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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

PECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

EAD – ENSINO E APRENDIZADO À DISTÂNCIA

eHO-004

AGENTES QUÍMICOS I E ERGONOMIA


ALUNO

SÃO PAULO, 2009


EPUSP/PECE
DIRETOR DA EPUSP
IVAN GILBERTO SANDOVAL FALLEIROS

COORDENADOR GERAL DO PECE


ANTONIO MARCOS DE AGUIRRA MASSOLA

EQUIPE EAD

CCD – COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA


SÉRGIO MÉDICI DE ESTON

VICE - COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA


WILSON SHIGUEMASA IRAMINA

PP – PROFESSORES
SÉRGIO COLACIOPPO
LAERTE IDAL SZNELWAR
FAUSTO MASCIA

CPD – CONVERSORES PRESENCIAL PARA DISTÂNCIA


ANDRÉ LOMONACO BELTRAME
DIEGO DIEGUES FRANCISCA
FERNANDO MADEIRA PERISSÉ
FELIPE BAFFI DE CARVALHO
GISELLE CAÑEDO RAMIREZ
IVAN KOH TACHIBANA
MARIA RENATA MACHADO STELLIN
MICHIEL WICHERS SCHRAGE
PEDRO MARGUTTI DE ALMEIDA
THAMMIRIS MOHAMMAD EL HAJJ

FILMAGEM E EDIÇÃO
DIEGO DIEGUES FRANCISCA
FELIPE BAFFI DE CARVALHO
PEDRO MARGUTTI DE ALMEIDA

IMAD – INSTRUTORES MULTIMÍDIA À DISTÂNCIA


ANDRÉ LOMONACO BELTRAME
DIEGO DIEGUES FRANCISCA

CIMEAD – CONSULTORIA EM INFORMÁTICA, MULTIMÍDIA E EAD


CARLOS CÉSAR TANAKA
JORGE MÉDICI DE ESTON
SHINTARO FURUMOTO

GESTÃO TÉCNICA
MARIA RENATA MACHADO STELLIN

GESTÃO ADMINISTRATIVA
NEUSA GRASSI DE FRANCESCO
VICENTE TUCCI FILHO

“Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, sem a
prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este documento”.
SUMÁRIO
i

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À HIGIENE E TOXICOLOGIA OCUPACIONAL ................1


1.1. PRINCÍPIOS GERAIS .................................................................................................2
1.2. O RELACIONAMENTO HIGIENE - TOXICOLOGIA - MEDICINA ...............................4
1.3. O HIGIENISTA OCUPACIONAL .................................................................................5
EXEMPLOS DE ASSUNTOS .............................................................................................6
1.4. A HIGIENE E TOXICOLOGIA OCUPACIONAL E A SAÚDE PÚBLICA ......................7
1.5. A ATUAÇÃO DO HIGIENISTA OCUPACIONAL .........................................................7
1.5.1. ANTECIPAÇÃO OU PREVISÃO DE RISCOS..........................................................7
1.5.2. RECONHECIMENTO DE RISCOS ..........................................................................8
1.5.3. AVALIAÇÃO DE RISCOS ........................................................................................8
1.5.4. CONTROLE DE RISCOS.........................................................................................8
1.6. TESTES ....................................................................................................................10

CAPÍTULO 2. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A AGENTES QUÍMICOS ....11


2.1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12
2.2. AS DENOMINAÇÕES ...............................................................................................13
2.2.1. LIMITES DE TOLERÂNCIA ...................................................................................14
2.2.2. NÍVEIS ACEITÁVEIS DE EXPOSIÇÃO..................................................................14
2.2.3. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL...........................................................14
2.2.4. NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO PERMITIDOS ................................................................14
2.2.5. CONCENTRAÇÕES MÁXIMAS ACEITÁVEIS .......................................................14
2.2.6. NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO RECOMENDADOS ........................................................14
2.2.7. GUIA DE NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO AMBIENTAL EM LOCAIS DE TRABALHO .....15
2.2.8. VALORES LIMITES LIMIARES ..............................................................................15
2.2.9. VALOR DE REFERÊNCIA TECNOLÓGICO ..........................................................15
2.3. CRITÉRIOS PARA ESTABELECER PADRÕES .......................................................17
2.3.1. PROIBITIVO ..........................................................................................................17
2.3.2. PERMISSOR .........................................................................................................17
2.3.3. RESTRITIVO .........................................................................................................17
2.3.4. ESPECULATIVO ...................................................................................................18
2.3.5. PROGNOSTICADOR.............................................................................................18
2.4. INTERAÇÕES ENTRE SUBSTÂNCIAS ....................................................................19
2.4.1. INTERAÇÕES FÍSICO-QUÍMICAS ........................................................................19
2.4.1.1. Aditiva e ambiental ..............................................................................................19
2.4.1.2. Sinergética e ambiental .......................................................................................19
2.4.1.3. Antagônica e ambiental .......................................................................................19
2.4.1.4. Aditiva no organismo ...........................................................................................20
2.4.1.5. Sinergética no organismo ....................................................................................20
2.4.1.6. Antagônica no organismo ....................................................................................20
2.4.2. INTERAÇÃO BIOLÓGICA......................................................................................20
2.4.2.1. aditiva .................................................................................................................20
2.4.2.2. Sinergética ou antagônica ...................................................................................21
2.5. RELAÇÕES DOSE-EFEITO E DOSE-RESPOSTA ...................................................21
2.5.1. DIMENSÕES DA DOSE.........................................................................................21
2.5.2. DIMENSÕES DO EFEITO .....................................................................................22
2.5.3. RELAÇÃO DOSE-EFEITO .....................................................................................23
2.5.4. RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA ..............................................................................24
2.6. CONCENTRAÇÃO MÉDIA E CONCENTRAÇÃO MÁXIMA (TETO) .........................26
2.7. LIMITES DE EXPOSIÇÃO SEGUNDO A ACGIH ......................................................28

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


SUMÁRIO
ii

2.7.1. LIMITE DE EXPOSIÇÃO DE CURTO PERÍODO ...................................................30


2.8. OUTROS ÍNDICES ...................................................................................................32
2.8.1. LIMIAR OLFATIVO ................................................................................................32
2.8.2. IDLH ......................................................................................................................33
2.8.3. NÍVEL DE AÇÃO ...................................................................................................34
2.8.4. RISCO RELATIVO .................................................................................................36
2.8.5. LIMITES PARA EXPOSIÇÃO SIMULTÂNEA A SUBSTÂNCIAS COM MESMO
EFEITO............................................................................................................................36
2.9. LIMITES SEGUNDO A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.................................................38
2.9.1. O ANEXO 11 DA NR 15 .........................................................................................39
2.9.2. O ANEXO 12 DA NR 15 .........................................................................................42
2.9.3. O ANEXO 13 DA NR 15 .........................................................................................42
2.10. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL PARA MULHERES ............................43
2.11. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL E HÁBITO DE FUMAR .......................45
2.12. A DETERMINAÇÃO DE UM LIMITE E ADAPTAÇÃO PARA SITUAÇÕES NÃO
USUAIS ...........................................................................................................................46
2.13. A EXTRAPOLAÇÃO DE VALORES PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA .............47
2.14. TESTES ..................................................................................................................49

CAPÍTULO 3. RECONHECIMENTO DOS FATORES INTERVENIENTES NA


EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL ........................................................................................50
3.1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................51
3.2. OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO. .........................................................................52
3.3. ALGUNS CONCEITOS .............................................................................................53
3.3.1. AMOSTRAGEM .....................................................................................................53
3.3.2. COLETA DE AMOSTRAS ......................................................................................53
3.3.3. AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL ....................................................53
3.3.4. MONITORIZAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................53
3.3.5. MONITORIZAÇÃO BIOLÓGICA ............................................................................53
3.4. IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE E RECONHECIMENTO DO RISCO ........................54
3.5. CONHECIMENTO DOS LOCAIS DE TRABALHO E ATIVIDADES A SEREM
AVALIADAS .....................................................................................................................54
3.5.1. ÁREA .....................................................................................................................54
3.5.2. NÚMERO DE EXPOSTOS.....................................................................................55
3.5.2.1. Funções, tarefas ou atividades............................................................................55
3.5.2.2. Turnos, turmas e horários de trabalho .................................................................55
3.5.2.3. Movimentação de materiais e de pessoal ...........................................................55
3.5.3. FREQÜÊNCIA E DURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO ......................................................55
3.5.4. RITMO DE TRABALHO E PRODUÇÃO.................................................................56
3.5.5. VENTILAÇÃO E CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ........................................................56
3.5.6. FATORES INTERVENIENTES NA COLETA DE AMOSTRAS ...............................56
3.6. TESTES ....................................................................................................................57

CAPÍTULO 4. AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL .....................................58


4.1. DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE AMOSTRAGEM ..............................................59
4.1.1. MÉTODO EMPREGADO .......................................................................................60
4.1.2. EQUIPAMENTOS PARA COLETA ........................................................................60
4.1.3. PESSOAL NECESSÁRIO PARA REALIZAR E ACOMPANHAR AS COLETAS DE
AMOSTRAS.....................................................................................................................60
4.1.4. AMOSTRAS PESSOAIS E EM PONTOS FIXOS ...................................................60
4.1.5. AVALIAÇÕES DE FUNCIONÁRIOS E DE FUNÇÕES ...........................................61
4.1.6. GRUPOS HOMOGÊNEOS DE RISCO (GHR) .......................................................61

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SUMÁRIO
iii

4.1.7. NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS A SEREM AMOSTRADOS EM CADA GHR ........62


4.1.8. NÚMERO DE AMOSTRAS A SEREM COLETADAS EM CADA FUNCIONÁRIO E
TEMPO DE COLETA DE CADA AMOSTRA ....................................................................63
4.1.9. DIAS E HORÁRIOS DAS COLETAS DE AMOSTRAS ...........................................65
4.1.10. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE DE AMOSTRAS ..........................................66
4.2. COLETA DE AMOSTRAS.........................................................................................66
4.2.1. COLETA DE UM VOLUME DA ATMOSFERA .......................................................68
4.2.2. COLETA COM ANÁLISE INSTANTÂNEA ..............................................................68
4.2.2.1. Papéis reativos ...................................................................................................68
4.2.2.2. Tubos indicadores ...............................................................................................68
4.2.2.3. Instrumentos de leitura direta ..............................................................................68
4.2.3. COLETA DO CONTAMINANTE .............................................................................69
4.3 ANÁLISE DO MATERIAL COLETADO ......................................................................70
4.4. CÁLCULOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA ESTIMATIVA DA
EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL .........................................................................................70
4.4.1. MÉDIA PONDERADA PELO TEMPO (MPT) .........................................................70
CONCENTRAÇÃO ..........................................................................................................71
4.4.2. ESTIMATIVA DE MÉDIAS PARA UM GHR ...........................................................71
4.4.3. COMPARAÇÃO COM OS LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL .................72
4.4.3.1. Cálculo dos Índices de Exposição .......................................................................72
4.4.3.2. Comparação dos valores e médias obtidas em uma avaliação ...........................73
4.4.4. ESTIMATIVA DA PROBABILIDADE DE ULTRAPASSAR O LIMITE DE
EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL .........................................................................................74
4.4.4.1. Estimativa segundo o NIOSH ..............................................................................75
METAL.............................................................................................................................75
4.4.4.2. Estimativa segundo o INRS ................................................................................76
4.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................78
4.6. TESTES ....................................................................................................................79

CAPÍTULO 5. AÇÃO ERGONÔMICA E ANÁLISE DO TRABALHO...............................80


5.1. INTERAÇÕES DA AÇÃO ERGONÔMICA NA PROPOSIÇÃO DE
TRANSFORMAÇÃO NO TRABALHO ..............................................................................81
5.2. TRABALHO, TAREFA E ATIVIDADE ........................................................................84
5.2.1. TAREFA E ATIVIDADE DE TRABALHO ................................................................84
5.3. ATIVIDADE DE TRABALHO: UMA FORMA DA ATIVIDADE HUMANA ....................85
5.3.1. A DIMENSÃO PESSOAL DO TRABALHO .............................................................85
5.3.2. O CARÁTER SOCIOECONÔMICO DO TRABALHO .............................................86
5.4. TAREFA: UM CONJUNTO DE PRESCRIÇÕES, MAS TAMBÉM DE
REPRESENTAÇÕES ......................................................................................................87
5.5. A FUNÇÃO INTEGRADORA DA ATIVIDADE DE TRABALHO .................................87
5.6. A ABORDAGEM ERGONÔMICA ..............................................................................88
5.6.1. A SEPARAÇÃO ENTRE A FUNÇÃO ORGANIZADORA E A ATIVIDADE DE
TRABALHO .....................................................................................................................88
5.6.2. TRANSFORMAÇÕES E CONTRADIÇÕES ...........................................................88
5.7. O CONFRONTO ENTRE OS PONTOS DE VISTA ...................................................89
5.7.1. PONTOS DE VISTA DIFERENTES .......................................................................90
5.8. UMA LEITURA DO FUNCIONAMENTO DA EMPRESA DO PONTO DE VISTA DA
ATIVIDADE ......................................................................................................................91
5.9. CONSTRUIR A AÇÃO ERGONÔMICA NA VISÃO DA ATIVIDADE ..........................93
5.9.1. O MEMORIAL DESCRITIVO DAS TRANSFORMAÇÕES......................................95
5.10. TESTES ..................................................................................................................96

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SUMÁRIO
iv

CAPÍTULO 6. BASES PARA A PRÁTICA DA ERGONOMIA .........................................98


6.1. AS BASES DE UMA AÇÃO ERGONÔMICA .............................................................99
6.2. DIVERSIDADE E VARIABILIDADE DOS INDIVÍDUOS ..........................................100
6.3. A CONSTRUÇÃO DOS MODOS OPERATÓRIOS .................................................100
6.3.1. OS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO DA AÇÃO .........................................................100
6.4. AS DIMENSÕES COLETIVAS DA ATIVIDADE ......................................................101
6.5. RELAÇÕES ENTRE A ATIVIDADE, O DESEMPENHO E A SAÚDE ......................101
6.6. RESULTADOS E CONSEQÜÊNCIAS DA ATIVIDADE ...........................................101
6.7. A DIVERSIDADE DAS AÇÕES ERGONÔMICAS ...................................................102
6.7.1. O ESTATUTO DO ERGONOMISTA ....................................................................102
6.7.2. A DIVERSIDADE DAS EMPRESAS ....................................................................102
6.7.3. A DIVERSIDADE DAS ORIGENS ........................................................................102
6.7.4. A DIVERSIDADE DOS OBJETOS DA AÇÃO ERGONÔMICA .............................102
6.7.5. A ESPECIFICIDADE DE CADA AÇÃO ERGONÔMICA .......................................102
6.7.6. A ANÁLISE DA ATIVIDADE E OS OUTROS MÉTODOS EM ERGONOMIA .......103
6.8. TESTES ..................................................................................................................104

CAPÍTULO 7. A CONSTRUÇÃO DA AÇÃO ERGONÔMICA........................................108


7.1. ESQUEMA GERAL DA ABORDAGEM ...................................................................109
7.2. A DEMANDA ..........................................................................................................109
7.3. IDENTIFICAR O QUE ESTÁ EM JOGO..................................................................110
7.4. DIMENSIONAR A AÇÃO ERGONÔMICA ......................................................111
7.5. PROPOSTA DE AÇÃO ERGONÔMICA..................................................................112
7.6. ESTRUTURAR-SE PARA CONDUZIR UMA AÇÃO ERGONÔMICA ......................112
7.7. O CONHECIMENTO DO FUNCIONAMENTO DA EMPRESA ................................114
7.7.1. A DIMENSÃO ECONÔMICA E COMERCIAL ......................................................114
7.7.2. A DIMENSÃO SOCIAL E DEMOGRÁFICA ..........................................................116
7.7.3. ANÁLISE DO TRABALHO E EMPREGO .............................................................117
7.7.4. PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E VOLUME DE EMPREGO .........................119
7.7.5. CONDIÇÕES DE REALIZAÇÃO DO TRABALHO, CONTEÚDO DO TRABALHO
EGESTÃO IMPLÍCITA DO EMPREGO ..........................................................................120
7.7.6. INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO, EMPREGO E SAÚDE ................................121
7.7.7. DADOS COLETIVOS E A SAÚDE .......................................................................122
7.8. AS LEIS E REGULAMENTAÇÕES .........................................................................123
7.9. O AMBIENTE GEOGRÁFICO DA EMPRESA .........................................................123
7.10. A DIMENSÃO TÉCNICA .......................................................................................124
7.11. A PRODUÇÃO E SUA ORGANIZAÇÃO ...............................................................125
7.11.1. OS DADOS QUALITATIVOS E SUA SIGNIFICAÇÃO........................................125
7.11.2. OS CRITÉRIOS DE QUALIDADE DA PRODUÇÃO E EVOLUÇÃO ...................125
7.11.3. OS DADOS QUANTITATIVOS SOBRE A PRODUÇÃO.....................................125
7.11.4. O ALCANCE DOS DADOS QUANTITATIVOS ...................................................125
7.12. ABORDAGEM DA SITUAÇÃO DE TRABALHO ....................................................126
7.12.1. DA ANÁLISE DAS TAREFAS À ABORDAGEM DA ATIVIDADE ........................126
7.12.1.1. Descrições centradas na estrutura dos processos técnicos ............................127
7.12.1.2. Descrições centradas nas relações entre as variáveis de um determinado
dispositivo ......................................................................................................................127
7.12.1.3. Descrições centradas nos procedimentos .......................................................127
7.12.1.4. Descrições centradas na dependência e limites temporais das ações e eventos
......................................................................................................................................128
7.12.1.5. Descrições centradas no arranjo físico do dispositivo técnico .........................128
7.12.2. A ESCOLHA DAS SITUAÇÕES A ANALISAR ...................................................129
7.12.3. OS PRIMEIROS CONTATOS COM OS OPERADORES ...................................130

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SUMÁRIO
v

7.12.4. AS PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES....................................................................130


7.13. TESTES ................................................................................................................132

CAPÍTULO 8. A CONDUÇÃO DA ANÁLISE EM SITUAÇÃO DE TRABALHO ............134


8.1. A ELABORAÇÃO DAS HIPÓTESES ......................................................................135
8.1.1. A ELABORAÇÃO DO PRÉ-DIAGNÓSTICO.........................................................135
8.1.2. DEMONSTRAÇÃO E COMPREENSÃO ..............................................................136
8.1.3. A OBSERVAÇÃO ................................................................................................137
8.1.4. O MEIO E A ANÁLISE DA ATIVIDADE ................................................................138
8.2. CATEGORIAS DE OBSERVÁVEIS ........................................................................138
8.3. AS TÉCNICAS DE REGISTRO ...............................................................................139
8.4. A DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE OBSERVADA .......................................................139
8.5. TESTES ..................................................................................................................140

CAPÍTULO 9. DO DIAGNÓSTICO À TRANSFORMAÇÃO ...........................................143


9.1. AS VERBALIZAÇÕES ............................................................................................144
9.1.1. AS VERBALIZAÇÕES SIMULTÂNEAS................................................................145
9.1.2. AS VERBALIZAÇÕES CONSECUTIVAS.............................................................145
9.1.3. AS MODALIDADES DE QUESTIONAMENTO .....................................................146
9.2. O DIAGNÓSTICO E A TRANSFORMAÇÃO ...........................................................147
9.3 TESTES ...................................................................................................................155
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................158

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 1

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À HIGIENE E TOXICOLOGIA OCUPACIONAL

OBJETIVOS DO ESTUDO

Neste capítulo é feita uma introdução aos agentes químicos e suas interações
com o organismo humano que é o campo da Higiene e Toxicologia ocupacional.
Mostra-se a relevância do assunto e a necessidade do conhecimento das bases da
toxicologia e da medicina para o bom entendimento dos aspectos a serem abordados.

Ao final do capítulo é esperado que você conheça:


 Os conceitos básicos de Higiene e Toxicologia e os relacionamentos destas
duas ciências.
 O relacionamento da Higiene ocupacional com a Medicina do Trabalho,
Saúde do Trabalhador e Saúde Pública no tocante aos agentes químicos.
 As atribuições do higienista ocupacional ao abordar o assunto “agentes
químicos”.

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 2

1.1. PRINCÍPIOS GERAIS


A Saúde Pública, ciência multidisciplinar por excelência, abrange os diversos
campos de conhecimento, entre eles a Saúde do Trabalhador que apesar de mais
restrita se comparada com a Saúde Pública, ainda é multidisciplinar e por sua vez
abrange diversas ciências entre elas a Higiene Ocupacional e a Toxicologia
Ocupacional.
A localização da Higiene e da Toxicologia Ocupacional como integrantes da
Saúde Pública é bastante adequada, uma vez que a Saúde Pública foi originada na
Medicina Preventiva, ou seja, para o efetivo diagnóstico, tratamento e controle de
diversas doenças, há necessidade de diferentes profissionais, atuando em diversos
campos, sendo o principal deles na erradicação ou prevenção, daí a criação da
Medicina Preventiva e posteriormente da Saúde Pública, criada dentro do espírito de
prevenção das doenças, exatamente como atuam a Higiene e a Toxicologia
Ocupacional.
Historicamente, as raízes da Higiene Ocupacional, perdem-se no tempo e
confundem-se com os primórdios da Medicina e da Toxicologia, quando o Homem
aprendeu que determinadas atividades, envolvendo o manuseio ou a exposição a
substâncias químicas, ou mesmo plantas e animais, poderiam ser prejudiciais à sua
saúde e começou a proteger-se, ou utilizar estes efeitos danosos na guerra contra os
inimigos.
Está muito distante o tempo em que os antigos gregos utilizavam o arco (toxikón)
para lançar flechas envenenadas, daí o radical tóxico em português (OGA e
SIQUEIRA, 1996). Mas hoje, mesmo com os grandes avanços da ciência, ainda temos
diversas situações em que o trabalhador, ao realizar uma atividade, pode ficar exposto
a um agente químico e em decorrência, apresentarem efeitos imediatos, como no caso
de acidentes, ou ainda após algum tempo, como nas doenças profissionais.
Em determinadas situações, o trabalhador pode não receber atenção médica,
por estar fisicamente distante das equipes de saúde, como no caso de garimpeiros ou
trabalhadores rurais. Em outras situações, mesmo nas grandes cidades, por não
dispormos de um Sistema de Saúde Pública e Saúde do Trabalhador abrangente,
alguns trabalhadores podem não receber atenção adequada, ou mesmo não receber
nenhuma atenção, como no caso dos trabalhadores avulsos de empresas
“terceirizadas” ou da economia informal.
Por outro lado, a maioria dos trabalhadores de grandes centros urbanos tem
acesso à atenção médica e têm grande probabilidade de serem adequadamente
tratados. Contudo, se isto, e apenas isto, estiver acontecendo, estaremos criando um
ciclo vicioso, com o simples tratamento do trabalhador doente e seu regresso ao local
de trabalho e, conseqüentemente, para a exposição ocupacional e algum tempo
depois, voltar ao médico com os mesmos sinais e sintomas anteriores. Como um
eletricista que tenta consertar uma instalação elétrica apenas trocando um fusível
queimado, sem se preocupar em saber o que provocou a sua queima, esta situação
leva a uma evidente deterioração da saúde e conseqüentemente a um custo sócio-
econômico cada vez mais elevado para o seu retorno às condições iniciais.
Este ciclo só pode ser rompido quando paralelamente ao tratamento do
trabalhador doente fizermos o “tratamento” do seu respectivo local de trabalho ou
atividade, transformando-os em salubres, que é o objetivo da Higiene Ocupacional e

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 3

estará em harmonia com o trabalhador sadio, atingindo-se assim os objetivos maiores


da Saúde do Trabalhador.
Foi apenas nas últimas décadas que a Higiene Ocupacional teve seu maior
desenvolvimento, sendo inclusive considerada como ciência, admitindo ainda
diferentes denominações como seguem.
Higiene Industrial, característica dos Estados Unidos da América, onde teve
grande desenvolvimento e exerce grande influência no resto do mundo.
Higiene do Trabalho, característica do Brasil por ter seu desenvolvimento
atrelado ao Ministério do Trabalho que criou as denominações: Medicina do Trabalho,
Engenharia de Segurança do Trabalho, Enfermagem do Trabalho, etc. Assinala-se
que historicamente, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
inicialmente a denominação de Higiene do Trabalho foi utilizada na década de 1960
para a Cátedra ocupada pelo Prof. Benjamin Alves Ribeiro, todavia o seu conteúdo era
eminentemente médico, sendo até recentemente sido ministrado na disciplina de
Patologia Ocupacional pelo Prof. Dr. Diogo Pupo Nogueira.
Higiene Ocupacional, mais difundida na Europa, recomendada pela OIT e aceita
por vários autores, por expressar melhor os seus objetivos em língua portuguesa.
PATTY (1948), grande expoente da Higiene Ocupacional dos Estados Unidos da
América definiu:

“A Higiene Industrial visa antecipar e reconhecer situações potencialmente


perigosas e aplicar medidas de controle de engenharia antes que agressões
sérias à saúde do trabalhador sejam observadas”

Pela definição acima já se verifica o caráter preventivo da Higiene Ocupacional,


que algum tempo após foi aprimorada pela ACGIH (American Conference of
Governmental Industrial Hygienists) que a define hoje como:

Quadro 1.1.

“A ciência e arte devotada à antecipação, reconhecimento, avaliação e

controle dos riscos ambientais e stress originado do, ou no local de trabalho,

que podem causar doença, comprometimento da saúde e bem estar, ou

significante desconforto e ineficiência entre os trabalhadores, ou membros de

uma comunidade”.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 4

Nesta definição (ACGIH, 2001a) além do caráter preventivo de antecipar ações


corretivas, cita o método de trabalho e admite ainda a possibilidade de um estudo não
só prospectivo como também retrospectivo, o que embora inadequadamente, ainda
ocorre com freqüência na prática, ou seja a busca da causa após o dano à saúde do
trabalhador já ter sido observado. Nota-se ainda que o higienista não deve preocupar-
se exclusivamente com doenças graves, mas também com pequenos desvios de
saúde e do bem estar e além disto, não somente do trabalhador e seu local de
trabalho mas também de seus descendentes e sob certos aspectos até da
comunidade, na qual a empresa e o trabalhador estão inseridos.

1.2. O RELACIONAMENTO HIGIENE - TOXICOLOGIA - MEDICINA


A Higiene Ocupacional, principalmente ao lidar com agentes químicos, deve ter
um entrosamento muito grande com a Toxicologia Ocupacional e com a Medicina do
Trabalho, pois para a perfeita execução de um programa de Saúde do Trabalhador há
necessidade de ações bem articuladas e de conhecimento das propriedades
toxicológicas como a toxicidade, periculosidade, toxicocinética e a toxicodinâmica dos
agentes tóxicos, para que se possam estabelecer ações e prioridades.
Pela Toxicologia Analítica têm-se os métodos e técnicas de análise do agente
tóxico, tanto oriundo de amostras ambientais como biológicas (o próprio agente, seus
metabólitos ou produtos de ação tóxica em material biológico). Os resultados destas
análises devem ser comparados com os limites de exposição ocupacional para o
ambiente e com os Limites Biológicos de Exposição para o organismo do trabalhador,
dados estes que são obtidos através de extensos estudos de Higiene, Toxicologia e
Medicina e desenvolvidos com o auxílio da Epidemiologia, Estatística e outras
ciências.
As medidas de controle, por sua vez, além da viabilidade do ponto de vista
prático, técnico ou administrativo, devem ser planejadas levando em conta a
Toxicocinética e a Toxicodinâmica dos agentes químicos, com especial atenção às
vias de penetração, à meia vida biológica do agente no organismo humano e todas as
possíveis ações e interações, dentro e fora do organismo, para que a proteção do
trabalhador seja adequada.
Verifica-se assim, um estreito relacionamento entre a Higiene Ocupacional e a
Toxicologia Ocupacional e a tendência de unificação entre as duas ciências numa
terceira: a Higiene e Toxicologia Ocupacional, que trata basicamente dos agentes
químicos, suas interações com o organismo do trabalhador e todos os fatores
intervenientes no aparecimento de um agravo à Saúde do Trabalhador e sua
prevenção.

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 5

1.3. O HIGIENISTA OCUPACIONAL


Sendo a Higiene Ocupacional multiprofissional, ou seja, não é exclusiva de uma
determinada categoria, diversos profissionais de nível superior e mesmo técnico
podem se especializar nesta ciência, pois em suas atividades, a Higiene Ocupacional
lida com agentes químicos, físicos e biológicos, em todos os seus aspectos e
possibilidades de exposição, adicionando-se ainda os aspectos de organização do
trabalho e ergonomia.
A graduação de um profissional é o que o habilita a exercer determinadas
atividades previstas ao seu Âmbito Profissional, por exemplo, realizar coletas e
análises de substâncias químicas presentes no ar. O treinamento ou capacitação em
Higiene Ocupacional torna-o mais capaz de realizar estas atividades, com vistas à
proteção da Saúde do Trabalhador.
Pela abrangência da Higiene Ocupacional, observa-se que não há uma
formação acadêmica em nível de graduação, especialmente orientada para esta
ciência, nem exclusividade para um dado profissional. Historicamente nota-se que
inicialmente a Higiene Ocupacional foi exercida por médicos que logo perceberam a
necessidade de outros profissionais que melhor conhecessem certos problemas
ambientais, como o químico ou o engenheiro.
Frank Patty, pioneiro da Higiene e Toxicologia Industrial cientificamente
considerada, era farmacêutico de formação básica, o que lhe conferia grande
versatilidade nos assuntos químicos ambientais e médico-toxicológicos (CLAYTON,
1992), sendo inclusive autor das primeiras edições de Industrial Hygiene and
Toxicology (PATTY, 1948), hoje reeditado como a principal obra do gênero: Patty´s
Industrial Hygiene and Toxicology (CRALLEY, 1996).
Dependendo do problema em particular devemos procurar o profissional
habilitado e capacitado a resolvê-lo, por exemplo, se tivermos um agente biológico no
ambiente, um biólogo ou microbiologista deve ser chamado. Se a exposição for a
agentes químicos, necessitamos do concurso de um químico, bioquímico ou
engenheiro químico, não podendo obviamente, cuidar da questão um engenheiro civil
ou mecânico.
Avaliações ambientais não são as únicas atividades do higienista ocupacional,
assim, outros profissionais não diretamente envolvidos com os agentes ou suas
avaliações, como por exemplo médicos, estatísticos, educadores ou nutricionistas,
entre outros, podem especializar-se em Higiene Ocupacional, contribuindo
sobremaneira para a solução de diversos problemas específicos, sem contudo
tornarem-se higienistas ocupacionais propriamente ditos.
O higienista é um profissional que deve manter-se atualizado com os
conhecimentos técnicos da área e com os avanços da tecnologia, deve ainda ter
capacidade de comunicação adequada com os diversos níveis hierárquicos de uma
empresa, pois é esperado que consiga dialogar com o trabalhador mais humilde e
simples para entendê-lo e reconhecer os riscos inerentes às atividades, bem como
dialogar com todos os níveis, até diretores ou presidente da empresa, no sentido de
introduzir uma determinada medida de controle ou melhoria que beneficie o
trabalhador.
O higienista deve ter elevado grau de responsabilidade, pois embora não
previsto na legislação brasileira, é o homem tecnicamente responsável diretamente

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 6

pela prevenção de doenças ocupacionais, pois cabe a ele reconhecer, avaliar e propor
as medidas de controle adequadas para a prevenção de riscos ocupacionais.
Muitas vezes o higienista é quem deve levar a opinião da empresa sobre um
assunto técnico para fora dos muros da fábrica assim, deve ainda ter contatos,
recebendo representantes do Órgão do Governo / Fiscalização do Trabalho,
Sociedades Científicas, Imprensa, Comunidade e Sindicatos, ou ainda mesmo indo a
entidades externas representando a empresa.
Para o exercício de sua função o higienista deve estar apto a discutir assuntos
que são comuns às diversas áreas de uma grande empresa, como se vê na tabela 1.1.

Tabela 1.1. Exemplos de assuntos de interesse da Higiene e Toxicologia Ocupacional


a serem tratados em diversas áreas de uma grande empresa.

Exemplos de assuntos
Epidemiologia, incidência e prevalência de sinais e
sintomas.
Medicina do Trabalho
Indicadores e limites biológicos de exposição
Afastamentos da função ou exposição
Ergonomia e
Adaptação física, psicológica e social da atividade ao
Organização do
homem.
trabalho
Proteção Individual
Segurança do Periculosidade
Trabalho Espaços confinados
Emergências, operações não rotineiras.
Análises de interesse para Higiene Ocupacional
Laboratórios Identificação de produtos químicos
Riscos em laboratórios
Análise de projetos
Engenharia Processos industriais
Manutenção, medidas técnicas de controle.
Comunidade
Resíduos
Meio Ambiente
Emergências externas
Transporte de materiais perigosos
Programas de Saúde do Trabalhador
Procedimentos
Administração Medidas administrativas de controle
Treinamentos
Orçamentos e compra de materiais e serviços.

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 7

1.4. A HIGIENE E TOXICOLOGIA OCUPACIONAL E A SAÚDE PÚBLICA


Apesar da grande importância da Higiene e Toxicologia Ocupacional devemos
ter noção exata da sua atuação dentro da equipe de Saúde Pública. As doenças
profissionais podem originar sérios agravos à saúde e até levar trabalhadores à morte.
Contudo se fizermos a pergunta: Do que morrem os trabalhadores? Do ponto de vista
da Saúde Pública, a resposta não é simples nem única, pois acidentes e doenças
ocupacionais ou do trabalho não são as principais causas de morte dos trabalhadores
brasileiros, pois estes morrem antes por outras causas como violência urbana,
acidentes de trânsito, ou de doenças não ocupacionais e ditas comuns, como
cardiopatias, câncer, alcoolismo, gastrenterites e outras.
Dependendo da população estudada, as estatísticas mostram-nos os acidentes
ou doenças ocupacionais como terceira, quarta, quinta ou mesmo mais remota causa
de morte dos trabalhadores, muito raramente é a primeira causa. Consideramos aqui
este fato, para que se tenha uma real perspectiva, sem sub, ou superestimar o valor
da Higiene Ocupacional, que da mesma forma que a Medicina ou Segurança do
Trabalho, isoladamente, nunca poderá cuidar ou proteger a saúde dos trabalhadores,
considerada em seu aspecto mais amplo.
Além de basear-se em equipe multidisciplinar para atingir seus objetivos, a
Higiene e Toxicologia Ocupacional devem ainda estar adequadamente inseridas
dentro de um programa maior de Saúde do Trabalhador, não sendo adequadas ações
isoladas de qualquer das ciências ou áreas envolvidas.

1.5. A ATUAÇÃO DO HIGIENISTA OCUPACIONAL


A atuação do higienista em relação à exposição ocupacional a um agente
químico realiza-se em quatro diferentes níveis:

1.5.1. ANTECIPAÇÃO OU PREVISÃO DE RISCOS


O higienista deve ter habilitação, capacitação e sobretudo autoridade para servir
como um dos elementos de aprovação de todos os projetos de instalações e ou
modificações a serem introduzidas em uma empresa. Isto é perfeitamente justificável,
pois é muito mais econômico e eficaz eliminar-se um risco à saúde quando "ainda está
no papel", ou seja, na fase de projeto, ocasião em que pequenas modificações muitas
vezes sem custo ou com um pequeno custo adicional são agregadas e já se
introduzem as medidas necessárias e suficientes para o controle dos riscos.
De outra forma, uma vez instalados os equipamentos, ou realizadas construções
ou reformas, o custo para qualquer posterior modificação visando a proteção dos
trabalhadores será elevadíssimo em relação ao anterior, mormente quando devem ser
introduzidas modificações que impliquem na remoção de equipamentos, modificações
no sistema de ventilação ou mesmo nos piores casos, a remoção de estruturas ou
partes construídas inadequadamente do ponto de vista da Higiene Ocupacional.
Uma questão particularmente importante em indústrias em geral, é o custo de
uma possível parada de produção para introdução de medidas de controle, ou mesmo
por uma greve dos empregados que podem recusar-se a trabalhar em um local
inadequado. Lembra-se ainda o elevado custo da administração de problemas sociais

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 8

e trabalhistas decorrentes de uma contaminação do ambiente de trabalho e, ou, do


ambiente geral.

1.5.2. RECONHECIMENTO DE RISCOS


Reconhecer um risco é identificar em um local de trabalho ou atividade a
presença de um risco, que possa estar afetando a saúde dos trabalhadores. Para
tanto, o higienista deve ter conhecimento detalhado de toda sua empresa e contar com
a colaboração do pessoal de produção, manutenção e outros ligados ao processo
industrial.
Nesta fase é fundamental o conhecimento da Toxicologia Ocupacional e o
higienista deve manter-se atualizado com os avanços da ciência e em particular com
os agentes possivelmente presentes em sua empresa e seus efeitos sobre a saúde. O
reconhecimento de riscos químicos será mais detalhado no Capítulo 3.

1.5.3. AVALIAÇÃO DE RISCOS


Compreende a fase de medição da intensidade ou concentração dos agentes e
comparação com os padrões adequados de exposição.
Para esta fase o higienista deve utilizar instrumental adequado para coleta de
amostras ou de medição direta, contando ainda com um laboratório confiável, para a
realização das análises. Esta atividade deve ser tecnicamente planejada, para que se
realize um número adequado de medições e de forma tal que possam refletir
corretamente a exposição dos trabalhadores.
Tendo em vista a necessidade de equipamentos específicos e laboratórios
adequados e especializados, é possível contratar uma empresa externa ou consultoria
para esta fase especificamente, ou para outras atividades. A avaliação de riscos
químicos será mais detalhada no Capítulo 4.

1.5.4. CONTROLE DE RISCOS


Nas situações em que as avaliações representem exposições acima dos limites
de exposição ocupacional devem ser introduzidas medidas de controle adequadas que
reduzam estas exposições a níveis compatíveis com a saúde e conforto dos
trabalhadores.
As medidas de controle são planejadas e recomendadas pelo higienista e
demais envolvidos no processo e são executadas pelos departamentos pertinentes de
administração, manutenção, engenharia, produção, etc.
Medida de controle adequada é aquela necessária e suficiente para eliminar a
exposição ocupacional ou reduzi-la a nível aceitável.
Medidas desnecessárias têm o sério inconveniente de não serem seguidas e
tornarem-se desacreditadas. Os trabalhadores passam a não utilizá-las e
conseqüentemente perdemos a confiança do trabalhador na equipe de saúde e
segurança, bem como na empresa como um todo. O trabalhador, ao perceber que o
higienista recomenda medidas sem necessidade, pode concluir que todos da equipe
de saúde são assim, não conhecem o assunto ou até recebem suborno para a compra
de equipamentos que depois são jogados no lixo. Numa situação deste tipo qualquer

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 9

medida posterior ligada à saúde, mesmo Saúde Pública, encontrará sérias dificuldades
de penetração, por mais correta e necessária que seja.
Medidas insuficientes, por outro lado podem inicialmente levar o trabalhador a
uma falsa sensação de segurança e, após algum tempo, poderá ocorrer o
aparecimento de um agravo à saúde. Neste momento o trabalhador além de ficar
doente, não só desacreditará da equipe de saúde e de seus empregadores como
poderá lançar mão de todos os recursos possíveis para iniciar movimentos trabalhistas
e ações judiciais.
Cabe lembrar que a justiça brasileira tem evoluído bastante e já se observam
Ações Civis Públicas e também Criminais tendo origem na exposição profissional a
agentes químicos.
Assim é importante a presença da atividade de Higiene Ocupacional nas
empresas, pois o higienista é o elemento central e catalisador das soluções, é a
pessoa que coordena os programas de Higiene Ocupacional, trabalhando em estreito
relacionamento com os serviços médicos e de meio ambiente, além de todos os outros
departamentos envolvidos e tem por objetivo transformar os locais de trabalho em
locais seguros e as atividades agradáveis, de forma que todos possam trabalhar sem
qualquer risco à saúde.

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Capítulo 1. Introdução a Higiene e Toxicologia Ocupacional 10

1.6. TESTES
1. Tratando-se de agentes químicos a Higiene Ocupacional deve buscar
principalmente apoio em qual outra ciência?
a) Antropologia
b) Sociologia
c) Toxicologia
d) Dermatologia
e) n.d.a.

2. O principal objetivo da Higiene Ocupacional em relação aos agentes químicos


é:
a) Indicar o EPI mais adequado a cada caso.
b) Direcionar o melhor possível os recursos financeiros.
c) Prevenir o aparecimento de agravos à Saúde do Trabalhador.
d) Minimizar os agravos à Saúde do Trabalhador.
e) n.d.a.

3. As medidas de controle para exposição ocupacional a um agente químico


devem ser:
a) Necessárias e suficientes para reduzir a exposição ocupacional a níveis
aceitáveis.
b) Baseadas no conhecimento intuitivo visando o menor custo possível.
c) Sempre baseadas na existência de um protetor respiratório (EPI) adequado.
d) Sempre ser recomendadas e executadas por um Engenheiro de Produção.
e) n.d.a.

4. Ergonomia se descreve melhor como:


a) um conjunto de atividades de fatores humanos.
b) o campo dedicado a minimizar as mudanças causadas por atividades de alta
energia.
c) um tópico não relacionado à Higiene Ocupacional.
d) o estudo das interações de uma pessoa com seu ambiente de trabalho.
e) n.d.a.

5. Em relação a riscos químicos e Higiene Ocupacional, avaliar é:


a) Realizar a análise química qualitativa e quantitativa da substância.
b) Medir a Concentração que representa a exposição ocupacional.
c) Medir a Concentração que representa a exposição ocupacional e comparar
com o padrão adequado.
d) Verificar o quais substâncias estão presentes no local do trabalho.
e) n.d.a.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 11

CAPÍTULO 2. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A AGENTES QUÍMICOS

OBJETIVOS DO ESTUDO

Neste capítulo você vai conhecer os padrões atualmente aceitos ou indicados


para avaliar uma exposição ocupacional a um agente químico. Conhecendo as bases
técnicas e legais para seu estabelecimento e as diversas particularidades e situações
específicas como diferentes horários ou jornadas, efeitos combinados entre agentes e
as diversas interpretações para cálculo de uma média.

Ao final do capítulo você deverá:


 Conhecer as bases que são utilizadas para estabelecimento de um Limite de
Exposição e as relações dose-efeito e dose-resposta.
 Conhecer os diversos limites disponíveis atualmente.
 Saber qual o melhor limite a ser utilizado em uma determinada avaliação.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 12

2.1. INTRODUÇÃO
Avaliar alguma coisa é medir ou estimar sua grandeza e compará-la com um
valor padrão de referência, tido como limite do normal, usual, permitido ou aceitável.
Assim, além da complexidade da estimativa da exposição ocupacional que será vista
mais adiante, a dificuldade inicial de uma avaliação é o conhecimento e a escolha de
padrões adequados.
Limites de Exposição Ocupacional (LEO) a agentes químicos é um assunto
basicamente de Higiene Ocupacional, pois se referem às concentrações ambientais
que representam a exposição do trabalhador e fornecem-nos os elementos básicos
para avaliar a exposição ocupacional e a necessidade ou não da introdução de
medidas de controle. Contudo, trata-se de assunto relativamente complexo e envolve
diretamente outras grandes ciências da Saúde do Trabalhador.
Para se estabelecer um Limite de Exposição Ocupacional é fundamental
conhecer não só o comportamento do agente químico no ambiente de trabalho, mas
também dentro do organismo, o que é feito pela Toxicologia Ocupacional
principalmente em seus capítulos de Toxicocinética e Toxicodinâmica, com apoio
ainda da Toxicologia Analítica, na análise qualitativa e quantitativa dos Indicadores
Biológicos de Exposição e de Efeito e comparação com valores normais e Limites
Biológicos de Exposição.
Devemos realizar ainda os exames clínicos dos trabalhadores buscando-se os
sinais e sintomas decorrentes dos diversos níveis de exposição e inclusive
interpretando os níveis dos Indicadores Biológicos encontrados o que é feito pela
Medicina do Trabalho, apoiada pela Toxicologia.
As informações assim obtidas devem ser compiladas e a seguir elaborados
estudos, onde se busca a incidência e prevalência de determinados sinais e sintomas
em uma dada população e as correlações dose-efeito e dose-resposta, sendo estes
assuntos desenvolvidos basicamente dentro dos princípios da Epidemiologia e da
Estatística.
Historicamente, o primeiro registro de Limites de Exposição Ocupacional é de
1921, quando o U.S. Bureau of Mines, estabeleceu limites para 33 substâncias e em
1942 a ACGIH publicou sua primeira recomendação de limites para 63 substâncias,
que vem sendo re-editada e atualizada desde então (LENTZ, 2001).
Limite de Exposição Ocupacional é um assunto que apresenta grande número
de variáveis, dificultando a realização de pesquisas com trabalhadores e em muitos
casos até com animais de laboratório. Somando-se a esta dificuldade, temos um
grande número de agentes químicos presentes em atividades industriais (cerca de
65.000) e centenas de novas substâncias sendo lançadas anualmente. Considerando
ainda a dificuldade de a comunidade científica desenvolver pesquisas neste setor em
quantidade e no prazo adequado, temos uma atualização relativamente lenta, porém
constante, do conhecimento nesta área.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 13

2.2. AS DENOMINAÇÕES
Diferentes denominações têm sido propostas para o padrão de exposição
ocupacional a agentes químicos com o objetivo de nomeá-lo de forma a refletir o seu
real significado, citam-se algumas (e respectivas siglas) que embora semelhantes,
procuram retratar diferentes pontos de vista:

Quadro 2.1.
AEL: Acceptable Exposure Levels (Níveis Aceitáveis de Exposição)

EL: Exposure Limits (Limites de Exposição)

LT: Limites de Tolerância, ou Valores Limites de Tolerância

LEO: Limites de Exposição Ocupacional

MAK ou MAK: Maximum Allowable Concentration (Concentrações Máximas

Aceitáveis)

OEL: Occupational Exposure Levels (Níveis de Exposição Ocupacional)

PEL: Permissible Exposure Levels (Níveis de Exposição Permitidos)

TLV: Threshold Limit Values (Valores Limites Limiares)

VRT: Valor de Referência Tecnológico

WEELG: Wokplace Environmental Exposure Guide (Guia de Níveis de

Exposição Ambiental em Locais de Trabalho).

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 14

2.2.1. LIMITES DE TOLERÂNCIA


Limites de Tolerância, é uma denominação bastante difundida e utilizada no
Brasil, principalmente por ser utilizada em nossa legislação, Portaria 3214 do
Ministério do Trabalho e sua Norma Regulamentadora número 15 (Brasil, 1978),
entretanto, não reflete exatamente a finalidade do limite, uma vez que se refere à
tolerância, podendo-se inclusive interpretar que a tolerância do trabalhador exposto é
que deve ser limitada e não a exposição, ou ainda o quanto pode ser tolerado,
subentendendo-se então que pode haver algum efeito sobre a saúde do trabalhador.

2.2.2. NÍVEIS ACEITÁVEIS DE EXPOSIÇÃO


As denominações Níveis Aceitáveis de Exposição, ou Níveis de Exposição
Ocupacional são mais adequadas, pois se referem à exposição e à denominação
Limites de Exposição – foi proposta pela Organização Internacional do Trabalho em
1977 numa tentativa de uniformizar a nomenclatura, sendo esta aceita e utilizada na
Convenção 148, na Recomendação 156 e diversas outras publicações (ILO, 1989).

2.2.3. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL


Seguimos esta diretriz, porém conforme diversos outros autores, utilizamos
Limites de Exposição Ocupacional – LEO’s com o adjetivo ocupacional para
diferenciar a exposição ocupacional da ambiental, esta última entendida como a
originada do ambiente geral, externo, e não apenas do local de trabalho.

2.2.4. NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO PERMITIDOS


A denominação Níveis de Exposição Permitidos é mais adequada aos órgãos
fiscalizadores do governo, que consideram os aspectos legais envolvidos, sendo a
mais conhecida os PEL – Permissible Exposure Level da OSHA – Occupational Safety
and Health Administration – Órgão fiscalizador do Ministério do Trabalho nos EUA
(COOK, 1987; OSHA, 2002).

2.2.5. CONCENTRAÇÕES MÁXIMAS ACEITÁVEIS


A denominação Concentrações Máximas Aceitáveis reflete um conteúdo
diferente daquele normalmente utilizado no Brasil, pois refere-se ao máximo valor que
qualquer exposição, em qualquer momento, pode apresentar, não sendo permitida sua
ultrapassagem e não se calculam médias (COOK, 1987).

2.2.6. NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO RECOMENDADOS


O NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health – utiliza a
denominação REL – Recommended Exposure Level, principalmente pelo fato de
realmente só recomendar e o REL não tem força de lei nos USA, como o PEL –
Permissive Exposure Limits – da OSHA tem (NIOSH, 1995).

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 15

2.2.7. GUIA DE NÍVEIS DE EXPOSIÇÃO AMBIENTAL EM LOCAIS DE


TRABALHO
A AIHA – American Industrial Hygiene Association, utiliza a denominação WEEL
Workplace Environmental Exposure Levels Guides numa coletânea de sugestões de
limites para substâncias que usualmente não constam de outras listas ainda (AIHA,
2002).

2.2.8. VALORES LIMITES LIMIARES


Valores Limites Limiares – Threshold Limit Values – TLV, é utilizada pela ACGIH
American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH, 2002), é a mais
difundida, sendo seguida por autores, pesquisadores, higienistas e inclusive em
legislação de diversos países.

2.2.9. VALOR DE REFERÊNCIA TECNOLÓGICO


Valor de Referência Tecnológico – VRT, é utilizado em casos especiais em que
idealmente se deseja um limite zero, sendo que na prática devemos aceitar alguma
exposição por ser tecnologicamente impossível reduzir mais a exposição. Assim por
limitação tecnológica, adota-se um valor de referência que deverá ser reduzido sempre
que for tecnologicamente possível realizar determinadas operações industriais com
menos exposição (FREITAS, 1997). No Brasil temos VRT para o benzeno, que tem
seu uso permitido apenas em um número pequeno de indústrias que não podem
prescindir da presença desta substância, conforme estabelecido na NR 15 anexo 13-A
(BRASIL, 1978).
As diferentes denominações e conceitos demonstram a evolução pela qual o
assunto tem passado nas últimas décadas, em conseqüência da situação atual.
Dependendo da fonte consultada e inclusive da data de consulta, valores discrepantes
podem ser encontrados, pois além das dificuldades práticas para o desenvolvimento
das pesquisas e do conhecimento dinâmico que serviram de bases para estabelecer
um limite, temos ainda que considerar a finalidade para o qual foi fixado e a época. Em
diversos casos temos inclusive pressões políticas e sociais que levam ao
estabelecimento de um limite, sua redução e, em alguns casos, até o banimento da
substância, como no caso do benzeno e do asbesto (amianto). Na tabela a seguir
temos alguns exemplos destas discrepâncias:

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 16

Tabela 2.1. Limites de exposição ocupacional para algumas substâncias e oriundos de


diferentes fontes

Substância ACGIH OSHA NR 15 Unidade

Cobre (fumos) 0,2 0,1 --- mg/m3


Cobre (poeiras) 1 --- --- mg/m3
Manganês 0,2 * 5 1 mg/m3
Ferro (óxido) 5 10 --- mg/m3
Chumbo 0,05 0,05 0,1 mg/m3
Níquel (óxido) 0,1 1 --- mg/m3
Benzeno 0,5 1 1# ppm
Tolueno 50 200 78 ppm
Cloreto de vinila 1 10 156 ppm
Acetato de cellosolve 5 100 78 ppm

Observações:
ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists,
(ACGIH, 2002)
OSHA - Occupational Safety and Health Administration – (OSHA, 2002)
NR 15 - Norma Regulamentadora Número 15 – (BRASIL, 1978)
* = Proposta de redução para 0,03
# = Uso restrito e VRT – Valor de Referência Tecnológico (BRASIL, 1978).

A tabela 2.1 pode ser ampliada tanto em relação às substâncias ou quanto aos
países ou fontes. Os dados apresentados mostram bem as flutuações dos limites, que
chegam a centenas de vezes, sendo inclusive, variáveis ao longo do tempo, por
exemplo, a ACGIH edita anualmente seu livreto de TLV´s revisado, outros como a
OSHA (USA) e a NR 15 (Brasil) possuem a maioria dos limites sem atualização
durante décadas. Desta forma o higienista depara-se com o sério problema de qual
valor utilizar como padrão, lembrando ainda que para diversas substâncias utilizadas
industrialmente, não existe qualquer recomendação de limite em qualquer fonte,
nacional, estrangeira ou internacional.
Deve-se ainda considerar outra questão muito pertinente a este assunto: Há
necessidade de se ter um padrão? Este padrão deve ter força de lei ou ser apenas
orientação técnica? Traçando-se um paralelo com a Medicina, existem definidos por
lei, valores normais ou limites para exames clínicos? Por que necessitamos de lei para
chumbo no sangue ou no ar?
Do ponto de vista técnico é claro que necessitamos de uma referência, mas não
que esteja em lei. Por outro lado, do ponto de vista legal, verifica-se que dificilmente
alguém irá à justiça por causa de alteração da taxa de glicose no sangue, que pode
ser originada por uma doença “comum” não ocupacional. Mas o chumbo, teoricamente
só vai aparecer no sangue do funcionário ou no ar que este respira, por “culpa” do
empregador e assim cabe alguma espécie de indenização, daí os processos e a
necessidade de valores estipulados em lei.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 17

O higienista deve respeitar os valores limites ditados pela legislação brasileira,


mas deve-se notar que, embora exigente demais em alguns poucos casos, em outros,
devido à falta de atualização, a legislação é omissa ou ainda permissiva demais, se
comparada com os dados científicos da literatura mundial. Assim, o higienista
necessita de bons conhecimentos técnicos atualizados e sobretudo de ética
profissional, além de bom senso, para escolher adequadamente o padrão e sua
conduta em cada caso em particular.

2.3. CRITÉRIOS PARA ESTABELECER PADRÕES


Os Padrões de Saúde Pública, Padrões Higiênicos ou ainda Padrões de
Qualidade Ambiental, entre eles os LEO’s, visam proteger a saúde de uma população
através de controle do meio ambiente e seus elementos e suas relações com os
organismos vivos incluindo os seres humanos e os trabalhadores. Os padrões são
estabelecidos com base em critérios que podem ser: proibitivo, permissor, restritivo,
especulativo e prognosticador.

2.3.1. PROIBITIVO
É um critério adequado para Saúde Pública, no caso de alimentos, por exemplo,
quando se proíbe a presença de determinado produto ou substância, não sendo
tolerado nenhum nível de contaminação por menor que seja. É utilizado em Higiene e
Toxicologia Ocupacional em raros casos como carcinogênicos, benzeno e asbesto.

2.3.2. PERMISSOR
Um padrão estabelecido por este critério, leva em conta a baixa toxicidade do
agente e permite sua presença num dado meio sem um limite estabelecido, podendo
ser aceito até que aspectos estéticos ou sociais forcem uma diminuição. Um exemplo
deste tipo de substância é a mercaptana originada em fábricas de celulose ou
presente em matéria orgânica em decomposição. É uma substância com odor
desagradável, sem contudo apresentar uma toxicidade apreciável à luz dos atuais
conhecimentos.

2.3.3. RESTRITIVO
Podem-se estabelecer padrões de emissão de um dado agente químico, com a
finalidade de controlar a contaminação ambiental na fonte, restringindo a quantidade
do contaminante lançada por unidade de tempo. Este critério é utilizado
freqüentemente por órgãos de meio ambiente para controle do ambiente geral, sendo
raramente utilizado para Higiene Ocupacional.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 18

2.3.4. ESPECULATIVO
É o critério usado para estabelecer um padrão sem uma base científica
perfeitamente adequada, como por exemplo extrapolando resultados de pesquisas em
animais para o homem, partindo-se do pressuposto que os efeitos e respostas sejam
iguais, ou ao menos semelhantes, para o homem e proporcionais segundo algum fator
de segurança. Dentro deste critério podem-se ainda extrapolar resultados obtidos com
substâncias semelhantes.
Embora sem uma base científica correta, o critério especulativo é o mais
utilizado, pois embora com limitações, na grande maioria dos casos é a única maneira
de se chegar a um valor, como se pode observar no estudo em que foram analisadas
as informações que serviram de bases para os TLV´s de 1983 (TORKELSON, 1983),
conclui que:
 Para 25 substâncias a documentação não fazia referência a estudos em
homens
 Para 18 substâncias a documentação não fazia referência ao ambiente
embora relatem efeitos em homens
 Para 6 substâncias a documentação apresentava referências ao ambiente,
porém, com avaliações ambientais duvidosas.
 Apenas 3 substâncias a documentação apresentava dados que permitiam
uma correlação dose-efeito e dose-resposta.
Estas conclusões mostram que grande número de substâncias tem seus
padrões estabelecidos especulativamente, por evidências em testes outros que não a
experiência prática com trabalhadores. Embora muitos estudos tenham sido
realizados, nos últimos 20 anos, a situação não sofreu grandes alterações, sendo que
estas conclusões, apenas com pequenas ressalvas, ainda são válidas.

2.3.5. PROGNOSTICADOR
É o melhor critério para estabelecer-se um padrão, pois leva em conta todas as
informações científicas possíveis e baseia-se na relação dose-efeito e dose-resposta e
pretende-se através do estudo epidemiológico, teórico e prático, conhecer com a
melhor exatidão possível o grau de risco que determinadas exposições oferecem,
estabelecendo-se com segurança um nível aceitável. É o critério mais recomendado e
que maiores dificuldades apresenta. Alguns aspectos serão discutidos nos itens:
relação dose-efeito e dose-resposta.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 19

2.4. INTERAÇÕES ENTRE SUBSTÂNCIAS


Antes de se abordar mais especificamente os LEO’s se observa que a ação
tóxica produzida por um dado agente químico e seu respectivo efeito, nem sempre
aparece isoladamente, como na descrição didática de literatura técnica. Na prática os
produtos industriais raramente são puros, sendo misturas de diversos componentes ou
mesmo apresentando resíduos por vezes até desconhecidos de outras substâncias,
Observa-se ainda que a exposição do trabalhador é decorrente de diversas
atividades ou operações realizadas durante uma jornada, podendo levar à exposição a
diferentes substâncias e dentre uma multiplicidade de fatores, há possibilidade de
diversas interações que poderão ser das seguintes formas:
 Físico-química no ambiente;
 Físico-química no organismo;
 Biológica.
Estas três formas de interação podem ainda levar a uma interação nos efeitos
observados, que poderá ser:
 Aditiva;
 Sinergética;
 Antagônica.
São resumidos a seguir estes diferentes tipos de interações, com alguns
exemplos.

2.4.1. INTERAÇÕES FÍSICO-QUÍMICAS


2.4.1.1. Aditiva e ambiental
Duas substâncias podem ter suas concentrações adicionadas no ambiente,
como no caso de poeiras inertes (não classificável de outra forma). Estas não reagem
entre si, porém o teor de material particulado inalável em suspensão no ambiente será
a soma das duas ou mais substâncias e esta soma é a que dever ser comparada com
o padrão de exposição, sendo medido por análise gravimétrica, como particulado
inalável (total), sem diferenciação do ponto de vista químico ou morfológico.

2.4.1.2. Sinergética e ambiental


No ambiente algumas substâncias podem reagir entre si, como no caso do SO 2
(dióxido de enxofre) e do NaCl (cloreto de sódio) que isoladamente, cada um oferece
um dado risco em particular, contudo se presentes simultaneamente na atmosfera,
podem originar diversas reações gerando outras substâncias como HCl (ácido
clorídrico) e H2SO4 (ácido sulfúrico) o que indiscutivelmente, aumenta em muito o
efeito da exposição.

2.4.1.3. Antagônica e ambiental


Em determinadas situações pode-se encontrar na atmosfera substâncias que se
neutralizam, como por exemplo, SO2 e NH4OH (hidróxido de amônio), originando uma
terceira substância, o sulfato de amônio, que é menos agressivo que as anteriores.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 20

2.4.1.4. Aditiva no organismo


Dois solventes industriais, embora podendo ser absorvidos por diferentes vias de
penetração, com freqüência possuem toxicocinética e toxicodinâmica semelhantes,
podendo provocar a mesma ação tóxica, no mesmo órgão, originando por
conseqüência efeitos aditivos, como depressão do sistema nervoso central.

2.4.1.5. Sinergética no organismo


Uma substância na forma de pó dificilmente poderá penetrar e ser absorvida
através da pele. Porém, se houver exposição simultânea a um solvente industrial,
como no caso de lavagem de mãos com "thinner", este poderá dissolver a substância
que estava na forma de pó sobre a pele e a seguir ser absorvido, servindo de veículo
para a substância, de forma semelhante ao que acontece com uma pomada medicinal
que veicula o princípio ativo, aumentando em muito o risco de absorção, quando há
exposição simultânea a estas substâncias.

2.4.1.6. Antagônica no organismo


Podem-se ter duas substâncias tóxicas que isoladamente produzem efeitos
deletérios ao organismo, mas, se absorvidas simultaneamente, podem reagir entre si,
com resultados diferentes, e antagônicos. No caso de intoxicações por metais, por
exemplo, pode-se usar um antídoto, como o EDTA-Ca - edetato de cálcio, ou o BAL -
dimercapto propanol, que são igualmente substâncias tóxicas, mas que em doses
corretas e sob supervisão médica, podem complexar o metal, favorecendo sua
excreção urinária com a conseqüente redução dos efeitos.

2.4.2. INTERAÇÃO BIOLÓGICA


2.4.2.1. aditiva
Duas substâncias, mesmo que não reajam entre si e apresentem diferentes
mecanismos de ação no organismo, poderão ainda originar efeitos aditivos, como no
caso de asfixiantes simples e químicos, se presentes simultaneamente. Os asfixiantes
simples, como gases inertes reduzem a pressão parcial do oxigênio ao nível pulmonar,
baixando a oxigenação sangüínea. Por outro lado, um asfixiante químico, como o
monóxido de carbono, reduz a capacidade de o sangue transportar o oxigênio dos
pulmões às células, e o cianeto por sua vez, impede a utilização do oxigênio pela
célula. Embora por mecanismos diferentes as três substâncias no final produzem o
mesmo efeito de bloqueio no sistema celular de produção de energia.
Outro exemplo desta interação é a presença simultânea de monóxido de
carbono e dióxido de carbono, química e fisicamente semelhantes, porém, com
propriedades toxicológicas bem distintas; O dióxido de carbono de toxicidade reduzida
pode ativar o mecanismo de controle respiratório, aumentando o volume total de ar
respirado em um dado período. Se o ar respirado contiver monóxido de carbono, pode
haver em conseqüência, maior absorção deste em relação ao que seria absorvido em
uma atmosfera isenta do dióxido.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 21

2.4.2.2. Sinergética ou antagônica


Esta situação pode ocorrer numa intoxicação por cianeto, por exemplo, em que o
paciente não consegue utilizar o oxigênio que chega à célula por bloqueio da
respiração celular pelo cianeto, se for utilizada uma substância metahemoglobinizante,
como o nitrito, ter-se-á um efeito antagônico que pode ser até desejável, para controlar
um caso agudo.
Se, em outra situação, houver uma intoxicação por nitritos e o paciente estiver
com falta de oxigenação por excesso de metahemoglobina, a exposição ou
administração simultânea de cianeto poderá produzir efeito sinergético, colocando em
risco a vida do paciente, pois o pouco oxigênio que chega às células não pode ser
utilizado.
Outras interações biológicas podem ainda ocorrer, como no caso da
cronobiologia e cronotoxicologia, que estudam as diferentes reações do organismo
humano a um determinado stress químico em relação às diferentes horas do dia em
que houve exposição e ou absorção (SMOLENSKY et. al, 1985). O conhecimento
destas interações é de grande importância para a Higiene e Toxicologia Ocupacional,
para uma correta fixação de um LEO e efetivo controle da exposição do trabalhador
(COLACIOPPO e SMOLENSKY, 2003). Há possibilidade ainda de que um somatório
de efeitos ocorra em decorrência de exposição simultânea a agentes estressores de
origem distinta, mas de efeitos combinados, como o tolueno e o ruído que se somam
na produção de surdez ocupacional, que aparece inclusive em exposição abaixo do
Limite de Tolerância Biológica (FISCHER et. al, 1999).

2.5. RELAÇÕES DOSE-EFEITO E DOSE-RESPOSTA


As relações dose-efeito e dose-resposta, são fundamentais para uma correta
fixação de um LEO, contudo devemos considerar inicialmente algumas dificuldades no
processo de como medir estas variáveis.

2.5.1. DIMENSÕES DA DOSE


Idealmente, dose de uma substância é a quantidade desta, presente no sítio de
ação dentro do organismo, mais especificamente, num órgão e neste, dentro de uma
célula e nesta, dentro de uma organela onde encontra uma molécula sensível à sua
ação, uma enzima, por exemplo, onde efetivamente se dá a ação tóxica de inibição da
atividade dessa enzima, que é fisiologicamente necessária e cujo efeito se observará
no próprio órgão ou mesmo em outros pontos do organismo, pelo excesso ou falta de
uma terceira substância.
Esta que seria a dose mais correta e indicada do ponto de vista teórico da
Toxicologia não encontra embasamento prático, sendo quase impossível avaliar a
dose desta forma pois, na prática da Higiene Ocupacional, a única forma viável de se
medir a dose de um agente químico a que um grupo de trabalhadores está exposto é
indiretamente, através da medida da concentração no ar e de tal forma, que
represente a exposição ocupacional.
Deve ser considerado que a concentração no ar de um agente químico a qual o
trabalhador está exposto, não mede a massa que realmente penetra no organismo,

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 22

embora esteja diretamente relacionada. Vários fatores podem favorecer ou dificultar a


penetração de uma substância no organismo, tais como: propriedades físico-químicas
da substância, ventilação e perfusão pulmonar, integridade da pele, tempo de contato,
etc.
Após penetrar, a substância poderá ou não ser absorvida, ou seja, passar para a
corrente sangüínea, dependendo de fatores como: perfusão pulmonar, concentração
sangüínea, tamanho das partículas, lipossolubilidade, etc.
A importância da passagem para a corrente sangüínea é que a substância
poderá atingir as mais diversas partes do organismo inclusive o órgão alvo, no qual
exerce sua ação tóxica ao atingir os pontos sensíveis dentro das células. Nesta fase,
diversos fatores intervêm, no aparecimento do efeito, positiva ou negativamente, tais
como: biotransformação, eliminação, diluição, depósito, etc.
Os diversos fatores exemplificados que intervêm desde a exposição até a
chegada da substância no sítio ativo dentro de uma dada célula, que é exatamente o
ponto em que deveria ser medida a dose, nos dá uma idéia da estimativa que deve ser
feita ao se afirmar que a dose está relacionada diretamente com a concentração no ar
e assumir esta como uma estimativa da dose a que o trabalhador está exposto.

2.5.2. DIMENSÕES DO EFEITO


Para que o efeito observado de um xenobiótico seja correlacionado com a dose,
deve-se ter possibilidades práticas de medir este efeito. Assim, de pouco valor são os
sintomas, que são subjetivos, como sonolência ou dores em geral. Preferencialmente
procuram-se sinais que possam ser mais facilmente observados, medidos e colocados
em uma escala numérica, como taxa sangüínea de uma dada substância, por
exemplo.
Um xenobiótico por sua vez pode produzir múltiplos efeitos, assim cada caso
deve ser estudado em particular, a fim de se fixar um efeito que tenha utilidade prática
e seja o mais precoce possível. Uma vez que se busca uma dose relacionada à não
efeito ou um efeito mínimo aceitável, preferencialmente o efeito escolhido não deve
ser deletério, como por exemplo, é evidente que se utiliza a taxa de tiocianato na urina
que é um indicador de exposição ao cianeto a baixas concentrações e não a
deficiência na respiração celular ou mesmo a morte, que seriam os efeitos graves
provocados pelo cianeto em exposições mais altas.
Em alguns casos todavia, não se tem um segundo efeito mais brando, ou
mesmo um indicador biológico mais precoce em relação ao efeito grave que se deseja
evitar, como no caso dos irritantes primários, que atuam no sistema respiratório e
cujos primeiros sinais e sintomas aparecem em baixas concentrações e já são de
irritação pulmonar e portanto graves, o que determinará então que o padrão
estabelecido seja tido como teto, ou seja, determina-se a dose relacionada ao menor
efeito aceitável e nenhuma concentração acima deste padrão deve ser tolerada, como
será visto mais adiante.
Outras substâncias ainda, apresentam múltiplos efeitos graves, como o benzeno
que pode provocar leucemia, depressão do sistema nervoso ou leucopenia, para citar
apenas 3 diferentes efeitos e de diferentes gravidades. Num outro exemplo, no caso
do monóxido de carbono o efeito que se deseja evitar é a deficiência de oxigenação
celular no sistema nervoso central, mas na impossibilidade prática de medir este feito,

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 23

geralmente considera-se um indicador de efeito o teor de carboxihemoglobina no


sangue. Deve-se lembrar porém, que o teor de uma substância no sangue é mais um
indicador de dose do que de efeito. Verifica-se assim que cada caso deve ser
estudado em particular, não havendo um protocolo único e padronizado para as
pesquisas neste assunto.

2.5.3. RELAÇÃO DOSE-EFEITO


Se, numa atitude radical, fosse desejável reduzir a zero a exposição
ocupacional, poderíamos nos deparar com alguns problemas. Inicialmente,
concentração zero de uma substância é quimicamente impossível, pois, pode-se
apenas dizer que em um dado local há uma concentração menor que o limite inferior
de detecção do método utilizado. Por outro lado, mesmo admitindo que seja possível
concentração zero, isto poderá ser incompatível com a vida humana.
Para algumas substâncias, por exemplo, os oligo-elementos como o níquel,
manganês, cobalto, magnésio cobre e outros, sua ausência leva à incapacidade do
organismo humano de executar diversas funções bioquímicas fundamentais ao
equilíbrio fisiológico. Em contra-partida o excesso destes mesmos elementos pode
levar à doença ocupacional, ou mesmo câncer, como no caso do níquel (NIOSH,
1977).
Este fenômeno é denominado de Hormesis, que é a não linearidade da relação
dose efeito em baixas em doses. Na origem de um gráfico de relação dose-efeito,
pode-se ter inicialmente um efeito “positivo” ou benéfico ao organismo, (BELLE, 2002;
JAYJOCK et. al, 2001), com o aumento da dose este efeito positivo pode diminuir ou
ser mascarado lentamente pelo aparecimento de um segundo efeito “negativo”.
A Hormesis, que é semelhante ao efeito terapêutico buscado pela Homeopatia e
ciências correlatas como a Medicina Antroposófica, é um importante fator que deve ser
considerado ao se estabelecer limites de exposição ocupacional, pois indica que para
algumas substâncias pode existir uma dose perfeitamente aceitável e inclusive
necessária em alguns casos, mesmo para as substâncias de elevada toxicidade ou
carcinogênicas, o que nos leva a admitir a possibilidade da existência de um Nível
(Dose) Relacionada a Não Efeito Observável – NOEL (Non Observed Effect Level)
senão para todas as substâncias, pelo menos para algumas, mas que com certeza,
indica a possibilidade de existência de um LEO seguro.
Especificamente em relação às substâncias carcinogênicas, alguns estudiosos
preconizam o “Limite Zero” admitindo que por menor que seja a dose, esta ainda
poderá originar lesões que se acumulariam e finalmente desencadeariam um efeito
(NIOSH, 1977).
Observa-se assim a dificuldade de se estabelecer parâmetros adequados e
comparáveis de dose-efeito. É recomendado sempre o melhor conhecimento possível
dos critérios utilizados no estabelecimento do LEO, para se saber exatamente do que
se está protegendo o trabalhador e realizar uma efetiva proteção da sua saúde.
Embora com as limitações já referidas na medida da dose, procura-se
estabelecer uma correlação entre dose e efeito, esquematicamente representada na
figura 2.1.
Esta correlação idealmente esquematizada reflete na região A que para uma
dose inicial muito pequena pode-se não encontrar nenhuma correlação com o efeito. É

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 24

dentro desta região de homeostase que se procura colocar a dose limite ou aceitável e
que estaria de acordo com o NOEL.
Na região B o efeito já é observado, porém, apresenta-se de forma ainda
reversível, ou seja, afastando-se da exposição o trabalhador volta ao seu estado de
saúde normal.
A região C indica uma lesão bioquímica com efeitos irreversíveis, ou seja mesmo
após tratamento médico o paciente apresentará seqüelas. No final da região C temos
um nivelamento do efeito máximo que é a morte.

Fonte: Colacioppo (1989).

Figura 2.1. Relação dose–efeito

2.5.4. RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA


Resposta é a quantidade de indivíduos de uma população que apresentam um
determinado efeito (WHO, 1978). Quando há apenas um indivíduo a ser controlado,
para uma mesma dose X tem-se sempre o mesmo efeito Y observado e pode-se
estimar com alguma facilidade o LEO adequado. Se por outro lado, for considerada
uma população hipotética de 100 indivíduos exatamente iguais, 100% dos indivíduos
dão a mesma resposta Y quando a dose for X, o que pode ser representado pelo
ponto A na figura 2.2.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 25

Fonte: Colacioppo (1989).

Figura 2.2 Relação dose-resposta para uma população real

Uma população real, onde não se encontram indivíduos exatamente iguais, mas
apenas semelhantes e com diferenças significativas do ponto de vista toxicológico,
fisiológico, hábitos alimentares, ambientes domésticos, comportamento profissional
etc. a distribuição das porcentagens de resposta fornece-nos a curva sigmóide,
representada na figura 2.2.
Por esta distribuição verifica-se a existência dos grupos dos hipersusceptíveis e
dos resistentes à ação de um agente. O que equivale dizer que ao aumentar a dose
para uma população real, em doses inferiores a X já é possível encontrar-se alguns
trabalhadores apresentando efeito Y ou maior. Com a dose X a maioria dos indivíduos
apresenta efeito Y e alguns, todavia, já apresentam efeito superior a Y, que são os
hipersusceptíveis. Por outro lado há necessidade de doses superiores a X para que o
grupo dos resistentes comece a apresentar o efeito Y.
Os hipersusceptíveis devem receber especial atenção e existem meios para isto,
através de exames médicos pré-admissionais, pré-funcionais ou periódicos, havendo
assim uma relativa facilidade de se identificar o indivíduo mais sensível, ou mesmo de
acompanhar o recém ingresso numa dada função, por seu lado, o próprio trabalhador
aos primeiros sinais ou sintomas, pode procurar atenção médica.
No caso dos resistentes, todavia, dificilmente são identificados, pois
sistematicamente não apresentam queixas ou sinais e sintomas característicos da
exposição, não requerendo atenção especial. Se não houver uma correta avaliação e
monitorização da exposição ambiental, pode haver grande risco para este grupo, que
justamente pelo fato de ser resistente, pode expor-se por mais tempo e a
concentrações mais altas, sem efeitos imediatos, mas que podem originar sérios
danos em longo prazo, o que dificultaria inclusive o estabelecimento de um nexo
causal com o trabalho, principalmente após o desligamento de uma empresa, ou
mesmo aposentadoria.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 26

2.6. CONCENTRAÇÃO MÉDIA E CONCENTRAÇÃO MÁXIMA (TETO)


Para a maioria das substâncias os LEO's são considerados como valores
médios calculados como médias ponderadas pelo tempo, MPT, ou seja cada
concentração deve ser ponderada pelo tempo que foi medida, considerando-se toda a
jornada de trabalho inclusive períodos de concentração zero.

Quadro 2.2.

Onde:
MPT = Média Ponderada pelo Tempo

C = Concentração do agente

T = Tempo que a concentração existiu ou tempo de exposição de um trabalhador a

esta concentração.

Este tipo de média é usado para substâncias cujos efeitos, que servem de base
para o padrão, aparecem somente a médio e longo prazo, como chumbo, por
exemplo.
Nota-se que o elemento básico para cálculo da MPT é (C x T), concentração
multiplicada pelo tempo. Este elemento por sua vez é básico para o cálculo da dose,
que depende exatamente da concentração e do tempo, estando inclusive relacionado
segundo a equação conhecida como lei de Haber que pode ser expressa pela
equação:

C T  K
Esta equação indica que para o surgimento de um dado sinal ou sintoma deve-
se atingir uma constante que é o produto de C x T, ou seja, para uma dada
concentração existe um tempo fixo para que o efeito ocorra, se aumentar a
concentração diminuirá o tempo e vice versa, até um dado limite.
Concentrações muito baixas, mesmo por muito tempo não produzem efeito, pois
o organismo humano possui mecanismos de detoxicação, baseados na eliminação,
depósito e biotransformação da substância, além da restauração da lesão. Assim é

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 27

infundada a crença que é apenas uma questão de tempo para que


incondicionalmente, todos os trabalhadores fiquem doentes.
Para algumas substâncias de toxicidade aguda, tem-se observado que a
concentração a que o trabalhador esteve exposto é mais determinante do efeito que o
tempo da exposição, como no exemplo do cloro, dióxido de enxofre e ozônio,
altamente irritantes primários. Nestes casos o cálculo de MPT não se aplica e, embora
não se conheça especificamente o valor de n, segundo Atherley (1985) a correlação
seria expressa mais adequadamente pela equação:

T Cn  K
A utilização da MPT deve sempre estar subordinada ao conhecimento do efeito
para o qual o LEO está determinado, como já mencionado, por exemplo, o padrão
para o benzeno não está baseado no efeito de curto prazo de depressão do sistema
nervoso, mas sim no efeito de longo prazo e exposição a concentrações mais baixas,
produzindo ação sobre a medula óssea e conseqüente alteração no quadro
sangüíneo. Para outras substâncias, que provocam efeitos graves em curto prazo,
mesmo em baixas concentrações, o padrão é definido como teto, ou seja, não se deve
permitir flutuações em torno de um valor médio, portanto não se calcula a MPT.
Alguns casos devem ser considerados individualmente; substâncias como o
etanol e o éter etílico provocam depressão do sistema nervoso central e podem
comprometer a segurança dos trabalhadores, devendo-se então buscar, sempre que
possível, outros efeitos, mais precoces e menos perigosos à integridade física dos
trabalhadores.
Agentes que produzem asfixia simples, como metano, nitrogênio, gases nobres,
etc., não têm necessariamente um LEO específico estando limitados ao deslocamento
do oxigênio atmosférico até um mínimo de 18%.
Para substâncias de ação a muito longo prazo como quinonas que produzem
alteração da pigmentação do olho, pode-se permitir uma exposição de várias semanas
acima do LEO até certo limite (valor máximo), e correspondente período abaixo. A
média deve ser calculada levando-se em conta o longo prazo para aparecimento do
efeito.
Para substâncias mutagênicas, teratogênicas e carcinogênicas, do ponto de
vista epidemiológico, há diversas evidências da possibilidade de existência de um
limite para a exposição a certas doses bem controladas, sendo possível admitir-se um
LEO para essas substâncias, embora seja prudente a orientação de que a exposição
seja reduzida a zero, ou a um mínimo praticável, como é o caso de algumas
substâncias carcinogênicas ou potencialmente carcinogênicas para o homem que a
ACGIH lista, sem contudo estabelecer um valor limite para exposição (ACGIH, 2002).
No caso de substâncias alergênicas o LEO deve ser considerado
particularmente para cada trabalhador. É possível que se observem sinais ou sintomas
alérgicos logo no primeiro dia de trabalho, ou depois de meses ou anos de exposição.
Os trabalhadores com histórias alérgicas devem receber atenção especial da Medicina
do Trabalho, e se aprovados para uma determinada função com possíveis agentes
alergênicos, devem igualmente receber atenção especial da Higiene Ocupacional e na
impossibilidade de eliminar a exposição, esta deve ser reduzida ao mínimo possível.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 28

Pode-se ainda ter substâncias que desenvolvam um estado febril característico,


a febre dos fumos metálicos, sendo o zinco o mais comum, ou a febre dos vapores de
polímeros (teflon). O quadro febril aparece geralmente no primeiro dia de exposição,
geralmente após a jornada de trabalho e freqüentemente é confundido com estado
gripal. Após alguns dias de exposição o efeito desaparece, provavelmente por uma
ativação da resistência por mecanismo imunológico (ALGRANTI et. al, 2003). Neste
caso a equipe de Saúde Ocupacional deve ajustar a exposição individualmente,
inclusive no retorno de férias ou afastamentos da exposição.

2.7. LIMITES DE EXPOSIÇÃO SEGUNDO A ACGIH


A ACGIH – American Conference of Governmental Industrial Hygienists, é uma
Associação de profissionais dos Estados Unidos da América, que congrega
basicamente higienistas Industriais de entidades governamentais e dentre suas várias
atividades voltadas à Higiene Ocupacional, possui um Comitê com a atribuição de
editar anualmente os TLV´s – Threshold Limit Values (valores limites limiares) através
de estudo detalhado de todas as informações científicas disponíveis, e são definidos
como (ACGIH, 2002):

Quadro 2.3.

Os TLV´s referem-se a concentrações de substâncias dispersas na

atmosfera e representam condições sob as quais supõe se que quase

todos os trabalhadores podem estar expostos dia após dia sem efeitos

adversos à saúde.

Pela definição, observa-se o caráter de orientação e não a garantia de proteção


total a todos os expostos durante todo o tempo. Por outro lado algumas críticas podem
ser feitas ao processo de estabelecimento destes valores como a presença de
membros ligados a empresas no comitê que os elabora, o que tem sido resolvido nos
últimos anos; ou ainda, critica aos próprios valores de TLV, recorda-se a existência
processos judiciais em que a ACGIH foi acusada de recomendar um padrão que não
teria protegido efetivamente alguns trabalhadores.
Os TLV´s, porém, constituem a melhor fonte atual para padrões de exposição
ocupacional a riscos químicos e físicos, pois reúne todas as informações disponíveis

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 29

na literatura científica mundial, são revisados anualmente e pouco influenciados por


pressões político-sociais, normalmente presentes na legislação.
No Brasil os TLV´s da ACGIH são indicados pela Portaria do Ministério do
Trabalho 3214 em sua Norma Regulamentadora 9, como o padrão a ser seguido
quando não existir um Limite de Tolerância para uma determinada substância na lista
dos preconizados na Norma Regulamentadora 15, anexo 11, da mesma portaria. A
ABHO – Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais realiza anualmente a
tradução e a edição em português do livreto dos TLV´s (ACGIH, 2002).
Pela definição, os TLV´s referem-se aos agentes químicos dispersos na
atmosfera e não a outras formas como sólidos ou líquidos, portanto considera apenas
a via respiratória como via de penetração, devendo-se também considerar as outras
possíveis vias. Referem-se ainda às condições sob as quais supõe-se, ou seja, não há
nenhuma garantia explicita ou implícita de uma proteção total, o que está de acordo
com a evolução da Higiene Ocupacional que leva a uma atualização constante, com
inúmeros exemplos de modificações nos padrões, na grande maioria dos casos com
redução dos valores.
Em sua definição, os TLV´s referem-se à quase todos os trabalhadores,
indicando que não há possibilidade de se proteger a todos, pois os hipersusceptíveis e
resistentes podem não estar adequadamente protegidos. Observa-se que trabalhador,
neste contexto, significa um indivíduo adulto e em condições de saúde que lhe
permitam trabalhar, estando por conseqüência, excluídas outras parcelas da
população geral, como crianças, doentes, idosos, e mulheres grávidas, por exemplo.
Os TLV´s estão relacionados à exposição dos trabalhadores, deixando claro que
a concentração no ar isoladamente não tem significado se não representar a
exposição do trabalhador que ocorre ao longo do tempo, dia após dia, 8 horas por dia
e 40 horas por semana, durante toda sua vida laborativa.
Os TLV´s não são linhas divisórias entre a segurança e o perigo, e não devem
ser utilizados por pessoas não treinadas em Higiene Ocupacional, tendo sido
desenvolvidos para a prática desta ciência como guia de orientação e não como lei,
embora seja, bastante desejável por parte dos especialistas da área jurídica que se
tenha um número que possa ser comparado com outro e pela diferença se conclua se
há ou não violação da lei, ou se deve ou não ser concedido este ou aquele beneficio.
Mesmo obedecendo ao padrão, ou seja, mantendo as exposições sempre abaixo
do TLV e nunca o ultrapassando, pode haver uma pequena porcentagem dos
trabalhadores apresentando algum desconforto e uma porcentagem menor ainda
poderá ter uma condição preexistente agravada ou mesmo desenvolver uma doença
profissional.
Os TLV´s não se aplicam para avaliação do ar de uma comunidade, pois nesta
estão presentes todos os segmentos da população humana, além de ter-se uma
exposição contínua de 24 horas por dia. Os TLV´s são estabelecidos para
trabalhadores apenas, e para uma exposição de 8 horas por dia e 40 horas semanais.
Não devem ser utilizados para estimar a toxicidade de uma dada substância,
pois os TLV´s são estabelecidos como conseqüência desta e outras propriedades não
o inverso.
Os TLV´s não devem ser utilizados, como prova de existência ou não de uma
doença profissional, pois a concentração de um agente químico, em um dado local de

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 30

trabalho, acima do TLV, não significa necessariamente que o trabalhador esteja


doente ou que os sinais ou sintomas apresentados sejam derivados do agente químico
em questão. Recorda-se que o envenenamento ou intoxicação ocupacional é o
conjunto de sinais e sintomas que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pelo
agente em questão. Assim uma concentração elevada no local de trabalho significa
apenas um forte indício de que pode estar provocando algum efeito, contudo, somente
o pessoal da área médica poderá estabelecer o diagnóstico.
A ACGIH adverte que os TLV´s não devem ser adotados por países cujas
condições diferem daquelas existentes nos Estados Unidos da América. Esta é uma
afirmação que bem reflete a cautela com que foram elaborados. Observa-se, contudo,
que se fosse estabelecido aqui no Brasil um comitê semelhante ao da ACGIH, as
fontes de informações e dados científicos que serviriam de bases para os valores
brasileiros seriam basicamente os mesmos e as conclusões de pouco divergiriam.
Ao se adaptar o LEO a pequenas diferenças de jornada semanal de trabalho,
verifica-se que pode ser desnecessário para diversas substâncias, em virtude da meia
vida biológica curta, caso em que não haverá alteração na carga corpórea em função
de uma pequena variação no tempo de exposição.
Na tabela dos TLV´s, há a indicação do limite em ppm ou mg/m 3 relativos à
média ponderada pelo tempo (TLV-TWA) para cerca de 640 substâncias. Apresenta a
indicação da possível absorção cutânea para 105 substâncias mostrando que a
proteção apenas da via respiratória poderá não ser eficaz. Para outras 36 substâncias
apresenta a indicação teto (ceiling) para as quais o limite não deve ser ultrapassado
em momento algum da jornada de trabalho. A mesma tabela indica ainda as
substâncias potencialmente carcinogênicas e as reconhecidamente carcinogênicas
para homens e animais, havendo indicação de TLV para algumas delas.

2.7.1. LIMITE DE EXPOSIÇÃO DE CURTO PERÍODO


A ACGIH questionou bastante uma tabela que era antigamente utilizada para
calcular um fator de desvio, (que ainda permanece na Legislação Brasileira e será
comentada adiante), buscando inclusive suas origens, sem que se conseguisse uma
explicação clara e somando-se o fato que há evidências de diversos casos particulares
em que diferentes níveis deveriam ser seguidos como padrão e não aqueles
determinados pela utilização de um fator de desvio genérico. Assim, estabeleceu o
Limite de Exposição de Curto Período – TLV-STEL (Short Term Exposure Limit) - que
substituiu a tabela de valor máximo e que se referem a:

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 31

Quadro 2.4.

Concentrações a que os trabalhadores podem estar expostos

continuamente por um curto período sem sofrer irritação, lesão tissular

crônica ou irreversível e narcose a ponto de comprometer sua segurança.

O TLV-STEL não substitui o TLV-TWA, sendo um complemento da média


ponderada pelo tempo, que permite uma avaliação das flutuações. Não deve ser
ultrapassado em momento algum da jornada de trabalho, podendo ser apenas atingido
por 15 minutos, 4 vezes ao dia e com intervalo mínimo de uma hora.
Estes valores e prazos devem ser considerados como guias para que a carga
corpórea do organismo do trabalhador permaneça em um nível aceitável. Sendo de
proposição relativamente recente são sujeitos a alterações, como se tem observado
anualmente. Para a grande maioria das substâncias não há dados toxicológicos
suficientes para estabelecer um TLV-STEL adequado e confiável.
Porquanto não haja base científica sólida, é aconselhável manter a exposição
dentro de determinados limites de flutuação, além de manter a média ponderada pelo
tempo abaixo do TLV-TWA. Recentemente o comitê que estabelece os TLV´s,
considerando os estudos publicados pelo NIOSH (LIEDEL, 1977), e analisando a
flutuações normalmente encontradas em exposições profissionais, e considerando
ainda que 5% dos valores das exposições com desvio padrão geométrico de 2, 0,
excedem 3,13 vezes a média geométrica que representa o valor médio da exposição
do grupo, conclui que a exposição não está sob controle adequado se houver
flutuação superior a esta. Simplificando estes conceitos a ACGIH (2002) afirma:

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 32

Quadro 2.5.

Os valores de concentração das exposições do trabalhador acima do TLV-

TWA podem exceder 3 vezes este valor por um período total máximo de 30

minutos durante toda o dia de trabalho, porém, em nenhuma hipótese,

podem exceder 5 vezes o TLV-TWA, garantindo-se, entretanto que a média

seja sempre inferior ao TLV-TWA.

Esta orientação é uma forma bastante simplificada da distribuição log-normal das


exposições, mas é considerada conveniente para a prática da Higiene Ocupacional.
Se a exposição for mantida dentro dos limites recomendados, o desvio padrão
geométrico será próximo de 2,0 e o objetivo final da recomendação será atingido.
Havendo informação toxicológica suficiente é recomendado um valor de TLV-
STEL. Este deverá ser seguido preferencialmente, sem considerar a orientação geral
anterior.

2.8. OUTROS ÍNDICES


2.8.1. LIMIAR OLFATIVO
Para diversas substâncias o odor é uma característica que pode ser utilizada
para a identificação de sua presença, contudo o sentido do olfato é influenciado por
diversos fatores intervenientes que dificultam em muito uma avaliação mesmo que
qualitativa. Odores muito distinto podem ser distinguidos, mas dificilmente se
diferencia, por exemplo, benzeno de tolueno ou cloroeteno de percloretileno.
Há grande variação no limiar olfativo de uma pessoa para outra como no caso
dos cianetos para os quais existem pessoas mais sensíveis que a maioria. Pode haver
variação no Limiar Olfativo na mesma pessoa em diferentes horas do dia ou situações,
como estados fisiológicos ou mesmo exposição anterior ao mesmo odor ou odores
diferentes, ou ainda exposição simultânea a diversas substâncias.
A sensibilidade do olfato pode ser reduzida a praticamente zero por algumas
substâncias que “saturam” o órgão olfativo, o caso mais conhecido é do gás sulfídrico
que possui um limiar bastante baixo, mas que após poucos minutos deixa de ser

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 33

percebido, dando a falsa impressão de ter diminuído a concentração no ar, o que já


levou diversos trabalhadores a acidentes fatais.
Assim, não é simples a determinação de um limiar olfativo que seja amplamente
utilizado na prática da Higiene Ocupacional, embora para algumas substâncias
existam estudos e algumas recomendações, outras ainda apresentam valores muito
divergentes, outras nem tanto. De uma forma geral o que se pode concluir é que para
as substâncias que possuem odor, geralmente este aparece em concentrações
inferiores ao limites de exposição ocupacional, mas como foi referido, este fato deve
ser utilizado com a devida cautela, pois não se aplica a todas as substâncias, nem a
todas as pessoas (NAUS, 1975; DALTON, 2000)

2.8.2. IDLH
Para substâncias de efeito em curto prazo e com alto risco e toxicidade pode-se
contar com o IDLH – Immidiately Dangerous to Life or Health – Imediatamente
Perigoso à Vida ou a Saúde, que são níveis publicados pelo NIOSH (NIOSH, 1995) e
baseados em evidências científicas e práticas e referem-se à:

Quadro 2.6.

Concentração máxima que, em uma situação de emergência um ser

humano pode resistir e ter condições de abandonar o local sem

equipamentos especiais e sem sofrer danos severos à saúde.

O IDLH é utilizado basicamente no controle de situações de emergência e para


substâncias que podem produzir efeito em curto prazo e graves como os irritantes
primários ou corrosivos, cloro, dióxido de enxofre e outros. O IDLH é superior ao LEO
uma vez que prevê uma exposição curta e admite eventualmente algum efeito de
menor importância. O posicionamento relativo em relação à magnitude de
concentrações de outros indicadores pode ser observado na tabela 2.2, no exemplo do
cloro:

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 34

Tabela 2.2. Concentração de cloro no ar e significado em relação à saúde do


trabalhador
Concentração no ar
Significado ou Efeito Referência
(ppm)
0,5 a 1,5 Limiar do Olfativo NAUS 1975
0,5 TLV-TWA ACGIH 2002
1 TLV-STEL ACGIH 2002
6 Irritação de garganta ILO 1989
25 IDLH NIOSH 1999
30 Tosse intensa ILO 1989
Sérias lesões em 30 a 60 minutos de
40 a 60 ILO 1989
exposição
100 Pode ser fatal ILO 1989
1000 Fatal em poucas inspirações. ILO 1989

Na Tabela 2.2., nota-se que embora o cloro seja um agente químico muito tóxico
e de elevado risco, não tem seu limite de exposição definido como teto, devendo, pois
a média obedecer ao LEO de 1 ppm, valor este que não está relacionado com efeitos
agudos.
Os valores que compõem a média devem obedecer a um STEL de 1 ppm o que
poderá no máximo originar ligeira irritação de olhos e vias aéreas superiores.
O IDLH por sua vez está situado em níveis mais elevados de concentração, que
originam irritações mais intensas, mas ainda suportáveis, sendo recomendado, por
exemplo, para o alarme de abandono de área em locais de descarga ou manuseio de
cilindros de cloro líquido que dispõem de equipamentos para medição instantânea e
contínua.
Por outro lado, deve ser observado que há dificuldade prática do ponto de vista
da higiene ocupacional, na medição de concentrações de cloro e com coleta de longa
duração, sendo mais comuns e comercialmente disponíveis os equipamentos de
leitura direta e instantânea. Estes dados de avaliação de curto período devem ser
adequadamente interpretados à luz dos limites disponíveis.

2.8.3. NÍVEL DE AÇÃO


Para a prática da Saúde Ocupacional, há necessidade de se definir exposição
ocupacional a um agente químico, pois é possível dizer que não há exposição quando
a concentração ambiental for praticamente igual a zero, ou ainda quando o agente não
está presente. Por outro lado, porém, se o agente estiver presente, mas em baixas
concentrações, qual o nível que estas concentrações devem atingir, para que se
considere o trabalhador exposto e se lhe dediquem todas as atenções previstas em
um programa de Saúde Ocupacional, incluindo-o na monitorização ambiental e
biológica?

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 35

Como regra geral admite-se que a exposição se inicia a partir da metade do


Limite de Exposição, este valor ‚ denominado Nível de Ação (NA) pela OSHA que o
define como:

Quadro 2.7.

O ponto a partir do qual as atividades do padrão proposto devem ser iniciadas,

como medidas periódicas da exposição através da monitorização ambiental e

biológica e controle médico (LIEDEL, 1977).

Ao realizar-se uma medida de exposição e encontra-se um valor de


concentração de um agente químico no ar superior ao Nível de Ação, o trabalhador em
questão deve ser considerado exposto, pois, em virtude da variabilidade das
concentrações, há possibilidade de ao menos, 5% de todos os valores reais, estarem
acima do próprio limite de exposição em um dia não avaliado.

NA  0,50  LEO

De uma forma geral, este nível é tido por convenção, como 50% do limite de
exposição. Mas em trabalhos mais aprofundados, a partir de avaliações ambientais
completas, o mesmo é calculado experimentalmente e é função do desvio padrão
geométrico das concentrações, conforme descrito por Liedel (1977). No caso da
exposição a fumos metálicos em operações de solda, por exemplo, o Nível de Ação
deve ser reduzido para 0,15 do LEO (COLACIOPPO, 1985).

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 36

2.8.4. RISCO RELATIVO


Para substâncias voláteis pode-se calcular uma taxa de Risco Relativo (RR)
segundo a equação:

Evaporação
RR 
Limite de Exposição

Por esta relação verifica-se que um agente químico muito tóxico terá um LEO
reduzido e, portanto um RR maior. Outro agente, com maior taxa de evaporação, pode
atingir com maior facilidade altas concentrações no ambiente, aumentando assim o
risco relativo.
Deve-se atentar para o fato de como medir evaporação, pois algumas tabelas
apresentam taxas de evaporação que indicam o tempo decorrido para que se evapore
um dado volume da substância em relação a um padrão, como o éter etílico
considerado como 1. Valores maiores representam maior tempo de evaporação e,
portanto menor volatilidade e menor risco. Se for utilizado o tempo, este deverá ser
colocado no denominador da equação do RR.
O RR é mais uma "ferramenta" que o higienista pode lançar mão, principalmente
na ocasião da escolha entre diversos produtos alternativos que deve autorizar para
uma dada atividade.

2.8.5. LIMITES PARA EXPOSIÇÃO SIMULTÂNEA A SUBSTÂNCIAS COM


MESMO EFEITO
O higienista deve buscar conhecimentos toxicológicos das substâncias
envolvidas em determinados processos ou atividades, para controlar adequadamente
a exposição do trabalhador, que freqüentemente está exposto a mais de um agente
num mesmo período e um dado efeito deletério à saúde pode estar sendo provocado
por duas ou mais substâncias presentes simultaneamente, pois há possibilidade de
diversas interações como foi visto no item 2.3, inclusive mediado por outra via de
penetração que não a respiratória.
Esta situação pode ser contornada através de dois passos:
 Busca de informações toxicológicas de todas as substâncias envolvidas
em uma dada exposição profissional, identificando efeitos deletérios
semelhantes que possam ser aditivos, como por exemplo, solventes com ação
sobre o sistema nervoso central, gases ou vapores irritantes com ação sobre o
aparelho respiratório e poeiras e fumos com ação sobre o pulmão;
 Após a medição das exposições, realiza-se um somatório das médias (C)
divididas pelos seus respectivos limites de exposição (L) conforme equação a
seguir:

C1 C 2 C
  ...  n
L1 L2 Ln

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 37

Este somatório deverá ser menor que a unidade para que o limite de exposição à
mistura esteja sendo observado e menor que o nível de ação para que não haja
exposição. Percebe-se que por esta forma de interpretação dos resultados, considera-
se a fração de cada limite que é "utilizado" respectivamente por cada substância,
como se pode observar no exemplo da tabela 2.3.
Cada metal em particular produz diferentes efeitos sistêmicos no organismo
humano, os óxidos metálicos, porém, possuem efeitos aditivos a nível pulmonar antes
de sua absorção pela corrente sangüínea. Assim os resultados do exemplo anterior
concordam com os efeitos observados na população estudada que apresentou efeitos
pulmonares mais significantes que os efeitos sistêmicos (COLACIOPPO, 1985).
Deve ser lembrado ainda que uma única substância pode produzir diferentes
efeitos, assim este somatório deve ser feito conhecendo-se os efeitos para os quais a
substância teve seu limite estabelecido e ainda contra o que se quer proteger o
trabalhador.

Tabela 2.3. Exposição a fumos de alguns metais em operações de solda e respectivos


Limites em mg/m3 e IE.

Metal Concentração LEO IE

Zn 0,031 5 0,006
Cu 0,057 0,2 0,285
Mn 0,37 1 0,365
Fe 2,64 5 0,529
Cd 0,0006 0,05 0,012
Cr 0,002 0,5 0,005
Ni 0,007 0,1 0,065
Somatório 1,267
LEO = Limites de Exposição Ocupacional
IE = Índice de Exposição.
Fonte: COLACIOPPO (1985).

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 38

2.9. LIMITES SEGUNDO A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


Anteriormente a 1978 muito pouco se tinha de legislação relativa à avaliação da
exposição ocupacional. Esta avaliação podia ser realizada com padrões escolhidos
pelo próprio avaliador e através de critérios, até subjetivos em alguns casos. Desde
aquela época, e ainda nos dias atuais, verifica-se uma nítida preocupação de se
utilizar à legislação brasileira em avaliações da exposição ocupacional com a
finalidade de instruir processos judiciais (caracterização da insalubridade,
aposentadoria especial ou indenizações) e não raramente, feita de forma simples e até
simplista, sem a preocupação clara de avaliar a real exposição do trabalhador
envolvido.
Pela primeira vez na história da Saúde do Trabalhador no Brasil, um grande
passo foi dado em 1978, quando foi introduzido o Limite de Tolerância (LT) na
legislação brasileira. A Portaria Ministerial n° 3214 de 8-6-78 (BRASIL, 1978) instituiu
diversas Normas Regulamentadoras (NR´s) das atividades de Higiene Segurança e
Medicina do Trabalho. Entre as diversas NR´s situa-se a de número 15 que trata das
atividades insalubres, e nos seus anexos 11, 12, 13 e 13 A trata da avaliação da
exposição a agentes químicos.
Esta norma foi elaborada de forma simples e adequada ao Brasil da época, que
praticamente nada fazia em avaliações ambientais, com poucas exceções e ainda
hoje, existem empresas ou entidades que não têm condições de cumprir a legislação
por mais simples que seja.
Mais de duas décadas se passaram e é preciso aperfeiçoar e adequar a
legislação, mas para isto deve-se ponderar entre o idealmente desejável, o
tecnicamente necessário, o que é praticamente exeqüível e finalmente o que pode ou
deve ser legalmente exigido.
No item 15.1 da NR 15 (BRASIL, 1978) encontra-se a definição de Limites de
Tolerância:

Quadro 2.8.

Entende-se por Limite de Tolerância, para os fins desta norma, a concentração

ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de

exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante

sua vida laboral.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 39

Pelo Anexo 11 da citada norma consideram-se insalubres as atividades que se


desenvolvem com exposição acima dos limites de tolerância às substâncias
constantes do Quadro 1.
Ao comparar os dois itens, fica claro que se esperam danos à saúde se houver
exposição acima dos LT e por outro lado a “solução" é a caracterização da
insalubridade, ou seja, o pagamento de um adicional no salário do trabalhador
exposto, o que contraria frontalmente os princípios da Higiene Ocupacional.
O dano à saúde, referido na definição de LT, está limitado à vida laboral,
deixando sérias dúvidas quanto a danos à vida extra-laboral, como no caso de surdez
profissional, ou diversos efeitos de agentes químicos que não impedem o trabalhador
de trabalhar, mas causam sérios prejuízos ao convívio social, familiar ou afetivo.
Alguns efeitos podem aparecer tardiamente e observados apenas na vida pós-laboral
como no caso de doenças de efeitos em longo prazo, por exemplo, câncer ou
pneumoconiose, em que os primeiros sinais ou sintomas podem aparecer após a
aposentadoria.
Visto desta forma, os LT´s segundo a legislação brasileira, não consideram os
possíveis efeitos à reprodução como a teratogênese e outros, que podem ser
observados tanto pela exposição da mulher, como também do homem que trabalha.
O higienista deve controlar todos os agravos à saúde, provenientes do trabalho e
preservar a saúde do trabalhador em todos os seus aspectos e não apenas os
diretamente relacionados com a capacidade laboral. Deve considerar o trabalhador
como ser humano, existindo dentro de uma comunidade e não apenas entre as “quatro
paredes” de uma empresa.

2.9.1. O ANEXO 11 DA NR 15
No título do anexo 11 já se verifica a preocupação de se “atrelar” a insalubridade
aos Limites de Tolerância, e este é transformado em ponto a partir do qual se
caracteriza a insalubridade, dando uma falsa impressão de que a insalubridade pode
ser facilmente caracterizada em qualquer local de trabalho. São raros, porém, os
casos de exposição acima do Limite de Tolerância, nos quais pode-se caracterizar a
insalubridade nos moldes deste anexo.
No item 7 do anexo 11 encontra-se a tabela para cálculo do valor máximo que é
o valor que não pode ser ultrapassado, sob pena de caracterização de risco grave e
iminente, exigindo-se controle imediato da exposição, inclusive paralisando as
atividades se necessário.
Para substâncias de efeito em longo prazo, a ACGIH fornecia até cerca de
15 anos, uma orientação de quanto poderia flutuar a concentração, sendo calculado
um valor máximo de flutuação, que não deveria ser ultrapassado em momento algum,
mantendo-se ainda a média ponderada pelo tempo abaixo do TLV-TWA. Estes valores
eram determinados multiplicando-se o TLV-TWA por um fator de desvio conforme
tabela 2.4.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 40

Tabela 2.4. Fator de desvio para cálculo do valor máximo em função do Limite de
Tolerância.
LT
Fator de Desvio
(ppm ou mg/m3)
0a1 3
1 a 10 2
10 a 100 1,5
100 a 1000 1,25
maior que 1000 1,12
Fonte: NR 15 anexo 11.

Observa-se que estes fatores de desvio, estabelecidos empiricamente não


possuem uma explicação técnica adequada, pois permitem maior flutuação nas
exposições justamente para as substâncias de menor TLV-TWA e, portanto de maior
toxicidade.
Por outro lado, verifica-se que tanto o limite em ppm ou em mg/m3 tem seu valor
absoluto relacionado com um mesmo fator, o que origina dúvidas em sua aplicação,
uma vez que para substâncias de maior peso molecular a diferença entre os valores
em ppm e mg/m3 é bastante significativa. Diversas substâncias podem ter um LT em
ppm em uma faixa e em mg/m3 em outra, daí a dúvida de qual unidade utilizar.
Do ponto de vista da insalubridade, para que esta seja caracterizada, deve-se ter
um valor médio ponderado pelo tempo superior ao Limite de Tolerância, sem, contudo
que nenhum dos valores de concentração que serviram de cálculo para a média
ultrapasse o valor máximo. Porém, mesmo em ambientes com algum controle a
flutuação é freqüentemente superior a 3 vezes o valor médio, assim é muito difícil
existir na prática uma exposição com flutuações não superiores ao fator de desvio.
Por exemplo, a insalubridade para uma substância cujo LT é 1 ppm, é
caracterizada quando a média das concentrações encontradas for superior ao limite
(1 ppm), porém, nenhum valor que foi utilizado para compor a média seja superior ao
Valor Máximo de 3 ppm ou de 2 ppm, dependendo se considerarmos o limite de 1 na
faixa de 0 a 1 ou na faixa de 1 a 10.
Além da dúvida de qual valor máximo utilizar, as duas faixas de variabilidade
admitidas, embora diferentes, são muito estreitas e na prática seria o mesmo que
admitir ser possível manter a exposição (concentração no ar respirável) em um valor
quase constante durante todo o tempo, o que não é possível para a grande maioria
das atividades profissionais. Por exemplo, uma atividade com exposições de DPG
(desvio padrão geométrico) de 2,5, o que é relativamente comum, admite pelo menos
5% das exposições medidas superiores a 3,13 vezes a média. (O fator de desvio da
Tabela 2.4, é no máximo 3).
No item 8 do mesmo anexo 11, define-se que será excedido o LT se a média das
concentrações ultrapassar os valores dos Limites de Tolerância. Observa-se que a
média aritmética só pode ser utilizada se as coletas forem em tempos iguais e por toda
a jornada de trabalho, o que nem sempre se realiza. Havendo tempos diferentes, a
média deve ser ponderada pelo tempo. Por outro lado ser for feita amostragem em um
grupo homogêneo em relação ao risco, a média que representaria a exposição do
grupo é a média geométrica das médias individuais de cada elemento do grupo.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 41

No item 10 define-se que os valores listados referem-se a jornadas semanais de


até 48 horas semanais inclusive, não deixando possibilidade de se considerar
exposições de 44 horas ou qualquer outro valor menor, ou mesmo trabalho em turnos.
Do ponto de vista prático deve-se seguir a orientação da ACGIH para a grande maioria
das substâncias sem qualquer correção, pois como se sabe o Limite de Exposição é
um guia de orientação e nunca um número absoluto e divisório entre o risco e a
segurança, principalmente na atual realidade brasileira.
Ressalta-se que segundo esta Norma a insalubridade não é caracterizada
apenas com o Limite de Tolerância, mas também por inspeção no local de trabalho,
sem, contudo haver uma definição clara do que deve ser feito ou verificado numa
inspeção, nem definição do que é local ou posto de trabalho.
Há indicação de absorção cutânea para algumas substâncias e de uma
estratégia de amostragem mínima de 10 amostras instantâneas, em cada posto de
trabalho, com intervalo de 20 minutos, que deve ser observada. Esta estratégia,
porém, não é aplicável em muitas situações, como no caso de metais ou de material
particulado, para os quais não se dispõe de métodos e técnicas para uma coleta
instantânea. Por outro lado, coletar 10 amostras com intervalos de 20 minutos pode
não significar nada em relação à exposição dos trabalhadores, se não houver uma
correta distribuição das coletas ao longo do tempo e espaço.
Está previsto que as 10 amostras devem ser coletadas em cada local de
trabalho. Se local de trabalho significa o local em que se encontra cada um dos
trabalhadores, em médias e grandes empresas, ter-se-á um número de amostras
absurdamente elevado e tecnicamente desnecessário, sem considerar ainda a
necessidade de repetição das medições da exposição ao longo do tempo. Em
contrapartida se local de trabalho for considerado a empresa ou um edifício ou seção,
podemos ter um número extremamente reduzido de amostras, que de forma nenhuma
pode representar a exposição dos trabalhadores.
Para asfixiantes simples e para substâncias de limite teto, não há possibilidade
de caracterizar insalubridade, apenas risco grave e iminente.
Neste anexo encontra-se ainda a indicação do grau de insalubridade a ser
considerado, no caso de sua caracterização: mínimo, máximo ou médio.
Aparentemente o critério utilizado para esta classificação foi a maior ou menor
toxicidade, não levando em conta a periculosidade, ou seja: as condições de
exposição e a capacidade intrínseca das substâncias de produzirem dano à saúde
nestas mesmas condições. O maior problema, contudo, é a atribuição de grau de
insalubridade para substâncias de limite de tolerância de valor teto, o que leva a
pensar que se pode caracterizar insalubridade para este tipo de substâncias, o que
não é correto, pois o item 4 do mesmo anexo diz:
"Na coluna “valor teto” estão assinalados os agentes químicos cujos LT não
podem ser ultrapassados em momento algum da jornada de trabalho"
Portanto, não é possível caracterizar-se insalubridade para substâncias de LT -
Valor Teto o que é tecnicamente correto, porém, por exemplo, no quadro
correspondente, temos a indicação de Valor Teto para o LT do ácido clorídrico
juntamente com a indicação de se for caracterizada (erroneamente) a insalubridade,
esta deve ser de grau máximo.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 42

2.9.2. O ANEXO 12 DA NR 15
Neste anexo encontra-se o limite para asbesto, mais recentemente atualizado e
que descreve com detalhes o único método de análise para agentes químicos em
nossas NR´s.
Encontra-se ainda referência ao método de coleta de material particulado para
medição de sílica, o qual permite ainda a coleta com impinger, dando inclusive o limite
em milhões de partículas por decímetro cúbico de atmosfera - mppdc. Esta forma de
coleta e avaliação há muito foi abandonada por não refletir a real exposição do
trabalhador, pois além da dificuldade da coleta com impinger, que é de vidro e
relativamente grande risco de quebra, permite a fragmentação das partículas durante
a coleta, associada à grande dificuldade em se fazer contagem de partículas por
microscopia. Portanto, é um método que não deve ser utilizado, devendo-se dar
preferência à coleta com filtro precedido por ciclone seletor seguido de análise por
difração de raios X conforme o próprio anexo também recomenda.

2.9.3. O ANEXO 13 DA NR 15
Este anexo como um todo é uma tentativa de se abranger substâncias que não
foram incluídas nas 138 dos anexos anteriores e cuja única finalidade seria a de
caracterizar a insalubridade, o que se faz apenas com a inspeção no local de trabalho,
não sendo dada nenhuma base para esta caracterização, além de serem nomeadas
as substâncias e ou operações que ensejariam a insalubridade.
Este anexo não tem nenhum valor para a prática da Higiene Ocupacional, do
ponto de vista técnico e científico. Se quiséssemos abranger todas as outras
substâncias não listadas nos anexos anteriores para caracterizar a insalubridade,
dever-se-ia ter aqui listado cerca de 65.000 substâncias, se considerarmos as de
maior uso industrial e mais de 5.683.821 que são disponíveis comercialmente em
janeiro de 2003 (CAS, 2003) e que potencialmente oferecem risco à saúde, além da
definição do que deve ser feito em uma inspeção no local de trabalho.
Este anexo além de não contribuir em nada, ainda promove alguma confusão,
por exemplo, ao deixar implícito que qualquer óleo mineral é carcinogênico, o que tem
levado às diversas demandas legais e até mesmo a modificações de processos
industriais, onde na realidade o óleo mineral utilizado não possui a alegada
carcinogenicidade.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 43

2.10. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL PARA MULHERES


Com o aumento considerável da mão de obra feminina em nosso meio, uma
questão freqüentemente levantada é se a proteção dos LEO´s é a mesma, tanto para
homens como para mulheres.
Inicialmente deve-se considerar, que com exceção dos efeitos sobre o aparelho
reprodutor feminino, não há razões para se considerar a mulher mais ou menos
susceptível à ação de produtos químicos que o homem. Para a mesma dose absorvida
(mg da substância/Kg da pessoa), somente em alguns raros casos o organismo
feminino apresenta resposta diferente do masculino, devido a diferenças no
metabolismo, provocadas por diferentes hormônios envolvidos, como na
biotransformação do benzeno durante a gravidez, quando há uma inibição da
glicuroniltransferase dificultando a produção de derivados do ácido glicurônico, que
seriam mais facilmente excretados pela urina (KLAASSEN, 2001).
De uma forma geral pode-se aceitar que a proteção dada por um padrão de
exposição para o homem produz basicamente a mesma proteção para a mulher,
conforme alguns fatos considerados a seguir.
O volume de ar respirado por um homem em um período de 8 horas de trabalho
é tipicamente considerado como 10 metros cúbicos. Considerando que a mulher
possui 2/3 da capacidade pulmonar do homem, o volume de ar respirado será de
cerca de 6 metros cúbicos (ALGRANTI, 2003).
Para uma exposição ocupacional a uma substância de LEO igual a 10 mg/m 3 e
assumindo por hipótese que há penetração total por via respiratória, retenção e
absorção total pela corrente sangüínea, a carga corpórea potencial será de 100 mg
para o homem e de 60 mg para a mulher.
Considerando o peso médio de 70 Kg para o homem e de 50 Kg para a mulher,
a dose será de 1,4 mg/Kg para o homem e de 1,2 mg/Kg para a mulher. O que leva à
conclusão que de uma forma geral o LEO oferece basicamente a mesma proteção
tanto para o homem quanto para a mulher, sendo claro que casos particulares que
estão distantes dos valores médios aqui utilizados devem ser considerados
isoladamente, independentemente de ser homem ou mulher.
Embora a via respiratória seja a principal, a via cutânea pode ser significativa em
diversas situações e apesar de eventual diferença das áreas de pele do homem e da
mulher, não há referência a estudos que comprovem uma diferença significativa do
ponto de vista da Higiene Ocupacional, nem tampouco relativo às diferenças de
permeabilidade a agentes químicos.
Outro fato que pode ser levado em conta é o diferente teor de lipídeos que é de
20 a 25% em peso para mulheres e 10 a 15% para os homens. Este fato pode influir
na toxicocinética de um agente químico de duas formas:
Maior teor de gordura leva à maior capacidade de armazenar substâncias
lipossolúveis, o que pode servir de mecanismo de defesa, impedindo que se atinja
uma alta taxa sangüínea, com conseqüente menor efeito em curto prazo.
Maior teor de gordura, por outro lado, pode aumentar a carga corpórea de uma
substância lipossolúvel, o que favorecerá a manutenção da taxa sangüínea por mais
tempo, embora a níveis baixos, o que pode aumentar a possibilidade de aparecer um
efeito a médio e longo prazo.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 44

Assim, é difícil predizer se há maior ou menor influência do teor de gordura nos


possíveis efeitos sobre o homem ou sobre a mulher.
Embora não existam valores definidos exclusivamente para mulheres,
eventualmente são encontradas na literatura algumas sugestões de redução ou
mesmo redução a zero, mais baseados na gravidez e proteção ao feto. Contudo, se
assumíssemos uma atitude bastante prevencionista, poder-se-ia considerar um LEO
específico para homens e outro para mulheres, considerando apenas as substâncias
que possuem uma toxicidade alterada pelos hormônios femininos, ou ainda, as que
reconhecidamente possuem efeitos sobre reprodução, tais como:
 Contraceptivos: que impedem a fecundação;
 Mutagênicos: que produzem mutação, ou seja, alteração no código
genético celular;
 Teratogênicos: que produzem má formação do feto.
Este posicionamento leva a um aspecto prático de como considerar um ambiente
com homens e mulheres trabalhando simultaneamente. Se for obedecido o LEO para
mulheres, deve-se utilizar medidas extremamente rigorosas e desnecessárias para os
homens. Se por outro lado o ambiente for dividido deverá ser controlada a ida de
mulheres ao local de trabalho dos homens, além dos eventuais processos judiciais de
discriminação na contratação inicial do empregado ou empregada.
Fica claro que a melhor postura para a Higiene Ocupacional, quando se depara
com este tipo de situação, é reduzir a exposição das mulheres ao menor valor
possível, a zero de preferência e se necessário for proibir o uso da substância ou o
trabalho de mulheres em determinadas funções tendo em vista a gravidade do risco a
que estariam expostas com conseqüências imprevisíveis e irremediáveis como no
caso de má formação do feto que ocorre por uma exposição nos 3 primeiros meses de
gravidez, quando esta pode ainda não ser do conhecimento da mulher ou até mesmo
escondida por ela.
Ressalta-se que no caso da teratogênese a responsabilidade do higienista
ocupacional é grande, pois cabe a ele, juntamente com outros profissionais, permitir o
trabalho de mulheres em determinadas atividades. Os efeitos podem ser observados
em poucos meses ou anos, no caso de, por exemplo, uma alteração no
desenvolvimento físico ou intelectual da criança, mas podem demorar mais de 20
anos, quando a filha da mulher trabalhadora, que teve uma má formação de seus
óvulos, gerar agora um neto da trabalhadora e este poderá manifestar a má formação.
Talvez no caso anterior possamos “escapar” da Lei, pelo longo período
decorrido, mas, com certeza, não “escapamos” de nós mesmos e se soubermos que
há esta possibilidade e não tomarmos providências saberemos também, que somos
culpados.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 45

2.11. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL E HÁBITO DE FUMAR


O higienista ocupacional deve estar atento a fatores intervenientes, ao avaliar a
exposição do trabalhador a um dado agente químico. Nesta avaliação deve ser
considerada a possível exposição extra-laborativa, ou seja, não relacionada
diretamente com o local de trabalho. O hábito de fumar é um exemplo de fator
importantíssimo, que pode levar à exposição bastante significativa.

Tabela 2.5. Concentrações máximas, em partes por milhão, encontradas em fumaça


de cigarro e os respectivos LEO´s

Concentração (ppm)
Substância
Fumaça de
TLV NR 15
Cigarro*
Acetaldeído 3.200 C 25 78
Acetileno 31.000 18% O2 19% O2
Acetona 1.100 500 780
Acroleína 150 C 0,1 --
Amônia 300 25 20
Dióxido de Carbono (CO2) 92.000 5.000 3.900
Dióxido de nitrogênio (NO2) 250 3 T 4
Formaldeído 30 C 0,3 T 1,6
Gás Cianídrico (HCN) 1600 C 4,7 8
Gás Sulfídrico (H2S) 40 10 8
Metanol 700 200 156
Monóxido de carbono (CO) 42.000 25 39
Observações * = (ROSENBERG, 1981)
TLV = Treshold Limits Values (ACGIH, 2002)
NR-15 = Limites de Tolerância (BRASIL, 1978)
C = Ceiling (valor teto) T = valor teto.

Na tabela 2.5. são apresentadas as máximas concentrações de algumas


substâncias encontradas na fumaça de cigarros (ROSENBERG, 1981), e os
respectivos limites de exposição ocupacional da ACGIH e da NR 15. Mesmo
considerando a possibilidade de haver alguma diluição durante o ato de fumar, ou
ainda que um dado cigarro forneça concentrações mais baixas, as diferenças entre o
esperado na fumaça de um cigarro e o máximo aceitável para uma exposição
profissional são enormes. Assim podemos dizer que:

Ao acender um cigarro, o trabalhador fumante “apaga” todo o trabalho da Higiene e


Toxicologia Ocupacional.

É possível encontrar-se na justiça processos bem fundamentados em que o


trabalhador reclama insalubridade ou aposentadoria especial, e com ganho de causa,
por estar exposto a um agente químico 2 ou 3 vezes acima do Limite de Exposição,
sem ser levado em conta que ao fumar, o mesmo trabalhador respira centenas de
vezes mais, que ele fuma sempre, todos os dias, além da jornada de trabalho e mais,
que este hábito com uma possibilidade muito maior que a exposição ocupacional, o

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 46

levará a uma doença cujo tratamento e conseqüências, caberá o ônus a toda


sociedade.
O fumante pode ainda ser considerado como fonte poluidora de um local de
trabalho, que pode levar outros trabalhadores não fumantes a uma exposição ao fumo.
Desta forma o dito "fumante passivo" deve ser alvo de atenção da Higiene
Ocupacional, assunto que é objeto de legislação especifica em diversos países,
inclusive com estabelecimento de nexo causal entre doença pulmonar em não fumante
no mesmo ambiente de trabalho com fumantes.
Outro fato que deve ser considerado é a possibilidade de interação, entre os
diversos agentes encontrados na fumaça do cigarro e os decorrentes de uma atividade
profissional, como no caso do asbesto cuja correlação está bem definida, havendo
potencialização do efeito pulmonar (câncer). Substâncias como poeiras
pneumoconióticas, ou mesmo outras que provoquem efeitos sistêmicos estão sendo
estudadas, havendo bons indícios de interação aditiva ou sinergética (WHO, 1999).
Pode haver ainda interação diretamente no cigarro, como no caso de fumar em
local com vapores de solventes clorados. A brasa do cigarro atinge temperaturas
elevadas e suficientes para provocar a reação de decomposição do solvente e a
produção de fosgênio, substância altamente irritante para as vias respiratórias
(TLV = 0,1 ppm), que foi inclusive utilizada como gás de guerra (WHO, 1999).

2.12. A DETERMINAÇÃO DE UM LIMITE E ADAPTAÇÃO PARA SITUAÇÕES


NÃO USUAIS
Os Limites de Exposição Ocupacionais têm sido estabelecidos como guias de
orientação e baseados nas estimativas de exposições ocupacionais. Tanto a fixação
dos limites como as estimativas da exposição em que estes têm sido baseados, são
estimativas e na maioria das vezes não permitem a construção de uma correlação
dose-efeito e dose-resposta adequada, o que equivale a se dizer que os limites têm
sido estabelecidos segundo um critério mais especulativo e político-social, do que
técnico e científico, conforme já referido aos comentários de (TORKELSON, 1983) .
Este fato nos leva a admitir que, por exemplo, um LEO de 100 ppm, não significa
exatamente 100 ppm, mas algo entre 90 e 110 ppm ou mesmo um intervalo ainda
maior. Assim, 100 é o valor central de uma faixa e não se sabe exatamente sua
amplitude.
Esta linha de pensamento nos leva a acreditar que os valores estimados como
LEO´s possuem uma faixa de variação suficientemente ampla para englobar pequenas
variações,que podem ser observadas no organismo humano, como gênero, raça e
idade, ou ainda fatores relativos ao ambiente ou ocupação como: clima, organização
do trabalho, turnos de trabalho e duração das jornadas. Ou seja, estas variações
podem ser relativamente pequenas e serem mascaradas pelas incertezas que temos
na fixação do LEO.
A situação tem se modificado ao longo dos anos e com o avanço das pesquisas,
por um lado os LEO´s têm se atualizado sistematicamente e por outro a Higiene
Ocupacional, cada vez mais técnica e científica, pode fornecer estimativas cada vez
mais precisas da exposição real dos trabalhadores. Nossa principal referência de
LEO´s, os TLV´s, são revisados anualmente, com alterações em diversos deles. Estas
alterações preponderantemente são de redução dos valores, baseados em

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 47

descobertas de alterações da saúde ou indicadores de exposição ou de efeito, cada


vez mais precoces, com raras exceções de aumento.
São centenas as substâncias que merecem estudos, mas, caminha-se
lentamente para uma diminuição da amplitude de variação dos LEO´s, aumentando
gradativamente sua precisão e exatidão, não chegando, é claro, a uma concentração
única, precisa e exata, mas tendendo a ela. Por outro lado, o avanço da Higiene
Ocupacional, propicia avaliações da exposição ocupacional mais adequadas e
completas, o que também contribui para a redução das incertezas dos LEO´s, e assim
mais e mais nos aproximamos de um valor exato e preciso.
Paralelamente ao desenvolvimento do conhecimento da cronotoxicologia e as
modificações nas jornadas de trabalho, que originam exposições não usuais, ou seja,
diferentes das 8 horas diárias e 40 horas semanais, cada vez mais se nota a influência
destes fatores no efeito observado, em exposições a concentrações próximas ao LEO.
A adaptação dos LEO´s às jornadas não usuais tem sido estudada, já há algum
tempo, sendo o trabalho clássico de Brief e Scala (1973), um dos primeiros a
considerar a extensão da jornada de trabalho como determinante para a redução
proporcional do LEO, com uma fórmula relativamente simples para cálculo do fator de
redução (f):

8 24  h
f  
h 16

Onde h é o número de horas da jornada e poderia ser aplicado a um LEO tido


como média ponderada pelo tempo ou teto, com exceção dos agentes que
produzissem irritação apenas.
A partir deste trabalho pioneiro, diversos outros trabalhos têm sido realizados no
sentido de completar, ou melhorar a adaptação introduzindo conceitos como a meia-
vida biológica da substância envolvida. Um aprofundamento neste assunto e
considerações mais detalhadas sobre a proteção oferecida pelos TLV´s atuais podem
ser observados em Brodeur (2001), Colacioppo (1989), Jayjock (2001) e Verma
(2000).

2.13. A EXTRAPOLAÇÃO DE VALORES PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA


Na portaria ministerial n° 3214 de 1978, em sua Norma Regulamentadora
número 15, anexo 11, encontra-se uma versão reduzida e simplificada dos TLV´s de
1977, apresentando Limites de Tolerância, apenas para substâncias que na época
possuíam tubos indicadores (calorimétricos) para avaliação instantânea e cujos
valores de limites foram reduzidos com um fator de 0,78, que teria sido calculado em
virtude da diferença na jornada de 40 para 48 horas semanais.
Além de todas as dificuldades das pesquisas em laboratório com animais, na
expectativa de reproduzir todas as condições enfrentadas por um trabalhador, a
extrapolação dos resultados para o homem, mesmo com auxílio da epidemiologia e
estatística, ainda é bastante difícil, pois mesmo considerando-se a jornada usual, na
adaptação ou importação de valores de referência, um LEO considerado adequado,
por exemplo, para um trabalhador alemão de 1,95 m e 90 Kg com uma esposa que
também trabalha e tem um ou dois filhos, com salário que lhe permite ter todos os

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 48

itens básicos de moradia e saúde, que pára de trabalhar na sexta-feira às 15 horas e


vai passar o fim semana nos Alpes. Por outro lado este mesmo LEO pode não ser
adequado para um trabalhador brasileiro originário do nordeste com 1,50 m e 55 kg,
com esposa que não trabalha oficialmente, com 5 ou 6 filhos, com salário insuficiente
para as suas necessidades básicas e que além 40 horas semanais de trabalho,
continua trabalhando em sub-emprego e com poucas horas de lazer.
Esta forma de pensamento leva-nos à necessidade de criação de LEO´s
genuinamente brasileiros e ainda mais, regionais, pois seria lícito aceitar que um valor
único não possa ser aplicado da mesma forma no norte e no sul do país. Contudo,
recorda-se que atualmente os LEO´s são guias de orientação e não linhas divisórias
extremamente sensíveis e nítidas entre risco e segurança e que estas diferenças
levantadas para muitas substâncias podem ser insignificantes ante a incerteza do
LEO.
A realidade brasileira é rica em contrastes, pois é possível encontrar
trabalhadores expostos a agentes químicos e recebendo praticamente nenhuma
atenção da equipe de saúde ou eventualmente até pior, como no caso de
trabalhadores avulsos e braçais, como na faxina industrial, que podem ser
classificados como quase escravos; por outro lado é possível encontrar-se também
trabalhadores de elevado nível sócios econômico, extremamente qualificados
trabalhando em indústrias sofisticadas com características de primeiro mundo, isto
sem se considerar os funcionários administrativos ou “executivos” que para todos os
efeitos também são considerados trabalhadores, pela equipe de saúde do trabalhador.
Assim, para os trabalhadores do primeiro grupo, a Higiene Ocupacional ou
mesmo a Segurança do Trabalho, são assuntos menos prioritários, pois alimentação,
segurança pública e emprego são fundamentais para que continuem vivos e
trabalhando. Para estes, apenas uma atuação básica da equipe de saúde o
trabalhador com medidas de Higiene e Toxicologia Ocupacional que reduzam a
exposição ocupacional a valores próximos aos limites de exposição ocupacional já
serão de grande valia e raramente pode-se fazer mais que isto.
Para os trabalhadores do segundo grupo, por exigências até dos próprios
trabalhadores, necessitamos de um LEO para uma substância nova, ou a adaptação
do LEO a uma condição de trabalho não usual, ou mesmo deve-se controlar apenas o
desconforto, de uma determinada operação.
Assim devem ser desenvolvidos estudos e pesquisas de Higiene e Toxicologia
Ocupacional no sentido de atender às necessidades da população, muitas vezes
contrastantes, mas que refletem nossa realidade.

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Capítulo 2. Limites de exposição ocupacional a agentes químicos 49

2.14. TESTES
1. Limite de Exposição Ocupacional é uma denominação:
a) Utilizada apenas na Europa.
b) Aceita no Brasil, embora na NR-15 utilize a denominação Limite de
Tolerância.
c) Legalmente instituída pela NR-15.
d) Aceita apenas nos processos judiciais.
e) n.d.a.

2. O critério mais aceito tecnicamente para estabelecimento de um padrão em


Saúde Publica é:
a) Especulativo
b) Prognosticador
c) Restritivo
d) Normatizador
e) n.d.a.

3. Na relação dose e efeito temos uma região inicial onde pode aparecer o
fenômeno de Hormesis que é:
a) Aumento da dose com aumento proporcional do efeito.
b) Aumento da dose e diminuição proporcional do efeito.
c) Diminuição da dose e diminuição proporcional do efeito.
d) Nenhuma das anteriores.
e) n.d.a.

4. O TLV (preconizado pela ACGIH) para chumbo é:


a) Menor que o da NR-15, anexo 11.
b) Maior que o da NR-15, anexo 11.
c) Igual ao da NR-15 anexo 11.
d) O chumbo não possui Limite de Tolerância pela NR-15, pois se encontra na
NR-15, Anexo 13.
e) n.d.a.

5. Qual é a situação, segundo os limites propostos pela ACGIH. de um


trabalhador exposto a 15 ppm de anidrido acético por um período de 10 minutos
2 vezes por jornada?
a) Abaixo do TLV-TWA e abaixo do TLV-STEL.
b) Acima do TLV-TWA e abaixo do TLV-STEL.
c) Acima do TLV-TWA e acima do TLV-STEL.
d) As alternativas “a” e “c” estão corretas.
e) n.d.a.

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
50

CAPÍTULO 3. RECONHECIMENTO DOS FATORES INTERVENIENTES NA


EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL

OBJETIVOS DO ESTUDO

Neste capítulo você vai iniciar o processo e avaliação ambiental da exposição


ocupacional a um agente químico. Iniciando o assunto você deve definir o melhor
possível à exposição a ser avaliada e todos os fatores que podem influir na qualidade
do resultado

Ao final do capítulo você deverá:


 Conhecer os objetivos de uma avaliação.
 Identificar os agentes e o risco de exposição ocupacional.
 Conhecer os fatores dos locais de trabalho e atividades a serem avaliadas
que interferem na definição de uma estratégia de amostragem.

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
51
3.1. INTRODUÇÃO
Conhecendo os Limites de Exposição Ocupacional que são os padrões de
referência, pode-se realizar o processo de avaliação da exposição que se inicia com o
reconhecimento do risco e dos fatores intervenientes na exposição ocupacional e na
própria avaliação.
Em Higiene Ocupacional, a avaliação da exposição ocupacional a um agente
químico, através de uma medida da concentração na atmosfera e a comparação com
o limite de exposição ocupacional, é também usualmente denominada simplesmente
avaliação ambiental.
A avaliação ambiental não é uma atividade simples de medição de
concentração. Muito mais que medir a concentração de um agente químico no ar,
estima à exposição ocupacional a este agente. Considerando-se este âmbito bem
maior, na prática da Higiene Ocupacional, diversas questões são freqüentemente
formuladas e que deveriam ser respondidas adequadamente, sob pena de se
comprometer todo o processo de avaliação. Exemplos:
 O que medir ou analisar?
 Onde medir ou coletar amostras?
 Quantas amostras coletar?
 Quantos funcionários avaliar?
 Por quanto tempo deve-se coletar uma amostra?
 Quando avaliar novamente?
 A avaliação ambiental deve ser simultânea com a avaliação biológica?
Para responder a estas e outras questões similares, deve-se planejar o processo
de avaliação e executá-lo adequadamente. Para tal, diversas etapas devem ser
seguidas de forma sistemática:
 Definição do objetivo da avaliação;
 Conhecimento dos locais de trabalho e atividades a avaliar;
 Identificação das substâncias presentes e reconhecimento do risco de
exposição ocupacional;
 Definição da estratégia de amostragem;
 Coleta de amostras;
 Análise do material coletado;
 Cálculos dos resultados e estimativa da exposição ocupacional;
 Comparação com limites de exposição ocupacional;
 Comparação com os dados da avaliação e monitorização biológica.

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
52
3.2. OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO.
Uma avaliação ambiental poderá ter diversos enfoques, tais como:
 Descobrir o que está causando determinados sinais ou sintomas nos
funcionários;
 Atender notificação de um agente de fiscalização, reclamação trabalhista ou
outro processo judicial;
 Identificar as substâncias eventualmente presentes;
 Verificar a eficiência de uma medida de controle instalada;
 Realizar estimativa da exposição ocupacional dentro de um Programa de
Higiene Ocupacional de Monitorização Ambiental e Biológica.
No primeiro caso, é muito difícil para o higienista ir a um local de trabalho no
presente a fim de avaliar a exposição ocupacional que ocorreu no passado e que
provocou os sinais e sintomas, hoje detectados em um funcionário. Não que seja de
todo impossível, mas será sempre uma estimativa, partindo-se da premissa que o
observado hoje poderá ser bastante próximo, mas nunca exatamente igual ao que
aconteceu no passado.
Idealmente deve-se ter um Programa de Monitorização Ambiental e Biológica
com uma série histórica de dados que permitam a qualquer tempo estabelecer, ou
refutar o nexo causal, entre a exposição ocupacional e eventual quadro clínico ou
reclamação trabalhista, além de possibilitar introduzir medidas de controle, sempre
que necessárias.
Nos casos de processos judiciais, notificações etc., embora não se possa
esquecer os aspectos técnicos e científicos envolvidos, os aspectos legais são
prioritários e sempre que possível estes assuntos devem ser conduzidos por
profissionais da área jurídica, cabendo ao higienista dar apenas o suporte técnico.
Uma avaliação pode ainda ser realizada para testar a eficiência de uma dada
medida de controle, como por exemplo, um sistema de ventilação. Neste caso são
coletadas amostras geralmente em pontos fixos, antes e depois das modificações,
tomando-se o cuidado de manter invariáveis todos os demais fatores intervenientes.
Finalmente, dentro de um programa de Higiene e Toxicologia Ocupacional as
avaliações são realizadas de forma sistemática e repetitiva de modo a acompanhar a
exposição ocupacional e introduzir medidas de controle sempre que necessário. Numa
situação ideal, a qualquer momento, qualquer membro da equipe de saúde do
trabalhador ou o próprio trabalhador pode ter acesso às informações e resultados das
avaliações ambientais e biológicas a que ele foi submetido, contando para isto,
inclusive com o respaldo da Norma Regulamentadora número 1 (BRASIL, 1978).

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
53
3.3. ALGUNS CONCEITOS
Uma vez que não se pode, nem é necessário, medir a exposição ocupacional de
todos os funcionários, durante todos os dias de trabalho ao longo de suas vidas, a
avaliação e a monitorização ambiental estão necessariamente baseadas em
amostragem, que não deve ser confundida com a coleta de amostras, assim, é
interessante fixar alguns conceitos utilizados em Higiene e Toxicologia Ocupacional
(COLACIOPPO e GOMES, 1984):

3.3.1. AMOSTRAGEM
Amostragem é o conjunto de procedimentos empregados na estimativa da
exposição ocupacional, que permitem obter amostras representativas e resultados
com confiabilidade determinada em função da precisão e exatidão das técnicas
utilizadas.

3.3.2. COLETA DE AMOSTRAS


Coleta de amostras é o procedimento prático de coletar uma porção do agente
químico, geralmente presente na atmosfera e na zona respiratória de um funcionário,
com equipamento de coleta específico.

3.3.3. AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL


Avaliação da exposição ocupacional é a medida da concentração de uma dada
substância no ar, que representa a exposição do trabalhador, seguida de comparação
com um padrão adequado, geralmente o Limite de Exposição Ocupacional.
Estas atividades quando realizadas como parte de um programa, recebem a
denominação de monitorização (DELLA ROSA, SIQUEIRA e COLACIOPPO, 2003):

3.3.4. MONITORIZAÇÃO AMBIENTAL


Monitorização ambiental é a avaliação sistemática e repetitiva da exposição
ocupacional, através da medida da concentração de um dado agente químico, no local
de trabalho que represente esta exposição, seguida de comparação com um padrão
adequado e visando a introdução ou modificação de medidas de controle sempre que
necessárias.

3.3.5. MONITORIZAÇÃO BIOLÓGICA


Monitorização biológica é a avaliação sistemática e repetitiva da exposição
ocupacional através da medida da concentração de um agente químico em um fluido
biológico, de seu produto de biotransformação ou de sua ação tóxica, visando a
introdução ou modificação de medidas de controle sempre que necessárias.

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
54
3.4. IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE E RECONHECIMENTO DO RISCO
Tão importante como porque avaliar é saber o que avaliar. Entre milhares de
substâncias químicas potencialmente presentes em um local de trabalho, devemos ter
certeza do que procurar. E o reconhecimento de um risco químico de forma correta e
completa é de suma importância, pois da definição exata do que se pretende avaliar
depende toda a estratégia de amostragem.
Assinala-se que em janeiro de 2003 o CHEMICAL ABSTRACT SERVICE (CAS
2003) possui registradas 20.975.066 substâncias, das quais 5.683.821 estão
comercialmente disponíveis o que indica a eventual dificuldade de identificação se não
se dispuser de fonte seguras de informações. São pontos básicos da fase de
reconhecimento:
 Identificar as substâncias presentes;
 Conhecer seus produtos de transformação ou degradação decorrentes do
processo produtivo;
 Conhecer o comportamento das substâncias, após sua liberação no local de
trabalho;
 Conhecer as propriedades toxicológicas, tais como vias de penetração,
efeitos a curto, médio e longo prazo, toxicidade, efeitos aditivos, limites de
exposição ocupacional e interação com outros agentes químicos ou físicos;
 Avaliar o risco de a substância provocar exposição ocupacional significativa.
Em determinadas situações de difícil identificação dos agentes químicos
presentes, pode-se completar a fase de reconhecimento já com algumas amostras,
geralmente coletadas na pior situação, com o intuito de se conhecer as substâncias
presentes. Esta seria uma Avaliação Preliminar, cujos resultados podem auxiliar a
direcionar a estratégia de amostragem para uma avaliação completa da exposição
ocupacional.

3.5. CONHECIMENTO DOS LOCAIS DE TRABALHO E ATIVIDADES A SEREM


AVALIADAS
Uma vez conhecida à substância, devemos conhecer o local e as atividades
envolvidas a fim de determinar os fatores intervenientes na exposição e levantar os
dados básicos, para a elaboração de uma estratégia de amostragem. Não existe um
procedimento único de avaliação que possa ser aplicado a todo e qualquer caso, pois
diversos são os fatores intervenientes na exposição e na avaliação, que deve ser
realizada de tal forma que permita sua reprodução no futuro, dentro de um programa
de monitorização e que origine resultados comparáveis ao longo do tempo. Assim,
com relação aos locais de trabalho e atividades a avaliar deve-se conhecer
detalhadamente os seguintes itens, conforme Colacioppo e Gomes (1984):

3.5.1. ÁREA
É importante definir a área onde se realiza a avaliação, utilizando-se referências
fixas, como galpões, colunas, grandes equipamentos e estações de trabalho, de forma
a se identificar corretamente o local e futuramente poder-se reavaliar.

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
55
3.5.2. NÚMERO DE EXPOSTOS
A determinação do número de expostos deve ser feita no local e por observação
detalhada da situação, considerando-se todos os funcionários presentes e expostos ao
longo do tempo e observando-se os diversos fatores intervenientes na exposição, tais
como:

3.5.2.1. Funções, tarefas ou atividades


É fator determinante da exposição, contudo um funcionário que não manuseia
um produto químico pode estar exposto pela proximidade de um local, como no caso
do ajudante de pintor ou de soldador.

3.5.2.2. Turnos, turmas e horários de trabalho


O número total de funcionários de uma seção pode estar dividido em diversos
períodos de trabalho, originando a necessidade de se definir se a avaliação será
realizada tendo em vista o posto de trabalho ou função, ou será focalizada num
determinado funcionário, acompanhando-o, por exemplo, quando realiza rodízio de
função ou de local, ao longo da sua jornada ou mesmo mudando de horário ou turno.
Deve-se observar ainda que em empresas com dois ou mais turnos de trabalho, é
possível encontrar tarefas que são executadas somente num determinado horário, o
que origina exposições diferentes em cada turno, devendo-se assim, avaliar cada
turno, como um grupo isolado.

3.5.2.3. Movimentação de materiais e de pessoal


O local onde se realiza uma tarefa nem sempre é o mesmo e nem sempre os
funcionários permanecem fixos em um posto de trabalho, assim estas variáveis devem
ser observadas detalhadamente. Casos típicos são os operadores de indústria
química, supervisores, e pessoal de controle de qualidade e manutenção. Por outro
lado um material que pode ser a fonte da exposição, como por exemplo, um solvente
que foi aprovado para utilização em pintura num dado local, pode estar sendo levado
para outro para limpeza. O próprio processo pode ainda movimentar o material de uma
seção para outra.

3.5.3. FREQÜÊNCIA E DURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO


É importante conhecer-se a freqüência com que determinada tarefa é executada,
ao longo de uma jornada, ou mesmo da semana ou de meses e considerar-se ainda
as informações toxicológicas. Como exemplos, no caso do chumbo, o Saturnismo que
ocorre com exposições relativamente baixas e de longo prazo, outros agentes
caracterizam-se pelo efeito de curto prazo, como o gás clorídrico que provoca irritação
imediata do sistema respiratório.

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
56
3.5.4. RITMO DE TRABALHO E PRODUÇÃO
A variabilidade no ritmo de trabalho e do tipo de peça ou produto sendo
produzido pode interferir ou não na exposição ocupacional. Por exemplo, em uma
indústria química, operando em sistema fechado, pouca diferença há em relação à
exposição do operador se o equipamento está produzindo uma ou outra quantidade de
litros do produto por hora. Já num sistema aberto onde deve ser feita à carga manual
de reatores, com mais produção, podemos ter mais cargas por hora e, portanto, mais
exposição. Num outro exemplo, um soldador na mesma cabine, com as mesmas
condições ambientais e de trabalho pode ter exposição diferente dependendo da peça
que está sendo soldada, pois embora sejam semelhantes algumas peças podem
receber mais solda que outras.

3.5.5. VENTILAÇÃO E CONDIÇÕES CLIMÁTICAS


Pode-se ter uma atividade executada em local dependente da ventilação
artificial, controlada e constante, como por exemplo, cabines de pintura de indústria
automobilística, com temperatura, umidade e velocidade do ar sob rígido controle. Por
outro lado, existem locais menos exigentes onde os sistemas de ventilação podem
funcionar independentemente do processo produtivo, possibilitando a realização de
uma operação até com a ventilação desligada.
Outros locais ainda dependem exclusivamente das condições climáticas. São as
atividades realizadas em locais externos ou em indústrias abertas, como química e
petroquímica, não possuindo paredes ou telhados, recebem influência direta das
condições climáticas, devendo-se sempre verificar temperatura, velocidade e direção
dos ventos ao longo do dia e sua possível interferência na exposição ocupacional e
nas avaliações, no caso de chuva, por exemplo.

3.5.6. FATORES INTERVENIENTES NA COLETA DE AMOSTRAS


Durante a visita preliminar deve-se verificar a possibilidade de utilização dos
equipamentos de coleta, pois existem fatores que determinam, favorecem ou mesmo
impedem a realização de um determinado tipo de coleta, como, por exemplo, quando
há necessidade de coleta de amostras pessoais, porém somente se dispõe de
equipamento de grande porte, como o elutriador vertical para poeira de algodão. Em
locais com campo magnético muito forte há necessidade de se utilizar bombas de
coleta com baterias blindadas, pois estas podem perder a carga elétrica, reduzindo o
tempo de coleta de amostras. Em locais com possibilidade de vazamentos de
inflamáveis, deve-se utilizar equipamentos que não produzam faíscas
(“intrinsecamente seguros”). Em locais com umidade acima de 85% deve-se utilizar
elementos de captação adequados e que não sofram o efeito da umidade elevada.

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Capítulo 3. Reconhecimento dos Fatores Intervenientes na Exposição Ocupacional
57
3.6. TESTES
1. Assinale a alternativa correta:
a) Avaliar e monitorar são sinônimos
b) A freqüência da monitorização ambiental depende das condições de trabalho
e concentrações encontradas previamente.
c) A freqüência da monitorização ambiental é sempre de 6 meses, segundo a
NR-9.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) n.d.a.

2. Os objetivos de uma avaliação ambiental são:


a) Descobrir o que está causando determinados sinais ou sintomas nos
funcionários
b) Atender notificação de um agente de fiscalização, reclamação trabalhista ou
outro processo judicial
c) Identificar as substâncias eventualmente presentes
d) Verificar a eficiência de uma medida de controle instalada
e) todas as alternativas estão corretas.

3. São pontos básicos da fase de reconhecimento:


a) Identificar as substâncias presentes;
b) Conhecer seus produtos de transformação ou degradação decorrentes do
processo produtivo;
c) Conhecer o comportamento das substâncias, após sua liberação no local de
trabalho;
d) Avaliar o risco de a substância provocar exposição ocupacional significativa.
e) todas as alternativas estão corretas.

4 Tratando-se de um agente químico o número CAS que aparece associado ao


nome químico, significa:
a) o número da substância na ONU (o mesmo usado pelo Ministério dos
Transportes)
b) o número da substância na lista dos TLV da ACGIH
c) o número do registro no Chemical Abstract (identificador)
d) o número de vezes que a substância foi estudada para determinar o TLV
e) n.d.a.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
58

CAPÍTULO 4. AVALIAÇÃO DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL

OBJETIVOS DO ESTUDO

Neste capítulo são dadas as bases para se estabelecer uma estratégia de


amostragem adequada a cada caso, escolhendo os melhores equipamentos a serem
empregados e formas de utilização, divisão dos trabalhadores em grupos, tempo de
coleta de cada amostra, número de amostras e análises a serem feitas.
Neste capítulo também vamos finalizar o assunto de avaliar a exposição
ocupacional, recebendo do laboratório os resultados das análises e interpretando os
resultados. Retornamos ao conhecimento toxicologia e Limites de Exposição Ocupacional
para calcular uma média quer melhor represente não só a exposição, mas também o
risco de aparecimento de um dano à saúde do trabalhador exposto.

Ao final do capítulo você deverá saber definir uma estratégia de amostragem


levando em consideração:
 Método a ser empregado;
 Equipamentos para coleta de amostras;
 Tipo de amostras a serem coletadas;
 Os Grupos Homogêneos de Risco;
 Como e porque calcular médias;
 Calcular os índices de exposição;
 Estimar o risco de exposição acima do limite.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
59

4.1. DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE AMOSTRAGEM


Baseados nos dados obtidos conforme descrito anteriormente pode-se elaborar a
estratégia de amostragem, para tanto convém rever alguns conceitos básicos para este
assunto, comumente utilizados em língua portuguesa e relativos à Higiene Ocupacional
(COLACIOPPO, 2000):

Quadro 4.1.

 Estratégia de amostragem: é o conjunto de procedimentos elaborados de

forma sistemática que estabelece os métodos e técnicas de coleta de

amostras.

 Método: é o conjunto amplo de todos os procedimentos utilizados na

avaliação, exemplo: coleta de vapores de solventes por adsorção e análise

por cromatografia em fase gasosa.

 Técnica: é o detalhamento específico de uma determinada operação,

exemplo: utilizar tubos coletores de alta capacidade e com uma camada

prévia de sulfato de sódio para eliminar a influência da umidade do ar.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
60

Durante o processo de elaboração de uma estratégia devemos contemplar os


seguintes tópicos:

4.1.1. MÉTODO EMPREGADO


Ao se definir o método a ser empregado devem ser considerados todos os
procedimentos, desde a coleta até a análise do material, devendo necessariamente ser
feito contato prévio com o laboratório que irá analisar, pois um pequeno detalhe pode pôr
a perder todo o trabalho de campo.

4.1.2. EQUIPAMENTOS PARA COLETA


Diversos equipamentos podem ser considerados e devem ser escolhidos de forma
criteriosa, dependendo do agente e de fatores como o tempo de coleta necessário e a
metodologia empregada. Alguns permitem a coleta por várias horas, outros por apenas
alguns minutos. A eficiência de coleta de um determinado coletor pode ser alta para uma
substância e nula para outra e assim por diante.
O laboratório tem meios de indicar o elemento de captação (filtro, tubo absorvente
etc.) mais adequado à coleta pretendida, além de fornecer indicações do tempo mínimo e
máximo de coleta, conservação de amostras etc., o que pode inclusive determinar a
escolha do equipamento. Um estudo mais detalhado deste assunto é feito nos itens 4.2,
coleta de amostras e em 4.3, análise do material coletado.

4.1.3. PESSOAL NECESSÁRIO PARA REALIZAR E ACOMPANHAR AS COLETAS


DE AMOSTRAS
A coleta de amostras nunca é uma atividade automatizada ou realizada pelo
próprio trabalhador. Há sempre necessidade de acompanhamento das coletas, pois
diversas podem ser as causas de obtenção de um resultado mais alto ou mais baixo que
o esperado. Todos os fatores intervenientes devem ser observados e anotados de forma
a podem ser interpretados, ou mesmo explicar adequadamente um resultado.
Por outro lado, ao se estabelecer uma estratégia que prevê a coleta em dois ou três
turnos ou em horários não usuais, deve-se ter pessoal capacitado e treinado para o
acompanhamento nestes horários. Outra dificuldade com o pessoal de coleta é a entrada
em locais perigosos ou de difícil acesso, ou ainda setores controlados por questões de
segurança patrimonial. Um estudo mais detalhado deste assunto é feito no item 4.2,
coleta de amostras.

4.1.4. AMOSTRAS PESSOAIS E EM PONTOS FIXOS


Geralmente é dada preferência à coleta de amostras pessoais, pois o interesse
maior é a proteção do trabalhador eventualmente exposto, contudo em alguns casos,
como por exemplo, em galvanoplastia, onde o operador transfere seqüencialmente um
cesto de peças de um tanque para outro e está exposto aos diversos vapores ou
neblinas, implicando em diversos equipamentos de coleta, o que nos abrigaria a colocar
no trabalhador diversos equipamentos, o que não é prático nem confortável e pode
inclusive alterar a rotina de trabalho.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
61

Outra alternativa seria realizar uma coleta em cada dia o que prolongaria o período
de coleta. Se for possível a procura de pior situação, utiliza-se para isto um ponto fixo na
proximidade de cada tanque, simulando-se a presença do trabalhador naquele ponto
durante todo o período avaliado.
Uma outra situação semelhante é quando uma determinada máquina é utilizada por
diversos funcionários, como por exemplo, um tanque de lavagem de peças de uso
coletivo.
A coleta em ponto fixo pode ser indicada ainda, quando não se tem uma fonte
definida e pontual, por exemplo, em uma área na qual se deseja verificar a extensão da
contaminação do ar, oriunda de uma seção próxima.
Ao se realizar a procura de melhor ou de pior situação, utiliza-se à coleta em ponto
fixo é quando se suspeita que mesmo na melhor situação, ou seja, simulando-se um
trabalhador parado na posição de menor possibilidade de exposição, esta ainda é
elevada, indicando assim a necessidade urgente de medidas de controle, ou ao contrário,
quando na pior situação possível, a exposição ainda é aceitável, não havendo
necessidade de intervenção.
No caso de modificações de uma medida de controle a avaliação em um ponto fixo
pode ser a mais indicada, desde que se possa reproduzir a situação antes e depois da
modificação, obtendo-se resultados realmente comparáveis, tendo como única variável à
medida de controle.

4.1.5. AVALIAÇÕES DE FUNCIONÁRIOS E DE FUNÇÕES


No início de uma jornada um trabalhador que está num posto de trabalho realizando
uma dada tarefa pode trocar de posto com outro trabalhador depois de alguns minutos,
horas ou dias. Neste caso o que fazer? Passa-se o equipamento de coleta para o outro
que realiza a mesma função, ou deixa-se com o primeiro trabalhador?
Tudo depende do que se quer avaliar. Se a exposição ocupacional originada na
função e se procura a pior situação, de permanência no posto de trabalho durante toda a
jornada e visa-se introduzir medidas de controle específicas no local, ou se queremos
avaliar a exposição real dos trabalhadores, originada nos diversos postos de trabalho
possíveis durante uma jornada, não esquecendo que as estratégias de amostragem
devem ser elaboradas de forma tal, que ao se obterem os resultados, estes permitam
direcionar as medidas de controle, indicando os locais ou momentos em que devem ser
realizadas as intervenções.

4.1.6. GRUPOS HOMOGÊNEOS DE RISCO (GHR)


Para efeito de amostragem e considerando os fatores intervenientes anteriormente
citados, a população total dos funcionários eventualmente expostos deve ser dividida em
grupos homogêneos, em relação ao risco que se pretende avaliar.
Um grupo é homogêneo em relação a um dado risco, quando o avaliador sem
auxílio de instrumentos, não pode identificar um funcionário com maior ou menor risco de
exposição ocupacional.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
62

Quadro 4.2.
Citar alguns critérios que podem ser utilizados para a divisão em GHR:

 Espaciais: Departamento, Seção, Setor, Unidade Industrial

 Temporais: Turno, Turma, Dias ou Horários

 Funcionais: Operadores, Supervisores, Mecânicos.

Quando em um GHR for identificado ainda na fase de planejamento, um funcionário


com maior exposição por um motivo qualquer, este não deverá fazer parte do grupo
homogêneo, devendo, contudo, ser avaliado mesmo que seja em um grupo de apenas
um funcionário.
Verifica-se assim que estes critérios, sendo um pouco subjetivos, podem ser mais
ou menos exigentes, notando-se que quanto mais grupos forem criados, maior será o
número total de avaliações a serem feitas.

4.1.7. NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS A SEREM AMOSTRADOS EM CADA GHR


Em cada GHR será escolhido aleatoriamente um grupo amostral, que representará
o grupo, sendo, porém menor e proporcional em número de funcionários. A técnica mais
aceita para esta escolha é a descrita no Manual de Estratégias de Amostragem do
NIOSH onde Liedel (1977) nos fornece tabelas com 90 e 95% de confiança, que no grupo
amostral teremos pelo menos um funcionário nos 10% mais altos níveis de exposição.
Na tabela 4.1, verifica-se que em grupos com 7 ou menos funcionários, para uma
confiança de 90% e com 10 ou menos funcionários, para uma confiança de 95%, devem
ser avaliados todos os componentes dos grupos, não havendo amostragem.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
63

Tabela 4.1. Tamanho do grupo amostral com grau de confiança de 90 e 95%


Confiança de 90% Confiança de 95%
Grupo Grupo Grupo Grupo
Homogêneo Amostral Homogêneo Amostral
8 7 12 11
9 8 13-14 12
10 9 15-16 13
11-12 10 17-18 14
13-14 11 19-21 15
15-17 12 22-24 16
18-20 13 25-27 17
21-24 14 28-31 18
25-29 15 32-35 19
30-37 16 36-41 20
38-49 17 42-50 21
50 18 51 e + 29
51 e + 22
Nota: Número de pessoas a serem escolhidas e amostradas para que se tenha uma
probabilidade de 90 ou 95% de ter pelo menos uma nos 10% superiores de níveis de
exposição.
Fonte: (LIEDEL, 1977)

4.1.8. NÚMERO DE AMOSTRAS A SEREM COLETADAS EM CADA FUNCIONÁRIO


E TEMPO DE COLETA DE CADA AMOSTRA
Tanto o número de amostras a serem coletadas em cada trabalhador, como a
duração de cada coleta depende basicamente dos seguintes fatores:
 Substância que se deseja avaliar. Suas propriedades físicas, químicas e
toxicológicas;
 Condições de trabalho e ambientais;
 Métodos e técnicas empregadas.
Substâncias de efeito imediato e grave como no caso do gás cloro, que produz
grande irritação do sistema respiratório, que pode ser fatal, há necessidade de
monitorização constante, com coletas de curta duração, com poucos segundos de
intervalo e sistema de análise instantânea e alarme que inicie um procedimento de
emergência e abandono de área.
Em outros casos mais comuns, as medidas podem ser de algumas horas, como,
por exemplo, a coleta de mercúrio, chumbo, solventes, etc., cujos efeitos sobre o
organismo só aparecem em exposição de médio e longo prazo.
Deve-se sempre consultar a metodologia para a coleta e a análise substância, pois
é fundamental que o tempo de coleta seja suficiente para se obter material em
quantidade mínima para análise, por exemplo, não há metodologia comercialmente
disponível para avaliação de sílica livre cristalina com coleta de curtos períodos, para os
níveis de concentração usualmente encontrados em ambientes de trabalho, devendo-se
realizar coletas de amostras únicas de toda jornada.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
64

Com relação ainda à duração das coletas, uma questão freqüente é se, se deve ou
não interromper a coleta durante os períodos de não atividade, como paradas para café,
banheiro, almoço e outras rotineiras ou não. Usualmente todas as interrupções normais
durante uma dada atividade são consideradas como integrantes desta atividade. O
horário de almoço, embora considerado de trabalho do ponto de vista trabalhista, pela
Higiene Ocupacional é geralmente considerado período de não exposição, não sendo
avaliado. Lembramos que os limites de exposição ocupacional estão estabelecidos para
uma jornada de 8 horas diárias de trabalho, o que exclui o intervalo para refeição.
Não devem ser esquecidas as jornadas não usuais, como turnos de 6, 8, 12 ou
mesmo até 24 horas, em muitos casos sem intervalo para refeição, que muitas vezes é
feita no próprio local de trabalho. Cada caso deve ser estudado isoladamente.
Para uma jornada de 8 horas, uma amostra única de 8 horas nos dá diretamente a
estimativa da média ponderada pelo tempo naquele período, porém pode-se querer
verificar se há diferença entre o período da tarde e o da manhã, se forem realizadas
tarefas diferentes nestes períodos, assim é desejável que se faça coleta de duas
amostras durante a jornada.
Seguindo o raciocínio acima, uma estratégia que pode ser considerada é a de se
medir todos os diferentes níveis de exposição, ao longo da jornada, com uma série de
amostras, por exemplo, 8 amostras de uma hora cada, ou ainda, no limite deste
raciocínio, uma série de amostras instantâneas e coletadas ao longo de toda a jornada o
que fornece o nível de exposição a cada instante. Como vimos do ponto de vista
toxicológico esta estratégia não é indicada para todas as substâncias, e por outro lado
poderá ou não ser tecnicamente realizável, ou mesmo economicamente viável.

Figura 4.1. Número de amostras e duração da coleta ao longo de uma jornada de


trabalho de 8 horas.
Fonte: Liedel, 1977 com adaptações.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
65

Um resumo da duração e número de amostras ao longo de uma jornada padrão de


8 horas pode ser visto no quadro acima em que são indicadas as coletas de amostras de
várias formas:
 Cobrindo todo o período;
 Cobrindo parte ou partes do período (nunca inferior a 70% do total);
 Uma única amostra de longa duração;
 Várias amostras consecutivas de longa duração (mais de 1h cada);
 Várias amostras instantâneas ou de curta duração (alguns minutos cada).
No caso de avaliação através da coleta de amostras de curta duração, ainda
segundo Liedel, (1977), temos os seguintes números de amostras a serem coletadas:

Tabela 4.2. Número de amostras de curta duração para avaliação da exposição a uma
substância com LEO teto, em função do limite de confiança.
Limite de Duração de cada coleta
confiança 15 min. 10 min. 5 min.
0,90 16 17 22
0,95 19 21 28
Fonte: (LIEDEL, 1977).

Para substâncias de efeito em curto prazo e LEO com valor teto, a estratégia pode
ser a de procura de pior situação, ou seja, deve-se acompanhar as atividades e avaliar
somente nos momentos de maior possibilidade de exposição.
Para substâncias de efeito de longo prazo, a estimativa da média ponderada pelo
tempo deve ser baseada preferencialmente em amostras de longa duração sendo que a
utilização de amostras instantâneas é a pior alternativa, contudo se for utilizada, as
coletas devem ser realizadas em intervalos de tempo aleatórios e fixos,
independentemente da atividade ou tarefa.

4.1.9. DIAS E HORÁRIOS DAS COLETAS DE AMOSTRAS


Tendo conhecimento dos fatores intervenientes na exposição e estabelecidos os
critérios básicos da estratégia de amostragem, mencionados anteriormente, pode-se
agora agendar a coleta para determinados dias que representem dias normais de
produção e exposição ocupacional. Dependendo do caso, estas avaliações podem ser
realizadas no inverno e repetidas no verão, ou ainda realizadas nos 3 turnos, de um
mesmo dia ou em dias diferentes, se houver razão para isto.
Observa-se ainda que a recomendação técnica é de se realizar, num mesmo grupo
homogêneo, pelo menos 3 avaliações, (repetidas em 3 dias na mesma situação), para
efeito de confiabilidade no resultado e aumento da chance de se encontrar situações de
maior exposição.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
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4.1.10. CONSERVAÇÃO E TRANSPORTE DE AMOSTRAS


Os critérios para conservação e remessa de amostras devem ser previamente
definidos e em contato com o laboratório que irá realizar as análises, dentro da
metodologia validada. Para algumas substâncias o tempo decorrido entre a coleta e
análise é curto e crítico, devendo-se articular muito bem o prazo para não se perder as
amostras. Por outro lado, a maioria das substâncias permite tempo razoável de até vários
dias, ou semanas entre a coleta e a análise. Para um grande grupo de substâncias a
conservação geralmente se faz por refrigeração.

4.2. COLETA DE AMOSTRAS


A coleta de amostras de agentes químicos na atmosfera é uma importante fase da
avaliação ambiental e antes de se planejar as atividades de coleta deve-se além da
identificação da substância, conhecer como esta se apresenta dispersa na atmosfera.
Uma substância pode estar dispersa na atmosfera a nível molecular como:

Quadro 4.3.

 Gás - estado natural aeriforme de uma substância nas condições usuais de

temperatura e pressão.

 Vapor - estado aeriforme de uma substância que nas condições usuais de

temperatura e pressão é um líquido ou um sólido.

Ressalta-se que os estados acima são para as condições usuais, ou sejam, 20°C e
760 mmHg, que são diferentes das condições normais de 0°C e 760 mmHg.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
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Quadro 4.4.
Uma substância pode também estar dispersa na atmosfera como material

particulado (aerodispersóides):

 Poeira – partículas sólidas em suspensão na atmosfera e resultantes da

desintegração mecânica de substâncias orgânicas ou inorgânicas.

 Fumo – partículas sólidas em suspensão na atmosfera e resultantes da

condensação de vapores, geralmente de metais em fusão e seguida de

oxidação.

 Neblina ou névoa – partículas líquidas em suspensão na atmosfera,

resultante da condensação de vapores, ou da dispersão mecânica de

líquidos.

 Fumaça – mistura de gases, vapores, partículas sólidas e líquidas em

suspensão na atmosfera, resultante da combustão incompleta de

substâncias.

Dependendo da forma como uma substância se encontra na atmosfera, de suas


propriedades físicas e químicas e ainda do tempo de coleta de amostra necessário,
diversos meios de coleta podem ser empregados.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
68

4.2.1. COLETA DE UM VOLUME DA ATMOSFERA


Uma forma relativamente simples de se coletar uma amostra é coletar um volume
de toda atmosfera, por exemplo, coleta de alguns litros de ar em um saco plástico. Muitas
limitações deste método não permitem uma aplicabilidade prática.
São particularmente indicados para coleta em ponto fixo e em elevadas
concentrações como gás de escapamento de automóveis ou emissões fugitivas, quando
se quer identificar os gases ou vapores presentes. No caso de exposição ocupacional em
baixas concentrações, a massa da substância coletada é geralmente insuficiente para
análise, ou ainda o fato de estar diluída no ar, necessita então de uma fase prévia de
concentração no laboratório. A coleta de um volume de atmosfera não se aplica a
material particulado em suspensão, nem a grandes volumes.

4.2.2. COLETA COM ANÁLISE INSTANTÂNEA


Pode-se detectar a presença ou mesmo estimar a concentração de uma substância
no ar diretamente com papéis reativos, tubos indicadores ou instrumentos de leitura
direta. A maioria destes instrumentos aplica-se à medição de gases e vapores, sendo
alguns aplicáveis à medição de material particulado.

4.2.2.1. PAPÉIS REATIVOS


Papéis reativos podem ser empregados de maneira simples apenas como
identificação da presença da substância, como por exemplo, gás sulfídrico utilizando-se
papel impregnado com solução de acetato de chumbo, este fica cinza ou negro pela
formação de sulfeto de chumbo e podem ser utilizados apenas como alerta.

4.2.2.2. TUBOS INDICADORES


Tubos indicadores utilizam aproximadamente a mesma técnica de reações
coloridas, porém mais elaborados, permitindo estimar a concentração pela intensidade ou
tamanho da cor desenvolvida. São bastante práticos não exigem grande treinamento,
mas por outro lado são específicos para cada substância ou grupo de substâncias e são
basicamente indicados para avaliações de curta duração.

4.2.2.3. INSTRUMENTOS DE LEITURA DIRETA


Instrumentos de leitura direta podem ser genéricos como os “snifers”
(“cheiradores”), que apenas detectam a presença de uma substância sem identificá-la,
outros mais completos como os cromatógrafos portáteis, podem identificar e quantificar
um agente químico presente em um dado local. Temos ainda equipamentos portáteis,
com sensores específicos para algumas substâncias, como monóxido de carbono,
dióxido de enxofre, formaldeído etc. São, todavia, equipamentos de elevado custo,
devendo ser manuseados por técnicos treinados e geralmente dedicados a avaliações de
curta duração, sendo de bastante utilidade em situação de emergência ou não rotineira.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
69

4.2.3. COLETA DO CONTAMINANTE

Quadro 4.5.
Com a finalidade de aumentar o tempo de coleta e a representatividade da

amostra em relação à jornada avaliada e ainda poder utilizar os recursos de um

laboratório bem instalado, pode-se coletar apenas o contaminante. Para tal, os

métodos mais utilizados são:

a. Adsorção – retenção de um gás ou vapor em um sólido, por exemplo,

carvão ativo;

b. Absorção – retenção de um gás ou vapor em um líquido, por

exemplo, água;

c. Filtração – retenção de material particulado em um filtro, por

exemplo, filtro membrana de PVC – policloreto de vinila.

No caso particular da adsorção, podemos utilizar o processo passivo ou ativo. No


primeiro temos os amostradores passivos ou dosímetros que utilizam a técnica de
passagem através de uma membrana e retenção por adsorção, em uma camada de
carvão ativo sem auxílio de bombas de amostragem. São bastante práticos e simples de
utilizar, sendo empregados geralmente para avaliações de longo período.
Os demais métodos utilizam um elemento de captação acoplado a uma bomba
aspirante, que é geralmente portátil e deve ter sua vazão conhecida e calibrada antes e
depois de cada coleta e o volume final coletado corrigido para as condições usuais a que
se referem os limites de exposição ocupacional (ACGIH, 2002).

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
70

4.3 ANÁLISE DO MATERIAL COLETADO


Para uma correta análise do material coletado, como dito anteriormente, deve haver
sempre contato prévio com o laboratório para definição do elemento de captação, tempo
de coleta e condições de armazenamento e transporte, além do fornecimento de outras
informações necessárias para a análise, como temperatura de coleta, pressão e ou
altitude e definição clara do que deve ser analisado. Diversos casos de perda de
amostras poderiam ser evitados com este contato prévio.
O laboratório deve ainda dispor de metodologia validada para as análises, ou seja,
utilizar métodos reconhecidos ou recomendados, utilizar padrões certificados, geradores
de atmosfera padrão e seguir os protocolos de validação recomendados por entidades
reconhecidas, onde é descrita a metodologia de coleta de amostras simultâneas em
número adequado, por exemplo, pelos menos 5 amostras em cada concentração,
variando desde 0,1 a 3 vezes o LEO, verificando a estabilidade, condições de
armazenamento, recuperação, sensibilidade, precisão, exatidão, saturação etc., além de
seguir ainda programas de controle de qualidade intra e extra-laboratorial o que
determina a confiabilidade dos resultados (CHASIN et al 1994; AZEVEDO e
COLACIOPPO, 1986).

4.4. CÁLCULOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA ESTIMATIVA DA


EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL
Após receber uma listagem de resultados de análises das amostras, algumas
questões são freqüentemente formuladas:
 Pode-se comparar diretamente cada resultado com o LEO?
 É possível utilizar um valor médio?
 Como calcular uma média que represente o grupo?
 A dispersão dos resultados obedece a uma distribuição normal?
 O quão seguro é um valor ligeiramente abaixo do LEO?
 Resultados abaixo do LEO garantem-nos que nunca teremos exposição acima
deste?

4.4.1. MÉDIA PONDERADA PELO TEMPO (MPT)


Como visto anteriormente para substâncias de toxicidade em longo prazo e para
cada trabalhador avaliado é calculada uma MPT, que é média aritmética entre as
concentrações encontradas durante a jornada e ponderadas, pelo tempo que cada uma
representa.

T1  C1   T2  C2   ...  Tn  Cn 


MPT 
T

Onde:
MPT = Média Ponderada pelo Tempo
C = concentração do agente
T = tempo que a concentração existiu ou tempo de exposição de um trabalhador a
esta concentração.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
71

Num exemplo, para uma jornada de 8 horas de um pintor exposto a vapores de um


solvente, foram coletadas 3 amostras seqüenciais de 2 horas cada e obtidos os seguintes
resultados:
Tabela 4.3. Exemplo de resultados obtidos em uma avaliação ambiental

Amostra Tempo de coleta CONCENTRAÇÃO

1 2h 20 ppm

2 2h 30 ppm

3 2h 40 ppm

Para cálculo da MPT coloca-se no numerador: (20x2) + (30x2) + (40x2) e no


denominador o somatório de T, ou seja, 6 horas do total das amostras, ou 8 horas
referentes à jornada completa.
Para saber-se o que entra no denominador deve-se conhecer a exposição. Se o
período amostrado (6 horas) é semelhante ao restante não amostrado (2 horas), os
valores obtidos neste período de 6 horas são representativos da MPT daquele dia e de
todos os outros dias, assim o denominador é 6. O que origina uma MPT igual a 30 ppm.
Se por outro lado, foram avaliadas apenas 6 horas, porque nas 2 horas restantes
não havia exposição e este período restante de 2 horas é considerado como parte da
jornada, a concentração zero deve fazer parte do cálculo: (20x2) + (30x2) + (40x2) +
(0x2) no numerador e 8 no denominador, originando uma MPT igual a 22,5 ppm.
No segundo caso, o trabalhador tendo 2 horas de exposição zero tem uma média
para a jornada, inferior àquela que estaria, se ficasse exposto 8 horas. A Carga Corpórea
que é quantidade total absorvida do agente tóxico, como se denomina em Toxicologia, é
menor no segundo caso em relação ao primeiro.
Conforme discutido no item 2.6, recorda-se que o elemento básico da MPT, (C x T)
é a concentração que representa a exposição ocupacional multiplicada pelo tempo que
existiu. Este é o conceito de dose em toxicologia. A dose correta diferencia o veneno do
medicamento, dizia Paracelcius e extrapolando para a Higiene Ocupacional, para se
obter um efeito há necessidade de exposição durante um dado tempo.

4.4.2. ESTIMATIVA DE MÉDIAS PARA UM GHR


Se num GHR de 20 trabalhadores, por exemplo, escolhermos um grupo amostral
de 13. Para cada um dos 13 trabalhadores escolhidos, calcula-se a MPT e a seguir
atribui-se uma única média para o grupo todo, inclusive para os trabalhadores
amostrados ou não.
Se os resultados das avaliações fossem distribuídos segundo uma curva normal,
poder-se-ia fazer uma média aritmética das MPT e esta seria a média para todos os 20
trabalhadores. Contudo, segundo Liedel (1997) a distribuição das concentrações faz-se
segundo uma curva log-normal.
Para as concentrações usualmente encontradas em ambientes de trabalho, a
distribuição é log-normal, pois são encontrados poucos valores elevados, altas
concentrações não aparecem com muita freqüência, somente por curtos períodos. Por

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
72

outro lado, além de se acumularem próximas ao zero, as concentrações de uma


substância no ar não possuem valor negativo.
A importância deste fato é que a média para uma curva normal é a média
aritmética, mas para uma curva log-normal a média é geométrica e que conforme o
desvio padrão geométrico, as diferenças entre as duas médias pode ser de até cerca de
50 % como se observa na tabela 4.4.

Tabela 4.4 Desvio padrão geométrico-DPG, média geométrica-MG, de distribuição de


valores que possuem a mesma média aritmética MA

DPG MG MA

1,2 9,8 10

1,5 9,2 10

2,0 7,9 10

3,0 5,5 10

Fonte: LIEDEL (1977).

4.4.3. COMPARAÇÃO COM OS LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL

4.4.3.1. CÁLCULO DOS ÍNDICES DE EXPOSIÇÃO


A comparação com os limites de exposição ocupacional deve ser feita levando em
conta primeiro o tipo de efeito para o qual o limite foi estabelecido, se de valor máximo,
valor teto ou MPT conforme discutido no Capítulo 2, e a seguir calculado o índice de
exposição.
Em virtude de ter-se um limite diferente para cada substância, uma forma de
simplificar a visualização é a utilização do IE que é calculado como segue:

C
IE 
LEO
Onde:
IE = Índice de Exposição
C = concentração ou médias das concentrações
LEO = Limite de Exposição Ocupacional

Sempre que o IE for igual a 1 a exposição é igual ao limite, se superior a 1 estará


acima do limite. Se acima de 0,5 estará acima do Nível de Ação, e assim por diante.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
73

No caso de exposição simultânea a substâncias de efeito aditivo o IE é calculado


como segue:

C1 C 2 C
  ...  n
L1 L2 Ln

Onde:
C1 = Concentração ou média da substância 1
L1 = Limite da substância 1

Os casos mais comuns em que existem efeitos aditivos e há necessidade do


somatório dos IE como indicado, são os fumos metálicos em operações de solda e os
vapores de solventes orgânicos.

4.4.3.2. COMPARAÇÃO DOS VALORES E MÉDIAS OBTIDAS EM UMA


AVALIAÇÃO
A comparação dos valores das concentrações, médias e índices de exposição pode
ser resumida no quadro a seguir.

Tabela 4.5 Concentrações e médias obtidas em uma avaliação ambiental e


referências
Concentrações medidas
Funcionários
em um dia ou período
no grupo MPT MG MG/LEO
amostral 1 2 3 4 5
1 x x x x x x
2 x x x x x x
3 x x x x x x
4 x x x x x x
5 x x x x x x
6 x x x x x x
...
n x x x x x x x x
Comparar com NA NA NA IE
LT–VT ou VM LT-MPT LT-MPT
TLV-C ou STEL TLV-TWA TLV-TWA

Notas: LEO = Limite de Exposição Ocupacional


LT-VM = Limite de Tolerância -Valor Máximo (Brasil, 1978)
LT-VT = Limite de Tolerância -Valor Teto (Brasil, 1978)
LT-MPT = Limite de Tolerância - Média Ponderada pelo Tempo (Brasil, 1978)
MG = Média Geométrica
MG/LEO = IE = Índice de Exposição
NA = Nível de Ação
NR-15 = Norma Regulamentadora 15 (Brasil, 1978)
TLV-C = Threshold Limit Value - Ceiling (ACGIH, 2002)
TLV-STEL = TLV - Short Term Exposure Level (ACGIH, 2002)
TLV-TWA = TLV - Time Weight Average (ACGIH, 2002)
X = Valor encontrado.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
74

Na tabela anterior são indicadas as principais comparações a serem feitas com os


valores das concentrações obtidas, em uma avaliação da exposição ocupacional a um
agente químico. O IE geralmente é calculado com a MG ou ainda com a MPT, contudo,
pode ser também calculado para todas as concentrações individuais medidas em um
determinado dia ou período, o que é útil nos casos de elaboração de relatórios e
apresentações onde pode melhorar o entendimento, principalmente quando se trata de
diversas substâncias com efeitos aditivos ou não, mas com limites diferentes.

4.4.4. ESTIMATIVA DA PROBABILIDADE DE ULTRAPASSAR O LIMITE DE


EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL
De posse dos resultados das concentrações que representam a exposição
ocupacional num dado período, estes são comparados com os padrões e, considerando-
se um resultado abaixo do LEO e as variações normais do processo produtivo, uma
questão bastante pertinente a ser levantada neste momento é se existe possibilidade de
haver exposição acima do LEO em um outro período qualquer, quando da visita de uma
fiscalização, por exemplo.
Existem alguns métodos estatísticos diferentes para realizar esta estimativa, todos,
porém baseados na variação dos resultados obtidos, pois quanto maior for à variabilidade
das concentrações em um dado local ou atividade, maior será a probabilidade de se ter
um valor elevado. Os 2 métodos mais difundidos são:
 Indicado pelo NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health /
USA (LIEDEL, 1977);
 Indicado pelo INRS – Institute Nationale de Recherche et de Securité / França
(HERVÉ BAZIN, 1989).
Considere-se um caso prático, de um grupo de soldadores de uma grande indústria
metalúrgica, da Grande São Paulo, expostos homogeneamente a fumos metálicos
conforme descrito por Colacioppo (1985), e divididos em vários grupos homogêneos em
ralação à exposição. Um destes grupos, com 46 soldadores que executam basicamente
as mesmas tarefas e operações de solda MIG (Metal-Inert Gas).
Segundo o critério estatístico de amostragem, destes 46 soldadores, foram
escolhidos aleatoriamente 17 e realizada a coleta de amostras de fumos metálicos na
zona respiratória de cada um destes. Cada amostra teve a duração de cerca de 90% da
jornada e repetida em 3 dias, gerando um total de 51 amostras. Em cada amostra foram
analisados os metais: manganês cobre e ferro.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
75

4.4.4.1. ESTIMATIVA SEGUNDO O NIOSH


Conforme recomendação deste método, para cada metal foi calculada a média
ponderada pelo tempo de cada soldador amostrado e a Média Geométrica – MG para os
grupos e a seguir calculados o IE – Índice de Exposição, o LCS – Limite de Confiança
Superior e o LCI – Limite de Confiança Inferior e o DPG – Desvio Padrão Geométrico,
conforme indicado a seguir:

LCS  IE  CV
LCI  IE  CV

Onde:
CV = Coeficiente de Variação = média / desvio padrão

Os resultados constam da Tabela 4.6.

Tabela 4.6. Parâmetros obtidos na avaliação da exposição a fumos metálicos em um


grupo de soldadores

METAL LEO MG
DPG IE LCS LCI
mg/m3 mg/m3
Manganês 0,2 0,06 1,92 0,30 0,53 0,05

Cobre 0,2 0,04 2,19 0,21 0,44 0,00

Ferro 5,0 2,23 1,79 0,45 0,68 0,22


Notas: LEO = Limites de Exposição Ocupacional
MG = Média Geométrica
DPG = Desvio Padrão Geométrico (das MG)
IE = Índice de Exposição
LCS = Limite de Confiança Superior (do IE)
LCI = Limite de Confiança Inferior (do IE)
Fonte: ANAMI e COLACIOPPO (1992) (com adaptações).

Pela tabela anterior, observa-se que no caso do ferro, há variação dos resultados,
mas pode-se afirmar, com 95% de confiança, que a exposição a estes fumos está
bastante próxima de 2,23 mg/m3 (IE de 0,45) e compreendida entre 0,68 e 0,22 do LEO.
Contudo, devido à variabilidade dos resultados a exposição não permanece sempre
baixa, podendo estar em alguns períodos acima do LEO.
Para estimar a probabilidade de ultrapassar o LEO utiliza-se o gráfico da Figura 4.1,
que fornece, conforme o desvio padrão geométrico, as curvas de risco de ultrapassar o
LEO em pelo menos 5% das concentrações medidas, em um dia qualquer. Assim, temos
as chances de ultrapassar o LEO em cerca de 40% para o Manganês, 35% para o cobre
e 55% para o ferro.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
76

A = Coeficiente de confiança (probabilidade) que ao menos 5% ou mais dos


trabalhadores tenham uma exposição real diária superior ao LEO; B = Índice de
Exposição em um dia; GSD = Desvio Padrão Geométrico.
Fonte: Liedel (1977).
Figura 4.1. Curvas de risco de super exposição para medidas de média ponderada pelo
tempo para jornadas de 8 horas

4.4.4.2. ESTIMATIVA SEGUNDO O INRS


Hervé-Bazin (1989), recomenda uma análise mais simples dos resultados, indicada
inclusive pela Norma EM 689 da Comunidade Européia (CEN, 1989), que indica ainda
outras interpretações estatísticas interessantes. O método propõe que se calcule para
cada substância e para cada grupo homogêneo um valor μ segundo a equação:

(log LEO  log MG)



DPG

Onde:
LEO = Limites de Exposição Ocupacional;
MG = média geométrica;
DPG = desvio padrão geométrico.

O valor de μ calculado deve ser utilizado para determinação da probabilidade de se


encontrar um valor superior ao LEO em um dia qualquer, utilizando-se para isto a Tabela
4.7 a seguir:

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
77

Tabela 4.7 Probabilidade (%) de se encontrar um valor de exposição ocupacional acima


do LEO, em função da variável μ

μ % μ % μ %

0,0 50 1,0 16 2,0 2,5

0,1 46 1,1 14 2,1 2,0

0,2 42 1,2 12 2.2 1,5

0,3 38 1,3 10 2,3 1,0

0,4 34 1,4 8 2,4 0,9

0,5 31 1,5 7 2,5 0,7

0,6 28 1,6 6 2,6 0,5

0,7 24 1,7 5 2,7 0,4

0.8 21 1,8 4 2,8 0,3

0.9 18 1,9 3 2,9 0,2

3,0 0,14

Fonte: HERVÉ-BAZIN (1989).

Para o exemplo do grupo de soldadores, encontram-se os seguintes valores:


 Para manganês μ = 0,27 e probabilidade de 42%;
 Para o cobre μ = 0,3 e probabilidade de 38%;
 Para ferro μ = 0,1 e probabilidade de 46%.

Segundo a recomendação do método, probabilidades abaixo de 0,1% de ocorrência


de uma concentração acima do LEO são aceitáveis e superiores a 5% são inaceitáveis.
Probabilidades intermediárias são inconclusivas, devendo ser objeto de estudo mais
completo. Desta forma, segundo este método, encontra-se respectivamente 42, 38 e 46%
de probabilidade de termos uma exposição acima do LEO, havendo, portanto
necessidade de introdução de medidas de controle.
Pelos dois exemplos de interpretação anteriores, verifica-se que as probabilidades
encontradas, embora próximas não são exatamente iguais, pois no primeiro exemplo as
probabilidades são geradas por um gráfico e por conseqüência os valores são
aproximados. Observa-se ainda que no método do NIOSH temos a probabilidade de 5%
das medições excederem o LEO, enquanto que o INRS indica a probabilidade de
qualquer medida ser superior ao LEO.
Deve ser considerado ainda que estas interpretações estatísticas e adaptações de
limites para jornadas não usuais devem ser realizadas somente em casos específicos e
de exposição próxima ao LEO, com controle adequado e dentro de um programa de
monitorização ambiental e biológica, uma vez que estes limites são baseados em

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
78

estimativas e suposições, não oferecendo garantias que um determinado valor de


concentração seja um número absoluto e exato a ponto de se realizarem
sistematicamente adaptações matemáticas de ajuste em qualquer avaliação.

4.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A exposição ocupacional a agentes químicos só pode ser adequadamente avaliada
ou estimada com os conhecimentos da Higiene e da Toxicologia Ocupacional, não
prescindindo ainda do concurso da Medicina do trabalho, da Química e Toxicologia
Analítica, da Estatística, Educação e diversas outras ciências. Torna-se claro, que
assuntos relativamente complexos como a Avaliação e a Monitorização da exposição
ocupacional só poderão ser corretamente realizados seguindo ainda as orientações da
Administração e Gerenciamento, as técnicas de Controle de Qualidade e as
determinações da Legislação pertinente.
Assim, estas atividades devem ser realizadas de forma adequada dentro do PPRA
– Programa de Proteção de Riscos Ambientais e articulada com os demais programas
como o PCMSO, PPR e demais programas subordinados a um programa maior de Saúde
do Trabalhador.
Finalmente, observa-se que os programas referidos e ainda, as técnicas específicas
de coleta e análise de amostras de agentes químicos presentes do ambiente de trabalho
e o estudo detalhado e prático dos equipamentos serão objetos de estudo posterior.

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Capítulo 4. Avaliação da Exposição Ocupacional
79

4.6. TESTES
1. Na ausência de um Limite de Tolerância na NR-15, para um determinado agente
químico, segundo a NR-9 deve-se utilizar:
a) a legislação da OSHA / USA
b) a recomendação do NIOSH / USA
c) a recomendação da ACGIH / USA
d) a norma da OIT ou da Comunidade Européia
e) n.d.a.

2. O somatório das relações entre a concentração estimada dos diversos agentes


químicos presentes pelos seus respectivos limites de exposição deve:
a) sempre ser realizada, pois a exposição é simultânea.
b) ser realizada somente se os agentes possuírem o mesmo tipo de efeito sobre o
organismo.
c) ser realizada somente se os agentes possuírem a mesma intensidade de efeito
sobre o organismo.
d) ser realizada somente para solventes orgânicos.
e) n.d.a.

3. Para a coleta do contaminante, pode-se utilizar os seguintes métodos:


a) Adsorção
b) Absorção
c) Filtração
d) Adsorção, Absorção e Filtração
e) Nenhum dos métodos citados nas alternativas pode ser utilizado para a coleta de
contaminante

4. Os aerodispersóides podem ser:


a) Poeira
b) Fumo
c) Neblina ou névoa
d) Fumaça
e) Todas as alternativas estão corretas

5. São meios de coleta:


a) Coleta de um volume da atmosfera
b) Instrumentos de leitura direta
c) Papéis reativos
d) Tubos indicadores
e) Todas as alternativas estão corretas

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
80

CAPÍTULO 5. AÇÃO ERGONÔMICA E ANÁLISE DO TRABALHO

OBJETIVOS DO ESTUDO

Após esta aula você deverá estar apto a entender os objetivos da ergonomia,
distinguir os conceitos de tarefa e atividade e os aspectos gerais da abordagem
ergonômica.
Tópicos mais importantes a serem apresentados:
 A transformação do trabalho;
 Tarefa;
 Atividade;
 A construção de uma ação ergonômica.

LEITURA DO LIVRO

Para esta aula você inicialmente deverá ler o capítulo 1 e 2 do livro texto:
“Compreender o trabalho para transformá-lo – A prática da Ergonomia”.
Após a leitura, revise os conceitos apresentados no livro texto completando os
quadros no decorrer da apostila.
As páginas entre parênteses apresentadas ao longo deste roteiro referem-se ao
livro texto adotado.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
81

5.1. INTERAÇÕES DA AÇÃO ERGONÔMICA NA PROPOSIÇÃO DE


TRANSFORMAÇÃO NO TRABALHO
A transformação do trabalho contribui para:
A concepção de situações de trabalho que não alterem a saúde dos operadores †, e
nas quais estes possam exercer suas competências ao mesmo tempo num plano
individual e coletivo e encontrar possibilidades de valorização de suas capacidades.
Alcançar os objetivos econômicos determinados pela empresa, em função dos
investimentos realizados ou futuros.
A concepção ou adaptação do sistema de produção tradicional considera aspectos
financeiros, técnicos ou organizacionais. Nesses projetos, é decidido antecipadamente o
orçamento de investimento, os objetivos quantitativos e qualitativos de produção, as
principais escolhas tecnológicas, as opções para compra de máquinas. Também são
elaboradas as previsões sobre os fluxos de produção, a implantação das máquinas, a
estrutura organizacional. Por último é que se pensa na tarefa a ser cumprida, se define
um “perfil” do trabalhador “adequado”. As seguintes questões então aparecem:
 De quem e quantos dispomos?
 Estão disponíveis na empresa ou devem ser contratados?
 Qual é a sua idade?
 Qual é o seu estado de saúde?
 Quais são os “saber-fazer” disponíveis e, em que medida correspondem às
necessidades criadas?
Dar coerência a um sistema cuja concepção ficou incompleta é uma tarefa que o
departamento de recursos humanos tentará fazer, ou seja, adaptar os “meios” humanos
às características técnicas e organizacionais do sistema de produção.
Este tipo de abordagem deixa de lado a existência dos trabalhadores enquanto
sujeitos, há na empresa uma vaga representação sobre as características humanas em
situação de trabalho. Tendo como conseqüência os acidentes, as doenças, o sofrimento
e as falhas. Infelizmente, em muitas ocasiões, é imputada aos trabalhadores a
responsabilidade sobre os problemas que acontecem. A noção de erro humano, ainda
muito em voga, é parcial e equivocada, pois não incorpora a complexidade de uma
situação de trabalho e da própria atividade das pessoas para produzir.
Uma representação empobrecida da realidade leva a escolhas que deixam pouco
espaço para que se considere a variabilidade humana e a variabilidade na produção.
Quais as conseqüências deste fato?
 Deixa pouco lugar à variabilidade da produção;
 Subestima a influência da rigidez da organização do trabalho ou dos
constrangimentos de tempo;
 Subestima as conseqüências de certos tipos de organização do tempo sobre a
saúde;
 Ignora as contradições entre estruturas organizacionais rígidas e a necessidade
de uma cooperação eficaz entre os trabalhadores;
 Enfim, ela não dá a devida atenção ao conteúdo de formações mal adaptadas
às situações de trabalho.

††
O termo “operador” designa toda pessoa que exerce uma atividade profissional, quaisquer que sejam suas
características (ofício, classificação profissional, sexo, etc.)
eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.
Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
82

Muitos problemas na produção e para a saúde dos trabalhadores são devidos à


negligência quanto às informações procuradas e encontradas, o tratamento que as
pessoas dão para as informações, suas estratégias, as mudanças devidas à experiência,
os raciocínios, os gestos, as posturas e o esforço físico.
Ao contrário da visão mais clássica para elaboração de projetos, procuramos levar
em conta a complexidade da situação de trabalho para melhorar a concepção dos
equipamentos, ferramentas, da organização do trabalho e dos processos de capacitação.

Quadro 5.1.

Como o operador regula as atividades para que não ocorram incidentes ou acidentes?

 Ele dispõe, no momento adequado, das informações necessárias ao tratamento

e à resolução desses incidentes?

 Estas são compreensíveis?

 Ele tem à sua disposição as ferramentas para o conserto?

 Ele precisa se colocar numa postura totalmente desequilibrada para ter acesso

ao local onde deve agir?

A análise do trabalho permite corrigir as representações redutoras do homem


aumentando a probabilidade de eficácia e a redução dos riscos. É importante que não se
considere o humano na produção como uma variável de ajustamento, como um “meio de
trabalho”, como um “fator” - ADAPTÁVEL.
Para tal se faz necessário considerar suas características tais como: idade, sexo,
capacidade de adaptação, pausas para descanso, riscos inerentes à atividade mesmo
que sejam respeitadas as normas de segurança, os modos operatórios prescritos e
compreendidos por este, os turnos de trabalho, etc.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
83

O ser humano é considerado como um “meio de trabalho” por que:


 Sua idade e seu sexo não importam, e suas capacidades de adaptação são
infinitas;
 Funcionam de maneira constante;
 Não correm riscos em seu trabalho, desde que respeitem as normas de
segurança e os modos operatórios prescritos;
Presume-se que eles possam:
 Ler uma informação manuscrita e pouco legível;
 Trabalhar tanto de dia quanto de noite da mesma maneira, sem que isso tenha
conseqüências para sua saúde e vida social;
 Digitar dados no computador em ritmo constante, sem cometer erros;
 Seguir procedimentos bastante estritos “quando tudo vai bem” ou, ao contrário,
transgredi-los para acelerar uma cadência, fazer um conserto rápido, ou assegurar
o andamento de uma fila de espera num guichê;
 Aprender novas tarefas muito rapidamente, sem ajuda.
Um dos desafios para o ergonomista é tentar entender e estabelecer um diálogo
entre os diferentes pontos de vista existentes na empresa. Todos são importantes,
apesar das claras diferenças em termos do poder de decisão. O enriquecimento do ponto
de vista dos diferentes atores sociais é fundamental para que se consiga mudanças
efetivas no trabalho. Lembramos que o trabalho, no que se refere à atividade é ainda um
grande desconhecido, é negligenciado na sua complexidade e na importância para
garantir a produção.

Quadro 5.2.

Por que a ação ergonômica não consiste unicamente na aplicação de métodos,

realizar medidas, observar e entrevistar?

Porque é preciso:

 Ajustar seus métodos e as condições de sua aplicação ao contexto, às

questões e ao que foi identificado como estando em jogo;

 Inscrever as possibilidades de transformações do trabalho que disso decorre

num processo de elaboração do qual participem os diferentes atores

envolvidos, com seus pontos de vista e interesses próprios.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
84

5.2. TRABALHO, TAREFA E ATIVIDADE


AVISO: “O objetivo principal da ergonomia, como proposto nesta obra, é
compreender o trabalho para transformá-lo. Esta opção faz com que a metodologia a ser
desenvolvida (objeto de estudo do livro texto), não seja submetida a uma lógica de pura e
simples aplicação. Quem estiver buscando receitas simples para aplicar numa
determinada situação provavelmente ficará frustrado com o conteúdo desta disciplina.
Quem estiver buscando aprofundar os seus conhecimentos, refletir sobre as práticas
correntes e adquirir novas ferramentas para trabalhar, encontrará alento neste estudo”.
A palavra trabalho designa realidades distintas: as condições de trabalho, os
resultados e a atividade de trabalho. Note-se que um não existe independentemente do
outro e, que dependendo do papel da pessoa na empresa, as preocupações com relação
ao trabalho são diferenciadas. Além disso, há diferentes disciplinas que estudam o
trabalho sob pontos de vista diferentes, sob recortes diferenciados da realidade.
No nosso caso não queremos estudar o trabalho, mas agir sobre ele, transformar
as tarefas, enriquecer os diferentes pontos de vista, melhorá-lo.
O ergonomista também deve ter a precaução de não considerar apenas um tipo de
conhecimento quando analisa e propõe, pois esta redução pode levar a propostas que ao
considerar uma vertente, por exemplo, a questão da fisiologia, possa se tornar ineficaz se
não considerar outros aspectos, como as interações e, também os aspectos psicológicos.

5.2.1. TAREFA E ATIVIDADE DE TRABALHO


É interessante notar os usos que se faz da palavra atividade. Quando alguém da
direção fala, está geralmente se referindo à produção, ao resultado de uma atividade
coletiva, uma vez que para a empresa importa os seus objetivos e resultados. Cada
interlocutor vai se referir ao que lhe parece mais significativo e, mesmo o operador fala
mais dos objetivos, dos resultados que deve obter, dos meios que utiliza. Todas essas
referências estão ligadas às tarefas que cumprem.
Os conceitos que diferenciam a tarefa, a atividade de trabalho e o trabalho são
descritos a seguir:
 A tarefa – resultado antecipado em condições determinadas
 A atividade de trabalho – como a tarefa é realizada
 O trabalho – como unidade entre a atividade, as condições reais e os resultados
da atividade.
A tarefa determina e constrange a atividade do trabalhador; ao mesmo tempo, é um
quadro indispensável para que ele possa operar: ao determinar sua atividade, ela o
autoriza.
A atividade de trabalho é uma estratégia de adaptação à situação real de trabalho,
objeto da prescrição. Ela corresponde à maneira como usamos nossas potencialidades
(físicas, cognitivas e psíquicas) para dar conta da tarefa.
O trabalho é socialmente determinado, imposto e remunerado.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
85

5.3. ATIVIDADE DE TRABALHO: UMA FORMA DA ATIVIDADE HUMANA


A atividade de trabalho é diferenciada das outras atividades humanas, ela é
formalizada, socialmente determinada e reconhecida através de diferentes formas de
contrato social. Dentre muitas atividades não remuneradas, o exemplo mais evidente é o
do trabalho doméstico. O trabalho pode também ter vários formatos, desde aquele
exercido por pessoas que conseguiram trabalhar na profissão almejada, até as mais
variadas formas de trabalho assalariado. O trabalho pode ser visto pelo seu caráter
duplo, o pessoal e o sócio-econômico. Estes dois aspectos serão os fundamentos para a
atuação do ergonomista.

5.3.1. A DIMENSÃO PESSOAL DO TRABALHO


Todo resultado da atividade é um ergon – uma obra pessoal. Através dela o sujeito
consegue dar sentido à sua relação com o mundo. É importante para o ergonomista
colocar em relevo as:
Estratégias e características pessoais para atingir os objetivos, a gestão pessoal no
trabalho, a singularidade do resultado, o investimento pessoal, o sentido do “pertencer”,
de apropriação do espaço e dos instrumentos, e os traços pessoais.
Na figura 5.1 está o diagrama que trata do caráter pessoal do trabalho:

Figura 5.1. O Caráter pessoal do trabalho.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
86

5.3.2. O CARÁTER SOCIOECONÔMICO DO TRABALHO


O trabalho tem uma inserção social, na verdade é a relação com a organização que
transforma a atividade pessoal em atividade de trabalho. O resultado desta atividade tem
uma inserção coletiva, mesmo quando aparentemente se trabalha sozinho. Além disso, o
resultado pode ser atingido a partir do trabalho de pessoas que não se vêem, que estão
muito distantes geograficamente. Sempre há interferência recíproca entre as atividades,
para jusante e, mesmo para montante.
Na figura 5.2 está o diagrama que trata do o caráter socioeconômico do trabalho.

Figura 5.2. O caráter sócio-econômico do trabalho

O resultado do trabalho é ao mesmo tempo:


 Uma obra pessoal, que poderá ou não lhe dar satisfação, orgulho, etc.;
 Um bem ou um serviço cuja utilidade será objeto de um reconhecimento social
no momento do ato de troca, qualquer que seja sua forma histórica (escambo ou
troca por intermédio de um equivalente monetário, etc).

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
87

5.4. TAREFA: UM CONJUNTO DE PRESCRIÇÕES, MAS, TAMBÉM DE


REPRESENTAÇÕES
O objetivo é reduzir o trabalho improdutivo e otimizar ao máximo trabalho produtivo.
Impor a definição do trabalho em relação ao tempo.
A tarefa é definida em prescrições, procedimentos, instruções, características do
dispositivo técnico, normas, instruções, objetivos, metas, tempos alocados.
Pensar na dialética existente entre os determinantes externos ao trabalhador e a
maneira como é possível realizá-la, seja por questões internas à pessoa ou por variações
no sistema de produção.
No final das contas, as propostas de transformação serão voltadas para mudanças
nas tarefas em questão, a partir de demandas relativas à saúde dos trabalhadores e a
disfunções na produção. O resultado da AET pode servir tanto para as tarefas já
existentes como para tarefas que serão definidas em uma nova instalação, uma nova
máquina, etc.
Os dois tópicos relacionados a origem das informações sobre os determinantes da
atividade são:
 As da hierarquia, que informam com mais freqüência sobre os critérios de
apreciação e de sanção do que sobre a objetividade dos constrangimentos;
 As dos operadores envolvidos, não necessariamente mais objetivos, mas que
são essenciais, já que intervêm diretamente na organização de sua atividade.

5.5. A FUNÇÃO INTEGRADORA DA ATIVIDADE DE TRABALHO


A função integradora da atividade estabelece interdependência entre os
componentes da situação de trabalho, onde o trabalhador estabelece um compromisso
entre a definição dos objetivos de produção, suas características próprias e sua
capacidade de atingir o objetivo, condições de realização de sua atividade, postas a sua
disposição pela empresa, o reconhecimento social de uma qualificação e sua negociação
na forma de um contrato de trabalho.
Os tópicos que relacionados aos determinantes da atividade de trabalho são:
 De um lado, o trabalhador com suas características específicas;
 Do outro, a empresa, suas regras de funcionamento, o contexto de realização do
trabalho;
 No centro, o que contribui à organização desses dois conjuntos:
 O estatuto do trabalhador e o salário, objetos de negociação;
 A tarefa, conjunto de objetivos e prescrições definidos exteriormente ao
trabalhador.
Os resultados da atividade de trabalho são:
 Por um lado, com a produção tanto de um ponto de vista quantitativo como
qualitativo;
 Por outro lado, com as conseqüências que acarretam aos trabalhadores, que
podem ser positivas ou negativas.
Os fatores internos e externos ao trabalhador na determinação da atividade são:

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
88

Fatores internos próprios de cada trabalhador:


Sexo; idade; tempo de serviço; estado de saúde; estado no momento, determinado
pelos ritmos biológicos, o cansaço; a formação inicial; a formação profissional continuada;
os itinerários profissionais.

Fatores externos:
Objetivos a alcançar; meios técnicos; organização do trabalho; regras e normas;
quantidade de trabalhadores; normas de segurança; espaço de trabalho; o contrato.

5.6. A ABORDAGEM ERGONÔMICA


A distinção entre a análise da atividade de trabalho e análise do trabalho, é
importante, pois apesar de ser a base da produção desconhecida e, este
desconhecimento gera muitos problemas para os trabalhadores e para a produção.

5.6.1. A SEPARAÇÃO ENTRE A FUNÇÃO ORGANIZADORA E A ATIVIDADE DE


TRABALHO
Este é um legado de Taylor que estudou atentamente o trabalho. Os seus
sucessores criaram um movimento empírico que separou cada vez mais o projeto da
execução, fato que acarretou uma distância considerável entre o prescrito e o efetivo.
A divisão fundamental em relação ao sistema homem/tarefa é:
 A organização do trabalho reduz o conhecimento da atividade de trabalho ao
necessário para a organização desta atividade;
 A gestão de pessoal não mais se ocupa do que se faz no posto de trabalho (é o
papel da organização); o departamento de pessoal se encarrega da seleção e da
administração do conjunto dos problemas formalizados pelo contrato de trabalho.

5.6.2. TRANSFORMAÇÕES E CONTRADIÇÕES


Este quadro começa a se modificar a partir dos anos 70, com a introdução de novas
formas de organização do trabalho. No entanto, a atividade continua a ser uma grande
desconhecida e, ainda há muitos problemas nestas formas de organização, onde a AET
pode ser útil. Palavras com sentido muito amplo e, por vezes, dúbio, são muitos
empregados e mostram uma mudança significativa com relação ao taylorismo clássico:
controle, vigilância, informação, comunicação, flexibilidade, reatividade, mobilidade,
iniciativa, motivação, responsabilidade, inteligência, empregabilidade, ampliação e
enriquecimento das tarefas, autonomia, comitês de qualidade, entre outros.
Verifica-se que muitas mudanças são implantadas com velocidade diferente entre
os setores da produção, entre as empresas de um mesmo setor e, mesmo entre
departamentos de uma mesma empresa. Muitas mudanças foram impulsionadas pela
automação e pela informatização.
Reconhecer a atividade de trabalho pode ser muito útil para reduzir a distância
entre a concepção e a operação efetiva. Isto já ocorre, de certa forma, quando os
trabalhadores têm espaços para se expressar e participar de projetos. A AET ajuda a
explicitar a atividade e a sistematizá-la.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
89

Quadro 5.3.

O que está prioritariamente em jogo na AET?

Compreender os determinantes da atividade de trabalho dos homens e das

mulheres; agir sobre eles; assegurar uma certa perenidade a essa ação.

5.7. O CONFRONTO ENTRE OS PONTOS DE VISTA


A Analise Ergonômica do Trabalho (AET) não é uma proposta para tratar das
condições de trabalho, tratadas como fatores separados. A idéia é sim, fazer uma análise
que integre diferentes aspectos, mostrando a sua inter-relação como condicionantes da
tarefa. Desta forma ela se aproxima de conceitos oriundos da teoria da complexidade e
se distancia do modelo determinista.

Quadro 5.4.

Cite as características dos sistemas vivos apresentados no livro texto.

Em particular, os sistemas vivos não se resumem à soma dos elementos que

os compõem. Portanto, é impossível prever o efeito de um fator

independentemente dos outros. Além disso, são espontaneamente ativos, capazes

de gerir as relações que estabelecem com o seu ambiente.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
90

5.7.1. PONTOS DE VISTA DIFERENTES


As três diferentes leituras do funcionamento da empresa refletem com maior ou
menor intensidade os seus pontos de vista, são eles orientados pelos resultados, pelas
condições da produção e pela atividade de trabalho em si.

Quadro 5.5.

Qual o ponto de vista dos resultados?

RESPOSTA:

O ponto de vista do resultado é o mais estruturado e homogêneo por ser

composto pelos vários departamentos, para os quais foram construídas várias

ferramentas: administrativo, financeiro, comercial, gestão da produção e qualidade.

No caso do ponto de vista das condições de produção, a empresa é vista com


relação ao uso dos meios de produção. Está relacionado com os resultados que são
vistos de maneira diferente em cada departamento técnico.
O ponto de vista da atividade de trabalho é relativamente recente, a discussão
oriunda deste ponto de vista, onde entra em questão o conteúdo das tarefas, pouco foi
objeto de discussões e negociações entre atores sociais.
A confrontação entre esses postos de vista forma a base das negociações para o
estabelecimento de novos compromissos que podem ser assumidos entre as partes
envolvidas, o enfraquecimento ou ausências de um deles pode ter conseqüências
significativamente negativas para o desenvolvimento da empresa e dos trabalhadores. O
ponto de vista mais ausente ainda, nas empresas, é justamente o da atividade.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
91

5.8. UMA LEITURA DO FUNCIONAMENTO DA EMPRESA DO PONTO DE VISTA


DA ATIVIDADE
A ação ergonômica se justifica quando se busca transformar o trabalho, desta
forma os seus resultados, o ponto de vista da atividade, levam a uma análise crítica do
funcionamento da empresa. Levar a uma discussão com outros pontos de vista pode
levar a uma melhor articulação entre o social e o econômico, colocando em diálogo a
atividade com os seus determinantes.

Quadro 5.6.

Como é definido o método?

Trata-se de um procedimento teórico e prático que permite um contínuo ir e

vir entre a atividade de trabalho e o conjunto de seus determinantes. Só assim se

revela progressivamente o funcionamento da empresa em tudo que é útil a sua

compreensão do ponto de vista da atividade de trabalho.

O ponto de vista da atividade contém questões que mostram como os operadores


dão conta das dificuldades, como nas condições concretas de trabalho, fazem para
atingir os objetivos. No final da contas, o trabalho é influenciado por uma série de
escolhas, que podem se iniciar numa decisão da mais alta gerência, pois influi na
determinação da tarefa.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
92

Quadro 5.7.

Como a Análise da Atividade permite reconsiderar as escolhas numa empresa?

Confrontando os pontos de vista, explicita a interdependência dos critérios de

eficácia e saúde – relacionar posturas e sua penosidade com a rigidez de

constrangimento do tempo, as opiniões e devoluções dos clientes, o aumento das

taxas de absenteísmo e os acidentes.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
93

5.9. CONSTRUIR A AÇÃO ERGONÔMICA NA VISÃO DA ATIVIDADE


A Figura 5.3. dá uma visão sintética da construção da ação ergonômica do ponto de
vista da atividade de trabalho.

Identificar a diversidade
Constituir o ponto de vista Favorecer a confrontação
dos pontos de vista sobre
da atividade dos pontos de vista
o trabalho

A definição dos problemas A identificação dos pontos A implantação das


levantados em relação à de articulação da atividade condições (éticas, sociais,
distância prescrito/real e as (convergências, institucionais...) de uma
modalidades de sua gestão. divergências) com os outros confrontação dos pontos de
A instrução da domínios de funcionamento vista.
demanda da empresa.
Objeto da ação
ergonômica Posicionamento da
ação ergonômica Condições da ação
ergônomica
O aporte de conhecimento A leitura do funcionamento O debate sobre as
sobre a atividade do da empresa do ponto de representações da empresa
trabalho vista da atividade a partir do trabalho
(estatutos, projetos)

A formulação
Condições Técnicas
do diagnóstico Condições Gestão
Saúde
Atividade Trabalho Segurança
Organização & Produtividade
Atividade Tarefa Manutenção
Resultados Flexibilidade..
Resultados Qualidade

O enriquecimento do A consideração do trabalho A ampliação das


memorial descritivo como variável estratégica margens de manobra
das transformações (processo de concepção, e a negociação dos
A definição (concepção, adaptação, decisão, negociação...) compromissos (redefinição
dos objetivos formação, organização...) dos objetivos...)
da ação
Efeitos da ação Fatores em jogo na
Resultados da ação ergonômica ação ergonômica
ergonômica
Figura 5.3. Construção da ação ergonômica na visão da atividade

No caso da demanda é importante analisá-la e discutí-la para construir um ponto de


vista baseado na atividade. Devemos buscar as convergências e divergências,
contradições necessárias para a realização da tarefa: modos operatórios, interrupções,
vigilância, antecipações (atividade), quantidade e duração das séries, prazos, tempos dos
ciclos, ritmos, horários, turnos, qualidade, apresentação dos produtos, procedimentos de
certificação, definição de procedimentos, controle, etc. (determinantes da tarefa).
Desde a instrução da demanda é importante ter em vista que, em todos os setores
da empresa há possíveis interlocutores que podem ser muito importantes na construção
da ação ergonômica.
A formulação do diagnóstico – sempre baseada em hipóteses voltadas para
compreender e transformar.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
94

Quadro 5.8.

Em que consiste a formulação do diagnóstico?

Articular o que a análise da atividade de trabalho descobriu sobre as

modalidades de gestão da distância entre o prescrito e o real, com as

características:

 Da população, da formação, do contrato de trabalho, e do estado dos

indicadores sociais (política de gestão dos recursos humanos);

 Do sistema técnico, das ferramentas, da sua regulagem e manutenção (política

de investimento e manutenção);

 Da clientela e dos usuários, da oferta de bens e serviços e da qualidade que

deles se requer (política comercial e de qualidade);

 Das tarefas, de sua distribuição, da composição das equipes, dos tempos

alocados (política de organização).

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
95

5.9.1. O MEMORIAL DESCRITIVO DAS TRANSFORMAÇÕES

Quadro 5.9.

Por que não são os ergonomista que transformam as situações que estudaram?

O que a prática ergonômica produz é um corpus científico e não um programa

político de transformação das situações de trabalho.

A transformação das condições de trabalho é responsabilidade dos parceiros

sociais. Na empresa, as mudanças resultam do jogo contraditório de interesses e

relações de poder entre seus integrantes. E é precisamente para que a ação

ergonômica possa levar a transformações efetivas que é essencial que ela seja

expressamente exigida pelos parceiros sociais.

Este fato nos leva a reforçar a importância do posicionamento do ergonomista. Não


é o caso de se posicionar com um especialista, que tem um pacote pronto para resolver
os problemas. Cada tipo de questão já tem uma solução. O proposto neste método é
trabalhar para enriquecer o memorial descritivo das transformações, tendo como ponto
de partida a atividade de trabalho.
Além de responder à demanda inicial, devemos agir de maneira a preservar os
resultados por um longo prazo. Há sempre um risco de que as soluções se tornem
rapidamente obsoletas, se considerarmos a dinâmica das transformações dentre de uma
empresa. É importante que a ação ergonômica deixe traços perenes na maneira de
conceber e projetar da empresa, que o ponto de vista da atividade de trabalho seja
incorporado neste processo. Desta forma, novos compromissos poderão ser construídos.

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
96

5.10. TESTES
Indique a (as) alternativa (s) correta (s).
1. A ação ergonômica pode envolver situações de adaptação, transformação e
concepção de sistemas de produção. O projeto da produção envolve aspectos mas
o trabalho dos operadores é pensado posteriormente. Esses aspectos englobam:
I. Verbas orçamentárias;
II. Opções tecnológicas e sistema organizacional;
III. Arranjo físico;
IV. Objetivos quantitativos e qualitativos de produção;
V. Fluxo de produção e estudo de implantação das máquinas.

a) Apenas a alternativa II está correta


b) Apenas a alternativa lII está correta
c) Apenas as alternativas I, II, III, IV e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, II e III são corretas
e) n.d.a.

2. Lendo o segundo texto da página 3 “ Uma empresa agroalimentar investe....”


Poderíamos afirmar que esse investimento na compra da linha de dessossamento
vertical não considerou :
I. As características antropométricas de seus operadores;
II. A variação do porte do gado;
III. A necessidade de uma ação ergonômica antes da aquisição e durante a
implantação do projeto;
IV. Os diferentes pontos de vista sobre o trabalho;
V. Os tempos e as ferramentas de cada etapa do processo.

a) Apenas a alternativa V está correta


b) Apenas as alternativas I, II, III e IV são corretas
c) Apenas as alternativas II e IV são corretas
d) Apenas as alternativas I, II ,III , IV e V são corretas
e) n.d.a.

3. A tarefa clássica, como a proposta por Taylor e seus seguidores, compõe um


conjunto de objetivos dado ao operador, entre eles estão:
I. Conjunto de normas e procedimentos;
II. Resultados antecipados fixados em condições determinadas;
III. Soluções de melhoria proposta pelos operadores;
IV. Tempo previsto para execução da operação;
V. Estratégia de ação usada pelo operador.

a) Apenas a alternativa V está correta


b) Apenas as alternativas I, II e IV são corretas
c) Apenas as alternativas III e V são corretas

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Capítulo 5. Ação Ergonômica e Análise do Trabalho
97

d) Apenas as alternativas I, II, III, IV e V são corretas


e) n.d.a.

4. A atividade de trabalho é:
I. Conjunto de normas e procedimentos;
II. O funcionamento do corpo humano;
III. Fazer uso do conhecimento técnico e experiências vivenciadas;
IV. Estratégias de regulação em relação à situação de trabalho e à fadiga;
V. Ações para alcançar o objetivo previsto.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas I, II e V são corretas
c) Apenas as alternativas III e V são corretas
d) Apenas as alternativas II , III , IV e V são corretas
e) n.d.a.

5. Ao desenvolver a sua atividade de trabalho, o trabalhador elabora um


compromisso entre:
I. Os objetivos de produção e seu estado físico;
II. Suas características antropométricas e as necessidades operacionais;
III. As condições de trabalho e as metas;
IV. As necessidades financeiras e sua saúde.
a) Apenas a alternativa I está correta
b) Apenas as alternativas I, II e III são corretas
c) Apenas as alternativas III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas I, II, III e IV são corretas
e) n.d.a.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
98

CAPÍTULO 6. BASES PARA A PRÁTICA DA ERGONOMIA

OBJETIVOS DO ESTUDO

Após esta aula você deverá entender os conceitos relativos à variabilidade,


distinguir os resultados e conseqüências da atividade e identificar as possíveis ações
ergonômicas.

Tópicos mais importantes a serem apresentados:


 A variabilidade na empresa, a diversidade e variabilidade dos indivíduos;
 Os modos operatórios;
 Relação entre a atividade, desempenho e a saúde;
 Resultados e conseqüências da atividade;
 As diferentes ações ergonômicas.

LEITURA DO LIVRO

Para esta aula você deverá ler os capítulos 3, 4 e 5 do livro texto: “Compreender o
trabalho para transformá-lo – A prática da Ergonomia”.
Após a leitura, revise os conceitos apresentados no livro texto completando os
quadros no decorrer da apostila.
As páginas entre parênteses apresentadas ao longo deste roteiro referem-se ao
livro texto adotado.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
99

6.1. AS BASES DE UMA AÇÃO ERGONÔMICA


Para atingir os objetivos da produção, a empresa define meios técnicos e
organizacionais. Os operadores, na elaboração de seus modos operatórios, têm de levar
em conta dois constrangimentos subestimados: a variabilidade da produção e os
constrangimentos temporais.
As duas grandes categorias de variabilidade na empresa são:
 Uma variabilidade normal, que decorre do próprio tipo de trabalho efetuado: as
corridas de um motorista de táxi ou os pedidos dos clientes numa loja variam a todo
instante.
 Por outro lado, existe uma variabilidade incidental como, por exemplo, uma peça
mal lixada que não se encaixa, uma ferramenta que quebra, um dossiê incompleto.
Uma parte da variabilidade normal é previsível e, pelo menos parcialmente
controlada.
Exemplos de variação previsível nas empresas:
1 – As variações sazonais no volume de produção. Uma fábrica de chocolate sabe
que tem de enfrentar um pico de produção antes do período de festas de fim de ano,
escritório de contabilidade passa por uma atividade mais intensa no período do balanço,
etc.
2 – As variações periódicas decorrentes da natureza da produção: numa
administradora de crédito, uma quinzena será empregada para fazer e mandar os
extratos, a outra para verificar os pagamentos. Num serviço de atendimento hospitalar, a
manhã poderá ser reservada para atender os pacientes, e a tarde para marcar as
consultas por telefone.
3 – A diversidade dos modelos de produtos ou dos tipos de serviços oferecidos: os
diferentes modelos de um veículo que se sucedem numa linha de montagem, as
múltiplas edições de um jornal regional, as variantes nas fórmulas de um adubo
produzido num mesmo laboratório.
4 – As variações nas matérias-primas decorrentes de diferentes fornecimentos: as
variações no tipo de petróleo cru numa refinaria, a multiplicidade do numero de
fornecedores de freios numa linha automotiva, etc.
Outra parte da variabilidade (normal e incidental) da produção é aleatória. Os
quatro exemplos de variabilidade incidental citados na pág. 49, pode representar para o
operador uma incidência mais elevada na ocorrência de certos incidentes, são elas:
a – As variações instantâneas da demanda, em natureza e volume, nos serviços
que tem contato com uma clientela (entrada no pronto-socorro de um hospital, fluxo no
guichê de uma estação).
b – Os incidentes que ocorrem num dispositivo técnico (pane ou desajuste de uma
máquina, mau funcionamento de um sensor, quebra de uma ferramenta), ou na rede de
energia (pane elétrica, diminuição na pressão do ar).
c – As variações imprevisíveis do material sobre o qual se trabalha (rocha
repentinamente mais dura numa mina, presença de cardumes para os pescadores,
rompimento do papel em uma gráfica, rosca com rebarbas impedindo fixação do
parafuso).
d – As variações do ambiente (meteorologia, congestionamento no tráfego para um
motorista).

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
100

6.2. DIVERSIDADE E VARIABILIDADE DOS INDIVÍDUOS


Podemos observar no texto abaixo a diversidade interindividual.
O “trabalhador médio” não existe. Homem ou mulher, mais ou menos jovem, baixo
ou alto, com vista boa ou usando óculos, cada pessoa tem também sua própria história,
sua própria experiência. Os constrangimentos, as dificuldades e os eventos positivos que
cada um encontra fora de seu trabalho variam.
Por isso, o “mesmo posto de trabalho”, ocupado por duas pessoas diferentes,
apresentará duas situações de trabalho específicas: os operadores altos ou baixos
adotarão posturas diferentes; o que tem mais experiência desenvolverá estratégias
diferentes daquele que tem menos. Os esforços, os raciocínios usados e a fadiga
resultante não serão equivalentes, mesmo que o resultado produzido pareça idêntico.
Além da diversidade entre as pessoas, existem as variações do estado de cada um.
Essas variações ocorrem, ao mesmo tempo, em escala diária, semanal e trimestral e ao
longo dos anos.
As variações intra-individuais e as formas que essas podem se expressar:
1 – Variações em curto prazo, tais como: ritmo biológico e os ritmos circadianos;
2 – Variações relativas à idade, sendo observadas em função das leis do
envelhecimento biológico geneticamente determinado e em função dos efeitos do meio,
que ao longo do tempo sofrem processos de compensação que se desenvolvem para
limitar as alterações ligadas à idade.

6.3. A CONSTRUÇÃO DOS MODOS OPERATÓRIOS


Essa construção busca a formalização dos modos operatórios através de:
 Objetivos a atingir e sua combinação;
 Níveis de organização da ação;
 Relações entre tratamento das informações e a ação;
 Conjunto dos conhecimentos (saber fazer) memorizados;
 Fazer sua própria representação;
Encadeamento das representações e das ações;
Aprendizagem e a aquisição do conhecimento.
Os diferentes objetivos que organizam a atividade de um operador são:
1 – Os objetivos gerais fixados pela empresa;
2 – Os objetivos intermediários que o operador se fixa para atingir os primeiros;
3 – Objetivos mais pessoais.

6.3.1. OS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO DA AÇÃO


Essa construção recorre a uma combinação de diferentes níveis de organização da
atividade humana, baseia-se ao mesmo tempo em esquemas, ou seja, seqüências de
busca de informações e de ações bastante integradas, e num planejamento de conjunto,
ligado as intenções do operador. Pondo em jogo ao mesmo tempo os mecanismos de
exploração perceptiva, de processamento da informação e a atividade muscular.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
101

6.4. AS DIMENSÕES COLETIVAS DA ATIVIDADE


Nas situações de trabalho, é muito freqüente que a atividade de um operador se
articule com a de seus colegas.
As diferentes formas que assumem os aspectos coletivos da atividade:
1 – A cooperação explicita para a realização conjunta de uma tarefa;
2 – Os aspectos coletivos que se manifestam apenas nos resultados do trabalho;
3 – A atividade simultânea de trabalhadores que tem objetivos diferentes;
4 – As atividades de regulação estrutural.

6.5. RELAÇÕES ENTRE A ATIVIDADE, O DESEMPENHO E A SAÚDE


O estado de saúde de um trabalhador não é independente de sua atividade
profissional. Mas as relações entre o trabalho e a saúde são complexas. As agressões à
saúde ligadas ao trabalho não são somente as doenças profissionais reconhecidas ou os
acidentes de trabalho.
As formas de agressão à saúde possíveis de serem identificadas no decorrer de
uma análise do trabalho, envolvem:
 A patologia e o sofrimento que trata de localizar sinais precoces, de modo a
identificar uma situação de trabalho que solicite de maneira crítica o organismo, as
capacidades cognitivas, ou a personalidade do trabalhador, como também, agentes
químicos e físicos que manifestem seus efeitos a longo prazo.
 A carga de trabalho e a relação psíquica com o trabalho que são fatores
preponderantes na manutenção da saúde do trabalhador, reconhecer, classificar,
qualificar e informar os fatores de risco, ajudam na transformação e melhoria de
modos operatórios prejudiciais a sua saúde.

6.6. RESULTADOS E CONSEQÜÊNCIAS DA ATIVIDADE


A atividade de trabalho e as condições nas quais é realizada têm conseqüências
múltiplas para os operadores, assim como para a produção e os meios de trabalho.
As principais conseqüências para os operadores e que interferem em sua vida
social e econômica como também sobre a sua formação e seu emprego:
 Podem envolver sua saúde e seu estado funcional;
 Podem limitar as possibilidades de evolução de suas competências;
 Restringir a possível ampliação de sua experiência profissional.
Para a empresa as conseqüências da atividade e as condições nas quais são
realizadas se traduzem por:
 Uma doença de origem profissional que só se manifestará após uma longa
exposição aos fatores nocivos;
 As dificuldades de um trabalho que interfere na vida privada do operador;
 Denúncias feitas ao serviço de atendimento ao consumidor, demonstrando as
falhas ocorridas na produção do produto.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
102

6.7. A DIVERSIDADE DAS AÇÕES ERGONÔMICAS


As ações ergonômicas diferem consideravelmente em sua natureza e em seus
efeitos segundo o tipo de empresa em que ocorrem, o estatuto do ergonomista, a
natureza das demandas e as prováveis transformações da situação de trabalho.

6.7.1. O ESTATUTO DO ERGONOMISTA


O desempenho de uma ação varia segundo a sua origem, natureza de demanda e
o grau de liberdade de que dispõe. A tomada de decisão na contratação de uma equipe
fica condicionada aos fatores já expostos, no entanto independente de quem assuma
esse papel é de suma importância que o seu estatuto seja claramente definido antes que
ele assuma essa função; as regras da ação ergonômica relativas a esses princípios
deontológicos e metodológicos sejam detalhadas e conhecidas por todos e finalmente
que a negociação do conteúdo do estudo sejam amplamente discutidos, negociados e
aceitos por unanimidade.

6.7.2. A DIVERSIDADE DAS EMPRESAS


As contradições geradas dentro da empresa têm conseqüência sistêmica e as
ações ergonômicas terão que minimizar os constrangimentos buscando harmonizar
essas relações.

6.7.3. A DIVERSIDADE DAS ORIGENS


As origens e as formas das demandas podem provir:
 Da direção da empresa: interesse em elaborar um procedimento para integrar
dados relativos ao trabalho em cada decisão de investimento de peso, ou implantar
novos processos;
 Dos departamentos técnicos: melhoria de produção e qualidade;
 Dos departamentos de pessoal: absenteísmo alto, enfrentamento do
envelhecimento da população, proposição de classificação de cargos e salários;
 Dos trabalhadores e de seus representantes: exigência de novas competências
e novos constrangimentos à saúde.

6.7.4. A DIVERSIDADE DOS OBJETOS DA AÇÃO ERGONÔMICA


O que vale destacar é que o campo de ação que a demanda envolve pode ser
restrito ou extenso, sendo necessário determinar a escala de ação.

6.7.5. A ESPECIFICIDADE DE CADA AÇÃO ERGONÔMICA


É importante ressaltar que não existe modelo único ou padronização de ações
ergonômicas e sim a construção de um modelo particular, discutido e consentido por
todos os envolvidos.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
103

6.7.6. A ANÁLISE DA ATIVIDADE E OS OUTROS MÉTODOS EM ERGONOMIA


Pode-se dizer que as planilhas ou listas de verificação são pouco operacionais para
se obter transformações eficazes, elas não conseguem por em evidencia as interações
entre os diferentes componentes e acabam pondo no mesmo plano problemas de
dimensões físicas, de constrangimentos, de iluminação, etc. Simplificam a atividade
cognitiva dos operadores e negligenciam alguns de seus determinantes.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
104

6.8. TESTES
Indique a (as) alternativa (s) correta (s).

1. Os constrangimentos temporais são modulados por:


I. Normas de produção;
II. Variações de volume;
III. Aparecimento de eventos;
IV. Colaboração com outras pessoas.

a) Apenas a alternativa IV está correta


b) Apenas as alternativas I, II, III e IV são corretas.
c) Apenas as alternativas I, II , III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas I, III e IV são corretas
e) n.d.a.

2. As análises de situações de colaboração em que várias lógicas se acham


confrontadas mostra freqüentemente que as dificuldades se relacionam ao fato de
que os diferentes atores ignoram as restrições de seus interlocutores, enquanto
supõem que estes conseguem desenvolver suas atividades sem dificuldades. O
que aumenta essas dificuldades é:
I. A descontinuidade do fluxo de informações.
II. A rigidez na organização do trabalho.
III. As dimensões coletivas das atividades e suas múltiplas formas de interação.
IV. A equipe de trabalho.
V. O desconhecimento e desinteresse em reconhecer as inadequações dos
procedimentos.

a) Apenas a alternativa III está correta


b) Apenas as alternativas I, II e V são corretas
c) Apenas as alternativas IV e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, II ,III , IV e V são corretas
e) n.d.a.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
105

3. Os ergonomistas exteriores à empresa podem pertencer a escritórios de


consultoria ou a laboratórios de pesquisa. Algumas das justificativas para esta
distinção são:
I. A natureza das competências que o tratamento de uma demanda requer;
II. A capacidade e a necessidade de conduzir pesquisas bibliográficas complexas e
extensas;
III. A existência de contatos com instituições de pesquisa de outros países;
IV. A possibilidade de um balizamento científico particularmente adaptando à
natureza do assunto;
V. Períodos de ação freqüentemente mais curtos e em geral adaptáveis as
exigências da empresa.
Dos itens acima qual se aplicaria a uma contratação feita a um organismo de
pesquisa?

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas I, II e V são corretas
c) Apenas as alternativas III e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, II, III e IV são corretas
e) n.d.a.

4. Por mais que a demanda seja referente a um setor específico, não se pode
esquecer que a empresa é um sistema interativo, dessa forma podemos dizer que:
I. Faz-se necessário constituir ferramentas de análise que permitam apreender a
realidade e suas especificidades;
II. Fornecer soluções pontuais;
III. Negar a cultura e imprimir métodos que divergem da compreensão de seus
operadores;
IV. Construir em conjunto com os operadores novos modos operantes, que facilitem
o cumprimento da tarefa.
a) Apenas a alternativa II está correta
b) Apenas as alternativas I e IV são corretas
c) Apenas as alternativas II e III são corretas
d) Apenas as alternativas I e III são corretas
e) n.d.a.

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Capítulo 6. Bases para a prática da ergonomia
106

5. Em que situação seria mais adequado o uso de planilhas e listas de verificação


(Check –list)?
I. Antes de fechar o diagnóstico de um processo de trabalho;
II. Após a primeira proposição de mudança de um processo;
III. Somente em levantamentos de dimensões físicas, de constrangimentos de
tempo, de iluminação, de ventilação, etc..
IV. Para facilitar a compreensão e fixação de aprendizado no novo processo
implantado;
V. Ao entrevistar os trabalhadores.

a) Apenas a alternativa II está correta.


b) Apenas as alternativas I e II são corretas.
c) Apenas as alternativas II e IV são corretas.
d) Apenas as alternativas V e IV são corretas.
e) n.d.a.

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Capítulo 7. A construção da ação ergonômica
107

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
108

CAPÍTULO 7. A CONSTRUÇÃO DA AÇÃO ERGONÔMICA

OBJETIVOS DO ESTUDO

Após esta aula você deverá estar apto a reconhecer aspectos da construção da
ação ergonômica, a demanda, o funcionamento da empresa e a abordagem da situação
de trabalho.
Tópicos mais importantes a serem apresentados:
 A importância da demanda e suas diferentes origens;
 O dimensionamento e a estruturação da ação;
 As diferentes dimensões existentes na empresa;
 A diferença entre a abordagem da tarefa e da atividade.

LEITURA DO LIVRO

Para esta aula você deverá ler o capítulo 6, 7 e 8 do livro texto: “Compreender o
trabalho para transformá-lo – A prática da Ergonomia”.
Após a leitura, revise os conceitos apresentados no livro texto completando os
quadros no decorrer da apostila.
As páginas entre parênteses apresentadas ao longo deste roteiro referem-se ao
livro texto adotado.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
109

7.1. ESQUEMA GERAL DA ABORDAGEM


Toda ação ergonômica é uma construção que se origina em alguma demanda,
cada caso deve ser considerado na sua singularidade e, as diferentes etapas propostas
são importantes. A qualidade dos dados obtidos varia de situação para situação, mas o
objetivo de tal abordagem, adaptar o trabalho pode ser conseguido, mesmo quando os
dados disponíveis não têm a qualidade esperada.
As diferentes etapas de uma ação ergonômica – o esquema da abordagem:
 Demanda inicial;
 Análise e reformulação da demanda;
 Proposta de ação;
 Compreensão do funcionamento da empresa;
 Hipóteses de nível 1;
 Observações abertas;
 Pré-diagnóstico (hipóteses de nível 2);
 Plano de observação – observações sistemáticas;
 Diagnóstico local;
 Diagnóstico geral;
 Indicação de soluções;
 Acompanhamento do processo de concepção ou de transformação.
Apesar de serem apresentadas de maneira seqüencial, a ação ergonômica é
interativa, com idas e vindas e ajustes sucessivos.

7.2. A DEMANDA
As demandas em ergonomia são pontos fundamentais para a construção da ação,
elas podem ser expressas de diferentes maneiras e serem elaboradas por diferentes
atores na empresa. Toda demanda expressa uma visão parcial do problema, compete ao
ergonomista enriquecê-la e compará-la com outros pontos de vista.
Os dois grandes tipos de demanda são:
 Formuladas na origem de um projeto de concepção que poderá transformar
profundamente a atividade dos trabalhadores;
 Formuladas no quadro de uma evolução permanente.
As principais origens da demanda são:
 Direção da empresa;
 Diretas dos trabalhadores;
 Organizações sindicais;
 Conjunto dos parceiros sociais;
 Instituições públicas;
 Organizações profissionais.
É importante salientar que muitas demandas dependem da percepção que os
interlocutores têm sobre a ergonomia, na maioria das vezes ligada a aspectos físicos do
trabalho. Muitas vezes, a demanda expressa uma questão bastante pontual e específica,
cabe ao ergonomista enriquecê-la, pois raramente um problema está apenas ligado aos
aspectos físicos da tarefa. Os problemas devem ser hierarquizados e mostrados as suas
inter-relações, através de discussões e análises feitas com os interlocutores.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
110

Na busca de informações pertinentes para construir as análises da demanda,


diferentes atores devem ser consultados e visitas à empresa devem ser feitas.
As passagens da análise da demanda incluem consultas e visitas.

Consultas:
 Direção da empresa;
 Representantes dos trabalhadores;
 Supervisão;
 Departamentos da empresa.

Visitas:
 Visita à empresa;
 Visita à situação a que se refere a demanda.

Através da leitura destes tópicos é possível identificar a importância da informação


aos diferentes interlocutores da empresa sobre a ação ergonômica, seus objetivos e suas
etapas. A visita à empresa é um primeiro momento para se estabelecer uma relação com
estes atores sociais, isto pode abrir a possibilidade de desenvolver com sucesso a ação
ergonômica. Sempre é bom situar de onde vem a demanda e a amplitude do problema,
assim como obter uma primeira impressão sobre as possibilidades de mudança.

7.3. IDENTIFICAR O QUE ESTÁ EM JOGO


Os interlocutores na empresa têm diferentes pontos de vista, objetivos e critérios de
análise. Cabe ao ergonomista não julgá-los, mas ajudar a transformar os pontos de vista,
trazendo à tona novos pontos de vista. Sempre é importante descobrir quem está por trás
da demanda inicial.
A informatização do setor terciário trouxe novas demandas pois a informática
modifica fundamentalmente a atividade de trabalho, os processo mentais de tratamento
da informação não são mais da mesma natureza, e podem levar a uma solicitação visual
diferente.

Quadro 7.1.

Quais os dois pontos de vista, diferentes no exemplo do livro sobre os jornalistas?

 Um relativo à maneira de realizar o trabalho com uma nova ferramenta;

 Outro concernente às relações entre condições de realização do trabalho e

distúrbios visuais.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
111

É importante que o ergonomista considere estes diferentes pontos de vista, e que


os interlocutores saibam que as suas idéias foram consideradas. Esses pontos de vista
devem ser articulados em torno do ponto de vista da atividade.

7.4. DIMENSIONAR A AÇÃO ERGONÔMICA


Dimensionar uma ação ergonômica é sempre uma tarefa difícil, uma vez que os
problemas são mais complexos do que foi expresso na demanda inicial. O tempo
disponível para o desenvolvimento da ação é sempre menor do que seria necessário, ao
ver do ergonomista.

Quadro 7.2.

Por que o tempo para uma ação ergonômica é subestimado?

 A complexidade dos problemas e, portanto as dificuldades a resolver para a

realização do estudo não são, em geral, devidamente consideradas;

 As empresas levantam freqüentemente problemas cuja solução esperam para

ontem. Isto é ainda mais verdadeiro quando a demanda é formulada a partir de

problemas antigos que nunca foram enfrentados.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
112

7.5. PROPOSTA DE AÇÃO ERGONÔMICA


Ao aceitar uma ação ergonômica é importante se estabelecer um contrato que pode
assumir diversas formas, principalmente se o ergonomista faz ou não parte do corpo da
empresa. Mesmo quando se faz parte do corpo da empresa é importante negociar e
estabelecer os objetivos e meios para a realização do trabalho.
As condições de êxito de uma ação ergonômica passam por:
 Acesso às situações de trabalho;
 Anonimato dos trabalhadores;
 Atitude do ergonomista em caso de conflito social na empresa;
 Realizar entrevistas com o conjunto dos trabalhadores envolvidos no estudo;
 Observações da atividade, fotografias, vídeo, as medidas;
 Documentos e informações;
 Modalidades de acompanhamento do estudo;
 Freqüência das reuniões dessas diferentes instâncias;
 Amplitude dos meios necessários ao desenvolvimento do estudo;
 Diferentes fases do estudo e a entrega de documentos intermediários;
 Modalidades de difusão dos resultados na empresa;
 Informação ao conjunto dos trabalhadores;
 Modalidades de difusão dos resultados para fora da empresa, levando-se em
conta o respeito ao segredo industrial, ou aos dados gerais sobre a atividade da
empresa.

7.6. ESTRUTURAR-SE PARA CONDUZIR UMA AÇÃO ERGONÔMICA


A estruturação de uma ação ergonômica pode ser feita com a criação de grupos de
trabalho que poderão contribuir com o processo, ajudando na busca dos dados, na
colaboração em deferentes momentos da análise, na validação dos resultados e, na
construção de soluções. A composição dos grupos pode variar ao longo do processo,
dependendo das suas competências e da inserção em diferentes departamentos da
empresa. O envolvimento dos atores diretamente envolvidos com a demanda, incluindo
os trabalhadores da operação propriamente dita é fundamental para o sucesso.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
113

Quadro 7.3.

Quais os componentes dos grupos e a sua função no exemplo?

 Anestesista, da enfermeira-chefe, de um cirurgião, de um auxiliar de

enfermagem;

 Enfermeiras e médicos de vários serviços, entre eles o de urgências, de

cardiologia, e de reanimação.

FUNÇÃO - de validar e completar as análises realizadas pelo ergonomista, de

participar nas diferentes simulações que o ergonomista promove com a

participação de um arquiteto. Estas permitiram a este último propor um modo de

organização do centro, critérios para a determinação das áreas, bem como

propostas de localização do centro cirúrgico dentro do hospital.

A função dos grupos também é ajudar a regular as relações entre os diferentes


parceiros sociais, é um espaço para que as diferentes visões possam ser discutidas e,
ajudar na busca de novos compromissos com relação à produção e ao trabalho.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
114

7.7. O CONHECIMENTO DO FUNCIONAMENTO DA EMPRESA


O conhecimento de como funciona a empresa deve ser feito para ajudar a melhor
compreender a demanda e, também situar as possibilidades de transformação. Não se
trata de uma investigação para a busca de um conhecimento aprofundado sobre cada
aspecto, mas sim a coleta de dados para articular o pensamento em torno dos problemas
apresentados e, para entender melhor os determinantes da tarefa.
O conhecimento do funcionamento da empresa deve permitir ao ergonomista:
 Elaborar as primeiras hipóteses que vão orientar a escolha das situações a
analisar;
 Melhor situar o conjunto das exigências e constrangimentos

7.7.1. A DIMENSÃO ECONÔMICA E COMERCIAL


É importante situar o contexto da empresa em relação ao mercado, qual a
estratégia de desenvolvimento, o lugar que ocupa, as possibilidades de transformação no
que tange a capacidade de investimentos. Os fatos importantes da sua história,
principalmente aqueles que têm a ver com a evolução do conteúdo do trabalho e como
são tratados os aspectos humanos da produção também são de interesse para a análise.

Quadro 7.4.

Como as exigências comerciais determinam o funcionamento da empresa?

A natureza da produção, o volume dos pedidos, o número de produtos em

catálogo, o desejo de diminuir o capital imobilizado acarreta uma complexidade

cada vez maior na gestão da produção.

Mudanças significativas na gama de produtos e na organização do trabalho podem


trazer novos problemas para que a empresa atinja seus objetivos. Se não houver uma
abordagem que inclua as mudanças efetivas nas tarefas de diferentes níveis de
trabalhadores na empresa pode ser criada uma incongruência que, no final das contas
trará prejuízos comerciais e para a saúde dos trabalhadores.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
115

Quadro 7.5.

Quais indicadores auxiliam a entender o contexto econômico e comercial?

 O tipo de produtos fabricados pela empresa e a evolução do catálogo; as

exigências da clientela e a maneira como a concorrência a elas responde são

fatores determinantes nessa evolução;

 A duração das séries. As relações de parceria com as empresas compradoras

ou as exigências da clientela que deseja dispor de produtos melhores

adaptados a suas necessidades, têm conseqüências sobre as modalidades de

organização da produção;

 As exigências de qualidade;

 O posicionamento frente à concorrência;

 As variações sazonais da produção;

 As evoluções prováveis da produção na empresa.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
116

É importante salientar que ao se tratar do serviço público ou de empresas sem fins


lucrativos vários entre estes aspectos ainda são relevantes, mas trata-se de uma
racionalidade diferente.

7.7.2. A DIMENSÃO SOCIAL E DEMOGRÁFICA


O estudo da população de uma empresa, suas características com relação à idade,
sexo, tempo de casa, qualificação, saúde, distribuição nos departamentos, distribuição
nos turnos, ajuda a entender uma série de aspectos da política com relação ao trabalho e
ao trabalhador. Populações muito homogenias, têm um significado substantivo, pois
podem indicar uma forte política de seleção na entrada, ou mesmo, um alto índice de
rotatividade. A ausência de pessoas mais idosas ou, mesmo a exclusividade com relação
a um determinado sexo são pistas importantes de que as condições de trabalho são
responsáveis pela exclusão de certas categorias de trabalhadores.
O fato de só haver mulheres jovens na produção é um indicativo de uma política de
seleção que busca adaptar as características dos trabalhadores às características do
trabalho.
Situar a evolução das características da população no tempo é útil, pois permite
relacioná-las com a evolução da própria empresa, como mudanças na política de
contratação, introdução de novas tecnologias, mudanças organizacionais, entre outros
fenômenos.
Os dados mais úteis com relação à população são:
 Estrutura de idade;
 Mobilidade interna e externa;
 Qualificação e formação exigida;
 Dados sobre saúde;
 Os dados devem também ser relativos à população de terceiros contratados.
Os dados de população raramente estão disponíveis e organizados nas empresas,
principalmente no formato útil para a AET. Alguns deles como os de saúde e de
acidentes são mais sensíveis, seja por motivos éticos, seja porque a empresa não tem
interesse em divulgá-los.
Os motivos para a mobilidade interna nas empresas são dois:
 Percursos profissionais organizados;
 Variações de pessoal devido a flutuações da produção.
A evolução das características da população em uma empresa pode ajudar a
prever o futuro. Por exemplo, como fazer evoluir as condições de trabalho para uma
população que está envelhecendo, quais novas ferramentas precisam ser incorporadas,
quais mudanças organizacionais precisam ser feitas para que esta população não
adoeça e continue a produzir a contento, quais melhorias na capacitação precisam ser
propostas para que trabalhem com novas tecnologias, com sua competência e
experiência?
Comentário:
Constata-se nesse diagrama retangular que entre 1975 e 1990, a proporção dos
operários de menos de 30 anos diminuiu e que a dos de mais de 45 anos permaneceu
estável, de modo que a proporção dos operários cuja idade está entre 30 e 44 anos
aumentou nesse setor de produção.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
117

Um desafio para as empresas seria manter uma política de contratações que


permitisse a reposição de trabalhadores que se aposentam (garantir a continuidade da
competência através da capacitação de mais jovens), considerando as evoluções da
tecnologia e as necessidades de promover a saúde da população. Apesar de parecer
simples, há muitos fenômenos que podem interferir, tais como, mudanças na legislação
previdenciária, crises econômicas, terceirização, entre outras, que podem interferir neste
processo.

Quadro 7.6.

Por que esta questão demográfica tem um aspecto ético?

 Risco de favorecer políticas de seleção e demissão;

 Evitar a exclusão dos mais velhos e favorecer a melhoria das condições de

trabalho;

 Não isolar os grupos “mais frágeis”;

 Favorecer uma política de melhoria para todos.

7.7.3. ANÁLISE DO TRABALHO E EMPREGO


Ainda é muito comum se fazer uma relação entre evolução tecnológica e redução
do quadro de pessoas na empresa. Esta visão simplista foi muito utilizada nas últimas
décadas e trouxe conseqüências no que tange a saúde dos trabalhadores e a garantia de
manutenção do conhecimento dentro da empresa. Uma mudança tecnológica traz
consigo mudanças na organização do trabalho e no conteúdo das tarefas.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
118

Quadro 7.7.

Explique as conseqüências de um processo de transformação desconsidere o

conteúdo das tarefas e acarrete uma intensificação do trabalho.

Assim, não é raro que a natureza das decisões que as empresas são levadas

a tomar para realizar as transformações desejadas, ou os caminhos escolhidos

para chegar a elas, acabem tendo resultados sensivelmente diferentes dos

previstos. As perspectivas de desempenho dos investimentos técnicos ou

organizacionais, sua eficácia sócio-econômica, sua rentabilidade financeira, podem

então não ser atingidas, e as conseqüências sociais não antecipadas podem pôr

em risco o projeto.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
119

7.7.4. PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E VOLUME DE EMPREGO


Através da AET foi possível alterar a política da empresa no exemplo da página 110
e 111 da apostila, pois:
A análise do trabalho do coletivo dos trabalhadores põe em evidência a
complexidade do trabalho dos operadores do setor envolvido pelo plano. A atividade de
controle aparece como essencial e só é possível e eficiente por causa do saber-fazer dos
operadores e da eficácia da cooperação. No entanto, apesar das intervenções
preventivas dos operadores, o número de incidentes permanece elevado e obriga a uma
atividade de conserto fisicamente penosa para os operadores e dispendiosa no plano da
produção. Segundo a chefia, sem a perspicácia e a capacidade de antecipação dos
operadores, a produção do setor estaria longe de atingir a tonelagem atual, e o nível de
qualidade cairia.
O exemplo do texto mostra que, apesar de muitas vezes o trabalho ser considerado
como um custo para a empresa, quando na verdade o trabalho é um valor que garante,
acima de tudo, a coerência do sistema, a possibilidade de mudanças para se adequar a
novos cenários e, sobretudo são os trabalhadores, dos mais diversos níveis hierárquicos
e setores, que garantem que a empresa possa fazer frente a eventos inesperados da
produção.
Os conceitos de gestão que deveriam ser repensados para mudar a representação
relativa ao trabalho são:
 O trabalho é considerado como um custo a ser reduzido;
 O trabalho é visto como indiferenciado enquanto que os empregos são cada vez
menos parecidos;
 O coletivo é visto essencialmente em termos do número de trabalhadores que o
compõe, e não em termos da qualidade e da organização de competências que ele
representa;
 O homem é, antes de tudo, uma fonte potencial de erros e de criação de panes,
e precisa ser ajudado a não cometê-los, enquanto na realidade é capaz de
aprender como não errar;
 Os “velhos” constituem uma população da qual é preciso se livrar quando se
está num período de crise no emprego, enquanto na realidade são fontes de
competências transferíveis;
 Os excluídos o são às vezes potencialmente, desde seu ingresso na empresa, o
trabalho deixa neles suas marcas, fragilizando-os e marginalizando-os.
Apesar da importância desta questão, muitas vezes ela não é tratada, pois é objeto
de conflitos e porque muitas soluções propostas pela ergonomia são mais voltadas para
a questão da competência técnica. Além disso, o ergonomista não é visto como um
interlocutor qualificado para discutir estas questões, apesar dos resultados da AET
mostrarem fatos novos que podem ajudar a rever políticas de empresas, conforme os
exemplos do texto.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
120

Quadro 7.8.

A partir do exemplo do texto, quais aspectos são mostrados pelo diagnóstico

ergonômico?

A variabilidade do trabalho a realizar e portanto as múltiplas iniciativas que os

trabalhadores são levados a tomar para fazer o que lhes pedem e atingir os

objetivos contratuais.

7.7.5. CONDIÇÕES DE REALIZAÇÃO DO TRABALHO, CONTEÚDO DO


TRABALHO E GESTÃO IMPLÍCITA DO EMPREGO
Uma questão crucial para as empresas seria tentar prever as conseqüências de sua
política de emprego. Na medida em que as informações que chegam à direção sejam
muito fragmentadas, há muita dificuldade para se analisar as conseqüências de uma
determinada política em termos dos resultados para a produção e para a saúde.
Raramente são estabelecidas as relações.
Os principais resultados da AET do exemplo do texto são:
 A eficiência da contratação é baixa;
 Contrato de duração determinada, utilizado como filtro para selecionar pessoas
capazes de resistir aos constrangimentos impostos pela atividade;
 Constrangimentos do trabalho mais severos exigindo trabalhadoras
significativamente mais jovens;
 Apesar da evolução da prática de recrutamento, a população envelhece.
 A população é recrutada cada vez mais longe da fábrica;
 Problemas de qualidade quando são mais numerosos os trabalhadores com
menos tempo de casa;
 A política de remuneração dá um peso exagerado à quantidade produzida para a
atribuição dos prêmios, mas coloca as operadoras frente a contradições difíceis de
administrar;
 A supervisão direta reclama que não pode realizar corretamente seu trabalho,
em particular no que diz respeito à gestão e à formação das jovens contratadas;
 O departamento de pessoal passa a maior parte do seu tempo a administrar um
fluxo de contratações, sem poder estabilizar os novos empregados na empresa.
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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
121

Analisar o trabalho também nos ajuda a entender as trajetórias que ameaçam os


trabalhadores com a perda do emprego e com a deterioração da sua saúde. A empresa
necessita desta análise para poder decidir com mais segurança sobre as políticas que
adota ou pretende adotar.

7.7.6. INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO, EMPREGO E SAÚDE


Em qualquer projeto de mudança, vários objetivos podem ser perseguidos, melhoria
da organização e do conteúdo do trabalho, impacto positivo sobre a oferta de emprego,
eficácia dos investimentos, da formação.

Quadro 7.9.

No exemplo do livro texto referente à empresa do setor terciário, identifique a

estratégia da empresa e suas conseqüências.

Numa empresa do setor terciário, a direção deseja que cada agente contribua

com a atividade comercial da empresa. Os agentes são portanto constrangidos a

passar de situações de retaguarda a situações em que mantém contato com a

clientela, e isso sem que nenhuma formação aprofundada tenha sido realizada,

mas com uma pressão intensa para que vendam contratos de prestação de

serviços. O médico do trabalho fica preocupado com o número elevado de licenças

ligadas a psicopatologias do trabalho.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
122

Um fenômeno cada vez mais presente é conhecido como a intensificação do


trabalho, obtida por um aumento das cadências de produção ou por redução dos efetivos.
Quais são as conseqüências para a saúde dos trabalhadores? O ergonomista precisa
ajudar a definir os limites a não ultrapassar e o que seria bom não fazer.

7.7.7. DADOS COLETIVOS E A SAÚDE


Os dados só podem ser obtidos se forem respeitados os preceitos éticos –
nenhuma informação sobre a saúde de uma pessoa pode se tornar público sem o
consentimento dela. Qualquer dado que circule na empresa deve ser vinculado à
população, ter um formato de relatório epidemiológico (acidentes de trabalho, licenças
médicas, PCMSO, PPRA, relatórios da CIPA, registros da enfermagem, dados sobre o
uso de plano de saúde). Levantamentos podem ser feitos para questões ligadas ao
desconforto, às dores, à sensação de capacidade para o trabalho, entre outros. O SIGILO
DEVE SEMPRE SER PRESERVADO SOB A GUARDA DE PROFISSIONAIS DA
SAÚDE.

Quadro 7.10.

Quais sinais de sofrimento ligado ao trabalho podem ser úteis?

Distúrbios ditos “infra-patológicos” (dores de cabeça, distúrbios do sono,

dores articulares, etc.), os distúrbios do comportamento (irritabilidade, perda de

interesse pela leitura, pelos contatos sociais, etc.)

Lembrar que estes dados são sempre parciais, nem tudo é revelado para o médico
do trabalho, nem todos os acidentes do trabalho são revelados.
Lembrar que muitas vezes, os trabalhadores presentes na situação passaram por
uma seleção ditada pelas condições de trabalho, são aqueles que conseguiram suportar.
Para saber sobre um problema, muitas vezes, é necessário contatar quem não está mais,
como é o caso dos que mudaram de turno.
A seguir é apresentado um breve comentário sobre o caso da regulação coletiva do
exemplo do texto.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
123

Numa empresa de refeições industriais constata-se uma taxa elevada de distúrbios


osteo-musculares nas trabalhadoras das cozinhas com mais de 40 anos e mais de 10
anos de casa; em função de seu estatuto precário não têm direito à reclassificação em
outros serviços; a análise do trabalho põe em evidência uma organização coletiva
informal que lhes permite conservar seu emprego: essas mulheres mais velhas usam
suas competências na “arte culinária” para a realização das receitas e a formação das
mais jovens; estas vêm espontaneamente dar uma mão ou substituí-las nas tarefas
repetitivas (picar cebolas, etc.) ou que exigem esforço físico (transportar as panelas, etc.).

7.8. AS LEIS E REGULAMENTAÇÕES


Uma série de normas e leis regulamenta a questão da saúde, segurança e o meio
ambiente. Dados relativos ao cumprimento destas podem ser úteis à análise ergonômica
do trabalho. Entretanto eles nem sempre estão disponíveis e são sensíveis, as empresas
não apresentam estes dados com facilidade. Lembrar que no Brasil, a NR-17 trata
especificamente da questão da ergonomia, mas outras leis e normas definem as
condições de trabalho, a responsabilidade ambiental e a questão da responsabilidade
civil, criminal, trabalhista, previdenciária.
O ergonomista deve iniciar o estudo sobre estas questões no início da ação
ergonômica, pois é importante poder identificar essas exigências regulamentares, não
somente a partir da leitura dos textos jurídicos, como também através da compreensão
das conseqüências que suscitam nos diferentes setores da empresa.

7.9. O AMBIENTE GEOGRÁFICO DA EMPRESA

Quadro 7.11.

Quais os principais objetivos para localizar as questões de geografia e clima?

 Situar seus períodos de observação em relação às variações sazonais do meio

ambiente;

 Integrar esses aspectos nas sugestões de transformação.

Lembrar a importância da qualidade das estradas, dos efeitos do mar sobre as


instalações, do calor sobre os trabalhadores (horários de maior calor), do regime de
chuvas, o fornecimento de energia, a qualidade dos serviços públicos, a complexidade do
tecido industrial, a qualidade dos transportes, da moradia.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
124

7.10. A DIMENSÃO TÉCNICA


É importante para o ergonomista conhecer o processo técnico, pois este permite ao
ergonomista compreender o que ele observa e aumenta sua possibilidade de ação no
processo de transformação técnica, e contribui para sua credibilidade.
O objetivo não é transformar-se num especialista sobre o sistema técnico, mas é
importante ter noções sobre o funcionamento e aprender junto aos interlocutores o jargão
profissional. De qualquer maneira o foco está na atividade e, mostrar que há dúvidas
pode ser útil para facilitar o diálogo com os interlocutores.

Quadro 7.12.

Quais são os dados relativos à tecnologia que precisam ser conhecidos?

 As características das matérias-primas utilizadas do ponto de vista das

variações de sua qualidade em relação com a confiabilidade do processo;

 As variações sazonais de produção;

 A compreensão do processo técnico pode ser adquirida: pelo jargão técnico,

pelas explicações fornecidas pela hierarquia; pelas explicações dos

operadores; pela descrição topológica; pela descrição do processo em termos

de fluxo; pela descrição das operações técnicas de transformação; pela

descrição das tarefas a realizar; pelos objetivos quantitativos e qualitativos;

pelos procedimentos especificados.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
125

7.11. A PRODUÇÃO E SUA ORGANIZAÇÃO


7.11.1. OS DADOS QUALITATIVOS E SUA SIGNIFICAÇÃO
A partir do exemplo do texto, fica mais evidente que os dados qualitativos podem
ajudar a descobrir problemas ligados à tarefa. Os levantamentos sobre a qualidade dos
produtos, dos serviços podem ser bastante úteis, sejam aqueles que estão formalizados
ou aqueles que são obtidos em conversas com os interlocutores.

7.11.2. OS CRITÉRIOS DE QUALIDADE DA PRODUÇÃO E EVOLUÇÃO


Uma das questões para o ergonomista é relacionar os critérios da qualidade com as
exigências da produção, uma vez que estes acabam por definir aspectos significativos da
tarefa. Muitas vezes estes critérios não são muito claros e os trabalhadores acabam por
redefini-los, tendo em vista as condições de execução, a sua fadiga, e o zelo pela
qualidade do seu trabalho.
As investigações citadas no texto são:
 É importante “revirar as latas de lixo”; nelas se acham traços de disfunções
diversas de uma máquina e suas conseqüências sobre a produção;
 O recolhimento dos dejetos da produção pode informar sobre os indícios que
usam os operadores para fabricar um produto de boa qualidade e decidir chamar o
mecânico.
7.11.3. OS DADOS QUANTITATIVOS SOBRE A PRODUÇÃO
Os dados quantitativos são mais precisos e, em geral, mais disponíveis na
empresa. Alguns dados são interessantes, pois podem dar uma idéia sobre o resultado
do trabalho no setor, outros são irrelevantes. É importante que o ergonomista saiba
diferenciar.
Dentre os exemplos citados na pág. 125, os dados que são pouco úteis foram:
 Dados sobre a tonelagem transportada não são significativos da realidade do
trabalho do condutor de pontes rolantes
 A cifra publicada da tiragem de um jornal corresponde só à produção que pode
ser vendida é insuficiente para retratar o trabalho dos gráficos do jornal.
 A informação sobre o número de peças que um operador deve fabricar deve ser
completada por dados relativos à forma de remuneração.
 Uma taxa de ocupação dos leitos no serviço hospitalar é um critério de
rentabilidade.

7.11.4. O ALCANCE DOS DADOS QUANTITATIVOS


Os dados quantitativos devem ser tratados com precaução, apesar de muitos
acharem que são umas verdades inapeláveis, é sempre bom relacioná-los com outros
dados (por exemplo os qualitativos) e com a sua evolução.
Estes dados ajudam a delimitar um problema e podem evidenciar aspectos não
percebidos sobre a produção. É sempre importante saber o quê estamos buscando para
não ficarmos atolados de dados e não podermos tratá-los.
A respeito da utilidade dos dados quantitativos:
 A população dos trabalhadores: idade, tempo de casa, sexo, qualificações,
rotatividade, absenteísmo, inaptidões, formação, passado profissional;
eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.
Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
126

 A produção: os dados são relativos às durações de ciclos, às quantidades a


produzir, à extensão das séries, aos refugos;
 A organização do trabalho: referem-se às durações de ciclos, às taxas de
utilização das máquinas, à organização do tempo de trabalho.
Estes dados podem ser encontrados em vários locais da empresa – no balanço, em
recursos humanos, nos relatórios da produção, da manutenção, nos dados do SESMT,
nos dados da CIPA, entre outros.

Quadro 7.13.

Quais cuidados devem ser tomados para usar estes dados?

 Fazer a crítica da fonte dos números.

 Evitar as comparações entre populações pequenas demais; usam-se então

números e não porcentagens.

 Encontrar uma relação não significa encontrar uma explicação.

7.12. ABORDAGEM DA SITUAÇÃO DE TRABALHO


7.12.1. DA ANÁLISE DAS TAREFAS À ABORDAGEM DA ATIVIDADE
Até este momento, uma série de dados já foi coletada, compete ao ergonomista
trabalhar, dar coerência para transformá-los em informações úteis. Uma das maneiras é
definir critérios para ajudar na classificação dos problemas e na hierarquização das
questões.
A definição de critérios é útil para a AET pois:
 Determina a escolha das situações a estudar;
 Garante um domínio suficiente sobre os dados técnicos;
 Serve de base para a construção de hipóteses;
 Constrói ferramentas de referência úteis para a descrição e interpretação dos
dados;
 Provê apoio para a demonstração e a comunicação com os diferentes
interlocutores.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
127

7.12.1.1. DESCRIÇÕES CENTRADAS NA ESTRUTURA DOS PROCESSOS


TÉCNICOS
 Ênfase nos fluxos;
 Evidenciar a estrutura do processo;
 Mostrar a disposição dos postos de trabalho;
 Relacionar o montante e a jusante;
 Mostrar a coordenação entre postos em paralelo.
Com relação às ferramentas e meios de informação, as questões relevantes são:
 As ações sobre o processo e as tomadas de informações são “mediatizadas” ou
efetuadas diretamente sobre o produto?
 O operador tem um retorno sobre o resultado de suas ações? Em quais
condições?
 Esses dispositivos apresentam, a priori, características que podem atrapalhar a
realização do trabalho (acessibilidade, maneabilidade, legibilidade, visibilidade,
etc.)?
Atenção ao uso de ferramentas informais, às transformações do dispositivo e ao
uso diferente do previsto.

7.12.1.2. DESCRIÇÕES CENTRADAS NAS RELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS


DE UM DETERMINADO DISPOSITIVO
Algumas variáveis ligadas a um determinado dispositivo podem ser relevadas como
os ajustes, o estado dos dispositivos. Vários pontos de vista podem ser confrontados com
relação ao funcionamento das instalações. Geralmente o engenheiro vai expressar
questões para ele relevantes, muitas vezes diferentes das expressas pelos operadores e
supervisores.
Outros aspectos importantes do resultado destas descrições são a complexidade
do controle de um processo, a importância dos conhecimentos subjacentes necessários à
condução do dispositivo, e as conseqüências da variabilidade sobre os resultados e as
regulagens requeridas.

7.12.1.3. DESCRIÇÕES CENTRADAS NOS PROCEDIMENTOS


É importante salientar que há descrições de procedimentos mais ou menos
detalhadas. Algumas são documentadas na empresa, mas jamais esta descrição poderá
dar conta da realidade. À medida que as investigações se aprofundam, as entrevistas
com supervisores, as observações iniciais permitem evidenciar aspectos ausentes. Estes
elementos são a base para diferenciar o trabalho previsto do trabalho real.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
128

Quadro 7.14.

Quais elementos estão freqüentemente ausentes das descrições formais?

 Diversidade das condições de realização,

 Etapas de preparação,

 Informações requeridas,

 Controles.

7.12.1.4. DESCRIÇÕES CENTRADAS NA DEPENDÊNCIA E LIMITES


TEMPORAIS DAS AÇÕES E EVENTOS
A dimensão temporal pode ser rigidamente estruturada:
 Pela natureza do processo;
 Pelo andamento do trabalho de outros operadores;
 Eventos externos à empresa.
Lembrar que outros aspectos da relação com a organização dos tempos precisam
ser trabalhados: a duração dos ciclos, as pausas, os horários, os turnos, a influência de
clientes, do clima, a duração das viagens, entre outros.
Uma descrição sistemática dos eventos serve para entender os condicionantes do
desencadeamento das tarefas e dos limites temporais para a sua realização sendo útil
para identificar as fases críticas onde a margem de liberdade é a mais reduzida.

7.12.1.5. DESCRIÇÕES CENTRADAS NO ARRANJO FÍSICO DO DISPOSITIVO


TÉCNICO
O espaço físico onde se executa o trabalho é também objeto de descrições, pois é
um dos grandes condicionantes da tarefa. Além das plantas fornecidas pela empresa,
onde está assinalada a presença de máquinas e equipamentos, e a planta do posto de
trabalho mais especificamente, é importante que seja analisada a situação atual.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
129

Quadro 7.15.

Por que não basta analisar as plantas fornecidas pela empresa?

Muitas vezes, implantações de equipamentos posteriores a essas plantas

foram realizadas e, sobretudo essas plantas ignoram os elementos “vivos” do

espaço: presença dos operadores, aparelhos móveis, atulhamento por estoques-

tampão, pelos refugos, etc.

Esta análise topográfica pode ajudar a formular hipóteses, uma vez que o
atulhamento pode significar problemas relativos a esperas e desvios. Podem também
evidenciar problemas de acessibilidade, de visibilidade, de falta de espaço, dificuldades
visuais, dificuldades de comunicação. Estes problemas acarretam aumento do esforço
físico e a adoção de posturas desconfortáveis.

7.12.2. A ESCOLHA DAS SITUAÇÕES A ANALISAR


Esta escolha está fundamentada na demanda e nos resultados obtidos até este
momento da análise. Os dados coletados e o envolvimento dos interlocutores permitem
ao ergonomista avaliar a situação de acordo com os conceitos da ergonomia – fisiologia e
psicologia cognitiva. Os critérios variam em função do problema a ser tratado e da
estrutura da empresa.
Os critérios do livro para a escolha da situação a analisar foram:
 Queixas dos operadores são mais urgentes;
 As queixas ou as conseqüências dos problemas são mais graves para a
empresa;
 Se encontra a amostra mais ampla dos problemas levantados;
 Ocupam um papel central no dispositivo e cujo funcionamento tem repercussões
a montante e a jusante;
 Devem ser objeto de transformações num prazo mais ou menos longo.
 Situações cujas características manter-se-ão estáveis durante a ação
ergonômica, a menos que a instabilidade seja crônica, não controlada, e assunto do
estudo.
 Será avaliado o risco das relações entre os parceiros sociais num dado setor
criarem obstáculo à condução da ação ergonômica.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
130

7.12.3. OS PRIMEIROS CONTATOS COM OS OPERADORES


Esses contatos são essenciais, pois vão definir a qualidade do diálogo com as
pessoas que estão trabalhando na tarefa em questão. A maneira com nos apresentamos
é fundamental, uma vez que o nosso interlocutor constrói uma idéia do que somos e
quais são os objetivos de nosso trabalho. Além disso, ele fará um julgamento, de acordo
com os seus interesses, integrados em determinado coletivo. Vários cuidados devem ser
tomados, pois sempre há o risco de confusão de papéis, outros profissionais, que têm
questões diferentes, mas próximas do ergonomista, têm estatuto diferente e são
percebidos de outra maneira. O ponto de vista da atividade é novo para as pessoas, este
fato nos leva a explicitar ainda mais o nosso papel, que precisa ser lembrado várias
vezes. Além disso, como a maioria dos profissionais que atuam em ergonomia, tem uma
formação de base em outra área, é comum que este papel não fique claro.

É importante no primeiro contato:


 Dizer seu nome, seu estatuto, seu empregador;
 Explicar o que é a ergonomia e os objetivos a alcançar em termos de melhorias
das condições de trabalho;
 Retraçar brevemente o histórico da demanda, especificar os serviços e os atores
sociais contatados e as questões que foram objeto de acordo;
 Justificar a escolha do setor ou do departamento e das situações de trabalho;
 Lembrar o papel essencial dos operadores na análise da situação e na condução
das transformações;
 Explicar os principais meios utilizados;
 Informar sobre as regras da ação ergonômica, em particular: o voluntariado, o
acordo dos operadores na escolha dos métodos, os momentos de sua aplicação, a
ausência de observações clandestinas, a participação dos operadores na
interpretação dos resultados, a informação prévia dos operadores antes da
divulgação dos resultados na empresa, a suspensão da ação em caso de conflito
interno e sua retomada após acordo entre as partes, o respeito à vida privada e às
relações individuais não profissionais, o respeito ao anonimato.

7.12.4. AS PRIMEIRAS INVESTIGAÇÕES


Ao iniciar as investigações no setor em questão estaremos nos defrontando com
um quadro diferente daquele traçado anteriormente, algumas informações obtidas não
são muito precisas. Apesar deste fato, chegar numa área de repente, sempre é perigoso,
pois há um risco muito grande de não se compreender em que cenário esta produção
está acontecendo. É importante sempre manter o espírito investigativo, entrevistar as
pessoas, estudar os documentos, observar. Através de idas e vindas estaremos
enriquecendo o nosso ponto de vista e aumentando a confiança junto aos interlocutores.

Quais são os temas das primeiras investigações no local escolhido? Quais são as
informações relevantes?
 O funcionamento do processo técnico e a organização do trabalho, com os
constrangimentos que impõem;

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
131

 Os constrangimentos temporais: horários, cadências, períodos da afluência


diárias ou sazonais, efeitos temporais das dependências a montante e a jusante;
 Os constrangimentos físicos: espaços, acessibilidades, ruído, vibrações, tóxicos,
poeira, iluminação, ambiente térmico;
 A circulação das informações entre operadores (natureza e modalidades) e com
os outros setores;
 O resultado do trabalho: qualidade, quantidade, e modos de controle;
 As modalidades de manutenção, de reparo dos materiais (máquinas,
ferramentas, locais).

Um dos aspectos que salta aos olhos é a diferença entre os relatos de antes com
aqueles feitos pelos supervisores, líderes e pelos operadores. Aqui aparece a
variabilidade, os eventos, os fatos que mudam o curso das ações e desviam a atividade
daquilo que foi previsto. A gestão das variabilidades da produção e as humanas são
regra em qualquer atividade de trabalho, em qualquer nível da empresa.

Quais outras informações podem ser procuradas?


 Dificuldades que os operadores enfrentam;
 Buscar suas causas;
 O que os trabalhadores sabem sobre a sua saúde.

Gostaríamos de dar ÊNFASE a alguns pontos:


 O objetivo do ergonomista não é acabar com a variabilidade, mas sim fornecer
meios, instrumentos, adequar a organização do trabalho para favorecer a atividade.
 É preciso sempre desconfiar de diagnósticos apressados, principalmente aquele
que é feito integrando apenas alguns aspectos do trabalho.
 Não se pode invadir a privacidade das pessoas, é importante respeitar o direito
ao silêncio e o sigilo.
 Devemos nos manter aberto a novas questões que não foram formuladas
anteriormente.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
132

7.13. TESTES
Indique a (as) alternativa (s) correta (s).

1. A ação ergonômica:
I. Tem como ponto de partida, uma demanda que sempre é formulada pela direção
de recursos humanos;
II. É composta por várias etapas interligadas, permitindo uma visão sistêmica do
problema;
III. É feita com o envolvimento de trabalhadores que atuam em diferentes níveis da
hierarquia de uma organização;
IV. Deve ser dimensionada a partir de um estudo inicial da demanda;
V. É feita com base em listas de verificação.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas IV e V são corretas
c) Apenas as alternativas II, III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas II e III são falsas
e) n.d.a.

2. Nos exemplos do livro assinale as alternativas corretas:


I. A análise da atividade de trabalho pode ajudar a decidir a localização de um
centro cirúrgico.
II. Para analisar os riscos à saúde em uma tipografia, é suficiente que nos
baseemos nos resultados do PPRA e do PCMSO.
III. Ao analisar o trabalho de digitação e revisão em jornais, é necessário escolher
situações que possam ser generalizáveis.
IV. De pouca valia é para o ergonomista, compreender os objetivos e metas de um
processo de informatização em um jornal.
V. Para prevenir agravos à saúde o ergonomista deve se basear exclusivamente
em programas de seleção médica, como no caso da perfuração de petróleo.

a) Apenas a alternativa III está correta


b) Apenas as alternativas I e III são corretas
c) Apenas as alternativas IV e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, II , III, IV e V são corretas
e) n.d.a.

3. Faz parte do escopo da ergonomia:


I. Entender os fenômenos da intensificação do trabalho sobre a saúde;
II. Estudar as fichas clínicas de cada trabalhador para descobrir os problemas de
saúde;
III. Entender que os dados de saúde existentes e disponíveis são parciais;

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
133

IV. Partir do pressuposto que o absenteísmo é um indicador importante de rejeição


ao conteúdo e às condições de trabalho;
V. Avaliar que uma exposição a um determinado agente agressivo pode ser
modulada por diferentes formas de organização do trabalho.

a) Apenas a alternativa II está correta


b) Apenas as alternativas I, III, IV e V são corretas
c) Apenas as alternativas III e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, II, IV e V são corretas
e) n.d.a.

4. Sobre os dados quantitativos:


I. Através de dados quantitativos sobre o peso transportado por uma ponte rolante é
possível determinar a realidade de trabalho do operador desta;
II. Prêmios de produtividade não estão relacionados com a intensificação do
trabalho;
III. Para o pessoal de enfermagem todos pacientes são semelhantes, basta cumprir
os procedimentos técnicos;
IV. Os números são sempre fontes confiáveis de dados;
V. A comparação de dados sobre a população com outros setores da empresa, ou
ainda com a da população do setor industrial pode ser muito útil.

a) Apenas a alternativa V está correta


b) Apenas as alternativas I, II e III são corretas
c) Apenas as alternativas III e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, II , III, IV e V são corretas
e) n.d.a.

5. A escolha da situação a analisar depende de critérios ligados:


I. À avaliação do risco de haver conflitos no setor que dificultariam o processo de
melhorias;
II. A tarefa escolhida é importante no desenrolar do processo, pois interfere tanto à
montante como a jusante;
III. À relevância das queixas e das conseqüências dos problemas;
IV. Às possibilidades de construir soluções que transformem efetivamente as
tarefas;
V. Da concordância dos interlocutores.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas a alternativa Il está correta
c) Apenas a alternativa Ill está correta
d) Apenas as alternativas I, II, III, IV e V são corretas
e) n.d.a.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
134

CAPÍTULO 8. A CONDUÇÃO DA ANÁLISE EM SITUAÇÃO DE TRABALHO

OBJETIVOS DO ESTUDO

Após esta aula você deverá estar apto a formular um pré-diagnóstico e estabelecer
o planejamento das observações.
Tópicos mais importantes a serem apresentados:
 As hipóteses: elementos de orientação para a análise;
 A atividade vista a partir das hipóteses;
 O pré-diagnóstico;
 A planificação das observações;
 As modalidades de observação.

LEITURA DO LIVRO

Para esta aula você inicialmente deverá ler os capítulos 9 e 10 do livro texto:
“Compreender o trabalho para transformá-lo – A prática da Ergonomia”.
Após a leitura, revise os conceitos apresentados no livro texto completando os
quadros no decorrer da apostila.
As páginas entre parênteses apresentadas ao longo deste roteiro referem-se ao
livro texto adotado.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
135

8.1. A ELABORAÇÃO DAS HIPÓTESES


A formalização das informações obtidas nas etapas anteriores e sua contribuição
para um esquema explicativo dos problemas levantados pressupõem uma abordagem
mais orientada e o emprego de meios de investigação mais específicos.
Os objetivos que podem estar subjacentes à análise da situação de trabalho:
 Verificação e generalização de constatações particulares, necessidade de
qualificações precisas, etc;
 Pesquisa mais profunda onde os dados estão incompletos e de difícil acesso;
 Descrições detalhadas de certas situações.
Qualquer que seja a natureza do objetivo, a atenção dada a uma determinada
característica da situação ou da atividade desenvolvida decorre de uma escolha do
ergonomista. Essa escolha é resultado de hipóteses que ele elabora sobre o alcance
explicativo e demonstrativo, em relação aos problemas levantados, dos fenômenos sobre
os quais se quer investigar mais especificamente.
A formulação das bases para a elaboração das hipóteses requer do ergonomista:
 A leitura dos fatos constatados durante a investigação do funcionamento da
empresa e das primeiras observações da situação de trabalho tomando por base
sua experiência e conhecimentos;
 O atendimento a expressão da demanda, considerando os problemas
levantados e tentando elucidar os seus determinantes na situação de trabalho,
visando instaurar o princípio da transformação.
Limites ao se estabelecer relações diretas de causa e efeito entre as condições de
trabalho e as suas conseqüências para a saúde dos operadores e a eficácia da produção:
 As características de uma situação de trabalho não podem ser apreendidas
independentemente umas das outras;
 Os constrangimentos próprios a uma situação de trabalho nem sempre podem
ser identificados a priori.

8.1.1. A ELABORAÇÃO DO PRÉ-DIAGNÓSTICO


A complexidade e a variabilidade das situações de trabalho raramente levam ao
enunciado de uma relação de causa e efeito simples entre uma condição do exercício da
atividade e uma dificuldade particular. O diagnóstico apresenta uma explicação dos
problemas levantados, aponta os elementos que deverão ser levados em conta nas
transformações e justifica as investigações que vão ser realizadas.
Não se pode considerar o pré-diagnóstico – nem mesmo o diagnóstico final – como
um modelo explicativo levando em conta todos os determinantes do trabalho e os
componentes da atividade. O pré-diagnóstico pode ter sua formulação muito explicita,
menos formalizada sem perder o caráter descritivo e explicativo sempre focando as
características da situação do trabalho possíveis de intervir, ou seja transformar; devendo
evitar a análise da atividade por si sem relação com a problemática e a utilização de
técnicas que não se adaptam à situação.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
136

8.1.2. DEMONSTRAÇÃO E COMPREENSÃO


A demonstração das hipóteses constitutivas do pré-diagnóstico é o eixo central que
organiza a maneira como a análise da atividade vai ser conduzida. Essa análise tende
aos seguintes objetivos: o de investigações abertas, o de quantificação e de
demonstração, que pressupõe métodos sistemáticos e finalizados.

Quadro 8.1.

Que outros objetivos se associam a essa demonstração?

 A verificação e a descrição rigorosa dos fatos atuando sobre os diversos

interlocutores da empresa;

 A busca de fatos até então ignorados, não lembrados podem revelar e

contribuir na compreensão dos problemas levantados; a analise da atividade

não deve se restringir a um estreito procedimento de verificação de hipóteses.

 A troca de informações entre o ergonomista e os operadores não devem ser

prejudicadas pela busca de objetivos de análise precisos e redutores.

eHO – 004 Agentes Químicos I e Ergonomia / PECE, 4 o ciclo de 2009.


Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
137

8.1.3. A OBSERVAÇÃO
A abordagem mais imediata da atividade é a observação. Esta pode ser realizada
de maneira muito aberta (observações livres) ou tendo como foco a coleta de certas
categorias de informações com objetivos precisos – observações sistemáticas.
A partir dos registros brutos (gravações em vídeo, medidas eletrofisiológicas e
registros em geral) o ergonomista vai poder reordenar esses dados de múltiplas maneiras
em termos de estatísticas, levando mais ou menos em conta a variação de tempo. Essa
reorganização corresponde a fase de descrição da atividade observada.
O ergonomista deve poder explicar e comprovar a utilidade de situar em relação a
seus objetivos, suas observações quanto ao tempo identificando os constrangimentos
temporais, suas conseqüências sobre a atividade, o significado temporal das dificuldades
e dos incidentes no trabalho, a variabilidade da duração para realizar uma certa
operação, etc. É importante assegurar que esses resultados não sirvam a finalidade de
avaliação individual dos operadores.
A organização dos planos de observação para verificar esses diferentes tipos de
hipótese se encontra sintetizada no esquema abaixo da figura 8.1.

Figura 8.1. Plano de observação

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
138

8.1.4. O MEIO E A ANÁLISE DA ATIVIDADE


Durante a ação ergonômica, pode-se revelar útil a realização de medidas de certas
características do ambiente. Essa caracterização só tem interesse se for possível
relacioná-la à atividade que ocorre nesse ambiente.
Os cuidados necessários quando se pretende caracterizar o meio através da
realização de medições é de não perder o foco da realidade de utilização por parte dos
operadores e a atividade ali desenvolvida, de nada adiantaria por exemplo medir o nível
de iluminamento de uma área sem observar as variações que acontecem em função do
horário, como também se nesse ambiente os operadores permanecem pouco tempo e a
atividade ali desenvolvida não requer que todo o ambiente seja bem iluminado.

8.2. CATEGORIAS DE OBSERVÁVEIS


A organização das observações se faz em função das hipóteses que guiam a
análise, mas também em função das limitações ou das facilidades próprias de cada
situação de trabalho. A cada uma das classes de observáveis estão associadas questões
técnicas relativas a seu registro ou hipóteses específicas.
Considerando as diferentes categorias de observáveis apresentadas no livro texto
podemos resumi-la nas questões abaixo.
Que ações podem estar associadas aos deslocamentos realizados por um
operador? As análises dos deslocamentos podem ser um meio de avaliar a disposição
dos equipamentos e materiais num dado local em função do trabalho a realizar e pode
servir para a tomada de informações de controle para contato útil com outros operadores.
Em que consiste a observação da direção do olhar? Em registrar em qual parte do
sistema técnico ou do ambiente de trabalho o operador retira informações visuais. Numa
situação de trabalho, o ambiente é estruturado pelo sistema técnico e as tomadas de
informação visual do operador são guiadas pela tarefa que ele realiza.
Como as diferentes formas de registro das comunicações entre indivíduos podem
contribuir para a compreensão da atividade? Ela pode se dá de forma verbal, por meio de
intermediários específicos (telefones, documentos escritos, etc.) e por gestos. É
importante ressaltar que cada meio operacional desenvolve uma linguagem própria
verbal e gestual que podem ser diferente da prescrita.
O que pode revelar as posturas assumidas por um operador em uma situação de
trabalho? É um indicador complexo da atividade e dos constrangimentos que pesam
sobre ela, exigindo um estudo mais aprofundado na medida em que são fontes de fadiga
e podem gerar distúrbios vertebrais, articulares etc.
Como pode ser levada em conta a dimensão coletiva nos registros de observação?
A observação não pode ser reduzia à soma da atividade de seus membros e sim manter
o foco num operador privilegiando suas ações e tomadas de informações em interação
com os seus colegas; focar a observação na estruturação do grupo; a distância entre
atores deve ser monitorada por dois observadores para que sejam coletadas as trocas e
informações e finalmente a escala temporal visto que há interdependência considerável
na sucessão das operações a efetuar sendo importante a identificação dos indícios
apreendidos pelos operadores sobre o andamento dos trabalhos dos outros.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
139

8.3. AS TÉCNICAS DE REGISTRO


As modalidades práticas de registro podem se apresentar de diferentes formas. A
escolha de uma ou mais formas de registro depende de algumas condições. Descreva
abaixo quais são essas condições.
 Pelas restrições próprias as situações e trabalho observados;
 Pela propriedade dos observáveis a levar em consideração. A freqüência e s
possibilidades e discriminação dos observáveis condicionam o numero de
observáveis diferentes que se poderá registrar e a precisão dos registros;
 Pelas hipóteses que guiam as observações e pelo tipo de exploração que o
ergonomista pretende realizar a partir esses registros.
A importância de reconhecer os interesses e limites das observações instantâneas
esta em:
 Não perder o foco da atividade em meio ao processo que ela esta inserida;
 Considerar a continuidade temporal como indispensável para descrever
fielmente a cronologia e o encadeamento das ações de um operador, ou seja,
registrando intervalos de tempos regulares ou em momentos significativos um
estado instantâneo da situação, entretanto, os tratamentos e interferências dessas
observações devem ser levados em conta pra não distorcer a realidade.

8.4. A DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE OBSERVADA


A descrição de uma atividade a partir de registros de observação procura expressar
de maneira sintética o desenvolvimento temporal de uma atividade. Para tanto recorre-se
aos indicadores estatísticos, às descrições cronológicas.
Comente as duas formas citadas acima, destacando as vantagens e os limites de
cada uma delas.
Os indicadores estatísticos recorrem a contagem das ocorrências de eventos; o
cálculo da duração da categoria pressupõe que o plano de observação permita identificar
o início e o fim dos observáveis considerados já a analise da seqüência e categorias
observáveis ou eventos indica a primeira apreensão parcial do desenvolvimento da
atividade.
As descrições cronológicas se situam em dois pólos a sistêmica e a observação
aberta, utilizando-se de gráficos e descrições narrativas.

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
140

8.5. TESTES
1. O desenvolvimento de uma ação ergonômica pode envolver diferentes hipóteses.
Dentre as hipóteses descritas abaixo, quais não são pertinentes à ação
ergonômica?
I. Desconsideração dos constrangimentos reais da atividade;
II. Seleção de pessoas para se evitar certas doenças do trabalho;
III. Dificuldades cognitivas;
IV. Adaptação dos trabalhadores às características do dispositivo técnico;
V. Desconhecimento do funcionamento e das capacidades do organismo humano.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas II e IV são corretas
c) Apenas as alternativas II, III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas II, IV e V são corretas
e) Apenas as alternativas I, II e IV são corretas

2. O eixo central que organiza a maneira como a análise da atividade vai ser
conduzida é o da demonstração das hipóteses. Outros objetivos se acrescentam a
essa demonstração. Indique, dentre as alternativas abaixo, aquelas que se
enquadram nessa condição.
I. A verificação e a descrição rigorosa dos fatos;
II. Trazer um novo esclarecimento sobre o problema levantado;
III. Restringir a um estrito procedimento de verificação de hipóteses;
IV. Garantir a presença no local de trabalho e o contato com os operadores;
V. Quantificação através de métodos sistemáticos e finalizados.

a) Apenas a alternativa III está correta


b) Apenas as alternativas III e IV são corretas
c) Apenas as alternativas II, III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas I, II, IV e V são corretas
e) Apenas as alternativas I, II e IV são corretas

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
141

3. A realização de medidas de certas características do ambiente pode ser útil,


desde que esteja relaciona à atividade. Nos exemplos abaixo, aponte aqueles que
não parecem ser pertinentes em termos de medições:
I. Medida de iluminação em postos de inspeção visual de produtos;
II. Medida da área disponível no setor de expedição de uma empresa
transportadora;
III. Medida do nível de gases presentes no escritório administrativo;
IV. Medida do nível de ruído em setores teleoperados;
V. Medida de temperatura do setor de fornos de uma panificadora industrial.

a) Apenas a alternativa III está correta


b) Apenas as alternativas III e IV são corretas
c) Apenas as alternativas II, III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas II, IV e V são corretas
e) Apenas as alternativas I, II e IV são corretas

4. Assinale as alternativas corretas:


I. A imobilização quase que permanente da cabeça/tronco, membros superiores e
inferiores não indica exigências de precisão e velocidade da tarefa.
II. A observação do olhar permite localizar os lugares mais supervisionados pelos
operadores;
III. Os deslocamentos de um operador podem servir para a tomada de informações
informais úteis sobre o estado do dispositivo;
IV. Os constrangimentos que pesam sobre o operador reduzem suas possibilidades
de mudança de postura;
V. O conhecimento da linguagem técnica empregada pelos operadores pode ser
dispensável em uma ação ergonômica.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas II, III e IV são corretas
c) Apenas as alternativas I, III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas I, IV e V são corretas
e) Apenas as alternativas I e V são corretas

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Capítulo 8. A condução da análise em situação de trabalho
142

5. Diversos indicadores estatísticos são empregados para descrever a atividade


observada. Dentre eles podemos destacar os indicadores listados abaixo exceto:
I. O número de ocorrência de eventos;
II. As entrevistas com os operadores;
III. A duração das categorias de observáveis;
IV. Os momentos das verbalizações;
V. A seqüência de categorias de observáveis ou eventos.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas III e IV são corretas
c) Apenas as alternativas I, III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas I, III e V são corretas
e) Apenas as alternativas I e V são corretas

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
143

CAPÍTULO 9. DO DIAGNÓSTICO À TRANSFORMAÇÃO

OBJETIVOS DO ESTUDO

Após esta aula você deverá estar apto a reconhecer a importância da palavra dos
operadores na ação ergonômica. Somente através do diálogo voltado para as ações
empreendidas ao longo da realização do trabalho é que podemos ter acesso à
inteligência destas ações. Interpretar aquilo que está sendo feito por um trabalhador
somente a partir de observações não deve ser feito, pois estas não permitem ter acesso
ao sentido da ação.
Tópicos mais importantes:
 A construção do diálogo;
 A busca da explicitação de questões pouco evidentes
 O respeito a pontos de vista divergentes, e ao conhecimento do interlocutor
 As diferentes etapas da verbalização e seus objetivos diferenciados
 A síntese formada pela análise das tarefas, os resultados da observação, da
verbalização e a importância da validação.

LEITURA DO LIVRO

Para esta aula você inicialmente deverá ler o capítulo 11 e 22 do livro texto:
“Compreender o trabalho para transformá-lo – A prática da Ergonomia”.
Após a leitura, revise os conceitos apresentados no livro texto completando os
quadros no decorrer da apostila.
As páginas entre parênteses apresentadas ao longo deste roteiro referem-se ao
livro texto adotado.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
144

9.1. AS VERBALIZAÇÕES
As verbalizações são fundamentais para compreender o trabalho.
Por que as verbalizações são essenciais?
 As observações, mesmo aquelas que são muito detalhadas não são suficientes,
uma vez que a atividade não se resume ao observável. A inteligência da ação -
raciocínios, os processos de aquisição e tratamento das informações, o
planejamento das ações podem ser apreendidos a partir das verbalizações e
explicitações;
 Os resultados de observações e medidas se referem a um determinado cenário
e a um determinado tempo. O operador pode dar mais coerência, se pensarmos
nas mudanças que ocorrem ao longo do tempo;
 Existem muitas conseqüências das atividades que não são evidentes (não
observáveis), como a fadiga, o sofrimento, os esforços para alcançar determinados
objetivos.
O acesso à palavra precisa ser obtido a partir de uma relação construída com os
interlocutores. Esta começa com uma explicação muito clara com relação aos objetivos
da ação ergonômica e acontece em situações muito diferentes. Nota-se que ainda
existem situações de trabalho onde a pessoa que está executando a tarefa jamais foi
consultada sobre as dificuldades encontradas, as conseqüências e ainda, sobre as
estratégias para fazer frente aos problemas.

Verbalização – resultado da construção de um diálogo

Observando as dificuldades iniciais para construir o diálogo podemos dizer que:


 O resultado das verbalizações depende da qualidade do diálogo que foi
construído, a tendência ao se falar sobre o trabalho é ser lacônica, pois geralmente
pouco se fala sobre o fazer, geralmente se fala sobre os resultados e sentimentos
relativos à ação;
 Muitas ações não são mencionadas, pois fazem parte de processos antigos, já
incorporados;
 Algumas ações não são verbalizáveis, pois não se dispõe de palavras para
designá-las.
Note-se que, muitas tarefas são consideradas simples, a partir da Análise
Ergonômica do Trabalho, é possível evidenciar a complexidade do ato de trabalhar. Isto
ocorre na medida em que, junto aos diferentes interlocutores e, sobretudo junto aos
operadores, é possível se estabelecer as relações. Isto só é possível através da palavra.
Aspectos fundamentais para o operador resultante do diálogo:
 Descobrir através deste processo reflexivo, a complexidade das suas ações e de
seus resultados;
 Construir um novo ponto de vista sobre o seu trabalho e de seus colegas.
Na página 166 do livro texto, são descritos os diferentes momentos e objetivos das
verbalizações.
Os objetivos das verbalizações são:
 Compreender as principais características da atividade;
 Conhecer os principais constrangimentos nos quais ela se realiza;

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
145

 As mudanças que ocorrem ao longo do tempo;


 As conseqüências mais evidentes para a saúde e para a produção;
 Conhecer melhor o funcionamento do sistema técnico a partir do ponto de vista
do operador;
 Conhecer o jargão profissional;
 Compreender melhor o desenvolvimento da atividade observada;
 Dar sentido aos eventos e às ações;
 Observações servem então de apoio às verbalizações;
 Precisar ou corrigir a escolha dos observáveis
 Construir uma interpretação dos resultados em conjunto com os operadores, que
será fundamental para a elaboração e validação do diagnóstico final.
Este processo é iterativo, pois a cada momento, permite re-interpretar dados que já
foram obtidos anteriormente. A todo o momento, outras informações podem ser
incorporadas, os operadores vão trazendo outros aspectos, novas reflexões. Isto
depende da qualidade da interlocução criada entre o ergonomista e o operador.
As referências possíveis que podem ajudar o operador a melhor explicitar o sistema
técnico são:
 Cronológicas: um dia de trabalho, diferenças segundo os horários, o
encadeamento das ações;
 Eventos marcantes;
 Situações espaciais ou relativos objetos.
 Utilidade de comandos de uma máquina e as condições de sua utilização e ou
funcionalidades.
É importante ter em mente que a racionalidade do trabalho é diferente da
racionalidade técnica, desta forma o objeto do diálogo está voltado para melhor conhecer
atividade, o quê só é possível se for feita junto com o operador e, a partir de referências
concretas.
Distinguem-se as duas modalidades de verbalização (simultâneas e sucessivas):

9.1.1. AS VERBALIZAÇÕES SIMULTÂNEAS


 São contextualizadas e estão ligadas às condições concretas do seu exercício;
 São realizadas em situação de interação entre o operador e o ergonomista
levando a interferência no desenvolvimento da atividade;
 Modificam o desenvolvimento da atividade;
 Pode não ser possível devido a possíveis riscos, às exigências da tarefa, às
condições ambientais, ao uso de EPIs, aos deslocamentos.

9.1.2. AS VERBALIZAÇÕES CONSECUTIVAS


 Não interferem com o curso da ação do trabalhador;
 São feitas com o apoio de dados das observações e com relatórios sobre o
trabalho executado;
 Podem ser apoiados por registros fotográficos, filmes, objetos produzidos e
documentos.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
146

As verbalizações podem ser espontâneas, desta forma o operador estará se


referindo a fatos e eventos que considera importantes para si e para o ergonomista.
9.1.3. AS MODALIDADES DE QUESTIONAMENTO
É importante que você tenha em mente que a verbalização não é algo simples,
questões que podem ser colocadas pelo ergonomista, a maneira de fazê-las podem
comprometer significativamente os resultados.

Quadro 9.1.

Explique as razões para não se usar a pergunta “por que”:

 Pode ser percebida como uma suspeita;

 Pode incitar o operador a buscar uma justificativa “oficial” de sua ação;

 Introduz uma confusão entre as causas e os objetivos.

As perguntas que melhor se adequam estão voltadas ao quê está sendo feito em
determinado momento, à maneira de fazer, às razões para fazer e às intenções. Cada
pergunta pode ser uma oportunidade para aprofundar o diálogo, precisando melhor as
explicações, a temporalidade, as causas.
Porque é incorreto sempre fazer as perguntas relacionadas a o quê o operador vê?
(página 170 do livro texto).
Todas as modalidades sensoriais estão em jogo na atividade, se o foco está na
visão, à pergunta dirigida ao olhar pode impedir o operador de explicar como ele se deu
conta de determinado fenômeno.
É necessário reconhecer as reticências ou aborrecimentos possíveis do operador
que por vezes aparece nas entrelinhas, entre elas:
 Modos operatórios implicando em risco;
 Não conformidade com às prescrições;
 Falar sobre certos efeitos sobre sua saúde;
 Aspectos que relevam aspectos da vida pessoal

Através deste processo de construção do diálogo é possível se colocar em


evidência o conhecimento do operador. Este conhecimento ainda é pouco reconhecido,
fato que traz dificuldades para que se atinja melhor os objetivos da produção e se
reconheça o possível risco à saúde dos trabalhadores.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
147

Os tipos de conhecimentos específicos do trabalhador são:


 Conhecimento da variabilidade, dos incidentes, e das regulagens a que precisam
recorrer para dar conta deles;
 Conhecimentos de exigências não formalizadas do trabalho;
 Conhecimentos relativos às exigências do trabalho apreendidas em suas inter-
relações.
A técnica da autoconfrontação é muito útil, pois permite ao trabalhador, junto com o
ergonomista, fazer referência a algum dado recolhido durante o curso da ação. Recolocar
para o trabalhador a ação registrada (planilha, vídeo, foto) é uma oportunidade para
estruturar melhor a análise através da reconstituição dos objetivos, dificuldades, da
explicitação de dificuldades, de estratégias. É importante lembrar que ao trabalhar, as
pessoas se defrontam com a simultaneidade de fenômenos, com a interpretação de
sinais, e precisam construir um curso da ação significativo para realizar a contento a sua
tarefa.

9.2. O DIAGNÓSTICO E A TRANSFORMAÇÃO


A leitura do Capítulo 12 do livro texto será importante para que você consiga
entender a importância da construção de um diagnóstico para a transformação de uma
situação de trabalho. Para tanto, leia com atenção o item sobre o diagnóstico local e
responda à pergunta do quadro.
O conteúdo do diagnóstico local propõe uma relação entre:
 Condições de exercício da atividade,
 A atividade realizada,
 Resultados da atividade
 Explicar as dificuldades que deram origem à demanda para a ação ergonômica.
Os resultados desta análise serão confrontados com outros pontos de vista
existentes na empresa para que se possa elaborar soluções para os problemas
encontrados. A ergonomia traz no bojo do seu diagnóstico o ponto de vista do trabalho,
diferente de outros pontos de vista existentes na empresa.
Neste capítulo também é discutido o processo que vai do pré-diagnóstico ao
diagnóstico, isto é, do momento onde são feitas as hipóteses relativas às explicações dos
problemas encontrados pelos operadores e a sua confirmação, através da observação,
das verbalizações, da explicitação e da validação.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
148

Quadro 9.2.

Se no pré-diagnóstico já está contido o diagnóstico, quais seriam os motivos para

continuar a ação ergonômica e não partir diretamente para a construção das soluções?

 O pré-diagnóstico, que serve para definir as observações sistemáticas.

 Em certos casos, essas observações apenas confirmam e proporcionam uma

demonstração dos elementos enunciados no pré-diagnóstico.

 Na maioria dos casos, as observações e explicitações vão enriquecer o pré-

diagnóstico;

 Existem também casos onde os resultados levam a reconsiderar o pré-

diagnóstico.

O diagnóstico em ergonomia é sempre singular, original. Nele é preciso integrar a


atividade dos operadores, desenvolvida em uma determinada situação. Com este
diagnóstico será possível enriquecer as representações dos diferentes interlocutores,
uma vez que os problemas existentes não encontravam uma explicação adequada e,
portanto, a construção de soluções ficava comprometida. Na verdade, os problemas
também não eram bem formulados.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
149

Quadro 9.3.

Utilize os exemplos da página 178 do livro texto para mostrar como as

representações sobre o trabalho não representam a realidade:

 A análise da em uma linha de montagem mostrou que as trabalhadoras não

executam um trabalho apenas “manual”, uma vez que, além da atenção

necessária, elas devem tomar numerosas decisões sob constrangimento de

tempo.

 A análise do trabalho em uma refinaria mostra que na sua atividade os

operadores não se contentam em consultar a informação fornecida pelo

sistema: constroem a informação, confrontando diferentes fontes para detectar

os materiais que falham nas medidas.

Como descrito anteriormente, a análise ergonômica do trabalho não tem como


objetivo principal explicar o trabalho, mas sim compreendê-lo para transformá-lo. Esta
transformação busca adequar o trabalho às características humanas, mas aí há um
paradoxo, como prever que a situação futura será melhor que a atual?

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
150

Quadro 9.4.

A partir do texto explique porque as “recomendações” apresentam muitas

dificuldades:

 Não é garantido o envolvimento daqueles que podem ter um papel efetivo na

transformação da situação de trabalho.

 Não há garantia que as “recomendações” tenham sido redigidas de maneira

pertinente para os interlocutores que podem agir para transformar.

 Por mais simples que seja a transformação é necessário uma nova concepção,

um novo projeto, neste caso compromissos serão efetuados, entre os objetivos

fixados pelas “recomendações” e o que é factível.

 Os projetistas nem sempre têm condições de avaliar sozinhos as

conseqüências desses compromissos sobre a atividade dos operadores.

Portanto é importante que o ergonomista acompanhe o processo de transformação,


participando de alguma maneira da concepção do novo projeto. No processo que se
instaura é importante que se consiga definir com mais clareza quais são as possibilidades
de transformação. Diversos fatores podem estar em jogo.
Os fatores que podem estar em jogo no processo de transformação são:
 Arranjo físico de posto de trabalho;
 Características dos dispositivos automatizados ou dos sistemas informatizados;

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
151

 As políticas de investimento;
 As ofertas de máquinas disponíveis no mercado;
 A organização do trabalho no setor ou no departamento;
 A política comercial;
 A política de seleção ou de formação dos operadores;
 As políticas de gestão.
Um diagnóstico localizado será então relacionado com outros fatores que,de uma
forma ou de outra determinam e possibilitam as possibilidades de mudança. O papel do
ergonomista é também ajudar a criar um ambiente de diálogo favorável para que estas
diferentes racionalidades possam estar representadas no processo de transformação.
Os interlocutores envolvidos em um processo de transformação mínima e rápida
são:
 Os operadores envolvidos;
 A supervisão;
 O responsável pelo setor ou departamento;
 O responsável pela manutenção;
 O responsável pelos métodos e [travaux neufs] que cuidam desse setor;
 O médico do trabalho, o responsável pelas condições de trabalho ou segurança;
 A CIPA;
 O diretor da empresa ou do departamento.
Mas é importante garantir que as transformações possam estar inseridas em um
contexto mais amplo e sejam mais profundas e perenes, desta forma é importante
envolver outros interlocutores. Neste caso, os interlocutores seriam… (Completar o
quadro seguinte).
Os interlocutores envolvidos em um processo de transformação de longo prazo
(representantes) são:
 Os responsáveis industriais da empresa (direção de produção e direção de
métodos);
 A direção de recursos humanos;
 A direção de qualidade;
 A Comissão de Fábrica, da CIPA;
 E novo, dos responsáveis pelo setor;
 O médico do trabalho.
Um outro aspecto relevante do diagnóstico mais geral é que aspectos divergentes,
senão contraditórios da gestão da empresa podem ser evidenciados. A divulgação deste
é sempre um processo delicado e envolve interlocutores que têm pontos de vista e
objetivos diferentes.
Campos de ação possíveis:
 Re-concepção dos produtos, para facilitar sua fabricação;
 Redefinição do serviço de atendimento ao cliente;
 Projeto arquitetônico ou dos espaços de trabalho;
 Projeto das máquinas e das ferramentas;
 Concepção dos sistemas de tratamento de informação;
 Elaboração dos procedimentos ou auxílios ao trabalho;

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
152

 Organização geral da empresa, distribuição das missões entre os diferentes


departamentos;
 Organização do trabalho, distribuição das tarefas, redefinição dos tempos;
 Elaboração de planos de capacitação;
 Organização da circulação de informações sobre as dificuldades encontradas.

A transformação pode ser um processo de correção, de adaptação ou de


concepção. Qualquer que seja o escopo dela há três pontos essenciais deste processo
que vão obrigar o ergonomista a agir.
As ações obrigatórias do ergonomista neste caso são:
 Analisar o papel dos diversos atores, os procedimentos e as etapas previstas
para a concepção da nova situação, e eventualmente a sugerir modificações na
estrutura do projeto;
 Sugerir uma abordagem conjunta dos aspectos ligados às máquinas, ao
software, aos locais, à organização do trabalho e à formação;
 Propor meios de antecipar as conseqüências sobre a atividade futura das
diferentes soluções elaboradas.
A participação em projetos requer uma análise crítica de alguns aspectos que vão
determinar tanto a abrangência como as possibilidades de sucesso do empreendimento.
Neste caso será de grande importância ter claro se diferentes aspectos ligados às
dificuldades dos operadores foram relacionados com aspectos de eficiência econômica
(qualidade e produtividade). Questões estratégicas também precisam ser consideradas,
tais como: a evolução do mercado, o envelhecimento da população empregada, da
legislação. O envolvimento dos diferentes responsáveis foi garantido?

A participação do ergonomista desde a primeira fase do projeto pode ser útil para:
 Evitar a adoção na empresa de soluções automatizada caras e pouco eficientes;
 Ajudar na elaboração de um ponto de vista sistêmico que integre a tarefa, o
ambiente e as relações com outras etapas do processo;
 Ajudar a aumentar a coerência do processo, através da integração de diferentes
fatores da produção.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
153

Quadro 9.5.

Qual é a importância e quais são as três condições para se antecipar a atividade

futura?

Importância:

Esta antecipação é importante, pois pode ajudar a identificar em tempo

dificuldades, pedir modificações, antes que se tornem dispendiosas. Desta forma o

ponto de vista de custo e de confiabilidade pode ser enriquecido com o ponto de

vista do trabalho.

Condições:

1. A existência de suportes, como plantas, maquetes, modelos simplificados em

escala 1, protótipos, material emprestado pelo fornecedor, cópias de telas entre

outros.

2. Confrontar competências diferentes: responsável pelo projeto, ergonomista,

responsáveis e operadores de produção e de manutenção.

3. Identificar como os operadores poderão trabalhar nas diferentes situações que

irão encontrar, sejam elas consideradas “normais ou previstas” ou imprevistas

e inusitadas.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
154

O papel do ergonomista também pode ser útil na chegada dos novos equipamentos
e na partida do processo. Quando a produção é iniciada, poderá ser feito um
acompanhamento que considere a atividade dos operadores para localizar dificuldades
não previstas e corrigir rapidamente. Além disso, o aprendizado necessário para a nova
situação pode ficar mais evidente e servir de lição para o futuro. Um dos aspectos
fundamentais para se avaliar este processo é identificar se a referencia à atividade de
trabalho se tornou presente e perene na empresa, se esta atividade é considerada em
projetos novos e na gestão dos processos de produção e manutenção.
A avaliação dos resultados de uma ação ergonômica pode ser feita da diferentes
maneiras.
No caso do exemplo do texto (páginas 188 e 189 do livro texto) dos resultados
imediatos, o fato de não acompanharem o processo trouxe um insucesso relativo pois
apesar de serem introduzidos no projeto alguns conceitos sobre o ser humano em
atividade, a questão do conteúdo do trabalho e a elaboração de compromissos que
considerassem a atividade real foram negligenciados.
Em longo prazo a ação ergonômica deveria contribuir para a estruturação de um
novo ponto de vista sobre o trabalho que permita construir uma outra dinâmica, novos
compromissos na empresa. As introduções de práticas de negociação, de respeito
mútuas são resultados importantes que podem fazer evoluir significativamente as
relações sociais na empresa. Este processo será mais efetivo se, de fato, os diferentes
interlocutores ganhem mais autonomia e legitimidade para garantir os resultados da
empresa e garantir não somente a manutenção, mas sim, a promoção da saúde dos
trabalhadores.

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
155

9.3 TESTES
Indique a (as) alternativa (s) correta (s).

1. Com relação às verbalizações:


I. Elas são essenciais, pois podem ser um meio para que os operadores possam
explicar as ações que estão empreendendo;
II. Através delas é possível situar as ações em um quadro temporal mais amplo que
aquele das observações;
III. Para evidenciar do cansaço ou do sofrimento não são necessárias, pois a
observação já permite evidenciá-los;
IV. O operador não menciona espontaneamente certas operações que aprenderam
há mais tempo, mais rotineiras.
V. Certas ações não são facilmente expressadas oralmente.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas IV e V são corretas
c) Apenas as alternativas I, II e III são corretas
d) Apenas as alternativas I, II, IV e V são corretas
e) n.d.a.

2. Sobre os temas das verbalizações:


I. Aquelas voltadas para a cronologia da atividade são muito úteis para entender o
trabalho em uma linha de montagem;
II. Quando a tarefa ocorre em diferentes postos de trabalho, elas podem estar
ligadas ao espaço onde as ações ocorrem;
III. Uma explicação técnica sobre o funcionamento de um determinado dispositivo é
mais útil que aquele voltado para a utilização deste;
IV. Quanto menor for o tempo decorrido entre a atividade e a verbalização melhor;
V. Um diálogo sobre o uso de um determinado menu de um programa de
computador pode ser um bom começo.

a) Apenas a alternativa III está correta


b) Apenas as alternativas I e III são corretas
c) Apenas as alternativas II, IV e V são corretas
d) Apenas as alternativas II, III, IV e V são corretas
e) n.d.a.

3. O diagnóstico ergonômico:
I. Serve para formular um enunciado ligado às relações entre as condições, a
realização e os resultados da atividade;
II. O diagnóstico elaborado pelo ergonomista expressa uma síntese dos mais
variados pontos de vista;

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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
156

III. No exemplo ligado à fabricação de alumínio, um dos resultados expressos no


diagnóstico local mostra a importância para o operador do conhecimento sobre a
qualidade do metal;
IV. Os resultados finais das observações sistemáticas servem apenas para provar a
validade das hipóteses formuladas no pré-diagnóstico;
V. O diagnóstico em ergonomia é sempre singular, pois se refere à uma atividade
situada em determinado contexto, sob determinados constrangimentos.

a) Apenas a alternativa I está correta


b) Apenas as alternativas II e IV são corretas
c) Apenas as alternativas III e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, III, V são corretas
e) n.d.a.

4. As possibilidades de transformação:
I. A transformação de uma tarefa a partir da aquisição de novas máquinas resolve a
maioria dos problemas, pois há no mercado equipamentos adequados às
características humanas;
II. As empresas que fizeram um trabalho de racionalização do trabalho, usando
novos paradigmas de produção, puderam reduzir seus efetivos com efeitos
positivos para a saúde da população de trabalhadores;
III. A diversidade de produtos e a diversidade dos produtos vendidos não têm
impacto sobre a atividade dos operadores;
IV. A atribuição de responsabilidades aos gestores que contenha não somente os
resultados econômicos e a eficácia dos processos, mas englobem os impactos
sobre a saúde e a qualificação dos trabalhadores, pode ser interessante sob a ótica
da ergonomia;
V. O envolvimento dos responsáveis da alta direção da empresa pode ser uma
maneira de buscar uma maior perenidade das transformações feitas a partir do
ponto de vista da ergonomia.

a) Apenas a alternativa V está correta


b) Apenas as alternativas I, II e III são corretas
c) Apenas as alternativas IV e V são corretas
d) Apenas as alternativas I, II, III, IV e V são corretas
e) n.d.a.

5. Ainda sobre a transformação:


I. É importante garantir que se possa trabalhar com maquetes, modelos
simplificados em escala (quando possível), versões prévias do programa de
computador é importante para antecipar a atividade futura.
II. Reunir diferentes competências nos grupos de trabalho é importante. O
ergonomista pode suscitar discussões sobre situações não previstas inicialmente.
III. O papel do ergonomista pode se estender ao momento da partida das
instalações, pois ainda podem ser feitos ajustes para situações não previstas.
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Capítulo 9. Do diagnóstico à transformação
157

IV. A referência à atividade pode se tornar comum a diferentes interlocutores, desta


forma as transformações que se sucedem podem continuar a garantir a promoção
da saúde e a eficiência do sistema de produção.
V. Analisar uma ação ergonômica sob o ponto de vista da empresa, leva em conta
a relação custo / benéfico. Este fato tem que ser visto com cuidado, pois muitas
vezes não há informações pertinentes para avaliar precisamente os resultados.

a) Apenas as alternativas I, II, III e IV são corretas


b) Apenas as alternativas I e III são corretas
c) Apenas as alternativas II, III e IV são corretas
d) Apenas as alternativas I, II, III, IV e V são corretas
e) n.d.a.

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