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Introdução
A dignidade da pessoa humana assume, a cada dia, papel mais importante no contexto
do Estado Democrático de Direito. No passado, a humanidade sofreu com as
malvadezas provocadas pelo Estado. Superada aquela infeliz fase da história mundial,
com o advento da Declaração Universal da ONU, de 1948, foram impostos limites aos
poderes estatais, que permitiram aos indivíduos conviver em um cenário de maior
segurança, paz e dignidade em suas vidas, (Moraes, 2003).
Contudo, não se pode olvidar que o princípio da dignidade da pessoa humana possui
conexões com os direitos fundamentais e que os operadores do direito tentam ou
tentarão fazer uso, cada vez mais, dessas pretensões constitucionais. Todavia, a
utilização incorrecta desses institutos poderá causar banalização e descrédito dos
mesmos, (Sarmento, 2004).
Mesmo elevado ao topo das discussões humanitárias das Nações Unidas, tendo sido
inclusive tema de debates e resoluções do Conselho de Segurança, muito pouco se fala,
no país, sobre questões relativas a pessoas deslocadas internas sobretudo a dignidade
dessas pessoas. Moçambique, muito honrosamente, além de ter ratificado os
instrumentos internacionais pertinentes ao tema, ainda tem uma lei nacional versando
exclusivamente sobre a questão central.
O pais, apesar de fazer parte de um continente que convive diariamente com a crise
humanitária mundial que percebemos na actualidade, ainda é pouco desenvolvido no
assunto, mas demonstra estar buscando um maior desenvolvimento para lidar com a
questão. Entretanto, não basta que Moçambique tenha leis nacionais ou seja parte de
instrumentos internacionais para que efectivamente lide com os direitos e deveres dos
deslocados. É mais do que necessário que procedimentos internos sejam adoptados para
Por sua vez, devo ressaltar que não é somente do Estado a total responsabilidade pela
protecção dos deslocados, o Alto Comissariado das Nações Unidas e outras instituições
internacionais que lidam com refugiados ou deslocados, por não terem território
próprio, actuam nos territórios dos Estados, visando a efectivação da protecção da
população obviamente com a permissão do próprio Estado. No entanto, cabe dar
destaque ao facto de que a protecção dos deslocados não tem por fim o momento da
aceitação das províncias em receber esses indivíduos em seu território, vai além, muito
além.
Por que motivo é que durante o presente trabalho, dedicar-se-á um momento para
demonstrar a real efectividade da protecção, demonstrando o mais detalhadamente
possível a presença de acções que viabilizem a maior satisfação dos direitos e a
reposição da dignidade dos deslocados e uma efectiva protecção. Por fim, objectivando
analisar a efectividade da protecção do Estado moçambicano aos deslocados no âmbito
do Poder Judiciário, uma pesquisa jurisprudencial será realizada, demonstrando o real
posicionamento do referido Poder.
Por ser uma questão actual e por presenciarmos a maior crise humanitária que acontece
desde 2017 na província de Cabo Delgado, a atenção volta-se com maior força para o
tema. Não basta que somente o governo lide com tal questão, é necessário maior
empenho da sociedade civil, buscando inserção desses indivíduos na sociedade, tendo
em vista a dificuldade em buscar um novo lugar em uma cultura geralmente diferente.
À primeira vista, muitos podem se perguntar sobre o interesse que a temática possa
suscitar em Moçambique, ao argumento de que, em razão das geográficas da província e
do país, provavelmente a população mais afectada não seriam forçados a se deslocar
para outros distritos ou mesmo províncias do país por causas da guerra, ainda que
agravadas pelo terrorismo.
Ambiguamente, muitos consideram que o tema diga somente respeito dos outros países
africanos que vivem em guerra em todos anos, e que, por isso, não mereça a atenção de
uma tese em direitos humanos em Moçambique, sobretudo na província de Cabo
Delgado.
Por exemplo, muitas pessoas têm buscado melhores condições de vida em alguns
distritos da província de Cabo Delgado, sendo que esta província é uma das do país, que
mais sofre com a escassez de água, falta de serviços básicos sociais e infra-estruturas
que podem alavancar o desenvolvimento da população residente. Em uma perspectiva
internacional mediata, a relevância do tema parece ainda mais clara. As causas de
guerra que orientam e provoca o deslocamento forçado de pessoas (em evento
intrinsecamente multicausal) resultam da relação estabelecida entre o homem e a
descobertas dos recursos naturais valiosos, que, além de insustentável, do ponto de vista
do desenvolvimento social, expõe enormes dificuldades as comunidades que menos
teriam contribuído menos de enfrentar guerras.
Do ponto de vista do discurso de protecção dos direitos humanos, que inclui a protecção
da existência humana digna, afrontada pelos efeitos do agir humano sobre a ganância, o
tema também é central.
1.2.Formulação do problema
Assim, Castilho (2011), faz repensar que a expressão direitos humanos representa o
conjunto das actividades realizadas de maneira consciente, com o objectivo de assegurar
ao homem à dignidade e evitar que passe por sofrimentos. (…) Que todas as pessoas
nascem livres e iguais em dignidade e direitos, são dotadas de razão e consciência e
devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Tratando a todos com respeito e consideração, ao mesmo tempo em que preservará suas
prerrogativas e o direito de receber igual tratamento das pessoas com as quais se
relacionam, garantido a todos que seja concedido tratamento condizente com a
dignidade da pessoa humana, civilizar o tratamento a todos com respeito e consideração,
ao tempo em que preservará seus direitos e prerrogativas, devendo exigir igual
tratamento de todos com quem se relaciona (Abebe, 2011).
As normativas referentes aos direitos humanos, que são aplicáveis tanto em período de
guerra como em situações de conflito armado, também fornecem uma importante
protecção aos deslocados internos. Tem como objectivo evitar o deslocamento de
pessoas e garantir os direitos básicos, caso ele venha a ocorrer (Abebe, 2009).
Para ser cientificamente válido, a preocupação que justifica este trabalho é saber, De
que forma a Estratégia da SADC no combate ao terrorismo tem contribuído na
estabilização de Cabo Delgado?
1.3.Objectivo geral
Variáveis
Independente Dependente
2.METODOGIA
2.1.Metodologia/técnicas de pesquisa
Num trabalho científico de modo geral, inicia-se com a colecta de dados sejam eles
bibliográficos ou de pesquisa de campo, supostamente importantes para um referido
problema (Marconi, 2001).
Nesta óptica de ideia, o presente trabalho tem uma forma de abordagem que é
qualitativa que, prende-se em analisar descrevendo e interpretando o fenómeno de
deslocamentos populacionais devido a guerra em Cabo Delgado. O estudo é
exploratório e descritivo em que, segundo De Assis (s/d), a exploratória tem a finalidade
de proporcionar maiores informações sobre determinado assunto, facilitar a delimitação
de um tema de trabalho.
Para Gil (2008), são desenvolvidas com objectivo de proporcionar visão geral, é
realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e enquanto a
descritiva, visa observar, registar, analisar, clarificar e interpretar os dados na
perspectiva de De Assis (s/d) e para Gil (2008), tem como objectivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenómeno ou
estabelecimento de relações entre as variáveis.
2.2.Entrevista
2.4.Amostra
3.REVISÃO TEÓRICA
Este capítulo faz referência de diversos autores que, de alguma forma, abordam o
assunto em estudo, mas, sobretudo, os conceitos, com alguma limitação que se deve à
dificuldade encontrada na disponibilidade de trabalhos já feitos sobre o assunto.
3.1.Conceito de guerra
CLAUSEWITZ (1832), considera a guerra como “um acto de violência para levar o
inimigo a fazer a nossa vontade”. Assim, diz o autor, “a violência, ou seja, a força física
(...) é, pois, o meio; a submissão compulsória do inimigo à nossa vontade é o objectivo
último”. O autor explica ainda que, para que o objectivo se atinja plenamente, o inimigo
tem que ser desarmado, sendo este o verdadeiro objectivo das hostilidades na teoria, já
que assume o lugar do objectivo final, colocando-o como algo que não pertence bem à
guerra.
Neste caso, Boniface (1997), afirma que Clausewitz via a guerra como um elemento
instrumental e intencional, e explica que foi dessa concepção política ou racional da
guerra que resultou a famosa fórmula de CLAUSEWITZ (1832): “a guerra é uma
simples continuação da política por outros meios”.
A guerra pode ser também entendida de outras formas. Segundo SANTOS (2000), a
concepção cataclísmica vê a guerra como uma catástrofe inevitável. A concepção
escatológica considera a guerra a forma de alcançar um estádio superior da vivência do
Homem na Terra, sendo essa uma situação de pureza exigida pela religião.
3.2.Deslocados internos
Os actores presentes neste tipo de conflito, muitas das vezes, usam como estratégia a
expulsão de diferentes tribos ou grupos étnicos, sem distinção entre combatentes e não
combatentes (Hashimoto, 2003).
Estado esse, que muitas das vezes não tem tido condições para responsabilizar-se dos
deslocados internos, o agravante é de que não permite a ajuda externa para combater os
terroristas evocando questões de soberania (Idem).
Os governos não gostam que entidades externas venham interferir nos seus assuntos
internos, sobretudo no caso de guerras, pois temem que a assistência possa quebrar a sua
autoridade, ao legitimar seus oponentes, afugentando, por isso, a ajuda humanitária
(Inês, 2009).
Corre-se, assim, o risco de gerar situações dúbias, nas quais se aguarda que um Estado,
num cenário de emergência, julgue e decida o momento a partir do qual a comunidade
internacional pode entrar no território e começar a trabalhar com os terroristas
(Hashimoto, 2003).
3.3.Direitos Fundamentais
Dimoulis e Martins (2007) entendem que, para se falar em direitos fundamentais, há que
se estar presentes três elementos: Estado, indivíduo e texto normativo regulador da
relação entre Estado e indivíduos. Assim, “essas condições apresentaram-se reunidas
somente na segunda metade do século XVIII”. Ainda sustentam que, sem a existência
do Estado, esses direitos não poderiam ser garantidos e cumpridos.
Por sua vez, o terceiro requisito é o texto normativo regulador da relação entre Estado e
indivíduos que, conforme o aludido autor Silva (2007), é exercido pela Constituição,
que declara e, ao mesmo tempo, garante determinados direitos fundamentais.
É bastante utilizada a expressão gerações dos direitos fundamentais, o que gera uma
ideia de gradação. As pretensões essenciais de primeira geração referem-se aos direitos
individuais e políticos, cuja finalidade era limitar o poder opressor do Estado a favor
dos indivíduos. Nessa época, vivia-se sob as batutas do Estado liberal, que se
posicionava distante das relações privadas (Pasqualini, 1999).
Esses direitos tiveram origem nas doutrinas iluminista e jus naturalista, dos séculos
XVII e XVIII, englobando a vida, liberdade, propriedade, igualdade formal, as
liberdades de expressão colectiva, os direitos de participação política e, ainda, algumas
garantias processuais individuais (Idem).
Com o declínio do Estado Liberal, surge o chamado Estado Social), cujo objectivo
primordial era minimizar a injustiça e permitir aos cidadãos uma melhoria na qualidade
de vida. Tem-se, nesse momento, um Estado intervencionista e assistencial, que
adoptava práticas no campo social. Daí serem de segunda geração tais direitos,
chamados de sociais (Nobre,2000).
Dimoulis e Martins (2007) criticam a utilização do termo geração que, para eles, não é
cronologicamente exacto, pois, ao se considerar os aspectos históricos, “(…) pode-se
indicar que já havia direitos sociais garantidos nas primeiras Constituições e
Declarações do século XVIII e de inícios do século XIX”. Por essa razão, de acordo
com aqueles autores (2007), uma parte da doutrina prefere se referir às categorias dos
direitos fundamentais utilizando o termo “dimensões”.
Martínez (1995), afirma que “os direitos fundamentais são representantes de um sistema
de valores concreto, de um sistema cultural que deve orientar o sentido de uma vida
estatal contida em uma Constituição (…)”.
A conceituação acima não é a melhor para ser adoptada nos dias actuais. Considera-se
que o Estado e a sociedade evoluíram e, como consequência, houve o desenvolvimento
dos direitos e das garantias fundamentais. Actualmente, o campo de abrangência dessas
pretensões públicas subjectivas cresceu, já que, além de defender a pessoa contra os
entes estatais, também constitui instrumento de defesa contra outros particulares
(Steinmetz, 2004).
A raiz etimológica da palavra dignidade provém do latim dignus, que é aquele que
merece estima e honra. Segundo Rosenvald (2005): “A dignidade humana seria um
juízo analítico revelado a priori pelo conhecimento. O predicado (dignidade) que atribuo
ao sujeito (pessoa humana) integra a natureza do sujeito e um processo de análise o
extrai do próprio sujeito. Sendo a pessoa um fim em si jamais um meio para se alcançar
outros desideratos, devemos ser conduzidos pelo valor supremo da dignidade”.
Rosenvald (2005), cita Flórez Valdés (1990), para lembrar que “a dignidade da pessoa
humana é a razão de ser do direito e fundamento da ordem política e paz social. Todo
direito é constituído para servir ao homem (…). A dignidade situa o ser humano no
Autor: Sergio Alfredo Macore Pemba - Mozambique sergio.macore@gmail.com /
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epicentro de todo o ordenamento jurídico (…)”. Silva (2007), expõe que “se é
fundamento é porque se constitui num valor supremo, num valor fundante da república,
da federação, do país, da democracia e do direito”.
Consoante Moraes (2003), saber em que consiste a dignidade humana: “é uma questão
que, ao longo da história, tem atormentado filósofos, teólogos, sociólogos de todos os
matizes, das mais diversas perspectivas, ideológicas e metodológicas. A temática
tornou-se, a partir de sua inserção nas longas Constituições, merecedora da atenção
privilegiada do jurista que tem, também ele, grande dificuldade em dar substância a um
conceito que, por sua polissemia e o actual uso indiscriminado, tem um conteúdo ainda
mais controvertido do que no passado”.
Benda (1996) entende que a dignidade da pessoa humana possui: “como parâmetro
valorativo (…), o condão de impedir a degradação do homem, em decorrência de sua
conversão em mero objecto de acção estatal. Mas não é só. Igualmente, esgrime a
afirmativa, de aceitação geral, de competir ao Estado a procura em propiciar ao
indivíduo a garantia de sua existência material mínima”.
Com relação ao conceito de dignidade da pessoa humana, Sarlet (2009) entende que “a
busca de uma definição necessariamente aberta mas minimamente objectiva impõe-se
justamente em face da exigência de um certo grau de segurança maior e estabilidade
jurídica.
Miranda (2000) observou que “a constituição confere uma unidade de sentido, de valor
e de concordância prática ao sistema de direitos fundamentais, que, por sua vez, repousa
na dignidade da pessoa humana, isto é, na concepção que faz da pessoa fundamento e
fim da sociedade e do Estado”.
Andrade (2006), sustenta que o princípio da dignidade da pessoa humana radica na base
de todas as pretensões essenciais. O grau de vinculação dos diversos direitos àquele
princípio poderá ser diferenciado, de tal sorte que existem direitos que constituem
explicitações em primeiro grau da ideia de dignidade e outros que dele são decorrentes.
Conforme Biagi (2005), tais direitos “são os pressupostos elementares de uma vida
humana livre e digna, tanto para o indivíduo como para a comunidade: o indivíduo só é
livre e digno numa comunidade livre; a comunidade só é livre se for composta por
homens livre e dignos”.
Por sua vez, o DIDH é um conjunto de normas da mesma natureza que o DIH, mas que
estipula o comportamento e os benefícios que as pessoas ou grupos de pessoas podem
esperar ou exigir do Governo.
Neste contexto, os direitos humanos são aqueles inerentes a todas as pessoas, em razão
de sua condição enquanto seres humanos, sendo que muitos princípios e directrizes de
Autor: Sergio Alfredo Macore Pemba - Mozambique sergio.macore@gmail.com /
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índole não convencional (direito programático) integram também o conjunto de normas
internacionais de direitos humanos.
Conclusões
A protecção pelo sistema de direitos humanos é mais abrangente e inclui todo o género
humano. O fortalecimento dos direitos humanos reduziria a vulnerabilidade e criaria um
sistema sócia e económico coeso, enfrentando as causas para o deslocamento. Os
direitos humanos também funcionam como prisma para a protecção a ser garantida
durante o deslocamento e no reassentamento.
O problema dos deslocados internos na província de Cabo Delgado impõe, para o seu
enfrentamento de racionalidade organizada, voltada para restabelecer a dignidade das
populações afectadas.
Referências bibliográficas
RUTKOSKI, Joslai Silva. A pedagogia de Paulo Freire: Uma proposta da educação para
os Direitos Humanos. In: PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos. Curitiba: Juruá, 2006.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 8. ed. Porto Alegre:
Editora Livraria do Advogado, 2007a.