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BIOSSÍNTESE DE

PROTEÍNAS
(TRADUÇÃO)
• Síntese protéica é o mais complexo mecanismo biossintético
• Eucariotos
- mais de 70 proteínas ribossomais
- mais de 20 enzimas ativadoras de aminoácidos.
- mais de 12 enzimas auxiliares e fatores de tradução
- mais de 100 enzimas de processamento
- mais de 40 tRNA’s e rRNA’s
TOTAL: mais de 300 macromoléculas

• Consome mais de 90% da energia química da célula.

• 30% peso seco de E. coli é formado por 20.000 ribossomos,


100.000 proteínas ribossomais, 200.000 tRNA’s.

• Eficiência em E. coli: 100 resíduos/5 seg a 37˚C.

• Em procariotos, transcrição é acoplada à tradução.


BIOSSÍNTESE DE PROTEÍNAS

• Direção da Síntese: N-terminal  C-terminal

• Direção da tradução do mRNA (sentido de leitura):

Extremidade 5’  Extremidade 3’
Como 4 bases codificam para
20 aminoácidos?
O Código Genético

• Como há 20 aminoácidos e 4 bases (A,C,G,T), logo deveria


haver, no mínimo, uma combinação das 4 bases 3 a 3 para
codificar todos os 20 aminoácidos.

42 =16 (muito pouco para 20 aminoácidos)


43 = 64 (suficiente)

• Seqüência de aminoácidos é determinada pela seqüência


linear de tripletos

• Primeiro códon determina a fase de leitura (“reading frame”)


Características do Código Genético

1) 61 códons codificam todos os 20 aminoácido.

2) Três códons não codificam aminoácidos, são os códons de


terminação da tradução: UAA, UAG, UGA.

3) Códon de iniciação é AUG = metionina

4) O código genético é degenerado: 1 aa pode ser codificado por


mais de um códon (exceção: Met e Trp)
O Código Genético
5) O número de tRNA’s para cada a.a. não é o
mesmo que o número de códons.

Exe: Em levedura, o anticódon do tRNAArg (5’ICG,


onde I = inosina) reconhece 3 códons para
arginina: 5’CGA, 5’CGU e 5’CGC. A inosina
reconhece, portanto, A, U ou C mas não é uma
interação Watson-Crick canônica

6) A terceira base do códon é menos estringente,


ela pode “wobble” (ou “vacilar”).
O código genético é degenerado
Regras de vacilação: Geralmente, a última base do códon pode variar,
portanto, as duas primeiras bases conferem a especificidade da interação
códon-anticódon.
5) Geralmente, a última base do códon pode variar, portanto,
as duas primeiras bases conferem a especificidade da interação
códon-anticódon.

3' 5'

tRNA

3 2 1
UAG
anticodon
5' AUC 3' mRNA
1 2 3
codon
• 8) Variações do código: Os raros
desvios ocorrem mais na seqüência do
anticódon.

• Exe:
• Procariotos: em micoplasmas, UGA = Trp (UGG);
• Eucariotos: em mitocôndrias: UGA = Trp; AUA = Met
• em protozoários: UAA e UAG = Gln
• Procariotos: E. coli, UGA = selenocisteína
• Archae: UGA = pirrolisina
FASE DE LEITURA
• A fase de leitura (ORF) determina a sequência
dos aminoácidos no polipeptideo.

• Como as bases são lidas de 3 em 3, o primeiro


códon determina a fase de leitura

• Alterações da fase de leitura levam a


modificação da sequência de aminoácidos no
polipeptideo.
Mutações
1) Mutações “nonsense”: introduzem STOP codon. Proteína
truncada
UAA (“amber”)
UAG (“ochre”)
UGA (“opal”)

2) Mutações “missense”: alteração da identidade do aminoácido


Exe: anemia falciforme
3) Mutações Indel (inserções e deleções): 1 ou 2 nucleotídeos.
Alteram a seqüência primária da proteína.

Indel´s de 3 nucleotídeos ou múltiplos de 3 podem ser menos


severas pois não afetam a fase de leitura, mas as doenças de
Huntington e a síndrome do cromossomo X frágil são exemplos de
inserção de repetições de trinucleotídeos.
Mutações que levam à
fibrose cística

indel

4) Mutações silenciosas: não alteram o aminoácido. Geralmente,


ocorrem na terceira posição do códon Exe: CTCCTT (Leu)

5) Mutações no sítio de splicing: levam à tradução de seqüências


intrônicas.
COMPONENTES
MACROMOLECULARES
tRNA
O molde para a tradução é o mRNA maduro.

Os três tipos de RNAs (mRNA, rRNA e tRNA) além de


várias proteínas estão envolvidas no processo de tradução.

O mRNA é utilizado como molde na tradução pelos


ribossomos gerando um polipeptídeo, cuja síntese dá-se da
direção amino (N) para carboxi (C) terminal.

O tRNA é o adaptador molecular, conforme previsto por


Crick.
5) Geralmente, a última base do códon pode variar, portanto,
as duas primeiras bases conferem a especificidade da interação
códon-anticódon.

3' 5'

tRNA

3 2 1
UAG
anticodon
5' AUC 3' mRNA
1 2 3
codon
O RNA TRANSPORTADOR

• Crick já havia proposto sua existência. Era a molécula


“adaptadora” entre o mRNA e a seqüência de aminoácidos.

• O tRNA possui o anticódon que pareia com o códon do


mRNA.

• O tRNA representa um só aminoácido ao qual ele está


covalentemente ligado.

• tRNA “carregado” com a.a. é chamado aminoacil-tRNA.


Ex: Ala- tRNAAla = alanil-tRNA.

• A enzima aminoacil-tRNA sintetase carrega o tRNA com


um aminoácido
A identidade do tRNA é determinado por seu
anticodon e não por seu aminoácido
Estrutura primária
• 73-93 nt (tRNA mitocondrial é menor)
• mínimo de 32 tRNA’s para reconhecer todos os códons,
alguns reconhecem mais de um códon.
• Quase todos possuem “pG” na extremidade 5’ e “CCA” na 3’
•Possui bases atípicas: inosina (I), ribotimina (T),
pseudouridina (Ψ)
•algumas bases são metiladas (metilguanosina,
dimetilguanosina e metilinosina), deaminadas ou reduzidas.

Estrutura secundária
• Semelhante a um trevo
• metade das bases formam dupla-hélices
• 5 grandes regiões de fita simples

Estrutura terciária
• Em forma de “L”
Estrutura secundária Geral de
todos os tRNAs “Folha de
Trevo”
• 5 grandes regiões de fita
simples:

-braço aceptor do aminoácido


onde
a.a. se liga à adenina do CCA-3’
-braço DHU tem dihidrouridina
-braço TYC
ribotimina-pseudouridina-
citosina
-braço do anticódon
interage com o códon, pode ter
inosina
-braço “extra”
contém número variado de
bases
Estrutura tridimensional do tRNAPhe de levedura
(difração de R-X)
O Ribossomo
Ribossomo procariótico: 70S (2 subunidades: 50S e
30S).

Composição da subunidade 50S:


5S rRNA
23S rRNA
34 proteínas (L1 a L34), onde L = “large”

Composição da subunidade 30S:


16S rRNA
21 proteínas (S1 a S21), onde S = “small”
Ribossomo eucariótico: 80S (2 subunidades: 60S e 40S)

Composição da subunidade 60S:


5S rRNA
5.8S rRNA
28S rRNA

Composição da subunidade 40S:


18S rRNA

Há mais ou menos 80 proteínas ribossomais eucarióticas


Ribossomos mitocondriais e de cloroplastos são menores que
os bacterianos
rRNAs bacterianos
tRNA e ribossomo se movem sobre
o mRNA

E – saída
P – peptídeo
A - aminoácido
O ribossomo tem 2 sítios para a ligação de tRNAs
carregados
ETAPAS DA TRADUÇÃO

1. ATIVAÇÃO DOS AMINOÁCIDOS


2. INICIAÇÃO
3. ELONGAÇÃO
4. TERMINAÇÃO
5. PROCESSAMENTO PÓS TRADUCIONAL
1. Ativação do aminoácido:
Ligação do aminoácido ao seu respectivo tRNA: aminoacil-tRNA Sintetase

2. Iniciação : Formação do complexo de iniciação: “mRNA•Ribossomo•Met-tRNA”

Ligação do 2° aa-tRNA
Ligação Peptídica
3. Elongação : Translocação do Ribossomo
Repetição de vários ciclos

Reconhecimento do códon de terminação


4. Terminação : Liberação da cadeia polipeptídica
Dissociação do ribossomo

5. Processamento: A seguir, a proteína irá sofrer as modificações


pós-traducionais, ser corretamente localizada na
célula e adquirir sua conformação funcional
Ativação dos aminoácidos
• ocorre no citossol
• acoplagem covalente de um aminoácido ao tRNA
• enzima: aminoacil-tRNA sintetase (requer Mg+2)
• 1 enzima para cada dois codons do mesmo aminoácido (NNY
ou NNR)
• reação: a.a. + tRNA + ATP  aminoacil-tRNA + AMP + PPi
• Enzima faz “proofreading”
• interação enzima-tRNA = “segundo o código genético”
• reconhecimento via: braço do anticodon, braço do a.a. e
outras bases
• Adição do a.a. nas posições 2’ ou 3’ da adenina do CCA-3’
A identidade do tRNA é determinado por seu
anticodon e não por seu aminoácido
Conhecidas posições
nos tRNAs que são
reconhecidas pelas
Aminoacil-tRNA Sintetases

Comuns aos tRNAs


Específica p/ 1 tRNA
Específica p/ vários tRNAs
Aminoacil-tRNA Sintetases:
Monômero: Gln-tRNA Sintetase de E. coli
Dímero: Asp-tRNA Sintetase de levedura
Ativação do aminoácido:

Ligação do aminoácido ao seu respectivo tRNA


Enzima aminoacil-tRNA Sintetase
Primeiro ponto importante na fidelidade da Tradução

Primeira etapa: formação de um aminoacil-adenilato


Segunda etapa: transferência do grupo aminoacil ao tRNA
Estrutura Geral
do aminoacil-tRNA
TRADUÇÃO
mRNA
Procariotos
mRNA procariótico
mRNA Procariótico  Policistrônico: codifica para várias
proteínas. Comum em procariotos.

AUG UAA
5’ 3’
Shine-Dalgarno
Sequências de Shine-Dalgarno de diversos mRNAs: existe um mecanismo
diferente para a etapa de iniciação da tradução entre Procariotos e Eucariotos
mRNA policistrônico procariótico (mRNA lac)

Cada região codificadora de um mRNA bacteriano


(policistrônico) possui seus sinais próprios de
iniciação e terminação da tradução
Iniciação
Procariotos
As 3 Etapas
Principais da
Síntese de
Proteínas

Na tradução, a etapa da
iniciação também é o
principal ponto de
regulação do processo
• Códon de iniciação: AUG = metionina

• Met-tRNA sintetase adiciona metionina à tRNAMet e tRNAfMet

• A enzima transformilase adiciona grupo formil à Met-tRNAifMet

• Em eucariotos: AUG inicialtRNAiMet


AUG internotRNAMet

•• mitocôndrias e cloroplastos usam fMet

•• metade das proteínas removem a metionina inicial (com uma


aminopeptidase) ou removem só o grupo formil (com uma
deformilase)
Existem dois tipos de tRNAMet
Requerimentos para a iniciação em procariotos

a) subunidade ribossômica 30S


b) mRNA
c) fMet-tRNAfMet
d) Fatores de Iniciação: IF-1, IF-2 e IF-3
e) GTP
f) subunidade ribossômica 50S
Fatores de Iniciação
• Bactérias usam 3 fatores de iniciação (IF):

– IF1 – se liga a subunidade 30S e previne a


ligação dos tRNAs ao sítio A
– IF2 – se liga ao tRNA iniciador e controla a
sua entrada no ribossomo
– IF3 – se liga a subunidade 30S, previne a
ligação da subunidade 50S e é necessária
para a ligação específica do tRNA iniciador
ao sítio P.
Formação do
Complexo de
Iniciação em
Procariotos.
Ativação de IF2
INICIAÇÃO DA TRADUÇÃO

EM EUCARIOTOS
mRNA Eucariótico  Monocistrônico: codifica para uma só
proteína.

AUG UAA
5’ 3’
CAP Cauda poli-A
Polirribossomas: Vários ribossomas traduzem uma única molécula de mRNA
simultaneamente  alta eficiência do processo
Diferença fundamental na
iniciação entre procariotos e
eucariotos
• Em procariotos, a subunidade menor
reconhece a sequência Shine-Dalgarno no
mRNA.

• Em eucariotos, a subunidade menor


reconhece a estrutura do 5’ CAP no
mRNA e a tradução se inicia a partir do
AUG mais próximo.
Visão geral da iniciação da tradução em eucariotos
Iniciação eucariótica:
• Complexo Ternário (CT):
eIF2≈GTP + Met-tRNAi
• CT + 40S + 5’-end mRNA
• Varredura do mRNA até AUG

Existe um ciclo onde o eIF-2


alterna-se ligado a GTP (ativo)
e ligado a GDP (inativo)
• Papel de eIF-2B neste ciclo
Sequência Consenso de
Kozac

A
5’ GCC G CCAUGG 3’

• Marilyn Kozak identificou esta


sequência consenso em torno do AUG
iniciador
• Aumenta a frequência de iniciação.
• Embora o mRNA eucariótico seja mostrado
esquematicamente como uma molécula linear,
vários dados mostram que na verdade este
apresenta uma configuração circular

• Esta configuração circular é mantida pelas


interações entre os diversos fatores protéicos
que interagem com as 2 extremidades do
mRNA
O mRNA eucariótico torna-se circular pela ação dos diversos
fatores que interagem nas 2 extremidades do mRNA (5’ e 3’)
Características dos fatores de tradução eucariótico
Nome Função

eIF1A Promove ligação Met-tRNA/ribossomo, dissociação do ribossomo


eIF2 Liga-se ao Met-tRNAi e GTP
eIF2B Fator de troca de nucleotide de guanina para eIF2

eIF3 Dissocia ribosomes, promove a ligação do tRNAi and mRNA

eIF4A ATPase, helicase, se liga ao RNA

eIF4B Liga-se a RNA, promove atividade de helicase

eIF4E Subunidade que se liga ao Cap, parte do complexo eIF4

eIF4G Liga-se a eIF4A, eIF4E e eIF3 – atua como fator de ligação

eIF5 Promove atividade GTPase de eIF2 e ejeção dos eIFs


eIF6 Liga-se a subunidade 60S, promove a dissociação

PABP Liga-se a calda PoliA e interage com eIF4G; circularização


Elongação
Elongação :
• Ligação do 2° aa-tRNA no sítio A
• Ligação Peptídica - Reação de Transpeptidação
• Translocação do Ribossomo
• Repetição por vários ciclos

Principais Fatores Envolvidos em Procariotos


EF-Tu*: forma o complexo aa-tRNA•EF-Tu•GTP
EF-Ts: Promove a troca de GDP por GTP do EF-Tu
EF-G: Liga GTP e promove a translocação do ribossomo

* EF-Tu é uma das proteínas mais abundantes de E. coli: 70-100


mil cópias (≈ 5% da proteína total) Praticamente todo o pool de
aa-tRNA encontra-se na forma do complexo ternário (aa-
tRNA•EF-Tu•GTP )
Ativação
de EF-Tu
A reação de Transpeptidação - Atividade Peptidil Transferase
Síntese da Ligação Peptídica
Tu: eEF1a
TS: eEF1b
G: eEF2
Elongação em
Eucariotos e
procariotos
Terminação
Terminação

RF-1: UAA e UAG


RF-2: UAA e UGA
RF-3: Proteína que se liga a GTP e
estimula a ligação dos outros RFs
ao ribossomo
PROCESSAMENTO PÓS-
TRADUCIONAL -
EUCARIOTOS
• “Folding” já ocorre durante a síntese

Modificações pós-traducionais

N- e C-terminal
- remoção de fMet e/ou outros resíduos de a.a.
- acetilação do N-terminal em eucariotos
- alfa-amidação do C-terminal em eucariotos

Remoção do peptídeo-sinal
- 15-30 resíduos hidrofóbicos, peptidase-sinal

Modificações de aminoácidos individuais


- Ser, Thr, Tyr podem ser fosforilados
- Asp, Glu recebem grupos carboxi adicionais
- Lys pode ser metilada ou acetilada
- Glu pode ser metilado
Glicosilação
- resíduos de manose
- Asn (oligossacarídeos “N-linked”)
- Ser, Thr (oligossacarídeos “O-linked”)
Adição de grupos isoprenil
- ligação tio-éter da Cys com isoprenil (ancoragem na membrana)
Adição de grupos prostéticos
- Exe: biotina (acetilCoa Carboxilase), heme (hemoglobina)
Processamento proteolítico
- Exe: insulina, proteínas virais, proteases (tripsina, quimotripsina)
Formação de pontes dissulfeto
-Cys-S-S-Cys
“Splicing” de proteínas
- inteínas e exteínas
Inibidores da síntese protéica

• Puromicina: afeta elongação, terminação prematura, análogo do


aminoacil-tRNA, eucariotos e procariotos

• Tetraciclina: liga-se ao 30S (sítio “A”), inibe ligação do


aminoacil-tRNA, procariotos

• Streptomicina: inibe iniciação (afeta ligação do fMet-tRNAfMe),


causa “misreading” do mRNA, procariotos

• Cloramfenicol: inibe atividade peptidil transferase do 50S,


procariotos

• Eritromicina: liga-se ao 50S, inibe translocação, procariotos


Inibidores da síntese protéica
• Puromicina: afeta elongação, terminação prematura, análogo do aminoacil-
tRNA, eucariotos e procariotos

• Cicloheximida: inibe atividade peptidil transferase do 60S, eucariotos

• Toxina diftérica: inibe eEF2, eucariotos

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