Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ROCHA, D. L. S.. A concepção de espiritualidade dentro de uma visão holística em educação e suas implicações para a
gestão do cotidiano escolar.. In: III Encontro Estadual da ANPAE/PR, 2002, Curitiba. Gestão da educação na
contemporaneidade: compromissos e desafios. Anais..., 2002.
Nos tornamos condicionados a pensar que a melhor forma de atender nossas necessidades…se dá
através da aquisição de bens materiais. Quando percebemos que uma determinada aquisição não
funcionou—não nos fez mais feliz, mais sexy ou mais seja lá o que gostaríamos de ser—normalmente
não chegamos à conclusão que a satisfação de nossas necessidades mais básicas não se dá através de
aquisição de bens materiais. Em vez disso dizemos: “Bem, aquilo não me satisfez mas eu ouvi falar de
algo que certamente é melhor”. Nos tornamos divorciados, como resultado, de entender quais são as
nossas reais necessidades. (p. 47, minha tradução)
De forma geral, isto significa que qualidades interiores humanas, tais como o pensamento, a emoção,
criatividade, imaginação, compaixão, um senso de admiração e reverência e uma necessidade de auto-
realização são reconhecidos enquanto aspectos vitais da existência humana. Uma visão de mundo
espiritual valoriza aspectos mais sutis, qualidades pessoais profundas que estão potencialmente
manifestas em todas as pessoas e que são essenciais para a auto-realização do indivíduo e harmonia
4
social. Espiritualidade é o reconhecimento que nossas vidas tem um propósito, uma direção, um
significado, uma meta que transcende nossos condicionamentos físicos e culturais. É o reconhecimento
que estamos conectados, em um nível profundo, com a continua evolução da vida e do universo. A
espiritualidade pode ou não envolver uma linguagem religiosa, conceitos e rituais; ela pode ou não
envolver a crença em um Deus. A característica essencial de uma perspectiva espiritual é que ela vê o
ser humano enquanto um ser que desabrocha criativamente de dentro para fora e não enquanto uma
vítima passiva de forças biológicas, econômicas ou ideológicas. Uma concepção espiritual é uma
reverência por toda a vida—pela vida que espontaneamente e misteriosamente desabrocha das
profundezas de cada um de nós. (p. 58-59, minha tradução)
Religião é uma forma cultural, litúrgica, ritualística e mística que escolhemos para viver nossas
experiências espirituais…Espiritualidade não é uma doutrina que pode ser ensinada. É uma energia vital
expressa através de nossa percepção, pensamento e sentimentos e se manifesta enquanto força criativa.
Ela influencia a forma com que percebemos as informações, encaramos a vida, recebemos insights
relacionados com a evolução da consciência humana, e determina a forma com que damos um sentido
para as nossas vidas. (p.25, minha tradução)
Espiritualidade, dentro de uma perspectiva holística, não é algo que pode ser ensinado
enquanto uma disciplina. Ela deve permear todo o currículo. Para promovê-la, podemos, entre
outras coisas: (1) Modelar, através de nosso exemplo, uma forma de ser menos materialista e
mais centrada no nosso desenvolvimento interior e na qualidade das nossas relações com o
próximo e com o meio aonde vivemos (ELKIND, 1992; WOODS e WOODS, 1994; GANG
et al., 1992, STEINER, 1995) . (2) Mostrar aos alunos, através de nosso exemplo, “presença
no momento”, ou seja, uma capacidade de “estar aqui e agora” no que estamos fazendo sem
nos deixar ser varridos pela torrente de pensamentos que normalmente permeiam nossas
mentes (DE SOUZA, 2000). (3) Demonstrar sensibilidade e respeito nas nossas relações com
todos `a nossa volta (ELKIND, 1992). (4) Promover relações significativas com os
conhecimentos que estamos trabalhando de forma que estes possam fazer sentido e dar
sentido às nossas vidas (PALMER, 1993). (5) Promover um senso de interconexão e respeito
para com o meio ambiente. (6) Promover um senso de interconexão entre os diferentes tipos e
formas de conhecimento. (7) Promover um senso crítico nos alunos de forma a ajudá-los a
perceber o quanto o contexto social e cultural pode limitar o nosso olhar sobre nossas
verdadeiras possibilidades (HUEBNER, 1995). (8) Promover discussões que dizem respeito
ao significado da vida (quem somos, porque somos o que somos e quais são nossas metas
pessoais) (GRIFFIN, 1981). (9) Proporcionar contato com a arte criativa para contra-
balancear o impacto negativo da cultura de massa que permeia nossa sociedade e para que
possamos nos encorajar e encorajar nossos alunos a expressar nossas possibilidades
verdadeiramente criativas (GRIFFIN, 1981). (10) Promover atividades artísticas, uma vez que
as mesmas podem sugerir diferentes “formas de ver e de ser” (HUEBNER, 1995, p.19) e
gerar auto conhecimento (J. MILLER, 1988). (11) Promover atividades tais como
visualização e/ou escrita criativa, que podem nos ajudar a entrar em contato com o nosso eu
interior (J. MILLER, 1988). (12) Manter, e pedir aos alunos que mantenham, um diário para
que possamos considerar fatos tais como por exemplo, porque reagimos de certa forma diante
de certas pessoas e situações. Isto pode contribuir para nosso auto conhecimento e auto
8
controle, que se constituem em ferramentas fundamentais para o nosso desenvolvimento em
todos os sentidos.
Para concluir, gostaria de afirmar mais uma vez, que espiritualidade dentro de uma
perspectiva holística não pode ser ensinada enquanto uma disciplina isolada. Ela precisa sim,
ser vivida no currículo enquanto um todo. Antes de encerrar, gostaria de esclarecer que,
considerando tudo o que foi dito até então, concordo com a idéia defendida pelo movimento
holístico em educação que precisamos promover uma visão de mundo menos materialista e
mais espiritualizada. Concordo também com BOWERS (1993) quando afirma que não
devemos querer que todos passem a consumir como a elite, pois se isto vier a acontecer,
acabaremos por extinguir com muitos dos recursos naturais do meio ambiente, e
consequentemente, com a possibilidade de vida no planeta. Acredito, entretanto, que
juntamente com uma visão mais espiritualizada da vida (espiritualizada não no sentido
religioso, mas no sentido discutido acima), devemos todos ter igual acesso a condições para
termos uma vida relativamente confortável a nível material. Portanto, precisamos ser
cautelosos ao promover a idéia que devemos levar uma vida menos materialista/consumista
ao trabalhar com populações carentes. Caso contrário, poderemos inconscientemente
contribuir ainda mais para o agravamento da sua pobreza.
9
REFERÊNCIAS
BOWERS, C. A. Education, cultural myths, and the ecological crisis: toward deep
changes. Albany, NY: State University of New York
Press, 1993.
CANFIELD J. Wholistic education in the new age. In: HARRIS, A. (Ed.).
Mind: evolution or revolution? The emergence of holistic education .
Del Mar, CA: Holistic Education Network, 1980. p. 29-35.
CAPRA, F. The turning point: Science, society, and the rising culture.
Toronto, New York: Bantam, 1983.
COBB, J. B. Homo religious as social process. Holistic Education
Review, Brandon, VT, v. 9, n. 2, p. 5-13, 1996.
DE SOUZA, D. Holistic education: learning from the experiences of three
holistic teachers. Cambridge, MA, 2000. Dissertação (Doutorado em
Educação) – Harvard Graduate School of Education, Harvard University.
DEL PRETE, T. Thomas Merton and the education of the whole person.
Birmingham, AL: Religious Education Press, 1990.
ELKIND, D. Spirituality in education. Holistic Education Review, Brandon, VT, v.5, n. 1,
p. 12-16, 1992
EVANS, D. Spirituality and human nature. Albany, NY: State University
Press, 1993.
GANG, P. S. Holistic education for a new age. Holistic Education Review,
Brandon, VT, v. 1, n. 1, p. 13-17, 1988.
GANG, P.; LYNN, N. M.; MAVER, D. J. Conscious education: the bridge to freedom.
Atlanta: Dagaz Press, 1992
GALYEAN, B. Honoring the spirituality of our children without teaching
religion in the schools. Holistic Education Review, Brandon, VT, v. 2, n.2, p. 24-
28, 1989.
GRIFFIN, R. Holistic education: One person’s perspective. In: HARRRIS, A.
(Ed.). Holistic education: Education for living. Del Mar, CA: Holistic education
Network, 1981. p. 108-118.
HARRIS, A. Mind: evolution or revolution? The emergence of
holistic education. Del Mar, CA: Holistic Education Network, 1980.
HARRIS, A. Holistic education: education for living. Del Mar, CA: Holistic
10
Education Network, 1981.
HUEBNER, D. Education and spirituality. JCT: an Interdisciplinary Journal of
Curriculum Studies, v. 11, n. 2, p.13-34, 1995.
HUTCHINSON, D. The spiritual realm within a holistic conception of child
development and education. Holistic Education Review, Brandon, VT,
v.4, n.3, p. 12-22, 1991.
JOHNSON, A. N. (1999). A postmodern perspective on education and spirituality:
Hearing many voices. Encounter: Education for meaning and social justice,
Brandon, VT, v. 12, n. 2, 1999
KESSON, K. Critical theory and holistic education: Carrying on the
conversation. In MILLER, R. (Ed.). The renewal of meaning in
education. Holistic Education Press, 1993.
KESSON, K. Contemplative spirituality and social transformation: finding our “way.”
Trabalho não publicado, 1997.
KIRSCHEMBAUM, H. Using holistic education to develop a moral and ecological lifestyle.
In Harris, A (Ed.), Mind: Evolution or revolution? The emergence of holistic
education. Del Mar, CA: Holistic Education Network., 1980. p. 42-51
KRISHNAMURTI. Education and the significance of life. San Francisco,
CA: Harper & Row, 1981.
MILLER, J. The holistic curriculum. Toronto: OISE Press, 1988.
MILLER, J. The contemplative practitioner: meditation in education and the
professions. Westport: Bergin & Garvey / Greenwood, 1994.
MILLER, R. Education in a declining culture. Holistic Education Review,
Brandon, v. 3, n. 1, p. 2-3, 1988.
MILLER, R. What are schools for? Holistic education in American
culture. Brandon, VT: Holistic Education Press, 1990a.
MILLER, R. What is holism in education? Correspondence between Miller and Corsini.
Holistic Education Review, Brandon, VT, v. 3, n. 1, p. 21- 28, 1990b.
MOFFET, J. The universal schoolhouse: spiritual awakening through education. San
Francisco: Jossey-Bass, 1994.
ORR, D. The problem of disciplines? The discipline of problems. Holistic Education
Review, Brandon, VT, v. 6, n.3, p. 4-7, 1993.
PALMER, P. J. To know as we are known: Education as a spiritual journey. San
Francisco: HarperCollins, 1993.
11
SHEA, C. M. Critical and constructive postmodernism: the transformative
power of holistic education. Holistic Education Review, Brandon, VT, v.9, n. 1,
p.40-50, 1996.
SMITH, G. A. Education and the environment: learning to live with limits.
Albany, NY: State University of New York Press, 1992.
WOODS, P. , & WOODS, G. The challenge of the spiritual: Spirituality in U.
K. schools. Holistic Education Review, Brandon, VT, v. 7, n. 3, p. 17-24, 1994.
STEINER, R. The spirit of the Waldorf school. Tradução de: R. F. Lathe; N.
P. Whittaker. Hudson, NY: Anthroposophic Press, 1995.
STEINER, R. The kingdom of childhood. In R. Trostli (Ed.). Rhythms of
Learning: Selected Lectures by Rudolf Steiner. Hudson, NY: Anthroposophic Press,
1998.