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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE

DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL CENTRAL DA


COMARCA DE SÃO PAULO-SP.

DARCI RIBEIRO GAMA, brasileira, casada, aposentada,


nascida em 06/08/1960, portadora da cédula de identidade RG n.º 15.637.546-
1 SSP-SP, devidamente inscrita no CPF sob o n.º 106.581.948-01, filha de
Jorge Ribeiro Marinho e Orminda Eiras de Jesus, residente e domiciliada
na Avenida Eduardo Pereira Ramos, 847 - Jardim são Jorge - São
Paulo / SP – Cep. 04432-000, por meio de seus advogados e bastante
procuradores, que esta subscrevem, JOSEVALDO DUARTE GUEIROS,
advogado, inscrito na OAB/SP sob o n. 252.887, JOSE ANTONIO DO
CARMO, advogado, inscrito na OAB/SP n. 272.303, MOACIR CARLOS
SILVEIRA MARTINS, advogado, inscrito na OAB/SP n. 249.537 e LUCAS
JÚNIOR SILVA DOS SANTOS, advogado, inscrito na OAB/SP n. 453.747,
todos com escritório sediado na Av. Senador Teotônio Vilela, nº 4.430, Sala
01, Vila São José, São Paulo / SP – Cep. 04833-000, onde pede e espera
receber as intimações e comunicações de estilo, constituído nos termos do
mandato incluso, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
na forma do inciso X, art. 5º e § 6º do art. 37 ambos da Constituição Federal,
propor a presente

AÇÃO DE RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL


em face de BANCO C6 S.A, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita sob o CNPJ/MF 5 61348538000186, com sede na AVENIDA
NOVE DE JULHO, 3186, JARDIM PAULISTA, CEP: 01406-000, endereço
eletrônico: JURIDICO@C6BANK.COM, telefone: (11) 2832-6000, pelas
razões de fatos e direitos a seguir expostas.

I. DOS FATOS

DARCI RIBEIRO GAMA, pessoa simples e idosa, após se


aposentar passou a ser assediada por vários funcionários Bancário do Banco
C6 S/A – réu – os quais sempre ofereciam empréstimo a mesma.

Após várias tentativas por parte do Banco para que se


concretizasse um empréstimo consignado, a Autora aceitou a proposta que lhe
foi feita via WhatsApp, no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil), por um
funcionário do Banco de prenome “Paulo Cesar”, através do número (11) 9-
3441-8508.
Após assinar o contrato digitalmente, seguindo as orientações
do funcionário do banco, a Autora foi surpreendida negativamente, pois, ao
contrário do prometido os valores que lhe foram repassados perfaziam a
quantia de R$ 14.616,55 (quatorze mil seiscentos e dezesseis reais e
cinquenta e cinco centavos), conforme extrato juntado aos autos.
Diante da ausência de concretude da proposta inicialmente
ofertada, a Autora entrou em contato com o banco e informou que os valores
que lhe foram repassados não condiziam com o que foi contratado e requereu
o cancelamento, ou, o envio total dos valores contratados.
No entanto, mesmo sendo lhe prometido que o suporte
efetuaria o deposito do montante restante que foi contratado nada disso
ocorreu.

Não bastando o descumprimento do contrato, o Banco,


posteriormente, através do WhatsApp, cadastrado sob o número telefone (11)
9.1199-5300, entrou em contato com a Autora informando que para efetuar o
cancelamento do contrato ela deveria que efetuar a devolução do valor que
constava em sua conta, ou seja, da quantia de R$ 14.616,55 (quatorze mil
seiscentos e dezesseis reais e cinquenta e cinco centavos).

Diante disso, com o fim de dar cabo ao contrato anteriormente


firmado a Autora, prontamente, enviou o pix no montante de R$ 14.616,55
(quatorze mil seiscentos e dezesseis reais e cinquenta e cinco centavos)
através da chave de lhe foi enviada pelo número (11) 9.1199-5300.

Cabe ressaltar que a pessoa que lhe contatou por meio do


WhatsApp tinha em mãos todas as informações sigilosas relativas aos dados
bancários da Autora, inclusive os valores que lhe haviam sido repassados, a
data e histórico contratual.

Após efetuar o pix e insistir, por várias vezes, com os


representantes do Banco apara obter informações a respeito da operação, a
Autora não obteve retorno, e, por isso, entrou em contato direito com o Banco,
por meio das vias ordinárias de contato, e para surpresa da Autora, foi
informado ter sido vítima de um golpe.

Após ter tido ciência de que caiu em um golpe, a Autora


entrou em contato com o banco pedindo o cancelamento do empréstimo
realizado em seu nome, com o fim de evitar o imenso prejuízo financeiro que
acabara de sofrer, no entanto, o Banco não tomou qualquer providência,
amargando, sozinho, significativo prejuízo financeiro, dada suas condições
modestas de vida.

Diante de tal quadro, desesperado, a Autora se dirigiu até o


Departamento de Polícia Civil e registrou o Boletim No.: 67769/2022, e o
caso passa a ser investigado com estelionato.

Um detalhe importante que merece ser relatado, com o fim de


evidenciar a responsabilidade do Banco Réu, é que o “golpe” só se
concretizou pelo fato da pessoa que lhe contatou ter repassado a Autora dados
sigilosos relativos ao seu histórico bancário, o que por si evidência que o teve
acesso a dados que deveriam estar em sigilo, pois somente o banco Réu
deveria ter acesso.

Assim, não restando a Autora alternativa senão se socorrer do


judiciário para a satisfação de seu direito, vem, através da presente, diante as
subsunções do fato à norma, pugnar pela realização da melhor justiça.

II. DOS DIREITOS

DA JUSTIÇA GRATUITA

Preliminarmente, em que pese a competência originária do


feito, pelo princípio da eventualidade, cumpre destacar que à autora não será
possível custear a demanda sem prejuízo de seu sustento e de sua família,
razão pela qual se roga pelo reconhecimento e declaração de sua
hipossuficiência, garantindo-lhes os benefícios da justiça integral e gratuita,
nos termos da lei nº 1.060/50 e do Código de Processo Civil.

O acesso à justiça reveste-se de caráter constitucional,


insculpido na Carta Magna dentre os direitos fundamentais do ser humano, em
seu artigo 5º, incisos XXXV e LXXIV, sob o princípio da inafastabilidade da
jurisdição. Neste sentido:

Art. 5º, CF Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário


lesão ou ameaça a direito;

LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e


gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

Além da Constituição Federal, a 1ª Convenção Interamericana


sobre Direitos Humanos de São José da Costa Rica, da qual o Brasil é
Signatário, também garante em seu artigo 8º o seguinte:

Art. 8º Toda pessoa tem direito de ser ouvida, com as


garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou
tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal
contra ela, ou para que determinem seus direitos ou obrigações
de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer natureza.

O Código de Processo Civil de forma expressa reconhece o


direito à gratuidade da justiça presumindo verdadeira a alegação de
insuficiência deduzida por pessoa natural, conforme o caso.

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira,


com insuficiência de recursos para pagar as custas, as
despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito
à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado


na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de
terceiro no processo ou em recurso.

(...)

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos


autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos
legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de
indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.

§ 4º A assistência da Requerente por advogado particular


não impede a concessão de gratuidade da justiça.

Seguindo este entendimento, manifestou o Supremo Tribunal


Federal nos seguintes termos:

O conceito de miserabilidade não se restringe ao miserável,


mas abrange pessoa de condição modesta ou até da classe
média que se encontre em situação de não poder prover as
despesas do processo, sem se privar de recursos
indispensáveis à manutenção própria ou da família.
Precedentes do STF. HC 76.563-SP, Relator Ministro Moreira
Alves, 19.06.98 (Osório Silva Barbosa Sobrinho apud in
“Constituição Federal Vista pelo STF”, 3ª edição, Juarez de
Oliveira, 2001, páginas 294/295).
No mesmo sentido é o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. PESSOA
NATURAL. DECLARAÇÃO DE MISERABILIDADE.
PRESUNÇÃO JURIS TANTUM OPERANDO EM FAVOR
DA REQUERENTE DO BENEFÍCIO. RECURSO
PROVIDO. 1. O art. 4º. §1º, da Lei 1.060/50 traz a presunção
juris tantum de que a pessoa natural que pleiteia o benefício
de assistência judiciária gratuita não possui condições de arcar
com as despesas do processo sem comprometer seu próprio
sustento ou de sua família. Por isso, a princípio, basta o
simples requerimento, sem qualquer comprovação prévia,
para que lhe seja concedida a assistência judiciária gratuita.
Embora seja tal presunção relativa, somente pode ser afastada
quando a parte contrária demonstrar a inexistência do estado
de miserabilidade ou o magistrado encontrar elementos que
infirmem a hipossuficiência da Requerente. [...]. (REsp
1178595/RS STJ. Rel. Min. Raul Araújo. 4ª Turma. Julgado
em 19/10/2010). Dessa forma, não se justifica a decisão do
Juízo de origem em relação ao pedido de gratuidade, que deve
ser deferido, ressalvada a possibilidade de o benefício vir a ser
revogado se demonstrado que o ora agravante realmente não
reúne as condições exigidas para seu gozo. Pelo exposto, dou
provimento ao recurso para conferir ao garante os benefícios
da justiça gratuita. (Agravo de Instrumento nº 2036036-
22.2014.8.26.0000).

Igualmente o posicionamento do Egrégio Tribunal de Justiça


do Estado de São Paulo:
"APELAÇÃO – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA –
REVOGAÇÃO - PESSOA FÍSICA – ASSISTENTE
MATERNAL – PRESUNÇÃO – Presunção decorrente da
declaração de insuficiência de recursos que deve ser elidida
por prova em contrário – Hipótese em que a autora é isenta de
declarar imposto de renda e desligou-se de seu último trabalho
aos 24/03/2016 - Não obstante a autora tenha contratado
advogado particular, não há nos autos elementos para afastar a
presunção que milita em favor da Requerente do benefício da
assistência judiciária, a qual deve prevalecer – Novo Código
de Processo Civil que, ao regular alguns aspectos da
assistência judiciária, corrobora o entendimento deste Relator
– Inteligência dos arts. 98 e 99, §§ 2º, 3º e 4º, do NCPC –
Benefício restabelecido – Apelo, neste aspecto, provido."
(TJSP - Acórdão Apelação 1021851-71.2016.8.26.0405,
Relator(a): Des. Salles Vieira, data de julgamento:
12/06/2018, data de publicação: 12/06/2018, 24ª Câmara de
Direito Privado)

Assim sendo, resta claro que o direito em epígrafe não ostenta


apenas caráter constitucional, mas se eleva a uma prerrogativa de Direitos
Humanos, de modo que a condição financeira da autora não pode servir de
óbice à garantia da justiça. Portanto, requer-se, desde logo, o reconhecimento
das benesses da justiça gratuita, para que, de fato, possa-se fazer justiça.

DO MÉRITO

Inicialmente, cumpre esclarecer que se mostra patente os


danos suportados pela requerente, haja vista a indevida limitação no seu
direito de propriedade, bem como dúvidas não restam no que concerne à
responsabilidade do requerido, senão vejamos:
A constituição Federal, ao estabelecer os direitos e garantias
fundamentais assegura o direito de propriedade, em seu art. 5º, inciso XXII:

XXII - é garantido o direito de propriedade;

No mesmo tracejo, a Carta Magna impõe àquele que ofende


direito alheio o dever de indenizar:

Art.5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país e inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao


agravo, além de indenização; 

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação. 

O Código Civil segue esse mesmo raciocínio e, ao dispor


sobre o ato ilícito, conforme seus artigos 186 e 927, deixa evidente o direito de
reparação do dano, senão vejamos:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
No mesmo sentido, há de se invocar os princípios inerentes à
relação de consumo havida in casu, pleiteando de forma ampla os direitos
contidos e previstos na Lei Federal nº 8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor), em especial, as previsões relativas aos direitos básicos do
consumidor, trazidas pelo artigo 6º, o direito de reparação, garantido pelo
inciso VI deste artigo, a inversão do ônus probatório, previsto ao inciso VIII, e
demais dispositivos legais pertinentes.

Art.6º São direitos básicos do consumidor:

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e


morais, individuais, coletivos e difusos;

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

Além disso, o código consumerista traz à baila a obrigação de


reparar o dano causado pelo fornecedor de serviços aos consumidores,
independentemente da existência de relação de culpa:

Art.14 – O fornecedor de serviços responde


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua função e riscos. 

Portanto, os principais deveres anexos são de acuidade, de


respeito, de lealdade, de cooperação, de confiança, de informar, de agir
conforme a equidade e a razoabilidade, o que evidentemente não foi observado
pelo requerido, conforme se passa a expor.

DA PONDERAÇÃO BANCÁRIA

O Direito Bancário é norteado por alguns vetores, como o


princípio da ponderação bancária. Tal princípio, por sua vez, vem
regulamentado pela prevalência da realidade, pela abrangência e flexibilidade.

Pela prevalência da realidade, entende-se pela supremacia dos


fatos trazidos à baila frente à atos meramente formais. Tal norteador tem por
escopo o cumprimento do justo.

Neste mesmo sentido, a abrangência se concentra numa visão


holística e em cadeia de todos os fatos, e não em fatos isolados.

Por fim, a flexibilidade importa na competência do Direito


Bancário em enfrentar problemas novos com soluções diferentes.

O princípio da ponderação bancária, portanto, vem a regular,


fundamentalmente, a fórmula de contratar, um esquema de interpretar o objeto
contratado e as garantias do cumprimento.

Tem-se, entre cliente e instituição bancária, uma relação de


confiança, em que o cliente deposita sua confiança no banco ao qual elege
para o gerenciamento de sua vida financeira.

Nesta toada, o banco responsabiliza-se, não só por referido


gerenciamento, mas, também, pelas consequências dele advindas.

O Código Civil é claro ao dispor que, em havendo prejuízo, e


sendo culpado o devedor (neste caso, o banco), poderá o credor (cliente) exigir
o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a
reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos(artigo 236,
Código Civil), ou, se a coisa se perder por culpa do devedor (banco),
responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos (artigo 239, Código
Civil).

Esse vem sendo o entendimento aplicável aos casos do


chamado “Golpe do Motoboy”, conforme ensinamento do E. Desembargador
EnioZuliani, no bojo dos autos de Apelação Cível nº 0028459-
92.2012.8.26.0001:

A responsabilidade bancária decorre do não atendimento


de pedido formulado pelo autor junto a agência bancária
da Rua Voluntários da Pátria e por intermédio da gerente
Ivanilda (item 14 da inicial fls. 7) com o propósito de evitar
que o estelionatário Marciento da Silva sacasse o valor
depositado pelo golpe praticado (R$ 210.000,00 ou dois
cheques de R$ 125 e 85 mil cada qual). O banco não
atendeu ao pleito afirmando necessidade de ordem judicial
e quando o mandado de bloqueio foi emitido, na cautelar
em apenso, foi possível bloquear R$ 124.350,52 (fls. 25 do
apenso).

A recusa do banco não é objeto de negativa na contestação


de fls. 114, mas, sim, de justificativa. O banco afirma que
não lhe é possível ou permitido intervir na conta corrente
alheia porque o dinheiro escritura lá não lhe pertence, o
que obrigou a preposta a exigir ordem judicial. Essa
posição jurídica é bem cômoda, embora de acordo com os
princípios tradicionais, pois o depósito bancário faz com
que o banco se torne devedor do correntista, o único ao
qual deverá prestar contas ou tomar providências
(GILBERTO NÓBREGA, Depósito bancário, 2ª edição,
Revista dos Tribunais, 1966, p. 77, item 68).

Uma consulta da doutrina especializada permitirá afirmar


que o banco ao receber o numerário em depósito obriga-se
não só pela guarda (custódia), como ao reembolso quando
exigido, de modo que a preocupação da gerente, ao negar
o pedido de imediato bloqueio (sem ordem judicial) foi o
de proteger o banco contra as vicissitudes de litígio com o
cliente (Marciento da Silva). Curioso lembrar que essa conta
foi aberta com irregularidades flagrantes ou para
operacionalizar o desvio do dinheiro que foi subtraído do
autor. Duvida-se que esse Marciento da Silva, citado por
edital, realmente exista, o que faz reconhecer ter o banco
aberto uma conta corrente com documentos falsos.

Os bancos, como outras instituições que prestam serviços (e


cabe mencionar essenciais) não se eximem do dever de
examinar os documentos, competindo recusar o acesso
quando visíveis a falsidade. Ainda que Marciento tenha
apresentado documentação que não permitisse, desde logo,
constatar a fraude, nada justifica continuar autenticado a
fraude depois da denúncia formulada pelo autor. HONÓRIO
FERNANDES MONTEIRO escreveu interessante estudo
(Do crédito bancário confirmado, Saraiva, 1933), quando
afirmou que mesmo diante de cláusulas que excluam a
responsabilidade bancária, “nem por isso os bancos ficam
isentos dos atos dolosos e, mesmo, culposos” (fls. 150). O
art. 186 do CC deve ser aplicado diante da culpa do banco.

As atividades bancárias foram modernizadas e ao que parece o


Banco Itaú Unibanco também aderiu as novas tecnologias que
simplificam e facilitam a prática de atos bancários, tudo para
satisfazer a clientela e girar com maior rapidez os negócios
(investimentos) bancários. Mas, não é somente aí que a
técnica bancária avançou, porque os princípios também
foram atualizados, inclusive aquele que forma a
ponderação bancária (ANTONIO MENEZES
CORDEIRO, Direito bancário, Coimbra, Almedina, 1997,
p. 177). Essa onda que o direito português explora tem por
objetivo situar o banco como agente responsável por
soluções diferentes para problemas novos.

Os doutrinadores explicam que as atividades bancárias


intensificadas na era globalizada e guiada por falsidades
permitidas ou facilidades pela internet, alargaram o
campo de incidência da responsabilidade extracontratual,
até porque as leis que defendem os consumidores
(terceiros), como no Brasil pela Lei 8078/90 (CDC),
protegem os interesses dos lesados pelas práticas abusivas
ou corporativistas. A natureza jurídica da obrigação de
custódia e de controle de movimentação da conta
bancária, seja bancária ou de depósito, não cria um
regime absoluto que imponha imobilidade do banco.
Embora o banco contrate e atue para o cliente, existe uma
lógica quanto ao propósito de proteger a ordem jurídica e
direitos de terceiros, vítimas de golpes praticados com
utilização de contas bancárias abertas mediante fraude.
Significa que caberia recepcionar o pedido formulado pelo
autor perante a agência bancária responsável pela escrituração
dos fundos reservados pelo fraudador Marciento da Silva,
diante da verossimilhança da fraude. Aliás, o Banco poderia
bloquear (congelar) o saque da conta e denunciar os fatos
ao Judiciário visando acautelar contra protestos do
depositário, que, pelo visto, não foi encontrado para ser
consultado, se é que a gerente Ivanilda (ou outro) tivesse
tentado o contato (endereço falso e inexistente). A
insensibilidade demonstrada diante da situação
problemática do autor não encontra motivação lógica, até
porque não existe razão para a inércia que permitiu o
desvio de R$ 103.350,00.

Analisando de forma objetiva o vínculo jurídico criado


pelo depósito em conta corrente bancária é possível
antever que o banco se encarrega de dar movimentação
em crédito escritural circulável. Significa dizer que o
depositante tem direito de movimentação ou de exigir que
se opere os lançamentos por suas iniciativas quando
houver coincidência entre o crédito real e o escritural.
Ora, seja pela ilicitude denunciada pelo autor, a
ponderação bancária estimulava atos positivos de
congelamento do valor que foi obtido ilegalmente (art. 104,
II, do CC), porque essa é a conduta normal esperada pela
boa-fé (art. 422 do CC). Como afirmado pelo jurista
português FERNANDO CONCEIÇÃO NUNES
(“Depósito e conta”, in Estudos em homenagem ao
Professor Doutor Inocêncio Galvão Telles, Coimbra,
Almedina, 2002, vol. II, p. 88) a palavra disponibilidade do
saldo bancário está relacionada com “o valor patrimonial
próprio, idôneo para ser, autonomamente, objeto de
situações jurídicas”.

O total desligamento do banco com a queixa séria e grave


que o autor dirigiu a encarregado com poderes para
intervir na contabilidade e bloquear o saldo até
conferência da INIDONEIDADE DO SALDO, não é
somente uma falta de compromisso com o abuso praticado
por meio de contas bancárias falsas ou ausência de
cooperação no combate ao crime e ao ilícito, mas, sim, um
componente do dano experimentado pela vítima. O
episódio está encartado no epílogo final do nexo causal que
foi formado por etapas que, no final, estão associadas de
acordo com os graus da intensidade contributiva para o
resultado danoso. O Banco Itaú-Unibanco também
responderá no limite de sua atuação omissa, porque o não
bloqueio permitiu a evasão de R$ 103.350,00. […]. Grifei.

Nesta senda, vê-se que a responsabilização pela inércia


bancária é medida de rigor nos termos do Código Civil e Código de Defesa do
Consumidor, sendo necessária a reprovação de tal conduta, como forma não só
repressiva, mas, também pedagógica.

DA DISTINÇÃO ENTRE ATIVIDADE BANCÁRIA E


PROCESSAMENTO DE PAGAMENTOS

De igual modo, as instituições bancárias devem ser


responsabilizadas por golpes realizados por meio do cartão da vítima. Para
tanto, inicialmente, deve-se assentar a diferença entre atividades bancárias de
atividade de processamento de pagamentos.

Atividades bancárias são serviços propostos pelo próprio


banco, como saques e TED, realizados de forma imediata. Por outro lado,
processamento de pagamentos não é uma operação bancária de transferência
de recursos, consistindo em um processo complexo e tecnológico de vendas.

Nesta última hipótese, o recuso oriundo da fraude não é


repassado de imediato para o estabelecimento comercial. Há um prazo
contratual, com possibilidade de bloqueio da fraude, pela operadora.
Ocorre que os bancos, em regra, não efetuam o bloqueio do
pagamento, ou o comunicado de bloqueio, junto as operadoras, de modo que,
assim não procedendo, tem-se a caracterização de sua culpa, comprovada a má
prestação dos serviços, o que deve ser indenizado.

Nos termos da Resolução nº 3.694, do Banco Central do


Brasil:

Art. 1º As instituições financeiras e demais instituições


autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, na
contratação de operações e na prestação de serviços,
devem assegurar: (Redação dada pela Resolução nº 4.283, de
4/11/2013.)

II - a integridade, a confiabilidade, a segurança e o sigilo


das transações realizadas, bem como a legitimidade das
operações contratadas e dos serviços prestados;

Destarte, resta cristalino que, diante do mecanismo utilizado


pelo pagamento em crédito ou débito, além da disponibilização de dados
bancários e sigilosos do cliente, cria-se um risco extremo de fraude, o que
ocorre frequentemente.

Assim sendo, considerando que o fato decorre de ato atípico


da conta corrente em epígrafe, qual seja, o gasto completo, em um curto
período de tempo, de todo saldo mais o limite do cheque especial, e que o
prejuízo tem origem em risco criado pela própria instituição financeira, dela
passa a ser exigível a adoção de medidas protetivas suficientes a coibir
possíveis fraudes, de modo que, em não sendo realizadas, importam,
necessariamente, na má prestação de serviço, e, portanto, na responsabilização
pelos danos havidos.
DA VIOLAÇÃO DO SIGILO BANCÁRIO E APLICAÇÃO DA LEI
GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS

Conforme se depreende do caso em epígrafe, os interlocutores


que mantiveram contato com a autora, ostentavam todas suas informações
pessoas e bancárias, de modo a violar os dados e sigilos bancários.

Assim, apresenta-se como imperiosa a responsabilização da


instituição bancária, eis que o vazamento de informações, confiadas sob sua
guarda, deu ensejo e possibilitou a aplicação de golpes, sem as quais, nada
disso seria possível.

Deste modo, à míngua das garantias trazidas pelo artigo 2º,


incisos I e IV, da Lei nº 13.709/2018,e considerando que a fragilidade e má
prestação do serviço prestado foi aspecto determinante para a consumação do
fatídico, não há outra alternativa senão a responsabilização da instituição
financeira, primeiro em restituição material e indenização moral à cliente, que
não teve qualquer culpa nos resultados e figura apenas como vítima, e, em
derradeiro, pelo caráter pedagógico da condenação, para que episódios como
este não se repitam.

DOS ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Conforme se observa do caso em epígrafe, houve a conduta


(atendimento errôneo), o dano (formação de abcesso e risco à saúde e vida da
vítima) e o nexo causal entre a má prestação do serviço e o risco causado,
havendo a responsabilidade objetiva da requerida.

Nesse sentido o Código de Defesa do Consumidor:


 Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

        § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a


segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se
em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:

        I - o modo de seu fornecimento;

        II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se


esperam;

        III - a época em que foi fornecido.

Portanto, diante da má prestação do serviço, dos danos


causados e do nexo de causalidade latente, deve a requerida responder nos
termos do artigo 927, do Código Civil, de forma objetiva.

DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DAS INSTITUIÇÕES


BANCÁRIAS

O Código de Defesa do Consumidor preceitua, em seu artigo


14, que o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, sendo esta responsabilidade, portanto,
objetiva.

No mesmo sentido, a Carta Magna, em seu artigo 37, §6º,


preconiza ser objetiva a responsabilidade das pessoas jurídicas de direito
público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos, que
responderão pelos danos causados à terceiros.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:  (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito


privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

Não diferente são as disposições do Código Civil, em seus


artigos 43, 186 e 927, ao prescrever, in verbis:

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são


civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa
qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito
regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte
destes, culpa ou dolo.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.

Destarte, tem-se que para a caracterização da responsabilidade


objetiva, basta o simples nexo de causalidade material, eliminada a perquirição
de qualquer elemento psíquico ou volitivo, bastando a identificação do vínculo
etiológico-atividade do ofensor, como causa, e dano sofrido pela vítima, como
consequência, eliminada, a priori, o exame de qualquer coeficiente de culpa,
pois, presente a relação de causa e efeito entre conduta e dano, gera-se a
obrigação de indenizar.

Esse é o entendimento tranquilo e pacífico do Superior


Tribunal de Justiça, conforme sua súmula de número 479, a seguir transcrita:

Súmula 479, STJ – As instituições financeiras respondem


objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias (Súmula 479, SEGUNDA
SEÇÃO, Julgado em 27/06/2012, DJe 01/08/2012)

Pois bem, conforme se depreende do todo exposto, cabe à


instituição financeira a responsabilização objetiva em decorrência de atos
praticados em prejuízo de seu cliente, consumidor.

Desta forma, à requerente deverá ser restituído todo o valor


perdido em razão da negligência da qual deu causa a instituição bancária,
corrigido monetariamente, bem como a ela deverá ser pago, a título de danos
morais, um montante suficiente à reparação do dano e à repressão geral e
específica, como forma de evitar que a prática do ilícito perdure.

DO DANO
Dispõe a Constituição Federal no inciso X do artigo 5º:

“X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;”

São três espécies de danos: material, o estético e o moral. A


seguir, vejamos as especificidades das espécies aplicáveis ao caso:

DANO MATERIAL

Esse dano é o que repercute no patrimônio corpóreo de uma


pessoa. Leciona Sérgio Cavalieri Filho:

“O dano patrimonial, como o próprio nome diz, também


chamado de dano material, atinge os bens integrantes do
patrimônio da vítima, entendendo-se como tal o conjunto de
relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis em dinheiro.
Nem sempre, todavia, o dano patrimonial resulta da lesão de
bens ou interesses patrimoniais. Como adiante vermos, a
violação de bens personalíssimos, como o nome, reputação, a
saúde, a imagem e a própria honra, pode refletir no
patrimônio da vítima, gerando perda de receitas ou
realização de despesas – o médico difamado perde a sua
clientela -, o que para alguns autores configura no dano
patrimonial indireto”.1

Dispõe o artigo 402 do Código Civil:

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei,


as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que

1
FILHO, Sérgio Cavalieri; programa de responsabilidade civil. 6ª ed.:editora Malheiros:São
Paulo:2004. p 96
ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de
lucrar.

O dano patrimonial abrange: o dano emergente (o prejuízo


efetivo) e o lucro cessante (o que foi perdido por não poder lucrar). No caso
em tela, à título de danos materiais, concentraremos apenas no dano
emergente:

a) Dano Emergente

Entende-se por dano emergente o efetivo prejuízo, a


diminuição patrimonial direta sofrida pela vítima. Segundo Carlos Roberto
Gonçalves (2017, p. 429), é o tipo de dano que representa a diferença entre o
patrimônio que a vítima tinha antes do ato ilícito e o que passou a ter depois.

Esse dano é o que repercute no patrimônio corpóreo de uma


pessoa. Leciona Sérgio Cavalieri Filho:

“O dano patrimonial, como o próprio nome diz, também


chamado de dano material, atinge os bens integrantes do
patrimônio da vítima, entendendo-se como tal o conjunto de
relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis em dinheiro.
Nem sempre, todavia, o dano patrimonial resulta da lesão de
bens ou interesses patrimoniais. Como adiante vermos, a
violação de bens personalíssimos, como o nome, reputação, a
saúde, a imagem e a própria honra, pode refletir no patrimônio
da vítima, gerando perda de receitas ou realização de despesas
– o médico difamado perde a sua clientela -, o que para alguns
autores configura no dano patrimonial indireto”.

O dano emergente não precisa de grandes esforços para ser


mensurado. A indenização referente ao dano emergente deverá ser suficiente
para quitar com o prejuízo material efetivamente suportado, ou seja, restitutio
in integrum.

No caso em testilha, a Requerente, em decorrência


negligência por parte de seu banco em permitir que terceiros tivessem acesso a
dados sigilosos, a Requerente amargou um prejuízo de R$ 14.616,55
(quatorze mil seiscentos e dezesseis reais e cinquenta e cinco centavos) pelo
pix efetuado para garantir o cancelamento do empréstimo efetuado junto ao
Banco C6, e, ainda, vem sofrendo, em sua conta bancaria o desconto mensal
equivalente à R$ 385,00 (trezentos e oitenta e cinco reais), relativo ao
empréstimo fraudulento.

DANO MORAL

Assegura o artigo 5º, incisos V e X, da Constituição Federal, a


indenização pelo Dano Moral.

A súmula 37 do STJ admite-se a cumulatividade, numa


mesma ação o dano moral e o dano patrimonial, originados do mesmo fato.

Leciona ARNALDO RIZZARDO:

“De sorte que o dano se caracteriza como a diminuição ou a


subtração de um bem jurídico. E o bem jurídico é constituído
não só de haveres patrimoniais e econômicos, mas também de
valores morais, quais sejam a honra, a vida, a saúde, o
sofrimento, os sentimentos, a tristeza, o pesar diante da
perda”2.

É axiomático o dano de ordem moral que sofre a vítima de um


erro praticado pelo seu próprio banco, que importa em consequência em todos
os demais âmbitos de sua vida. O autor, de uma hora para outra, viu-se sem
2
RIZZARDO, Arnaldo A reparação nos acidentes de transito. Ed. RT, p. 129 e 130.
suporte financeiro para custear suas despesas ordinárias, cumprir com seus
acordos, o que lhe causou enorme constrangimento, e se viu num período em
que, sequer, tinha dinheiro à disposição para comprar alimentos, ocasião em
que foi obrigada a pedir ajuda de seus familiares e amigos para sobreviver, e,
ainda, está tendo que arcar com as parcelas mensais do financiamento.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2017):

Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não


lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos
da personalidade, como a honra, a dignidade, a intimidade, a
imagem, o bom nome etc., como se infere dos arts. 1º, III, e
5º, V e X da Constituição Federal, e que acarreta ao lesado
dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação. (pág. 446)

É inquestionável a existência do nexo causal entre a conduta


indevida do requerido e o dano moral causado à autora, pois fazendo uma
reflexão, o Nobre Julgador chegará a conclusão da aplicação da teoria do
dannum in reipsa, segundo a qual, havendo violação à norma jurídica que, de
alguma forma, tenha a pessoa humana no âmbito de sua proteção, surge o
dano moral como consequência necessária.

Nesta direção, anote-se que, não indenizar o dano moral é


deixar sem sanção a ofensa de um direito, ou uma série deles. A indenização,
por menor e mais insuficiente que seja, é a única sanção para os casos em que
se perdem ou se tem lesados a honra, a liberdade, a amizade, a afeição, e
outros bens morais mais valiosos que os próprios valores econômicos.

Destarte, é assente na jurisprudência que, dada a natureza do


dano moral, a pretensão da reparação pela vítima deve passar apenas pela
obrigação daquela em provar os fatos que deram origem aos sentimentos que
infringiram os direitos inerentes à sua personalidade. Embora seja evidente,
não há o que se falar em comprovação do efetivo prejuízo porque o dano dessa
natureza decorre da simples violação de obrigações legalmente impostas.

Desta forma, considerando todo o constrangimento e demais


prejuízos suportados pela requerente, resta notória a necessária aplicação de
danos morais ao caso em epígrafe.

Por derradeiro, importante considerar que a reparação ao dano


moral deve se ater ao caráter dúplice: repressivo, específico e geral,
reprimindo a conduta do ofensor para que não volte a praticar o ato ilícito e
sirva de exemplo para toda sociedade, como forma de desestimular a prática
do ilícito, e compensatório, para que o ofendido, recebendo determinada
soma pecuniária, possa amenizar os efeitos decorrentes do ato que foi vítima.

Conforme entendimento seguido pelo Superior Tribunal de


Justiça a partir do julgamento do REsp 135.202/SP, sob relatoria do Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira é “recomendável que o arbitramento seja feito
com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível
socioeconômico dos autores, e, ainda, ao porte da empresa recorrida,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso”.

Portanto, o quantum final fixado para a reparação deve ser


suficiente para sanar todas essas questões, e firmar que o nosso direito não
tolera condutas danosas impunemente, devendo a condenação atingir,
efetivamente, de modo significativo, o patrimônio do agente causador do
dano, para que, assim, o Estado possa demonstrar a força do Direito, o qual
existe para ser cumprido.

ACESSÓRIOS E CONDENAÇÃO PRINCIPAL


O art. 389 do Código Civil prevê atualização monetária das
obrigações, segundo índices oficiais regularmente estabelecidos e honorário de
advogado. A propósito, também dispõe a Súmula 43 do STJ: “Incide correção
monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo”.

Portanto, a correção monetária incide desde a data do


desembolso. Se o valor da indenização tomou por base algum orçamento ou
cálculo, a correção monetária incide a partir da data do respectivo orçamento
ou cálculo.

Por outro lado, o valor apurado ainda deve ser atualizado com
juros moratórios. Dispõe a Súmula 54 do STJ: “Os juros moratórios fluem a
partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual”.

Por fim, ainda são devidos honorários advocatícios. Este,


devido ao grau de complexidade do caso em questão deve ser fixado em 20%,
sobre o valor da condenação (art. 85, §§2º e 9º, do CPC).

DARELAÇÃO DE CONSUMO

O caso trazido a juízo se subsume a Lei Consumerista, já que


estamos diante de um prestador de serviço na forma do art. 3º do CDC, e de
destinatários finais (art. 2º, CDC) na condição de vítimas (art. 17, CDC).

Vale transcrever:

“A hipossuficiência é pressuposto mais técnico do que


econômico, muito embora, algumas vezes essas duas
fragilidades se encontrem no mesmo caso. Nesse sentido, a
hipossuficiência do consumidor pode ser considerada como
um plus à vulnerabilidade. É o algo mais que o legislador
atribuído ao consumidor para equipará-lo ao fornecedor em
juízo.” (DIENSTMANN, Soeli Teresinha Schiling. A
responsabilidade civil nas relações de consumo. São Paulo:
Lex Editora, 2011, p. 59; com apoio do Instituto dos
Advogados de São Paulo – IASP)

Há, destarte, de se invocar os princípios inerentes à relação de


consumo havida in casu, pleiteando de forma ampla os direitos contidos e
previstos na Lei Federal nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), em
especial, as previsões relativas aos direitos básicos do consumidor, trazidas
pelo artigo 6º, o direito de reparação, garantido pelo inciso VI deste artigo, a
inversão do ônus probatório, previsto ao inciso VIII, e demais dispositivos
legais pertinentes.

Art.6º São direitos básicos do consumidor:

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e


morais, individuais, coletivos e difusos;

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

Além disso, o código consumerista traz à baila a obrigação de


reparar o dano causado pelo fornecedor de serviços aos consumidores,
independentemente da existência de relação de culpa.
Destarte, tem-se que os deveres anexos de acuidade, de
respeito, de lealdade, de confiança e de agir, conforme a equidade e
razoabilidade, não foram observados pelo requerido, de modo que a lei
consumerista deve ser considerada, pois, inobstante a sua aplicação, guarnece
direitos fundamentais do ser humano.

DAINVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Conforme já ressaltado na presente, o Código Consumerista


consagra como direito básico do consumidor a proteção contra a publicidade
enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços, a efetiva proteção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos, bem como a facilitação da defesa de seus
direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a favor do consumidor, no
processo civil, dada a hipossuficiência quando comparada face ao requerido.

Como bem se observa, com escopo no artigo 6º, inciso VIII,


do Código de Defesa do Consumidor, é o caso presente, uma vez que, não há
como se comparar a suficiência de um civil comum frente à uma instituição
bancária. Essa é, inclusive, a intelecção que deu causa ao entendimento, hoje
pacífico e uníssono dos Superiores Tribunais, acerca da aplicação do Código
de Defesa do Consumidor às relações entre bancos e seus clientes.

Além disso, esse é a mesma intelecção advinda do artigo 43,


§2º, da Lei nº 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de Dados), in verbis:

§ 2º O juiz, no processo civil, poderá inverter o ônus da


prova a favor do titular dos dados quando, a seu juízo,
for verossímil a alegação, houver hipossuficiência para
fins de produção de prova ou quando a produção de
prova pelo titular resultar-lhe excessivamente onerosa.

Portanto, imperiosa se faz a inversão do ônus da prova, para


que, de forma equânime, possam as partes garantir seus direitos e o acesso à
justiça.

DA LIMINAR

IV – DA LIMINAR:

Conforme demonstrado, presentes os requisitos exigidos


(probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo) para o deferimento da tutela pretendida.

No caso em tela, presentes com certeza as duas figuras


jurídicas necessárias à manifestação preventiva do Juízo monocrático do
Relator: o fumus bonis juris e o periculum in mora.

A tutela preventiva tem por escopo impedir que possam


consumar-se danos a direitos e interesses jurídicos em razão da natural demora
na solução dos litígios submetidos ao crivo do Judiciário Muito
frequentemente, tais danos são irreversíveis e irreparáveis, impossibilitando o
titular do direito de obter concretamente o benefício decorrente do
reconhecimento de sua pretensão.

A verossimilhança das alegações da Requerente se encontram


alicerçadas em provas robustas, inclusive com menção real de seu extrato
bancário e conversas ditas com os representantes do banco.

Em suma: encontram se preenchidos os requisitos para o


deferimento da tutela ora pleiteada, a saber: o relevante fundamento da
demanda (fumus boni juris) e o justificado receio de ineficácia do provimento
final (periculum in mora).

A probabilidade de direito está escancarada, visto que, se o


banco não tivesse descumprido o prometido e enviado os R$ 25.000,00 (vinte
e cinco mil) contratados a Requerente não teria buscado a rescisão contratual,
e, ainda, se não tivesse o banco negligenciado seu dever de manter em sigilo
dados e operações bancárias o estelionatário não teria dito acesso as
informações necessárias para levar a Requerente ao erro, conforme bem
trilhado na inicial.

Lado outro, o perigo da demora, por sua vez, se consiste no


fato da Requerente, pessoa idosa, amargar descontos equivalentes a quase 40%
(quarenta por cento) de sua aposentadoria sem poder disfrutar dos valores
referentes ao empréstimo fraudulento.

Logo se vê, portanto, que a situação excepcionalíssima exige


do Judiciário também uma prestação jurisdicional excepcionalíssima à altura,
tendo por norte, como não poderia deixar de ser em nenhum momento, mas
especialmente neste, a consagração da dignidade da pessoa humana.

Portanto, devidamente preenchidos os requisitos do artigo 300


do Código de Processo Civil, roga-se, também, pela concessão da tutela de
oficiando o INSS para não efetuar os descontos no montante de R$ 385,00
(trezentos e oitenta e cinco reais) na aposentadoria da Requerente, até o
trânsito em julgado da presente ação.

III. DOS PEDIDOS

Isto posto, requer:


a) Liminarmente seja oficiado o INSS para não efetuar os
descontos mensais na conta da Requerente, relativos ao contrato de
empréstimo junto ao Banco C6

b) Ao final, seja julgada procedente a ação para se condenar o


requerido ao pagamento em favor da requerente de:

b.1) indenização a título de dano patrimonial (danos


emergentes), no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), sem prejuízo de
novo cálculo para a atualização e correção do valor quando da sentença, ou,
subsidiariamente, o cancelamento do contrato anteriormente contratado, em
razão dos vícios apontados na inicial.

b.2) indenização a título de dano moral, em R$ 10.000,00


(dez mil reais) a Requerente, em razão de todo estresse amargado, do tempo
útil gasto para a tentativa de resolver seu problema, e prejuízos da ordem
social, quanto a oneração de seus familiares e amigos para poder sobreviver;

b.3) a condenação do requerido ao pagamento das custas


processuais e honorários advocatícios, não inferior a 20% sobre o valor final
da condenação;

c) A citação do requerido, no endereço registrado ao


preâmbulo, para querendo, contestar a presente ação, sob pena de revelia, com
as disposições do artigo 238 e seguintes, do Código de Processo Civil;

d) A concessão dos benefícios da Assistência Judiciária


gratuita, tendo em vista que a autora não possui condições de arcar com as
custas processuais, sem prejuízo seu e de sua família, nos termos do artigo 5º,
incisos XXXV e LXXIV, da Constituição Federal, da Lei nº 1.060/50 e do
Código de Processo Civil;
e) A produção de todos os meios de provas admitidas em
direito, especialmente testemunhal e documental, bem como por todos os
demais meios que se apresentarem úteis ao deslinde do processo e à
demonstração dos fatos aqui articulados;

f) A inversão do ônus da prova na forma do inciso do artigo


6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor e artigo 43, §2º, da Lei nº
13.709/2018;

g) Sejam todas as publicações e demais notificações


decorrentes do presente processo realizadas em nome do advogados
JOSEVALDO DUARTE GUEIROS, advogado, inscrito na OAB/SP sob o
n. 252.887, JOSE ANTONIO DO CARMO, advogado, inscrito na OAB/SP
n. 272.303, MOACIR CARLOS SILVEIRA MARTINS, advogado, inscrito
na OAB/SP n. 249.537 e LUCAS JÚNIOR SILVA DOS SANTOS,
advogado, inscrito na OAB/SP n. 453.747, todos com escritório sediado na
Av. Senador Teotônio Vilela, nº 4.430, Sala 01, Vila São José, São Paulo / SP
– Cep. 04833-000, sob pena de nulidade, conforme artigo 272, §2º, do Código
de Processo Civil.

Dá-se à causa o valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil),


para fins de alçada.

Andradina, 08 de fevereiro de 2022.

LUCAS JÚNIOR SILVA DOS SANTOS


OAB/SP 453-747

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