Você está na página 1de 27

O ESPAÇO SOCIAL (AGRO)ALIMENTAR: UMA REFLEXÃO SOBRE

AGRICULTURA INDUSTRIALIZADA, REGIMES AGROALIMENTARES E


SISTEMAS PRODUTIVOS ALTERNATIVOS

Gabriel Duque Coelho Novaes1

RESUMO

Este trabalho busca analisar as principais transformações sociais que antecederam e


impulsionaram o processo de modernização da produção de alimentos. É utilizada como
referência a noção de “espaço social alimentar” de Poulain (2003) como instrumento de
análise para fundamentar a construção desta proposta, além de recorrer à história da
alimentação e da agricultura de modo a destacar a “agricultura industrial”, baseada na
produção em larga escala que tem direcionado o regime agroalimentar mundial. Do mesmo
modo, este estudo pretende destacar algumas dissidências da contra-hegemonia que surgem
para contestar os padrões modernos uniformizados, apresentando perspectivas de mudança
por meio de sistemas produtivos alternativos que preservam a biodiversidade dos territórios.
Dessa maneira, a presente reflexão contribui com subsídios para se pensar as dinâmicas
sociais contemporâneas da produção alimentar, como também um reconhecimento de
movimentos orquestrados pelas ações coletivas da sociedade civil.

PALAVRAS-CHAVE: Espaço social alimentar; Modernização agrícola; Agricultura


alternativa; Contra-hegemonia.

1
Bacharel em Ciências Humanas e graduando no bacharelado em Ciências Sociais no Instituto de Ciências
Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (ICH/UFJF), e-mail: gabriel.d.coelho@gmail.com.
1

O ESPAÇO SOCIAL (AGRO)ALIMENTAR: UMA REFLEXÃO SOBRE


AGRICULTURA INDUSTRIALIZADA, REGIMES AGROALIMENTARES E
SISTEMAS PRODUTIVOS ALTERNATIVOS

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho busca analisar as principais transformações sociais que antecederam e


impulsionaram o processo de modernização da produção de alimentos. Utilizo como
referência a noção de “espaço social alimentar” de Poulain (2003) como instrumento de
análise para fundamentar a construção desta proposta, além de recorrer à história da
alimentação e da agricultura de modo a destacar a “agricultura industrial”, baseada na
produção em larga escala, como uma das bases do regime agroalimentar contemporâneo.
Apesar de hegemônico, pela escala de capital e controle da produção mundial de alimentos,
este regime coexiste com outras formas de produção agrícola, sejam as práticas tradicionais,
seja pelo conjunto de propostas contra-hegemônicas, reunidas pelo termo “agricultura
alternativa”. Proponho apresentar algumas propostas que caracterizaram estes movimentos
dissidentes, reconhecendo-os como iniciativas da sociedade civil que contribuíram para a
construção de mercados alternativos de produção agroecológica e orgânica de alimentos.

O objetivo deste estudo é fazer uma reflexão retrospectiva que ofereça subsídios para
refletir sobre o panorama atual da produção alimentar. Dessa forma, encontrar algumas
possibilidades através da discussão teórica sobre a modernidade agrícola e a alimentação dos
homens, bem como seus futuros possíveis. Para isto, vale compreender as alternativas que
atualmente ousam construir cenários de contra-hegemonia para produção alimentar mundial, e
assim, alinhando novas perspectivas para o futuro local dos territórios.

De forma breve, na primeira seção do texto vamos abordar historicamente a


alimentação e a agricultura como fatores de conveniência primordiais para o estabelecimento
das instituições e organizações socioculturais. Desse modo, aprofundar sobre os avanços da
agricultura através dos processos de produtividade na modernidade, como resultados do
progresso econômico das transformações sociais e agrárias. Diante disto, será importante
contextualizar o processo da cultura alimentar e agrária na sociedade brasileira, tendo em
vista a nossa posição no espaço social da produção alimentar. Esta contextualização local
trará recursos para avançar na reflexão a respeito dos regimes agroalimentares, além de suas
2

contradições e desigualdades nas dinâmicas de distribuição e produção dos alimentos. Em


razão disso, as últimas seções deste artigo se dedicam a pensar sobre os sujeitos que
produzem o alimento e as reações contra-hegemônicas através de suas práticas alternativas de
produção em busca de construir novos arranjos para superar a crise alimentar mundial.

1. AGRICULTURA COMO ESPAÇO SOCIAL DE PRODUÇÃO ALIMENTAR

O tema da alimentação não é novo e inclui diversos campos de estudos das ciências
sociais e agrárias como também da saúde e nutrição2; não se reduz a fatores nutritivos ou
biológicos, na medida em que envolve dimensões sociais e culturais. O ato de comer envolve
comportamentos individuais e coletivos que se encontram atravessados de escolhas, seleções,
ocasiões e rituais. Além disso, o alimento pode estar presente dentro de diversas experiências
e situações socioculturais, onde se produzem ideias e significados de acordo com os
“processos de sociabilidade” (POULAIN; PROENÇA, 2003).

Em outras palavras, existem muitos fatores que podem influenciar na alimentação, em


especial quando se ocorre por meio de uma “construção coletiva” em que cada grupo
particular se insere nas suas próprias convenções sociais. Seja produzido para consumo in
natura ou processado, o alimento se articula em relações sociais e simbólicas conforme o
contexto e ambiente em que se apresenta, pois é durante o processo de construção cultural que
ele é valorizado e consumido. Nesse sentido, podemos identificar uma dimensão social
complexa que se realiza entre condicionantes fisiológicos e ecológicos, somados à produção
cultural dos espaços estruturantes de grupos humanos (POULAIN, 2013). Assim, Poulain
enfatiza que a produção e o consumo de alimentos é resultado da interação entre cultura,
ambiente/espaço, biológico e fisiológico que de modo conjunto delineiam um “espaço social
alimentar”. O autor entende que o espaço social alimentar é um objeto sociológico total no
sentido Maussiniano do termo, ou seja, concepção condicionada em uma “totalidade da
sociedade e de suas instituições” (POULAIN, 2003, p. 253).

A concepção de “espaço social alimentar” nos ajuda a compreender as inter-relações


entre grupos humanos e seus ambientes - um entendimento entre a “bioantropologia” e o
universo “biocultural” - como instrumento de estudos para os modelos alimentares e que,

2
. FONSECA, SOUZA, FROZI, PEREIRA. Modernidade alimentar e consumo de alimentos: contribuições
sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição (2011); Segurança alimentar e nutricional: interfaces e
diminuição de desigualdades sociais (RIBEIRO, PILLA; 2014).
3

neste caso, também se aplica na reflexão sobre os sistemas produtivos agrícolas. Além disso,
na medida em que o uso social do alimento se relaciona com a “natureza” ou “ambiente”, este
processo intimamente se liga à produção da “cultura biológica”. É neste sentido que a
agricultura para nós se revela como condição fundamental para compreender a formação,
surgimento e sobrevivência da sociedade.

Por este ponto de vista, os seres humanos existem e reproduzem não apenas por seus
vínculos societários, mas também por estarem ligados de forma colonizada e dependente à
natureza. A presença de espécies aglomeradas na terra se vincula com a capacidade humana
de continuar a aprender com as experiências adquiridas, além de aproveitar os elementos do
mundo natural para produzir e cultivar a diversificação alimentar como consciência histórica.
Segundo Toledo e Barrera-Bassols, é possível identificar no planeta dois tipos principais de
diversidade: “a biológica e a cultural, que juntas dão princípio a outros dois tipos de
entendimento, o da diversidade agrícola e a diversidade paisagista” (2015, p.29). Em virtude
disso, existe um complexo biológico-cultural entre culturas e os ambientes naturais, através de
um processo evolutivo que mantém os recursos biodiversificados e ainda consiste no que os
autores identificam como uma “memória biocultural” 3. Além disso, pensar a alimentação
também como fenômeno biocultural permite compreender como a sociedade se organiza e se
reconhece, na medida em que envolve processos históricos e estruturais, por meio do
cotidiano e das intimidades (STRAUSS, 2004).

Em conjunto com a concepção de Poulain sobre o espaço social alimentar, o campo de


análise abre para uma perspectiva baseada na consciência cultural e ecológica, desencadeando
um olhar mais sensível para as questões agroalimentares. Estes elementos dão suporte para
refletir sobre uma construção crítica a respeito da modernização agrícola, como um
“experimento descontrolado que desconectou os sistemas agroalimentares da natureza e das
culturas regionais por falta dos meios de controle e ausência institucional” (TOLEDO;
BARRERA-BASSOLS, 2015, p.237), o que demonstra ser um desentendimento entre a
necessidade de produzir alimentos e de cultivar espaços sociais de alimentação independentes
que apresentam por essência suas adaptações, tradições e colaborações como fatores
integrados com os ambientes naturais.

3
TOLEDO, Víctor M. BARRERA-BASSOLS, Narciso. A memória biocultural: a importância ecológica das
sabedorias tradicionais. 1ª edição, Editora: Expressão Popular. AS-PTA, São Paulo, 2015.
4

Por outro lado, a alimentação e a agricultura, a partir da modernidade, foram


relacionadas por meio dos processos de desenvolvimento histórico dos recursos, hábitos e
padrões alimentares, realizados através do intercâmbio entre o espaço social alimentar de
diversas regiões do planeta. Entretanto, esta relação acabou se voltando muito mais para os
processos de prosperidade socioeconômica fomentados pelos acordos comerciais, que se
associaram aos sistemas de produção e distribuição dos alimentos. Alguns autores destacam
que estes ambientes produzidos socialmente por meio da produção, distribuição, preparação e
consumo econômico dos alimentos foram fundamentais para tantas dimensões sociais e
institucionais de organização das relações humanas na modernidade (ABREU; VIANA;
MORENO; TORRES, 2001).

Seguindo estas pistas, a produção dos espaços alimentares depende do ritmo da


natureza e da participação humana no que se refere às experiências e situações da extração e
das atividades produtivas. No entanto, foi a partir das sociedades modernas que foram
elaborados ainda mais ambientes artificiais de produção e parcialmente relacionados com a
natureza, espaços sociais que estão sendo controlados por meio da agricultura e também
atualmente pela indústria alimentar (SILVA, 2007).

Esta relação é complexa e contraditória, uma vez que envolve as relações entre povos,
e adventos das técnicas de produção, além dos costumes de milênios, das exigências
tradicionais e dos cruzamentos genéticos. Por isso que a história da agricultura apresenta
outro ponto de partida para esta reflexão sobre a produção social e o consumo dos alimentos,
em razão de estarem conectados no âmbito de processos históricos e estruturais da
constituição de grupos e das sociedades e suas formas de territorialização. Desta forma, a
produção dos alimentos, da agricultura e sua comensalidade consistem em um processo com
diversas características históricas e geográficas que ainda passam por mudanças
socioantropológicas na construção da modernidade (MOAZOYER; ROUDART, 2010).

3. AGRICULTURA INDUSTRIAL E O PROCESSO DE PRODUTIVIDADE

Dentre as transformações ocorridas durante o período moderno, se destaca o


incremento de padrões técnicos e científicos que potencializou o desenvolvimento de
máquinas motorizadas, criadas para melhorar o desempenho em relação à produção do
trabalho. Entre várias condições, foi fundamental que os meios e os recursos de produtividade
5

se tornassem mercadorias, sendo a terra, o trabalho e o dinheiro comercializáveis através da


própria atividade humana (POLANYI, 2000).

O alimento sempre esteve “incrustado” nas trocas de mercadorias, tanto na história da


alimentação como da agricultura, que registram iniciativas de acordos mundiais desde o
mundo antigo até os balanços mais recentes4. No entanto, segundo as ideias de Polanyi
(2000), a grande mudança da modernidade vem quando os mercados nacionais se tornam
interligados em uma lógica “naturalizada” - mercadológica - em que transformam os próprios
seres humanos e os seus ambientes naturais, ou seja, o “trabalho” e a “terra” em algo que
deveria ser submetido às estruturas invisíveis e mecânicas do mercado. O autor entende este
caráter excepcional da economia capitalista como algo provocado em nossa época e onde foi
criado a noção de mercado “auto-regulável” definido como uma “economia dirigida pelos
próprios preços do mercado e nada além dos preços” (2000, p.360).

Neste sentido, se entende que a “alimentação”, a partir das grandes transformações que
dão origem a nossa época, se transformou em um fator comercializável com alto valor para o
sistema dos mercados mundiais. Uma vez ligado às necessidades fisiológicas humanas e os
meios culturais de produção, rapidamente se constituiu como substância de sofisticação
relacionada pelas fortes dinâmicas sociais e econômicas desenvolvidas através dos
mecanismos produtivos.

Mazoyer e Roudart (2010) pensam mediante ao balanço das agriculturas do mundo e


da alimentação dos homens a transformação em diferentes processos de produtividade,
técnicas e sistemas agrícolas entre diversas sociedades. De acordo com os autores, foi a partir
da “agricultura industrializada” ou da “revolução agrícola contemporânea”, que decorreu no
século XX, que se teve um progresso vigoroso no aumento da produção de alimentos nos
países desenvolvidos, como também em pequenos setores limitados dos países em
desenvolvimento.

Esta produtividade dos “espaços sociais de produção agroalimentar” se multiplicou de


maneira intensa e desigual, quando foram incorporados de um lado pelos avanços da
modernidade - impulsionados tecnicamente - por uma “elevada motorização e mecanização, e,
por outro, pela seleção das variedades de plantas/espécies e da abundante utilização dos

4
Para tanto, indico a obra de Marcel Mazoyer e Laurence Roudart, História das agriculturas no mundo: Do
neolítico à crise contemporânea, que é um bom caminho para aprofundar e conhecer melhor as heranças agrárias
da humanidade e as estratégias mundiais de produção alimentar.
6

fertilizantes para agricultura”. Destaca-se ainda a “proliferação selecionada das raças e dos
animais” que foram marcados pelo aumento da especialização através dos países ocidentais a
produzir e distribuir a proteína do gado mundialmente (MAZOYER; ROUDART, 2010,
p.419).

Além disso, a agricultura industrializada trouxe novos atrativos para todos os tipos de
consumidores, através das empresas multinacionais que criaram estratégias de diversificação e
investimento nas campanhas em busca de uma “universalização” dos padrões de consumo
alimentar. Estas inovações de produtos e processos multidimensionais construíram aspectos
simbólicos que impactaram tanto nos alimentos quanto nos próprios consumidores de todo o
mundo. O exemplo disso é a disseminação do consumo de proteína animal que definiu novas
dietas e refeições processadas em vários espaços comestíveis e comercializáveis
(McMICHAEL, 2016).

A trajetória da modernização agrícola trouxe uma grande oferta de distribuição e


comercialização nos países desenvolvidos, construindo uma valorização da “agricultura
empresarial”. Incentivou, igualmente, a industrialização e urbanização dos países em
desenvolvimento, como foi o caso do Brasil, através de seus regimes econômicos
(MARTINE, 1991). Vale salientar que a produtividade agrícola, ao mesmo tempo em que
impulsionou a “superprodução”, o aumento da população e a oferta diversa de produtos
alimentares, também trouxe mudanças estruturais de funcionamento dos sistemas regionais
através do desenvolvimento desigual cumulativo (MAZOYER; ROUDART, 2010, p. 481).

A Revolução Verde, expressão que indica o surgimento deste novo setor da indústria
agrícola, se intensificou a partir dos anos 60 do século passado, explorando os recursos da
natureza cada vez mais com as máquinas e implementos que aceleraram a erosão dos solos e o
desequilíbrio dos ecossistemas. Além de acentuar o processo de degradação ecológica, as
consequências da modernização agrícola convencional trouxeram impactos culturais e sociais,
devido à contestação da exclusão social (GUIMARÃES, 1982)5.

Segundo Guimarães, o processo de industrialização da agricultura trouxe uma força


integradora entre o capital financeiro, isto é, capital bancário associado à indústria ditada pelo
Estado Industrial, precisamente pelo Capitalismo Monopolista de Estado (1982, p.122). A

5
GUIMARÂES, Alberto Passos. A crise agrária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. Esta obra de estilo ensaísta
do pensamento social brasileiro é considerada um clássico sobre a questão agrária brasileira, referência chave
para o debate sobre a “revolução agrícola à revolução industrial”.
7

subordinação da agricultura por medidas econômicas potencializou avanços modernos,


compatíveis a novas tecnologias e possibilidades de créditos para todos os insumos da
produção exportadora. Por outro lado, aumentou a dependência socioeconômica e a perda da
autonomia de unidades produtoras tradicionais que se viam dependentes de uma agricultura
moderna de integração agroindustrial (1982, p.124).

Entretanto, antes de aprofundar um pouco mais nestas transformações do


funcionamento, padronização e da produtividade agroalimentar, vamos refletir sobre o caso
brasileiro enquanto um espaço social e cultural alimentar diverso, levando em consideração
nosso lugar na organização do espaço mundial, bem como os processos da alimentação frente
à modernidade que formou uma dimensão social que abre a possibilidade de ser discutida no
plano local e global. Feita esta contextualização, vamos refletir um pouco mais sobre os
regimes agroalimentares como efeito da mundialização, distribuição e produção industrial
alimentar.

4. BREVE CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NA


SOCIEDADE BRASILEIRA

No Brasil, os primeiros estudos identificados por esta pesquisa apresentam um


panorama histórico e estrutural da produção de alimentos que surgiram das interpretações
híbridas dentro da formação territorial do Brasil, através dos processos que estendem pela
mescla cultural entre tradições de povos nativos e migrações transportadas para novas
configurações territoriais. Como disse Câmara Cascudo, um olhar por base histórica e
etnográfica “correndo quase quinhentos anos funcionais” (2004, p.12). Desta forma, o campo
da análise se apresenta amplo em aspectos fisiológicos, nutricionais, ambientais, além de
sociológicos, antropológicos e econômicos.

Câmara Cascudo (1898-1986) se dedicou por um período importante a estudar a


culinária brasileira e os hábitos alimentares por meio dos cardápios indígenas, dietas africanas
e as ementas estrangeiras que trouxeram influências externas para fundamentar a cozinha
brasileira. Enquanto elementos básicos e técnicas culinárias que estão intimamente ligados à
complexa formação cultural do povo brasileiro, sendo marcada pela transformação e
configuração dos padrões exercidos na sociedade.
8

De todos os atos naturais, o alimentar-se foi o único que o homem cercou de


cerimonial e transformou lentamente em expressão de socialidade, ritual político,
aparato de alta etiqueta [...], um rito de iniciação para convivência, para a confiança
na continuidade dos contatos. (CASCUDO, 2004, p.36)

Para o folclorista a comida é uma forma de entendimento, “um ato orgânico que a
inteligência tornou social” (2004, p.37), ao mesmo tempo em que é fruto dos preceitos, de
processos colonizados e de transformações constantes nas decorrentes necessidades imediatas
do homem e suas relações. Entretanto, Cascudo também percebe que o processo de
modernização industrial frente aos alimentos começa a transmitir outros processos simbólicos.
Para ele, a padronização do robot sobre o sapiens, identificado como o “signo da velocidade”,
enquanto processo de internacionalização da cozinha poderia trazer fatores problemáticos
ligados à desvalorização do cultivo e da alimentação no Brasil e no mundo.

Em outra perspectiva do contexto brasileiro surge o tema da fome como um reflexo


condicionável na estrutura doméstica do “intercâmbio humano” e “processos regionais de
aculturação”, em que se apresenta como fundo da estrutura desigual e da expressão social da
nação. Josué de Castro entende que a fome no Brasil é, antes de tudo, consequência do seu
passado histórico, com os seus grupos humanos em conflito e quase nunca em harmonia com
os “quadros naturais”. Principalmente, quando leva em consideração os desdobramentos dos
ciclos sucessivos de economia destrutiva dos modos mercantis6. Além disso, o autor destaca
que a história brasileira foi marcada pelos princípios colonizadores e, mais tarde, através do
capital estrangeiro que expandiu para uma “agricultura extensiva de produtos exportáveis e
exploração primária da terra, ao invés de uma agricultura capaz de matar a fome” (2004,
p.267).

Castro ressalta que a produção de alimentos no Brasil sempre esteve distante de


conseguir atender às necessidades vitais de toda a população em termos médicos e nutritivos,
mesmo que de algum modo já bastava o necessário para a população sobreviver. Seu trabalho
sobre as áreas alimentares, Geografia da fome, o dilema brasileiro: pão ou aço7, revela que os
diferentes impulsos econômicos nas regiões brasileiras, através dos setores industriais que

6
O autor destaca como os ciclos sucessivos: pau-brasil; cana-de-açúcar; caça do índio; mineração; “lavoura
nômade”; café; extração da borracha; e finalmente os primeiros processos de industrialização.
7
Publicado em primeira edição no ano de 1946, logo após o mundo conhecer as desgraças da última grande
guerra mundial. Esta obra junto com mais a Geopolítica da fome (outra obra deste autor publicado em 1951)
foram de muita relevância para o investimento público no combate da fome e da miséria no Brasil. O pensador,
médico e ativista Josué de Castro respeitado internacionalmente foi eleito por representantes de vários países da
Organização das Nações Unidas, Presidente do Conselho Executivo da FAO (Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura), cargo que administrou entre 1952 a 1956.
9

impulsionaram a crescente produção do campo para as cidades, produziram um abandono


relativo da agricultura que não foi capaz de suprir a situação alimentar do povo.

As circunstâncias históricas da formação brasileira revelam que a produção agrícola


foi centrada em poucas culturas destinadas a exportação. Nesta dinâmica existe a dependência
exterior de flutuações e comandos do capital internacional. Obviamente, esta estrutura é uma
forma ancorada no latifúndio, que pelo caráter alimentar é improdutivo. Além disso,
estudiosos da área destacam que no Brasil sobressaiu o viés “antiagrário”, que deve ser
compreendido através da crescente incorporação da tecnociência nas atividades agrícolas; do
plano político adotado pelos “progressistas” brasileiros que entendiam a “vocação agrária”
ligada ao antigo regime das oligarquias fundiárias e negócios imperialistas; e da divisão
internacional do trabalho que se desenvolveu no século passado que entendia as atividades de
bens primários como algo atrasado que correspondia a um comércio desigual (MORAES,
ÁRABE; SILVA; 2008 p.18). Em tal cenário, os pequenos camponeses acabam perdendo
oportunidade de fixar suas produções, relegados a terras mais distantes e desprovidas do
acesso aos investimentos infra-estruturais (idem, 2008). Além disso, as circunstâncias da
estrutura agrária brasileira potencializaram as relações de poder no campo que fizeram
aumentar a produção de alimentos agregando a força econômica de grandes produtores - uma
minoria desenvolvida de produtores e não produtores - que cada vez mais se conectam com as
visões e investimentos no campo da agricultura empresarial.

Na medida em que a maior produtividade se baseia no desenvolvimento dos meios de


produção, torna-se quase incomparável a posse de ferramentas dos grandes e pequenos
produtores. Enquanto poucos utilizam uma mecanização moderno-tecnológica e mais bem
equipada para produzir cereais, uma grande parcela de trabalhadores rurais utilizam
ferramentas manuais como enxada, pá, cajado, facão, faca ceifadeira, foice, entre outros. Em
razão desses fatores, se entende que as relações do capitalismo moderno introduzidas nos
territórios em desenvolvimento envolveram “contradições e desafios a serem superados”,
principalmente ao interpretar as transformações históricas e ambientais e ao mesmo tempo, os
comportamentos de indivíduos e grupos sociais (PAULA, 2017, p.131).

No próximo tópico vamos aprofundar ainda mais nos processos questionados de


produção alimentar, além de tratar dos regimes alimentares e suas contradições para tentar
compreender como que estes processos sociais e econômicos mais tarde se transformaram no
devir de reações da contra-hegemônia que surgem nos espaços sociais. Logo após, serão
10

apresentadas alternativas de mudança, como também um pouco sobre os sistemas produtivos


agrícolas e as ideias dos sujeitos neles inseridos.

5. REGIMES AGROALIMENTARES E AS CONTRADIÇÕES QUE ATINGEM A


BASE DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

A questão da produção agroalimentar envolve muito mais que a disponibilidade física,


visto que também considera os aspectos ambientais, culturais e socioeconômicos
condicionados para produzir a disponibilidade agrícola e qualidade alimentícia. Vale dizer
que na contemporaneidade a oferta e produção de alimentos em grande escala se vincularam
aos “regimes agroalimentares”8, que acabaram se constituindo como fator macroeconômico
de expansão dos mercados e dos produtos derivados. Entretanto, podemos entender que em
termos genealógicos o regime agroalimentar se encontra em contradições com sua própria
origem de produtividade. Em outras palavras, a maneira de governar a produção
agroalimentar na modernidade que ocasionou uma contínua expansão de mercados, deixou de
considerar o pilar mais importante das estruturas e das relações agrícolas, isto é, a produção e
reprodução da força bruta de trabalho daqueles que “alimentam o mundo”. Neste sentido,
olhar para as condições e custos dos pequenos meios de produção, dos grupos sociais com
base familiar, tornou-se um grande desafio de conciliação para o regimento agroalimentar.

Maluf (2002; 2004) entende que a transposição dos agricultores de um nível


microeconômico associado aos pequenos ambientes culturais para um enfoque
macroeconômico da modernização agrícola, trouxe como consequência a transformação dos
pequenos produtores em “vítimas”, por meio das restrições feitas pelo mercado. O autor diz
que este fenômeno é uma “armadilha da modernização”, onde as razões estão na insuficiência
de renda ou de crescimento dos próprios produtores que enfrentam grandes dificuldades, por
exemplo, em manter os meios compensatórios dos recursos (terra, equipamentos, entre outros)
da produção. Além disso, as relações ficam ainda mais complexas quando entendemos que as
8
Este tema se apresenta nos estudos agrários, principalmente relacionados à geopolítica dos sistemas
agroalimentares que abastecem os mercados locais e globais. Seguindo esta lógica e entendendo a FAO (Órgão
das Nações Unidas que é responsável pela Alimentação e Agricultura) como espaço central dentro do debate
amplo que se refere a “Segurança alimentar” - conceito que tem origem pós a Segunda Guerra Mundial, diante
da Europa devastada - na construção dos processos de abastecimento e trocas de alimentos que se relaciona
como possível “solução” para alimentar populações. Por outro lado, as reações contra-hegemônicas -
principalmente, pela Via Campesina - formularam a noção de “Soberania alimentar” que começa ganhar
destaque em eventos paralelos organizados pela sociedade civil durante a Cúpula Mundial da Alimentação em
1996. Este outro conceito, também trata do abastecimento de alimentos, mas com a diferença de serem
socialmente justos e que incentivam a autonomia dos territórios.
11

populações camponesas (categoria de diversos sujeitos) também dependem da própria


produção alimentar para sobreviver, na medida em que o uso da terra é integralmente
vinculado com as práticas agrícolas, produções da vida e técnicas especializadas com a
concepção de “plantar para comer”.

Para que os diversos sistemas agroalimentares e espaços sociais de produção se


tornassem um só regime integrado na economia globalizada, foi preciso uma universalização
dos padrões e do consumo alimentar. No entanto, percebemos que isto ocasionou graves
repercussões sociais e ambientais ligados a alguns contextos locais que perderam autonomia
dos seus padrões, enquanto continuaram a promover uma “crise alimentar como fenômeno
sistêmico” (McMICHAEL, 2016; PAULA, 2017).

Esta dependência se intensificou ao mesmo tempo em que a modernização da


agricultura permitiu o acesso aos mercados internacionais. Por outro lado, trouxe
consequências profundas nas configurações tradicionais dos sistemas locais de produção que
tiveram que se adaptar e buscar os novos padrões modernos.

A necessidade de abastecimento e integração dos países num sistema global levou a


transposição dos regimes alimentares ao comércio internacional. Tal cenário se configurou
sobre o sistema comandado pelas grandes corporações do capital financeiro que são
evidentemente superiores, em termos econômicos e de influência em decisões políticas dos
países que fazem parte das rodadas econômicas e financiadas pelo Banco Mundial, Fundo
Monetário Internacional e ainda pelas multinacionais (PAULA, 2017). O que surge a partir de
todo processo alimentar empresarial/industrial é o sistema agroalimentar corporativo, que
genericamente se entende como agronegócio - termo oriundo do inglês agribusiness. É nesta
noção que se destaca a profunda homogeneização do mercado expansionista que alimenta os
mercados globais e o sistema capitalista neoliberal (McMICHAEL, 2016; PAULA, 2017).

Nesse sentido, o agronegócio se tornou uma chave para compreender algumas causas
das desigualdades sociais do campo e das crises sistemáticas da alimentação, uma vez que se
organiza a partir da construção das monoculturas - uma “agricultura sem agricultores” -
dentro de um processo de homogeneização sistêmica. É desta forma que a biodiversidade dos
sistemas locais fica ameaçada, visto que estes sistemas de produção local dependem muito
mais da heterogeneidade da natureza como processo vital para produção ecológica.
12

Para alertar sobre as consequências da falta de biodiversidade e a importância disto,


Machado e Filho salientam que:

Os povos pré-históricos alimentavam-se com mais de 1.500 espécies de plantas e,


pelo menos, 500 espécies e variedades têm sido cultivadas ao longo da história. Há
150 anos, a humanidade alimentava-se com o produto de 3.000 espécies vegetais
que eram, em 90% dos países, consumidas localmente. Hoje, 15 espécies respondem
por 90% dos alimentos vegetais e quatro culturas - milho, trigo, arroz e soja -
respondem por 70% da produção e consumo. (MACHADO, FILHO; 2017, p. 58)

Nota-se que a diversidade alimentar, atualmente, tem sido ameaçada pelo avanço da
produção agrícola em escala industrial. Além disso, o discurso e as propagandas do
agronegócio mostram que existem vantagens na produção de commodities9, principalmente
relacionadas ao livre comércio dos países desenvolvidos. Em consequência, os espaços sociais
de produção alimentar locais dos países em desenvolvimento ou “subdesenvolvidos”, que por
sua vez concentram a maior parte dos territórios que produzem a biodiversidade, ficam
dependentes dos governos periféricos, através do oligopólio de forças dos países centrais.

De acordo com Stédile e Carvalho (2010), a predominante produção de sementes, de


insumos agrícolas, da produção e distribuição dos alimentos em todo mundo, atualmente,
estão no controle de cerca de 50 grandes empresas transnacionais. Além do mais, é preciso
levar em consideração que aproximadamente “três quartos dos indivíduos subnutridos do
mundo pertencem ao mundo rural” (MAZOYER; ROUDART, 2010, p.26). Isto indica outra
contradição situada na produção alimentar de um mundo em que existem tantos alimentos e
sementes produzidas, visto que, na verdade, a dificuldade se encontra na elevada concentração
de renda e desigualdade dos meios de produção. Ou seja, o controle de técnicas agrícolas
sofisticadas, como também a melhor capacidade de armazenamento e beneficiamento dos
insumos ficam nas mãos destes grandes empresários agrícolas e produtores industriais - um
dos motivos que ocasionam a enorme distorção existente nos sistemas agrícolas locais e
globais.

Como resultado, a desigualdade situada nos recursos da produção e distribuição de


alimentos realizadas pela agricultura industrial potencializou uma “crise alimentar” para os
espaços sociais e sistemas locais. A internacionalização direta da homogeneidade alimentar
transformou a biodiversidade dos territórios em algo vulnerável que formula por um lado à
dependência dos meios produtivos e por outro uma “insegurança alimentar” como crise

9
Produtos primários em pequenos graus de processamento que são produzidos em grandes escalas, na qual a
produção é feita pela divisão internacional do trabalho e os preços são determinados pelo mercado internacional.
Entre estas mercadorias pode se destacar a soja, o milho e o açúcar.
13

estrutural dos espaços sociais de produção. Soma-se a isso o discurso do progresso econômico
que resultou em altos custos, na maioria dos casos não compensados para diversas populações
(trabalhadores familiares, pequenos agricultores, boias-frias, mulheres, povos tradicionais...),
que mantém outras relações com a terra. Estes sujeitos muitas vezes se inserem em outros
processos simbólicos e de produção da vida, onde a significação cultural ainda é mais
enraizada do que apenas o pensamento economicista da produção em largas monoculturas
(BRANDENBURG, 2005).

Quando pensamos nos espaços sociais de produção agroalimentar é preciso que


tenhamos um olhar para agregação do valor das matérias-primas agrícolas de acordo com a
biodiversidade dos próprios produtores. Mas para tratar da construção de “mercados
alternativos”, conforme a realidade dos pequenos locais de produção, é preciso estabelecer
10
agregação de valor, cadeias integradas e circuitos regionais , com enfoque na realidade dos
pequenos agentes sociais, culturais e econômicos e baseados em uma dimensão territorial de
forma a organizar a produção agroalimentar, bem como “suas condições para a oferta dos
alimentos que irão depender do desenvolvimento e apoio de um país (ou região)” (MALUF,
2004, p.301). Logo mais, teremos a oportunidade de refletir sobre as restrições do mercado
agroalimentar para os verdadeiros produtores de espaço social alimentar, além da expansão da
demanda que tende a excluir tipos de agriculturas que combinam diversas atividades
produtivas no interior das unidades agrícolas.

Esta seção procurou destacar a produção de alimentos e sua relação com a


modernidade da sociedade contemporânea, em que se estruturou uma formação mundial
alinhada aos regimes agroalimentares desenvolvendo avanços populacionais e econômicos de
modo geral. Entretanto, esta produção é capaz de abastecer nossas mesas? Quais são os outros
atores que figuram no cenário da produção alimentar?

No próximo tópico buscaremos responder a estas inquietações, procurando


compreender formas dissidentes de produção alimentar contrárias à lógica industrial, pois é
através de um olhar diferente que se constroem imaginários alternativos às concepções
hegemônicas da produção alimentar em larga escala, que se por um lado remetem a formas

10
MALUF, Renato S. Mercados agroalimentares e a agricultura familiar no Brasil:
agregação de valor, cadeias integradas e circuitos regionais. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 25,
n. 1, p. 299-322, abr. 2004.
14

tradicionais de vinculação aos territórios locais, por outro, indicam o surgimento de novos
atores neste cenário.

6. REAÇÃO CONTRA A “AGRICULTURA INDUSTRIAL” ATRÁVES


DAQUELES QUE PRODUZEM O ALIMENTO

Dados retirados do IBGE (2010) mostram que no Brasil, quando se trata da produção
de alimentos, os pequenos produtores produzem em média de 70% dos alimentos que estão
distribuídos nas mesas dos brasileiros. É claro que dentro desse grupo tão amplo existem
agricultores que agem a partir de lógicas diferentes e com graus de capitalização e insumos
agrícolas variados. Este número não se difere muito comparado a outros países em
desenvolvimento, demonstrando a importância dos pequenos produtores na produção de
alimentos para as populações. Entretanto, há produtores camponeses, comunitários,
tradicionais e familiares que não necessariamente estão alinhados totalmente com a produção
mecanizada da indústria agrícola.

Apesar da “agricultura familiar” atualmente ser considerada a maior responsável pela


produção de alimentos para o consumo da população brasileira, nota-se que ainda é um termo
limitado para outras possibilidades. Não há dúvida da importância desta concepção e da
importância para milhões de famílias brasileiras, principalmente em termos de produção
rentável e de abastecimento no mercado interno. Foi a partir do Programa de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (PRONAF) em 1996 - Decreto 1.946 - com objetivo de promover o
“desenvolvimento sustentável no meio rural”, que a agricultura familiar conseguiu ter acesso
aos créditos e incentivos fiscais financiados pelo governo. Este programa foi inspirado na
visão da “modernização conservadora”, como principio reformista da estrutura agrária, em
que ocorre a cooptação dos interesses estatais com dos produtores rurais visando uma
reorganização produtiva (SILVA, 2018). A formação de créditos para este setor agrário
acabou se relacionando com o desempenho do setor industrial, que estabeleceu uma
integração em termos dinâmicos entre a fábrica e a lavoura, constituindo um complexo
agroindustrial (MARTINE, 1991).

Dessa forma, se justifica o incentivo e incremento de modernas técnicas, cientificas e


mecanizadas, visando potencializar a produção agropecuária destes pequenos produtores
familiares na lógica capitalista e industrial da agricultura (SILVA; MONTEIRO; BARBOSA,
15

2016). Além disso, esta noção disseminou uma simplificação que não consegue dar conta das
diversas identidades sociais desse enorme universo, considerando a existência de uma
dimensão sociocultural e antropológica ampla que o termo agricultura familiar não é capaz de
sustentar (MAZZETO, 2007).

Por outro lado, existe uma longa e antiga linha teórica, principalmente da sociologia e
antropologia, que se dedicou ao conceito do campesinato. Diferente da agricultura industrial,
a categoria dos camponeses envolve uma “dimensão ecológica” mais complexa e integrada
com os modos de vida, economia e agricultura. Em relação à sociedade, os camponeses
também estiveram presentes na construção de revoltas e resistências que aconteceram ao
longo da história. No Brasil, vale destacar os anos 50 e 60 do século passado, quando o
movimento das ligas camponesas em prol da reforma agrária e melhorias de vida no campo
fortaleceram o debate acadêmico em torno deste conceito. Em contrapartida à visão de
agricultura familiar, a retomada da concepção camponesa tem se fortalecido recentemente no
cenário internacional, principalmente enquanto construção política com a participação de
alguns movimentos sociais do campo que se reconheciam no advento da Via Campesina11
(MAZZETO, 2007; DESMARAIS, 2007; VIVAS, 2014).

O processo de redemocratização do Brasil, principalmente pós-ditadura trouxe efeitos


importantes, bem como novos espaços de articulação que influenciaram decisões no âmbito
global e local que envolveu vários setores da sociedade civil direto ou indiretamente ligados
com a produção de uma agricultura mais sustentável. Como exemplo podemos destacar o
surgimento da Cúpula da Terra (ou Rio 92) - conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - que procurou traçar estratégias de enfrentamento
dos problemas ambientais e de melhorias dos processos produtivos para a conservação da
biodiversidade. (BARBIERI, 2001)

Outro evento que vale destacar, também em 1992, foi o II Congresso da Unión
12
Nacional de Agricultores y Ganaderos de Nicarágua (UNAG) , onde líderes sociais,

11
É uma organização internacional de camponeses composto por vários movimentos sociais populares do campo
de todo o mundo. O objetivo deste “movimento dos movimentos” é articular os processos de mobilização social
dos povos do campo em nível internacional. Há referências que revelam pequenas mobilizações nos anos 80 e
até origens mais antigas, mas se toma partida a década de 90, pois é nesse período que nasce o reconhecimento e
o protagonismo especial da Via Campesina em escalada internacional, como referência da articulação
local/global. Para saber mais, consultar a matéria: VIVAS, Esther. Internacionalismo camponês. Publico.es, 17
de abril de 2014. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
12
“A Via Campesina: a globalização e o poder do campesinato”, de Annette Aurélle Desmarais – autora que
também atuou como assistente técnica do Movimento da Via Campesina e que esteve presente como agente
16

camponeses, intelectuais e ativistas mobilizados pelos seus direitos e questões geopolíticas, se


reuniram em Manágua, com o objetivo estratégico de organização internacional do
movimento camponês. Cabe ressaltar a importância deste evento como arena de debate a
respeito do conflito contemporâneo entre o agronegócio (global) e camponeses (locais),
destacando a dimensão ecológica do território e defendendo o desenvolvimento rural
sustentável (MAZZETO, 2007, p. 52).

Para mais, o debate sobre a “Soberania alimentar” que se difunde no contexto dos
países da América Latina, levanta sérias questões em relação à produção agrícola em larga
escala. Esta perspectiva procura destacar os efeitos nocivos das reformas econômicas que
desregularam os mercados e favoreceram a retração dos Estados, como também os impactos
no setor da produção de alimentos (MACHADO, FILHO, 2017). Defende-se, ainda, que a
soberania alimentar é precondição para a soberania política, além de apresentar a
biodiversidade como fonte de riqueza e sustentabilidade para os países em desenvolvimento
(CHONCHOL, 2005, p.35).

6.1. RESPOSTA À CRISE ATRAVÉS DAS PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE


SISTEMAS PRODUTIVOS

Este movimento contra-hegemônico em relação à tendência mundial a agricultura


mecanizada não é recente e muito menos se reduz à esfera das instituições e debates
internacionais. Várias são as “agriculturas alternativas” que surgiram no âmbito da sociedade
civil como propostas de revisão da “agricultura industrial”. Alves, Santos e Azevedo (2012)
afirmam que os primeiros movimentos aconteceram por volta de 1920 com a “agricultura
biodinâmica”, um conjunto de técnicas e preceitos desenvolvidos a partir das ideias de Rudolf
Steiner (1861-1925), conhecido por ser o fundador da Antroposofia e da pedagogia Waldorf
na Alemanha e Áustria. Alguns anos depois surge a “agricultura natural”, abordagem do
cultivo ecológico estabelecido pelo agricultor e microbiólogo Masanobu Fukuoka (1913-
2008) no Japão. Este modelo em particular apresentava uma proposta de “plantio mais
selvagem”, com menos impacto e contato humano possível, pois se entendia que o solo tinha
o seu tempo próprio e era preciso esperar e manifestar a sua própria força nutritiva. Além
disso, a “agricultura organo-biológica” ou apenas “agricultura biológica” se propagou em

nesses primeiros encontros, traz a informação que o evento foi organizado pela Brigada de Oxfam de
Agricultores Canadenses em auxilio nos campos da Nicarágua.
17

países europeus buscando difundir uma filosofia de agricultura mais natural que se integrava
com o ambiente.

Outras técnicas e sistemas produtivos agrícolas alternativos podem ser destacados,


como a “Agricultura Regenerativa”, de Robert Rodale, que estudou a hierarquia ecológica
para observar processos de regeneração nos sistemas agrícolas. Esta proposta defendia não
apenas a regeneração do solo e das culturas agrícolas, mas do sistema de produção alimentar
como um todo, incluindo as comunidades rurais e os consumidores. Propunha, assim, uma
regeneração da agricultura e toda sua circulação - aspectos econômicos, ecológicos e éticos -
visando à equidade social (EHLERS, 1994).

Os anos 50 e 60 foram marcados pelo uso extensivo dos agrotóxicos, mas pouco se
sabia ainda sobre seus efeitos nefastos na vida das pessoas e no meio ambiente. A publicação
de Primavera Silenciosa, de Rachel Carson (1962), representou um marco no debate sobre o
processo de produção alimentar em larga escala oferecendo subsídios mais sólidos ao
“movimento ambientalista” acerca das implicações do uso dos produtos químicos nos solos,
além de seus efeitos nocivos à saúde humana. As propostas de “agriculturas alternativas”
impulsionaram mais uma vez, buscando integrar o manejo da terra, a saúde e bem-estar das
comunidades. Surgem técnicas como a “Permacultura”, que procurava valorizar padrões e
relações encontrados na natureza no processo agrícola, com uma visão de agricultura
permanentemente sustentável, isto é, que reproduza a “permanência na terra” 13.

Podemos ainda destacar, mais recentemente, a popularização dos Sistemas


Agroflorestais (SAF), que por definição são uma forma de cultivo que integra espécies
perenes (lenhosas) e árvores de médio e grande porte com espécies herbáceas (cultivos anuais
e ou pastagens). Apresentando diversas combinações e tipos de manejo, o sistema
agroflorestal se destaca pela biodiversidade promovida entre diferentes espécies e ciclos das
plantas no solo (MACEDO, 2000). Este método ganha destaque no Brasil quando o suíço
Ernst Göstsch desenvolve suas experiências na produção do cacau em uma fazenda no sul da
Bahia, defendendo a proposta de uma “Agricultura Sintrópica”. A “sintropia” é um principio
contrário ao da “entropia”, visto que busca a organização, integração, equilíbrio e preservação
da energia do ambiente, com o objetivo de acelerar os processos que o ambiente pode oferecer
(PASINI, 2017).

13
Para saber mais: HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade.
Tradução Luzia Araújo. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2013. Disponível em:
<biowit.files.wordpress.com/2010/11/livreto-permacultura-1.pdf>
18

Em termos mais amplos, como reação política aos cultivos mecanizados da razão
capitalista, surge nos anos 90, em alguns encontros paralelos nacionais e internacionais
através de vários movimentos da “agricultura alternativa” que tinham princípios semelhantes,
o movimento da “Agroecologia” (ALMEIDA, 2003). Esta perspectiva se propunha a valorizar
os saberes ancestrais da “agricultura nativa” e a “memória biocultural” das populações
tradicionais, com o uso potencial da diversidade social e dos sistemas agrícolas. Esta proposta
procura incluir os processos históricos e ambientais das populações tradicionais, próximos dos
modelos camponeses e indígenas, defendendo a prática de uma agricultura voltada para
preservação dos seus territórios e da sociobiodiversidade (PETERSEN; TOLEDO;
BARRERA-BASSOLS, 2015). Altieri entende que os conceitos de soberania alimentar e os
sistemas produtivos baseados na Agroecologia implicam em uma “ciência agroecológica” -
moderna e tradicional - que se alimenta por sistemas de conhecimentos indígenas e saberes
milenares (2010, p. 23).

Além disso, o entomologista diz que os princípios ecológicos para melhor desempenho
e manejo dos agroecossitemas dependem dos “microcosmos de uma agricultura tradicional”,
principalmente por sustentarem as biodiversidades de cultivos locais e a capacidade de
produzir colheitas de alimentos básicos que podem abastecer mercados, ciclos e consumos
locais de forma socialmente justa (ALTIERI, 2010, p.24).

Os fundamentos da Agroecologia como disciplina alternativa e produzida a partir de


diálogos e trocas de saberes de ecossistemas agroalimentares, vem trazendo uma grande
potência para os movimentos que emergiram desde décadas mais ferozes da agricultura
industrial, até os processos sociais em busca de ecossistemas sustentavelmente locais. Nesse
sentido, existe a afirmação de que estes “sujeitos diversos” procuram popularizar a ação
dinâmica entre ciência, prática e movimento social que se articula como desdobramentos de
variadas atividades. Estes processos estão alimentando um conjunto de aspectos e novas
dimensões para o desenvolvimento social, ambiental e econômico, acompanhados de uma
visão ética para diretrizes de políticas governamentais (WEZEL, 2009).

A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou 2014 como o “Ano


Internacional da Agricultura Familiar” (AIAF), enquanto o setor da ONU para a Agricultura e
Alimentação (FAO), promoveu em Roma o “Simpósio Internacional sobre Agroecologia e
Segurança Alimentar e Nutricional”. Esta iniciativa chamou atenção ao reposicionar sujeitos
agricultores como atores-chaves para superar a complexa crise alimentar, defendendo a
19

proposta de um “desenvolvimento sustentável” através da promoção de ações e políticas para


fortalecer a produção familiar, camponesa e de povos tradicionais por meio da agroecologia
(PETERSEN; LONDRES, 2015; SCHMITT, 2016).

Como observado, os movimentos de cunho social e ecológico, ou seja, em favor de


uma ou da(s) “agricultura(s) alternativa(s)” nasceram próximos e associados à temática
ambiental, uma vez que relacionados com a luta para a preservação da terra ou dos pequenos
meios de produção14. Nesta construção, o movimento da Agroecologia como um todo, surge a
partir dos processos de transição de uma sociedade mais democrática e participativa, por um
ambiente econômico mais sustentável que consiga conciliar a soberania dos povos e os
territórios.

Com estes dois últimos tópicos conseguimos caracterizar, de algum modo, a


incidência de resistências sociais e diversas visões do mundo relacionadas à produção dos
sistemas de cultivo que surgiram durante recentes mudanças de paradigma produtivo
alimentar na modernidade. Entretanto, o que chama atenção e de fato nos convida a pensar é
como que estas propostas diversificadas conseguem avançar no cenário mundial. Através das
transformações e mudanças que foram impulsionadas na modernidade, quais seriam as
estratégias adotadas para uma articulação ampla dos atores sociais envolvidos?

6.2. PLANTANDO SEMENTES PARA NOVOS HORIZONTES

No atual contexto global e principalmente nos países da periferia do mundo, é coerente


dizer que estão surgindo cada vez mais ações alternativas, movimentos e contra-hegemonias
que buscam alcançar uma produção de alimentos que respeite a diversidade e,
primordialmente, combater a fome no mundo. Parece plausível que a médio e longo prazo
diversas situações locais surgirão como formas sustentáveis e viáveis de agricultura mais
voltadas para a preservação ambiental. É por meio de certa “racionalidade ambiental” ou
“ecologização” que a agricultura moderna e industrial não consegue dar conta, que as
dissidências alternativas têm atuado. Estes diversos atores do campo socioambiental estão

14
O professor Alfio Brandenburg destaca nos anos 70 três movimentos sociais campo nesta caminhada, São eles:
“o movimento de pequenos agricultores familiares atingidos por barragens, o movimento de indígenas que lutam
pelo direito de posse de suas terras e o movimento de seringueiros que lutam pela preservação de suas atividades
extrativistas na floresta amazônica”. Para saber mais: BRANDENBURG, Alfio. Ciências Sociais e Ambiente
Rural: Principais temas e perspectivas analíticas. Ambiente e Sociedade - Vol. VIII nº 1.jan/jun.2005.
20

formulando criticamente um entendimento potencial sobre os sistemas produtivos locais,


como modelo de estratégia alternativa de desenvolvimento sustentável (LEFF, 2009, p.144).

Além disso, o fluxo de trocas e pessoas na contemporaneidade tem apresentado um


caráter mais aberto a novas experiências, como consequência dos processos ambientais,
políticos e culturais que estão surgindo através dos movimentos de resistência e das
organizações civis quando sinalizam outras práticas, concepções e representações que fazem a
diferença. Neste cenário, existe uma prospectiva de mudanças no consumo dos alimentos e na
apreensão das “agriculturas alternativas”, como contestação de tecnologia social e agrária no
que se refere aos sistemas produtivos das culturas locais. É assim que reaparecem os espaços
de resiliência para semear soluções, concretizar outras filosofias e apresentar caminhos
alternativos de produção. Além de inspirar uma transição da sociedade que traz como
possibilidade o imaginar do bem viver, como prática de emancipação social gerada na
diversidade de realidades sociais e culturais (SOUZA SANTOS, 2002; ACOSTA 2016). E é
nessa direção que despertam modos de conceber o bem e o bom comer que adquirem critérios
diversos nas práticas sociais, “desde biológicos e químicos até ecológicos, energéticos,
filosóficos, simbólicos ou espirituais que remetem às concepções específicas da vida”
(GIORDANI; BEZERRA; ANJOS, 2017, p.440).

A transição dos processos democráticos em busca de uma economia e ambiente mais


sustentável está cada vez mais mobilizando novos atores sociais, bem como a reapropriação
coletiva de recursos biológicos com o potencial produtivo de alimentos agrícolas. Além disso,
a maior participação da sociedade civil nos assuntos públicos tem dado origem a novas
configurações, constituindo, por exemplo, organizações não governamentais, associações
civis de cunho diversificado em encontros, trocas e práticas socioculturais de origens distintas
(LEFF, 2009, p.328).

Tudo isso está desencadeando novas estratégias políticas de reprodução e


solidariedade dos espaços sociais alimentares que estão sendo construídos através de outros
processos sociais e econômicos, através das preferências entre produtores e consumidores de
alimentos resultantes da diversidade ecológica. Por isso, é plausível dizer que este cenário de
horizonte próximo se afirma cada vez mais como um processo transformador que integra a
produção da alimentação, agricultura e sociedade como nunca antes visto.
21

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As perspectivas que foram exploradas neste trabalho procuraram destacar fontes de


mudanças culturais relacionadas aos processos de reprodução alimentar e agrícolas mais
recentes na sociedade contemporânea. Nessa linha de raciocínio, foi possível observar grandes
impasses no que se refere ao padrão do desenvolvimento moderno com as interpretações mais
próximas com as realidades diversificadas dos territórios locais. Apesar disso, a proposição da
produtividade dos regimes agroalimentares acompanhou os avanços tecnológicos e estruturais
para maior satisfação e progresso da sociedade. Porém não deixou de reproduzir complicações
relacionadas com a fome, especificamente no consumo e na segurança alimentar, como
também na perpetuação da desigualdade no campo agrário.

Neste texto percebemos que os processos da alimentação e da agricultura estão


necessariamente interconectados como geradores de espaços sociais de produção alimentar.
Dessa forma, descobrimos que foi através do produto alimentar presente nas trocas humanas e
também nos impactos produzidos no meio ambiente, que se construíram os avanços
tecnológicos na lavoura. Do mesmo modo, foi mediante a estes processos antropológicos que
se apresentaram diferentes relações simbólicas e sistemas produtivos correspondentes na
sociobiodiversidade.

Por fim, já que este trabalho sintetiza alguns pontos de reflexão sobre os sistemas
produtivos agroalimentares, vale se aventurar por futuros estudos empíricos que busquem a
constituição de um retrato para verificar a construção teórica investida. Portanto, o que aqui
foi expresso tem muito a ver com as dinâmicas sociais das realidades locais observáveis,
tratando-se de renovação e recriação dos meios de produção alimentar de tantos espaços
sociais que estão em fluxos constantes de transformações e mudanças socioculturais. Isto quer
dizer que as intermediações locais e globais não param e refletem diversificadamente as
modificações dos efeitos sociológicos das ações e lutas sociais em questão.
22

BIBLIOGRAFIA

ABREU, Edeli Simioni; VIANA, Isabel Cristina; MORENO, Rosymaura Baena; TORRES,
Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva. Alimentação mundial: uma reflexão sobre a história.
Saude soc. vol.10 no.2 São Paulo Aug./Dec. 2001.

ACOSTA, Alberto. O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São
Paulo: Autonomia literária, Elefante, 2016.

ALMEIDA, J. A agroecologia entre o movimento social e a domesticação pelo mercado.


Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 24, n. 2, p. 499-520, 2003.

ALTIERI, Miguel A. Agroecologia, agricultura camponesa e soberania alimentar. Revista


Nera, ano 13, nª 16 - jan/jun, 2010.

ALVES, Alda Cristiane de Oliveira; SANTOS, André Luis de Sousa dos; AZEVEDO, Rose
Mary Maduro Camboim de. Agricultura orgânica no Brasil: sua trajetória para a
certificação compulsória. Revista Brasileira de Agroecologia. Rev. Bras. de Agroecologia.
7(2): 19-27, 2012.

BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da


agenda 21. Editora Vozes, ed. 4. Petrópolis, 2001.

BRANDENGURG, Alfio. Ciências sociais e ambiente rural: principais temas e perspectivas


analíticas. Ambiente & Sociedade – Vol. VIII nº. 1 jan./jun. 2005.

CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. Ed. Guaia, 2010.

CASCUDO, Luis Câmara. História da Alimentação no Brasil. 3. ed. São Paulo, editora
Global, 2004.

CASTRO, Josué de. Geografia da Fome: o dilema brasileiro: pão ou aço. 4ª Ed. Rio de
Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2004.

CHONCHOL, Jacques. A soberania alimentar. Estudos avançados, 19 (55), 2005.


23

DESMARAIS, Annette. La Via Campesina: Globalization and the Power of peasants.


Fernwood Publishing: Halifax? 2007.

EHLERS, E.M. O que se entende por agricultura sustentável?. 1994. 161f. Dissertação
(Mestrado). São Paulo: USP, 1994.

FONSECA, SOUZA, FROZI, PEREIRA. Modernidade alimentar e consumo de


alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição, 2011.

GIORDANI, Rubia Carla Formighieri; BEZERRA, Islandia; ANJOS, Mônica de Caldas Rosa
dos. Semeando agroecologia e colhendo nutrição: rumo ao bem e bom comer. A política
nacional de agroecologia e produção orgânica no Brasil: uma trajetória de luta pelo
desenvolvimento rural sustentável / organizadores: SAMBUICHI, R. H. R; MOURA, I. F;
MATTOS, L. M. ÁVILA. M. L; SPÍNOLA, P. A. C; SILVA, A. P. M. Governo Federal –
Brasília: Ipea, 2017.

GUIMARÂES, Alberto Passos. A crise agrária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade.


Tradução Luzia Araújo. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2013.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ESTATÍSTICA. Censo


agropecuário. Brasília, 2010.

LEFF, Enrique. Ecologia, Capital e Cultura. Territorialização da racionalidade ambiental.


Tradução do texto da 1º Ed. SILVA, Jorge. Petrópolis, RJ. Vozes, 2009

LÉVI-STRAUSS, C. O cru e o cozido. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

MACEDO, R. L. G.; VENTURIN, N.; TSUKAMOTO FILHO, A. A. Princípios básicos


para o manejo sustentável de sistemas agroflorestais. Lavras:UFLA/FAEPE, 2000.

MACHADO Luiz Carlos Pinheiro; FILHO, Luiz Carlos Pinheiro Machado. Dialética da
Agroecologia. 2ª edição, Expressão Popular, São Paulo, 2017.
24

MALUF, Renato S. Mercados agroalimentares e a agricultura familiar no Brasil:


agregação de valor, cadeias integradas e circuitos regionais. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 25,
n. 1, p. 299-322, abr. 2004.

MALUF, Renato S. Produtos agroalimentares, agricultura multifuncional e


desenvolvimento territorial no Brasil. In: MOREIRA, R. J.; COSTA, L. F. C. (Org.).
Mundo rural e cultura. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

MARTINE, George. A trajetória da modernização agrícola: a quem beneficia? Lua


Nova no.23 São Paulo Mar. 1991

MAZOYER, Marcel; ROUDART, Laurence. História das Agriculturas no Mundo: Do


neolítico à crise contemporânea. São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: NEAD, 2010.

MAZZETTO, Carlos Eduardo Silva. Modo de apropriação da natureza e territorialidade


camponesa: revisitando e ressignificando o conceito do campesinato. Geografias. Belo
Horizonte 03(1) 46-63 janeiro-junho de 2007.

McMICHAEL, Phillip. Regimes alimentares e questões agrárias. Estudos Camponeses e


Mudança Agrária. Editora: UFRGS; Unesp. ed. 1. 2016.

MORAES, Reginaldo C. ÁRABE, Carlos Henrique Goulart. SILVA, Maitá de Paula. As


cidades cercam os campos. Estudos sobre projeto nacional e desenvolvimento agrário na era
da economia globalizada. São Paulo: Editora UNESP: Brasília, DF: NEAD, 2008.

PASINI, Felipe dos Santos. A Agricultura Sintrópica de Ernst Götsch: história,


fundamentos e seu nicho no universo da Agricultura Sustentável. Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Campus UFRJ - MACAÉ Aloísio Teixeira. Programa de pós-graduação em
ciências ambientais e conservação. Rio de Janeiro, 2017.

PAULA, Nilson Maciel de. Evolução do sistema agroalimentar mundial: contradições e


desafios. Editora: CRV. Curitiba, 2017;
25

PERTERSEN, Paulo; LONDRES, Flavia. Seminário Regional sobre Agroecologia na


América Latina e Caribe. AS-PTA, nov, 2015.

POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens de nossa época. ; tradução de Fanny


Wrabel. - 2. ed.- Ria de Janeiro: Compus, 2000.

POULAIN, Jean-Pierre. Sociologia da Alimentação: Os comedores e o Espaço social


alimentar. 2ª ed., Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.

POULAIN, Jean-Pierre; PROENÇA, Rossana Pacheco da Costa. O espaço social alimentar:


um instrumento para o estudo dos modelos alimentares. Rev. Nutr., Campinas, 16(3):245-
256, jul./set., 2003.

SCHIMITT, Claudia. A transformação das “Ideias Agroecológicas” em Instrumentos de


Políticas Públicas: dinâmicas de contestação e institucionalização de novas ideias nas
políticas para a agricultura familiar. Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 15 - Edição
Especial - 2016.

SILVA, Clécio Azevedo da. Pensando o Espaço Social Alimentar em benefício da


agricultura familiar. Revista Electrónica de Geográfia u Ciencias Sociales. Universidad de
Barcelona Vol. XI, núm. 245 (53), 1 de agosto de 2007.

SILVA, Felipe Maia G. da. Metamorfoses da questão agrária: controvérsias intelectuais,


política e mundo rural no Brasil contemporâneo. Mediações - Revista de Ciências Sociais. v.
23, n. 2, 2018.

SOUSA SANTOS, B. Semear outras soluções. Os caminhos da biodiversidade e dos


conhecimentos locais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

STEDILE, João Pedro; CARVALHO, Horacio Martins de. Soberania alimentar: uma
necessidade dos povos. UnB, Brasília, 2010.

TOLEDO, Víctor M. BARRERA-BASSOLS, Narciso. A memória biocultural: a


importância ecológica das sabedorias tradicionais. 1ª edição, Editora: Expressão Popular. AS-
PTA, São Paulo, 2015.
26

VIVAS, Esther. Internacionalismo camponês. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net.


Publico.es, 17 de abril de 2014.

Wezel, A; Bellon, S; Doré, T; Franci C; Vallod, D; David, C. Agroecology as a science, a


movement and a practice. A review. Agronomy fo Sustainable Development. INRA, EDP
Sciences, 2009.

Você também pode gostar