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CÁLCULO NUMÉRICO

CÁLCULO NUMÉRICO
O que é o Cálculo Numérico?
O Cálculo Numérico corresponde a um conjunto de ferramentas ou métodos usados
para se obter a solução de problemas matemáticos de forma aproximada. Esses métodos se
aplicam principalmente a problemas que não apresentam uma solução exata, portanto precisam
ser resolvidos numericamente.
O que isso quer dizer? Vamos tomar um exemplo para entender melhor os objetivos do
Cálculo Numérico. Seja um circuito elétrico composto de uma fonte de tensão (uma pilha, por
exemplo) e um resistor. Digamos que desejamos obter a corrente que circula no circuito, dado o
valor da tensão V e da resistência R. O primeiro passo é formular um modelo matemático para o
nosso sistema físico (o circuito), e encontrar a solução do problema representado por esse
modelo.
No caso do circuito, o modelo matemático também é bastante simples. Utilizando-se a
Lei de Kirchoff (não se preocupe com essa lei caso você não a conheça), teremos a seguinte
equação para o circuito:
V  R i  0

Esse é o nosso modelo matemático para o circuito (sistema físico). O modelo apresenta
uma equação bastante simples que tem uma solução exata. Portanto, nosso problema (encontrar
a corrente elétrica do circuito) pode ser resolvido de maneira exata, cuja solução é dada por:
V
i
R
Por exemplo, se V=10 V e R=100 , teremos que i=0,1 a.
Como esse problema tem uma solução exata, não é preciso utilizar os métodos do cálculo
numérico para resolve-lo. Porém, digamos que um outro componente eletrônico seja incluído no
circuito: um diodo semicondutor. Esse dispositivo tem uma curva característica, isto é, a tensão
nesse componente em função da corrente, que é dada por:
kT  i 
v i   ln  1
q  Is 

onde k e Is são constantes, q é a carga do elétron e T a temperatura do dispositivo. Essa equação


corresponde ao modelo matemático do diodo (não se preocupe em entender esta equação, pois
isto é só um exemplo). Portanto, ao se incluir o diodo no circuito, tem-se a seguinte equação
descrevendo o comportamento da corrente elétrica no circuito:
kT  i 
V  R i  ln  1  0
q  Is 

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A inclusão desse novo componente no circuito tornou nosso problema mais complicado e
de difícil solução analítica. O que isso quer dizer? Tornou-se difícil se obter uma expressão para
i, principalmente quando comparado ao caso anterior, quando tínhamos simplesmente i=V/R.
Como resolver esse problema então? Como obter o valor de i? A solução está na
utilização de métodos numéricos.

A importância do Curso de Cálculo Numérico


Ao resolver um problema matemático numericamente, o mais comum é o profissional utilizar
um pacote computacional. Porém, ele terá que tomar uma série de decisões antes de resolver o
problema. E para tomar essas decisões, é preciso ter conhecimento de métodos numéricos. O
profissional terá que decidir:
 Pela utilização ou não de um método numérico (existem métodos numéricos para
se resolver este problema?);
 Escolher o método a ser utilizado, procurando aquele que é mais adequado para o
seu problema. Que vantagens cada método oferece e que limitações eles
apresentam;
 Saber avaliar a qualidade da solução obtida. Para isso, é importante ele saber
exatamente o que está sendo feito pelo computador ou calculadora, isto é, como
determinado método é aplicado.

Tipos de Erros
O erro cometido ao se calcular o valor de 2 , por exemplo, é apenas um tipo de erro que
pode surgir ao se resolver um problema real. Outros tipos de erros também podem aparecer
devido a outros tipos de problemas ou limitações.
A solução matemática de um determinado problema envolve diversas etapas. A solução
do problema se inicia com a criação de um modelo matemático do sistema em questão. Esse
modelo sempre apresentará aproximações e limitações. Além disso, na grande maioria das vezes,
dados experimentais serão utilizados para se obter a solução. Como toda medida experimental
apresenta uma incerteza, a solução do problema será influenciada pelas mesmas. Portanto, logo
de início, existem diversos fatores que introduzem incertezas na solução numérica do problema.
Esse tipo de erro é chamado de erro inicial.
O problema discutido cálculo de 2 , que se refere a inevitável limitação na representação
de números irracionais (por exemplo), introduz erros no resultado. Esse tipo de erro é chamado
de erro de arredondamento.

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Vamos considerar um outro tipo de problema prático que pode surgir ao realizarmos
determinadas operações. Digamos que precisamos calcular o valor de ex. Mais uma vez, iremos
utilizar uma máquina digital (calculadora ou computador). Como esse equipamento irá realizar
essa operação? Sabemos que a exponencial é uma função que pode ser representada por uma
série infinita dada por:

x2 x3 xn xn
ex 1  x     
2! 3! n! n 1 n!

e na prática é impossível calcular seu valor exato. Portanto, mais uma vez, teremos que fazer
uma aproximação, que levará a um erro no resultado final de ex. Neste caso, faremos um
truncamento dessa série, e o erro gerado no valor de ex é chamado de erro de truncamento.

Cálculo de Raízes de Funções

Introdução
O cálculo de raízes de funções encontra uso na obtenção da solução de uma ampla gama
de problemas de engenharia. Usualmente, a forma analítica de problemas matemáticos y = f(x)
requer o conhecimento dos valores da variável independente x para os quais f(x) = 0. Por
exemplo, considere a função f(x) = ax² + bx + c, que é um polinômio de 2º grau com
coeficientes a, b, e c, que possui duas raízes. Essas raízes podem ser determinadas pela
conhecida fórmula de Baskhara:

 b  b 2  4.a.c
x 
2.a

Para uma equação particular f(x) = x² - 5x + 6, temos que a = 1, b = -5 e c = 6, resultando


na solução:

 (5)  (5) 2  4.1.6  (5)  (5) 2  4.1.6


x1  3 x2  2
2.1 2.1

Substituindo-se o valor das raízes na expressão de f(x) = x² - 5x + 6, veremos que tanto


x1, quanto x2 fazem com que esta função se anule, ou seja, que f(x1) = 0 e f(x2) = 0. As equações
polinomiais também conduzem a soluções cujo domínio seja o dos números complexos. Por
exemplo, a equação de 2º grau f(x) = x² - 2x + 2 apresenta as seguintes raízes:

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 (2)  (2) 2  4.1.2  (2)  (2) 2  4.1.2


x1   1 i x2   1 i
2.1 2.1

Sendo que i   1
Na prática, nem sempre um problema pode ser equacionado na forma de uma função que
possui uma solução analítica como a função de 2º grau. As funções transcendentes, por exemplo,
não possuem fórmula analítica para o cálculo das raízes. Nesses casos, pode-se calcular as raízes
através de dois métodos:
 Método da Dicotomia ou Bisseção
 Método Iterativo de Newton-Raphson

Método da Bisseção

O método da bisseção é um método conceitualmente simples e baseia-se na idéia de


"cercar" a raiz xR por dois valores: um à esquerda da raiz (xE) e outro à direita (xD), formando
um intervalo que vai ser continuamente reduzido até que a largura final do intervalo seja tão
pequena quanto o erro absoluto da raiz. A redução contínua da largura do intervalo é feita
dividindo-se o intervalo em dois e definindo um valor médio (xM) pela fórmula:

( xE  xD )
xM 
2

O valor médio (xM) estabelece dois sub-intervalos: um, entre (xE) e (xM), outro entre (xM)
e (xD). A raiz (xR) estará em um dos dois sub-intervalos. Para determinar em qual dos dois sub-
intervalos está localizada a raiz, calculamos f(xE), f(xD) e f(xM) e realizamos a seguinte
comparação:
Se o sinal [f(xM)] = sinal[f(xE)], então
xR está no intervalo [xM; xD], senão
xR está no intervalo [xE; xM].

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Exemplo:
Método da Bisseção para o caso do valor xM estar localizado à esquerda da raiz xR.

Determinado em qual dos dois sub-intervalos está localizada a raiz, atribui-se o valor de
xM ao valor de xE ou xD. Uma vez estabelecido o novo intervalo [xE; xD], repete-se o cálculo do
valor de xM e aplica-se novamente o teste para verificação do sub-intervalo em que está
localizado a raiz. Atribui-se o valor de xM ao valor de xE ou xD, e redefine-se o novo intervalo.
Os cálculos e testes se repetem até uma determinada variável alcançar um critério de
convergência: xE  xD  

A este procedimento de cálculo automático denomina-se ITERAÇÃO (não confundir


com interação, que tem outro significado) ou cálculo iterativo, que se baseia na repetição de
cálculos à partir de valores iniciais arbitrariamente estabelecidos.

Exemplo:
1-) Vamos ilustrar a aplicação do método da Bisseção no cálculo da raiz da função f ( x)  e x  3x
localizada no intervalo [0; 1], com erro de 10-5.
Solução
A função, f ( x)  e x  3x , possui duas raízes, sendo que será calculada a raiz localizada no intervalo [0; 1].
Assim, esses valores serão os valores iniciais de xE ou xD. Como o erro é 10-5, vamos apresentar os resultados do
cálculo com cinco casas decimais na tabela. A 1ª coluna contém o contador do número de iterações, denotado pela
letra i.
Os conteúdos das outras colunas estão identificados pelo nome das variáveis na 1ª linha.

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Resultado do cálculo da raiz da função f ( x)  e x  3x no intervalo [0; 1], pelo método da Bisseção.

A raiz calculada após 18 iterações, com erro igual a 10-5, é igual a 0,61906,

Método Iterativo de Newton-Raphson

O método de Newton-Raphson é um método numérico iterativo para o cálculo de raiz de


uma função f(x). A fórmula para o cálculo iterativo pode ser obtida através da aproximação de
uma função f(x1) em torno de um ponto x0 por uma série de Taylor de 1º grau:
f ( x1 )  f ( x0 )  f ' ( x0 ).( x1  x 0 )

Se considerarmos que o valor de x = x1, está próximo à raiz, então podemos considerar
f ( x0 )
que f ( x1 )  0 , de modo que podemos escrever a equação na forma: x1  x0 
f ' ( x0 )

À partir de x1 podemos calcular um novo valor x2 mais próximo ainda da raiz através da
mesma aproximação anterior:
f ( x 2 )  f ( x1 )  f ' ( x1 ).( x 2  x1 )

Se prosseguirmos, podemos escrever uma equação geral para o cálculo de x na iteração


i+1 à partir do valor de x, f(x) e f’(x) em x = x0:
f ( xi )
xi 1  xi 
f ' ( x1 )
Este cálculo, denominado de cálculo iterativo, é realizado até que o critério de
convergência seja satisfeito: xi 1  xi  

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Exemplo
1-) Vamos calcular novamente a raiz da função f ( x)  e x  3x localizada próxima ao valor x = 0
pelo método iterativo de Newton-Raphson. A tabela apresenta os valores calculados.

A raiz calculada após 4 iterações é igual a 0,61906 com erro menor do que 10 -5. Comparando-se este resultado
com o obtido pelo método da bisseção, observa-se que a convergência do método da bisseção foi muito mais lenta
do que a do método de Newton-Raphson. Isto deve-se ao fato que o método da bisseção apresenta erro
proporcional ao intervalo |xE – xD|, isto é, de primeira ordem na variável x, ao passo que o método de Newton-
Raphson apresenta erro de segunda ordem sobre a variável x.

Dificuldades no Cálculo de Raízes pelo Método de Newton-Raphson


O método de Newton-Raphson apresenta dificuldades no cálculo de raízes de funções
polinomiais que apresentam pontos de mínimos e/ou máximos na vizinhança da raiz, como
mostrado na figura abaixo:

No exemplo, a função f(x) = 3x3 – x2 – 4x + 5 é uma função polinomial de 3º grau que


possui apenas uma raiz real (x = -1,42433) e duas raízes complexas. O gráfico cartesiano x-y
mostra somente a raiz real e mostra também que a função possui um ponto de máximo local em
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x -0,57 e um ponto de mínimo local em x 0,79. Para exemplificar o problema da


convergência do método de Newton-Raphson, vamos calcular a raiz real empregando o método
de Newton-Raphson com x0 = 5.

Por causa da presença de pontos de mínimo e máximo na vizinhança da raiz observa-se que o
método de Newton-Raphson apresenta uma convergência lenta, principalmente quando o valor
calculado de xi+1 cai na região compreendida pelos pontos de mínimo e máximo (iteração 22)
para a qual f’(x) 0.

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Exercícios propostos:
1-) Encontre pelo menos uma das raízes para f(x) = 0, empregando o método da Bisseção e o
método de Newton-Raphson:
a-) f ( x)  2 x 3  l n( x)  5 , no intervalo de [1; 2].
b-) f ( x)  2 x  sen( x)  4 , no intervalo de [-3; -2].
c-) f ( x)  2 x  cos(x) , no intervalo de [0; 1].
d-) f ( x)  x 3  5 x 2  x  3 , no intervalo de [-2,44; -0,38].
e-) f ( x)  x  l n( x) , no intervalo de [0,5; 0,6].

Resolução de Equações pelo Método de Newton-Raphson


1-) O volume de um recipiente em forma de semi-esfera de raio R e que contém um líquido até

uma altura h, é dado pela fórmula V   .h 2 .(3R  h) . Calcule, com 3 casa decimais exatas, o
3
valor de h quando R = 5 m e V = 60 m3.

60  .h 2 .(3.5  h)
3
180  15 .h 2  . .h 3 (dividir toda a equação por )
57,295  15h 2  h 3

f (h)  h 3  15h 2  57,296

f ' (h)  3h 2  30h

testar
h f(h) i hi f(h) f’(h) hi+1
0 + 0 2,5 -20,829 -56,250 2,130
1 + 1 2,130 -1,094 -50,289 2,108
2 + 2 2,108 -0,008 -49,909 2,108
3 - 3 2,108
Então, [2; 3].
23
h  2,5
2
Altura h aproximadamente 2,108 metros.

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Taxas de Juros
Em Matemática Financeira existe um modelo de financiamento chamado Sistema Price,
que se caracteriza por terem as prestações o mesmo valor nominal. A equação do Sistema Price
é:

f ( x)  k . x n 1  (k  1) . x n  1

VF
k
PM
VF = Valor Financiado
PM = Valor das Prestações Mensais
n = número de prestações mensais
i = taxa mensal de juros (% ao mês)
x=1+i
i=x–1

2-) Use a equação f ( x)  k . x n 1  (k  1) . x n  1 para encontrar a taxa mensal (i a.m.) de juros


do financiamento. Sabendo que uma mercadoria de R$ 20.000,00 foi financiado com R$
2.850,00 de entrada, e o saldo em 8 parcelas mensais fixas de R$ 2.526,26. Suponha que a taxa
esteja entre 1% e 10%.
Testar f ( x)  6,7887 x 9  7,7887 x 8  1

x f(x) f ' ( x)  61,0983 x 8  62,3096 x 7

1,1 +
i xi f(x) f’(x) xi+1
1,05 +
0 1,0350 -0,0039 1,1796 1,0383
1,04 +
1 1,0383 0,0004 1,4691 1,0380
1,03 -
2 1,0380 0,0000
Então, [1,04; 1,03].
1,04  1,03
x0   1,035
2
20.000  2.850
k
2.526 ,26

k  6,7887

i=x–1
i = 1,0383 – 1 i = 3,8 % a.m.

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Exercícios propostos:

1-) Uma moto foi comprada por R$ 18.000,00 com R$ 4.000,00 de entrada e saldo em 5 parcelas
mensais fixas de R$ 3.162,47 (Sistema Praice). Calcule a taxa mensal de juros do financiamento.

2-) Achar a taxa de juros para um financiamento de R$ 100.000,00, pagos em 3 prestações de R$


64.058,00, sem entrada.

3-) Um terreno custa R$ 202.000,00 (à vista); à prazo, é vendido com 25% de entrada e o saldo
em 4 parcelas iguais de R$ 92.751,00. Calculara taxa de juros.

4-) O aquecimento de uma caldeira obedece a equação T = ln(t+1)+5t . Em quanto tempo ela
atingirá a temperatura T=30º? Usar o Método de Newton-Raphson e duas casas decimais de
precisão. Há no mínimo uma raiz no intervalo [4, 7]

5-) Em estequiometria industrial, aparece uma equação do tipo f(x) = 26,04.ln(x) - x - 51,44. Use
o método de Newton Raphson para achar o valor de XR, sabendo que a raiz é maior que 48.

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