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AGOSTINHO AURÉLIO CAMPOS

ELMO SALOMÃO ALVES


NIVALDO LÚCIO SPEZIALI

,
FISICA EXPERIMENTAL
BÁSICA NA UNIVERSIDADE

( EDITORAufmg )
Editoração de textos Ana Maria de Moraes
Revisão e normalização Lílian de Oliveira
Revisão de provas Isadora Rodrigues e Priscilla lacomini Felipe
Projeto gráfico Eduardo Ferreira
Montagem de capa e formatação Luiz Flávio Pedrosa
Produção gráfica Warren M. Santos
Ilustração Altair José Viana e autores

© 2007, Os Autores I © 2007, Editora UFMG

Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

Campos, Agostinho Aurélio Garcia


C198f Física experimental básica na universidade I Agostinho Aurélio Garcia
Campos, Elmo Salomão Alves, Nivaldo Lúcio Speziali. - Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2007.
213 p. : iI. - (Didática)

ISBN: 978-85-7041-588-2

1. Mecânica. 2. Termodinâmica . 3 . Eletromagnetismo. 4. Física .


5. Física - Experiências. 6. Ondas. 7. Ótica. I. Alves, Elmo Salomão.
II. Speziali, Nivaldo Lúcio. III. Série.

CDD: 530
CDU: 53

Elaborada pela Central de Controle de Qualidade da Catalogação da Biblioteca Universitária da UFMG

Este livro recebeu o apoio financeiro da Pró-Reitoria de Graduação da UFMG

Editora UFMG
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SUMÁRIO

Apresentação . . . . . . . . . . . .07

Introdução ao Laboratório de Física. . . . . . . . . . . . 13

EXPERIMENTOS DE MECÂNICA

Densidade de um Líquido. . 33

Constante Elástica de Molas . 35

Colisão Inelástica . . . . . 37

Pêndulo Simples. . . . . . 41

Oscilação de um Sistema Massa-Mola. 43

Deformação Elástica de uma Haste . . 45


"
Módulo de Flexão de uma Haste . . . 47

Deformação Inelástica e Processo Irreversível 49

Atrito Estático . . . . . 53

Movimento de um Projétil. . . . . . . . . 55

Forças Impulsivas. . . . . . . . . . . . 59

Movimentos Combinados de Translação e de Rotação 63

Momento de Inércia . . . . . 67

Movimento Harmônico Simples 69

Pêndulo de Torção. . . . . . 73

Tensão Superficial. . . . . . 77

Movimento Retilíneo com Aceleração Constante. 83

EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

Calor Específico da Água . . . . . . . 89

Equação de Newton para o Resfriamento 93

Lei de Boyle: relação entre a pressão

e o volume de um gás. . . 95

Gases Ideais . . . . . . .
97

Calibração de um Termopar . .101

Calor Específico de um Gás . .107

Determinação da Capacidade Térmica de um Calorímetro


.111

EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Elemento Resistivo Linear


.115

Resistividade Elétrica . .
.119

Resistência Interna de um Voltímetro.


. 123

Análise de Circuitos Elétricos: Regras de Kirchhoff


. 125
Campo Magnético da Terra . . . . . . . .129

Circuito RC . . . . . . . . . . . . . . .133

Campo Magnético no Centro de uma Bobina .137

Lei de Indução de Faraday .141

Diodo Semicondutor . . . . . . . . . . .145

EXPERIMENTOS DE ONDAS

Ondas Estacionárias em uma Corda .155

Ondas Estacionárias em um Tubo .161

Velocidade do Som em Metais .165

EXPERIMENTOS DE ÓPTICA

Interferência e Difração da Luz .173

Interferômetro de Michelson . .181

Lentes e Espelhos . .187

Polarização da Luz . .193

APÊNDICES

Apêndice A - Como Redigir um Relatório . 201

Apêndice B - Valores de Grandezas e Constantes Físicas. . . 203

Apêndice C - Código de Cores para Valores de Resistências . . 204

Apêndice D - Constante Elástica em Associações de Molas .205

Apêndice E - Velocidade do Som em um Gás Ideal. . 207

Apêndice F - O Efeito Seebeck. . . . . . . . .208

Apêndice G - Módulo de Cisalhamento . . . . . . 209

Apêndice H - Medida de Grandezas Dinâmicas

com Aparelhos de Leitura Estática: Valor Eficaz. .211

Sobre os Autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213

.--_ -~_ -::- _ _ ~ - -~.;. _-;o - - ; . ,.

Para o acompanhamento de cursos teóricos e conceituais de Física


Básica, existem vários livros-texto, tanto de autores estrangeiros
quanto brasileiros. Todavia, o mesmo não se pode dizer quanto a cursos
de laboratório e, por isso, é comum as instituições de ensino produ­
zirem seus próprios textos, geralmente em forma de apostilas, que
satisfazem as necessidades das disciplinas experimentais ofertadas
em uma determinada época.
A concepção deste livro é conseqüência de um trabalho realizado
durante vários anos nas disciplinas de laboratório, por grande parte
dos professores do Departamento de Física da Universidade Federal
de Minas Gerais. A partir de um conjunto de roteiros que vêm sendo
elaborados, aprimorados e utilizados nesses anos, fez-se, com incen­
tivo da Pró-Reitoria de Graduação da UFMG, um trabalho de adap­
tação dos textos, quanto ao conteúdo e formato, para a composição da
obra.
N a tarefa de preparação do conjunto dos roteiros escolhidos, pro­
curou-se dar uma uniformização ao formato e ao estilo de redação;
mas, .em alguns deles, ainda se observam características de textos
escritos a várias mãos.
Os roteiros estão escritos de maneira a haver uma independência
de conteúdo entre os experimentos, permitindo-se, assim, que cada
um deles possa ser utilizado isoladamente. Por esse motivo, há casos
de experimentos diferentes que abordam um mesmo assunto e, conse­
qüentemente, seus roteiros podem apresentar alguma semelhança,
especialmente em sua parte introdutória.
Inicialmente, o livro apresenta um texto introdutório cujo objetivo
é disponibilizar para o estudante informações básicas sobre medição,
incertezas nas medidas, construção e análise de gráficos, bem como
sobre apresentação de resultados. Essas informações são necessárias
para que o aluno faça corretamente as medições, calcule as incertezas
envolvidas, faça o tratamento de dados proposto nos roteiros e redija
um relatório com um mínimo de qualidade e rigor científico.
Em todos os experimentos, como pré-requisito geral, supõe-se
que o estudante tenha domínio dos conceitos de Física no nível do
Ensino Médio. Nos experimentos mais complexos exige-se algum
conhecimento de Cálculo só estudado na Universidade. Entretanto,
em qualquer dos casos, procura-se usar um formalismo matemático
tão simplificado quanto possível.
FlslCA EXPERIMENTAL BAslCA NA UNIVERSIDADE

Os experimentos estão reunidos, de acordo com o assunto abordado,


em quatro temas: Mecânica, Termodinâmica, Eletromagnetismo,
Ondas e Óptica. Dentro de cada tema, eles são apresentados em
ordem crescente de complexidade.
Uma característica comum a todos os roteiros é o fato de que seus
textos são autoconsistentes do ponto de vista do conteúdo, seja por­
que os assuntos são tratados usando-se apenas conceitos no nível do
Ensino Médio, seja porque se faz uma introdução com o embasamento
necessário para o bom aproveitamento da atividade prática. Uma vez
ou outra, quando se considera que um formalismo mais detalhado ou
mais aprofundado possa ser interessante para o aluno, remete-se o
leitor a um Apêndice ou é dada uma referência bibliográfica extra.
Essa característica permite que os experimentos possam ser reali­
zados sem o pré-requisito da disciplina teórica de conteúdo correspon­
dente. A vivência nos laboratórios, nos últimos anos , tem mostrado
que , embora aulas expositivas e aulas de laboratório sejam comple­
mentares no processo de aprendizagem de um assunto, a sua ordem
não tem, necessariamente, que priorizar a exposição teórica antes da
atividade prática: se, por um lado, a exposição teórica prévia prepara
o aluno para uma melhor compreensão do conteúdo abordado em um
experimento, por outro, a realização do experimento antes da aborda­
gem do conteúdo em uma aula expositiva ressalta os aspectos feno­
menológicos e inicia o aluno no seu estudo formal ao envolvê-lo com a
aplicação das leis físicas relacionadas.

Proposta de utilização dos roteiros

Como sugestão, faz-se, a seguir, uma proposta de utilização dos


roteiros. O esquema apresentado é, aproximadamente, o utilizado
nas disciplinas de física experimental básica dos cursos de ciências
exatas da UFMG quando da edição deste texto. As atividades atuais
nessas disciplinas estão divididas, por conteúdo, em cinco módulos de
laboratório e podem ser agrupadas em duas unidades com objetivos
distintos.

Unidade introdutória

A unidade introdutória é formada por uma disciplina que tem


duração de um semestre letivo - 15 semanas -, com aulas semanais
de 2 horas e 30 minutos. Essa disciplina tem o objetivo de introduzir as
técnicas de obtenção, tratamento e análise de dados de experimentos de
Física, bem como a apresentação de resultados na forma de relatório.
8
APRESENTAÇAO

Pretende-se que o estudante adquira e desenvolva atitudes corretas


frente a um problema experimental, dando-se ênfase à utilização
de instrumentos de medida, cuidado na aquisição de dados, atenção
para incertezas nas medições, métodos de tratamento numérico de
dados e apresentação final dos resultados. O computador é parte
integrante do laboratório e é sempre utilizado na construção e análise
de gráficos.
Nessa unidade, são realizados experimentos que abrangem
conteúdos distintos de Física Básica - Mecânica, Termodinâmica,
Eletromagnetismo, Ondas e Óptica - respeitando-se seu nível intro­
dutório. Na Tabela 1, os experimentos estão listados numa seqüência
apropriada à unidade e são agrupados em três conjuntos, observando­
se uma evolução na abordagem e na complexidade de um conjunto
para o seguinte.

TABELA 1
Experimentos propostos para uma unidade introdutória

Conjunto I
• Constante elástica de molas

• Densidade de um líquido

• Calor específico da água

• Análise de circuitos - Regras de Kirchhoff

• Resistividade elétrica

Conjunto II
• Módulo de flexão de uma haste

• Pêndulo simples

• Colisão inelástica

• Oscilação de um sistema massa-mola

• Resistêncià interna de um voltímetro

Conjunto III
• Deformação inelástica e processo irreversível

• Velocidade do som em metais

Os alunos desenvolvem as atividades trabalhando em dupla, mas


são avaliados individualmente. Durante um semestre letivo, são rea­
lizados, geralmente, dez experimentos e duas provas que, também,
consistem de experimentos. A avaliação é baseada nos relatórios
apresentados para cada experimento, incluindo os que são realizados
nas provas.
FlslCA EXPERIMENTAL BAslCA NA UNIVERSIDADE

Unidade temática

Essa unidade é composta por um conjunto de quatro módu­


los que abordam os conteúdos de Mecânica, Termodinâmica,
Eletromagnetismo, Ondas e Óptica. Cada módulo é composto por
seis experimentos e uma prova. O agrupamento de dois módulos com
uma aula de introdução forma uma disciplina com duração de um
semestre letivo - 15 semanas, com aulas semanais de 2 horas e 30
minutos.
O objetivo dessa unidade é a aprendizagem dos conteúdos de
Física envolvidos e o aprimoramento dos conhecimentos do aluno
em instrumentação e técnicas de obtenção e tratamento de dados,
Sldquiridos na unidade introdutória. Os experimentos propostos são
mais elaborados e envolvem conteúdos de Física e Matemática em
um nível superior ao do Ensino Médio.
Na Tabela 2, listam-se os conjuntos de experimentos mais apro­
priados para formar cada um dos módulos temáticos.

TABELA 2
Experimentos propostos para os módulos da unidade temática

Mecânica
• Movimento retilíneo com aceleração constante

• Movimento de um projétil

• Forças impulsivas

• Movimentos combinados de translação e de rotação

• Pêndulo de torção

• Movimento harmônico simples

• Tensão superficial

Termodinâmica
• Equação de Newton para o resfriamento
• Determinação da capacidade térmica -de um calorímetro

• Gases ideais
• Calibração de um termopar

• Calor específico de um gás

Eletromagnetismo
• Análise de circuitos - Regras de Kirchhoff

• Campo magnético da Terra

• Circuito RC

• Campo magnético no centro de uma bobina

(continua)

10
APRESENTAs;.Ao

TABELA 2
Experimentos propostos para os módulos da unidade temática
(conclusão)

Eletromagnetismo

• Lei de indução de Faraday

• Diodo semicondutor

Ondas e Óptica

• Ondas estacionárias em uma corda

• Ondas estacionárias em um tubo

• Interferômetro de Michelson

• Lentes e espelhos

• Interferência e difração da luz

• Polarização da luz

Dentro de cada conteúdo, não existe uma ordem preferencial para


a realização dos experimentos. Assim, cada grupo, formado por dois
alunos, pode realizá-los em uma seqüência própria. Essa condição
permite a implementação de um laboratório com montagens fixas
para os experimentos, pelas quais os alunos vão passando durante o
semestre.
A avaliação da disciplina é feita com base nos relatórios dos expe­
rimentos e em provas sobre os conteúdos de física abordados.

Sobre a elaboração do texto

o trabalho de elaboração, adequação e preparação dos manus­


critos e figuras que deram origem a este livro é de responsabilidade dos
autores. Entretanto, o material utilizado como ponto de partida tem
contribuições de um grande número de professores do Departamento
de Física da UFMG - em que se incluem os próprios autores -, que
podem ser divididos em dois grupos:
1) professores que trabalharam recentemente nos conteúdos e
roteiros dos laboratórios de ensino de Física Básica e, portanto, têm
forte influência na sua forma atual: Maria de Fátima Satuf Resende,
Fernando Augusto Batista, Marcus Vinícius Baeta Moreira, Maurílio
Nunes Vieira e Rogério Magalhães Paniago; e
2) professores que, em outros momentos, se envolveram na elabo­
ração de experimentos e de roteiros em muitos dos textos ora apre­
sentados: Árjuna Castelli Panzera, Beatriz Alvarenga Álvares, Carlos
Heitor D'Avila, Domingos Gentil Queirós, Fernando Omar Véas, José
Guilherme Alves Moreira, Márcio Quintão Moreno, Maria Sylvia
11
FlslCA EXPERIMENTAL BASICA NA UNIVERSIDADE

Dantas, Paulo Sérgio Guimarães, Pedro Licínio Barbosa, Regina


Pinto de Carvalho, Sebastião Nascimento de Pádua, Túlio Jorge dos
Santos, Wagner Corradi Barbosa, Vagner Eustáquio de Carvalho.
Deve-se registrar, ainda, a participação de monitores de graduação
que, durante seu estágio, contribuíram para a viabilização de vários
dos experimentos propostos neste livro. Em particular, os monitores
Henrique Martins de Andrade e Anderson Augusto Freitas contribu­
íram, recentemente para a implantação de alguns dos experimentos
apresentados.

Os Autores

12
AVALIAÇÃO E EXPRESSÃO DE MEDiÇÕES
E DE SUAS INCERTEZAS

Introdução

A Física - assim como todas as outras ciências - é baseada em


observações e medições quantitativas. A partir de observações e dos
resultados de medições, são formuladas teorias que podem prever
os resultados de experimentos futuros. Os resultados das medições
realizadas em um experimento indicam as condições em que uma
teoria é satisfatória e até mesmo se ela deve ser reformulada ou não.
Portanto, boa precisão das medições é fundamental para o estabele­
cimento das leis físicas.
Medir é um procedimento experimental em que o valor de uma
grandeza é determinado em termos do valor de uma unidade, estabe­
lecida por um padrão. O resultado desse procedimento - a medida da
grandeza - deve conter as seguintes informações: o valor da gran­
deza, a incerteza da medição e a unidade. Além disso, para que
qualquer indivíduo saiba avaliar ou mesmo reproduzir uma medi­
ção, é importante qualificar o tipo da incerteza que foi indicada, bem
como descrever como foi feita a medição. No Brasil, o sistema legal
de unidades é o Sistema Internacional- SI (ver Apêndice A) -, e as
regras para a expressão dos resultados e das incertezas nas medi­
ções são definidas pela ABNT - Associação Brasileira de Normas
Técnicas - e pelo INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industria}!. Neste texto, apresenta-se um
resumo dessa terminologia, adaptada para ser utilizada em um labo­
ratório de ensino.

Resultado e incerteza de uma medição

Toda medição está sujeita a incertezas que podem ser devidas


ao processo de medição, aos equipamentos utilizados, à influência
de variáveis que não estão sendo medidas e, também, ao operador.

, Guia para expressão da incerteza de medição. 3. ed . Rio de Janeiro: ABNT / INMETRO, 2003.
FlslCA EXPERIMENTAL BASICA NA UNIVERSIDADE

É importante expressar o resultado de uma medição de forma que


outras pessoas o entendam e saibam com que confiança o resultado
foi obtido.
Considere, por exemplo, uma situação em que se deseja medir
o comprimento de um objeto utilizando-se uma régua graduada em
milímetros, como representado na Figura 1. Para isso, diferentes
observadores, um de cada vez, posicionam a régua junto ao objeto
e fazem uma leitura. Eles repetem esse procedimento muitas vezes
e verificam que os valores obtidos, em cada medição, diferem um do
outro. Na Figura 2, apresenta-se a distribuição dos resultados dessas
medições. Nessa distribuição, o valor obtido em cada medição está
representado na abscissa, e cada barra vertical representa o número
de vezes que esse valor foi encontrado.

FIGURA I - Régua, graduada em centímetros, utilizada para medir o comprimento de um objeto.

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Medida (cm)

FIGURA 2 - Distribuição dos resultados das medições do objeto mostrado na Figura 1 com uma régua graduada
em milímetros.

Verifica-se, claramente, que os resultados das medições estão dis­


persos em torno de um valor médio. Apesar de os observadores pode­
rem afirmar que o comprimento do objeto está entre 7 cm e 8 cm, não
se tem certeza sobre o valor da fração adicional no comprimento, por
uma série de razões: o objeto pode não ter contornos bem definidos;
há diferenças entre a posição escolhida, por cada operador, para a .
marca de zero da régua junto ao objeto; a régua pode estar deformada

14
INTRODUÇAO AO LABORATÓRIO DE FlslCA

etc. Observa-se, no entanto, que há um grande número de medidas


próximas ao valor médio e que as medidas mais afastadas desse valor
são menos freqüentes. Sempre que se efetua uma série de medições
de uma grandeza, as medidas apresentam essas características. Isso
é inerente ao processo de medição.
Considere, agora, que o comprimento do mesmo objeto é medido
da mesma forma, porém, utilizando-se uma régua com graduações
de meio centímetro, como mostrado na Figura 3. Nesse caso, o valor
médio do comprimento, obtido a partir de uma série de medições ,
apresenta, aproximadamente, o mesmo valor obtido com a régua gra­
duada em milímetros. No entanto, verifica-se uma maior dispersão
dos resultados, como mostrado na Figura 4. Novamente, isso é uma
característica do processo de medição - nesse caso, a maior dispersão
é devida, principalmente, ao uso de um instrumento que possui precisão
diferente.

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I I
9 10

FIGURA 3 - Régua, graduada a cada meio centímetro, utilizada para medir o comprimento de um objeto,

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Q)
'o

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7,0 7 ,2 7,4 7,6 7,8 8,0 8 ,2 8,4

Medida (cm)

FIGURA 4 - Distribuição dos resultados das medições do objeto mostrado na Figura 3 com uma régua graduada
a cada meio centimetro,

O parâmetro associado ao resultado de uma medição, que carac­


teriza a dispersão de valores atribuídos à grandeza submetida à
medição, é chamado de incerteza da medição.

15
FlslCA EXPERIMENTAL BAslCA NA UNIVERSIDADE

A forma mais comum de se expressar o resultado de uma medição


é a seguinte:

(valor da grandeza ± incerteza da medição) [unidade]

Essa e outras formas comumente utilizadas estão mostradas a seguir:

I. (21,2 3 ± 0,06) mm
lI. 21,23(6) mm
III. 21 ,23(0,06) mm

Conforme já discutido, a incerteza no resultado de uma medição


caracteriza a dispersão das medidas em torno da média, Essa incer­
teza é agrupada em duas categorias, de acordo com o método utili­
zado para estimar o seu valor:

Avaliação Tipo A - a incerteza é avaliada por meio de uma análise


estatística da série de medidas.

Avaliação Tipo B - a incerteza é avaliada por meio de métodos não


estatísticos, por não se dispor de observações repetidas.

Essas considerações são baseadas em padronizações internacio­


nais, estabelecidas com o intuito de se ter um caráter universal de
expressar resultados de grandezas obtidas por medições diretas ou
indiretas.

Avaliação Tipo A

Considere que uma medição foi repetida n vezes, nas mesmas


condições, obtendo-se Xl' X 2' ... x n ' Nesse caso, estabeleceu-se que a
melhor estimativa para a medida é dada pela média aritmética (x)
dos valores obtidos, ou seja,

1 17

(x)=- LXi'
n i=1

e a incerteza padrão da medição é identificada com o desvio padrão u


da média das observações, dado por

1 17 2]li
u= [ n(n_l)t1(X;-(X))

16
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FfslCA

Observações

As distribuições mostradas nas Figuras 2 e 4 são exemplos de uma


distribuição normal ou gaussiana, que é descrita pela função

-
(x-(x) y
1 2u
2

P(x) = J2n e

em que (x) é o valor central ou médio e u é o desvio padrão da


média da distribuição.
Nesse tipo de distribuição, aproximadamente 68% dos valores
encontram-se dentro do intervalo de um desvio padrão em torno
da média; cerca de 95% estão dentro do intervalo de duas vezes o
desvio padrão; e cerca de 99,7% estão dentro de três vezes o desvio
padrão. Isso está representado na Figura 5. Esses intervalos são
chamados de intervalos de confiança.
A incerteza de medição, estimada com base no desvio padrão da
média de uma distribuição normal, tem a seguinte interpretação:
qualquer medida da grandeza tem uma probabilidade de 68% de
estar dentro do intervalo (x) ± u (veja Figura 5).
Na verdade, essa estimativa é confiável quando o número de medições
é muito grande (n > 200). Quando n é pequeno, deve-se multi­
plicar o desvio padrão por um fator de correção conhecido como
coeficiente t-Student, cujo valor depende do número de medições
e do intervalo de confiança desejado. Uma tabela com os valores
desse coeficiente é facilmente encontrada na literatura. Para sim­
plificar, esse tipo de correção não será abordado neste livro.

P(x)

68%

(x) - 3u (x) -2u (x) -u (X) (x) +u (x) +2u (x) +3u X

FIGURA 5 - A probabilidade P do valor x de uma medição estar dentro do intervalo (x) ± u é de 68%.

17
FlslCA EXPERIMENTAL BASICA NA UNIVERSIDADE

Exemplo 1

Considere o exemplo a seguir de uma avaliação Tipo A de incer­


ti (S) (ti -(t))(S) teza.
1 11,31 0,10 Em um teste balístico, são feitas medições do intervalo de tempo
entre o disparo de um projétil e o instante em que ele toca o solo.
2 11,09 0,12
Para isso, utiliza-se um cronômetro digital, com resolução de centé­
3 11,10 0,11 simos de segundo.
4 11,27 0,06 Os valores t., obtidos

para o tempo de queda de cada projétil e os
desvios M i do tempo médio estão mostrados na tabela ao lado:

5 11,18 0,03

Nesse caso, o tempo médio (t) de queda de uma pedra é dado por
6 11,32 0,11
1 n 1
7 11,24 0,03 (t) = - I/i =- (11 ,31 + 11,09 + 11,10 + 11,2 7 + 11,18 + 11,32 + 11,24 + 11,15)
n í~1 8
8 11,15 0,06
(t) = 11,21 s.
(t) = 11,21

A avaliação Tipo A da incerteza u(t) no tempo de queda, estimada


como o desvio padrão da média, é dada por

ln 2]Yz
U =[
n(n -1)
I
i=1
(ÓtJ 0,032 s

u =0,032 s.
Portanto, o valor do tempo t que o projétil fica no ar é

t = (11,21 ± 0,03) s. 2

Avaliação Tipo B

Quando o número de medições realizadas não é suficiente, ou em


situações em que não é prático ou, ainda, quando não é possível se
estimar a incerteza com base em um cálculo estatístico, utiliza-se a
avaliação Tipo B. Essa avaliação baseia-se, normalmente, no bom
senso do operador que, a fim de estabelecer uma incerteza para a
medição, deve utilizar toda informação disponível, por exemplo:
dados de medições anteriores, conhecimento acumulado sobre os ins­
trumentos e materiais utilizados, especificações do fabricante e dados
de calibração dos instrumentos. Portanto, essa avaliação é bastante
subjetiva.

2 Conforme será detalhado posteriormente, sugerimos que a incerteza seja escrita com apenas 1
algarismo significativo.

18
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FrSICA

Em alguns casos, essas informações podem permitlr ao opera­


dor inferir uma distribuição aproximada para as medidas, cujo des­
vio padrão aproximado deve ser usado como uma estimativa para a
incerteza padrão da medição.

Exemplo 2

Considere que um objeto de massa m foi colocado sobre uma


balança que apresentou uma leitura de 93 g. A única informação
disponível sobre a balança era "erro máximo = 4g".
Nessa situação, o resultado da medição da massa do objeto é

m =(93 ± 4)g.
Exemplo 3

Considere que a única informação que um operador tem sobre


uma medição de uma grandeza é que o seu valor se situa entre os
limites x_ e x+. Nesse caso, é aceitável supor que x pode assumir
qualquer valor dentro desse intervalo com igual probabilidade
(distribuição retangular).
Nesse caso, o valor mais provável da grandeza é dado por

x = x+ +x_
2

e a incerteza padrão, estimada como o desvio padrão dessa distri­


buição, é dada por

x+ -x_
u= 2J3

Exemplo 4

Na Figura 6, apresenta-se um voltímetro analógico durante uma


medição. Devido a flutuações na diferença de potencial, observa­
se que o ponteiro do aparelho oscila, aproximadamente, entre
V_ = 12,5V e V+ = 14,OV. Usando-se esses valores como limites
para uma avaliação Tipo B da incerteza nessa medição, obtém-se

v = V+ +V_ =13,25 V
2 FIGURA 6 - Voltímetro analógíco durante uma
e medição de uma tensão elétrica alternada.

u=v+-v­
2J3 =0,43 V

Assim, o resultado da medição dessa diferença de potencial é


(13,3 ± 0,4)V.
19
FfSICA EXPERIMENTAL BASICA NA UNIVERSIDADE

Exemplo 5

Na Figura 7, apresenta-se a tela de um osciloscópio, usado para


medir um sinal de tensão elétrica em um indutor. Deseja-se medir
a tensão pico-a-pico desse sinal. Devido a ruídos no circuito sob
medição, o sinal registrado não é estável. Pode-se estimar que
a tensão pico-a-pico desse sinal oscila, aproximadamente, entre
d_ = 4,3 divisões e d+ = 5,5 divisões. Usando-se esses valores como
limites para uma avaliação Tipo B da incerteza nessa medição,
obtém-se

FIGURA 7 - Sinal observado na tela de um v = d+ +d_ x V = 4,9 divisões x 0, lV/divisão = 0,49 V


osciloscópio. Devido a ruídos, a tensão 2 divisão
pico-a-pico do sinal oscila entre os limites
indicados pelas barras brancas. e

u = d+ -d_ x V =0,35 divisões x 0, lV/divisão = 0,035 V


2-J3 divisão

Assim, o resultado da medição dessa tensão pico-a-pico é


(0,49 ± 0,04) V.

Algarismos significativos

Em toda medição é importante se expressar o resultado com o


número correto de algarismos significativos. Para isso, é preciso
seguir as seguintes regras:
~ os algarismos significativos de uma medida são todos os corretos
mais um duvidoso;
~ o algarismo duvidoso é o que é afetado pela incerteza da medição;
~ os zeros, à esquerda do primeiro algarismo não nulo, antes ou
depois da vírgula, não são significativos - eles apenas servem
para representar a medida em múltiplos ou submúltiplos da uni­
dade;
~ qualquer zero, à direita do primeiro número não nulo, é significa­
tivo;
~ a potência de 10 em uma medida não altera o número de alga­
rismos significativos.

Considere, por exemplo, a medição do comprimento do objeto,


mostrado na Figura 1, em que se utiliza uma régua graduada em
milímetros. Após terem sido realizadas várias medições, calcula-se
a média dos resultados e estima-se a incerteza Tipo A por meio do
desvio padrão, obtendo-se o resultado L = (7,6 ± 0,1) cm, expresso corre­
tamente. Nessa medida, a incerteza incide sobre o algarismo 6, que
é o duvidoso.
20
INTRODU~ÃO AO LABORATÓRIO DE FíSICA

Seria incorreto expressar esse resultado em qualquer das formas


seguintes:

(7,6385 ± 0,1) cm Como a incerteza é de 1 milímetro, não faz


sentido indicar o resultado com precisão maior
que a desse valor, ou seja, os algarismos 3, 8 e 5
não são significativos e não devem ser escritos.

(7 ± 0,1) cm o algarismo duvidoso deve ser aquele sobre


o qual incide a incerteza, portanto, falta um
algarismo significativo no resultado.

(7,6385 ±0,1l78) cm - Nas normas da ABNT, recomenda-se que


a incerteza da medição seja fornecida com,
no máximo, dois algarismos significativos.
Assim, mesmo que o processo de cálculo do
desvio padrão tenha fornecido o valor 0, 1178,
a norma recomenda que ele seja escrito
como 0,1 ou 0,12. Caso se faça a opção por
escrever a incerteza com dois algarismos
significativos, o resultado deve ser escrito
na forma L = (7,64 ± 0,12) cm. Caso o pri­
meiro algarismo abandonado seja igualou
maior que 5, acrescenta-se uma unidade ao
algarismo que permaneceu.

É importante observar que o número de algarismos significativos


no resultado é determinado apenas pela incerteza, e não pelo ins­
trumento utilizado. A incerteza, por sua vez, é inerente ao processo
de medição. Por exemplo, se a régua milimetrada for utilizada na medição
do diâmetro de uma moeda, facilmente obtém-se uma incerteza de
décimos de milímetros. No entanto, se a mesma régua ou uma trena
milimetrada for utilizada para determinar o comprimento de um cor­
redor da escola, dificilmente será obtida incerteza menor que um cen­
tímetro.
O resultado final de uma medição deve ser sempre indicado com
os algarismos significativos consistentes com a incerteza. No entanto,
para se evitar erros de arredondamento, todos os cálculos interme­
diários - cálculos da média, desvio padrão - devem ser feitos com
todos os algarismos disponíveis. Isso significa, por exemplo, que todas
as medidas intermediárias realizadas com uma régua milimetrada
devem ser escritas com todos os algarismos disponíveis, ou seja, até
décimos de milímetros.

21
FISICA EXPERIMENTAL BASICA NA UNIVERSIDADE

Regra de propagação da incerteza

Nem sempre é possível fazer uma medição direta de uma gran­


deza - aquela em que o valor da grandeza é obtido diretamente do
sistema de medição . Muitas vezes, o valor de uma grandeza é deter­
minado por meio de medições de outras grandezas relacionadas a
ela. Nesse caso, diz-se que a medição é indireta.
Considere que uma grandeza Y, que não pode ser medida direta­
mente, é uma função f de N outras grandezas Xl' X 2 , •• • X N ' ou seja,

Y =f (XI ' X 2' ... , X N )

Sejam Xl ± U(X 1), X 2 ± U(X 2), ... X n ± U(X N) os resultados das medições
das grandezas Xl ' X 2 , •. • X N • O resultado y da medição da grandeza Y
é dado por

Exemplo 6a

Deseja-se medir a potência elétrica P dissipada por um resistor


ligado à rede elétrica. Para isso, são feitas várias medições da
resistência elétrica R do resistor e da tensão elétrica V da rede,
determinando-se os valores médios e as incertezas padrão dessas
grandezas. Os resultados obtidos são

R = (2,5 ± 0,3) Q e V = (127 ± 1) V .

A potência elétrica dissipada no resistor é dada por

v 2 127 2
p=-=­
R 2,5

ou seja, P = 6451,6 W.

Como as incertezas em R e em Vafetam o resultado da medição

deP?

A incerteza padrão da medição de uma grandeza obtida dessa


forma, ou seja, por meio de uma medição indireta, é chamada de
incerteza padrão combinada u c , e é determinada por meio da
equação

22
INTRODUÇ.AO AO LABORATÚRIO DE FíSICA

Portanto, a incerteza padrão combinada da variável y é igual à raiz


quadrada positiva da soma dos quadrados das incertezas das medi­
ções das outras grandezas , ponderadas pelo termo (ai/ OXJ 2
Esse termo avalia o quanto o resultado da medição varia com a
mudança em cada grandeza xi"

Observação

A equação anterior é válida apenas quando todas as grandezas de

entrada (x), são independentes umas das outras. Para efeito de

simplificação, o caso em que elas são correlacionadas não será

tratado neste livro.

Exemplo 6b

No Exemplo 6a, como as incertezas em R e em Vafetam o resul­

tado da medição de P ?

A incerteza padrão combinada uc(P) da potência é dada por

Uc(P) = 11
ap)2 2 (ap)2 2
(aV u (V) + aR u (R) .

V2 _
Como, p = - , entao
R

2
oP
-=-,
2V ap = _ V , u(V)=1 V e u(R)=O,3Q,
oV R aR R 2

sendo,

u. (P) J +( ~~~: J
=,{ 2~::7 x(1)' x(0,3)'

uJp)= 781 W.

Portanto, o resultado da medição da potência é

P = (6,4 ± O,8)x10 3 W .

Conforme a dependência da grandeza que se deseja medir com as

grandezas que, de fato , são medidas, a equação para a incerteza

padrão combinada se reduz a formas mais simples, como mos­

trado a seguir.

23
FlslCA EXPERIMENTAL BAslCA NA UNIVERSIDADE

y = f(x p x 2,···,XN) Incerteza padrão combinada u c (y)

y = ax[ +bx2 + ...


(a, b, ... são constantes) Uc (y)=~ a 2 u 2(x[) 2 2
+b u (X 2)+···
y depende linearmente das outras grandezas

u, (y) =
y ~ i=1
f(p, u(x,)
XI
J =

Y = ax IPI -:cP!
2 .•• x NPN u, (y ) ­-
Y
~ ( PI ~
~
J(
+ P2 u(x,)
~
J + ... + (U(X
PN
~
N
) J
A incerteza padrão combinada relativa é igual à raiz qua­
drada positiva da soma dos quadrados das incertezas
padrão relativas das grandezas, ponderadas pelos qua­
drados dos respectivos expoentes.

y =alnx uc(y) =a u(x)


x

y = ae x u(y) = ae Xu(x)

Exemplo 6e

No Exemplo 6a, a incerteza padrão combinada de P pode ser cal­


culada utilizando-se as equações acima .
2

Como p = -V , então

Como, V = 127 V, R = 2,5.Q, P = 6451 ,6 W, u(V) = IV e


= O,3.Q, então,
u(R)

Uc(P)
P
=
,
/(2 x _ l
127
)2+ (~)2
2,5

u c (P)= 781 W,

que é igual ao resultado obtido no Exemplo 6b.


24
INTRODUçAO AO LABORATÓRIO DE FfslCA

APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
EM TABELAS EGRÁFICOS

Tabelas

Os resultados das medições realizadas devem ser apresentados


no formato de tabela. Uma tabela deve conter:

Legenda Inicia-se com a palavra "Tabela", seguida pelo


número que a identifica no texto. Deve conter
uma frase curta, que descreve o que é apresen­
tado na tabela, bem como as variáveis, símbo­
los e abreviações não incluídas no texto;

Cabeçalho - Primeira linha da tabela, que contém os


nomes ou símbolos das grandezas listadas
em cada coluna, com suas respectivas unida­
des e, caso necessário, incertezas padrão;
Conteúdo - Linhas e colunas com os resultados que se
pretende apresentar. Se forem numencos,
devem ter o número correto de algarismos
significativos.

Exemplo 7

TABELA 1

Tensão Ve corrente elétrica I no resistor de resistência R = (SOO ± 3) n

v (V) ± O,lV lemA)

11,3 22,5± 0,3


15,8 31,8± 0,4
19,5 40,0± 0,5
22,7 44,4± 0,5
29,1 59,2± 0,6
38,4 76 ,1± 0,6
42,3 83,8±0,7
50,0 99,3± 0,8

Gráficos

Um gráfico é um recurso extremamente útil para a apresentação


de resultados experimentais, pois permite a visualização dos resul­
tados e da dependência existente entre as grandezas representadas.
Um gráfico deve conter:
25
FfslCA EXPERIMENTAL BAslCA NA UNIVERSIDADE

Legenda - Inicia-se com a palavra "Gráfico" ou "Figura",


seguida do número que o identifica no texto.
Assim como na tabela, deve conter uma frase
curta, que descreve o que é apresentado no
gráfico, bem como as variáveis, símbolos e
abreviações não incluídas no texto;

Eixos Cada eixo - horizontal e vertical - deve


conter o nome ou símbolo da grandeza corres­
pondente, com suas respectivas unidades. As
escalas de cada eixo devem permitir que o
conjunto de dados representado ocupe o maior
espaço possível da área do gráfico. As escalas
podem ser lineares ou logarítmicas, depen­
dendo da variação da grandeza e do tipo de
dependência entre elas que se deseja mostrar.

Exemplo 8

A seguir, representa-se o gráfico das grandezas mostradas na


Tabela 1.

30

20

10

°0~-1~0~2~0~~~~-~~-~~~OO~~7~0~8~0~OO~~1~OO
lemA)

FIGURA 8 - Tensão V versus corrente elétrica I em um resistor de resistência R=(500 ± 3) Q . A reta traçada no gráfico,
obtida por regressão linear, é descrita pela equação V = ai + b, em que a = (506 ± 5) Q e b = (- 0,3 ± 0,3) V.

26
INTRODU.ÇÃO AO LABORATÓRIO DE FfslCA

AJUSTE DE UMA CURVA


AOS DADOS EXPERIMENTAIS

Na Física, a maior parte das análises de dados consiste em se


determinar uma expressão analítica ou um modelo matemático que
melhor descreva um conjunto de resultados experimentais.
, com i = 1, 2, ..., n ,
Suponha que os dados consistem em pontos (x,., y),
e que se deseja determinar os parâmetros a.J de uma função f tal que
f (x., )"" y., para todo i. Isso é feito por meio do método de mínimos
quadrados, no qual se estabelece que os parâmetros que melhor
ajustam uma função aos dados são aqueles que minimizam a soma
dos quadrados das diferenças Yi - f(xJ entre cada ponto Yi dos
dados e o ponto f (Xi )correspondente, gerado pela função. Essa soma
é dada por

11
2

S= IJYi - f(xJ]
i=1

Sejam a.,J em que j =1,2, ... , m, os parâmetros da função que se


deseja determinar. Nesse caso, os valores dos parâmetros que mini­
mizam S são as soluções do sistema de equações

as =0
aa l

as =0
aa m

Exemplo 9

Sabe-se que durante o resfriamento, a variação T na tempera­


tura de um objeto decresce exponencialmente com o tempo t, ou
seja, esse processo é descrito por uma equação do tipo T =ce-k~ O
problema consiste em se determinar os valores mais apropriados
para os parâmetros c e k dessa função, a partir de uma série de
medições (T,, t).
, Na Figura 9, está representado o gráfico de Tem
função de t e, também, o gráfico da função fel) = ce- kt . Com uma
escolha adequada dos parâmetros c e k, obtém-se a equação f que
,
melhor se ajusta ao conjunto de pontos (T, , t).

27
FfslCA EXPERIMENTAL BASICA NA UNIVERSIDADE
--------_._,,-­

30
~

U
~
h 25


20 •

15

10
• ••
•• ••
5 •• •••
••••
O
O 100 200 300 400 500
t (s)

FIGURA 9 - Variação T da temperatura em função do tempo t, enquanto um objeto se esfria. A curva contínua
corresponde à função f = ce-" .

Quando a função f é linear nos parâmetros que se deseja ajus­


tar, esse sistema de equações tem solução analítica. Por exemplo,
a função f(x) = a + bx + cx é linear nos parâmetros a, b> e c, que
2

podem ser facilmente determinados por meio do método de mínimos


quadrados.
Caso contrário, ou seja, se f não é linear nos parâmetros a serem
determinados, o problema se torna mais complicado. No entanto, para
resolvê-lo, existem algoritmos desenvolvidos em vários programas
de computador, tanto comerciais quanto de domínio público. Esse
procedimento é conhecido como ajuste não-linear por mínimos
quadrados.

Regressão linear

Na Física, são muito comuns as situações em que se deseja deter­


minar a equação da melhor reta que se ajusta a um conjunto de pontos
, com i =1,2, ... , n. Esse é um exemplo de ajuste linear de míni­
(x.,, y.),
mos quadrados ou regressão linear.
Considere a reta descrita pela equação

f(x)=ax+b.

Os parâmetros a e b que melhor ajustam essa reta aos pontos


(Xi' y) são os que minimizam a soma S= I[y;-(ax;+b)t Portanto,
esses parâmetros são as soluções das equações

28
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FfslCA

A solução desse sistema de equações é simples, e dela obtêm-se os


parâmetros a e b, ou seja, a inclinação e o coeficiente linear da reta,
respectivamente. Com uma análise mais completa, também podem
ser obtidas as incertezas padrão u(a) e u(b).
Esses resultados são:

2
a=
nI,x;Yi - I, x; I, Y;
ua = S ~ I, xi
nI,x;2 - (I, x; y () (n-2)
2
nI,x -(I,x )
i i
2

b = I,y; -aI,x; S
u(b) = - - - - ; = = = = = = =
n (n-2)~nI,x;2 -(I,x;y

em que S = I'[y; - !(x;)f e ~ varia de 1 até n em todos os somató­


nos.
Há situações em que é possível utilizar o método de regressão
linear para ajustar uma função que não é linear nos parâmetros de
ajuste, desde que seja possível expressá-la em termos de outras variá­
veis de forma a obter uma função linear. Veja o exemplo a seguir.

Exemplo 10

Considere o problema descrito no Exemplo 9, em que se deseja

kl
ajustar a função T = ce- a uma série de medições (T, t) da varia­

ção T na temperatura de um objeto com o tempo t. Nesse caso,

não se pode fazer uma regressão linear, pois a função não é linear,

como mostrado na Figura 9.

No entanto, calculando-se o logaritmo de ambos os termos da fun­

ção, obtém-se

lnT=ln(ce- kl ),

ln T = ln c - kt .

Essa equação pode ser escrita como a equação de uma reta,

Y = at+b

em que Y = InT, a =- k é a inclinação e b = lnc é o coeficiente

linear da reta.

29
FISICA EXPERIMENTAL BAslCA NA UNIVERSIDADE

Assim, ao invés de se fazer um ajuste não-linear por mínimos qua­


drados da função exponencial T = ce- kl aos dados (T.,, t), , faz-se
uma regressão linear com os dados (lnT.,, t), , como mostrado no
gráfico da Figura 10.

FIGURA 10 - Gráfico de ln (T) versus t de um objeto enquanto se esfria. A curva corresponde à equação da reta
ln T = Inc - kt , com os parâmetros c e k determinados por regressão linear.

Dessa regressão linear obtêm-se a inclinação a e o coeficiente


linear b da reta que melhor se ajusta aos dados:

a = (-6,64 ± 0,07) S- l

b= (3,31 ± 0,03)

Portanto,

k =- a =(6,64 ± 0,07) S-l e

c = exp (b) = exp (3,31 ± 0,03) = (27,4 ± 0,8) °C .

30
Os resultados obtidos nas experiências devem ser apresentados
sob a forma de um relatório, cuja finalidade é fazer com que você
aprenda e aperfeiçoe a maneira de se apresentarem os resultados
obtidos em um experimento. O relatório não deve ser uma cópia do
roteiro e deve ser redigido de forma que um colega seu, por exem­
plo, que não tenha feito o experimento e não conheça o roteiro, possa
entender o que foi feito.
Não há uma forma rígida de se redigir um relatório, mas espera­
se que ele contenha, pelo menos, as informações seguintes.

Título da experiência

Autores
Liste os nomes dos membros do grupo.

Objetivos da experiência
Descreva o que se pretende verificar e/ou aprender com o experi­
mento.

Parte experimental e discussão


Este é o item mais importante do relatório. Faça uma introdução
sobre o tema do experimento e descreva os procedimentos experimen­
tais, os métodos de medida e os cálculos envolvidos. Discuta os resul­
tados obtidos e relacione-os com os modelos e métodos empregados na
obtenção deles.
Responda as questões propostas no texto como parte da discussão
dos seus resultados.

Conclusões
Faça um resumo do que foi feito na experiência e dos resultados
finais obtidos, tomando os objetivos iniciais como referência.

Outras observações
~ As medidas sempre devem ser apresentadas em tabelas.
~ Os resultados finais devem ser apresentados em destaque,
com suas respectivas incertezas e unidades - preferencial­
mente no Sistema Internacional (sistema MKS). Exemplo:

L=(12,05 ± 0,02) x 10-2 m


FfslCA EXPERIMENTAL BAslCA NA UNIVERSIDADE

~ Osgráficos devem conter o título geral e os títulos de cada


eixo com as respectivas unidades. Quando houver mais de
uma curva no mesmo gráfico, deve-se adicionar uma legenda.
Escolha escalas adequadas nos eixos de forma que a curva
ocupe toda a escala do gráfico.
~ Nãoé necessário apresentar passos intermediários nos cál­
culos que você realizar com os dados obtidos - é suficiente
que você apresente as equações utilizadas e os valores das
variáveis envolvidas .

202

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