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MARIADA.GLORIAGOHN cesso de conhecimento nas ages coletivas de educacao nao formal, qualificando sua natureza. Investigar sobre o carter educativo dessas ages, seu sentido e significado, ind do sobre seu cariter emancipatorio, ou integracionista/ conservador, sio objetivos deste livro. Tipos ou exemplos dessas ages coletivas serdo analisados na segunda parte deste livro, muitas delas sao desenvolvidas sob a bandeira de *Projetos Sociais* que objetivam a “incluso social” de seus participantes. O debate académico levado a efeito a partir dos anos 1990 sobre a “crise da modernidade" trouxe a tona a questo da racionalidade ¢ o questionamento da racionalidade cien- tifica como a nica legitima. Trouxe a tona também novos campos de producao de conhecimento e areas de saberes que estavam invisiveis ou ndo eram tratadas como conhe cimento ou saberes educativos — recobertas de praticas pedagégicas ¢ processos educativos. Outras dimensdes da realidade social, igualmente produtoras de saberes, vieram a tona, tais como as que advém do mundo das artes, do ‘mundo feminino’ das mulheres, do corpo das pessoas, das religides ¢ seitas, da cultura popular, das aprendizagens cotidianas por meio da educagiio nao formal. B estas outras racionalidades esto, predominantemente, presentes nos trabalhos desenvolvidos no campo da educagao nao formal, junto a centenas ou mithares de pessoas que participam de projetos sociais comunitarios. Hardt e Negri (2005) chamam, a atengao para a tede de singularidades que produzem a riqueza social de forma colaborativa em intimeras ages € projetos coletivos, Ou seja, ha ‘multiddes" de pessoas par- ticipando dos processos de trabalho social que sao simples- mente invisiveis nos textos ¢ andlises mais usuais da atualidade na area da educacao ¢ outras afins. Weir Parte I Educacao Nao Formal: Conceito, Campo e o Educador Social 1. Trajet6ria do termo educacao nao formal na literatura Em 1999 publiquei meu primeiro livro sobre educagao nao formal pela Editora Cortez. Ele foi uma versio amplia- da de um artigo publicado em 1998 na revista Ensaio, sobre Politicas Publicas, da Fundagao Cesgranrio — o qual ja havia sido publicado preliminarmente na revista Gidadania Textos, do Gemdec, da Faculdade de Educagéo da Unicamp. 0 ar tigo teve repercussiio no meio académico se chamava Educagio Nao Formal — um novo campo de atuagao". fi interessante resgatar dois fatos que foram importantes para 2 escolha da categoria educagao nao formal nestes textos. Primeiro: desde os anos 1980 eu trabalhava com o pressu- posto de que os movimentos sociais ¢ outras priticas asso- ciativas coletivas tinham um carater educativo, para seus participantes, para aqueles que eram alvo dos protestos ¢ demandas e para a sociedade em geral. Mas eu ndo havia ainda conseguido exemplificar bem este carater por meio MARA DA-GLORIAGOHN de uma categoria analitica, A construgao da categoria edu: cago nao formal para exemplificar o proc zagens € a construgao de saberes foi a luz na escuridao. Segundo, a categoria educacao nao formal foi sendo cons. truida em textos na minha producio sob forte influéncia de vivéncias praticas. Eu nao havia pesquisado ainda sobre a categoria na producao académica, o que veio a ocorrer logo a seguir. Inicialmente busquei nomear o proceso edu. cativo que tratava da aprendizagem no interior dos movi- mentos sociais, tentando diferencié-lo no apenas da edu- cago formal — escolar —, mas também da educagao popular relacionada com os processos de alfabetizagao de adultos, sob modalidades alternativas. Em terceiro lugar: a publicagao do livro citado, Educagdo ndo formal e cultura politica, pela Cortez, foi simultanea a introdugao da disci- plina Educagao Nao Formal na graduacao da Faculdade de Educagao da Unicamp e este fato demarca um novo campo/ area do conhecimento que se institucionalizou nos cursos de Educacao e/ou Pedagogia. Na ocasiao, houve uma re sio curricular no curso de Pedagogia da Unicamp, participei dos debates e defendi a inclusio ¢ a elaboragao da nova disciplina. Tive a satisfagao de escrever sua ementa, depois debatida com outros colegas. A disciplina que existia antes era educagao extraescolar (voltada para o estudo das “cre ches", ou educacao infantil). A reformulagao serviu de base, posteriormente, para a introdugao da disciplina em outras universidades (cheguei a assessorar outras universidad que também fizeram reformulagées na Faculdade de Peda gogia, tomando a Unicamp como modelo). No ano seguin| a disciplina foi introduzida na Pés-graduagao da FE/Uni- camp, como disciplina nova. Posteriormente a disciplina tornou-se obrigatéria no ensino da graduagao. Ainda no DUEAGAO NAO FORMAL EOEDUCADOR SOCIAL final dos anos 1990 surgem as primeiras teses e dissertagoes Ue orientandos meus usando o termo. Naquela época, gra um video no Programa da Rede Vida coordenado por Mario Sérgio Cortella, produzido pela Edigées Loyola, sobre ducagao Nao Formal’. Na atualidade, a disciplina Educagao Nao Formal com- poe a grade curricular da maioria dos cursos de Bducacao ou Pedagogia, também nas faculdades e universidades par- liculares. A Lei de Diretrizes e Bases da Bducagao Nacional (LDBEN), de 1996, abriu caminho institucional aos proces- educativos que ocorrem em espagos ndo formais ao lofinir a educagao como aquela que abrange “processos jormativos que se desenvolvem na vida familiar, na convi- cia humana, no trabalho, nas instituigdes de ensino pesquisa, nos movimentos sociais ¢ organizagdes da socie: dade civil e nas manifestagdes culturais" (art. 1°, LDBEN, 1996) 0 termo foi incorporado ao Plano Nacional de Educa- io em Direitos Humanos em 2003, 0 qual tive a oportuni- Jade de assessorar. As Diretrizes Curriculares Nacionais para 0 Curso de Graduagdo em Pedagogia e Licenciatura, Je 2006, também assinala a importancia ¢ a necessidade de formar educadores para atuarem também nos espacos nao olares, Estudos da Fundacao Carlos Chagas de 2008 re- claram que a presenca de disciplinas voltadas para 0 en- ino especifico com enfoque em contextos nao escolares nda € pequena (FCC, 2008). Quando escrevi o livro Educagdo néo formal e cultura wolitica, ao pesquisar a literatura a tespeito, o que encontrei publicado em portugués foi: um livro de Carlos Alberto Tor- es (1992), 0 qual o nao formal eram processos alternativos de alfabetizacao; alguns textos da Unesco igualmente utili- indo a expressao como sindnimo de educagao de adultos MARIA OAGLORAGOHN em processos alternativos, e um artigo na Revista da SBPC A produgao mais significativa advinha do exterior, um texto de Almerindo Janela, da Universidade do Minho, que de- marcava a diferenga entre o formal ¢ 0 nao formal (Janela, 1994), Aos poucos fui buscando outras referéncias interna- cionais na literatura, Descobri que o proprio John Dewey ja usara a expressdo no inicio do século XX. Cheguei a Jaume Trilla, com livros bastante conhecidos desde os anos 1980 (La educacion fuera de ta escuela, 1985). Trilla registra que Montesquieu, no século XVIII, ja estabelecera a divisio do campo da educagao em tres areas: a educacao que recebemos dos pais (para nés a informal), a educagao que se recebe dos mestres nas escolas (a formal) ¢ a educagao do mundo (para nds, parte da educacao nao formal, advinda da experiéncia). Trilla id falar numa quarta forma, diferente da educagao advinda do mundo. A Conferéncia Mundial pela educagio realizada na Tailandia, no inicio da década de 1990, também mencionava processos educativos fora da escola Atribui-se a P. H. Coombs (1968) 0 reconhecimento & a popularizagao da concepgao de outras formas e meios educacionais desenvolvidos fora da escola, com objetivos educacionais. Inicialmente ele nao diferenciava a educacao informal da nao formal — usava-as simultaneamente. Pos- teriormente, Coombs, junto com Ahmed, ampliaram 0 campo educacional para trés modalidades ¢ eles as diferen. ciam em: formal, nao formal ea informal (Coombs ¢ Ahmed, 1974), J. Trilla afirma que desde 1975 a terminologia “edu. cacao nao formal” ampliou-se no plano internacional e tornou-se usual na linguagem pedagégica. Ele diz que ela “consta nas obras de referéncia da pedagogia e das ciéncias da educacdo (tesauros, dicionarios, enciclopédias), dispoe de abundante bibliografia que nao para de crescer, 6 utili- DUCAGAONKO FORMALE OEDUCADOR SOCIAL ula na denominagao de organismos oficiais, existem dis- ciplinas académicas com esse nome no campo da formagaio de educadores etc." (Trilla, 2008, p. 33). © uso da expressao se espalha nos anos 2000. ONGs, entidades como Sesc, Senac, Itati Cultural, Programas Edu- Livos e outros passam a utilizéJa no campo da atuagao junto a comunidades variadas, principalmente associada & promogao da cidadania, incluso social etc. A partir dos nos 2000 algumas dissertaces, teses ¢ livros vieram a luz sbre o tema da educagao no formal, tais como os livros organizados por Von Simson (2001), € Elie Ghanem, Jaune illa e Valéria Arantes Amorim (2008). Em 2006 publiquei ,ovo artigo a para revista Ensaio (Gohn, 2006) e publiquei 10 Nao fronteivas: universos da educagdo nd formal (2007) pelo Instituto Ita Cultural, em que analisei 222 projetos iciais que concorreram no Projeto Rumos Educagio, Arte © Cultura de 2006/2007. Desenvolvi uma metodologia ¢: cifica para a andlise qualitativa dos dados. Na segunda parte deste livro, ora apresentado, faremos uma sintese daquelas andlises No exterior, na atualidade, temos publicagdes na Fran- emanha e Espanha, quase todas sob a denominagao Ue educagao social, no campo da Pedagogia Social. Na Amé- rica Latina, o Chile também apresenta publicagé to da educagao nao formal, talvez dada a influéncia da ofi- cina da Unesco para a educacao sediada naquele pais. Mariano Enguita, sem usar 0 termo educagao no for- mal, oferece-nos uma panoramica sobre a importincia stual das aprendizagens, saberes conhecimentos existen- les fora das escolas, no seu entorno, Ao analisar a socieda- de atual, Enguita denomina-a como sociedade transforma- MAAIA DA GLORIA COHN cional — dada a vertiginosa realidade intrageracional das mudangas sociais. Ele assinala que temos que pensar essa nova realidade em termos de cooperagao entre os centros de ensino ¢ o seu entorno, criando uma relagaio denomina: da“escola-rede”, Segundo Enguita, esta abordagem ultrapas- sa as visdes que veem a escola encapsulada em si mesma, para uma outra visdo em que o desafio intelectual é pensar em centros educativos como pontos de interseceao de outras tedes que reforcam seu sentido piblico. Intersecco com Projetos sociais capazes de mobilizar a cooperacao entre centros de ensino outros agentes presentes em seu entor- no. Ou seja, o que denominamos como aprendizagens & saberes produzidos por instituigdes, associagdes, movimen- tos etc., via a educagao nao formal, sio o foco de destaque de Enguita — o entorno da escola. Vale a pena destacar um trecho de suas analises porque elas contribuem para a re- Jevancia dos processos educativos nao formais que este livro aborda. Diz, Enguita (2009) “a aceleragao da mudanca social rompe com as velhas coordenadas espaco-tempo do ensino aprendizagem. [...] Jé ndo ha uma clara divisio entre os que criam 0 conhecimento ¢ os que os transmitem. [...] Toda mudanga social que a escola nao pode seguir a reproduzir Por si s6 estd ai, nos entes sociais do entorno com os quais tera de aprender a trabalhar em redes de cooperaco de estrutura € duragdo varivel. |... Esta difusdo e presenca do conhecimento fora das instituigdes dedicadas exclusiva a criacdo ¢ transmissao pode também ser considerada como uma caracteristica da sociedade informacional. [.... onde 0 conhecimento est em redes. [...]. No que concerne a edu- cacao, isto implica que os conhecimentos necessarios para © proceso ja ndo stio mais monopélio da instituicao escolar nem da profissdo docente, Qualquer iniciativa precisa da JCA¢AO WHO FORMAL EO EDUCADORSOCIAL cooperagio, em configuragbes de geometria variavel, com pessoas, grupos e organizagoes do entorno que possuem certos tipos de informagao e de conhecimento em uma Jida inalcangavel para a escola ¢ 0 professorado’. (En- guita, 2009: 23-25-26-28) 2. Educagéo nao formal no universo das praticas educativas Acreditamos que propostas se fazer com ideias ¢ fun: Jamentos; por isso, dedicamos a primeira parte do texto a qualificagio € a diferenciagao de um conceito que tem centralidade no tema que estamos discutindo, qual seja: a importincia da educacao nao formal Articular a educagao, em seu sentido mais amplo, com os processos de formagao dos individuos como cidadaos, ou urticular a escola com a comunidade educativa de wm ter ritério, é um sonho, uma utopia, mas também uma urgén: cia e uma demanda da sociedade atual. Por isso trabalhamos com um conceito amplo de educagzo que envolve campos diferenciados, da educacao formal, informal ¢ nao formal. Muitos autores trabalham apenas com um dualismo: formal ou informal. Consideramos que 0 nao formal € profunda- mente diferente do informal, tem campo proprio, e é a novidade a ser tratada, na pesquisa empirica ¢ no trabalho \eorico-académico voltado para a produgio de conhecimen- to. Consideramos que é necessario distinguir e demarcar 1s diferengas entre estes trés conceitos. Em principio podemos caracterizar a educagao formal como aquela desenvolvida nas escolas, com contetidos pre- MARIA DA GLORIA GOH viamente demarcados; a educacdo nao formal é aquela que se aprende *no mundo da vida’, via os processos de compar- tilhamento de experiéncias, principalmente em espacos ¢ ages coletivos cotidianos; ¢ a educacio informal como aque- la na qual 0 individuos aprendem durante seu processo de socializagao gerada nas relages e relacionamentos intra ¢ extrafamiliares (amigos, escola, religido, clube etc.). A informal incorpora valores ¢ culturas proprias, de pertencimento ¢ entimentos herdados, Os individuos pertencem aqu espagos segundo determinages de origem, raca/etnia, reli. sido etc. Sao valores que formam as culturas de pertencimen- tos nativas dos individuos. Contrariamente, a educacdo nao formal nao € nativa, ela é construida por escolhas ou sob certas condicionalidades, ha intencionalidades no seu desen volvimento, o aprendizado nao € espontaneo, nao é dado por caracteristicas da natureza, nao € algo naturalizado. © aprendizado gerado € compartilhado na educacao nao formal ndo é espontaneo porque os processos que o produz tém intencionalidades propostas. Vamos tentar demarcar melhor essas diferengas por meio de uma série de questdes, que sio aparentemente muito simples, mas nem por isso simplificadora da realidade, a saber Quem é 0 educador em cada campo de educagdo que estamos tratando? Em cada campo, quem educa ou € 0 agente do pro cesso de construgdo do saber: Na educagao formal sabemos que os educadores so fundamentalmente os professores, embora as agdes de todos(as) os(as) profissionais que atuam na escola tém card- ter educativo por seu sentido e significado. Na educacao nao formal, ha a figura do educador social mas o grande educador OUCAGAONAO FORMAL 0 EDUCADOR SOCIAL outro’, aquele com quem interagimos ou nos integramos Na educacdo informal, os agentes educadores sao 0s pais, a 108, 08 vizinhos, colegas de escola a etc familia em geral, os ami cc 1 igreja paroquial, os meios de comunicagao de mass de se educa? Qual é 0 espago fisico territorial onde transcor 1m a8 atos € os processos educativos? Na educacao formal estes espagos sao os do territorio Jas escolas, sao instituigdes regulamentadas por lei, certi- ficadoras, organizadas segundo diretrizes nacionais. Na ; 0 m cducagao nao formal, os espagos educativos localiz m territérios que acompanham as trajetorias de vida dos ruipos e individuos, fora das escolas, em locais informais, Jocais onde ha processos interativos intencionais (a questo m elemento importante de diferen- Ja intencionalidade n seus espacos educati a educacao informal se arcados por seteencias de nacionlidade, loa Aude, idade, sexo, religiao, etnia etc. A casa onde se mora, 1 rua, 0 bairro, 0 condominio, o clube que se frequenta, a \preja ou 0 local de culto a que se vincula sua crenga reli- iosa, 0 local onde se nasceu etc, Ha aspectos de uma corta naturalizagao desses espacos porque muitos deles nao jo escolhas dos individuos — sto dados pelos seus perten- imentos culturais. Como se educa? Em que situagdo, em qual contexto? A educagdo formal pressupde ambientes normatizados, 1) regras, legislagdes e padrdes comportamentais defini- previamente. Perfil do corpo docente ¢ metodologias ABAD’ GLORIA COHN de trabalho so previamente normatizados. A nao formal ocorre em ambientes ¢ situagdes interativas construidos coletivamente, segundo diretrizes de dados grupos, usual- mente a participagao dos individuos é optativa, mas ela também podera ocorrer por forgas de certas circunstancias da vivencia historica de cada um, em seu processo de ex- periéncia © socializagao, pertencimentos adquiridos pelo ato da escolha em dados processos ou aces coletivas. Ha na educagao nao formal uma intencionalidade na agdo, no ato de participar, de aprender e de transmitir ou trocar beres. A informal opera em ambientes espontneos, onde as relagbes sociais se desenvolvem segundo gostos, prefe. réncias ou pertencimentos herdados. Os saberes adquiridos 80 absorvidos no processo de vivencia e socializagao pelos lagos culturais ¢ de origem dos individuos. Qual a finatidade ou objetivos de cada um dos campos de edu- cagito assinalados> Na educacao formal, entre outros objetivos destacam-se 08 relativos ao ensino ¢ aprendizagem de contetidos histo- ricamente sistematizados, regulamentados e normatizados Por leis, dentre os quais se destacam a Lei de Diretrizes ¢ Bases da Educagdo Nacional (LDBEN). Segundo a LDBEN de 1996, a escola objetiva formar o individuo como um ci dado ativo, desenvolver habilidades competéncias varias, desenvolver a criatividade, percepgio, motricidade etc, A educacao informal socializa os individuos, desenvolve ha bitos, atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da linguagem, segundo valores e crengas de grupos que se frequenta ou que pertence por heranca, NICACAONKO FORMAL 0 EDUCADOR SOCIAL desde 0 nascimento. Trata-se do processo de socializagao dos individuos em que os componentes heranga e natura- lizagao estao presentes. A educacdo ndo formal, ao contrs- rio, nao ¢ herdada, é adquirida. Ela capacita os individuos 1 se tornarem cidadios do mundo, no mundo. Sua finalida- Ue ¢ abrir janelas de conhecimento sobre 0 mundo que circunda 0s individuos e suas relagdes sociais. Seus objetivos em no proceso inte- r nao sio dados a priori, eles se constro rativo, gerando um processo educativo. Um modo de educ: © construido como resultado do processo voltado para os interesses ¢ as necessidades dos que participam. A cons- trugo de relacées sociais baseadas em principios de igual- lade ¢ justica social, quando presentes num dado grupo social, fortalece o exercicio da cidadania, A transmis: nformagao e formacio politica ¢ sociocultural é uma meta na educagao nao formal. Ela prepara formando € produ- zindo saberes nos cidadaos, educa o ser humano para a ivilidade, em oposicao a barbarie, ao egoismo, ao indivi- dualismo etc Quais sao os principais atributos de cada wma das modalidades educativas que estamos diferenciando? A educagao formal requer tempo, local especifico, pessoal especializado. Requer a normatizacao das formas de organizagao de varios tipos (inclusive a curricular), si tematizagao sequencial das atividades, tempos de progre: sio, disciplinamento, regulamentos ¢ leis, rgaos superiores etc. Ela tem cardter met6dico e, usualmente, divide-se por idade/classe de conhecimento. A educagaio informal nao € organizada, os conhecimentos nao sao sistematizados e so repassados a partir das praticas ¢ experiéncias anteriores, ARIK OA GLORIA GOHN usualmente é o passado orientando o presente. Ela atua no campo das emogoes € sentimentos. £ um proceso perma- nente € nao organizado. A educagao nao formal tem outros atributos: ela nao é organizada por séries/idade/contetidos; atua sobre aspectos subjetivos do grupo; trabalha e forma sua cultura politica de um grupo. Desenvolve lagos de per- tencimento, Ajuda na construgao da identidade coletiva do grupo (este € um dos grandes destaques da educacao nao formal na atualidade); ela pode colaborar para o desenvol- vimento ¢ fortalecimento do grupo, criando o que alguns analistas denominam o capital social de um grupo. Prefiro denominé-lo acervo sociocultural e politico, pois a forga ¢ © potencial de atuacao do grupo depende da qualidade des- te acervo, como foi construido, que experiéncias 0 consti- tuiu, quem foram 0s agentes socioculturais e politicos que participaram do proceso, qual sua cultura politica, que projetos tinham ou desenvolveram. Nao gosto de utilizar 0 termo empowerment ou “empoderamento”, dado seu desgas- te e uso instrumental e égico por ONGs ¢ instituiga interessadas somente em processos de ‘capacitacao” d individuos para o mercado de trabalho informal, para geta- ao de renda em atividades do terceiro setor, Prefiro funda- mentar a educagdo nao formal em critérios da solidarieda- de ¢ identificagao de interesses comuns, parte do proc de construgao da cidadania coletiva e publica do grupo Quais sao 0s resultados esperados em cada campo assinalado? Na educagao formal espera-se, além da aprendizagem efetiva (que, infelizmente nem sempre ocorre), que haja uma certificagéio com a devida titulagao que capacita os individuos a seguir para graus mais avancados. Na educagio ho NAO FORMAL EO EDUCADOR SOCIAL formal os resultados nao sao esperados, eles simplesmen- partir do desenvolvimento do senso comum sse que orienta suas formas de Jo nao formal ig avontecem a jos individuos, senso ¢ ; agir espontaneamente. A educs ponsar e agir esp% Jor desenvolver, como resultados, uma série de proces: podera desenvolver, tais como: Jo de como agir em grupos Consciéncia e organizagao de como agir em grup coletivos ; A construcao e reconstrugao de concepcao(es) de mundo e sobre 0 mundo. Gontribuicdo para um sentimento de identidade com uma dada comunidade Forma o individuo para a vida e suas cctoees (endo apenas o capacita para entrar no mercado de trabalho). em programas com Quando presente em program " aan vadolescentes, a educagio nio formal resgata an rio (0 que a criangas ou jovens o sentimento de valorizacao de si props 's manuais de autoajuda denominam, sim- como a autoestima); ou seja, dé envolverem sen- midia plificadamente, condigdes aos individuos para des timentos de autovalorizacdo, de rejeicao dos precon: ceitos que Ihes so dirigidos, 0 desejo de Tutarem para ser reconhecides como iguais (como seres erencas (racials, étnk humanos), dentro de suas diferencas ( cas, religiosas, culturais etc.) 6s individuos adquirem conhecimentos a partir de i rendem a ler & sua propria pratica, os individuos ap interpretar 0 mundo que 0s cerca. Desenvolve a cultura politica do grupo. Mark DAGLORIA GOH 3. A educagao nao formal propriamente dita: conceito e diferenciagao Um dos grandes desafios da educacao nao formal tem sido defini-la, caracterizando-a pelo que ela é. Usualmente ela é definida pela negatividade — pelo que ela nao é. Para chegar ao conceito que adotamos, vamos demarcar os sen- tidos € significados que Ihe tém sido atribuido, ¢ as polé- micas que tém gerado. Isso nos auxilia a separd-la de concepgdes equivocadas ou erréneas, segundo nosso pon- to de vista. A posigdio mais usual quando os textos se referem a educacao nao formal é a que expus anteriormente — con- trapor a educacdo no formal a educagao formal/escolat: Demarca-se que a educagao nao formal nao tem o carater formal dos processos escolares, normatizados por institui- Ges superiores oficiais e certificadores de titularidades Difere da educacao formal porque esta altima possui uma nacional que normatiza critérios e procedimentos recificos. Segue esse caminho autores como Jaune Trilla (1996, 2008), pesquisador que passou a ser um referencial nos estudos sobre a educagao nao formal na década de 1990. Destaca-se que a educagao nao formal lida com outra légica nas categorias espaco e tempo, dada pelo fato de nao ter um curriculo definido a priori, quer quanto aos contetidos, temas ou habilidades a serem trabalhados. Almerindo Janela (1989 ¢ 2006) introduz a categoria nao escolar como sindnimo de nao formal, Entretanto ele alerta: “a justificagdio da educagao nao escolar nao pode ser construfda contra a escola, nem servir a quaisquer estraté- DUCAGKO NAO FORMAL EO EDUCADOR SOCIAL sias de destruicao dos sistemas politicos de ensino” (Afon- so, 1989, p. 90). Cortella (2006, 2007) também adota essa mesma linha e vai além: para ele a educacao nao formal deveria articular-se com a formal, atuar complementarmen: suns autores que adotam a nomenclatura “nao escolar” jocalizam como sujeitos principais das agdes os alunos de sma escola — 0 processo educativo esta centrado na oferta de atividades aos alunos no periodo nao escolar. F comum na mesma linha da abordagem anterior a epodo que define a educacao nao formal como sinonimo Ue educagao extraescolar, destacando que ela ocorre fora de unidades de redes de escolas. Essa acepcao simplesmen- le reconhece que ha um proceso educativo que extrapola »s muros escolares, sem diferencié-la de fato, demarcando .cu campo € especificidade. Ela nao é boa porque demarca uma barreira que separa os dois processos educativos pelos muros, por fatores ¢ condicionalidades geografico/espaciais excluindo-se a possibilidade de articular no mesmo ambien te © cendrio — nas escolas propriamente ditas — as duas formas. Certamente que a nao escolar é mais ampla, extra- pola os muros, mas ela pode penetré-lo também. A escola hao € territorio proibido &s praticas educativas nao formais, 10 contrario, deveria incorporé-las. Ainda no bindmio formal/nao formal, ha autores como brennan (1997) que caracterizam a educacao nao formal omo um complemento, um espaco alternativo para os rebeldes e insubordinados da escola. Seria sinénimo de educagao alternativa. A escola nao saberia lidar com esses slunos, ou com jovens € adultos analfabetos, que nunca frequentaram uma escola e tém dificuldade para se adaptar 1 normas, rotinas, hordrios etc, Brennan cita ainda mais MARIA DA GLORA GOH dois subtipos de educagao nao formal: como alternativa a educaco formal no sentido de incorporar a cultura local, aprendizagens nativas. O projeto Escola da Familia no meio rural pode ser citado como um exemplo. Um terceiro sub- tipo é a educagio nao formal apresentada como um suple- mento. A ideia de novas necessidades geradas pela moder- nidade esta por tras desta proposta. A suplementacao atenderia a uma necessidade de atualizagao. Também nao cremos que essa abordagem seja a mais adequada porque ela testringe 0 campo da educagao nao formal, coloca-a ‘como um tampao, ou uma tébua de salvacio para casos em que a escola nao estaria dando conta de resolver os proble- mas, Acreditamos que processos € praticas educativas de- senvolvidas no interior das escolas, articuladas com redes de pertencimento territoriais locais, contribuam para a integragao e formacio daqueles jovens, vistos a priori como insubordinados e problematicos. Sua rebeldia deve ter cau- sas: socioeconémicas, psicolégicas ou geradas pela falta de lagos culturais de pertencimento. Nao se trata de desajustes de personalidades. Sao problemas que a sociedade atual € as politicas existentes geraram, Portanto, é no ambito do coletivo que as alternativas de solugdes possiveis ¢ seus encaminhamentos devem ser pensados ¢ nao na atuacao individual, reprimindo, expulsando ou colocando estes jo- vens em programas que podem autossignificar, para eles, formas de punigdes e nao formagao para a cidadania. ‘A educago nao formal ja esteve associada a ideia de Educagaio de Adultos a Educacao de Jovens ¢ Adoles- tes — programas usualmente denominados como BJA. As praticas desenvolvidas voltam-se prioritariamente para a alfabetizagao, principalmente no caso de adultos. Nesta oUCAGRO NAO FORMAL E© EDUCADORSOCIAL sbordagem encontramos tanto as formas desenvolvidas pela {inesco, apés.a Segunda Guerra Mundial, como as propostas die Paulo Freire. Cumpre registrar que a Unesco também uutilizou a expressdio “educacao nao formal" para a educacao de adultos (vide Sirvent et alii, 2006). Nesta linha, a educ ‘clo associa-se diretamente ao aprendizado de contetidos cscolares, desenvolvidos por entidades de varias naturezas ‘como associacées, sindicatos, nticleos comunitarios etc. O (que difere da educacio formal/escolar € ofato de se realizar aim instituigdes diferentes das escolas e de utilizar métodos de ensino especificos, A Educagdo Popular ¢ uma outra modalidade que, stéa atuatidade, associa-se no imaginario de muitos pesque- adores com a educacio nao formal. Dado o fato de ela ter vimbem uma intencionalidade, um projeto de formacao dos individuos, como cidadaos, a educagao nao formal é vista como sinénimo daquela. Para nds ha diferencas dadas, por emplo, que a educagao ndo formal nao tem recorte de fuixa social. Ao nominar uma modalidade como Popular estou fazendo alusdo & categoria pov — em sentido gené- Fico ov especifico — camadas desfavorecidas socioecono- mnicamente; ou estou contrapondo um dualismo — haveria vima educacao popular e uma das elites ou classes ¢ cama- das mais abastadas, Nos dois sentidos, estarei fazendo um Tecorte socioeconomico, E postulo, neste livro, que a edu- ‘agio nao formal deve ser vista também pelo seu carter universal, no sentido de abranger e abarcar todos os seres humanos, independentemente de classe social, idade, sexo, ctnia, religiao etc. No campo da aprendizagem voltada para os individuos, numa perspectiva alternativa & escola, encontramos fam MARA DA GLORA GOH bém a categoria educagao social, utilizada por autores como Pérez (1999), no sentido de auxiliar e conectar com a categoria educacao nao formal. Diz o autor: Ampito da educagio nto formal, orientadas para o desenvol- para dar respostas a seus problemas ¢ necessidades sociais, a ae a educacto social é uma possibilidade de d as as novas necessidades educativas do mundo contemporaneo porque ela é menos rigida e sem formalis- mos. Esse autor inclui como campo da educacao social/ nao formal o trabalho de educacdo com adultos, processos de formagao para o trabalho, alguns tipos de programas educativos que incluem a animagao sociocultural, como Gio, tnt, Tepresentagées de memorias historico-cultu- Diferenciamos a educagao nao formal de outras pro- postas de educacao, apresentadas como educagao social, no séoulo XX, porque a maioria daquelas propostas se voltavam para 0s excluidos objetivando na maior parte das vezes, apenas, inseri-los no mercado de trabalho. | Outra forma encontrada para descrever a educagao nao formal, com abordagem na mesma linha da educacao social, sio as propostas que a caracteriza como sindnimo de pra. cas educativas desenvolvidas junto a comunidades compos- tas por populagées em sitagdes de vulnerabilidade social ou algum tipo de exclusdo social, ressignificando 0 antigo DUCAGAO NAO FORMAL OEDUCADOR SOCAL (ermo educagao comunitari efere-se a trabalhos de desenvolvimento de novos valores, recuperagdio de autoestima, desenvolvimento de praticas ipresentadas como solidarias, cidadas etc. Dependendo do mpo hist6rico, os termos mudam de nome, mas o signi- ficado é 0 mesmo: grupos de educadores trabalhando com comunidades com caracteristicas socioeconomicas ¢ terri: loriais de pobreza. Aqui, ha uma reducao/limitagao do onceito no plano de sua atuacio, pois refere-se apenas as Classes populares. Ha também nesta abordagem certo caré- ier instrumental, porque se recorre a esta forma educativa para auxiliar/suprir condigdes estruturais que aqueles in- \ividuos nao possuem. Aproxima-se, assim, de uma tecnica | ser aplicada para gerar reagdes positivas em situagdes de stividade. A psicologia social tem grande énfase nessa ibordagem, pois parte-se do pressuposto de que a aprendi- 1wem de novos valores altera personalidades ¢ comporta- inentos sociais, viabilizando processos de mudanga social. rducagao sociocomunitaria ¢ uma proposta que faz uma articulagdo entre as duas dltimas abordagens que tra- tamos. Groppo (2006) a define como uma forma de olhar os fendmenos educacionais. Ele a aborda como um foco, ociocomunitario sobre a educago que, num sentido ge- , destacaria as influéncias reciprocas entre a educacao sociedade" (2006, p. 135). A contribuigao 1 comunidad de Groppo € dada ao introduzir e destacar a questao das liferentes logicas sociais que articulam as praticas educa- tivas no campo do que denomino como educagao nao for- nal. A partir das andlises de Groppo, podemos observat que ha uma tensdo entre a légica sistémica (dada pelos interesses do capital e do mercado), légica comunitaria Aaa DA GLORIA COHN (dada por politicas de integracao social de forma conserva dora) ¢ a légica sociocomunitaria (definida como uma uto- pia e uma possibilidade). A educacao sociocomunitaria é atenta aos princfpios societério e comunitario, articulando as sociabilidades comunitarias aos enfrentamentos neces sarios com a logica sistémica. Groppo ¢ outros que trabax Iham com a expresso educagao comunitaria no Programa de Pos-graduagao da Unisal chegam a esbogar propostas de educacao pela: praxis, mas que precisariam ir além dos exemplos para refletir sobre processos, relacdes ¢ categorias envolvidas, M. Burber (1987) é um dos inspiradores da educagao sociocomuntaria, em propostas de articulacao das priticas da escola e parcialmente fora dela, nos *intersticios dos sistemas escolares' Educagéo Permanente ou Educagao para a Vida foram propostas elaboradas no passado ¢ que ainda tem bastante acolhida entre educadores. Pierre Furter (1976) trabalhou a proposta da educacao permanente numa pers- pectiva cultural. A ideia de educagao permanente tem pontos muito préximos com os que defendemos para a educacao nao formal, mas nao é a mesma coisa. Para nés a ideia da emancipagao ¢ autonomia dos individuos, vistos como sujeitos do processo de construcao de saberes ¢ do proprio processo de conhecimente, é algo fundamental. No passado a proposta de Educagao Continuada também teve sucesso ¢ tem retornado na atualidade com muita forca, dado 0 desenvolvimento das novas tecnologias. & sempre posta para a atualizagao pos-profissional. Para a educagao superior, portanto. Ha varias propostas para uma Educagdo Integral. Ao contrario do que poderiamos supor, que abordasse as dife- {pyeAGNONAO FORMAL OEDUCADOR SOCIAL 1a vida das pessoas, em diferentes etapas, 4o integral centralizam- a educagao rontes dimensoes d propostas mais usuais de educac: 7 agao formal e nao xr, formal, deveria dar conta da educ mee lades de reforgo escolar, dife- ‘es ¢ nao formais/mais livres ojeto pedagdgico da escola ena for- formal. Criticam-se as ativid renciadas em escolar/curricular otc, Centraliza-se 0 foco no pr que deveria determinar o que fazer ou nao 4, reitera-se 0 modelo vigen- as ¢ introdugao de novidades, macao dos professores. Ou te que, apos décadas de reform: tom sido bastante criticado pel isténcia. O problema nao € 0 foco das projeto pedagogico e formacito de professo a sua forma concreta de agoes preconizadas ‘ res, Basta uma .cional escolar asquiisa nas publicagdes na area educa amie ao Nacional 1s Grupos de Trabalho da Anped (Assovia\ Pen ‘m Educacao) que observare- pesquisa e Pos-graduagao ¢ do Pesquisa € Pos-graduac asain trabalhos sobre os dois pontos nos a quantidade d a : ‘a escola tem melhorado seus diagn6s- Jados. Nem por isso sands mpenhos. Podemos ter como hipotese du os de memérias, experiéncias abrangentes. ticos e de queles trabalhos sdo registro ticas universalizantes, ; ; 1a integral nao trata € com © que a abordagem da escol: ompor uma grade curricular que encias ¢ tir da cultura, das experién temas de ensino escolar/ formal. forme para a vida, a pat- jvencias, tendo em vista \burocratizagao dos 8 Moacir Gadotti (2009) contribui par: ral, resgatando as origens do tern 7 anifesto dos Pioneiros acando: “O debate ente novo: «cha a 0 debate sobre 0 mo, (ema da educagao inte undo por Fernando de Azevedo, no M dda Educagdo, nos anos de 1930, ¢ des recente sobre o tempo int regral tem um ingredie - hecimento'¢ 0 tema da ‘inclusdo social nuda ‘sociedade do cor MARIADAGLOWA.GOHN Ele afirma que a educagao integral tem “iniciativas que vem ao encontro de uma nova qualidade da educagao, buscando criar novos espagos € tempos para o atendimento e desen: volvimento integral de criangas, adolescentes, jovens ¢ adultos’, (Gadotti, 2009) Recentemente uma nova polémica surgiu contrapondo educagao nao formal a educagao social, parte da pedago- gia social. Como se sabe, ha intimeras concepgdes ¢ cor- rentes de abordagem da pedagogia social. Alguns estudiosos citam como seus precursores Plato, Comenius, Pestalozzi etc. (Machado, 2008 ¢ Luzuriaga, 1993).' Caliman afirma que “os precursores da pedagogia social tém suas origens na acao caritativa do cristianismo e em pedagogistas como Pestalozzie Frocbel, antes ainda que se sistematizasse como disciplina’ (2008, p. 16). Perspectiva humanitaria, filos6fica ou politica sempre estiveram presentes nos seus estudos. Podem-se dividir as intmeras abordagens sobre a pedagogia social em dois grandes campos: um trata dos processos de socializacao do individuo, especialmente os que estio em o social precaria (sempre vistos isoladamente), e que ‘essitam de aprendizagens de novos valores, habitos, comportamentos em suma. Objetiva-sé atuar no plano da cultura. O outro campo de abordagem relaciona-se ao mun- do do trabalho ¢ as formas de gerar emprego e renda. Um olhar para a Hist6ria e para os territérios que pro: duziram concepgdes ¢ teorias sobre a pedagogia social nos Magwer, em 1844. O enfoque cientifico ¢ atribuido ao pedagogp alem! so Dlewerwes, ¢ atribuida ao filésofo neokantiano Paul Natory 5 tc ‘educagio a comunidade (Caliman, 2008) " “ OUCAAO NAO FORMAL EO EDUCADOR SOCIAL revela que elas sempre foram mais desenvolvidas ¢ utiliza- das na Europa. termo é de origem alemé, ¢ é este pais, ¢ \ Espanha, patrias de acolhimento e expansao de seu uso iim paises outrora chamados de Terceiro Mundo, hoje mui- tos deles denominados como “emergentes", como 0 caso do brasil na atualidade, a educagao popular foi um conceito muito mais difundido/utilizado, ¢ a pedagogia social vem implantando um pouco tardiamente, Caliman é um dos rutores que tem pautado a tematica ¢ afirma: ‘Atualmente, 1 pedagogia social parece orientar-se sempre mais para a realizagdo pritica da educabilidade humana voltada para pessoas que se encontram em condigoes sociais desfavord- cis" (Caliman, 2008, p. 19). No Brasil, na atualidade, ha uma dnsia em dar um es- latuto cientifico a pedagogia social, ¢ construi-la como um campo de conhecimento e praticas educativas diferente da pedagogia escolar. A pedagogia social é algada a uma Teoria Geral, visando formar um profissional especifico: 0 peda: 1ogo social. Um dos reais objetivos da busca de um estatu- o cientifico para a pedagogia social ¢ o de criar a proposta de um novo curso no ensino superior de graduagao, espe- cialmente nas Faculdades de Educacao ou Pedagogia, para um novo campo de organizagao disciplinar nos cursos su- poriores. Os novos cursos formariam os Pedagogos Sociais, © poderiam desenvolver habilitagdes especificas, assim como cursos de especializagaio em Pedagogia Social para outros profi essadlos ou necessitados de forma- cho para atuarem no social. Ou seja, reconhece-se que ha processos de formagiio que extrapolam o campo da educagio scolar, formal propriamente dita, ¢ clama-se pela formacao Jc outro profissional. A sustentacao dessas posigdes nao se MARIA DA GLORIA Cou faz pelo embate com o tipo de formacdo dada pelas escolas. atuais, indagando-se ou questionando-se por que ela no estaria fornecendo elementos para uma formagao integral dos educadores. Tal abordagem autoproclama-se como cien- tifica, ou seja, € dita e tida como cientifica porque nomeada como tal, dentro de uma Teoria Geral da Educagio Social, na qual também nao se fornecem muitos elementos. Em sintese, nossa visto € abordagem nao seguem a trilha que contrapde educacao nao formal a outras categ rias, porque nossa preocupagao nao é a de demarcar um territorio de atuacao para um novo profissional, na academia ena sociedade — o pedagogo social. Nossa abordagem bus- ca entender os processos educativos existentes na soci de, num sentido mais amplo, abarcando espacos para além das instituigées escolares — individuos que esto em qual- quer nivel ou grau de ensino, ou fora dele, porque o concluit ou nunca teve acesso ao mesmo. Preocupamo-nos mais com 08 processos de aprendizagens e produgao de saberes na soviedade como um todo. Nossa concepgao de educagao nao formal ¢ distinta das mencionadas anteriormente. Nao a confundimos com os processos de ‘Trabalho Social — realizado em dadas comu- nidades, a partir de certos projetos sociais — ainda que re- conhecemos a expansao dessa modalidade de atuagao/in- tervengao direta, na ultima década. Também nao a confundimos com o processo da socializacao “natural” dos individuos no processo de crescimento e desenvolvimento em seus micleos de pertencimento — familia, religiao, bairro, clube ete., processo este, j mencionado, campo por exceléncia da educagao informal. Um breve alerta — 6 im- portante nao confundir educagao nao formal com educagao JCACAO NAO FORMAL EO EDUCAZOR SOCIAL religiosa. Isto porque, com 0 desenvolvimento de varias citas ¢ teligides no pais, nos tiltimos anos, muitas delas passaram a desenvolver projetos com jovens, criangas na uas ete, Mas a clientela alvo é trabalhada objetivando 0 desenvolvimento de valores € praticas daquela seita ou religido, e nao a formacio cidada Nossa concepgao articula-se ao campo da educa cidada — a qual no contexto escolar pressupde a democra- tizacaio da gestao e do acesso & escola, assim como a demo- :tizagdo do conhecimento. Na educagio nao formal, essa exlucagao volta-se para a formacdo de cidadaos(as) livres, mancipados, portadores de um leque diversificado de di- citos, assim como de deveres para com o(s) outro(s). Chegamos portanto ao conceito que adotamos para ducagao ndo formal. £ um processo sociopolitico, cultural © pedagogico de formacdo para a cidadania, entendendo 0 politico como a formagio do individuo para interagir com o outro em sociedade. Ela designa um conjunto de praticas icigculturais de aprendizagem e produgao de saberes, que hvolve organizacées/instituigdes, atividades, meios ¢ for mas vatiadas, assim como uma multiplicidade de programas © projetos sociais. 4,0 campo e as demandas da educagao nao formal Para nés, a educagao nao formal tem campo proprio, em intencionalidades, seu eixo deve ser formar para a c- dadania € emancipagao social dos individuos. Sabemos que | escola também tem intencionalidades, assim como deve também cuidar de formar para a cidadania, tendo como uma das suas tarefas principais desenvolver a capacidade de aprender mediante “pleno dominio da leitura, da escrita € do calculo’, conforme prevé o artigo 32, I, da Lei de Dir trizes @ Bases da Educagao Nacional (LDB — Lei n® 9.394/96). Mas ha muitos alfabetizados, bons, maus ou re- gulares, que lem, escrevem, mas ndo sabem fazer leitura critica do mundo, leem mecanicamente, nao compreendel © pleno sentido ¢ o significado das letras que decifram, porque nao tem dominio no campo da educagao nao formal, A intencionalidade nao é 0 tinico marco diferencial ent a formal ¢ a nao formal, porque existe nas duas, mas ¢ ela que demarca um objetivo especifico na educacao nao formal — formar para a cidadania. A educacao nao formal é uma area que o senso comum © a midia usualmente nao veem e nao tratam como educ Gao porque nao sao processos escolarizaveis. A educagao nao formal é um campo que vem se consolidando desde as liltimas décadas do século XX ¢ a explicagdo para este fato advém das mudaneas ¢ transformagées ocorridas na soci dade neste periodo, especialmente com a globalizagao. Progressivamente intimeras mudangas de valores ¢ praticas sociais foram se implantando no mundo do trabalho; as novas tecnologias mudaram a cena da vida cotidiana dos individuos no plano doméstico ¢ fora dele, com os celulares, internet ¢ outras formas de comunicagées. O setor do con sumo ampliou-se para todas as camadas sociais, segundo as proporgdes de cada classe ou segmento; as estruturas ¢ as relagdes familiares se alteraram etc. Tudo isto tem gerado novas demandas e novas necessidades educacionais. Parte delas tem a ver com o sistema escolar, parte no, Por exem- ko FORMAL EO EDUCADOR SOCIAL lo, us redes de sociabilidades virtuais, atualmente uma fondo forca propulsora de atividades de natureza divers; J snoviativa, de lazer, de negécios, politica, cultural, religio- {.), nao se vinculam exclusivamente a aprendizagens plarc © proceso politico-pedagogico de aprendizagem e roducdo de saberes da educacdo nao formal possui varias Jionsdes, tais como: a aprendizagem politica dos direitos Jos indlividuos como cidadaos, ou aprendizagem para a ci- Jidunia; aprendizagem dos individuos para atuarem no do trabalho, por meio da aprendizagem de habili to de potencialidades em oficinas Jules ¢/ou desenvolviment a |yboratorios — é importante distinguir as praticas cidadas Jo outras que consideram os individuos apenas como mao jhva para realizar agoes que o Estado nao realiza, ou para ‘enda em trabalhos sem direitos sociais regulam \ aprendizagem de contetidos que possibilitem aos fazer uma leitura do mundo do ponto de vista fundamen- Jo compreensao do que se passa ao seu redor € {a nu cducacao ndo formal; a aprendizagem ¢ o exercicio a se organizarem {io priticas que capacitam os individuos , : ao de yy objetivos comunitarios, voltadas para a solug jroblemas coletivos cotidianos, geradas pela participacao jy ansociacaes, movimentos, foruns, conselhos ¢ camaras Jo yostao, de forma que estes cidadios possam entender uma leitura do que esta ao seu redor, quem é quem, projetos e quais interesses cada um defende, qu sioresses da maioria que deveriam ser defendidos, quais 2 emancipatorias; a aprendizagem praticas cidadas “ possibilitem aos individuos Jura, de contetdos que ima leitura do mundo do ponte de vista de compreen- MASUR OA GLORIA COHN so do que se passa ao seu redor, gerada pelo acesso a re- cursos culturais como museus, bibliotecas, shows, palestras etc; a educagao desenvolvida na midia e pela midia, em especial a eletronica, onde so gerados aprendizados, posi- tivos ¢ negativos, inculcam-se valores, mas geram-se tam- bem resisténcias ¢ saberes. Cumpre registrar também os Processos de aprendizagem gerados a partir da interagaio entre a educagao formal e a nao formal, por exemplo, quan- do alunos de uma escola visitam um museu ou frequentam as atividades de uma ONG que desenvolve atividades re~ creativas ou esportivas, com programagoes articuladas, escola ¢ ONG, de forma complementar, no competindo ou substituindo-se nada. ‘Todos os casos citados sao proces- sos de aprendizagem que se desdobram em autoaprendi- zagem ¢ aprendizagem coletiva adquiridas a partir da ex- periéncia em agdes coletivas, organizadas segundo eixos tematicos: questées étnico-raciais, género, geracionais e de idade etc, As praticas da educacao nao formal se desenvolvem usualmente extramuros escolares, nas organizagdes sociais, nos movimentos sociais, nas associagdes comunitarias, nos programas de formagao sobre direitos humanos, cidadania praticas identitérias, lutas contra desigualdades e exclusdes sociais. Blas esto no centro das atividades das ONGs nos programas de incluso social, especialmente no campo das artes, educago cultura. A miisica tem sido, por suas ca- racteristicas de ser uma linguagem universal, e de atrair a atengao de todas as faixas etarias, o grande espaco de de- senvolvimento da educacao nao formal (vide Daniel Gohn, 2003). E as praticas nao formais desenvolvem-se também no exercicio de participagao, nas formas cole joFORMALEOEE institucionalizados de representant lc civil, Em sintese, a educ via ou com 0 apoio de organizagies (instituc 1 nao), movimentos e outras formas de ac utiliza meios e recursos educativos especific« tella (2007, p. 47) afirma que 10 Educagao nao € sinénimo de escola, dado que a fo ¢ daquela, tudo o que se expande para além d es da ‘agtio nao formal se de- esta é ormali ido escolar é territério educative a ser operado, Ademais, aco compartilhante na Educagao nao sma sociedade com conv 8a ope! tende a consolidagao ania em paz é 0 hotizonte, justa ¢ equanime, a cidada P formal Libineo (2005, p. 95) também destaca a relagao entre formal nao podem prescindir da educagao formal (c jo escolar e a ndo formal quando afirma: dducago formal e nao formal interpenetram-se ¢ mente, nio, oficiais ou nao), ¢ as de educacao formal nad parar-se da nJo formal, uma vez que os educan 10 apenas “alunos", mas participante ida social, no trabalho, no sindicado, na politica, n te, Trata-se, pois, sempre, esoolar € 0 extraescolar uussara Vidal, ao pesquis 1s de necessidades especiais, afirma que: vivéncias possibilitadas no processo de educacao ni wdem ter impactos significativos para esse segm ‘onstan- uma vez que as modalidades de educacao nao lar 9 podem dos nao das varias esferas da de uma interpenetragao entre 1r em Sio Paulo pessoas por Wo formal MARADA.GLORA GOAN apenas como possibilidade de complementara escolarizacao, mas como, também, de esperar motivacBescinteresses gue contribuam para promover a insercio dos mesinos na educa, cio formal. De qualquer modo, tis experiencne eto reas gamle au enzo com a maar posi calturais. (Vidal, 2008, p. 26-29) semen Unde dorabalno, ela ambém podert estar pre pa formacio dos individuos por meio da aprendiza de habilidades e/ou desenvolvimento de praticas em que a eo respeito a oto = do pont de vinta de a cult liversidade de formas de vida, a responsabilidade cor © meio ambiente etc. — estejam presentes, “wn Segundo Gadotti (2005), a eduucacao nao formal é mais sramas, quando formulados, podem ter duracdo variavel, a categoria espaco to importante quanto a categoria tempos Pois 0 tempo da aprendizagem é flexivel, respeitando-se diferencas bile, cultura historias Aeducacdo nao femal est muito associada a ideia de cultura (para apro- fundament, vera nossa publcaeto de 1885, p, 9658). educacto no forinal desenvolvda em ONGs e ous in iodes € um setor em construgao, mas constitu um dos Poucos espagos do mercado de trabalho com vagas para os profissionais da area da educagao we Em um mapeamento, podemos localizar a grande are dle demandas da educagao nao formal como a dea de fo magao para a cidadania e para os trabalhos que objetivemn a emancipacao social de 8, s cial de individuos, grupos ¢ a grupos € coletivos p NAO FORMAL EO EDUCADOR SOCIAL im suma, entendemos a educagao nao formal como yyuela voltada para a formagao do ser humano como um lo, cidadao do mundo, homens e mulheres. Em hipotese | NHUMA ela substitui ou compete com a Educagao Formal, colar. Poder ajudar na complementagao desta tltima, via ysramacoes especificas, articulando escola ¢ comunidade Juuvativa localizada no territorio de entorno da escola. Alguns s, que tém trabalhado com a denominacao ‘educacao com hi formal’, tem reduzido 0 seu campo as ‘atividades ow atendimento educacional em ston jlementares @ escola", instituiges denominadas como “nao escolares” de as iu para criangas nominadas como “em situagao de risco" i Simson, Park ¢ Fernandes, 2001). Dentre essas institu dues destacam-se as ONGS e entidades com perfil religioso. reiteramos anteriormente, nao delimitamos 0 Conforme campo da educagdo nao formal a faixas etarias, categorias ioecondmicas ou tipo de instituigao que a oferece. (0 formal tem alguns de seus objetivos A educagao nai a formacao de um cl- proximos da educagao formal, como dadao pleno, mas ela tem também a possibilidade de de- nvolver alguns objetivos que thes sao especificos, via a forma e espagos onde se desenvolvem suas praticas, a semplo de um conselho ou a participagao em uma luta al, contra as discriminagdes, por exemplo, a favor das sumidamente podemos enume- liferengas culturais etc. Re jar os objetivos da educagao nao formal como sendo: Educagao para cidadania que incorpora: 1) Educagao para justica social. b) Educagao para direitos (humanos, sociais, politicos, culturais etc.) ©) Educagao para liberdade o para igualdade e diversidade cultural. €) Edueagao para democracia. f) Educagao contra toda e qualquer forma de discrimi- nagao. 8) Educacao pelo exercicio da cultura para a manic festacdo das diferencas culturais, Para concluir este item é importante reiterar novamen- te que a educagao nao formal nao deve ser vista, em hip6- tese alguma, como algum tipo de proposta contra ou alter- nativa a educagao formal, escolar. Ja afirmamos: ela nao deve ser definida pelo que nao é, mas sim pelo que ela ¢ — um espago concreto de formacao com a aprendizagem de saberes para a vida em coletivos, para a cidadania. Esta formagao envolve aprendizagens tanto de ordem subjetiva — telativa ao plano emocional e cognitivo das pessoas —, como aprendizagem de habilidades corporais, técnicas, manuais etc, que os capacitam para o desenvolvimento de uma atividade de criagdo, resultando um produto como fruto do trabalho realizado. saberes nfio podem ser valores impostos, de cima para baixo, desconsiderando a autonomia de cidadaos(as). Mas estes(as) cidadaos(as) nao podem ser vistos isoladamente. A contextualizagio do lugar € tempo onde ocorrem processos de educacao nao formal € algo de suma importancia para entender seu carater, sen- tido e significado também. O ideal é que a educagao nao formal seja complemen- tar — nao no sentido de fazer o que a escola deveria fazer © nao 0 faz, Complementar no sentido de desenvolver os AO FORMAL EO EDUCADOR SOC sampos de aprendizagens e saberes que Ihes so especificos, ode c deveria atuar em conjunto com a escola, (A) cidadao(@) emancipado(a), para impor-se, como siiadiio(a), tem que ter autonomia do pensar ¢ do fazer. iqcessita relacioné-la como uma das formas para vencer \p dificuldades de compreensao politica do mundo que 0 orca, para além dos problemas emergentes locais; auto- jomia como instrumento de formacao de um cidadao spor de ser e agit, de ter um entendimento critico da \edade globalizada, de ler 0 mundo a partir de valores vetas de emancipacao. A autonomia é um valor, para construa uma sociedade onde haja mudangas e vane ipacao sociopolitica e cultural dos individuos ¢ nao | Jormacao de redes de clientes usuarios, ndo emancipa- lorias. E preciso ter a capacidade de fazer uma leitura Fitica do mundo que nos rodeia, no plano local, para htender as contradigdes globais, para conviver com as frogmentagdes € 08 antagonismos de uma sociedade que fiyz dos conflitos a sua base de sustentagao, para compreen- Joy as novas concepgdes do processo cultural civilizatorio jn marcha na globalizacao. Um dos grandes desafios, na era da globalizagao, ¢ onstrucdo € implementacdo de processos educativos no Interior de grupos, associagdes, movimentos sociais etc. que (cmplem a autonomia, que explicitem as diferencas ire ocupar espagos publicos somente, ¢ ocupa-los com isio critica do mundo. £ necessdrio deixar de ser dependente de praticas politicas do passado. A autonomia Jove capacitélos a inserit-se no contexto social ¢ a com- der as circunstdncias da existencia social, econdmica, tural e ética na globalizagao, Estes desafios {ijura dos sujeitos coletivos da sociedade civil organizada JMaRiA OA GLORIA COHN participando em movimentos sociais ¢ em diferentes formas de associagées € foruns comunitarios. A educagao (formal, nao formal ¢ informal) é 0 campo prioritério para o desen- volvimento de valores — para desenvolver a capacidade de enfrentar adversidades, mas também como capacidade de recriar, refazer, retraduzir, ressignificar as condiges cone cretas de vivéncia cotidiana a partir de outras bases, bus. cando saidas € perspectivas novas, 5. Aprendizagens e saberes na educacdo nao formal Um processo de aprendizado ocorre quando as infor fazem sentido para os individuos inseridos num dado contexto social. Tal postulado, transposto para proces= sos coletivos que ocorrem, principalmente, na area da educagao nao formal, na interagao entre a comunidade educativa da sociedade civil organizada ¢ uma escola ou outra entidade do poder piblico-estatal, pode ser equacio- nado segundo os seguintes tipos de aprendizagem: 1. Pratica: como se organizar, como participar, como unir-se © que cixos escolher 2. Tedrica: quais os conceitos-chave que mobilizam as forcas sociais em confronto (solidariedade, inclusao social, participagao, cidadania, eman- ipagao etc.) € como adensa-los em praticas concretas, ‘Técnico-instrumental: como funcionam os 6rgaos governamentais, a burocracia, seus tramites e pa péis; quais as leis que regulamentam as questdes em que atuam etc. \¢KO NKO FORMALE OEDUCADOR SOCIAL Politica: quais so seus direitos ¢ os da sua catego- ria, quem é quem nas hierarquias do poder estatal governamental, quais sao 0s obstdculos ou as difi- culdades para o exeroicio de seus direitos ete. Cultural: quais os elementos que constroem a iden- tidade do grupo, quais as suas diferencas, diversi- dades ¢ adversidades culturais que tém de enfren- tar, qual a cultura politica do grupo (seu ponto de partida e 0 processo de construgio ou agregagao de novos elementos a essa cultura) etc Linguistica: refere-se a construgio de uma lingu gem comum que thes possibilite ler 0 mundo, decodificar temas e problemas, perceber/descobrit ¢ entender/compreender seus interesses no meio de um turbilhio de propostas com que se defron- tam e/ou confrontam. Com essa linguagem, eles criam uma gramatica propria, com cédigos e sim- bolos que os identificam; Sobre a economia: quanto custa, quais os fatores de produgo, como baixar custos, como produzir me- Thor € com custo mais baixo et Simbotica: quais so as representagbes que existem sobre eles — demandatarios —, sobre 0 que deman- dam, como se autorrepresentam, que representagdes ressignificam, que novas representagdes criam ete. Social: como falar ¢ ouvir em piblico, habits ¢ comportamentos de grupos @ pessoas, como se portar diante do outro, como se comportar em cespagos diferenciados 10, Cognitiva: a respeito de contetidos novos, temas ou problemas que Thes dizem respeito; ¢ propiciada MARINA LOA Gon jycagAo NRO FORMAL EO EDUCADORSOCTAL pela participagiio em eventos, observagaa, infor se refere as formas de conhecer uma dada realida- mages transmitidas por ass ea de social, puiblico-alvo dos programas educativos, ‘ s cessos culturais e socioedu- Reflexiva: sobre suas priticas e experiéncias, ge ‘caracteristicas dos processos culturais ¢ socioed ors a canta cativos locais ete Btica: a partir da vivéncia ou observagao do outro, Definigao de fungdes e objetivos de educacdo nao centrada em valores como bem comum, solidarie- formal dade, compartilhamento, Esses valores so funda~ gistematizagao das metodologias utilizadas no tra- mentais para a construcéo de um campo ético- balho cotidiano. -politico. Construgdo de instrumentos metodolégicos de avaliagio ¢ andlis do trabalho realizado. a e metodologias que ossibilitem 0 6. Algumas caracteristicas da educacao nao formal: q es ie ee meseincinase ae construgio de metodologias que possibilitem 0 ccommanhamento do trabalho de egressos que A seguir listamos algumas caracteristicas que a educa- participaram de programas de educagio nao do nao formal pode atingir em termos de metas formal, 1, Aprendizado quanto a diferengas — aprende-se a Criagao de metodologias ¢ indicadores para estudo conviver com 0 outro ¢ com a diversidade, Socia- ¢ analise de trabalhos da educacao nao formal em liza-se 0 respeito mutuo, campos nao sistematizados. Adaptacao do grupo a diferentes culturas viduo em relacdo ao outro, trabalha o mento’ do indi stranha- Sistematizagdo das formas de aprendizado gerada pela vontade do receptor. Mapeamento das formas de educagdo no formal Construgao da identidade coletiva de um grupo. na autoaprendizagem dos cidadaos (pot exemplo, Balizamento de regras éticas relativas as condutas jovens no campo da autoaprendizagem musical, aceitaveis socialmente, ino uso da internet, construgao de blogs ete.) O que falta na educagdo ndo formal: 1, Formacio especifica a educadores a partir da defi- A questo da metodologia merece um destaque pordue nigdio de seu papel atividades a realizar, no que « \um dos pontos mais polémicos na educagdo nao formal [MARI DA GLORIA GON Dada a flexibilidade existente nos processos de educagao nao formal, muitos autores dizem que ela ndo tem métodos ou metodologias. Outros ainda afirmam que, se ela vier ter métodos, deixa de ser nao formal. Concordamos com ‘Trilla quando ele diz que a educagdo nao formal nao é um método ou uma metodologia. Nao é este aspecto que a di ferencia da educagao formal. Mas também nao podemos dizer que ndo h4 métodos. Ocorre que eles sao um tanto quanto ad hoc, depende do proceso em curso. Quando trabalhamos com jovens, mulheres, ou certas etnias, sa0 dados procedimentas bastante estruturados no item cultu= Ta, Mas se 0 sujeito alvo do proceso for algo relativo a0 meio ambiente, ou a aprendizagem de algum instrumento musical, ou ainda aprendizagens geradas por dados espacos. educativos — como um museu —, 0s métodos ¢ as metodo= logias sero bem diferenciados. De toda forma, na educagao formal as metodologii so, usualmente, planificadas previamente segundo con= tetidos prescritos nas leis. As metodologias de desenvolvi- mento do processo ensino/aprendizagem sao compostas por um leque grande de modalidades, temas ¢ problemas € nao vamos adentrar neste debate porque nao é nossa are de conhecimento. A educagao informal tem como método basico a vivencia e a reproducao do conhecido, a reprodugio da experiéncia segundo 0s modos ¢ as formas como foram apreendidas ¢ codificadas. Na educacao nao formal, as me todologias operadas no processo de aprendizagem partem da cultura dos individuos ¢ dos grupos. © método nasce a partir de problematizacao da vida cotidiana; os contetdos emergem a partir dos temas que se colocam como neces dades, caréncias, desafios, obstculos ou agdes empreend doras a serem realizadas; os contetidos nao sao dados a UCAGRONKOFORMALEO EDUCADOR SOCIAL priori, $80 construidos no proceso. © metodo passa pela istematizagdio dos modos de agir e de pensar o mundo que circunda as pessoas. Penetra-se portanto no campo do sim- holico, das orientagoes € Tepresentacdes que conferem entido e significado as aces humanas. Supe a existencia du motivacao das pessoas que participam. Ela nao se subor- dina as estruturas burocraticas. E dindmica. Visa a formacao \ntozral dos individuos. Neste sentido tem um cardter hu- manista, Ambiente nao formal e mensagens veiculadas {alam ou fazem chamamentos" as pessoas ¢ coletivos, ¢ as jnotivam, Mas como ha intencionalidades nos processos ¢ sacos da educacao nao formal, ha caminhos, percursos, mctas, objetivos estratégicos que podem se alterar constan= lemente. Ha metodologias, em suma, que precisam ser nvolvidas, codificadas, ainda que com alto grau de rovisoriedade, pois o dinamismo, a mudanca, 0 movime tn da realidade, segundo o desenrolar dos acontecimentos, jo as marcas que singularizam a educacao nao formal Qualquer que seja 0 caminho metodoldgico construido oy reconstruido, € de suma importéncia atentar para 0 pa- pel dos agentes mediadores no processo: os educadores, os mediadores, assessores, facilitadores, monitores, referén- tis, apoios ou qualquer outta denominagao que se dé para sa individuos que trabalham com grupos organizados ou sino, Eles sao fundamentais na marcagao de referenciais no \io de aprendizagem, eles carregam visdes de mundo, pro- Jotos societarios, ideologias, propostas, conhecimentos cumulados etc. Eles se confrontarao com os outros parti- ipantes do proceso educativo, estabelecerao dialogos, pontlitos, acdes solidarias etc. Eles se destacam no conjun- Jo 6 por meio deles podemos conhecer 0 projeto socioedu- \tivo do grupo, a visdo de mundo que esto construindo, MARR DA GLORIAGOHN Dada a flexibilidade existente nos processos de educacao 1ndo formal, muitos autores dizem que ela nao tem métodos ou metodologias. Outros ainda afirmam que, se ela vier a ter métodos, deixa de ser nao formal. Concordamos com Trilla quando ele diz. que a educacao nao formal nao é um método ou uma metodologia. Nao ¢ este aspecto que a di- ferencia da educagao formal. Mas também nao podemos dizer que nao ha métodos. Ocorre que eles so um tanto quanto ad hoc, depende do proceso em curso. Quando trabalhamos com jovens, mulheres, ou certas etnias, so dados procedimentos bastante estruturados no item cultu- ra. Mas s¢ 0 sujeito alvo do processo for algo relative ao meio ambiente, ou a aprendizagem de algum instrumento musical, ou ainda aprendizagens geradas por dados espacos educativos — como um museu —, 0s métodos ¢ as metodo. logias serdo bem diferenciados. De toda forma, na educagao formal as metodologias so, usualmente, planificadas previamente segundo con- tetidos prescritos nas leis. As metodologias de desenvolvi- mento do proceso ensino/aprendizagem sao compostas por um leque grande de modalidades, temas ¢ problemas endo vamos adentrar neste debate porque nao é nossa area de conhecimento. A educacdo informal tem como método basico a vivéncia e a reproducao do conhecido, a reprodugio da experiéncia segundo os modos ¢ as formas como foram apreendidas e codificadas. Na educagao nao formal, as me- todologias operadas no processo de aprendizagem partem da cultura dos individuos e dos grupos. © método nasce a partir de problematizagao da vida cotidiana; os contetidos emergem a partir dos temas que se colocam como necessi- dades, caréncias, desafios, obstéculos ou agdes empreende- doras a serem realizadas; os contetidos ndo sao dados a ouEAGAO NAO FORMAL E OEDUCADOR SOCAL priori. Sao construidos no processo. © método passa pela istematizacao dos modos de agir ¢ de pensar o mundo que ircunda as pessoas, Penetra-se portanto no campo do sim- polico, das orientagdes ¢ representagdes que conferem sentido ¢ significado as agoes humanas. Supde a existéncia da motivacdo das pessoas que participam. Ela nao se subor- dina as estruturas burocraticas. & dinamica. Visa 4 formagio integral dos individuos. Neste sentido tem um carater hu- manista, Ambiente ndo formal ¢ mensagens veiculadas falam ou fazem chamamentos" as pessoas ¢ coletivos, ¢ as motivam, Mas como ha intencionalidades nos processos ¢ espacos da educacdo nao formal, ha caminhos, percursos, metas, objetivos estratégicos que podem se alterar constan- mente, Ha metodologias, em suma, que precisam ser nvolvidas, codificadas, ainda que com alto grau de provisoriedade, pois o dinamismo, a mudanga, o movimen- to da realidade, segundo o desenrolar dos acontecimentos, edo as marcas que singularizam a educacao nao formal. Qualqner que seja 0 caminho metodol6gico construido ou reconstruido, é de suma importancia atentar para 0 pa- pel dos agentes mediadores no proceso: os educadores, os mediadores, assessores, facilitadores, monitores, referén- ‘as, apoios ou qualquer outra denominacao que se dé para bs individuos que trabalham com grupos organizados ou Jo fundamentais na marcagao de referenciais no ndizagem, eles carregam visdes de mundo, pro- s societarios, ideologias, propostas, conhecimentos ;cumulados etc. Eles se confrontarao com os outros parti- cipantes do processo educativo, estabelecerdo didlogos, conflitos, aces solidarias etc. Eles se destacam no conjun- to e por meio deles podemos conhecer o projeto socioedu- cativo do grupo, a visao de mundo que estao construindo, ‘MARA DA GLORIAGOHN 08 valores defendidos ¢ os que sao rejeitados. Qual o proje- to politico-cultural do grupo em suma 7. A pesquisa na drea da educacéo nao formal Para finalizar 0 estudo do mapeamento do campo e Significados da educagao nao formal, algumas palavras sobre a pesquisa nessa area — que se desenvolve usualmente nas universidades ~ como forma de sistematizagao de conhe- cimentos; ou na pratica, nas organizagées sociais, nos Movimentos, nos programas de formagio sobre direitos humanos, cidadania, praticas identitérias, Iutas contra de- sigualdades ¢ exclusdes sociais. Desenvolve-se também no exercicio de participagdo nas formas colegiadas, em conse- Ihos gestores institucionalizados de representantes da so- ciedade civil, camaras e foruns publicos. Trata-se de uma area carente de pesquisa cientifica, Com raras excecdes, 0 que predomina é o levantamento sistematico de dados para subsidiar projetos ¢ relatérios, feitos usualmente por ONGs, visando ter acesso aos fundos piiblicos que as politicas de Parcerias governo-sociedade civil propiciam. A reflexao sobre esta realidade, de um ponto de vista critico, reflexivo, ainda engatinha. Ouve-se falar muito de avaliagdes de pro- gramas educativos, destinados a comunidades especificas, apoiados por empresas, sob a rubrica de “Responsabilidade Social’. © que devemos atentar é que muitas dessas avalia- es buscam verificar nao os resultados dos programas junto aos sujeitos que deles participam; procuram-se os resultados junto aos consumidores e acionistas em relagao a imagem daquelas empresas, so avaliagdes orientadas [DUCAGAO NAO FORMAL £0 EDUCADOR SOCIAL pela légica do mercado, buscam-se dividendos ¢ olham-se )s participantes ndo como sujeitos de direitos mas como rotenciais ativos sociais circulantes. Por is os sociais desenvolvidos segundo outras premissas, qu consideram as questoes da cidadania ¢ da emancipagao, esto usando 0 termo “compromisso social’ ¢ néo respon- sbilidade social A educagio nao formal desenvolvida em ONGs ¢ ou Lras instituigdes é um setor em construgao, mas constitui um espago do mercado de trabalho com vagas para os profissionais da area da educagao que continuamente tem crescido. © que tem sido bastante comum no Brasil, especial- mente nos locais onde ha centros de Pos-graduagio, ilunos avidos pela coleta de dados para suas pesquisas, pesquisas que captam as representacdes dos sujeitos, ranscrevendo-as literalmente como verdades, justificadas por serem vozes que sempre estiveram silenciadas. Eles concluem as pesquisas com relatos sobre os problemas, as dificuldades, 0 sofrimento do mundo do trabalho, as restri- des impostas ao mundo da vida em geral. Retratam os Uujeitos que expressaram seus sentimentos, representac desejos e sensagdes sobre o que 6 viver o dia a dia numa escola. Sonhando em fazer algo nao tradicional, nao con- ‘encional, muitos estudantes/pesquisadores acabam repro- dluzindo os modelos convencionais; outros, ao tentar sair do mero relato das aparéncias, mergulham fundo em busca de uma esséncia oculta, dando voz aos interlocutores, re- vistrando suas falas e descrevendo seus processos discursi- 10s, Mas como a esséncia nao é algo separado da aparéncia, las so conectadas intimamente, a andlise da dialética desta relagao usualmente fica por fazer. O senso comum das representacdes transforma-se no resultado da pesquisa, A reflexao fica por conta do leitor do trabalho, Nao ha in- terpretagao critico-analitica 8, A educacao nao formal e o educador social Definido ¢ delimitado o campo da educagao nao formal, nosso préximo passo é: Quem é 0 profissional que atua no campo da educagao nao formal? Ou, de outra forma: O que 6 ser um educador que atua na educagao nao formal? Como pensar a formagao de educadores para que sua pritica peda: gogica inclua os valores das comunidades onde se encontram ou atuem, € que esta atuacdo se dé a partir de um compro- misso social basico? Esta indagagao pressupée uma anterior Formar educadores para qué? Para atuarem junto as comu- nidades organizadas ¢ a resposta, onde as priticas de educa- do nao formal esto presentes. E 0 educador que li atua deve ser denominado como Educador Social? Ele 6 um ele- mento estratégico nas ages coletivas da educacao nao formal Sabemos que 0 meio social onde se vive é sempre revestido de significados culturais. Mas esses significados s6 sao apreendidos com a participagdo e participar nao é apenas star presente em algo, comparecer, ser um ntimero. Parti- cipar € um proceso, ativo, interativo, que se constroi © Educador Social é algo mais que um animador cul- tural, embora ele também deva ser um animador do grupo. Para que ele exerga um papel ativo, propositivo e interativo, ele deve continuamente desafiar o grupo de participantes para a descoberta dos contextos onde estdo sendo construi- DUCAAO NAO FORMAL £0 EDUCADORSOCIAL dos os textos (escritos, falados, gestuais, grdficos, simbélicos etc,), Por isto os Educadores Sociais sio importantes para dinamizarem e construirem 0 processo participative com qualidade, © didlogo, tematizado, nao é um simples papo ‘ou conversa jogada fora, 6 sempre 0 fio condutor da forma- cdo. Mas ha metodologias que supdem fundamentos tedri cos e ages praticas — atividades, etapas, métodos, ferra mentas, instrumentos etc. O espontineo tem lugar na criagao, mas ele nao 6 0 elemento dominante no trabalho do Educador Social, pois 0 seu trabalho tem principios, métodos ¢ metodologias de trabalho, Seguindo a pedagogia dePaulo Freire, haveria trés fases. hem distintas na construcao do trabalho do Educador Social, a saber: a elaboragdo do diagnéstico-do_problema ¢ suas necessidades, a elaboracdo preliminar da proposta de tra: balho propriamente dita ¢ 0 desenvolvimento € comple- mentagéio do proceso de participagtio de um grupo ou toda a comunidadelde um dado territorio, na implementacao.da propastal * O aprendizado do Educador Social numa perspectiva da educagio nio formal realiza-se numa mao-dupla — ele apren- dee ele ensina. O didlogo é 0 meio de comunicagao. Mas a sensibilidade para entender e captar a cultura local, do outro, do diferente, do nativo daquela regio, é algo primordial. A escolha dos temas geradores dos trabalhos com uma comu- nidade nao pode ser aleat6ria ou pré-selecionada ¢ imposta do exterior para o grupo, Eles, temas, devem emergir a par- tir de tematicas geradas no cotidiano daquele grupo, temé- ticas que tenham alguma ligacdo com a vida cotidiana, que considere a cultura local em termos de seu modo de vida, faixas etarias, grupos de género, nacionalidades, religides crencas, habitos de consumo, praticas coletivas, divisao do trabalho no interior das familias, relagdes de parentesco, vinculos sociais ¢ redes de solidariedade construidas no lo (Ou seja, todas as capacidades e potencialidades organizativas locais devem ser consideradas, resgatadas, acionadas. O di- ferencial de nossa proposta em relacdo a pedagogia freiriana 60 fato de recomendarmos firmemente a necessidade de 0 educador deter contetidos prévios — sobre o local onde atua , Mas também sobre saberes historicamente acumulados pela humanidade. Ele tem o dever ¢ a obrigacao de sistema- tizar e repassar estes conhecimentos, nao como um depési- to bancério, despejando informagdes, mas articulando, te- maticamente, as duas coisas: saberes anteriores e saberes locais, momentaneos ou nao. © Bducador Social ajuda a construir com seu trabalho espacos de cidadania no territorio? onde atua, Esses espacos representam uma alternativa aos meios tradicionais de informagao que os individuos esto expostos no cotidiano, via os meios de comunicag4o — principalmente a TV eo radio. Nestes territ6rios um trabalho com a comunidade poderd construir um tecido social novo em que novas figu- ras de promogao da cidadania poderdo surgir e se desenvol: ver, tais como os “tradutores sociais ¢ culturais”. Esses tra- dutores siio aqueles educadores que se dedicam a buscar mecanismos de didlogo entre setores sociais usualmente isolados, invisiveis, incomunicaveis, ou simplesmente ex- 2. Como mostra o excelente livro de Rogério Hashaert, © mit da destrrto r (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005) a ideia de teritorio & muito antiga, ej era usada na botdnica e na balogia, quase dois séculos ats, Bla & posteriormente incorporada is ciéncias humanas através da Geografa.&aleanga Finalmente o terreno do planejamento e das politicas piblicas no titim quarto do séeulo passado cluidos de uma vida cidada, excluidos da vivencia com dignidade. Partindo do senso comum, um novo sentido podera ser construido via os educadores/tradutores sociais culturais. Estas tradugdes nao devem ser para “falar pelo :tro", ou para resgatar seus Saberes € codifica-los de outra na ¢ disponibilizé-los a grupos com outros interesses, specialmente de controle ¢ dominagao social. A cogestdo democratica dos trabalhos desenvolvidos com a comunida- le 6 um suposto e um pressuposto insubstituivel neste trabalho de traducao. Informacao, indicadores socioculturais ¢ econdmicos da comunidade, contextualizagao dela no conjunto das redes sociais ¢ tematicas de um municipio, breves noticias sobre suas mem@rias e experiéncias hist6ricas, sao parte do acervo de instrumentos para formar um educador social dee em uma dada regiao. Nao gosto do termo capacitacao, rois isto ja tem uma conotacao de negatividade. O outro é um incapaz ¢ vamos 1d capaciti-lo, levando algo. Deve-se :tuar/formar partindo dos valores € pertencimentos da ‘omunidade local. Mas também se deve repassar conheci- mentos porque, conforme citado anteriormente, todos os seres humanos tém 0 direito ao acesso a informagdes e ao onhecimento historicamente acumulado, Certamente que sto leva a novos saberes, ha trocas, o proceso é interativo. Nao se deve levar a priori achados selecionados previamen- te, como bom e necessario, ou pior ainda, “verdades”, sem nenhum processo de interagao anterior. Tem de ocorrer primeito a escuta, estabelecer o didlogo, captar as matrizes rrticulatérias de suas priticas discursivas, s6 entdo se pode diagnosticar — 0 que sera conveniente € apropriado — se undo as necessidades do grupo, ser “levado" para conhecer © debater, construindo um entendimento sobre o significa- WARIADAGLORA do daqueles fatos ¢ dados que irdo se agregar ao conheci- mento prévio ja existente. Forma-se assim uma espiral reflexiva que resulta num conhecimento fruto de um saber construido, via uma investigacdo emancipatoria, porque construida a partir da cultura local, dos valores ¢ perten- cimentos da comunidade. Todas as atividades desenvolvidas pelo Educador Social devem também buscar desenhar cenarios futuros; os diag- nosticos servem para localizar o presente, mas também para estimular imagens e representagdes sobre 0 futuro. O futu- ro como possibilidade é uma forga que alavanca mentes € coracées, impulsiona para a busca de mudangas. A espe- rana, fundamental aos seres humanos, reaviva-se quando trabalhamos com cenarios do imaginario desejado, com os sonhos os desejos de um grupo. O(A) Edueador(a) Social que atua junto aos diferentes movimentos sociais contemporaneos, tais como: 08 movi- mentos populares, que reivindicam melhores condigoes de vida ¢ trabalho, no meio rural e/ou urbano; os movimentos identitarios, que Iutam por direitos socioculturais mais es- pecificos; ¢ os movimentos globalizantes, como 0 Forum Social Mundial, a Via Campesina etc., enquanto mediadores € Educadores(as) Sociais E interessante destacar que 0 Ministério do Trabalho ¢ Emprego do Brasil, em seu documento COB — Classificago Brasileira de Ocupagdes (2002) —, menciona, no cédigo 5.153, os trabalhadores de atencao, defesa e protecao a pessoas em situacao de risco, e inclui os Educadores Sociais, nesta categoria. Além de reconhecer a fungio, o referido cédigo detalha suas atribuigoes, assinalando que “o acesso a ocupagao ¢ livre, sem requisitos de escolaridade’ EDUCAGAO NAO FORMAL EDUCADOR SOCIAL Em sintese, o Educador Social numa comunidade atua nos marcos de uma proposta socioeducativa, de produgao de saberes a partir da traducdo de culturas locais existentes ¢ da reconstrugao e ressignificagao de alguns eixos valora- tivos, tematizados segundo o que existe, em confronto com o novo que se incorpora. Um grupo que conta com 0 traba- Iho de Educadores Sociais podera desenvolver praticas de educagao nao formal significativas, qualificadas. Neste sentido eles estardo aptos a participar de processos sociais, que envolvem a gestdo da coisa publica, tais como os con- selhos gestores e os colegiados escolares. E nesta diregao que este texto encaminha-se — localizar 08 processos que se constituem em espagos de participagao com perspectivas de mudangas e controle social de areas que dizem respeito a vida de cidadios(as), Esses espagos representam uma alternativa aos meios usuais de informacio que os indivi duos estilo expostos no cotidiano, via 08 meios de comuni- cacao, principalmente a midia dos jornais, TV e o radio; e uum apoio complementar a formagdo que se recebe nas escolas, autoaprendizagem via a internet etc. Ao mesmo tempo esses so espagos de Formacao. Nos territérios onde ha o trabalho do(a) Educador(a) Social com a comunidade, se podera construir ou reconstruir o tecido social existente, bastante fragmentado na atualidade. 9. Aemancipacao sociopolitica dos excluidos via a educagao nao formal Desde 0 inicio deste livro temos destacado a impor- tancia dos processos de cidadania, autonomia ¢ emancipa- &o sociocultural dos individuos que participam de asso- ciagdes, movimentos, projetos sociais etc., envolvendo a producao de saberes ¢ aprendizagens na educagao nao formal. Por isto, creio ser necessario precisar melhor a concepeao de emancipagao social. A andlise do proceso de emancipacao social, politica, econémica e cultural re- mete-nos a tefletir sobre varios temas na sociedade, a saber: direitos (civis, culturais € politicos), poder, dominacao etc. Iniimeros processos sociopoliticos emergem nesta analise, tais como: participacao, democracia (representativa e par- ticipativa), cultura (em suas inimeras manifestagoes, principalmente politica), cidadania (individual e coletiva) liberdade, resistencia, humanizacao, conscientizacao etc. Todos estes processos tém se transformado em categorias analiticas dos pesquisadores que se ocupam em refletir sobre o ser humano e sua trajet6ria de lutas em busca da libertacao de toda violéncia, da busca da paz e da felicida- de. A anélise da emancipacdo remete-nos ao campo dos problemas sociais, dos conflitos, Iutas, violéncia, assim como ao campo dos sonhos, dos desejos, da busca de uma outra sociedade possivel Podemos analisar a emancipacdo tanto como processo individual, focalizando os individuos propriamente ditos, ou como proceso social, como conjunto de praticas, ideias € relagdes que abrangem a sociedade. Para os objetivos deste trabalho interessa-nos este tiltimo tipo, a emancipacao social, coletiva, sociopolitica e cultural de grupos, camadas € conjuntos de individuos da sociedade. Entretanto, nao podemos ignorar a relagdo que existe entre a emancipagio dos individuos e de coletivos. Um é parte do outro, mas a somatéria dos individuos nao é 0 mesmo que o coletivo Um olhar sobre a Historia da humanidade nos leva a reconhecer que a emancipagao é um velho sonho ¢ uma EDUCAGKO NAO FORMAL EOEDUCADOR SOCIAL promessa antiga. Nos séculos XVII e XVIII ela foi uma grande forca ideolégica que trouxe a tona o debate da pos- sibilidade de seres humanos livres ¢ iguais, com o Tlu- minismo ¢ a Revolugio Francesa. No século XIX, 08 avan: os da Revolugao Industrial levam aos escritos de Marx. Para este, “a emancipacdo dos trabalhadores sera obra dos proprios trabalhadores", O século XX amplia 0 conceito & Gramsci é um dos autores a desenvolvé-lo. Para ele, no é possivel tratar da emancipagao apenas no plano econdmi- co-estrutural. As dimensdes da politica e da cultura sao também fundamentais. Para isso, outros conceitos se agre~ gam A anilise, como 0 de hegemonia, poder e dominacao. A emancipacao s6 ¢ possivel a partir da formacao de amplos consensos em torno de uma concepoao de mundo alterna- tiva a que predomina no status quo vigente, que se contra- ponha a concepgao hegemnica que reproduz a dominagao existente, que se reproduz. cotidianamente. E esta nova concepcao de mundo devera ser construida a partir de novos sentidos e significados as relagées sociais, para que estas nao se reproduzam como relagbes de poder, de domi- nagio de uns sobre outros. Na atualidade os mecanismos de dominacao utilizam processos de alienagdo dos individuos pela via do desejo € pritica do consumo, de bens e mercadorias ¢ de produtos culturais, também transformados em consumo (a moda, um estilo de ser e de fazer, dito como diferente). A vida dos ci- dadaos comuns se transfigura em um cotidiano de softimen- tos — obrigagGes, deveres, luta pela sobrevivencia para suprir caréncias de varias ordens, exclusdo ¢ sofrimento para grandes contingentes. Poucos tém a possibilidade de ter contato com “territorios civilizatérios’, onde haja a circulagio Manik DA GLORIA GOHN de ideias, livre manifestagao de opinides, acesso a informa- des, debates etc. Esses territérios geram possibilidades li- bertadoras, 0 reconhecimento dos individuos como seres humanos. Sao lécus de desenvolvimento da cidadania ativa A cidadania ativa requer a formagao de cidadaos cons- cientes de seus direitos ¢ deveres, protagonistas da historia de seu tempo. A educagao entra neste proceso de formagao como um direito humano, para o desenvolvimento do ser humano, A educagao contribui para a criagao de uma cul- tura universal dos direitos humanos, fortalecimento aos direitos ¢ liberdades fundamentais do ser humano, desen: volvimento de sua personalidade, respeito as diferencas, atitudes de tolerancia, amizade, solidariedade e fraternida- de com 0 semelhante. A educacao para a emancipacao deve ser vista nao apenas como uma meta futura, um desenho, mas também como uma pratica social que deve ser iniciada hoje, aqui e agora. A educagao (formal, nao formal e informal), pelo seu papel formador, ¢ 0 campo prioritario para o desenvolvimen- to de valores. E um dos valores importantes que a eman pacio necesita ¢ 0 da resisténcia, visto como capacidade de forca de resistir ¢ enfrentar adversidades, mas também como capacidade de recriar, refazer, retraduzir, ressignificar as condigdes concretas de vivencia cotidiana a partir de outras, bases, buscando saidas ¢ perspectivas novas. Paulo Freire afirma que a educagao sozinha nao eman cipa ninguém mas sem ela ndo ha emancipacao. A eman- cipagio deve ter por meta sujeitos autodeterminados, livres objetivamente de qualquer tipo de constrangimento ou mazelas que aprisionam os individuos. Deve haver eman- cipacao das consciéncias para que se compreenda que a DUCAGAO NAO FORMAL €0 EDUCADOR SOCIAL realidade em que estamos inseridos ndo é estatica, ne fruto de uma ordem natural ou de qualquer outra forga extraterrena. £ preciso saber refletir sobre essa realidade, perceber-se como sujeitos historicos que podem se posicio- nar, emitir opinides, fazer escolhas, construir rumos para suas vidas. Segundo Almeida (2001), “o individuo no inicio deste novo século perde raizes, se vé envolto em uma imensa multidao de solitérios, satelitizada, eletronica ¢ desterrito- rializada. Ao individuo aparece uma globalizacao de padres, de consumo, de métodos € estilos que se neutralizam de formas diferentes na vida de cada um. A mesma diversifi- cagio de valores que Ihe ¢ apresentada retira-Ihe a capaci- dade da escolha autonoma e reduzlhe a possibilidade de participagao politica, Ao individuo € necessario compreen- ler que a globalizagao é um proceso em marcha, inacaba- do, que modifica as suas condigdes de autonomia, porém nao o impede de refletir, pensar e agir. As dificuldades que enfrenta de participagdo politica esto em encontrar-se na imensidao interativa de conceitos, valores, ideias, que alar- yam ou reduzem horizontes, diante da maior ou menor capacidade de discernimento das forgas que atuam no de- senvolvimento da globalizacao, a qual, (...) modifica subs- ancialmente as condigbes de vida e trabalho, os modos de ser, pensar ¢ imaginar. Modifica as condigées de alienacao 1s possibilidades de emancipagiio dos individuos’. (Almei Ja, 2001, p. 2). A autonomia é requisito basico para a participagiio politica do individuo na globalizagao. Somente um indivi- duo auténomo 6 capaz de processar e selecionar informa- (Goes, ter dominio de conhecimento, tomar decisdes € po- MARIA DA GLORA GOAN DUCA HO NAO FORNAL EO EDUCADOR SOCIAL sicionar-se frente a incertezas € conflitos globais. A Nao ha ignorante que nao saiba uma infinidade de coisas, ¢ autonomia leva 0 individuo a participacao politica, porém, € sobre este saber, sobre esta capacidade em ato que todo ndo deve estar atrelada as justificacdes de ordem econdmi- ensino deve se fundar. Instruir pode, portanto, significar ou ideolégica que o incapacite ou o impega a condigio duas coisas absolutamente opostas: confirmar uma incap: de ser, agir ¢ entender as contradigdes que permeiam 0 cidade pelo proprio ato que pretende reduzita, ou inversa- mundo globalizado. mente, forcar uma capacidade que se ignora ou se denega a econhecer ¢ a desenvolver todas as consequéncias desse Para Cornelius Castoriadis (1992), uma politica de reconhecimento, O primeiro ato chama-se embrutecimento. autonomia deve ter como objeto final ajudar a coletividade Bo segundo emancipacao (Ranciére, 2007, p. 11-12) a criar as suas instituigdes, sem porém limitar a capacidade dos individuos de serem auténomos. Walter Kohan, ao analisar as posigdes tebricas de Ador- Segundo Adorno (2000), de um certo modo, emancipagao Rancitre, diz significa o mesmo que conscientizagao, racionalidade, Para ele, 0 conceito de racionalidade ou de consciéncia ¢ apreen- Para Adorno, ao contratio, a educagio ¢ justamente-um ato dido de um modo excessivamente estreito, como capacidade politico emancipatorio, sua realizagdo. Se, para Ranciére, as iguras do professor e do emancipador nao se confundem e formal de pensar. A racionalidade como atitude pessoal con- fig ‘ a P 4 : obedecem a logicas dissociadas — (‘Ser um emancipador é siste na disposigdio de examinar nossas ideias e opinides, n empre possivel, se ndo se confundir a fungdo do emanci- visilas, autocriticé-las ¢ corrigilas. Isso tudo envolve um ae pador intelectual com a funcae do professor (...) € necess fazer, uma pratica que se transforma em praxis. rio separar as razdes (...) um emancipador ndio ¢ um profes A este respeito, Adorno diz: sor (...) pode-se ser ao mesmo tempo professor, cidadao « emancipador, mas nao é possivel sé-1o numa logica tinica’ (.-) a consciéncia é o pensar em relagio a realidade, ao 2003, p. 201) ~ para Adorno, ao contrario, elas nao se pode- contetido — a relacao entre as formas e estruturas de pen- riam separare o imperativo por exceléncia de todo educador samento do sujeito e aquilo que este nao é. Este sentido mais ¢ fazer da relagao pedagégica um motivo para a emancipagao profundo de conseiéncia ou faculdade de pensar nao é ape- (Kohan, 2009), nas o desenvolvimento logico formal, mas ele corresponde literalmente a capacidade de fazer experiéncias. A emancipagao depende dos niveis de consciéncia do (a educagio paraa experiéneta éidéntica educago para individuo, da sensibilidade aos problemas, da capacidade a emancipagao (Adorno, 2000, p.151). de construir utopias reais e da dimensao do sentido interior ue mobiliza e impulsiona as pessoas Jacques Rancixe ¢ outro fildsofo que se ocupa do tema Sousa Santos (2002) retoma o tema sab a 6tica do cole: da emancipagao. Ele diz: livo e sugere reinventar a emancipagao social. Liberdade, MARR DA GLORA.GOHN igualdade, solidariedade ¢ paz. sao as promessas nao cum- pridas da modernidade ocidental e constituem o patriménio matricial da emancipacao social. A organizagao neoliberal da sociedade, ja fragmentada pelo regime de acumulagao de capital, agora mais intensamente globalizado, impede a incluso dos grupos desfavorecidos a uma vida em que os direitos humanos sdo reconhecidos. Na sua opiniao: (..) € voracidade com que a globalizago hegemonica tem devorado, nao s6 as promessas do progresso, da liberdade, da igualdade, da nao discriminagao e da racionalidade, como a propria ideia da luta por elas, ou seja, a regulacao social: hegemOnica deixou de ser feita em nome de um projeto de futuro © com isso deslegitimou todos os projetos de futuro alternativo antes designados como projetos de emancipagao social (Santos, 2002, p. 17). Sousa Santos € Avritzer (2002) buscam nas formas de gestdo social campo de aplicabilidade para suas visdes ¢ propostas de emancipacao social. Sinalizam que um dos caminhos da reinvengao da emancipagao social seria com- plementar a democracia representativa com a democracia participativa que implica uma articulacao mais profunda por meio de monitoramento dos governos, delibera¢ao pi- blica etc., argumentacao ¢ justiga distributiva. Os autores mostram como, entre as diversas formas de participagao que emergiram no Brasil pés-autoritario, o orgamento par- ticipativo adquiriu proeminéncia particular porque ele combina elementos da democracia representativa e da de- mocracia participativa Parte II A Educacao Nao Formal em Acao A segunda parte deste livro apresenta exemplos da educagdo nao formal em acao, em movimentos sociais, ¢ m projetos sociais desenvolvidos em comunidades locais 1. Aprendizagens na participagao social © poder local de uma comunidade ¢ as possibilidades mancipatorias e civilizatorias de organizagoes, movimen: tos ou instituig6es, como a escola, nao existem a priori, nao jo inatas ou constitutivas dos individuos ou instituicdes esses poderes tém que ser organizados, adensados em fun- io de objetivos que respeitem as culturas ¢ diversidades locais, que criem lagos de pertencimento ¢ identidade so- ciocultural e politica. Forgas sociais se constroem em pro- cessos, por meio das relagdes compartilhadas, pactuadas, interativas. Esses processos levam 0 nome de educagao nao

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