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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA


UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO
DISCIPLINA GEOGRAFIA DO RIO GRANDE DO SUL

CARTOGRAFIA SOCIAL
Janaina Rodrigues Ramos Roese

Santa Maria, RS, Brasil,


2022
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RESUMO
O presente artigo tem por finalidade estruturar práticas cartográficas embasadas na
Cartografia Social, da importância da sua aplicabilidade enquanto ferramenta
pedagógica, sendo um veículo de informação e de compreensão inter e
multidisciplinar. Com base na leitura da obra ATLAS DA PRESENÇA QUILOMBOLA
EM PORTO ALEGRE, especificamente ao capítulo 3 que trata do Quilombo da
Família Silva, o precursor na busca da legalização dos direitos dos quilombolas, da
influência da ação do homem, bem como de outras obras que intermediaram a
construção deste conceito, onde se traz significação ao conteúdo ofertado, no
momento em que o aluno estrutura a cartografia diante dos dados coletados, tais
como: o domínio morfoclimático, as estruturas que compõem a área a ser
cartografada, as cores, os habitantes, os problemas sociais e econômicos,
perfazendo os pilares necessários para a construção do mapeamento social e
temático, promovendo a criticidade, a reflexão e a buscar soluções para os
problemas encontrados.

Palavras-chave: Cartografia Social, Aprendizagem, Significação, criticidade.

INTRODUÇÃO

Atualmente, o estudo quanto a Cartografia Social abrange inúmeras áreas


sociais e de representatividade. Assim Guareschi (2010, p.78) cita que a Cartografia
Social “Está especialmente interessada no fenômeno das representações sociais
que compreende os saberes produzidos na e pela vida cotidiana”. Ao coletar
informações “in loco” dos habitantes naturais do local, estamos construindo o perfil
social e humano do local, com suas perspectivas peculiares e individuais de acordo
com o olhar e a interpretação pessoal de cada entrevistado e assim construindo a
cartografia Social local.

Assim como foram coletados os dados e as informações sociais junto aos


quilombolas que formam os nove quilombos reconhecidos em Porto Alegre/RS, na
obra ATLAS DA PRESENÇA QUILOMBOLA EM PORTO ALEGRE/RS, que destaca
que:
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Memórias, ancestralidades, corporeidades, circularidades e energia vital se


constituem em marcas territoriais vividas e expressas na oralidade das
comunidades quilombolas. (PIRES & BITENCOURT, p.44)

Ao registrar memórias, costumes, ações, cores, clima e peculiaridades locais,


através da Cartografia Social, está se instigando um olhar interpretativo, crítico, e
assim levando ao pensar sobre aquele local ou comunidade. A Cartografia Social
em sala de aula convida os alunos a serem os formadores daquele conhecimento
que faz parte do seu cotidiano e da sua história enquanto partícipe do contexto.

Trazer a realidade em que o aluno está inserido, fazendo com que ele se
perceba parte importante da construção do todo, na Cartografia Social é de extrema
importância. Quando se proporciona a leitura do local ou comunidade, se busca
compreender sua causa e se efeito social ao longo dos tempos desde a sua história,
passando pelo presente e uma previsão do seu futuro. Vieira e Verdum (2017,
p.130):

[...]se admiram as paisagens buscando essencialmente as


sensações que elas nos fornecem pela sua beleza, pela sublimidade,
pelo pitoresco. É uma busca pelas paisagens que são dignas e
serem representadas em uma imagem.

São os movimentos do cotidiano que nos levam a investigar sobre o social


de uma determinada comunidade ou local. Quando se fala em Cartografia Social,
em especial, vamos além de medidas ou números, vamos significando através da
interpretação e da observação, buscando o entendimento da contribuição de
quantos fatores econômicos e sociais contribuem para a sua estruturação. Logo,
apresentar a Cartografia Social como ferramenta para o entendimento conceitual de
uma realidade local de uma comunidade.
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REFERENCIAL TEÓRICO

Cartografia social Conceito

A Cartografia Social é parte do estudo da cartografia que dá ênfase ao


conhecimento social local, onde os seus habitantes têm a possibilidade de cunhar o
perfil do local. Sendo uma ferramenta de muita importância quando tratamos do
planejar e organizar transformar socialmente, com embasamento nas informações
locais.

De fácil interpretação e linguagem local, a Cartografia Social representa a


comunidade ou local de forma territorial, respeitando cada informação coletada
como parte integrante do todo, dentre essas: debates, autorreconhecimento, auto
definição de identidade, proteção e valorização do cotidiano.

Nesta primeira década do século XXI, a geografia, mais do que nunca, coloca
os seres humanos no centro das preocupações, por isso pode ser
considerada também como uma reflexão sobre a ação humana em todas as
suas dimensões. Ela preocupa-se com as inquietações do mundo atual,
buscando compreender a complexidade da forma como ocorre a ordem e a
desordem do planeta. Na realidade, ela é um instrumento de poder para
aqueles que detêm os seus conhecimentos. (CASTROGIOVANNI, 2007, p.
42).

No Brasil, a prática da Cartografia Social surge em 1990, como ferramenta


de transformação social, tendo assim sendo utilizada para a promoção de políticas
públicas. Inúmeras ações de cunho político foram constituídas, dentre elas a
Constituição do Brasil, em 1988.

A Cartografia Social surge para inserir o aluno e o professor à realidade


vivida naquela localidade em específico, onde ambos estão inseridos e fazem parte
do todo, viabilizando possibilidades e contribuindo para a compreensão da
cartografia em sala de aula. Quando o aluno se vê como parte do objeto estudado,
no caso seu bairro, sua localidade, sua cidade, todo este conjunto de informações
corroboram para o sucesso na aprendizagem.
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O perfil social e econômico, as peculiaridades locais, o cotidiano, riquezas e


fragilidades, ideias e conceitos, histórias e vivências locais são elementos que
estruturam a Cartografia Social. Valorizando a bagagem que o aluno traz consigo e
a inserindo neste processo de criação cartográfica, estacando a importância das
suas contribuições, por meio da socialização e da exposição e o diálogo. Tornando o
ensino da Cartografia Social uma ferramenta de autonomia, trazendo o envolvimento
e a formação de pessoas que promovam ações voltadas a buscar transformações
positivas ao local onde estão inseridos.

Domínios Morfoclimáticos

São espaços, regiões, localidades definidas de acordo com aspectos e


características naturais, da junção dos elementos: vegetação, solo, clima, relevo e
hidrografia. Aqui no Brasil existem seis domínios morfoclimáticos: o amazônico, a
caatinga, o cerrado, os mares de morros, as araucárias e as pradarias, que
identificam determinada paisagem. O geógrafo Aziz Ab’Saber, em 1970, classificou-
os para então assim, identificar e classificar as regiões com base nas suas
características predominantes e ocupação humana.

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DESENVOLVIMENTO

Apresentando movimentos e acordo a participação, interpretação, fatores


naturais e bem como sociais e econômicos, a Cartografia Social age positivamente
no que tange a busca de políticas públicas que intercedam e promovam a criticidade
do sujeito enquanto peça transformadora do seu meio. De acordo com esta ideia,
Becker (2012, p.36) relata:

Os conteúdos e os conceitos estruturantes são uma fonte inesgotável


de elementos propulsionadores de situações nas quais o aluno pode
agir e refletir, aprendendo através das ações que ele mesmo realiza
e toma consciência de como as praticou.

Então podemos afirmar que a Cartografia Social é a representatividade da


forma natural do sujeito, ou seja, é o registro dos relatos das emoções, é o norteador
a partir da história contada e vivida, da cultura local, promovendo elaborações que
gerem reflexão ao espaço cartografado, de modo autoral, dinâmico e
contemporâneo.

Após a compreensão do material ofertado: da vídeo aula CARTOGRAFIA


SOCIAL NO ESTUDO E COMPREENSÃO DO TERRITÓRIO, unidade III, leitura dos
capítulos determinados da obra ATLAS DA PRESENÇA QUILOMBOLA EM PORTO
ALEGRE/RS e inspirada no capítulo 3, da referida obra, segue a Cartografia Social
da localidade VILA DO MEL, no distrito do Túnel Verde, na cidade de Balneário
Pinhal/RS.

Localidade: Vila do Mel – Túnel Verde – Balneário Pinhal – RS – Brasil


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Figura 1
Mapa Cartográfico
Balneário Pinhal/RS

Figura 2
Imagem dentro do
Túnel Verde
indicando entrada Vila
do Mel
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Figura 3
Foto tóten Vila do Mel
com prédios históricos
ao fundo

Figura 4
Monumento Abelha
Girl, a defensora do
Mel
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Figuras 5 e 6
Processo e coleta, beneficiamento e envasamento do mel.

Quando se visita a nossa Balneário Pinhal, logo se avista os monumentos


temáticos que representam as abelhas, nos canteiros centrais da cidade.
Reconhecida como a capital Estadual do Mel, por se tratar de referência na
apicultura do RS, nosso município é ponto de encontro da apicultura do RS.
Balneário Pinhal, no Túnel Verde, em especial na Vila do Mel, tornou-se referência e
ponto de encontro de apicultores locais, meliponicultores e estudiosos no assunto,
turistas, veranistas, fabricantes e consumidores.
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A Vila do Mel fica às margens da RS-040, Túnel Verde, Balneário Pinhal/RS.

Figura 7
Apicultor paramentado
realizando a coleta do
mel

Ali encontramos o quiosque e a cabana que incentiva e comercializa o mel


produzido na região. Com prévio agendamento é possível organizar visitação
guiada.

Figura 8
Imagem do Túnel
Verde

A Vila do Mel tem ainda um conjunto de prédios históricos, que datam de 1945
e que foram tombados pelo patrimônio histórico do RS. O primeiro salão de bailes,
onde aconteciam as festas religiosas e comemorativas; a primeira escola chamada
Escola Pinhal, onde estudavam os filhos dos empregados das fazendas e
moradores das redondezas e a primeira Igreja, onde as missas eram celebradas por
um padre, que chegava sempre a cavalo. O monumento Abelha Girl é um
monumento recente que foi adicionado à vila do mel, que visa à proteção do mel, a
valorização do poder do protagonismo feminino.

A localidade Vila do Mel é formada por apicultores, moradores em situação


de grande vulnerabilidade socioeconômica e emocional. Muitos vindouros de outras
localidades onde vivam sem moradias e ali encontraram moradias populares,
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podendo estabelecer residência. A grande maioria das famílias é assistida por


projetos e programas federais, estaduais e municipais. Muitas famílias onde todos
os integrantes não têm trabalho não geram renda, onde o pouco de pessoas que
possui emprego trabalha na apicultura, nas fazendas, em uma fábrica de madeiras
próxima à localidade.

Segue Cartografia Social da localidade Vila do Mel, Túnel Verde, Balneário


Pinhal/RS
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CONCLUSÃO

A ferramenta metodológica de aprendizagem, a Cartografia Social proporciona


ofertar tanto para o corpo docente quanto discente, uma forma diferenciada e
inovadora de apresentar a Cartografia no ensino da Geografia.

Trazer o aluno para dentro do objeto estudado é formatar um agente facilitador


de aprendizagem, tornando o objeto de estudo mais atraente, mais convidativo. A
Cartografia Social insere o aluno na construção dos seus conhecimentos,
valorizando a sua bagagem social e emocional, promovendo a criatividade, a
criticidade, a autonomia e a participação. Compreender-se como parte integrante do
todo faz com que a elaboração de conceitos se dê de forma natural, agindo como
um instrumento de resgate, bem como reforço de identidade e sendo a resultante de
um perfil fiel da localidade ou comunidade em questão, justo que traz o olhar de
quem vivencia aquela realidade.
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REFERÊNCIAS

BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Penso 2012.


199 pg.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Para entender a necessidade de práticas
prazerosas no ensino de geografia na pós-modernidade. In: REGO, N;
CASTROGIOVANNI, A. C; KAERCHER, N. A. (org.s). Geografia: práticas
pedagógicas para o Ensino Médio. Porto Alegre: Artmed, 2007.
GUARESCHI P. (et al) (Org). Representações Sociais em Movimento: psicologia
do ativismo político. Porto Alegre: EDIPURS, 2010. 77 – 91 pg.
SANTOS, D. dos. CARTOGRAFIA SOCIAL: O estudo da cartografia social como
perspectiva contemporânea da Geografia. Revista Geografia e
Interdisciplinaridade. V. 2, n. 6 . p. 273-293, Maio-Agosto de 2016.
VIEIRA, L. de F. dos S. ; VERDUM, Roberto. A Estética da paisagem Cênica,
Pitoresca, e Sublime. In: AZEVEDO, Ana Francisco; REGO, Nelson. (Orgs).
Geografias e (In)visibilidades : Paisagens, Corpos, Memórias Porto Alegre:
Compasso Lugar Cultura, 2017. 452 pg. 129 – 158 pg.
PIRES, Claudia Luísa Zeferino; BITENCOURT, Lara Machado. ATLAS DA
PRESENÇA QUILOMBOLA EM PORTO ALEGRE/RS. Letra 1, 2021, 2v.
SITE OFICIAL, PODER EXECUTIVO DE BALNEÁRIO PINHAL, acesso, 07/08/22

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