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SOCIOLOGIA

Profª M.a. Gleicy Schommer dos Santos


Outubro de 2022

Aula 11 – Estratificação e Classe Social


2º ano
ESTRATIFICAÇÃO E CLASSE SOCIAL

• Estrutura social é o que define determinada sociedade. Ela se constitui da relação de vários
fatores: econômicos, políticos, históricos, sociais, religiosos, culturais.

• Uma das características da estrutura de uma sociedade é a sua estratificação, ou seja, a sua
organização em estratos (camadas) sociais e o modo como ocorre a mobilidade de um nível para
outro.

• A estratificação social e as desigualdades decorrentes são produzidas historicamente, ou seja, são


geradas por situações diversas e se expressam na organização das sociedades em sistemas de castas,
de estamentos ou de classes.
AS SOCIEDADES ORGANIZADAS EM CASTAS

• O sistema de castas é uma configuração social de que se tem registro em diferentes tempos e lugares.
No mundo antigo, há vários exemplos de organização em castas (Grécia e China por exemplo), mas é na
Índia que está a expressão mais acabada desse sistema.

• A sociedade indiana começou a se organizar em castas e subcastas há mais de 3 mil anos, adotando
uma hierarquização baseada em religião, etnia, cor, hereditariedade e ocupação. Esses elementos
definem a organização do poder político e a distribuição da riqueza gerada pela sociedade. O sistema
sobrevive por força da tradição, pois legalmente foi abolido em 1950, e hoje o sistema de castas é mesclado
com a estrutura de classes.

• Quem nasce numa casta não tem como sair dela e passar para outra, não há, portanto, mobilidade
social nesse sistema.
AS SOCIEDADES ORGANIZADAS POR ESTAMENTOS

• O sistema de estamentos ou estados constitui outra forma de estratificação social. A


sociedade feudal organizou-se dessa maneira.

• Na França, por exemplo, no final do século XVIII, havia três estados: a nobreza, o clero e o
chamado terceiro estado, que incluía todos os outros membros da sociedade – comerciantes,
industriais, trabalhadores urbanos e camponeses, etc.

• Para compreender os estamentos, é indispensável compreender o modo pelo qual


categorias tais como tradição, linhagem, vassalagem, honra e cavalheirismo parecem
predominar.
• O que identifica um estamento é um
conjunto de direitos e deveres, privilégios e
obrigações que são aceitos como naturais e são
publicamente reconhecidos, mantidos e
sustentados pelas autoridades oficiais e também
pelos tribunais. A condição dos indivíduos e dos
grupos em relação ao poder e à participação na
riqueza produzida pela sociedade não é somente
uma questão factual, mas também de direito.
Existia assim um direito desigual para desiguais.

• A possibilidade de mobilidade de um
estamento para outro existia, mas era muito
controlada. A desigualdade prevalecia
como um fato natural.
DA SOCIEDADE ESTAMENTAL À SOCIEDADE DE CLASSES

• A definição de classe para o sociólogo Oliver Cromwell Cox:, 1948, é: “Por sistema de classes
sociais entendemos uma variante de ordem de status sociais que prevalecem após a ruptura e a
atomização do sistema estamental europeu”. E classe social não deve ser confundida com classe
política.

Diferenças na organização econômica

• O capitalismo se desenvolveu nas cidades europeias, pela indústria, comércio, o lucro,


competição/concorrência, a eficiência, o individualismo, a acumulação de capital, a liberdade burguesa,
etc., são algumas das características desse sistema, já em seu início, que foi se intensificando e se
expandindo pelo mundo com o passar do tempo.
• Na sociedade feudal as necessidades eram suprimidas principalmente em espécie e a produção se fazia, em
grande parte, para o consumo imediato. A ideia ou a possibilidade de lucro era incompatível com a realidade
do latifundiário medieval, pois não tinha um mercado para vender. Como a produção se localizava
principalmente em certo número de unidades virtualmente autossuficientes, o dinheiro tinha uma utilidade
bastante limitada. O escambo e a reciprocidade direta de serviços pessoais eram os meios de troca. O
sistema monetário começou a se desenvolver nas cidades comerciais, onde a vida não era mais em
comunidade.

• Gradualmente, principalmente através dos empréstimos monetários, os financistas urbanos penetraram o


latifúndio e engrenaram as atividades dos senhores e, finalmente, as orientaram para as práticas de negócios
da cidade. Evidente que não tem data marcada sobre o nascimento do capitalismo; de alguma forma até,
sempre existiu algum tipo de capitalismo comercial. Mas o capitalismo que permeia o gênero da vida –
o pensamento – de povos inteiros é um fenômeno moderno. Dessas cidades pós-medievais da Europa
expandiu-se uma nova civilização, um novo tipo de pessoas: individualistas, racionais e eficientes.
A transição

• O sistema de status sociais – o sistema estamental – baseado na economia fundiária da sociedade


feudal, nunca foi capaz de assimilar os habitantes das cidades. A ordem social burguesa não era apenas
diferente da ordem feudal, era antagônica a ela. Assim, essa burguesia lutou contra o sistema feudal, com
crescente efetividade, para garantir seu lugar. Observando o diagrama abaixo, a pirâmide pequena indicará
o crescimento divergente do sistema burguês em relação a velha sociedade estamental. A outra mostra a
estratificação estamental, do sistema feudal, em que o clero funcionava como a espinha dorsal do suporte
moral do sistema.
• A Revolução Francesa representou o auge da luta pela dominação entre a vida rural e
urbana, isto é, o estilo de vida feudal e burguês. Henri Sée (1925) afirma que o efeito da
Revolução foi destruir as distinções legais que haviam dividido as classes sociais e estabelecer a
igualdade de direitos para todos os cidadãos. Ela também removeu todas as lealdades políticas
intermediárias entre o indivíduo e o Estado, e, isso constituiu o supremo triunfo organizacional do
capitalismo, isto é, a desintegração dos estamentos e a ascendência do individualismo. Os
estamentos perderam sua integridade e os critérios de status social tornaram-se difusos.
A ideologia Liberal

• A ideologia da sociedade de classes sociais é o sistema de crenças e teorias sociais que suportam
nossa presente ordem social; tais crenças são, em sua maioria, aceitas sem discussão. Mesmo
anteriormente à Revolução Francesa, escritores franceses e ingleses já haviam desenvolvido o essencial da
ideologia dos modernos habitantes da cidade.

• John Locke e os enciclopedistas haviam aperfeiçoado uma nova filosofia sobre a liberdade
burguesa; François Quesnay e particularmente Adam Smith haviam já, elaborado a teoria econômica
da burguesia; os escolásticos já tinham tornado confusos com a apoteose da ciência burguesa; e
Condorcet, no esplendor da própria Revolução, expressou a nova paixão pelo progresso, no seu
grandioso sonho do infinito aperfeiçoamento do homem. A Reforma protestante desafiou o estamento
mais poderoso e sua filosofia, provendo as necessárias sanções para a exploração burguesa das
oportunidades.
• A terra e a agricultura continuam indispensáveis nessa vida moderna, mas a terra por si só, perdeu
o efeito social e econômico do feudalismo. O valor da terra passou a ser dado pelo valor
monetário dela; tornou-se um mero fator de produção.

• Provavelmente a característica crucial de um sistema de classes sociais é o individualismo.


Robertson afirma que “O individualismo acredita terem os diferentes indivíduos atributos diferentes e
que a cada pessoa dever-se-ia possibilitar desenvolve-los, em competição com os demais, ao máximo da
sua capacidade”. O individualismo presume, também, que uma pessoa seja tão livre quanto
outra para atingir uma posição social vantajosa. O individualismo aclama a ambição, o
progresso e, acima de tudo, o êxito. Mas a liberdade, nesse sistema, significa que ao indivíduo deve
ser permitido, conseguir para si próprio o maior progresso e que esse progresso redundaria no maior
benefício para a sociedade. Quanto maior a ascensão social, maior a glorificação social do indivíduo.
• Sobre a “natureza da liberdade burguesa de competição política”, chamada democracia, ela não é
uma revivescência da democracia ateniense, nem surgiu do cristianismo – na prática, ela nunca atingiu seus
ideais, e a burguesia também nunca pretendeu que assim fosse. “Nada mais distante da mente da classe
média incipiente que qualquer concepção dos direitos do homem e do cidadão. A própria liberdade pessoal
não era invocada como um direito natural. Era almejada apenas pelas vantagens que conferia” (PIRENNE,
Henri).

• Durante o desenvolvimento das cidades, a ideia ocidental-burguesa da cidadania surgiu, afirmando-


se esta noção “territorial” como distinta da base “pessoal” ou religiosa da associação, característica do
feudalismo. Tratava-se de uma associação de defesa mutua, que exigia dos membros da residência
“comunal”, lealdade à jurisdição da área e uma devoção absoluta, em troca de direitos, sobretudo no
domínio de interesses práticos. Aqui também podemos perceber o germe do moderno nacionalismo.
• Diz-se que um dos maiores pecados da democracia é a hipocrisia; mas analisando alguns dos
governos dos últimos cem anos, poderia se afirmar que a hipocrisia é fundamental na democracia. Essa
acusação amarga tem raízes tanto na assertiva insustentável da democracia política, segundo a qual todos
os indivíduos, no sistema, estão de fato igualmente livres para se auto realizarem, como também no
conflito das diferentes ideologias políticas de classe inerentes à sociedade burguesa.

• A liberdade, no capitalismo, significa liberdade ostensiva para competir pela riqueza


disponível da nação; e a democracia política é o método de governo que se propõe a
assegurar à comunidade nacional que todos os indivíduos se aterão às regras do jogo.
• O liberalismo é, algumas vezes, confundido com a democracia – a qual, de fato, lhe é
antagônica. Ideais democráticos são ideais proletários e, na medida em que eles se permita expressão
na sociedade burguesa, tenderão a limitar a expressão plena do liberalismo. Como afirma Lewis Corey, a
respeito da democracia “o mero ideal é perigoso ao capitalismo, sendo objeto de uma
crescente ofensiva”.
Releia estes slides e faça anotações no caderno!

Reflita também sobrea relação entre Liberalismo, Capitalismo e sua


estrutura de classes e a Democracia moderna.

REFERENCIAS:

COX, Oliver Cromwell. Da sociedade estamental à sociedade de classes. In: PEREIRA, Luiz; FORACCHI, Marialice. (org.). Educação e
Sociedade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970.

MACHADO, Igor;AMORIM, Henrique; BARROS, Celso. Sociologia Hoje: ensino médio, vl.único, 2ªed. São Paulo: Ática, 2016.

TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio. 2ªed. São Paulo: Saraiva, 2010.

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