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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE TECNOLOGIA
FACULDADE DE ENGENHARIA QUÍMICA

EQ 01039 – Laboratório de Engenharia Química

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: SÍNTESE DE MATERIAL ZEOLÍTICO A PARTIR DO


CAULIM DE ENCHIMENTO COM FOCO NA ADSORÇÃO

Antônio Lucas Alcantara Modesto


Alex Gabriel Oliveira Ruivo
Dabir Hadassa Yeshuah Miranda Pinto
Hayan Miguel Wariss Reis
Jamilly Nazaré da Silva Maciel

Belém / 2022
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 Caulim

1.1.1 Considerações Gerais

A primeira aplicação do caulim foi na fábrica de cerâmica na china, na cidade de Ching-


teh-chien. No ano 800 a cidade era conhecida por ser um centro de manufaturas de porcelana.
Dessa forma, alguns geólogos chineses afirmam que as mercadorias de porcelanas eram feitas
com briquetes brancos obtidos a partir de pedra pulverizada, produto da alteração hidrotermal
e/ou do impenterismo de rocha felsítica, contendo finos de quartzo, muscovita, feldspato e
caulim (CHEN, et al 1997). Apesar da destruição do caulim no mundo ser abundante, apenas 4
países detêm 95% do caulim total (aproximadamente 15 bilhões de toneladas: Estados Unidos
(53%), Brasil (28%), Ucrânia (7%) e Índia (7%) (MÁRTIRES, 2009).

A palavra caulim foi proposta por Johnson e Blake em 1867 (CHEN, et al 1997). Esse
termo se refere a rocha e ao mineral. Em relação a rocha, significa que o caulim é constituído
principalmente por argilomineral caulinita (Al2O3 2SiO2 2H2O) ou/e um dos minerais do grupo
da caulinita. No mineral, indica o nome do grupo formado por algum argilominerais, como a
caulinita, nacrita, dickita e halloysita. Apesar disso, o mineral mais comum do caulim é a
caulinita (MAIA, 2011).

As principais características do caulim são: quimicamente inerte em ampla faixa de pH,


possui a coloração embranquecida (devido a ao baixo teor de ferro), apresenta um bom poder
de cobertura e carga, além de ser macio e pouco abrasivo. Também tem baixa condutividade
elétrica e de calor (MÁRTIRES, 2009). O beneficiamento do caulim é feito para remover
possíveis impurezas do mineral que podem afetar a suas propriedades. O caulim processado na
usina contém entre 85 a 95% de caulinita contaminado a outros minerais, como a mica, anatásio,
rutilo, quartzo, hematita, zircão e óxido de ferro hidratado (MAIA, 2011).

A indústria em que o caulim é o mais utilizado é a do papel, como agente de enchimento


(filler), durante o preparo do papel, e como agente de cobertura ou coating. Em escala menor,
o caulim é utilizado na fabricação de materiais refratários, tintas, adesivos, cimento, inseticidas,
plásticos, catalisadores, fertilizante, produtos alimentícios e farmacêuticos, gesso e abrasivos.
A produção de zeólitas a partir do caulim vêm sendo bastante estudada por ser fonte de Si e Al
e por conta da proximidade de suas estruturas, sendo uma das mais importantes matérias primas
na produção do material (SANTOS, 2014).
1.2 Formação Geologia

O caulim é resultado de alterações de silicatos de alumínio e podem ser divididos em


duas categorias de depósitos: primário e secundário. Os depósitos primários advêm das
alterações de rochas in situ e são divididas em três grupos: intemperismo, hidrotermal e
solfatara (MAIA, 2011).

Esses tipos de depósitos são encontrados em regiões de clima tropical (quente e úmido),
em vistas que as condições favorecem a decomposição de aluminossilicatos, como os
feldspatos, contidos em rochas, pegmatitos e granitos. Folhelhos e outras classificações de
argila podem modificadas, originado uma mistura constituída de caulinita e quartzo. Em
condições específicas, a reação do feldspato potássio com água, resulta na formação de
caulinita, sílica e hidróxido de potássio (SILVA, 2008). A reação é mostrada a abaixo:

2KAlSi3O8 + 3H2O → Al2Si2O5 (OH)4 + 4SiO2 + 2KOH [1]

No depósito hidrotermal, as alterações da rocha ocorrem por conta da circulação de


fluidos quentes, originado no interior da crosta terrestre. E na solfatara, as rochas são alteradas
pela ação de emanações vulcânicas ácidas, constituídas de vapor de água rico em enxofre
(MAIA, 2011).

Os depósitos secundários de caulim são classificados em três tipos: caulim sedimentar,


areia caulinítica e argilas plásticas, silicosas e refratárias. O primeiro possui alto percentual de
caulinita depois do beneficiamento (maior que 60% em peso), no qual é próprio para indústria
de papel. A areia caulinita contém percentual inferior a 20%, seu beneficiamento tem como
subproduto areia para a construção civil, pois possui baixo valor agregado. Por fim, o terceiro
tipo são essencialmente compostos de caulinita e ilita ou montmorilonita finamente dispersa,
matéria orgânica e baixo teor de ferro. Esse tipo é muito usado na indústria cerâmica
(BRISTOW, 1987; MAIA, 2011).

1.3 Metacaulim

O metacaulim é um material aluminossilicato termicamente ativo, com grande atividade


pozolânica, resultante da calcinação de argilas cauliníticas em temperaturas entre 650°C a
800°C, dependendo da pureza e cristalinidade das argilas. Também, é possível obter através do
tratamento de resíduos da indústria de papel, que é constituído basicamente de um caulim
beneficiado de extrema finura, brancura e pureza (LI et al, 2010; DAL MOLIN, 2005;
VASSALO, 2013).
Com a transformação do caulim em metacaulim, o material ganha propriedade
pozolânicas, se tornando mais reativo. Ademias, passam a apresentar diferentes graus de finura,
coloração variada e superfície específica. Essas características dependem da composição
química do caulim. A figura abaixo mostra três tipos de metacaulim, com diferentes teores de
silícios e alumínio. O primeiro varia de 52 a 58%, o segundo esse percentual é igual a 34% e o
terceiro de 39% (VASSALO, 2013).

Figura 1 - Tipos de metacaulins.

Fonte: Rocha e Vasconcelos (2006).

Em 1959, Brindley e Nakahira, aqueceram metacaulinita advinda da desidroxilação da


caulinita entre 450°C e 600°C, na faixa de 850°C e 925°C e caracterizaram a mudança em sílica
amorfa. Esse processo de desidroxilação se caracteriza por uma reação endotérmica
(EMERSON, 2019).

1.4 ZEÓLITAS

1.4.1 Definições Gerais

A descoberta das zeólitas se deu no ano de 1756 quando o mineralogista sueco Axel
Fredrik Cronstedt detectou a sua ocorrência na estibilta: mineral que cristaliza em cavidades e
fraturas de rochas vulcânicas e que, normalmente, ferve quando em contato com uma chama.
Assim, em menção a esse comportamento, a etimologia da palavra zeólita tem raiz nas palavras
gregas “zeo” e “lithos” que significam, respectivamente, “ferver” e “pedra”. (RIGO et al.,
2009). O magma se solidifica no interior da terra e forma rochas em agrupamento. As
intempéries naturais, como a chuva, temperatura, vento, umidade, desgasta-as. Isso forma
particulados que se depositam em uma depressão ou planície formando diferentes espécies de
zeólitas. (SHINZATO, 2008)

É um mineral do grupo aluminossilicatos hidratados, tetraedros de AlO4 e SiO4, com


elementos pertencentes ao grupo de metais alcalinos e metais alcalinos terrosos. Apresenta
estrutura microporosa, cujo arranjo tridimensional feito de íons de compensação (Na+, Ca2+,
Mg2+, K+ e H2O), moléculas de água ou outros adsorvatos e sais permitem que a estrutura interna
seja maior que a externa. É possível a transferência de material entre os espaços cristalinos
internos, todavia esse processo é limitado devido ao diâmetro dos poros das zeólitas. A
porosidade tem dimensões comparáveis com as das moléculas orgânicas, com aberturas que
variam de 3 a 10. (LUZ, 1994; SOARES, 2010; SILVA, 2012)

Quanto a ocorrência do mineral zeolítico, podem ser de origens naturais, mas também
sintéticas. De acordo com Luz (1995, p. 14), as zeólitas naturais são formadas a partir da
precipitação de fluidos existente nos poros da estrutura, também nas ocorrências hidrotermais
ou pela alteração de vidros vulcânicos. Ele também afirma que diferentes condições de
temperatura e pressão, bem como atividades de espécies iônicas e pressão parcial da água atuam
diretamente na formação de diferentes espécies de zeólitas. Ainda sobre as características das
zeólitas naturais, possuem baixo grau de pureza, sendo isso determinante no uso em tratamento
de águas e efluentes, e na agricultura de alimentos. Por conseguinte, “a maioria dos depósitos
de zeólitas pode ser encontrada em um dos seguintes seis ambientes geológicos: salinos ou
lagos alcalinos, solos alcalinos, diagenético, sistema aberto, hidrotermal e sedimentos
marinhos.” (BERNARDI et al., 2008)

Na atualidade, existem em torno de 50 diferentes espécies de zeólitas naturais que já


foram encontradas e tabeladas em minas ao redor do mundo, no entanto, as mais exploradas
são a clinoptilolita, mordenita, heulandita e phillipsita. Sua ocorrência na natureza é suficiente
para ser considerado como um recurso natural viável. (BERNARDI et al., 2008; SOARES,
2010)

Ademais, as zeólitas sintéticas são produzidas a partir de materiais variados (resíduos


de industrias, argilominerais: caulim, etc.) e submetidas a condições físicas e químicas rigorosas
que possibilitam a formação de estruturas definidas com composições diversas. (SILVA, 2012).
São aplicadas, comercialmente, nos processos catalíticos, adsorventes, peneira molecular e
trocadores iônicos, devido a sua pureza elevada e facilidade em modelar suas propriedades.
(SHINZATO, 2008)

Por fim, as zeólitas fazem parte do grupo de minerais mais abundante na crosta
terrestre e possui larga aplicação, bem como baixo custo comparados a outros processos
tradicionais.

1.4.2 Estrutura e Propriedades

Grecco et al., (2012) ao detalhar a formação estrutural das zeólitas explica que os
tetraedros tridimensionais de formação são interligados entre si com canais e cavidades. O AlO4
e SiO4 se unem através de átomos de oxigênio formando unidades secundarias de construção
que podem se ligar com formas variadas e complexas.

Demonstrativamente, para Luz (1994, p. 6), a configuração da unidade primária tem


átomo central de Si ou Al e os vértices de oxigênio. As unidades secundárias são feitas de
átomos, tendo-se a formação de anéis simples ou duplos de quatro, seis ou oito tetraedros (S4R,
D4R, S6R, D6R, S8R, D8R), como na figura seguinte.

1.

Fonte: Luz, 1994

Os cátions de compensação são íons positivos que no processo de substituição de


átomos de Si e Al da rede estrutural, compensam as cargas negativas geradas. Eles se distribuem
de forma a minimizar a energia livre do sistema. A ordenação da distribuição depende da
temperatura do tratamento térmico, do nível de hidratação da zeólita, bem como das espécies
catiônicas envolvidas. (GRECCO, 2012)
Outrossim, as propriedades gerais das zeólitas são determinantes importantíssimos
no âmbito industrial, tais como: alto poder de adsorção de gases e vapores; alto nível de
hidratação ou até mesmo quando desidratadas possuem características que favorecem o
mercado: baixa densidade, grande volume de vazios e estabilidade da estrutura cristalina.
Também possuem propriedades de troca catiônica, condutividade elétrica e propriedades
catalíticas. Essa última é possível graças a área da superfície elevada, dimensões moleculares
dos poros, canais e cavidades. Quanto as trocas catiônicas, essas se devem ao desequilíbrio de
cargas que atraem o cátion mais próximo a fim de manter a neutralidade. A capacidade pode
ser medida relacionando a quantidade de cátions por unidade de massa e volume (GRECCO,
2012; LUZ, 1994).

1.4.3 Caracterização e Aplicações

No trabalho conduzido por Flores et al, (2016) a caracterização quanto a


composição das zeólitas foi determinada pela técnica de fluorescência de Raios- X (RFX), usou-
se partilhas fundidas e padrões de cinzas de carvão volante. Ainda, segundo Flores et al., (2016),
o método registrado é o ASTM D4326-04 2003.

Segundo Luz (1994, p. 10), a determinação cristalina pode ser feita por raio-x pela
técnica de difração, tanto quantitativa se houver um padrão, quanto avaliações de cristalinidade
por infravermelho. No estudo da morfologia é usada microscopia eletrônica de transmissão
(MET), bem como determinação por varredura (MEV). Para obter informações sobre o estado
das moléculas de água nas zeólitas hidratadas, usa-se espectroscopia de ressonância magnética
nuclear (RMN).

Definitivamente, as principais aplicações, como mencionado em casos anteriores,


são na adsorção e catálise. Portanto, dentre elas temos: remoção de metais pesados por
tratamento de efluentes, remoção de dureza da água, remoção de amônia e íons de resíduos
líquidos, purificação e separação de gases, inativação da atividade de metais tóxicos ou
radioativos do solo.

Aplicados também na produção de fertilizantes e na catálise química da indústria


petroquímica. Vale lembrar que é também bastante usada na indústria de papel e no
beneficiamento de petróleo. (CORIOLANO et al., 2015; LUZ, 1994)

1.4.4 Síntese de Zeólitas


Em relação ao processo de síntese de zeólitas, trata-se de uma reação-cristalização
de multifaces. Envolve, no geral, fases líquidas e sólidas, sendo elas cristalinas ou amorfas,
respectivamente, provindas de hidrogéis: aluminatos e silicatos ou minerais: cinzas e caulins
calcinados. A temperatura de síntese caminha entre 25 e 300 °C.

No geral, as sínteses são realizadas em condições hidrotérmicas que consiste na


mistura das fontes contendo Si e Al com cátions de compensação, sendo esse último o agente
mineralizante, sob condições de pH, tempo e temperatura muito altas com pressão controlada.
Por outro lado, a síntese por calcinação é realizada através da desidratação do caulim: “as
zeólitas são formadas sem aglutinante, onde o caulim pré-formado é convertido "in situ" pelo
tratamento com solução de hidróxido de sódio a 100°C” (MOREIRA, 2013)

Conforme Luz (1994, p. 24), o processo correspondente sintético ao método de


hidrogel pode ser obtido obedecendo processos no qual o silicato de sódio entra em contato
com solução de hidróxido de sódio (acima de 130 °C e pressão de 100 psi) ou pela calcinação
da sílica com carbonato de cálcio. Para o aluminato, a formação ocorre pela dissolução de
alumina tri-hidratada em solução aquosa de hidróxido de sódio formando aluminato de sódio.
Respectivamente, reações [2], [3] e [4]:

SiO4 + 2NaOH Na2SiO3 + H2O [2]

SiO4 + Na2CO3 Na2SiO3 + CO2 [3]

Al2O3.3H2O + 2NaOH 2NaAl(OH)4 [4]

Ainda, de acordo com Luz (1994, p. 25), o aluminato e silicato de sódio formados
nos produtos colocados em solução aquosa de hidróxido de sódio em reação pode formar um
gel amorfo ou de síntese. A zeólita é formada pela cristalização desse gel.

Fluxograma. Síntese hidrotérmica de uma zeólita a partir de hidrogel.


NaOH NaAl(OH)4 aquoso Na2SiO3
aquoso aquoso

(25 °C)
GEL
Na2(AlO2)b(Si02).NaOH.H2O

(25 – 175 °C)

ZEÓLITA Solução Nutriente


Na(AlO2)x(SiO2)y.H2O
sólido

Fonte: Farias, 1999 apud Moreira, 2013, p. 42 (modificado)

1.5 Zeólitas A

A zeólita tio A, em maioria, é sintetizada na forma sódica (NaA) de morfologia


cúbica, tendo o íon Na+ como cátion trocável, uma vez que tem alta capacidade de troca
catiônica quando comparada com outras zeólitas e apresenta uma relação Si/Al igual a 1.
(MAIA et al., 2007)

A estrutura cristalina das zeólitas tipo A pertence ao grupo C4-C4, cujo a formação é
definida por dois modelos de poliedros: um de arranjo cúbico simples e um de geometria de
formato octaedro truncado. O primeiro arranjo é descrito pela união de dois anéis de quatro
tetraedros – a estrutura D4R; o segundo, é formado pela combinação de 24 tetraedros – cavidade
β ou cavidade sodalita. A junção dessa cavidade sodalita pelos quatros lados quadráticos da
estrutura com anéis duplos de quatro tetraedros forma um grande poliedro de cavidade
denominada α (delimitada por 8 átomos de oxigênio). A combinação entre si de ambas
cavidades – α e β, formam a estrutura final da zeólita. (MELO e RIELLA, 2010; RIGO et al.,
2009)
Os diâmetros dos poros dependem diretamente do cátion de compensação da estrutura que,
por sua vez, modifica esses diâmetros efetivos dos poros com base na posição em que ocupa na
estrutura zeolítica. É possível obter outras formas catiônicas de acordo com a solução aquosa
usada na troca (RIGO et al., 2009). Na síntese de forma sódica 4A, quando se substitui o íon
sódio por potássio, a forma cai de 4A para 3A; quando há troca por cálcio, resulta na forma 5A
(MOREIRA, 2013)

É atrativamente requerida nas industrias devido as suas aplicações que são possíveis
graças aos poros efetivos que podem ser variados com a troca de íons, sendo a dimensão deles
dependente do tipo de cátion. (MAIA et al., 2007)

Para Maia et al., (2007), a síntese de zeólita A pode ser descrita em duas etapas: 1)
ativação térmica da caulinita para obtenção de metacaulinita; 2) reação hidrotérmica da
metacaulinita por um meio alcalino aquoso. As reações de síntese da zeólita A a partir do caulim
obedecem a equação química a seguir.

2Al2Si2O5(OH)4 2Al2Si2O7 + 4H2O

(Caulim) (Metacaulim)

6Al2Si2O7 + 12NaOH + 21H2O Na12(AlO2)12(SiO2)1227H2O [5]

(Zeólita tipo A)

1.6 Zeólita sodalita

As zeólitas tipo sodalita são cavidades β das estruturas cristalinas porosas,


descritivamente dita por Braga e Morgon, (2007) contendo 24 átomos T e 6 anéis de 4 membros.
Os anéis de quatro são “fundidos” de maneira a formar eixos cúbicos de conexões. Todo o
aparato estrutural resulta em supercavidades de 11,4 Å de tamanho. Sua combinação com
diferentes unidades de construção pode gerar uma variedade de estruturas zeolíticas com poros
específicos. (SOUZA, 2011)

Pode ser expressa pela formula geral M8[ABO4]6X2, onde M é tido como cátion
monovalente (Na+, Li e Ag+); A e B são espécies com potencial para formar tetraedro (Al e Si)
e X corresponde a um ânion qualquer mono ou divalente. (OCANTO et al., 2005).
1.7 Adsorção

A adsorção é uma operação unitária de transferência de massa, em que estuda a


habilidade de alguns sólidos de concentrar diferentes substâncias (líquida ou gasosa) em sua
superfície, possibilitando a separação dos componentes desses fluídos. Dessa forma, constata-
se que quanto maior a superfície externa por unidade de massa, maior será a adsorção. A
substância que se concentra nas extremidades é conhecida como adsorvato ou adsorbato e a
superfície sólida onde se encontra o adsorvato, se chama adsorvente ou adsorvente
(RUTHVEN, 1984 e NASCIMENTO et al, 2020).

O fenômeno de adsorção é espontâneo em temperatura e pressão constante, pois ocorre


com a diminuição da energia livre superficial (∆G° < 0). Quando a liberdade de translação do
adsorvato diminui durante a adsorção, acarretando no decréscimo da desordem do sistema, a
variação da entropia (∆S°) é negativa. Assim, analisando a equação de Gibbs (equação 2), é
observado que a entalpia do sistema tem que diminuir (∆H° < 0) para que a equação seja
negativa. Ou seja, a adsorção é um processo exotérmico. Contudo há exceções, quando o
adsorvato se dissocia, aumentando a mobilidade de translação na superfície, a adsorção é
endotérmica. Desse modo, o gradiente de entropia é suficientemente positivo para superar a
pequena variação positiva de entalpia (CIOLA, 1981; ATKINS & PAULA, 2008 e EMERSON,
2019).

∆G = ∆H - T∆S [6]

Esse processo possui três mecanismo diferentes: o mecanismo de estérico, mecanismos


de equilíbrio e os mecanismos cinéticos. No mecanismo de separação estérico os poros do
material adsorvente têm dimensões que possibilitam que determinadas moléculas entrem (à
exemplo das zeólitas), excluindo as demais. Para os mecanismos de equilíbrio, têm-se as
habilidades dos diferentes sólidos para acomodar espécies diversas de adsorvatos, que são
melhor adsorvidos, comparado a outros compostos. Por fim, o mecanismo cinético baseia-se
nas diferentes taxas de difusão de diferentes espécies no interior dos poros. Dessa forma, com
o tempo de exposição, a espécie mais rapidamente difundida, sendo preferencialmente
removido pelo sólido (DO 1998; YANG, 2003; NASCIMENTO et al, 2020 e EMERSON,
2019).

1.8 Cinetica de adsorção


A cinética de adsorção pode ser entendida como a taxa de remoção do adsorvato na fase
fluida em função do tempo, envolvendo a transferência de massa de um ou mais componentes
encontrada em uma massa líquida externa para o interior da partícula (VIDAL et al., 2014;
SARMA et al., 2019; FRANÇA, 2016; DOS SANTOS, 2019; NASCIMENTO et al, 2020). A
cinética de absorção, pode ser conduzida das seguintes formas (INGLEZAKIS et al., 2019;
NASCIMENTO et al, 2020):

1) Transferência de massa externa: corresponde na transferência de moléculas da fase


fluida para superfície externa da partícula adsorvente, com auxílio de uma camada de fluído
que envolve a partícula;
2) Difusão no poro: Ocorre através da difusão de moléculas no fluído para o interior dos
poros;
3) Difusão na superfície: Corresponde à difusão das moléculas que foram totalmente
adsorvidas ao longo da superfície do poro.
A primeira etapa de adsorção é afetada pela concentração do adsorvato e pela agitação.
Dessa forma caso haja aumento da concentração do soluto, poderá ocorrer a aceleração da
difusão da solução para a superfície do sólido. A segunda etapa é considerada determinante, em
especialmente quando se refere a adsorventes microporosos. A velocidade de adsorção é
influenciada pela temperatura, pH, força iônica, agitação, dimensionamento da partícula,
distribuição dos poros e concentração inicial do adsorvato (NASCIMENTO et al, 2020).

1.9 Difusão nos poros e difusão no filme

A transferência de massa é um parâmetro importante para o estudo da cinética de


adsorção. À vista disso, o modelo de difusão nos poros pode ser empregado através do balanço
de massa na partícula do adsorvente e na fase fluida. Para encontrar esses parâmetros, os perfis
de concentração obtidos nos ensaios cinéticos e os conhecimentos das isotermas de adsorção
são necessários. O modelo de difusão nos poros admite as seguintes preposições
(NASCIMENTO et al, 2020):

a) O adsorvente deve ser composto de material poroso onde o soluto deve difundir-se;
b) As partículas de adsorvente devem ter formato esférico e com tamanho uniforme;
c) A adsorção é isotérmica e o comportamento de equilíbrio pode ser representado pela
equação de Langmuir;
d) A transferência de massa para o interior dos poros do adsorvente é redigito pelo modelo
da camada limite caracterizado por Kf (coeficiente de transferência de massa).
Esse modelo pode ser representado pelas equações abaixo (COONEY, 1999):

Balanço na fase sólida

𝜕𝐶𝑝 +𝜕𝑞 ∗ 𝜕 2 𝐶𝑝 2𝜕𝐶𝑝 [7]


𝜀𝑝 = 𝜌𝑎𝑝 = 𝐷𝑒𝑓 ( 2 )
𝜕𝑡 𝜕𝑡 𝜕𝑟 𝑟𝜕𝑟

Condições iniciais: t = 0; Cp = 0

𝜕𝐶𝑃
Condições de contorno: r = 0; =0
𝜕𝑟

Balanço na fase líquida

𝜕𝐶𝑃 𝑘
r = R; = 𝐷 𝑟 (𝐶 − 𝐶𝜌 )
𝜕𝑟 𝑒𝑓

Cp: concentração do componente adsorvida (mg.L -1);

q*: capacidade de adsorção teórica (mg.g-1);

Ɛp: porosidade da partícula adsorvente;

kf: coeficiente de transferência de massa no filme (cm.s -1);

Def: difusão efetiva;

ρap: densidade aparente da partícula.

1.10 Tempo de contato

O tempo de contato é de extrema importância para indicar o comportamento cinético da


adsorção para determinado adsorvente em concentração específica do adsorvato. Um exemplo
do efeito do tempo de contato para a adsorção dos íons Cu 2+ no adsorvente de bagaço de coco
em solução sintética a pH = 5,5 e concentração inicial igual a 100 mL-1. Assim, verifica-se a
remoção crescente durante os períodos iniciais de adsorção do Cu 2+ e após 40 minutos ocorre
o equilíbrio preposições (NASCIMENTO et al, 2020).
Figura 1 - Adsorção do Cu2+ em soluções sintéticas (100mg L-1) sobre o bagaço de coco
modificado em função do tempo.

Fonte: Neto et al (2011).

1.11 COBRE

Estima-se que o cobre tenha sido um dos primeiros metais a ser descoberto, há mais de
7000 anos. Sendo muito empregado até hoje, o cobre foi muito importante para o
desenvolvimento de civilizações antigas. Geralmente ele é encontrado na natureza em minerais
calcocita, calcopirita e malaquita. Além de ser um dos constituintes da turquesa, metal bastante
conhecido por sua aparência (RODRIGUES; SILVA e GUERRA, 2012).

O cobre se caracteriza pela sua ductividade, coloração avermelhada e por sua


maleabilidade. Combinado a outros elementos, o cobre apresenta número de oxidação +1, +2 e
+3. Os estados de oxidação +1 e +2 são encontrados em soluções aquosas. O estado +3 é o mais
raro, ocorrendo em poucos compostos, que em geral são agentes oxidantes mais fortes. Esse
elemento. O cobre é essencial para a sobrevivência das plantas e dos seres humanos, em
concentrações baixas. Isso porquê, em altas concentrações adquire propriedades tóxicas. Nos
humanos uma das principais consequências da alta concentração de cobre é o bloqueio do
transporte dos íons Na+ e K+ e substâncias orgânicas (RODRIGUES; SILVA e GUERRA,
2012; CORREIA, 2007 e EMERSON, 2019).

O consumo recomendado de cobre para uma pessoa adulta é de 2 a 5 mg para o bom


funcionamento do organismo. À vista disso, uma das formas de ingestão desse metal é pelo
consumo de água. No Brasil o limite permitido de cobre dissolvido em efluentes é de 0,009
mg/L de cobre para água pertencente a classe 1 e 0,013 mg/L de cobre para água de classe 3
(SILVA e COELHO (2007); EMERSON, 2019). AS classes são divididas como:
Classe 1: águas utilizadas no abastecimento do consumo humano, depois de tratamento
simplificado.

Classe 2: Destinada para o consumo humano, depois de tratamento convencional.

Classe 3: Também pode ser usada para abastecimento humano, após tratamento convencional
ou avançado.
REFERÊNCIAS

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BERBARDI, A. C. C.; MONTE, M. B. M.; PAIVA, P. R. P; WERNECK, C. G.; OLIDORO, J. C.


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