O poema "O Sentimento de um Ocidental" de Cesário Verde é
descrito como um exemplo de "épico moderno" em que o poeta nos mostra as desigualdades sociais de Lisboa contemporânea. O poeta deambula pela cidade, caminha, observa o ambiente e os personagens, deixando traços impressionistas no que vê, ouve, ouve e sente. Aos poucos, percorre a cidade, do cais ao interior, acompanhando o curso da noite, do crepúsculo ao amanhecer. O poema é composto por quatro partes: I - Ave Marias, II - Noite fechada, III - Ao gás, IV - Horas mortas. E vamos analisar a primeira.
Porquê Ave Marias?
Ave Marias representa o final de tarde, momento em que vários fiéis se reúnem para rezar. O sujeito poético começa a sua caminhada pela cidade nesta altura e percorre toda a noite, até às “horas mortas”.
Partes constitutivas do universo Cidade
EU Durante o poema, o sujeito poético refere diversos lugares e zonas da cidade de Lisboa como, as ruas, o rio Tejo, maresia, edifícios com chaminés, via-férrea, edificações somente emadeiradas, boqueirões, becos, cais, trem de praça e o bairro.
Tipos sociais referidos pelo sujeito poético e a sua
caracterização Ao longo do poema o sujeito poético revela uma simpatia solidária para com as personagens populares, destacando-se os calafates, os lojistas e as varinas. Realidade vs. Fantasia Nesta parte do poema é evidente a oposição entre a realidade e a fantasia. O sujeito poético observa uma Lisboa empobrecida e desgastada, despertando nele “um desejo absurdo de sofrer”. Em contradição, exprime o seu desejo de evasão para outros espaços reais: “Madrid, Paris, Berlim, São Petersburgo”. Evoca também outros tempos, tempos gloriosos para Portugal: “Evoco, então, as crónicas navais: / Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! / Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! / Singram soberbas naus que eu não verei jamais!” EU O sujeito poético segue para descrever a cidade à maneira que vai passeando pela mesma, no seu pensamento invoca os sujeitos dos descobrimentos entre eles Camões. Esta evocação das grandezas passadas é contrastada com a realidade que o sujeito poético vive, em que vê muita pobreza, demonstrando o seu espírito antiépico. Recursos Expressivos O sujeito poético utiliza alguns recursos expressivos. Nos versos 14 e 15 usa uma comparação ao dizer: “As edificações somente emadeiradas/ como morcegos, ao cair das badaladas.” Usa também uma metáfora no verso 35: “E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras.” O cardume seriam as pessoas juntas, a dirigirem-se a casa.