagem, bem como
criança? A comunicação deverá ser afetiva, os brinquedos e materiais mais adequados.
porque planejar experiências para as crian-
ças engloba pensar em sua afetividade. O 1. O papel da cultura na vida
que implica em pensar em um corpo que das crianças
adquire cada vez mais consciência corpo-
A criança, desde o momento de sua concep-
ral e expressividade. Lembre-se de que este
ção, já está inserida em um contexto cultu-
movimento é uma forma de estar e viver o
ral, logo ao nascer este processo ocorre por
mundo.
diferentes vieses. Como exemplo podemos
A criança e suas relações culturais permi- imaginar situações como quando a menina
tirão a ampliação do domínio corporal, da nasce: em alguns casos, logo é colocado um
lateralidade e da dominância lateral, bem enfeite de berço que remeta ao conteúdo
como a organização e orientação espaço- simbólico do que é “ser menina”, por exem-
temporal, entre outros. Dentro deste pro- plo, uma boneca, uma sapatilha de balé, etc.
cesso, precisamos pensar em vivências para
40/210 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
Já com os meninos acontece a mesma coisa, só que geralmente é colocada no berço uma chu-
teira, uma bola, um carrinho, algum emblema de times de futebol, entre outros. Neste sentido,
abordaremos a Educação Física como uma prática educativa que apenas orienta e ensina os sa-
beres corporais institucionalizados de forma mecânica e padronizada.
Aqui gostaria de realizar uma conceituação importante, a cultura corporal ou a cultura corporal
do movimento é representada por manifestações como: danças, lutas, jogos, esportes e brin-
cadeiras que externalizam a motricidade humana, e este seria o objeto de estudo da Educação
Física.
Desta forma, trago para você uma reflexão sobre um contexto prático. Para isto, vou me remeter
à pesquisa de Neira (2008, p. 46-47) e à fala de duas professoras pesquisadas por ele sobre a
prática da Educação Física no contexto escolar:
Não gosto quando eles se pegam, por exemplo, quero incutir uma regra,
mas eles estão tão obcecados com outra coisa que apagam, começam aos
berros uns com os outros. Eu estou sempre a dizer a mesma coisa, mas
eles não compreendem. Eles desorganizam-se. Fazem um jogo assim, um
bocado anárquico, faz-me confusão. Acho que é mais isso, a anarquia de-
les e que eu devo também interferir. É obrigação (Profa. B).
É necessário valorizar o movimento humano em sua beleza e totalidade, utilizando-o como fer-
ramenta de aprendizagem. Outra questão importante a ser analisada vai além da bibliografia
educacional, mas também está relacionada ao corpo.
52/210 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
A expressão “o corpo fala”, de Weil e Tom- nino e ser menina”, esquecendo que
pakow (1980), deve servir de perspectiva este é um momento de experimenta-
para a observação docente, ou seja, uma ção e construção das representações
forma de exercício de seu “olhar sensível” e sociais. Muitos autores se debruçam
que permeia a avaliação diagnóstica do que sobre este tema, como Daniela Finco e
é ser criança, suas formas de se expressar, Ana Lúcia Goulart.
suas brincadeiras, suas formas de falar, de
brincar, enfim, de todos os indícios de nossa
prática pedagógica junto aos alunos.
Para saber mais
Recomendo que você leia o artigo “Crianças
Por último, reflita que quando as crianças
no tempo presente: a sociologia da infância
estão em movimento, o educador não pode
no Brasil”. Disponível em: <http://www.scie-
“colocar suas experiências de criança como
lo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
a experiência correta aos alunos”. Muitos
d=S0103-73072012000200017>. Acesso em
educadores fazem questão de dizer aos
seus alunos o que é ser criança, dar pales- 29 set. 2016.
tras sobre do que as crianças brincam, entre
outros. Mas, qual o risco dessa prática?
• Atribuir conceitos do que é “ser me-
53/210 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
• Valorização apenas das atividades ça e seus movimentos não significa pos-
que o educador realizava e que propõe tular que exista uma “melhor forma de ser
para os seus alunos. criança”, mas de estimar a comunicação so-
• Transferir seus medos de criança, por ciocultural dos alunos. Este processo exige
exemplo, quando o(a) professor(a) era um empenho do educador em despir-se de
aluno(a), em uma determinada brin- preconceitos, com o objetivo de enriquecer
cadeira quando era aluno(a), caiu e o processo de desenvolvimento psicomotor
se machucou; resumo: nenhum aluno e cultural das crianças, oferecendo uma es-
pode realizar essa atividade porque é cola de Educação Infantil rica de estímulos
“extremamente perigosa”. e, acima de tudo, com significados ao aluno.
Como já apontamos, o corpo é uma das Inúmeros referenciais propõem que a escola
maiores pontes entre a criança e o mundo, seja uma extensão do que acontece fora da
então, em momentos de brincadeiras, jogos, escola, mas ainda nós, educadores, insisti-
danças e fantasias, as crianças apresentam mos em transformá-la em um lugar à parte
o que para elas é o importante, esta deve ser do mundo. É importante que os educadores
a premissa para o nosso trabalho com elas. observem as crianças com todos os seus
sentidos, para forjarmos estratégicas ped-
Observar, compreender e valorizar a crian-
agógicas que permitam que elas constru-
54/210 Unidade 2 • Representação e comunicação sociocultural pelo movimento
am sua autonomia, criticidade, de forma a
compreender e intervir na realidade em que
estão inseridas, construindo uma rede de
significados em torno do que se aprende na
escola e do que se vivencia fora dela.
57/221
Considerações Finais
58/210
Referências
60/210
Questão 2
2. De acordo com a LDB 9.394/96, educação infantil, primeira etapa da
educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral a partir
do desenvolvimento:
61/210
Questão 3
3. Item fundamental para compreender uma criança é conhecer suas
percepções sobre as coisas. De acordo com o texto, a melhor maneira de
identificar o que uma criança vê é:
62/210
Questão 4
4. A expressão “o corpo fala”, de acordo com o texto, significa:
a) Que a partir de suas formas de se expressar, mesmo sem saber se comunicar verbalmente, a
criança fala a partir de seu corpo.
b) Os sons emitidos por diferentes partes do corpo, a partir de diversas acústicas, são maneiras
de experimentar o seu corpo.
c) O corpo fala, mesmo sem a comunicação verbal, por exemplo, uma criança senta de uma
determinada maneira, isso já identifica sua opção sexual.
d) As crianças que conseguem falar o nome das principais partes do corpo têm maiores chan-
ces de conhecê-lo e utilizá-lo da melhor forma.
e) A fala deve ser acompanhada com muito cuidado, pois a partir dela as crianças se comuni-
cam com o mundo.
63/210
Questão 5
5. O ponto de partida para a realização de atividades corporais com
crianças da Educação Infantil é:
64/210
Gabarito
1. Resposta: C. balhamos apenas com suposições.
65/210
Unidade 3
As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos
do jogo, do esporte, das lutas, da ginástica
Objetivos
66/210
Introdução
Até este momento discutimos sobre a im- mônio histórico-cultural se fixou pelas ex-
portância do movimento humano para a pressões hoje conhecidas por brincadeiras,
criança, especialmente refletindo sobre esportes, ginásticas, lutas e danças, entre
este processo relacionado à Educação In- outras”.
fantil. Compreendemos que esta criança Agora você conhecerá diferentes formas
é um ser ativo, capaz e protagonista que de expressão do corpo das crianças, como
está em amplo processo de formação tan- brincadeiras, jogos, ginásticas e lutas, e
to biológico como social/cultural. E será o relacionando-as às diferentes formas de
binômio biológico-cultural que significa os abordar as brincadeiras, os jogos, a ginásti-
movimentos da/para a criança. O papel do ca e as lutas dentro da escola.
educador é perceber e identificar em seu dia
a dia estes signos importantes e incorporá- O intuito desta discussão é que você conhe-
-los em práticas significativas com as crian- ça seus alunos, como eles aprendem, qual o
ças. estágio do desenvolvimento em que estão e
o que é significativo a eles, pois esse será o
Dentro da escola possuímos inúmeras ma- ponto de partida.
nifestações culturais e esportivas que ca-
minham lado a lado ao desenvolvimento da A ideia é que você não fique preso às brin-
criança. Segundo Neira (2008), “esse patri- cadeiras, jogos, ginástica ou às lutas, mas
67/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
que possa utilizar este conhecimento no proporcionar um espaço rico e diversificado
trabalho de outras abordagens corporais de estímulos aos alunos, com vivências sig-
com seus alunos. nificativas para que as crianças possam se
desenvolver.
1. A importância das expressões Dessa forma, é importante, antes de tudo,
na Educação Infantil situar e embasar a prática, pois quando o
conteúdo é olhado de maneira fria, é pos-
Este capítulo utiliza o termo “expressões”
sível que o observador julgue que é preciso
porque os jogos, as brincadeiras, as ginás-
apenas reproduzir elementos das brinca-
ticas, as lutas e as demais manifestações
deiras, dos jogos, das ginásticas e das lutas.
corporais apresentam diferentes formas de
Quando o educador se vê na “obrigação” de
expressão corporal, enriquecendo o acervo
cumprir com os preceitos das formas de ex-
dos pequenos alunos.
pressão do corpo, então pode recair em si-
Ao mesmo tempo em que são apresenta- tuações tais como:
das aos alunos atividades de cunho espe-
Reproduzo jogos que me eram significativos
cífico, é importante ressaltar que o objetivo
na minha época escolar.
da Educação Infantil não é “ensinar”, “dida-
tizar” conteúdos de forma específica, mas • Reproduzo danças e coreografias da
68/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
moda ou do meu repertório musical, lares.
ou ainda apenas são abordadas em Para Neira (2008), é função social da Edu-
datas comemorativas. cação Física escolar proporcionar ao aluna-
• Apresento uma modalidade de lutas do das diferentes etapas de escolarização
de uma pessoa que eu conheço, des- uma reflexão pedagógica sobre o acervo
sa maneira “me livro” desse item tão das formas de representação simbólica de
complexo. diferentes realidades vividas pelo homem,
historicamente criadas e culturalmente de-
• As brincadeiras ficam reservadas aos
momentos livres dos alunos (parque, senvolvidas.
recreio).
• Ginástica? Eles já fazem muita quan-
do brincam, ou pior ainda, o(a) edu-
cador(a), com muita força de vontade,
mas sem muito efeito, propõe séries
de exercícios que são aplicados aos
adultos nas academias e locais simi-
69/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
ças, que não se coloca como mera reprodu-
Para saber mais tora de movimento e atividades alienadas,
ao contrário, torna-se um meio de apropria-
Marcos Garcia Neira é professor de Educação Fí-
ção destes saberes. O objetivo do educa-
sica, professor da Universidade de São Paulo.
dor é que seus alunos se reconheçam, bem
Neira defende que nos tempos atuais, a principal
como reconheçam os colegas como impor-
função dos professores, sejam eles de Educação
tantes no seu dia a dia.
Física ou demais áreas, não é mais desenvolver
chutes ou lançamentos, mas sim a análise e refle- Ao analisarmos os conteúdos específicos
xão sobre as produções humanas que envolvem o da dança no trabalho com as crianças, en-
movimento. contraremos a coreografia, a consciência
corporal, o condicionamento físico, mas
As brincadeiras, jogos, lutas, ginástica são
também questões fundamentais como am-
muito importantes para o desenvolvimento
pliação de repertórios, improvisação, a lu-
dos alunos, mas não devem ser abordados
dicidade, a formação estética, simbólica e
como um fim em si mesmos. É importante
cultural. Neste sentido, a criança vivencia a
compreender que são saberes necessários
cultura como uma forma de expressão das
para que cheguemos aos nossos objetivos,
relações que estabelece com o próprio cor-
ou seja, o ato de criação por parte das crian-
po e com o corpo do outro, expressando em
70/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
seus movimentos suas emoções e sua cul- capacidade de agir com o corpo. Uma
tura. criança com uma formação adequada
do esquema corporal terá reflexos em
No tocante aos aspectos da psicomotrici-
aspectos como sua grafia, leitura ex-
dade, a maturação fisiológica permitirá que
pressiva e harmoniosa, ritmo e cadên-
o movimento se torne cada vez mais com-
cia no ato da leitura de textos;
plexo, especialmente no que concerne ao
ritmo, às posições, à autoimagem, permi- b) Equilíbrio: o desenvolvimento desta
tindo uma melhor percepção dos objetos e função encontra-se relacionado às
do próprio espaço. aptidões estáticas e dinâmicas, como
controle da postura e aquisição da lo-
A dança ajudará no desenvolvimento de
comoção e sustentação;
funções como:
c) Organização Latero-Espacial: a fun-
a) Esquema corporal: o qual ajuda na ção da lateralidade será responsável
formação da representação da ima- pela função da dominância do ato
gem que a criança possui sobre seu motor e na consolidação das praxias,
corpo. Salientamos que a relevância organizando de forma adequada suas
da construção do esquema corporal atividades motoras globais;
está diretamente relacionada aos mo-
vimentos do corpo, mas também da d) Ritmo: será responsável pela organi-
71/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
zação periódica dos atos motores, influenciando diretamente na capacidade de organiza-
ção espacial da criança. O ritmo marca diversas atividades humanas, desde o caminhar, até
o próprio ato de dançar.
Isso não significa que todas as atividades devem ser direcionadas, pois o brincar livre é uma ex-
pressão da linguagem e da cultura produzida pela criança, bem como da liberdade em relação
ao seu próprio corpo. Esta expressividade perpassa a autonomia que a criança adquire gradual-
mente, a qual é imprescindível ao seu desenvolvimento.
Perceba que aqui estamos lançando mão de conceitos oriundos da chamada Psicomotricidade
Relacional, a qual pode ser definida como aquela que acredita que
72/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
“ferramenta” é que uma ferramenta não
Para saber mais faz nada sozinha, mas depende de alguém
que saiba usá-la para cumprir a sua função;
Recomendo que você leia o artigo a seguir para
sendo assim, educadores que conhecem
conhecer mais sobre a Psicomotricidade Rela-
sobre o que estão tratando conhecem as
cional. Disponível em: <http://www.pucpr.
diferentes ferramentas para chegarem aos
br/eventos/educere/educere2008/anais/
seus objetivos.
pdf/317_152.pdf>. Acesso em 30 nov. 2016.
As lutas, além de trabalharem as funções
A Psicomotricidade Relacional é compreen- motoras acima mencionadas, também
dida como uma ferramenta para a interven- permitem que as crianças tenham acesso
ção pedagógica junto ao desenvolvimento a esta construção cultural de nossa socie-
infantil. O conceito de ferramenta é muito dade. Além de permitirem reflexões sobre a
utilizado no mundo educacional, pois re- diferença delas em relação a questões as-
força que existe um objetivo maior, onde sociadas à violência.
as atividades são instrumentos para que os Para Neira (2008), são consideradas temá-
educadores possam chegar ao seu objetivo. ticas de ensino todas as manifestações da
Outra analogia feita em relação ao termo cultura corporal: os esportes midiáticos, os
esportes radicais, as danças folclóricas e ur-
73/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
banas, as brincadeiras infantis, os videoga-
mes, as lutas, as artes marciais, as ginásticas Link
construídas e a variedade das formas expres-
A importância dos jogos e Brincadeiras na Educa-
sivas dessa modalidade, entre tantas outras.
ção Infantil. Disponível em: <https://www.you-
Por último, devemos salientar que a ginás- tube.com/watch?v=1RpVz2e5Bq8> Acesso
tica também cumpre uma função educativa em: 10 nov. 2016.
importante, à medida que atividades como
pular, correr, rolar, saltar, balançar, escalar,
equilibrar, rastejar, girar são fundamentais
2. As ferramentas do
para o seu desenvolvimento. Lembre-se de
desenvolvimento psicomotor
que a criança constrói o seu pensamento a
partir da experimentação corporal, logo, a
das crianças
vivência motora é essencial para a constru-
Antes de seguirmos, gostaria de ressaltar
ção do sujeito em sua integralidade.
que o objetivo desta discussão não é dar
“receitas” prontas de como se trabalhar
com as brincadeiras, jogos, ginástica e as
lutas nas escolas, até porque, conforme
você já percebeu, a didática relacionada a
74/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
estas temáticas dependerá do contexto ed- Esperamos que você diga: “corda”!
ucativo no qual você esteja inserido e das Isso não significa que as crianças não ten-
próprias crianças que serão protagonistas ham a oportunidade de aprender e vivenciar
deste processo. Em contrapartida, também outras atividades, pelo contrário, é nosso
não é possível apenas apresentar infor- dever ampliar o repertório motor e cultur-
mações aos alunos, sem proporcionar a eles al de nossos alunos, mas sempre atentando
subsídios para a sua prática. ao que é significativo para eles.
Utilizando a brincadeira, jogo, luta, ginásti-
ca, além das outras manifestações corpo-
rais existentes, é muito importante que o
Para saber mais
O repertório motor está intimamente ligado à ex-
ponto de partida seja a sondagem do que
periência motora das crianças. Para o educador
é significativo às crianças, por exemplo: se
“ajudar” a criança a possuir um robusto reper-
você atua em uma instituição onde algu-
tório, é importante proporcionar que os espaços
mas brincadeiras populares são significati-
sejam ricos em desafios, que as crianças possam
vas para o público, como o pular corda, qual
conviver com os colegas e possam ter momentos
atividade utilizará como ferramenta de en-
para criar o seu próprio conhecimento.
sino?
75/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
Ainda pautado na brincadeira de corda, no seja, usar o seu próprio corpo. Pode ser uma
dia a dia das crianças na escola, a brinca- ferramenta para conhecer os diferentes
deira pode ser realizada como um fim em planos (alto, médio e baixo), ou reproduzir
si mesma ou como ferramenta pedagógica as brincadeiras populares da sua região.
que leva a determinado ponto.
Só relembrando: esta proposta atende às
diferentes fases do desenvolvimento hu- Link
mano? Lembre-se, existem inúmeras car- Conheça diversas brincadeiras de corda, acessan-
acterísticas que são levadas em consider- do o link disponível em: <http://mapadobrincar.
ação, como questões familiares, culturais, folha.com.br/brincadeiras/corda/indice/>
religiosas. Sendo assim, alguns exemplos Acesso em: 10 nov. 2016.
abaixo acabam por se dissolver na rotina de
uma escola.
Vamos lá: a mesma corda, para as crianças A partir de dois anos, a mesma corda pode
de até dois anos, pode ser uma ferramen- se tornar uma cobra, um cipó ou algo que o
ta de exploração, algo que “os pequenos” próprio grupo define, por exemplo, a corda
podem pegar, puxar, se pendurar, bater, ou em uma contação de história. Assim, levar
76/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
em consideração o momento das crianças é a educação é construída com pouquíssimo
central para estimular a questão motora, ao corpo, como diz João Batista Freire (1989),
mesmo tempo que traz consigo o simbolis- ao passo que deveria ser feita de corpo in-
mo característico da fase ou faixa etária que teiro!
está sendo vivenciada por cada criança.
Quando tratamos de lutas, geralmente nos
Já as crianças acima de quatro anos, com a deparamos com um frenesi causado no con-
mesma corda, podem ser estimuladas pelo texto escolar, como se luta fosse sinônimo
educador a criar jogos que trabalhem habil- de violência, especialmente se ela for ad-
idades diversas, como ritmo, saltos, lateral- otada como conteúdo da Educação Infan-
idade etc.
til. Ao contrário do senso comum, sabemos
Independentemente da faixa etária e local que estas são atividades ricas nas questões
de trabalho, é fundamental que o educador motora e culturais. Assim, se executada por
sempre proporcione aos alunos novos desa- profissionais com a visão de ser humano e
fios motores e que sejam logicamente sig- não de reprodução ou performance, o tra-
nificativos. balho com lutas na Educação Infantil surte
O importante nesse processo é a valorização benefícios múltiplos, tais como: autocon-
do movimento como construtor de conhe- fiança, valores de paz, concentração, entre
cimento e da cultura, já que, muitas vezes, muitos outros.
77/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
Na prática da Alfabetização Corporal, isso fórmulas e de construção e transformação
quer dizer que, desde a Educação Infantil de cultura.
até o Ensino Médio, nossos alunos devem
ser respeitados na sua motivação e no seu
interesse pela brincadeira, jogo, ginástica e
Para saber mais
luta. Leia “Os principais conceitos da Alfabetização
Corporal”, disponível em <http://novaescola.
As brincadeiras de pular corda, o pega-
org.br/educacao-fisica/fundamentos/no-
pega, a cabra cega, bola ao cesto, seja na
vo-status-expressao-corporal-423950.sht-
Educação Infantil, seja no Ensino Médio, são
ml?page=1> Acesso em: 10 nov. 2016.
formas de jogo, obviamente cada um den-
tro de um grau específico de complexidade.
Independentemente do elemento tra-
Um jogo que no presente é entendido como
balhado na escola (luta, jogos, ginástica ou
um espaço de “trabalho” que envolve pro-
dança), é fundamental que o professor seja
dução, compromisso, regra, participação e
capaz de trazer significação para as propos-
cooperação, mas que abre portas para o fu-
tas, o que exige a compreensão do processo
turo, já que se configura também como um
de aprendizagem como algo dinâmico. Além
espaço fértil de transgressão, de ressignifi-
disso, é importante que o profissional esteja
cação, de liberdade, de ruptura com velhas
78/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
despido de qualquer tipo de pré-julgamento Agora, o mais importante é a qualificação do
ou estereótipos preconceituosos, especial- exercício de sua prática, onde é importante
mente se as atividades realizadas não sejam ressaltar que as atividades por si só não são
de sua preferência. O ponto crucial é dar voz garantia de sucesso e de desenvolvimento.
aos alunos e realizar uma escuta ativa, pois, A atuação de um educador atento, embasa-
de acordo com um dos maiores educadores do e comprometido não com a perfeição dos
contemporâneos, Paulo Freire (1997), escu- movimentos, mas com o desenvolvimento
tar o aluno não significa que você concor- pleno das crianças, é a ação mais significa-
da com ele, mas entende estas informações tiva deste espetáculo chamado educação.
como importantes.
Você percebe o quanto é importante a atu-
ação dos educadores nas práticas corporais
na Educação Infantil?
Você reconhece a importância das brinca-
deiras, jogos, lutas e ginásticas como ele-
mentos fundamentais no desenvolvimento
humano?
79/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
Glossário
Jogo como ferramenta: Abordagem na qual o jogo não entra como objetivo da aula, mas ferra-
menta para que os objetivos sejam alcançados da melhor forma.
Atividades receitas: São atividades prontas, com conduta rígida, nas quais não são permitidas
adaptações à realidade de cada grupo.
Construtor do conhecimento: Termo segundo o qual se considera o aluno como protagonista
na construção do conhecimento, adaptando as regras conforme as suas habilidades e necessi-
dades.
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esporte, das lutas, da ginástica
?
Questão
para
reflexão
81/221
Considerações Finais
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Referências
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione,
1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1997.
NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Pedagogia da cultura corporal: crítica e alternativas. São Paulo:
Editora Phorte, 2008.
VIEIRA, J. L.; BATISTA, M. I.; LAPIERRE, A. Psicomotricidade relacional: a teoria de uma prática. 2.
ed. Curitiba: Filosofart / CIAR, 2004.
83/210 Unidade 3 • As diferentes formas de expressão do corpo e sua construção histórica: o brincar com elementos do jogo, do
esporte, das lutas, da ginástica
Questão 1
1. Ao trabalhar com jogos na Educação Infantil, de acordo com o texto, o
principal risco é:
84/210
Questão 2
2. A prática das lutas nas escolas de Educação Infantil pode ser
considerada:
a) Uma oportunidade para as crianças aprenderem a se defender dos perigos que existem em
volta das escolas.
b) Uma ferramenta pedagógica importante, pois traz consigo habilidades importantes ao de-
senvolvimento corporal das crianças, além de aspectos culturais.
c) Uma forma de difundir a selvageria dentro das escolas, na contramão de todo trabalho rea-
lizado pelos educadores em trazer paz para dentro das escolas.
d) Ferramenta fantástica de aprendizado aos alunos, além disso, uma grande oportunidade de
encontrarmos talentos para no futuro representar o Brasil.
e) O PCN proíbe a prática de lutas dentro das escolas de Educação Infantil, por entender que as
crianças ainda não possuem maturação para práticas deste tipo.
85/210
Questão 3
3. A ginástica na Educação Infantil pode ser considerada como:
a) Promoção da saúde.
b) Aprendizado sobre a importância de ter momentos fitness na vida cotidiana.
c) Importante ferramenta de aprendizagem corporal.
d) Canal de comunicação entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças.
e) Importante ferramenta de combate à obesidade infantil e outras tantas doenças que hoje
assolam as crianças.
86/210
Questão 4
4. Os materiais são muito importantes para que as diferentes atividades
aconteçam. De acordo com o texto, nós, como educadores, devemos levar
em consideração as seguintes questões:
a) A qualidade do material.
b) Se o material está de acordo com a idade das crianças.
c) A classificação indicativa escrita nos diferentes materiais para não cometermos atos falhos.
d) A quantidade de crianças, para que possamos proporcionar que cada criança tenha a opor-
tunidade de ter pelo menos um material.
e) As principais características das crianças para que o material seja uma ponte na construção
das brincadeiras e favorecendo o aprendizado e o simbolismo.
87/210
Questão 5
5. De acordo com o texto, a alfabetização corporal deve:
a) Apresentar às crianças o alfabeto para que possam aprender a ler e escrever de maneira
mais dinâmica.
b) Respeitar a motivação das crianças e no seu interesse pelas atividades corporais, assim agin-
do em seu desenvolvimento de maneira integral.*
c) Segundo a dinâmica da alfabetização corporal, quando a criança conhece pelo menos uma
atividade que inicie com cada letra do alfabeto, podemos dizer que seu repertório motor
está desenvolvido.
d) Respeitar o cronograma de aprendizagem, disponibilizado pelo professor, para que as crian-
ças cheguem ao seu objetivo final, a alfabetização.
e) Acompanhar o novo plano nacional de educação, onde todas as crianças devam ser alfabe-
tizadas até o final da Educação Infantil.
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Gabarito
1. Resposta: C. da ginástica e incorporar a ela a ludicidade
das crianças.
Se apenas parto das experiências dos edu-
cadores, corro o risco de trazer atividades 4. Resposta: E.
carregadas de verdades absolutas e com um
fim pronto. Os materiais facilitam o aprendizado, o
principal item que temos que levar em con-
2. Resposta: B. sideração no trabalho motor com crianças
é: quais são os objetivos da atividade pro-
As lutas são atividades ricas nas questões posta.
motoras, culturais e atitudinais; quando
abordadas de maneira correta, tornam-se
5. Resposta: B.
um componente fundamental para o de-
senvolvimento integral das crianças. Devemos atentar à motivação das crianças
em relação às atividades, pois é o ponto de
3. Resposta: C. partida para que os educadores, juntamen-
te aos alunos, possam construir conheci-
A ginástica dentro da Educação Infantil é mentos consistente e transformadores.
totalmente diferente do universo adulto. É
importante apropriar-se das características
89/210
Unidade 4
Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e
espacial
Objetivos
90/210
Introdução
Nossa proposta é que você seja sensibiliza- to escolar, contudo, procuramos uma abor-
do para a atuação na Educação Infantil, que dagem que não seja dicotomizada ou que
é uma modalidade muito importante para privilegie o cognitivo em detrimento de ou-
o desenvolvimento integral das crianças. tras funções, pois temos a crença de que
Acredito que você compreenda que a princi- somente compreendendo o indivíduo como
pal linguagem a ser tratada com as crianças um corpo-infância é possível pensar em seu
é o brincar, porque, além de ser uma prática desenvolvimento integral.
social, é fundamentalmente a prática mais
significativa dentro do seu desenvolvimen-
to.
É neste contexto que devemos identificar
e valorizar as características culturais dos
alunos e como sua cultura pode ser agre-
gada ao ensino das brincadeiras, jogos, lu-
tas, entre outras manifestações corporais e
culturais. Perceba que estamos privilegian-
do o desenvolvimento do universo motor
das crianças e sua importância no contex-
91/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Você, educador, consciente de seu papel
dentro da escola, é a mola propulsora do
Para saber mais desenvolvimento humano, pois cria opor-
tunidade de as crianças passarem por todas
O ato de executar na Educação Infantil vai além
as etapas (apreciar, executar, criar e refletir),
do apenas realizar uma atividade corporal, é um
como uma grande corrente do aprendizado.
conjunto de ações onde estimulamos a expressão
das crianças em sua totalidade. Além disso, o exe- Para que você entenda essa grande corren-
cutar a partir destes preceitos trabalha na cons- te é importante entender a importância de
trução da autonomia das crianças. Neste sentido, cada elo, sendo assim, lhe serão apresenta-
a cultura corporal e seu processo de alfabetiza- das as principais características da orienta-
ção pelo movimento carregam conhecimentos ção temporal e espacial. Vale ressaltar que
e representações que permitem que o indivíduo o apreciar, executar, criar e refletir é impor-
determine sua identidade, bem como crie carac- tante em todo o aprendizado motor na Edu-
terísticas que o diferenciam e, ao mesmo tempo, cação Infantil. Sendo assim, vamos explorar
conferem reconhecimento como membro de seus esta sequência.
grupos.
92/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
1. Orientação ou estrutura ganiza e coordena seus movimentos dentro
temporal de uma lógica temporal.
Como forma de ilustrar a importância do
Perceba que neste momento vamos estudar conhecimento espacial-temporal, Mattos
a orientação ou a estrutura temporal, que e Neira (2002) apresentam dados obtidos
deverá desenvolver nas crianças a sua ca- pelo DNER, que indica que a maior parte dos
pacidade de adquirir noções de simultanei- acidentes em ultrapassagens acontece por
dade, sequência, ordem, duração, tempo e uma dificuldade no cálculo entre as diferen-
ritmo. Assim, para que o aluno possa cons- ças de velocidade entre os veículos envolvi-
truir estes conceitos é fundamental que os dos em ação.
vivencie.
A estrutura temporal constituída pela crian-
Nossa discussão está pautada nas análises ça será responsável por situá-la em função
de Mattos e Neira (2002), que recorrem aos de diferentes eventos, tais como: antes e
postulados de Piaget. Devemos nos lembrar depois, presente, passado e futuro, proces-
que Piaget indicou que as dimensões fun- sos ciclos e sua respectiva renovação (dia e
damentais da ação humana são: o espaço e noite, dias da semana, meses do ano, etc.).
o tempo. Enfatizamos que estas são cate- A este fluxo contínuo de acontecimentos
gorias indissociáveis, isto é, nosso corpo or- determinamos de horizonte temporal. Esta
93/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
capacidade desenvolvida será fundamental nas são cientes do presente, porque é o tem-
em seu processo de letramento e alfabeti- po que estão vivenciando e experimentan-
zação, para além do movimento. do, portanto é necessário criar situações de
Por isto, a estrutura temporal é um compo- aprendizagem para que possam extrapolar,
nente proeminente na Alfabetização Cor- captar e discernir a sequência temporal.
poral. Note que a criança, durante seu co- Na questão motora, vemos a mesma si-
tidiano, mobiliza a todo momento estes co- tuação. Quem nunca jogou uma bola para
nhecimentos, ou seja, as crianças se depa- uma criança e ela acabou batendo em sua
ram com situações como: ao atravessarmos cabeça, e depois da bolada, a criança fecha
uma rua, tem que calcular o espaço da rua e os braços no movimento de apreensão da
o tempo de chegada do veículo que transita bola?
nela, para assim iniciar a travessia. No cotidiano da escola, tenho que calcular o
Nossas crianças pequenas possuem inúme- tempo que o amiguinho levará para vir com
ros desafios para compreender as nuances a balança e o espaço que tenho que percor-
do tempo. Por vezes, encontramos nossos rer para não ser acertado por ele, ou mesmo,
alunos dizendo que ontem será o meu ani- calcular a velocidade de um amigo que corre
versário!; A Páscoa está perto!; Quando eu em minha direção para que eu possa desviar
vou embora? As crianças inicialmente ape- e não bater de frente com ele.
94/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Para que estas noções possam ser cons-
truídas é necessário que a criança adquira Link
os movimentos básicos, bem como a cons-
ciência das relações no tempo. O que será Você acha que o brincar é algo importante para as
desdobrado em aprender: crianças? Confira no site <https://novaescola.
org.br/conteudo/1236/brincar-na-creche>
• Simultaneidade; Acesso em: 10 nov. 2016
• Ordem e sequência;
• Duração dos intervalos;
Em outra analogia em relação ao movimen-
• Renovação cíclica de certos períodos;
to das crianças, Matos e Neira (2002) apre-
• Ritmo: o que exige noção de ordem, sentam a necessidade de que ele tenha um
sucessão, duração e ordem. O ritmo começo, meio e fim. Por exemplo, em uma
pode ser motor, auditivo ou visual. brincadeira com bola, uma queimada (ou
queimado, carimba ou outro nome, depen-
dendo da região do Brasil onde é jogado),
tenho que calcular a distância do adversá-
rio para, assim, calcular a força empregada
95/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
no lançamento e a velocidade da corrida, é Já nos é fato que na diversidade de ativida-
necessário sincronizar os movimentos a fim des na Educação Infantil, deve-se seguir a
de acertá-lo. Desta forma, mesmo bem pe- máxima segundo a qual as atividades de-
quenas, as crianças elaboram cálculos mui- vam ser sempre carregadas de estímulos
to complexos para resolver problemas mo- variados, muita imaginação, valorização de
tores. atividades significativas e a participação
ativa dos alunos, mesmo bem pequenos,
valorizando-os como produtores de conhe-
Para saber mais cimento.
96/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Assim, Mattos e Neira (2002) apresentam crianças.
como sugestão de desenvolvimento da Quem nunca ficou com “cabelos em pé” ao
orientação temporal atividades que possam encontrar uma criança “enfiada” em alguns
permitir: lugares que você nunca imaginou que pu-
• Aquisição de noções de antes, duran- desse ser explorado? Exemplos aparecem
te e depois, primeiro, segundo, último; aos milhares, mas há os clássicos, como
guarda-roupas, muros, telhados, entre tan-
• Percepção de duração;
tos outros. O que ocorre em algumas escolas
• Apreciação de estruturas rítmicas (rá- é que, infelizmente, a única possibilidade do
pido e lento); espaço que as crianças têm a oportunidade
• Velocidade e aceleração. de explorar é o local de guardar a mochila e
sentar na sala para realizar as atividades do
2. Estrutura espacial dia.
Muitos educadores evitam realizar ativida-
O ato de conhecer e explorar os diferentes
des motoras com medo de as crianças se
espaços é fundamental para nos localizar-
machucarem, mas já é comprovado que a
mos. As atividades de exploração dos espa-
maior parte dos machucados não aconte-
ços são, geralmente, muito desejadas pelas
ce em atividades motoras como brincadei-
97/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
ras, jogos e vivências corporais múltiplas. ta uma crítica a este processo em seu tex-
Devemos lembrar que a motricidade livre é to ‘Métodos de confinamento: como fazer
fundamental para o desenvolvimento, e as render mais porcos, galinhas, crianças”. O
crianças “aprendem a cair” porque experi- problema nas escolas não é o movimento,
mentam seus corpos e o movimento e as- muitas vezes é a falta deles. Queremos mui-
sim se machucam menos. to que nossos alunos utilizem o pequeno
espaço de uma folha, com motricidade fina
Devemos salientar que a lateralidade apa- de pegar um objeto tão pequeno como um
rece no processo de maturação neurológica lápis, giz, pincel, pedimos que nossos alu-
da criança, mas isso, por si só, não garan- nos desenhem utilizando toda a folha ao in-
te a sua aquisição. Dessa forma, os alunos vés de apenas um pequeno espaço, ou de-
provavelmente desenvolverão a orientação senterramos os clássicos leve João ao outro
espacial no decorrer da vida escolar na Edu- lado da folha seguindo a linha pontilhada,
cação Infantil, mas somente sua maturação mas esquecemos de uma máxima impor-
não garante isso. Sendo assim, nós, como tante, do geral para o específico.
profissionais da educação, temos que atuar
Então, que tal pensarmos da seguinte ma-
como mediadores desse e de outros conhe-
neira: estimular a exploração de grandes
cimentos.
espaços, utilizando grandes músculos, pois
João Batista Freire (1993) nos apresen-
98/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
apropriando de uma motricidade geralmen-
te mais fácil aos pequenos traz informações Link
importantes para quando reduzimos a uma A construção das noções espaçotemporais na
folha. Educação Infantil: situações pedagógicas. Dis-
Assim, a consciência espacial é a relação ponível em: <http://editorarealize.com.br/re-
que a criança estabelece entre seu corpo e vistas/fiped/trabalhos/431fc863d4d215b7e-
o meio. Nesta direção devem ser desenvol- 08ae02c1adda43f_1965.pdf> Acesso em: 10
vidos os esquemas relacionados ao sistema nov. 2016.
visual e ao tático-cinestésico. Para que isto
ocorra a criança deverá compreender os Novamente inspirados em Mattos e Neira
sentidos de direção, localização e distância, (2002), podemos definir estruturação espa-
onde forja a: cial como a tomada de consciência de um
corpo no meio ambiente, o que permite que
• Orientação espacial;
a criança possa localizar, explorar espaços,
• Organização espacial; bem como organizar objetos e movimentá-
• Compreensão das relações espaciais. -los no espaço.
Sendo assim, apresentamos sugestões de
99/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
estruturação espacial: tura, utilizando atividades como ferramen-
tas para potencializar o desenvolvimento
• Tomar consciência do espaço em que
das crianças em um ambiente rico em desa-
está (isso inclui apropriar-se do espa-
fios e convidativo ao conhecimento. Por úl-
ço da escola);
timo, reflita que o desenvolvimento do es-
• Perceber o solo como ponto de apoio; quema corporal ocorre pela consciência do
• Perceber medidas e a forma dos espa- corpo como meio de comunicação consigo
ços percorridos; mesmo e com o meio. O que exige desen-
volvimento da motricidade, das percepções
• Ter noção de direção e localização es-
espaciais e temporais, e da afetividade. Ain-
pacial;
da nesta direção, a criança deve ser capaz de
• Conhecer dentro/fora; conhecer o corpo como um todo; conhecer
• Perceber a direção de um espaço per- o corpo segmentado; controlar os movi-
corrido. mentos globais e segmentados; equilíbrio
estático e dinâmico e a expressão corporal
Assim, lembre-se de que nosso foco deve ser
harmônica.
proporcionar atividades prazerosas, que re-
speitem os estágios motores dos alunos, de
maneira significativa, respeitando sua cul-
100/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Para saber mais
Muitas correntes defendem que as crianças não
podem ser divididas em departamentos. Des-
sa forma, uma atividade em que o educador tem
como objetivo estimular experiências artísticas
em seus alunos, também estimula a motricidade
no ato de pegar um lápis ou um pincel. Sendo as-
sim, quando propor atividades, procure diversifi-
car os estímulos para que seus alunos possam ser
enxergados como seres em constante conexão.
Lembre-se: não se trata de abordar o movimento
pelo movimento, mas uma criança que se cons-
trói como sujeito biológico e social-cultural.
101/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Glossário
Orientação espacial: é a capacidade que o indivíduo tem de situar-se e orientar-se, em relação
aos objetos, às pessoas e ao seu próprio corpo em um determinado espaço. É saber localizar o
que está à direita ou à esquerda; à frente ou atrás; acima ou abaixo de si, ou ainda, um objeto
em relação a outro.
Orientação temporal: capacidade de adquirir noções de simultaneidade, sequência, ordem,
duração, tempo e ritmo.
DNER: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
102/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
?
Questão
para
reflexão
104/210
Referências
FREIRE, João Batista. Métodos de confinamento (como fazer render mais porcos, galinhas, cri-
anças...). In: MOREIRA, W. W. (org) Educação física e esportes: perspectivas para o século XXI.
Campinas: Papirus, p.109-122, 1993.
MATTOS, Mauro Gomes de; NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Infantil: construindo o mov-
imento na escola. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2002.
105/210 Unidade 4 • Apreciar, executar, criar e refletir: a cultura corporal e as concepções de orientação temporal e espacial
Questão 1
1. Ontem será o meu aniversário! A partir desta frase tão comum entre os
pequenos alunos da Educação Infantil, podemos dizer que é importante
realizar trabalhos referentes a:
106/210
Questão 2
2. No trabalho de conhecimento sobre a estrutura espacial, na analogia
ao movimento das crianças é necessário que seja abordado:
107/210
Questão 3
3. De acordo com Mattos e Neira (2002), estruturação espacial é:
108/210
Questão 4
4. De acordo com João Batista Freire, o maior problema da escola
quando pensamos em seus corpos são:
109/210
Questão 5
5. No texto lido, as concepções temporais e espaciais foram divididas. Em
relação ao cotidiano escolar podemos considerar uma prática:
110/210
Gabarito
1. Resposta: C. mento.
5. Resposta: D.
Não entendemos as crianças como seres
fragmentados, mas como seres únicos. Nas
práticas corporais é importante a variedade
de estímulos, favorecendo o aprendizado
integral das crianças.
112/210
Unidade 5
Percepção da formação da personalidade por meio do movimento
Objetivos
113/210
Introdução
126/221
Considerações Finais
127/210
Referências
a) Fisiologia
b) Pediatria
c) Psicologia
d) Psicanálise
e) Educação Física.
129/210
Questão 2
2. Durante uma aula de psicomotricidade funcional o educador é visto
como:
a) Modelo
b) Guia
c) Mediador
d) Coordenador
e) Observador.
130/210
Questão 3
3. Nas atividades realizadas com base na psicomotricidade relacional de
maneira geral não são utilizados:
a) Materiais
b) Espaços diversos
c) Fala
d) Expressões corporais
e) Relacionamento.
131/210
Questão 4
4. O objetivo de educar as diferentes condutas motoras é atributo da?
a) Psicanálise
b) Psicomotricidade Funcional
c) Cultura Corporal
d) Psicomotricidade Relacional
e) Educação Infantil.
132/210
Questão 5
5. A grande semelhança que facilita o trabalho da psicomotricidade
relacional na Educação Infantil é porque as duas valorizam:
a) O Brincar
b) A Higiene
c) Inserção da criança no Ensino Fundamental
d) As famílias silábicas
e) Os jogos de regra.
133/210
Gabarito
1. Resposta: D. identificação e resolução de conflitos.
Objetivos
135/210
Introdução
Sua trajetória até este momento da discipli- tro das escolas de Educação Infantil: “Cabe-
na foi repleta de provocações relacionadas ça, ombro, joelho e pé”? Ou melhor, quem
ao desenvolvimento humano. Inicialmente, nunca cantou ou dançou a canção? Esta
as características do desenvolvimento hu- música infantil tão comum na maioria das
mano a partir de uma visão desenvolvimen- escolas de Educação Infantil remete ao co-
tista, logo após foram apresentadas as prin- nhecimento mesmo que de forma superfi-
cipais características culturais das crianças, cial. Ao tratarmos de corpo e a criação de
e as características da psicomotricidade seus esquemas, a Educação Infantil tem
funcional e relacional, dando maiores sub- como objetivo a exploração do movimen-
sídios às discussões sobre a importância do to humano, suas principais funções e uma
corpo no desenvolvimento das crianças. questão fundamental engendrada pela re-
Neste tema você terá contato com informa- lação entre a criança e o meio em que vive.
ções que vão mais a fundo no desenvolvi- Mais uma vez é importante lembrar que
mento motor das crianças, é fundamental para que tudo isso aconteça, todos nós,
que você mergulhe em seu conteúdo sem como participantes da educação das crian-
esquecer-se de tudo o que foi trabalhado ças, devemos proporcionar um espaço rico
até então. dentro das instituições escolares, propor-
cionando a exploração dos espaços, das
Quem nunca ouviu a seguinte música den-
136/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
brincadeiras, das danças, ou qualquer outra tos:
manifestação corporal, além da utilização
1. Consciência dos diversos segmentos
de diferentes materiais, por exemplo, brin-
do corpo por meio de exercícios apro-
quedo e sucatas, com diversos estímulos e
priados para a formação corporal (es-
valorizando o aprendizado e o relacionando
quema corporal);
com os demais alunos.
2. Exercícios para ação corporal e que
As atividades corporais (não exclusivamen-
possam desenvolver a flexibilidade e
te praticadas nas aulas de Educação Física)
equilíbrio;
possuem um papel primordial no aprendi-
zado e, consequentemente, no desenvolvi- 3. Exercício para a coordenação fina e
mento dos indivíduos, estimulando as fun- grossa;
ções psicomotoras que formarão a base e 4. Exercício de lateralidade;
darão sustentação para a aprendizagem,
5. Exercícios para percepção espaço-
auxiliando assim o desenvolvimento global
temporal.
das crianças.
De acordo com Negrine (1986), para que os
movimentos possam ser realizados, devem É importante ressaltar que os conteúdos
ser levados em consideração alguns aspec- apresentados anteriormente estão dividi-
137/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
dos por questões didáticas, entretanto, no das crianças.
cotidiano escolar, o ser-brincante brinca de
lateralidade, certamente isto também en-
globa a motricidade. Sendo assim, é impor- Link
tante pensar nos seres humanos em todo o As crianças têm muito o que aprender na creche.
momento a partir de sua totalidade, princi- Disponível em: <https://novaescola.org.br/
palmente quando se trata de crianças. conteudo/117/creche-pode-ensinar> Acesso
em: 10 nov. 2016.
Dessa maneira, você está pronto para ini-
ciar este tema, fundamental ao desenvolvi-
mento psicomotor, pois a partir de estudos
e análises referentes à importância do estí-
mulo e aprendizado de esquema motor, do
equilíbrio, da coordenação motora (coorde-
nação motora fina e coordenação motora
grossa), da lateralidade e do espaço-tem-
po, daremos grandes condições de atuar na
motricidade, cognição e questões afetivas
138/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
1. Esquema motor dades de movimentação da(s) parte(s) es-
tudada(s). Além disso, é capaz de aumentar
No processo de desenvolvimento psico- a noção da imagem do corpo e dos meios
motor das crianças, o item esquema motor de ação que estabelecem, com a memória,
possui grande influência. a formação do esquema corporal, exploran-
Muito além da canção infantil que inicia este do, assim, seu corpo de forma lúdica.
tema, quando trabalhado a partir de um viés
educacional, o conhecimento de esquema
corporal ultrapassa apenas o conhecimento
Para saber mais
O esquema corporal é muito importante no de-
da nomenclatura e conhecimento do siste-
senvolvimento humano, principalmente na fase
ma muscular, mas adentra na exploração da
da Educação Infantil. Esquema corporal pode ser
“perfeita máquina” chamada corpo huma-
definido como conhecimento das diferentes par-
no.
tes do corpo e a organização das diferentes es-
No desenvolvimento psicomotor, a partir truturas corporais que auxiliam a criança em sua
do esquema corporal, a criança tem a opor- capacidade funcional.
tunidade de conhecer as diferentes partes
do seu corpo, e ainda melhor, reconhecer e
experimentar quais as diferentes possibili-
139/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
Para que todo este aprendizado aconteça, quenos.
existe melhor forma de conhecer as estrutu- Para estimular os alunos, não é preciso criar
ras corporais e a apropriação de esquemas “algo de outro mundo”, suas ações para fa-
motores do que oferecer à criança a possi- zer com que as crianças possam explorar
bilidade de treinar algo que melhor sabe fa- suas estruturas corporais podem ser bem
zer? Sem dúvida, a resposta é o Brincar! simples, por exemplo:
Lembre-se de todo o conteúdo que você Ao entrar na sala de aula, a cada dia o edu-
teve a oportunidade de estudar até agora, cador propõe uma forma diferente para as
neste momento leve-o para seu local de crianças entrarem na sala. Por exemplo, em
trabalho como educador (se você ainda não um determinado dia, o educador fica em pé
possui um, faça um exercício simples, ima- na entrada da sala com as pernas abertas e
gine), não importa se seu local de trabalho todos os alunos devem “resolver o proble-
é grande ou pequeno, está ao ar livre ou é ma” apresentado por ele, ou seja, entrar na
um local coberto, se possui espaço específi- sala, utilizando o seu corpo de maneira ade-
co para atividades corporais ou não, o mais quada.
importante é que este espaço (ou espaços)
favoreça diversidade de estímulos aos pe-
140/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
2. Equilíbrio
Para saber mais
Equilibrar-se é um desafio que acompanha
O estímulo do educador ao aluno em relação ao
as crianças desde muito cedo, o ato de ficar
conhecimento do corpo e os trabalhos de equi-
sentado sem apoio, além do fortalecimento
líbrio são fundamentais para o desenvolvimento
muscular, exige muito equilíbrio. Com o de-
das crianças, mas vai além disso. Estudos dizem
correr do desenvolvimento das crianças, o
que este trabalho auxilia na prevenção de aciden-
ficar em pé, andar e mais para frente, o cor-
tes como batidas e quedas, sendo fundamental
rer, são grandes testes de equilíbrio.
para a independência da criança.
Todos nós falamos de equilíbrio, mas, afinal,
qual o seu conceito? “Equilíbrio é a noção
de distribuição do peso do corpo em relação No desenvolvimento psicomotor, o equi-
ao centro de gravidade, pode ser trabalha- líbrio é determinante para o sucesso da
do estática e dinamicamente” (TOLKMITT, criança, seja no mundo das brincadeiras,
1993). jogos, danças, entre outros.
141/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
3 Coordenação motora conhecida como motricidade ampla, é con-
siderada a possibilidade de controle e orga-
Tão importante para a vida das crianças, a nização da musculatura ampla para a reali-
coordenação está presente desde o ato de zação de movimentos complexos, conheci-
andar, correr, saltar, ao ato motor fino de mento e controle do próprio corpo e de suas
pegar um lápis em movimento de pinça para partes (imagem corporal, esquema corporal
escrever algo. e conhecimento corporal), envolvendo prin-
É importante lembrar que, não somente cipalmente o trabalho de membros inferio-
na coordenação motora, mas em todos os res, superiores e do tronco.
itens que compõem o conhecimento de es- Pegar ou lançar uma bola, bater corda, sal-
quemas corporais, as características cog- tar de um arco para o outro são exemplos
nitivas são inerentes ao processo. Você se que para nós são simples, mas para os pe-
lembra de que “não é somente uma perna quenos que estão se desenvolvendo é um
que chuta uma bola”, mas um ser humano desafio que deve ser estimulado de diferen-
por completo em suas características mo- tes formas para sua resolução.
toras, cognitivas, afetivas e culturais.
Já a Coordenação Motora Fina é a capaci-
A Coordenação Motora Global, também dade de controlar pequenos músculos para
exercícios refinados. A motricidade fina é a
142/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
movimentação de pequenos músculos de Para que a criança consiga trabalhar sua
forma ordenada. motricidade fina, é necessário estimular sua
No trabalho psicomotor dentro das escolas motricidade grossa. Como você espera que
de Educação Infantil é importante levar em uma criança tenha um movimento tão es-
consideração a seguinte máxima: “Em ativi- pecífico de pegar um lápis com dois dedos,
dades motoras, comece do amplo e depois se você, educador, não valoriza os movi-
vá ao específico!” mentos amplos como o correr, saltar, pegar,
lançar, amassar, dobrar, entre outros estí-
mulos diversos?
Link Assim, volto a enfatizar: proporcione uma
A importância do Brincar. Disponível em: <ht- grande variedade de movimentos para que
tps://www.youtube.com/watch?v=HpiqpD- os pequenos sejam estimulados a cumprir
vJ7-8> Acesso em: 10 nov. 2016. movimentos específicos.
4. Lateralidade
145/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
cepção do esquema corporal das crianças. brando que atividades são ferramentas
Juntos, formam um grupo de habilidades para ensinar algo) servirá para apresentar
que impulsionam o conhecimento corporal aos alunos todos os itens elucidados neste
das crianças. Talvez você esteja pensando item.
agora: Pegue uma folha de papel que se aproxime
• Na teoria tudo é muito claro, mas do tamanho dos alunos, peça que um aluno
como fazer na prática? se deite nesta folha e que um ou mais alu-
Ainda seguindo a linha de não apresentar nos contorne o seu corpo. Logo após faça o
receitas, mas possibilidades, convido você a inverso, proporcionando que os alunos se
refletir: reconheçam como corpo.
Você quer realizar uma atividade simples, Após o desenho, deixe que as crianças “se
mas muito interessante? Se você nunca re- contemplem”, e proporcione a elas uma
alizou esta atividade, faça, pois o resultado aula teórica, explique o que significa cada
estético e pedagógico é sensacional; agora, pedaço do grande “raio x” do seu corpo.
se já realizou, experimente novamente com A partir daí a prática irá depender do seu
um novo olhar. objetivo, o importante é que o tema central
A atividade que lhe será apresentada (lem- “o corpo humano”, percepção do esquema
146/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
corporal e consciência do seu corpo seja dos alunos.
trabalhado. Após a realização das atividades específi-
cas, quando retornarem à sala, você, educa-
Link dor, pode estimular que as crianças pintem
Trabalho de alunas do 4º ano Magistério (esque- quais partes do corpo foram utilizadas.
ma corporal). Disponível em: <https://www. Percebe como as coisas se encaixam?
youtube.com/watch?v=28DENi4RI2c> Aces-
Finalizando, vale muito a pena dizer que as
so em: 10 nov. 2016.
habilidades citadas neste tema não neces-
Durante as atividades, você pode pensar em sariamente são trabalhadas de forma sepa-
brincadeiras, jogos, ritmos, ou qualquer ou- rada. Você, como educador que não apenas
tra manifestação corporal que contemple reproduz atividades, mas conhece sobre
o equilíbrio, a lateralidade, exploração do seres humanos, terá a capacidade de es-
espaço, vivências a partir da motricidade colher os melhores caminhos para o desen-
grossa ou fina, enfim, de acordo com seus volvimento integral de seus alunos.
objetivos, claro, relacionando com a cultu- A partir de tudo o que foi estudado até ag-
ra corporal do movimento e analisando de ora, suas possibilidades de ter uma ação
acordo com o estágio de desenvolvimento mais eficaz na vida das crianças aumentam
147/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
a cada momento.
Agora você será preparado para valorizar
ainda mais a criança como protagonista
de seu aprendizado; sendo assim, após re-
alizar as atividades deste tema, mergulhe
no próximo, onde será trabalhado um tema
inerente à vida das crianças, o lúdico.
148/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
Glossário
Motricidade fina: É considerada a movimentação de pequenos músculos em ações complexas,
como escrever, por exemplo.
Equilíbrio: Noção de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade.
Sistema muscular: formação pelos músculos esqueléticos, tendões, bandas fibrosas através
das quais os músculos estão unidos aos ossos e às outras estruturas.
149/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
?
Questão
para
reflexão
O aumento da percepção do esquema corporal e consciência do
corpo ocorre a partir de um conjunto de ações no cotidiano escolar
que levam as crianças a serem estimuladas a reconhecer o seu cor-
po, saber diferenciar suas partes e ir além disso, explorar as diferen-
tes possibilidades de ações deste corpo.
Como em todos os itens já trabalhados até este momento, a pos-
sibilidade de uma escola de Educação Infantil desafiadora, com
educadores que medeiam esse processo de aprendizado a partir de
variedades de atividades, é o diferencial no desenvolvimento psi-
comotor dos alunos. Assim, reflita sobre outras atividades que po-
deriam ser realizadas para promover o desenvolvimento global das
crianças.
150/221
Considerações Finais
151/210
Referências
152/210 Unidade 6 • Psicomotricidade e o desenvolvimento motor: percepção do esquema corporal e consciência do corpo
Questão 1
1. A partir do conhecimento de esquema motor, a criança:
153/210
Questão 2
2. Muito importante para construção de esquema corporal e consciência
de corpo, as relações entre perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora
estão intimamente ligadas ao?
154/210
Questão 3
3. Na Educação Infantil, em uma visão psicomotora, a noção de
conhecimento do corpo vai além do conhecimento da nomenclatura de
suas partes, mas sim a partir de:
155/210
Questão 4
4. De acordo com o texto, o conhecimento de distribuição do peso do
corpo em relação ao centro de gravidade é atribuído ao:
a) Esquema motor
b) Equilíbrio
c) Tempo-espaço
d) Lateralidade
e) Coordenação motora fina.
156/210
Questão 5
5. Para o desenvolvimento psicomotor dos alunos na Educação Infantil, é
importante que se leve em consideração:
a) A presença de educador físico, pois a partir de sua formação os alunos conseguirão se de-
senvolver de forma integral.
b) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o
educador tenha formação de psicomotricidade com ênfase na Educação Infantil.
c) Não é necessária a obrigatoriedade de um educador físico, entretanto é necessário que o
educador conheça os principais preceitos da psicomotricidade, tenha em seu poder um ma-
nual de desenvolvimento humano e pelo menos 300 horas de vivências motoras, pois o edu-
cador não pode ensinar aquilo que não conhece.
d) A presença de educador físico é necessária somente em períodos de mentoria, pois no coti-
diano, o educador é capaz de trabalhar com a psicomotricidade, a cultura corporal do movi-
mento e, principalmente, atuar na realidade de seus alunos, valorizando o corpo como fer-
ramenta de desenvolvimento.
157/210
Questão 5
158/210
Gabarito
1. Resposta: D. Oportunizar aos alunos a possibilidade de
exploração do seu próprio, colocá-lo em
O conhecimento de esquema motor vai movimento, pensando nos alunos de forma
muito além do conhecimento das partes do integral (cognitiva, afetiva, motora e cultu-
corpo, principalmente na Educação Infan- ral), é a base de uma formação consistente
til, onde a vivência e a experimentação são utilizando a psicomotricidade na escola.
base para o conhecimento corporal, de sua
imagem e formas de utilizá-lo no cotidiano. 4. Resposta: B.
160/210
Unidade 7
O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Objetivos
161/210
Introdução
Quando conversamos com as pessoas, per- tra boas razões para protagonizar uma boa
cebemos que cada uma possui diferentes brincadeira.
habilidades que a destacam em meio a uma
multidão. Alguns sabem cozinhar muito Em todos os momentos, o livre brincar da
bem, outros produzem artesanato. Você que criança sempre está acompanhado de mui-
está nos lendo, dentre tantas habilidades, to simbolismo, onde a criança é protago-
certamente é um comunicador por excelên- nista na construção do seu conhecimento.
cia. Agora responda: qual a maior vocação É importante dizer que os aspectos cultu-
das crianças? Ou melhor, o que elas melhor rais estão enraizados no mundo do lúdico,
sabem fazer? onde, na maioria esmagadora de vezes, as
brincadeiras são reproduções do mundo em
Certamente você está dizendo, BRINCAR! que ela vive, interagindo com sua realidade
Diferente da forma com que os adultos pen- e, ainda melhor, a ressignificando.
sam, para as crianças brincar é um assun- Freire (2002), em sua obra “O jogo: entre o
to sério que dominam com maestria! Para riso e o choro”, nos relata que quando uma
que as mais impressionantes brincadeiras criança está brincando, para ela não existe
aconteçam, não importa se a criança possui a distinção entre os dois mundos (o mundo
grandes espaços ou não, materiais adequa- real e o mundo da brincadeira), o autor diz
dos ou pura adaptação, ela sempre encon- que enquanto brinca, ela está “realmente”
162/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
vivendo o mundo da brincadeira, totalmen- educadores, podemos (e devemos) ir mais
te envolvida como protagonista no roteiro longe, proporcionar momentos para que as
de sua história. crianças possam explorar o universo lúdico
Quando um adulto (detentor da razão?) in- em toda a sua riqueza.
terfere na brincadeira, como, por exemplo, Dentro das escolas, no planejamento dos
a mãe bloqueando a brincadeira dizendo educadores, deve-se pensar em espaços
que está na hora da criança tomar banho, privilegiados (quando é dito espaço, não
não está interrompendo simplesmente uma significa espaço físico), para que a brinca-
atividade, está retirando abruptamente a deira, o lúdico e a possibilidade de constru-
criança do mundo em que estava inserida. ção de diversos conhecimentos a partir da
A citação acima ilustra o quanto é impor- brincadeira aconteçam.
tante o brincar e o lúdico para a criança. Va- A partir do lúdico, os educadores conse-
mos lembrar que esta é a linguagem mais guem obter informações privilegiadas e em
relevante da criança. Pensando nisso, os primeira mão das crianças, nas quais a sua
adultos muitas vezes esquecem o quanto é conduta a partir disso certamente será mais
importante o brincar e a brincadeira na vida eficaz no processo de desenvolvimento e
das pessoas, temos a obrigação de respeitar construção do conhecimento.
algo tão importante para as crianças, e nós,
163/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Os educadores que fazem isso não propor- 1. O lúdico
cionam um prêmio às crianças que obede-
cem ou cumprem com uma determinada A palavra lúdico tem origem no latim “ludus”,
tarefa, mas utilizam o brincar como parte que quer dizer “jogos” e “brincar”. O lúdico
integrante em seu planejamento de ativi- está relacionado a uma forma de aprendiza-
dades. do prazerosa, na qual a criança demonstra o
Desta maneira, todas as crianças têm a ga- seu jeito de ser relacionado ao contexto so-
nhar, principalmente porque elas são consi- ciocultural em que ela está inserida.
deradas como o centro do nosso processo. Diversos autores valorizam o lúdico como
A partir de agora você terá contato com a parte importante do desenvolvimento dos
origem e definição de lúdico, e a sua impor- seres humanos, dentre eles Piaget (1967, p.
tância dentro da escola, especificamente na 20), que diz: “Por meio de uma atividade lúdi-
Educação Infantil. ca, a criança assimila ou interpreta a realida-
de”.
Bons estudos!
164/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Para Vygotsky (1984, p. 40), “É enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma crian-
ça. É no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual
externa, dependendo das motivações e tendências internas e não por incentivos fornecidos por obje-
tos externos”.
Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual
das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida, sua obra é muito estudada até
os dias atuais.
Foi descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934,
por tuberculose, com apenas 37 anos de idade.
167/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
O objetivo aqui não é defender ou não que
Para saber mais existam brinquedotecas, é sabida a realida-
de de muitas escolas, o objetivo aqui é de-
Os estudos relacionados à importância do brincar
fender fortemente que os momentos lúdi-
e do brinquedo para o desenvolvimento na infân-
cos tenham um espaço privilegiado no coti-
cia vêm crescendo há anos entre os educadores
diano das instituições escolares, favorecen-
pelo mundo. Em 1976, foi realizado em Londres
do a todos os envolvidos neste processo:
o 1º Congresso sobre empréstimo de brinquedos.
Logo após, outros congressos importantes ocor- • Favorecendo aos alunos, que podem
reram, como em 1981, o II Congresso de Brinque- “exercitar” sua habilidade de criar, re-
dotecas, em Estocolmo; em 1987 - Congresso In- criar, reproduzir sua realidade e inte-
ternacional de Toy Libraries, no Canadá; em 1990, ragir com os colegas.
V Congresso Internacional de Brinquedotecas, em • Favorecer aos educadores, pois a partir
Turim, e em 1993, Encontro Mundial sobre o brin- da análise das atividades lúdicas, pos-
car, na Austrália. Fonte: <http://www.pedago- sam conhecer mais seus alunos(as) e
gia.com.br/artigos/importanciadabrinque- assim ser mais assertivos em suas ati-
doteca1/?pagina=1> Acesso em: 10 nov. 2016. vidades.
• Favorecer as instituições educacio-
168/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
nais, pois realmente cumprirão com beça desse garoto? Claro que ele também
seu objetivo de proporcionar possibi- brincará de outras profissões, mas quem
lidades múltiplas de desenvolvimento está mais próximo de seu mundo é o mecâ-
dos seres humanos. nico.
Outra característica importante das ativi-
dades lúdicas dentro da escola é apresenta- Link
da por Vygotsky (1984). Os elementos fun- Vygotsky versus Piaget – Teorias. Disponível em:
damentais da brincadeira são: a situação <https://www.youtube.com/watch?v=N-
imaginária, a imitação e as regras. Segundo QH-e8OOaM8> Acesso em: 10 nov. 2016.
o autor, sempre que brinca, a criança cria
uma situação imaginária onde assume um
papel, que pode ser, inicialmente, a imita- Essas informações são muito importan-
ção de um adulto observado. tes no processo de ensino-aprendizagem!
Quando pensamos em desenvolvimento
Imagine um adulto que possui a profissão
psicomotor, não vemos apenas pernas chu-
de mecânico e seu filho sempre o vê traba-
tando uma bola, ou mãos penteando o ca-
lhando. Quando esse menino estiver brin-
belo de bonecas, nós vemos seres humanos
cando livremente nos momentos lúdicos,
dotados de sentimentos, cultura, desejos
qual profissão você imagina que virá à ca-
169/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
por trás desse ato motor. Com as crianças é tudo mais simples, pois
As atividades corporais, por si só, são capa- elas ainda não assumem diferentes másca-
zes de fazer com que as pessoas mostrem ras sociais, mas se mostram como realmen-
quem “realmente são”. te são. Mas as atividades corporais, princi-
palmente as lúdicas, nos trazem informa-
ções mais profundas do que realmente as
Para saber mais crianças pensam e sentem.
Persona vem do teatro grego, eram máscaras nas Embasados em Teixeira e Figueiredo (1970),
quais um único ator era capaz de interpretar dife- existem inúmeros motivos pelos quais os
rentes personagens. No mundo contemporâneo, educadores (neste caso, na Educação Infan-
utilizamos o termo persona para ilustrar os dife- til) valorizam e utilizam as atividades lúdi-
rentes personagens que vivemos em nosso coti- cas no processo de aprendizagem dos pe-
diano. Quando as pessoas estão em atividades quenos:
corporais, é como se suas máscaras (ou personas)
caíssem e a pessoa mostra quem realmente é. 1 - As atividades lúdicas correspondem
a um impulso natural da criança, e neste
sentido, satisfazem uma necessidade in-
terior, pois o ser humano apresenta uma
tendência lúdica;
170/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
2 - O lúdico apresenta dois elementos quemas mentais. Sendo uma ativida-
que o caracterizam: o prazer e o esforço de física e mental, a ludicidade aciona e
espontâneo. Ele é considerado prazero- ativa as funções psiconeurológicas e as
so, devido à sua capacidade de absor- operações mentais, estimulando o pen-
ver o indivíduo de forma intensa e total, samento e ainda articulando o raciocí-
criando um clima de entusiasmo. É este nio;
aspecto de envolvimento emocional que
o torna uma atividade com forte teor de 4 - As atividades lúdicas integram as vá-
motivação, capaz de gerar um estado rias dimensões da personalidade: afeti-
de vibração e euforia. Em virtude desta va, motora e cognitiva. Como atividade
atmosfera de prazer dentro da qual se física e mental que mobiliza as funções e
desenrola, a ludicidade é portadora de operações, a ludicidade aciona as esferas
um interesse intrínseco, canalizando as motora e cognitiva, e à medida que gera
energias no sentido de um esforço total envolvimento emocional, apela para a
para consecução de seu objetivo. Por- esfera afetiva. Assim sendo, vê-se que a
tanto, as atividades lúdicas são excitan- atividade lúdica se assemelha à ativida-
tes, mas também requerem um esforço de artística, como um elemento integra-
voluntário; dor dos vários aspectos da personalida-
3 - As situações lúdicas mobilizam es- de. O ser que brinca e joga é, também, o
171/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
ser que age, sente, pensa, aprende e se O jogo pedagógico possui as seguintes ca-
desenvolve. racterísticas:
Para que você possa se fundamentar melhor • Grande força pedagógica
em relação ao universo lúdico, é importante
• Objetivo de alcançar um objetivo (ou
saber diferenciar o jogo pedagógico do jogo
objetivos) específico(s)
lúdico. Muitos educadores se veem na obri-
gação de “pedagogizar” todas as atividades • A intenção de provocar aprendizagem
na escola; nesse “desespero educacional”, significativa
os educadores apresentam jogos nos quais • Estimular a construção de novo co-
não podem sair do script inicial! Imagine nhecimento
isso para uma criança da Educação Infan-
til, cheia de vida, imaginação e vontade de • Despertar o desenvolvimento de uma
criar, sendo podada por isso. Na Educação habilidade operatória à intervenção
Infantil, com a grande variedade de aborda- do indivíduo nos fenômenos sociais e
gens e necessidades dos alunos, o equilíbrio culturais e que o ajude a construir co-
é o sucesso. nexões.
Já as atividades lúdicas possuem as seguin-
É importante apresentar algumas diferen-
tes características:
ças entre o jogo pedagógico e o jogo lúdico.
172/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
• Levar o indivíduo ao prazer, O jogo no processo de ensino-aprendiza-
• Estimular a imaginação gem atua a partir de seu caráter desafia-
dor, pelo interesse do aluno e pelo objetivo
• Diversão
proposto, sempre levando em consideração
• Entretenimento a maturidade da criança para superar seu
• Fim em si mesmo desafio, as características culturais dos alu-
• Pode ser reiniciada a qualquer mo- nos e seus principais significados, e nunca
mento. quando o educando revelar cansaço pela
atividade ou tédio por seus resultados. Em
outras palavras, “mate o jogo, antes que ele
Link morra sozinho!”
Exemplo de estudos de jogos lúdicos e peda-
gógicos com o tema meio ambiente. Disponível
em: <http://www.pucpr.br/eventos/educe-
Link
Corpo e movimento na Educação Infantil. Disponí-
re/educere2009/anais/pdf/2012_988.pdf>
vel em: <https://www.youtube.com/watch?-
Acesso em: 10 nov. 2016.
v=TC3RpoTFb1w> Acesso em: 10 nov. 2016.
173/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
O lúdico é uma estratégia insubstituível que O lúdico no processo de ensino-aprendi-
pode (e deve) ser usada como combustível zagem não pode ser um privilégio, mas sim
na construção do conhecimento humano, uma necessidade real, pois leva o educando
pois sua grande força impulsiona o desen- a tomar consciência de si, da realidade e a
volvimento das diferentes habilidades ope- esforçar-se na busca dos conhecimentos,
ratórias, elucida como a criança realmente sem perder o prazer em aprender. É garanti-
é, trazendo informações “limpas” (sem in- do que os alunos que aprendem brincando
terferências) de como a criança realmen- são os mais dedicados, pois internalizam o
te é, quais são seus reais desejos (mesmo processo de aprendizagem de uma maneira
sendo pessoas tão pequenas). Além disso, que poucos fazem, porque vivem o momen-
é uma importante ferramenta de progresso to.
pessoal. Além de todos os benefícios apre- Para tanto, é necessário e urgente habili-
sentados, é importante ressaltar que as ati- tar o educador para que este elemento tão
vidades lúdicas também contribuem para a necessário à formação da aprendizagem do
construção e desenvolvimento da persona- educando possa ser inserido como aspecto
lidade das crianças. indispensável na interação do relaciona-
mento educando-aprendizagem.
174/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Finalizando, vale mais uma vez ressaltar que,
para que o desenvolvimento psicomotor da
crianças, seja ele estimulado pelo lúdico, por
brincadeiras ou jogos direcionados ou por
qualquer outra abordagem, só realmente
acontecerá se o ambiente escolar favorecer
o desenvolvimento dos alunos, incluindo
ao aprendizado a mente das crianças (cog-
nitivo), seus corações (questões afetivas),
sua vida (questões culturais) e seus corpos
(questões motoras). Dessa forma, invista o
seu tempo de estudos e no cotidiano esco-
lar, invista em espaços importantes em seu
planejamento para que este aprendizado
aconteça.
175/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Glossário
Lúdico: Palavra derivada do latim “ludus” que significa “jogos” e “brincar.
Pedagogizar: Prática comum nas escolas de criar caráter de ensino às diferentes práticas do
cotidiano escolar.
Persona: Máscara do teatro grego que possibilitava a um único ator representar inúmeros per-
sonagens.
176/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
?
Questão
para
reflexão
O lúdico na Educação Infantil não é um privilégio, mas um com-
ponente obrigatório dentro das escolas. O lúdico é um mergu-
lho que a criança faz em relação ao mundo da diversão, alegria e
aprendizado.
Os educadores da Educação Infantil devem proporcionar mo-
mentos exclusivos ao lúdico, para que as crianças possam exer-
citar a imaginação e terem a oportunidade do aprendizado em
múltiplas esferas, inclusive na formação da personalidade. Re-
flita porque há propostas educativas voltadas para crianças que
não privilegiam o brincar como centro da aprendizagem.
177/221
Considerações Finais
178/210
Referências
179/210 Unidade 7 • O corpo lúdico e as descobertas por meio de jogos e manifestações culturais
Questão 1
1. O termo lúdico advém:
180/210
Questão 2
2. Para Piaget, por meio da atividade lúdica:
181/210
Questão 3
3. De acordo com o que você estudou no tema, o lúdico deve possuir
espaço no planejamento do educador:
182/210
Questão 4
4. De acordo com o texto estudado, as brinquedotecas nas escolas são:
a) Importantes, pois é uma forma de divulgar os trabalhos da escola.
b) Não são importantes, pois não agregam às questões pedagógicas do cotidiano escolar.
c) Importantes, mas não devem ser tratadas como ambiente pedagógico, mas sim de descom-
pressão das energias das crianças.
d) Não são importantes, pois o lúdico não agrega valor ao desenvolvimento das crianças.
e) Importantes ao desenvolvimento das crianças, sendo assim, devem ser melhor utilizadas,
não só como vitrine da instituição.*
183/210
Questão 5
5. As atividades lúdicas dentro das escolas de Educação Infantil:
a) Favorecem aos alunos que podem reproduzir as atividades apresentadas pelos educadores.
b) Favorecem aos alunos que podem “exercitar” sua habilidade de criar, recriar, reproduzir sua
realidade e interagir com os colegas. *
c) Desfavorecem aos alunos, pois fogem do trato pedagógico necessário para a formação das
pessoas.
d) Favorecem aos educadores, pois enquanto as crianças brincam, pode ser adiantado o preen-
chimento do diário de classe.
e) Favorecem a instituição escolar, pois possuem mais força para negociar com a comunidade
a compra de materiais adequados para a qualidade da educação.
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Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: E.
A palavra lúdico advém de ludus, palavra A brinquedoteca não é apenas um espaço
que vem do latim e significa jogos e brinca- da escola, ou uma vitrine para que as pesso-
deiras. as possam observar, é um espaço rico para
que as crianças possam aprender e viven-
2. Resposta: A. ciar o lúdico.
185/210
Unidade 8
O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
Objetivos
Durante toda a discussão, você teve a opor- Ou ainda, por que valorizar a figura de um
tunidade de perpassar por inúmeras possi- professor de Educação Infantil como al-
bilidades de interação entre criança, corpo, guém que analisa, identifica a cultura de
cultura e conhecimento. Agora é funda- seus alunos e valoriza sua cultura corporal
mental reconhecer e valorizar o trabalho do movimento como marcas importantes e
do educador como agente catalisador de informações inerentes ao processo educa-
todo esse processo de desenvolvimento das tivo?
crianças na fase de Educação Infantil.
Existem inúmeras possibilidades de respos-
Para lhe provocar um pouco mais, responda ta, mas a mais importante é definida de ma-
as perguntas abaixo. neira extremamente simples:
Por que valorizar a figura do professor de
Para mudar a vida das crianças! Tenho certe-
Educação Infantil como alguém capaz de
za de que você tem internalizado que o tra-
reconhecer o corpo da criança como parte
balho pedagógico na Educação Infantil ar-
fundamental do seu desenvolvimento?
ticula de forma indissociável tanto o cuidar
Por que valorizar a figura do professor de como o educar. Estas são faces de uma mes-
Educação Infantil como um alfabetizador ma moeda, logo, um profissional qualificado
corporal? compreende este processo e o respeita na
sua ação com as crianças.
187/210 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
A concepção de educador atualmente vai tacam, pois assumem o papel de consulto-
muito além do simples fato de transmitir res, analisando as principais características
ou ensinar conteúdos, além de avaliar alu- e necessidades de seus clientes e não mais
nos se alcançaram determinado nível de co- apresentam casa, mas sim lares, não ven-
nhecimento ou ministrar determinada aula dem mais imóveis, eles vendem sonhos.
de acordo com sua disciplina. Lembre-se: o Na educação, mesmo com a rejeição de
conteúdo da Educação Infantil, se é que po- muitos, a realidade segue a mesma linha.
demos chamá-lo assim, é o brincar. Os profissionais que estavam acostumados
O mundo atual necessita de pessoas que apenas a “passar conteúdos”, ou se você pre-
atendam diferentes necessidades respei- ferir os termos críticos de Perrenoud (2000,
tando as especificidades e singularidades p. 23), serem meros “dadores de aulas”, hoje
dos indivíduos. Um garçom não é mais a se veem frente às necessidades cada vez
pessoa que serve a refeição aos seus clien- mais complexas e que exigem uma qualifi-
tes, atualmente também é especialista em cação muito mais abrangente e específica
vinhos que harmonizam com a comida; os do que aquela em que os professores que
corretores imobiliários não são mais as pes- ensinaram as gerações anteriores. Assim, é
soas que levam seus clientes para conhece- fundamental que os profissionais da educa-
rem casas, hoje, muitos profissionais se des- ção percebam sua profissão como algo mais
188/210 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
amplo, complexo e dinâmico. Na educação, na; você, especialista em Educação Infantil,
a exigência de sair da sua “zona de confor- está acima de uma abordagem higienista,
to” é imprescindível para uma educação de com todas as suas atribuições relacionadas
corpo inteiro. aos alunos nos âmbitos da higiene, prote-
Educadores “de sala” hoje também são res- ção, estimulando as crianças ao autoco-
ponsáveis pelo desenvolvimento motor das nhecimento. É importante que você pos-
crianças, além disso, devem ser grandes co- sa reconhecer-se como um ser integrante
nhecedores da cultura onde esses alunos de um grupo, reconhecido e valorizado em
estão envolvidos, e acima de tudo, devem seus saberes e práticas. Engajado em de-
conhecer sobre seres humanos, seguindo a senvolver práticas relacionadas à motrici-
máxima de Freire (1997, p. 20), onde diz que dade humana e as principais características
a “criança aprende mentalmente o que faz da alfabetização corporal e da valorização
fisicamente, ou seja, coloque suas crianças da cultura corporal do movimento.
em movimento, não somente para gasta-
rem energia, mas para se desenvolverem”.
Por esse motivo você está aqui, lendo es-
sas palavras e participando desta discipli-
189/210 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
crianças sobre a possibilidade e a capacida-
Link de de se comunicar corporalmente favorece
a práxis do conhecimento humano.
A criança em seu mundo! Mario Sérgio Cortella.
Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=-y1-o_kJ5Kk> Acesso em: 10 nov.
2016.
Para saber mais
O termo práxis é muito utilizado na bibliografia
1. O papel do educador como que trata de questões corporais na escola. Como
o corpo é excluído do processo pedagógico, ou, ao
agente de desenvolvimento da
contrário, as características conceituais são mui-
cultura corporal
tas vezes abolidas das atividades corporais, a pro-
Boa parte das discussões caminha no sen- posta é que corpo e mente, conceitual e atitudi-
tido de que os educadores, além de ensinar nal, conceitual e prática, possam caminhar juntos
os conteúdos teóricos, mesmo que na Edu- rumo ao desenvolvimento integral das crianças.
cação Infantil, estes conteúdos sejam rela-
tivamente flexíveis e perpassados pelo lúdi-
co. A função de ensinar e estimular todas as
190/210 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
Ao mesmo tempo que lhes são atribuídas realmente o educador é “o detentor” do co-
as novas funções, os educadores da Educa- nhecimento única e exclusivamente porque
ção Infantil, muitas vezes, rebatem dizendo possui título “superior” e experiência de
que “não são especialistas na linguagem vida?
do corpo”. Isso é a mais pura verdade, junto
à “falta de muitos não receberam estímu-
los em sua fase escolar, tampouco em sua
Para saber mais
Por muito tempo o educador foi considerado o
formação no Ensino Superior”, mas, mesmo
“mestre”, o detentor do poder, onde cabia aos
assim, são responsáveis por fazerem a me-
alunos apenas escutarem para poderem apren-
diação entre os conhecimentos socialmen-
der algo. Os famosos “tablados ou palcos” no iní-
te construídos e os alunos, aqueles que vão
cio das salas de aula não eram apenas para que o
para a escola aprender o que fora dela não
educador tivesse mais visão da sala, mas também
se aprende.
para demonstrar a sua “superioridade” em rela-
A realidade nos mostra que ensino e apren- ção aos alunos. Com o advento da Escola Nova, o
dizagem estão intimamente ligados, até professor “desceu” e começou a se relacionar com
porque não existe ensino se não houver os alunos no mesmo plano, facilitando assim as
aprendizado. Outra questão inerente é de- conexões e aprendizado.
finir “quem aprende com quem”. Será que
191/210 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
Na temática do corpo, movimento, a cultu- possibilidade de viver uma vida mais ativa e
ra corporal do movimento e principalmen- saudável.
te a importância do professor são os focos O que precisa ser valorizado por nós, educa-
deste último tema. Sendo assim, a missão dores, é um corpo como um movimento que
dos educadores é apresentar e integrar as é uma forma de expressão e aprendizado,
crianças à cultura corporal, ampliando seus devemos pensá-lo não apenas como um ato
conhecimentos e alargando as possibilida- mecânico de reprodução das culturas, mas
des do se movimentar, de interagir com os como uma das pontes mais importantes en-
amigos. tre ser humano/cultura/aprendizado.
Acreditamos que a partir deste olhar, as Enquanto o senso comum, ao avistar crian-
crianças que souberem utilizar seus corpos ças com seus corpos em atividade, pode
e se comunicarem a partir dele terão, prova- imaginar que elas estejam “apenas” brin-
velmente, mais possibilidades de inserção e cando, jogando, dançando ou lutando, nós,
interação social. educadores que conhecemos a psicomotri-
Podemos supor que as crianças e jovens cidade, a cultura corporal do movimento, a
analfabetos corporalmente são excluídos, alfabetização corporal, vemos o espetáculo
marginalizados e pouco compreendem as do desenvolvimento humano acontecendo
relações do corpo em movimento com a e utilizamos as ferramentas aprendidas com
192/210 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
o objetivo de proporcionar um aprendizado a educação é uma construção social e de-
integral às crianças. pende de seus atores, logo, o caminho ide-
Em atividades corporais proporcionadas al para cada turma, cada criança, depende
pelos educadores na Educação Infantil, seja de vivência, do contexto em que elas e você,
no parque, ou no pátio, um dos objetivos educador, estejam inseridos.
é sistematizar e dar intencionalidade a um O ideal é fazer das aulas momentos que va-
jeito de fazer o movimento e a cultura, uma lorizam o corpo na Educação Infantil, guia-
vez que pretende contribuir para que este das por educadores que valorizam o corpo
movimento seja carregado e impregnado como comunicação com o mundo, um es-
de vida, conhecimento, cultura e de um es- paço onde cada criança possa se conhecer
tilo de vida fisicamente ativo e consciente, melhor, conhecer o seu corpo e suas pos-
com crianças que são protagonistas e, por- sibilidades, e, em se conhecendo, que pos-
tanto, construtoras de seu conhecimento. sam ser capazes de fazer suas escolhas, for-
Na prática, muitas são as possibilidades e jando a autonomia necessária para a busca
muitos são os conteúdos de uma possível de uma vida mais recheada pelo prazer do
abordagem, cabe ao educador selecionar “movimento”, de SE MOVIMENTAR.
as melhores para os determinados momen- Dessa forma, o educador atua como faci-
tos do cotidiano escolar. Lembre-se de que litador desse aprendizado, sempre respei-
193/210 Unidade 8 • O trabalho do educador na Educação Infantil: diálogos com as culturas corporais
tando, apoiando e intervindo quando ne- Outra questão importante a ser ressalta-
cessário. da, quando falamos de educadores, é a
O julgamento e intervenção sobre o que é imparcialidade na escolha das atividades.
certo ou errado é outro quesito a ser discu- Lembramos que são ferramentas para que
tido quando refletimos sobre educadores e possamos chegar ao nosso objetivo, mas
sua atuação na Educação Infantil. Devemos inúmeros educadores ditam ou selecionam
nos questionar sobre o que é ser menino, brincadeiras, jogos, danças que fizeram
o que é ser menina, as atividades que são parte do seu cotidiano, atuando como im-
adequadas para cada gênero, atividades posição de uma cultura dominante, caben-
com cunho religioso, atividades culturais, do aos alunos apenas reproduzirem e aca-
entre outros, pois estas são questões com- tarem as regras do professor.
plexas e de fundamental importância no dia Com o objetivo de evitar conflitos, o diálo-