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Planejamento, 2 praticas e projetos pedagdgicos na Educacao Infantil eM aa ell) Maria Carmen Silveira Barbosa Maria Bernadette Castro Rodrigues. Maria Celina Bastos de Amodeo Tec Ry NEES EE] Maria Isabel Habckost Dalla Zen Newb (doy Planejamento, praticas e projetos pedagogicos na Educacéo Infantil Marita Martins Redin Maria Carmen Silveira Barbosa Maria Bernadette Castro Rodrigues Maria Celina Bastos de Amodeo Leni Vieira Dornelles Ivany Souza Avila Maria Isabel Habckost Dalla Zen e Colaboradoras Editora Mediacao 2* Edigao Porto Alegre 2013 Coordenagio Editorial: Jussara Hoffmann Assistente Editorial: Luana Aquino Revisio: Franciane de Freitas Capa o Projeto Grifico: Setor Bditorial Mediagio / Julia Teles Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagao (CIP) P712_ Plancjamento, priticas e projetos pedagégicos na Educacao Infantil / ‘Marita Martins Redin ... [et al] 2. ed. ~ Porto Alegre: Mediagio, 2013. 208 p25 em, Inclui bibliografia, ISBN 978-85-7706-077-1 1. Fucagio de criangas ~ Planejamento. 2. Projeto pedaggico. 3. Professores ~ Formacio. 4, Priticas pedagdgicas. I. Redin, Marita Martins. cpu 3732 cpp 372.21 Bibliotecaria responsive: Sabrina Leal Araujo — CRB 10/1507 Todos o direitos desta edigho reservados & @ Editora Mediagio Distribuidora e Livraria Ltda. ‘A. Taquara, 386/908 Barro Petrol Porto Alegre RS/ CEP 90460-210 Fone /ax (51) 330 8105 caitora mediacao@editoramediacao.combr ‘wveweditoramedacao com br sre facebook com feditorameciacao swvetittercom editoramediacao Nenhuma parte desta obra pode ser reprodurida ou duplicada sem autorizagao expressa do Faitor by Autoras eColaboradoras,2012. Printed in Brazil/Impresso no Brasil Apresentacao Jussara Hoffmann Maria Beatriz Gomes da Silva CAPITULO 1 | Planejando na Educagao Infantil com um fio de linha e um pouco de vento ... Marita Martins Redin Planejar para ampliar horizontes, fazer sentido. Planejar para alimentar a ludicidade, a imaginacao e a criacao Planejar para dar visibilidade as nossas concepcées .. Planejar nao é determinar caminhos, mas direcdes. Quebrando rotinas, inventando e explorando outra educagao Para nao esquecer! 0 cotidiano, um espago de acontecimentos que valem 22 26 27 29 32 a pena ser vividos Beata 93) CAPITULO 4 Atividades, prdaticas e projetos pedagogicos com bebés e crian¢cas até quatro anos rela Luciana. Graduada em Pedagogia e P6s-Graduada em Educagao infant pola UFRGS, Professora dda Creche da UFRGS. Débora Borba Rosa Graduada em Pedagogia, Habilitagao Educagao Infantil, pela UFRGS. Professora Alfabe- tizadora da Rede Municipal de Ensino de Torres, RS. Thayse Reis Branco Graduada em Pedagogia, Hablitagao Educagao Infanti, pela UFRGS, Pés-Graduada em Ps- ‘opediagogia pela PUCRS. Professora da Rede de Ensino Municipal de Porto Alegre, RS. cia Helena Kunze Vieira Graduada em Pedagogia, Habilitagao Educagao Infanti, pela UFRGS. Especialista em Gestdo Escolar Integrada pelo CESAP, Vitoria, ES. Coordenadora Pedagogica do Ensino Fungamental | do Colégio Sao José, Vila Velha, ES. Cristina Gil de Souza Graduada em Pedagogia, Habilitacao Educaczo Infantil, pela UFRGS. Professora da Rede Municipal de Porto Alegre, RS. Adriana Castellanos Pereira Graduada em Pedagogia, Habilitagéio Magistério para Pré-Escola, pela UFRGS. Pés-Gra- duada em Interdisciplinaridade no Ensino Fundamental pelo Centro Universitario Ritter dos Reis, Professora da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, RS, Adriana Calza Caporal Graduada em Pedagogia, Habilitagao Educacao Infantil, pela UFRGS. Lisiane Selistre Dutra Graduada em Pedagogia, Habiltagao Pré-Escola e Séries Iniciais, pela UFRGS, Pés- Graduada em Psicopedagogia ¢ Interdisciplinaridade pela ULBRA e em Supervisao & Orientagao Escolar pela UNICID. Denise Dallarosa Queiroz Graduada em Pedegogia, Hebilitagao Educacao Infanti, pela UFRGS. Pés-Graduada em Educacao Infantil pela FAPA. Professora da Rede Publica de Ensino de Porto Alegre, RS. Gilsone Mottola Graduada em Pedagogia, Habilitacao Educacdo Infantil, pela UFRGS. Cléudia Helena Demartini Costa Graduada em Pedagogia, Educagao Infantil, pela UFRGS. Graduada em Direlto pela UL: BRA. Especialista em Direito da Crianga e do Adolescente pela FMP, ‘Simone Volkmer Drafta Especializacao em Educagao Infantil pela UFRGS/FAPA, Pro de Ensino de Porto Alegre, RS. Bebés também gostam de histérias Criangas de quatro a 14 meses Marcia Luciana Menegat Mostrei as criangas o livro “Bichinhos no mar”. A histéria é bem- ilustrada, com grandes e coloridas gravuras de animais (cachorro, gato, pato, elefante, coelho). Minha intengao, naturalmente, nao foi de contar a histéria, tal como estava no livro, mas de mostrar e comentar as gra- vuras para as eriancas. Raquel, Franciele e Melanie ficaram olhando com muito interesse para as gravuras coloridas do livro. Entao, eu fui apontande para cada animal e dizendo 0 nome deles ou imitando a sua fala. Raquel, ao me ouvir disse: ~ Au, au! E comegou a apontar para todos os animais. Segundo Oliveira (1992, p. 93), “a narrativa de histéria, em es- pecial de livro de gravuras, constitui experiéncia primordial a ser cons- tantemente garantida. A presenca de bonecos, gravuras ampliadas ou fantoches sobre o tema narrado cria um clima de muita atencao e des- coberta entre as criangas”, Ao aparecer um pato na gravura do livro, eu aproveitei cantei uma cancao: 0 piu:piu amarelinho, Cabe aqui na minha mao, na minha maol... "DT PERIISFTEPHEN Pr csicae © frejeen peceyogeoe tt Acompanhei a cancdo com gestos e mostrando a gravura no Il- vro. Melanie sacudiu 0 seu corpo para um lado e para 0 outro como se estivesse dangando sentada. De acordo com Borges (1991, p. 26), “miisica 6 arte (...) e seu papel na Educacao Infantil 6 o de proporcionar um momento de prazer ao ouvir, cantar, tocar e inventar sons e ritmos”, Encontrei um patinho amarelinho de brinquedo e mostrei-o as criangas, juntamente com o livro, como se ele tivesse safdo da gravura, Cantei novamente a cancao, com o brinquedo na minha mao, e, apés, 0 deixei cair. Franciele imediatamente 0 colocou na minha mao, esperan- do que eu cantesse novamente € o deixasse cai, divertindu-se com a repetic¢ao da brincadeira por indmeras vezes. Larguei entao o livro préximo as criangas para observar sua rea- edo. Raquel, imediatamente, engatinhou e pegou-o do chao. Folheou-o varias vezes, observando 0 movimento de suas préprias maozinhas. Notei, por meio dessa atividade, o quanto os bebés também gos- tam de historias e como so raros esses momentos nas creches. Ampliando horizontes Criangas de quatro a 11 meses Marcia Luciana Menegat Convidei Raquel para passear comigo. Imediatamente, ela esten- dou os bracinhos. Fomos ao parque que existe ao lado da creche. Colo- quei a menina sentada na terra. Ela tocou-a com 0 dedo e, depois, com ‘mao. Pegou com os dedinhos e aleangou-me. Eu a sacudi em minhas mfos e fiz chuva de terra, Raquel pegou mais terra e colocou em mi- nhas mos. Repetimos a brincadeira varias vezes. A relago entre a crianca e 0 adulto, nesses momentos de pas- Selo, de atendimento individual, é fundamental para o desenvolvimento do bebé, visto que ele precisa do contato fisico e do afeto do adulto para se sentir seguro. Ao mesmo tempo, é muito importante a troca de ‘ambientes fechados por espacos abertos, favorecendo a descoberta de novos elementos. Tirei o sapatinho de Raquel. Foros de maos dadas, camirhando pela terra, pela grama, pelo chao de concreto, sentindo, dessa forma, textura dos diferentes pisos. Entramos no galpaozinho coberto e Ra- quel engatinhou pelo chao. Carreguei a menina no colo até uma dtvore. Brinquei de levanté-la © bater nas folhas. Raquel riu muito. Quando tentei colocé-la no chao, para caminharmos mais um pouco, preferiu ficar no colo, Ela estava cansada. Voltamos para a salinha. — So raros também esses momentos de passelo com os bebes fas creches, porque os adultos atendem a muitos e nem sempre po- dem Ihes oferecer um atendimento individual. Entretanto, sao momen- tos muito importantes para a relagao afetiva dos bebés com os adultos © para a ampliacaio de seus horizontes! O maior problema das creches assistenciais e puiblicas, por exem- plo, € a falta de espaco ao ar livre proximo a sala dos bebés. As pro- fessoras precisam deslocar-se para os patios passando por escadas e corredores. Quando as criangas nao caminham, isso representa um empecilho muito sério, pois como levar todas as criangas a0 mesmo tempo, se necessitam de carrinhos, cadeirinhas ou de colo para isso? Por outro lado, dos zero aos trés anos, os horérios de sono, de troca e de alimentacao nunca podem ser planejados, pois as necessidades das criancas sao diferentes. Torna-se uma “empreitada” ir ao patio quando esse fica distante da sala, sem abertura para ela. 0 correto em termos de escolhas de salas para os bebés seria disponibilizar para eles as salas maiores e com abertura para as areas descobertas das instituigdes, mas nao é isso 0 que, em geral, aconte- ce. Disponibilizam-se para as criangas maiores (quatro a cinco anos) as salas maiores e para os bebés, as salas menores. 0 inverso seria 0 mais adequado, considerando-se que as maiores jd se envolvem em. Jogos, brinquedos de faz de conta, pinturas, recortes, etc. S&o os bebés, justamente, que esto aprendendo a caminhar e a descobrir 0 mundo, e os espagos maiores, patios com brinquedos e caixas de areia so essenciais para isso. Descobrindo as caixas Criangas de quatro a 12 meses Débora Borba Rosa Coloquei no cho, & disposigao dos bebés, caixas de sapato com tampas removiveis com tocos de madeira coloridos dentro delas e uma caixa fechada com buracos recortados de diferentes tamantos e for- mas, donde safam pedagos de papel celofane de diferentes cores. Raquel sacudiu a caixa de sapatos com tocos. Foi logo abrindo-a © espalhando os tocos pelo chao. Colocou cada um dos tocos na boca, atitude tfpica da fase oral na qual se encontra. Alexandro e Francieli aproximaram-se. Pegaram os tocos, batendo uns nos outros, no chao @ nas caixas. As criangas exploraram 0 material de muitas maneiras e, entao, empilhei algumas caixas € coloquei sobre a pilha um ursinho de borra- cha. Raquel derrubou a pilha. Convidei-a a refazé-la, mas ela nao ten- tou. Refiz a pilha, e outras criangas vieram derrubé-la. Nao coloquei dessa vez o urso e, entao, Francieli tentou colocé-lo, mas acabou derru- bando a pilha novamente. Observei que Francieli notou a falta do urso @ tentou reproduzir a minha ago anterior. Chamei a atengao deles para a caixa com celofane dentro, e Raquel, prontamente, passou a retirar os papéis pelos diferentes bu- racos da caixa. Logo apés, tentou recolocé-los, por entre os mesmos, tentando refazer o que havia desfeito. Francieli pegou a caixa, retirou 0s papéis e colocou em seu lugar 0s tocos de madeira. Colocava um toco em cada buraco, ajeitando a forma do objeto com a forma do buraco e demonstrando assim 0 desenvolvimento de sua nogao de espaco (deslocamento dos objetos versus espago que ocupam) ao realizar essa brincadeira. As criangas amassaram e rasgaram papéis e puseram umas cal- xas dentro das outras. Para dar continuidade a essa atividade, pode-se oferecer caixas fechadas com objetos dentro, maiores que os buracos recortados, para desafid-los a retiré-los, ou fazer recortes menores, onde nao caibam os objetos disponivcis ¢, assim, obscrvar suas reagées. E os rolos da mamae? Criangas de quatro a12 meses Débora Borba Rosa Ofereci as criangas muitos rolos de cabelo fora de uso e potes de iogurte descartdveis (devidamente esterilizados). Melanie passou @ encaixar uns rolos dentro dos outros. Encaixava, porém nao conse- Buia retiré-los. Deixei que tentasse de todas as formas, mas, depois de um tempo, precisei ajudé-la. Passou entao a colocar os rolos den- tro dos potes e a sacudi-los, prestando muita atengao ao som produ- zido. Durante a brincadeira, a menina desenvolveu a sua coordenagao motora por meio do ato de encaixar e desencaixar, descobriu tama- nhos e formas dos objetos e os sons que produzem (a descoberta dos atributos dos objetos faz parte da construcao do conhecimento fisico, segundo Piaget). Empilhei os potes e os rolos. Melanie observou durante algum tempo e derrubou-os. Empilhou, entao, os trés primeiros potes e, quando foi colocar 0 quarto, acabou derrubando a pilha novamente. Ela nao desistiu e logo recomecou outra. Melanie sentiu-se desafiada pela atividade e, em algumas vezes, foi bem-sucedida em suas ages. Por essa raz&o, repetiu-a diversas vezes. E importante a presenca do adulto nesse momento, incentivando a crianca a continuar e aplaudin- do as suas conquistas, Raquel brincou com os rolos, fazendo-o8 gifar @ rolar no chao, juntando uns com os outros e tentando empilhé-los, Distribut, a seguir, potes menores que os primeiros ofereci- dos entre as criangas e Francieli puxou quantos pdde para perto de si, caracterizando 0 ponto de vista egocéntrico dessa faixa etdria. Levou-os a boca, amassou-os e bateu uns nos outros @ no chao. Alguns potes ficaram trancados dentro dos outros e, dessa forma, as criangas novamente utilizaram-se de vérios meios para atingir 0 seu fim: batiam no chao, mordiam, tentavam puxar com o auxilio de outro objeto, até conseguirem. Durante suas brincadeiras, interagi com todas as criangas, ofe- recendo-lhes outros objetos, incentivando-as a determinadas acdes, dificultando algumas, inclusive, no sentido de desafié-las a realizar novas experiéncias. Saco-surpresa Criancas de quatro 2.18 meses Thayse Reis Branco ‘Ao chegar & creche, todas as criangas ja estavam acordadas. Resolvi retiré-las logo das caminhas e colocé-las no centro da sala onde estava 0 saco-surpresa, contendo varios objetos e pedacos de papel com texturas diferentes. Essa € uma atividade que oferece oportunidade para que as criangas interajam com objetos diversos, conforme as suas préprias, possibilidades ou esquemas j4 consolidados, assimilando-Ihes novos resultados, coordenando-os e ampliando-os, bem como desenvolvendo a sua representacdo nos aspectos simbélico e linguistico. 0 primeiro bebé, a0 colocar a mao no saco, retirou dele um pente ©, imediatamente, passou-o no cabelo, demonstrando reconhecer 0 seu so, evocando ages dos adultos. Outra crianga retirou um pedago de Papel celofane: rasgou-o, amassou-, inicialmente, e, depois, passou “espiar” por meio dele os demais objetos da sala. Explorou, assim, as propriedades fisicas do papel para depois transformé-lo em uma ‘espécie de lente colorida. (Teria esse bebé realizado anteriormente tal brincadeira?) Uma menina retirou uma panelinha, balbuciando “ela” @ levando-a & boca como se contivesse algo para comer. Observa-se, essa situagdo, a representagao linguistica e simbolica do objeto pela crlanga. Uma outra menina retirou do saco uma toalhinha e atirou-a no chao. Peguel-a, entao, passando levemente. imitando, imediatamente, o que eu fizera. to, Ela sorrlu, A brincadeira simb6lica é uma atividade na qual os objetos sao utiliza- dos como suporte para o didlogo com a crianga. Tal didlogo abrange questdes sobre o nome da brincadeira, dos objetos utilizados e sua ser- ventia ~ evocagdes provocadas a partir das colocagées que vo sendo. feitas,— até a discussao sobre t6picos variados. Desse modo, pode-s@ favorecer 0 desenvolvimento da atividade representativa em seus as~ pectos simbdlico e lingu‘stico (SEBER, 1989, p. 58). A partir da atividade com 0 saco-surpresa, os bebés interagiram com muitos objetos € fui intervindo continuamente, buscando torné-la um momento de desafio para cada um deles. Mobiles Criangas de quatro a 18 meses Thayse Reis Branco Naquela tarde, resolvi pendurar mobiles onde os bebés pudes- Sem visualizé-los e tocé-los. Assim, coloquei alguns acima dos bercos © outros em suportes presos ao teto da sala, na macaneta da janela, no canto da estante de mochilas, etc. (Eram bichinhos confeccionados com sobras de feltro e sininhos feitos com copos de plastico e guizos, pendurados em armagées com arame fino e eldstico). Acompanhando 0 movimento dos mébiles, tocando-os e ouvindo 08 sons produzidos por alguns, os bebés, especialmente os mais no- ‘os, tiveram a oportunidade de assimilar novos resultados a esquemas Jf consolidados: agarrar e morder, agarrar e chocalhar, balangar, bater fepetidas vezes observando o movimento e outras ages semelhantes. Um dos bebés, durante um tempo, acompanhou com os olhos os mo- vimentos dos ursinhos de feltro pendurados na lampada. No momento iguinte, estendeu o brago e, quando sentiu sua mao tocando 0 objeto, prendeu-o entre seus dedinhos, tentando nao solté-los. Repetiu essa ‘ago, posteriormente. Esse bebé, segundo Seber (1989, p. 21), de- monstrou estar consolidando 0 seu esquema visual, que conduz a crianga a olhar cada vez mais, de modo que @ cabeca co- mega a seguir por breves instantes trajetorias curtas de objetos que so deslocados na sua frente. (...) Aos poucos, os movimentos das maos se coordenam com o esquema visual: a orlanga agarra abjetos pendura: dos no ber¢o primeiramente quando percebe malo @ objetos no mesmo ‘campo visual e, em seguida, generaliza essa conquista para quaisquer situagées. Outro bebé, por sua vez, tentou, por diversas vezes, agarrar um dos bichinhos de feltro de outro mébile, Cada tentativa de agarré-lo, no entanto, provocava uma oscilaco no objeto que acabava por afasté-lo de suas mos. Teve entao que ajustar seus movimentos ao do objeto “oscitante”, movido também pelo meu sopro com a intencao de desa- fid-10 ainda mais. U bebé tol, assim, repetindo movimentos jé executa- dos de forma cada vez mais aperfeigoada. ‘A seguir, procurei mudar os lugares dos mobiles e provocar 0s Movimentos dos objetos, criando condigdes para que todos os bebés interagissem com aqueles brinquedos, observando seus deslocamen- tos, pois “6 agindo sobre os objetos que a crianga comega a relacionar seus movimentos com os deles, e sao exatamente tais condutas que vao intervir na nogao de espaco” (op. cit., p. 24). Foi extremamente gratificante observar as conquistas das orian- gas em suas brincadeiras. Conhecendo meu corpo por meio do espelho Criangas de quatro a 18 meses Lticia Helena Kunze Vieira Instalei o espelho para desenvolver uma brincadeira com maquia- gem. Deixei que as criangas explorassem livremente o material. Ingrid € Douglas batiam suas maos nele, e os outros logo se aproximaram fazendo 0 mesmo. Colocavam as mos e a boca no espelho. Apés a exploracdo, convidei as criangas para brincarem comigo. Mostrei-Ihes 0 estojo de maquiagem e perguntei ao Diego, ao Vitor, & Ingrid e @ Greiciane que se aproximaram: —0 que é isso? 0 que a gente pode fazer com isso? Ingrid e Greiciane logo colocaram os dedos, enquanto os outros observavam. — Olha s6, pintou 0 dedo da Ingrid e da Greicianel ~ falei para todos. ‘As meninas olharam para seus dedos, curiosas, o que, segundo Wadsworth (1992, p. 42), pode significar que as meninas viram o objeto como causa de possiveis fendmenos externos as suas agées. As orian- gas desenvolvem, assim, seu conceito de causalidade pela “conscién- cla de que as atividades podem ser reproduzidas por outras pessoas também por outros objetos”. Continuel a atividade, dessa vez, nomeando as partes co rosto. Primeiro me pintava @, depois, as criangas, dizendo: ————— ~ Olha o nariz da Lucia! Olha o meu olho! Onde esté o nariz da Greiciane? E, entao, pintava o nariz das criangas, suas bochechas, ete, Fui brincando, assim, com as partes do rosto e com as partes do corpo (bochecha, olhos, nariz, boca, barriga, maos, pés, bragos) de todas as criancas. A seguir, convidei-as para fazer 0 mesm — Quem consegue pintar 0 nariz da Luicia? E assim por diante, Vitor pegou a maquiagem e pintou o meu nariz. As criangas en: volvidas na atividade conseguiram identificar as partes do rosto e do corpo que eu citava e algumas delas repetiam 0 nome da parte citada na brincadeira, Por meio dessa atividade, procurei evocar as partes do rosto @ do corpo e usar 0 espelho com 0 objetivo de oportunizar a construgaio da imagem e a formacao de identidade. Toda a atividade cercou-se de muito afeto. As trocas verbais que ocorreram foram excelentes e esas. sao fundamentais para a ampliacao dos significados de suas vivencias, Vamos guardar os brinquedos? Criangas de quatro a 18 meses Lucia Helena Kunze Vieira Ao iniciar uma atividade ou entre uma e outra brincadeira, pro- ourei sempre convidar as criangas a guardar os brinquedos e outros materiais que haviamos utilizado. Assim, busquei a sua participacao no “guardar” favorecendo a disposicao da crianga em cooperar por meio de “uma solicitagao de que (a crianga) considera razoavel e sensfvel” (KAMII, 1992, p. 56). Pedia a ajuda (dos que caminhavam) perguntando: — Quem vai me ajudar a guardar os brinquedos? Quem consegue ‘colocar mais brinquedos na caixa? Vitor, Greiciane e Gisele comecaram logo a juntar os objetos que estavam espathados no chao. Douglas pegou um cubo de madeira e ficou me olhando. Chamei-o, dizendo: — Vem, Douglas, ajuda a Lucia! © menino levantou-se logo, levan- do 0 objeto até a caixa onde os brinquedos estavam sendo guardados @ passou a trazer outros. Procurei, também, provocar a descentragao das crianges no mo- ‘mento de repartir os brinquedos, a ponto de se liberarem da necessidade de posse exclusiva do material, ¢ levando-as a emprestar e trocar seus brinquedos com os amigos. Percebi, numa ocasiao, que Gisele partici- pava da brincadeira das garrafas abragada em pelo menos duas delas. Ela choramingava sempre que outra crianga the tirar uma das garrafas. Por isso, passei a rolar as garrafas pldsticas, sentada No chao, para a outra professora do bercario, e ela fazia 0 mesmo, devolvendo-me. Perguntei: — Quem consegue fazer o mesmo? Gisele € Douglas logo nos imi- taram, e ela deixou de fugir dos amigos. Durante uma outra atividade de contar historias, percebi que um dos meninos estava por rasgar uma das paginas, Nao retirel, entdo, 0 livro de suas maos, como é feito geralmente nas instituicdes, mas con- versci com ele dizendo: — Se tu rasgares 0 livro, nao teremos mais historinhas para ler. Vamos cuidar do livro? — E 0 menino parou de rasgé-lo. Dessa forma, procurei sempre estabelecer com as criancas uma relagao de confianca mdtua para além da obediéncia, por entender que dessa forma, como diz Kamil (1992, p. 29), “a crianga esté construindo ‘sua prépria regra moral antes do que meramente interiorizando uma regra adulta estabelecida”. Fazendo musica Criangas de quatro < 18 meses Cristina Gil de Souza Como os bebés e as criancas reagiriam a uma proposta de traba- lho que envolvesse a musica? A partir dessa indagacas, liguei o grava- dor onde coloquei uma fita com misica cldssica. As criancas, imediatamente, comecaram a “dangar”. Enquanto dangavam, eu Ihes oferecia alguns instrumentos que logo passaram a ser explorados com curiosidade: chocalhos de lata, de copos de io- Eurte, potes transparentes, latas, garrafas plasticas (descartaveis) & baquetas de madeira e plastico. Guilherme pegou dois chocalhos de lata e comegou a sacudi-los, enquanto Douglas batia uma baqueta pequena contra uma lata e Ro- berto, por sua vez, agitava outra no ar. Bati, entéio, com uma baqueta de madeira numa lata em frente ao Douglas. Gisele tentou imitar-me, “esfregando” a baqueta na mesma lata. Enquanto isso, Vitor pegou um chocalho de lata e outro pote de iogurte, sacudindo-os vigorosamente, sorrindo. Greiciane e Ingrid batiam palmas. Apanhei uma baqueta e esfreguei-a numa garrafa plastica, fazen- do barulho. Douglas imitou-me, e Guilherme, sentado em meu colo, sa- cudiu dois chocalhos de lata. Roberto colocava uma baqueta pequena na boca e tirava o encaixe de sua ponta para, depois, recolccd-lo com alguma dificuldade. Vitor fazia a mesma coisa. lll tee haan iran ti el ——— As criangas exploraram por um bom tempo os “instrumentos", enquanto a misica continuava tocando. Eu intervinha, frequentemente, para que as criangas avangassem nas suas descobertas ¢ se sentis- sem seguras em relago as suas agGes. Elas trocavam constantemente os materiais, verificando, assim, 08 diversos sons que produziam enquanto ampliavam seus conheci- mentos musicais. Quanto mais o ambiente sonoro das criangas puder se expandir, mais ampla seré sua educagao musical, ou seja, quanto mais possi lidades ela tiver de ouvir misicas de diferentes qualidades, de manipu- lar objetos que produzam sons, de brincar com instrumentos musicais, mais oportunidade ter da construgao de conhecimentos sobre musica e para o desenvolvimento de sua escuta musical, capacidade que Ihe dard condigdes de selecionar, do que ouve, aquilo que constituiré 0 seu gosto musical. Dangando e brincando com instrumentos musicais, as criangas também ampliam seu conhecimento fisico e légico-matematico, des- cobrindo as propriedades dos diferentes objetos e estabelecendo rela- Ses de semelhangas e diferencas entre eles e os sons que produzem. icando com potes e frascos vazios Criangas de quatro a 18 meses Cristina Gil de Souza Distribui, para os bebés, potes vazios como os de margarina, cosméticos, ketchup, iogurte, maionese e, também, frascos de xam- pu e desodorante (todos muito bem lavados e esterilizados com agua fervendo). Nao contavamos com brinquedos e materiais na creche e, ento, produzfamos brinquedos com sucata e materiais de baixo custo. Ao ver 0 material, as criangas logo se mostraram entusiasmadas: Vitor bateu palmas, Greiciane deu alguns gritinhos, Douglas sapateou alegremente e Renan sacudiu as pernas e as maos com energia. Envolvidos com a exploragao do material, Douglas e Greiciane co- megaram a brigar por um pote de margarina. Tive de intervir na briga, cha- mando a atengao do Douglas para outro pote igual. E impossivel, nessa fase, esperar que os bebés repartam os seus brinquedos ou os empres- tem. A professora precisa garantir a posse de, no minimo, um brinquedo para cada um, oferecendo sempre uma variedade razodvel para o grupo. Gisele pegou um frasco de ketchup, levando-o a boca. Greiciane tomou o frasco dela, imitando-a, e fazendo movimentos de succao com a boca como se estivesse mamando. Entrei, ent&o, na brincadei- ra, dizendo: = Também quero mamar. ‘108 Planejamiento, préticar © projetor pedagaqieor As duas me dirigiram a atencdo. Brincando de faz de conta, as meninas transformaram o frasco em uma mamadeira, em algo deseja- do por elas. Diego, sentado préximo, empilhou os potes, experimentando, ao mesmo tempo, quais os que cabiam dentro dos outros evoluindo em sua nogdo de espaco ocupado pelos objetos. Raquiele explorou uma caixa de pasta de dentes, colocando-a na boca e rasgando-a com os dentinhos, Gustavo empilhou alguns potes e os derrubou varias vezes. Aos 12 meses, 0s bebés j4 demons- tram, por melo de suas agoes, intengao de produzir efeitos que sao. parcialmente previstos. Por todas as reacées das criancas, a atividade com potes e fras- cos vazios mostrou-se muito rica. As criangas puderam aprimorar e transformar seus esquemas de agarrar, soltar, rasgar, amassar, sacu- dir, derrubar e tantos outros, ao mesmo tempo em que buscaram solu- des a problemas tais como sobrepor e encaixar objetos, abrir e fechar tampas ou, como diz Kamii (1991, p. 63), agindo sobre os objetos vendo como eles reagem, “envolvendo-se em uma exploracao cada vez mais minuciosamente regulada”. Na caixa de areia Criangas de 12 a 18 meses Adriana Castellanos Pereira Levei as criangas para uma caixa de areia que pertence auma turma de criangas maiores, 0 que fazia com que fossem raros esses momentos. Em nossa sala, nao havia abertura para o patio ou caixa de areia, Entrei na caixa e fui colocando todas as criancas ali dentro comigo. Comegaram a andar pela areia, embora com dificuldade, pois perdiam 0 equilibrio. Rafael, que estava comecando a caminhar, logo se sentou. Shirley no quis ficar ali dentro. Foi para a borda da caixa e comegou a cho- rar, mostrando que a areia era desconhecida por ela. As criancas, de fato, naio eram levadas ao patio, por isso o estranhamento da menina. Aproximei-me dela e peguei um punhado de areia para que tocasse nela, mas ela continuou a chorar e a pedir colo. Coloquei-a, entao, sentada na borda da caixa ao meu lado. Como diz Oliveira (1992, p. 41), “ao aten- der 0 bebé, 0 adulto nao the da apenas cuidado fisico, mas o insere no mundo simbélico de sua cultura ao interpretar suas expressées, gestos € posturas”. Assim, Shirley parou de chorar e ficou olhando os outros. Coloquei na caixa varios copos, potes plasticos, pazinhas, colhe- res ¢ funis de tamanhos e cores variadas. Rafael logo comegou a colocar areia na boca com a ajuda de um cone de plastico, mas parou rapidamente, fazendo uma careta como se nao tivesse gostado da experiéncia. Expliquei que a areiaera sujae que nao dava para colocar na boca. Rafael, entdo, pegou uma pazinha © comegou a cavar e a atirar areia para cima. As outras criangas enchiam potes e derramavam nelas mesmas. Depois, voltavam a enché-los. Isso demonstra uma certa nogao de re- versibilidade em suas agdes: ou seja, percebem que 0 que foi feito pode ser desfeito e vice-versa. Fiquei sentada com eles observando e conversando sobre o que estavam fazendo. Montei alguns bolinhos de areia usando copinhos, ea Caroline tentou imitar, mas nao conseguiu. Entao, fiz alguns e ela, imediatamente, iniciou uma brincadeira simbélica. Pegou uma colher aproximando-se do bolo e colocando na boca falando: “nham”, “nham”. Apontou a colher para mim, e eu também “comi” um pedago de bolo. Os outros permaneciam sentados na areia, enchendo potes, es- vaziando-os, colocando areia nos funis e observando-a cair rapidamen- te, atirando areia para cima e explorando-a das mais diversas maneiras. Para Wadsworth (1992, p. 13), a atividade com areia é importan- tissima para o desenvolvimento dos bebés, porque, na aquisi¢ao do conhecimento fisico, os objets em si (por exemplo, a areia) “dizem a crianga” 0 que pode ou nao ser feito com eles. Feeaba- ck ou reforco € proporcionado pelos préprios objetos. Uma crianga n&o pode construir um esquema exato de areia a menos que brinque com ela. (...) Os objetos permitem-nos construir suas propriedades somente na medida em que atuamos sobre eles. As brincadeiras ao ar livre, no patio € em caixas de areia devem estar presentes no dia a dia das criangas pequenas, com variados ma- teriais & disposicao para suas experiéncias. Descobrindo o préprio rosto no espelho Griangas de 12 a 18 meses Adriana Castellanos Pereira Aproximei-me de varias criancas que se encontravam a frente do espelho, olhando-se. Notei que 0 espelho exerce um fascinio sobre as criangas pequenas, que ficam por muito tempo observando-se tentan- do tocar em sua prépria imagem. Comecei, ent&o, a fazer movimentos com a boca, produzindo sons variados. Logo, todas comegaram a me olhar, atentas, enquanto eu as observava pelo espelho. Fiz caretas, movimentei a lingua, assoprei. Notei que ficaram aten- tas: olhavam rapidamente para minha imagem no espelho, mas logo se fixavam novamente em meu rosto, diferenciando a imagem e o real. Roger, 0 Henrique € a Caroline, quando assoprei, imitaran-me com facilidade, enquanto os outros nao o fizeram. As criangas mostravam a \ingua, enquanto eu movimentava a minha, fechavam seus olhos quando eu piscava os meus rapidamente. Como diz Seber (1992, p. 28), a imitagdo de movimentos do rosto exige maior integracao de dados percebidos, A crianga tem, de certas partes de seu corpo, como é 0 caso do rosto, um conhecimento constitufdo somente de informagbes sensdrlo-motorae relatives ao tato, aos movimentos, ao gosto, ou seja, j0 08 v8. Assim sendo, precisa apren- ‘0808 Informagdes tateis-cinestésicas ou gustativas a informagoes visuais, apoiando-se naquilo que observa no corpo de outra pessoa que Ihe serve de modelo, Nesse sentido, 0 espelho 6 muito importante para as criancas pequenas. Eu fui propondo que se olhassem no espelho enquanto ten- tavam me imitar. Apontava e batia com a ponta do dedo na imagem de cada uma refletida no espelho. A atitude das criangas foi sofrendo va- riagoes. Além de me olhar, comegaram a alternar seu comportamento observando sua propria imagem. E interessante observarmos a satisfagéio des criangas quando alcangam uma habilidade, que se evidencia pela alegria e pelo sorriso que revelam em suas proezas. Algumas permaneceram ali interessa- das por muito tempo e, quando conseguiam imitar meus sons ou care- tas, ficavam muito felizes. Era uma vez... Griangas de um a dots anos Adriana Calza Caporal Chamei todas as criangas para ouvir a hist6ria “Os 10 amigos", do Ziraldo. Todos correram e sentaram-se ao meu redor. A historia refere-se aos dedos das maos, que podem fazer muitas coisas e brin- car de tudo: Era uma vez um dedo to pequenininho que se chamava Minimo. Ele tinha quatro irmaozinhos que se chamavam Anular, Médio, Indica- dor e Polegar. 0 Minimo era muito brincalhao e... {As criancas gostaram muito dos “dedinhos”, personagens da hi téria, e das entonagdes de voz que eu fazia. Durante todo tempo, eles falavam e mostravam os seus dedinhos: = Oh! Meu dedinho “gandi"! — Oh! Dedao! (Com voz grossa) Wadsworth (1992, p. 57) diz que “a aquisigao da linguagem fa- lada se dé na presenca de modelos, mas as criangas nao recebem nenhuma instrugao formal”. Daf, a importancia desses momentos de troca que se dao @ partir das historias. A seguir, contel novamente a historia, como num teatro. Desenhei ‘em meus dedos: olhos, nariz @ boca, ful para tras de um palco impro- visado e comecel a 60 v De repente, fez-se um total silénclo, Parecia Jado, Estavam todos com os olhos estalados, prestando a maior atenglio. As vezes, davam gritinhos ou risadas. Acredito que a animacao dos “dedinhos” fascinou-os muito pela fantasia de entrar na historia. Depois disso, cantei com eles uma cangao que menciona os de- dos da mao: Polegares, polegares, onde estao? Aqui esto, aqui estao! Eles se satidam e se vao. Indicadores, indicadores, onde estao? (E assim por diante.) A cangao foi acompanhada por todos com gestos, compenetra- dos em cantar e mostrar os dedinhos, representando, por meio da can- 0, a histdria ouvida. Nos dias que se seguiram, nossa cangao passou a ser repetida muitas e muitas vezes... Fazendo barulho Criangas de um a dois anos: Adriana Calza Caporal Levei as criangas para 0 patio coberto € coloquei a disposicao de- las varios instrumentos musicais de brinquedo: piano, corneta, violao, xilofone e chocalhos. As criangas inicialmente os exploraram de muitas maneiras: sa- cudindo, batendo, mordendo, etc. Sobre essa sua “exploragao”, diz Kamii (1985, p. 21) que todos os bebés e criangas pequenas esto interessados em examinar ob- jetos, agir sobre eles e observar as reagdes dos objetos. Nosso objetivo nas atividades de conhecimento fisico é usar esse interesse espontaneo, encorajando as criancas a estruturar seus conhecimentos ce forma que sejam extensdes naturais do conhecimento que elas jé possuem. ‘Assim, deixei que explorassem os instrumentos por um bom tempo. Convidei-os entao para cantar. Iniciei o “Parabéns” e todos lar- garam seus instrumentos, Alguns batiam palmas, outros s6 olhavam, outros dangavam, Todos ficaram muito concentrados. Weigel (1988, p. 13) coloca que, “considerada em todos os seus processos ativos (a audigao, o canto, a danga, a percussao corporal e instrumental, a cria- ao melédica), a musica globaliza naturalmente os diversos aspectos a serem ativados no desenvolvimento da crianga: cognitive, lingulstico, psicomotor, afetivo, social”. ‘Acabando de cantar, Renan olhou-me e pediu: = De novo! Recomecei a cantar, s6 que, dessa vez, ele comegou a tocar 0 piano acompanhando-me. Aos pouces, 0s outros foram pegando seus instrumentos-e tocando. Cantamos vérias cancdes, e todos acompa- nhavam com seus instrumentos musicais. 0 interesse deles pela ativi- dade durou uma manha inteira. Na hora do lanche Criangas de um ano e meio a dois anos e meio Lisiane Selistre Dutra Era dia da banana! Assim que o lanche chegou, as criancas viram e dirigiram-se para a mesa. Para alimentos como a banana, jé nao colocamos ba- beiro nelas. Cada crianca ganhou um guardanapo de papel, € algumas jé os foram abrindo na mesa. Por imitagao, outras também tentaram abri-los. Coloquei o prato com as bananas na mesa e deixei que elas mes- mas se servissem. Algumas tentavam pegar mais de uma. Nesse mo- mento, tive de intervir explicando que havia varias bananas na bandeja e que poderiam comer mais uma, depois, se quisessem. ‘Um dos momentos da rotina das criancas dessa idade € a hora das refeigdes. Aproveitamos, entdo, esse espago para desenvolver a ‘sua autonomia, deixando-as se servir dos alimentos, comer sozinhas, limpar a mesa, colocar cascas ¢ restos no lixo, pratos e canecas nas bandejas. £ preciso conversar muito com elas sobre os alimentos sau- daveis e sobre os hébitos & mesa de refeigves. Desafiel-as a descascar as bananas, ajudando um pouco quando pediam. Para 880, abria um pouco da casca para que elas puxassem as pontas até descascar toda a fruta. Quando conseguiam, riam de |eolocando a casca em cima do guardanapo e, quando acabavam de comer, eu passava a lixeira para colocarem-na fora, Podiam, entao, servir-se de outra fruta. Na hora das refeigdes, tenho procurado deixé-las fazer as coisas do seu jeito, mesmo sabendo que elas podem sujar-se mais, demorar mais ou fazer diferente do “certo” do adulto. Essas experiéncias tornaram-se gratificantes para elas e para NOs, pois vemos as criangas cada vez mais independentes, embora confiantes no nosso auxilio quando necessério. Iniciando os jogos em grupo Criangas de um ano e meio a dois anos e meio Lisiane Selistre Dutra 0 assunto “bruxa” surgiu devido ao medo que as criangas de- monstraram quando apareceu uma mascara de bruxa na sala Fizeram a rodinha para ouvir uma historia do Chico Bento, na qual aparece uma bruxa. Resolvi utilizar somente as gravuras como ilustra- co, inventando uma nova historia, na qual a bruxa aparecia como uma personagem boazinha. A partir da histéria, apresentei um jogo que con- feccionei as criangas, constituido de cito pecas: quatro bruxas com ves- tidos de cor vermelha, preta, amarela e azul e quatro chapéus nessas mesmas cores. Coloquei as pegas no chao para que todos pudessem observa- las. No primeiro momento, deixei que as criangas explorassem 0 mate- tial, pois, antes do jogo, esse tempo de exploragao livre € necessério. As pecas constituem-se em brinquedos para elas, antes de representa- rem partes de um jogo. No segundo momento, coloquei a regra: — Vamos colocar os chapéus nas bruxas? Durante a brincadeira, cada crianga expressou livremente a sua maneira de pensar. Alguns nao demonstraram a intengao de reunir as pecas, apenas brincando com elas. Outros colocaram o chapéu na bru- xa sem ainda combinar as cores, mas jé demonstrando fazer a cor- respondencia biunivoca (a cada elemento de um conjunto ccrresponde um elemento do outro conjunto). Uns poucos colocaram 0 chapéu cor- respondente a cor do vestido, demonstrando a combinag&o das pegas pelas cores. Segundo Rangel (1992, p. 103), classificar "6 agrupar ob- Jetos de um dado universo, reunindo todos os que se parecem segundo um determinado atributo, e separando-os dos que deles se distinguem nesse mesmo atributo”. Meu objetivo foi desenvolver, com essa atividade, nogdes logico- mateméaticas, incitando-os a classificar, mas nao esperando de todos 0 mesmo resultado, considerando que apresentam estagios de desenvol- vimento naturalmente diferentes nessa fase. Assim, sugeri as regras, observando-os e desafiando-os a pensar em outras opcdes. Para a realizagao do jogo, combinamos, também, que cada um deveria esperar a sua vez de jogar, o que as criangas respeitaram muito bem para a sua idade: cada uma jogou na sua vez, e algumas permane- ciam observando 0 colega jogar e até davam palpites. Algumas safam da rodinha para brincar com outra coisa, o que foi igualmente respeita- do, mantendo-se a atividade com as outras interessadas. Nessa idade, deve-se iniciar com jogos matematicos simples, com poucas regras e respeitando o tempo de interesse de cada crianga. Conhecendo os instrumentos musicais Criangas de um ano e meio a dois anos e meio Denise Dallarosa Queiroz Era um barulho s6! A atividade se iniciou pela exploracao livre do material: chocalhos feitos com garrafas descartaveis, palitos, tampi- nhas e pedras; tambores feitos com latas vazias, violao, flauta e apito de brinquedos. Todos tocavam ao mesmo tempo! Claro que sem ritmo algum, pois, segundo Jeandot (1990, p. 26), “a crianga possui a nogao instintiva (do ritmo), mas, a principio, nao tem controle sobre ele devido @ falta de maturagao do seu sistema nervoso, que a impede de estabe- lecer as coordenagdes neuromusculares adequadas”. Dessa forma, por meio de atividades como essa, a crianga vai interiorizando ritmos que vao sendo impostos ao seu: ritmos externos que serao vivenciados por meio da movimentagao, canto e exploragao de instrumentos musicais. A crianga desenvolve 0 controle sobre 0 seu corpo para adequar-se ao ritmo que utiliza. Quando percebi que eles haviam explorado bastante o material, comecei a cantar muisicas conhecidas por eles. Nao houve ainda mui- to acompanhamento das mUisicas com os instrumentos, mas acredito que, por meio de tals atividades, a crianga vai adquirir sua bagagem inicial de experiéncias melorritmicas. Das cangdes, surgiu o interesse das criancas por brincadeiras de toda, das quals todas participaram. Também essas brincadeiras visam a favorecer a socializacao e perpetuar as tradigbes folcléricas das nos- sas cantigas de roda, tao significativas em nossa cultura, Repetimos vérias vezes as brincadeiras de roda como costuma acontecer quando apreciam uma atividade que estejam fazendo. Saboreando gelatina Criangas de um ano e meio a dois anos © meio Denise Dallarosa Queiroz Convidei as criangas a fazerem gelatina para nossa festa de despedida. Mostrei.thes as caixas de gelatina e coloquei o pé dentro de uma bacia. Preparei, entdo, a gelatina vermetha com um grupo de criangas em uma das mesinhas e, com outro grupo, minha colega preparou a gelatina verde. Todos olhavam atentamente tudo 0 que se fazia, Perguntei-Ihes: ~ Qual 6 a cor da gelatina? Ninguém respondeu. Iniciei a dizer: —Verme... £ varias criancas completaram “vermelho”, demons- trando jé reconhecer a palavra iniciada. Coloquei agua quente e pedi-Ihes para botar a mao na bacia (pelo lado de fora) para ver como estava quente. Algumas criancas diziam: = “Tente”, “tente!” (Quente, quente!) Uma crianga disse: = “Tente” e vermelha! (Quente e vermetha!) Durante a atividade, as criancas tiveram a oportunidade de ve- rificar as transformag6es das caracteristicas do objeto “gelatina” do 6 para o Ifquido @ para 6 sdlido, mudando de forma e cor. Segundo. Kamil (1985, p. 28), “o papel da observacao da orlanga 6 primério e © da agao 6 secundario, porque a reacao do objeto nao € direta, nem imediata, ou seja, o resultado nao é devido a agao da crianga, mas as propriedades do objeto”. Apés desmanchar 0 p6 com agua quente e fria, as criangas ob- servaram as gelatinas preparadas com duas cores diferentes. Despe- jei-as, entao, em copinhos de café e expliquei as criangas que os co- locarfamos na geladeira porque estavam quentes. Em 15 minutos as gelatinas estavam prontas e as servimos de sobremesa na refeicéio das 17 horas com uma pequena velinha em cada copinho. Cantamos 0 “Parabéns”, e as criangas, ao comerem a sobre- mesa, puderam observar a transformacaio que a gelatina sofrera: do liquido para o gelatinoso, ao mesmo tempo que saborearam um doce preparado por elas mesmas. Foi bastante interessante a atividade pelas descobertas que fi zeram e pelo entusiasmado envolvimento de todas as criangas. Brincando de ninar Criangas de um ano e meio a dois anos e meio Gilsone Mottola Havia algumas bonecas espalhadas pela sala. Num determinado momento, peguei uma delas e comecei a fazer de conta que estava “na- nando” a boneca. Cantei cantigas de ninar e, depois, coloquei-a para dor- mir. As criangas ficaram me olhando. Perguntei-ihes quem gostara de ser ‘© meu nené. Gregori correu para 0 meu colo e, entdo, comegamos uma brincadeira de “nanar”, Cada crianga brincava de dormir no meu colo € “acordava” ao término da musica e ao som de belas risadas dos demais ‘que aguardavam a sua vez. Quando colocava a erianga para dormir com a ‘cabecinha na almofada, alguns Ihe faziam carinhos nos cabelos € no corpo. ‘A fungdo do jogo simbélico, que se evidenciou nessa brincadeira, consiste em assimilar a realidade. Segundo Santos (2002), 6 por meio do faz de conta e do jogo simb6lico que a crianga realiza sonhos e fantasias, revela conflitos interiores, medos e angtistias, aliviando tensOes e frustra- Bes. Ao reproduzir os diferentes papéis (no caso do nené), a crianga imita situagdes da vida real. No caso especifico dessa atividade, oportunizaram- se, igualmente, sentimentos de afeto e de aconchego, na relacéo com 0 adutto, uma vez que a realidade dessas criancas exige proporcionar esses momentos. Suas caréncias afetivas explicam, talvez, porque nao houve ini clativa das criangas em realizar a mesma brincadeira com as bonecas da sala, estando multo mals Interessadas no faz de conta e no colo da profes- sora, onde elas proprias puderam desfrutar momentos de afeto e carinho. Passa, passara Criangas de um ano e meio a dois anos ¢ meio Gilsone Mottola Coloquei uma grande caixa de papelao no meio da sala, formando um tnel. No primeiro momento, deixei as criangas explorarem 0 ma- terial: puxar, tentar subir, derrubar, descobrir que poderiam passar por dentro. Essa descoberta nao demorou muito. Comegaram a passar por dentro rindo e dando gritinhos de alegria e entusiasmo. Repetiram varias vezes. Entao, comecei a chamar as criangas pelo nome para passarem pelo tinel. Para cada crianga que passava, eu cantava a melodia “Passa, passara”, acrescentando o nome dela, aguardando-a na ponta da caixa, oferecendo-Ihe o meu afeto e atengao: — 0 Mauricio vai passar pelo tunel? 0 Mauricio chegou! Daniel passou varias vezes de frente e, em determinado momen- to, resolveu passar de costas, caminhando para trés. € interessan- te observar a experimentagao ativa que as criangas fazem do tnel. No caso de Daniel, ele utilizou inicialmente esquemas jé construldos: arrastar-se, engatinhar de frente, engatinhar de costas ~ para, 86 de- pois, variar as suas agées, experimentando novas possibilidades. Essa atividade é importante para criangas dessa faixa etéria, uma vez que Ihes oportuniza construir nogdes de espago, percebendo o seu corpo no espago do tUnel, além do desafio de passar por dentro desse RE obstéculo, que, como diz Lapierre (1987, p. 82), pode representar "ao mesmo tempo prazer de penetragao e anglistia ~ salda e libertagao”. Observa-se, em algumas, 0 medo da experimentagao. Nao esta acostumadas a que os pais ou as atendentes as deixem explorar livre- mente novos espagos € ou objetos. Em uma ocasiao, espalhei na sala caixas de papelao grandes e de diferentes tamanhos para explorarem. Jefferson tentava entrar em uma delas sem conseguir. A caixa virava quando ele colocava a pert nha para entrar. Eu observava a cena pronta para ajudé-lo, caso pu- desse ficar em apuros. Ele tentou varias vezes, experimentando lados diferentes da mesma caixa, em uma interessante exploracao de jeitos € movimentos, Entao, uma das auxiliares da creche entrou na sala. Quando viu 0 menino tentar e nao conseguir, imediatamente, o pegou pelos bracinhos e o colocou na caixa, sem apreciar, pelo jeito, que eu no tivesse feito isto. O que faz a diferenga é deixar as criangas tentarem, cuidando para nao cafrem ou se machucarem. Mas nao se deve fazer por eles ou pro- tegé-los demasiadamente, pois nao terdio coragem de enfrentar os obs- téculos “fisicos” do espago ao se locomoverem com maior autonomia, Uma grande surpresa Criangas de dois a dois anos e meio Cldudia Helena Demartini Costa Disse as criangas que trouxera uma grande surpresa pera elas. Busquei noutra sala muitas caixas de papelao (aproximadamente 18) e, quando entrei, as criangas arregalaram os olhos. Logo correram em diregao as caixas, cada uma querendo pegar a sua. Havia caixas para todos e ainda sobravam. Nessa idade, é importante distribuir material em quantidade e para todas as criancas. Algumas calxas eram bem grandes, outras médias e pequenas (caixas de sapato). Elas logo aui- seram entrar nas caixas. Algumas conseguiam nas mais baixes. Outras tentaram, mas, depois, precisaram de auxtlio nas mais altas. Entravam e saiam muitas vezes. Logo, uma crianga comegou a brincar de carrinho e outras a imitaram. Empurrei algumas que riam muito, pedindo mais. Gustavo estava com duas caixas, Uma delas colocava na cabeca e, depois, tirava, sorrindo, num jogo individual. Colocou novamente e bati com ‘a mao na caixa, chamando por ele. Ele logo retirou a caixa, muito faceiro, dizendo: —Té aqui! Gustavo repetiu a brincadeira muitas vezes, e todas as outras oriangas quiseram fazer o mesmo, permanecendo nesse “jogo” por muito tempo. Segundo Freire (1989, p. 53), “as criangas mais novas, que possuem uma Imagem corporal pouco desenvolvida, nao conseguem ocul- tar-se porque, para tanto, precisam ter um certo nivel de consciéncia do proprio corpo", Multas vez0s, a crianga esconde apenas 0 rosto, julgando que esté completamente @aoondida © que ninguém ave. Ela esta centrada ho seu ponto de vista, apenas. Do jogo de esconde-esconde, muitas crian- ‘gas passaram a fazer de conta que as caixas eram carros, carrinhos de boneca e casas, num verdadeiro jogo simbélico. Introduzi, entao, corddes. ‘Amarramos nas caixas, e as criangas logo comecaram a puxé-las. As cal- xas menores serviam de carrinhos ou bercinhos para os bonecos da sala. Faylon entrou numa caixa e pediu para que eu 0 puxasse, e assim o fiz com arias criangas. Gustavo continuou na sua brincadeira de esconder, agora ‘com um ursinho. Jonas puxava uma caixa pequena com um boneco dentro. Num determinado momento, tapou-o e perguntou: ~ Cadé ele? E logo res- pondeu: ~ Sumiu! Destapando-o em seguida. Depois passou muito tempo dentro de uma caixa. Ria ¢ conversava enquanto isso. Muitas brincadeiras de esconder surgiram entre as criangas e co- migo. Dei também pedagos de fita crepe para elas, com os quais enfeita- ram suas caixas. As criangas apreciaram muito a atividade com caixas de papeldo que se estendeu por varios dias. Essas brincadeiras propiciam a construcao da nogo de espaco pelas criangas. De acordo com Seber (1989, p. 63), “6 agindo sobre as coisas que a crianga pode construir todo um sistema de relagdes espaciais referente a seus proprios movimentos, aos movimentos € deslocamentos dos objetos, aos deslocamentos dos objetos entre si". Assim como Paganelli (1987, p. 21) ao ressaltar que, inicialmente, para a crianga 0 espaco é essenciaimente um espago de ‘ago. Ela constréi suas primeiras nodes de espago: proximo, dentro, fora, em cima e embaixo por meio dos sentidos (tato, visdo, etc.) e de ‘seus préprios deslocamentos (todear, rastejar, engatinhar, andar). O.es- ago 6 0 espaco vivido, um espaco pratico, organizado e equilibrado em nivel de agao e comportamento. No dia seguinte, Anderson empilhou as caixas como uma torre, depois utilizou uma delas para subir em cima. Gustavo foi muito cria- tivo: utilizou uma caixa aberta e a colocou sobre sua motoca andando dentro dela por toda a sala. Nos outros dias, precisei repor muitas cai- xas que se rasgaram nas brincadeiras, conforme jé era esperado. Transformando Criangas de dois a dois anos e meio Claudia Helena Demartini Costa Reuni as criangas ao redor da mesa para hes mostrar ¢ novidade que trouxera. Forrei a mesa com papel pardo e, de dentro de uma sacola, retirei uma batedeira. Perguntei se alguém sabia o que era aquilo, mas ninguém respondeu. Disse-Ihes, entao, 0 nome, montei-a e liguei para escutarem 0 som. Desenrolel alguns ovos, ¢ as criangas logo disseram: = Ovo! Eu perguntei-Ihes: = Ovo, de quem? Ingrid respondeu rapidamente: ~ Da galinha, c0-06-r6-c6-c ‘As outras criangas a imitaram, repetindo vérias vezes os sons. Separei as olaras e acrescentei algumas trazidas de casa (jé separa- das, para agilizar a atividade). As criancas ficaram encantades. Liguei a batedeira, enquanto elas observavam, cuidando para que néo colocas- sem suas MAOS no prato. Quando comecou a crescer aquela espuma, desliguei a batedeira porque as crlangas quiseram colocar as maos para experimentar. Dis- tribur colheres plastioas © propus que ajudassem a colocar o acuicar. E claro que primeiro provaram e comeram bastante agucar! Ful acrescentando-o as claras e as criancas também. Ao final, todos retiravam colheradas de merengue batido e co- miam sem parar. Separei o que restou, entao, em trés potes e em cada Porgaio de merengue acrescentei, com a ajuda das criangas, um pé de pudim diferente: chocolate, morango e baunilha. Essa 6 uma atividade de “conhecimento fisico” que envolve trans- formagao dos objetos (clara, agticar, pudim). Ou seja, a observacao, elas criancas, das transformagdes ocorridas 6 o mais importante ao fazer merengue, mesmo que apenas assistam ao que wsté uvurrerido. Assim, as atividades envolvendo mudangas nos objetos nao satisfazem 08 critérios que dizem respeito ao movimento de objetos. Apenas sob certas circunstancias, é o abjeto que muda de certa maneira. Sdo essas circunstancias que a crianga tem que observar e estruturar. Por essas razOes, dizemos que nas atividades que pertencem a essa extremidade do continuum, a observacao é primatia e a agao é secundaria em impor- tancia relativa (KAMIL, 1994, p. 26) Com o restante do merengue, enchemos algumas formas com co- lheradas dele e levamos ao forno para assar. Quando ficaram prontos, foram oferecidos as criangas que se deliciaram ao comé-los. Dia e noite Criangas de dois a trés anos Simone Volkmer Drafta —Tem historinha hoje? Dessa maneira, fui abordada todos os dias pelas criangas. Assim, devido ao interesse e entusiasmo do grupo, o primeiro momento de nossas tardes era sempre reservado para alguma hist6ria. Naquele dia, organizamos imediatamente nossa rodinha, pois as criangas pediram, logo no inicio, que thes mostrasse o livrinho de histérias que eu trouxera. E importante destacar que as a contagao de hist6rias, a partir de livros ou sem eles, podem ser, além de um espaco amplo de sign ficagdes aberto as emogées, ao sonho e & imaginagao, um lugar favoravel ‘a0 desenvolvimento do conhecimento social e da oralidade. Passei logo & leitura da histéria “Dia e noite”, de Mary e Eliardo Franca (1994): Nao sei se gosto mais do dia. Nao sei se gosto mais da noite. De dia, eu posso brincar. Mas, de noite, eu posso sonhar. Aleitura fol inhada com grande entusiasmo pelas criancas, que nao di TSE darer 88 gravuras e de expressar espontane- amente 0 que melo de ricas ideias vinculadas as suas experiéncias pessoais sobre a Lua, o Sol, o dia, a noite, etc. Observel Que a linguagem falada foi utilizada pelas criancas com clareza e orga- nizagao I6gica do pensamento demonstrando 0 rapido desenvolvimento lingutstico e conceitual dessa faixa etaria, se as criancas forem ofereci- das oportunidades varias de expressar-se, Terminada a explorago do livro, convidei-os para uma brincadeira com lencol e corda (brincadeira simbélica relacionada & histéria). Comecei perguntando: 0 que fazemos a noite? ~ Agente dorme! - responderam. — Vamos brincar de dormir? - voltei perguntar. As criangas deitaram-se, entao, nas almofadas, sobre o tapete, e eu as cobri com um lengol. Depois, sentaram sobre ele, fazendo de conta que era uma casa. Naquele momento, sacudi o lengol varias vezes para cima e para baixo, entoando a cangao “A casa’, de Vinicius de Moraes. As criangas demonstraram prazer e muita alegria. Continuaram embaixo do lengol, brincando de dormir, de acordar, de tomar banho e outras agées realizadas durante o dia e a noite. Depois de um tempo, Perguntel a elas: — Quando € de dia, podemos brincar? Entao, vamos brincar? Coloquei no chao uma grande corda e deixei que a explorassem brincando livremente. Posteriormente, conversei com o grupo a fim de direcionar suas ages para uma brincadeira conjunta, perguntando o que Poderiamos fazer com a corda. Responderam que queriam pular, Amarra- Mos, entao, uma ponta da corda no pé da mesa e segurei a outra ponta, esticando-a proxima ao chao e atenta para possiveis tombos. As criangas Pularam de um lado para outro, passaram por cima e por baixo e fizeram outros movimentos. Com a corda mais para cima, coloquei o lencol nela, crianclo um obstéculo para a passagem das criangas, que tiveram de en- Contrar outras maneiras de transp6-la. AS criangas evidenciaram muito interesse em todas as atividades desencadeadas a partir da histéria, ¢ a tarde transcorreu num clima de muita animacdo! O tema do livro, dia e noite, pode se estender por varios dias, desenvolvendo-se um projeto Pedagogico a partir dele, dependendo do interesse das orlangas. Brincando e descobrindo os jogos de regras Criangas de dois a tés anos Simone Volkmer Drafta Como de costume, organizamos nossa rodinha para iniciarmos uma nova atividade. As criangas mostravam-se curiosas e atentas, perguntando o que irfamos fazer. Antes de dar inicio ao jogo que havia organizado, relembrei com as criangas toda a hist6ria “Os trés porquinhos e 0 1090", an- teriormente trabalhada. Devido a representagao mental jé bastante desenvolvida nesta idade, os principais fatos da hist6ria foram evo- cados pelas criangas. Apresentei, a seguir, as pecas de um jogo que trouxera (gra- vuras de porquinhos, de lobos, de casas e um dado), enquanto fa- lévamos sobre os personagens da historia. O primeiro momento da atividade ficou reservado para a exploracao livre do material pelas criangas, que brincaram principalmente com o dado, jogando-o de varias maneiras. Em seguida, comecei a organizar o grupo, a fim de desenvolvermos 0 jogo de regras. As criangas, agora novamente em uma roda, agruparam elas proprias as pegas iguais, formando colegao de porquinhos, lobos e casas @ classificando esses elementos conforme seus préprios critérios, estabelecidos # partir da exploragao livre. As atividades de classificagao possibilitam a construgao de arranjos com invengao progressiva de critérios utilizados para a reuniao de objetos numa ou em varias colegdes. A necessidade de as semelhan. Gas e diferencas entre os elementos oferecidos serem descobertas realizadas pelas criancas significa que 0 professor nunca deve for- necer critérios de selegao, mas sim contra-argumentar, perguntando @ crianga, por exemplo, se ela concorda ou néio em agrupar num so Conjunto duas ou mais colegses e por qué (SEBER, 1989, p. 60). A seguir, sugeri a trés criangas que distribuissem porquinhos, lobos e casas para seus colegas, entregando, cada um, uma peca para cada colega (estabelecendo a correspondéncia termo a termo) ¢ deixando o restante para mim, Um dos meus objetivos foi oportu- nizar as criangas a distribuigao de objetos num contexto significative Para elas. Coloquei, entao, na parede, um painel representando a flo- resta da historia para que as criangas fixassem ali gravuras que iam “ganhando” no jogo, conforme o dado indicasse. Para que isso acontecesse, organizei o grupo para o jogo, que, por ser de regras, necessitava da cooperacao das criangas: cada uma jogava o dado Por sua vez, verificando 0 que estava indicado e retirando a sua peca para fixar no painel. Era preciso esperar a sua vez e 0 tempo de o coleguinha identificar a sua pega. Fizemos uma rodada na qual todos Jjogaram e retiraram a sua peca. Depois alguns continuaram jogando segundo as regras estabe- lecidas, enquanto outros, entretanto, fixaram o restante das figuras no painel sem preocupagao em seguir as regras enunciadas (o que deve ser incentivado gradualmente). Nessa atividade, além da inte- ragao grupal, as criangas puderam estabelecer relagdes de corres- Pondéncia, classificagao, organizagao espacial, desenvolvendo seu Conhecimento Idgico-matematico. Rangel (1992, p. 55), referindo-se @ educacao matematica, nos diz que nao se trata de treinar formas em si mesmo para sustentar aprendizagens posterlo- res, mas apelar para a acao produtiva do sujeito que, agindo ‘sobre os fatos matematicos e refletindo sobre as relagdes criadas em sua mente, torne-se capaz de postular coordenacdes novas em seu pen- samento, melhorando e superando, portanto, suas formas atuals de conhecer, na medida em que reinventa o proprio saber matemético. Este tipo de experiéncia (jogo em grupo), além de implicar na coordenagao das acées das criancas, estimulando a cooperacao, € uma das primeiras atividades de jogos mateméticos para criancas dessa falxa etarla, Nota: Os textos deste capitulo foram atualizados e ampliados, publicados ori- ginalmente em HOFFMANN, Jussara; SILVA, Maria Beatriz G. da (Orgs.). Aga0 educativa na ereche, 9, ed. Porto Alegre: Mediagao, 2011.

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