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O QUE É EJA
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino que nasceu
da clara necessidade de oferecer uma melhor chance para pessoas que, por
qualquer motivo, não concluíram o ensino fundamental e/ou o médio na idade
apropriada.
Surge como uma ação de estímulo aos jovens e adultos, proporcionando seu
regresso à sala de aula. Esta modalidade respeita às características desse
alunado, dando oportunidades educacionais adequadas em relação a seus
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames próprios.
LEGALIDADE EJA
RESUMO
Este artigo é uma contribuição para a reflexão dos educadores sobre a
importância do processo avaliativo com vista à emancipação dos
estudantes da educação de jovens e adultos para uma sociedade
centrada no ser humano. Buscando fundamentação teórica em
autores como Dória, Gama, Freire, Hoffmann, Luckesi, Mészáros,
Perrenoud e Santos, propõem aos professores o desafio de uma
prática avaliativa para além da sala de aula, alcançando a objetividade
social nas práticas avaliativas em nossas escolas.
1. INTRODUÇÃO:
das aulas?
Muitos dos alunos de Miriam ainda não sabem ler. Para alfabetizá-los
a Secretaria de Educação desenvolveu um material exclusivo. Na hora
de propor aos alunos a escrita de uma lista de palavras, por exemplo,
ela opta por termos relacionados ao cotidiano da construção civil. Esta
é uma escolha importante, já que aquilo que é utilizado na
alfabetização dos pequenos, como parlendas e listas com nomes de
animais, não serve para os adultos. O trato infantilizado é, inclusive,
um dos motivos que afastam os alunos da EJA da escola e pode ser
apontado como uma das causas para a queda de 6% nas matrículas,
revelada no último Censo Escolar. Uma dica é substituir estes textos
por poesias ou letras de músicas conhecidas.
Com base na
experiência ou em pesquisas sobre o tema, sabemos que os motivos que levam os jovens
e adultos à escola referem-se predominantemente às suas expectativas de conseguir um
emprego melhor. Mas suas motivações não se limitam a este aspecto. Muitos referem-se
também à vontade mais ampla de “entender melhor as coisas”, “se expressar melhor”,
de “ser gente”, de “não depender sempre dos outros”. Especialmente as mulheres,
referem-se muitas vezes também ao desejo de ajudar os filhos com os deveres escolares
ou, simplesmente, de lhes dar um bom exemplo. Todos os adultos, quando se integram a
programas de educação básica, têm uma idéia do que seja a escola, muitas vezes
construída baseada na escola que eles freqüentaram brevemente quando crianças. Quase
sempre, apesar de se referirem à precariedade dessas escolas, lembram delas com
carinho e sentem com pesar o fato de terem tido de abandoná-la ou de nunca terem tido
chance de freqüentá-la. É provável que esperem encontrar um modelo bem tradicional
de escola, com recitação em coro do alfabeto, pontos copiados do quadro negro,
disciplina rígida, correspondendo a um modelo que conheceram anteriormente. Com
relação aos educandos com essas expectativas, o papel do educador é ampliar seus
interesses, mostrando que uma verdadeira aprendizagem depende de muito mais que
atenção às exposições do professor e atividades mecânicas de memorização. Com
relação aos adolescentes, essa situação tende a ser diferente. Especialmente nos centros
urbanos, eles estão normalmente retornando depois de Apesar de as pessoas pouco
letradas possuírem muitos conhecimentos válidos e úteis, elas estão excluídas de outras
muitas possibilidades que a nossa cultura oferece 43 Fundamentos e objetivos gerais
Educação de jovens e adultos um período recente de sucessivos fracassos na escola
regular. Têm, portanto, uma relação mais conflituosa com as rotinas escolares. Com
relação a eles, o grande desafio é a reconstrução de um vínculo positivo com a escola e,
para tanto, o educador deverá considerar em seu projeto pedagógico as expectativas,
gostos e modos de ser característicos dos jovens. A imagem que os educandos têm da
escola tem muito a ver com a imagem que têm de si mesmos dentro dela. Experiências
passadas de fracasso e exclusão normalmente produzem nos jovens e adultos uma auto-
imagem negativa. Nos mais velhos, essa baixa auto-estima se traduz em timidez,
insegurança, bloqueios. Nos mais jovens, é comum que a baixa auto-estima se expresse
pela indisciplina e auto-afirmação negativa (“se não posso ser reconhecido por minhas
qualidades, serei reconhecido por meus defeitos”). Em qualquer dos casos, será
fundamental que o educador ajude os educandos a reconstruir sua imagem da escola,
das aprendizagens escolares e de si próprios. Conquistas cognitivas Mas o que, de fato,
a educação escolar pode trazer de novo para esses jovens e adultos que já são cidadãos e
trabalhadores, que já estão integrados de um modo ou de outro em nossa sociedade?
Podemos enumerar algumas conquistas bem evidentes, como o domínio da leitura e da
escrita, das opera- ções matemáticas básicas e de alguns conhecimentos sobre a natureza
e a sociedade que compõem as disciplinas curriculares. Mas os produtos possíveis da
educação escolar não se resumem a esses mais evidentes. Muitos estudiosos e
pesquisadores da cognição humana trataram de estudar as diferenças cognitivas, ou
diferenças nas formas de pensamento, entre pessoas que dominam a escrita e que
passaram por vários anos de escolarização e pessoas que não o fizeram. Muitos desses
estudos concluem que pessoas com mais tempo de escolaridade têm mais facilidade
para realizar operações mentais a partir de proposições abstratas ou hipotéticas,
operando com categorias que não são as organizadas pela experiência imediata. Esse
tipo de operação cognitiva está bastanExperiências passadas de fracasso e exclusão
normalmente produzem nos jovens e adultos uma auto-imagem negativa Os produtos
possíveis da educação escolar não se reduzem ao aprendizado da leitura, escrita e
matemática 44 Fundamentos e objetivos gerais Ação Educativa / MEC te relacionado
com a escrita e com o desenvolvimento do pensamento cientí- fico. Através da escrita
nos chegam informações dos séculos passados, de outras partes do mundo ou de
mundos imaginados; ela impõe uma relação mais distanciada entre os interlocutores.
Com base na escrita também se desenvolveram as ciências modernas, que organizam os
dados da experiência em categorias e leis gerais, formulando proposições altamente
abstratas. Outra característica importantíssima das formas de pensamento letrado e
científico diz respeito à chamada metacognição, ou seja, à capacidade de tomar
consciência das operações mentais, de pensar sobre o pensamento e, assim, poder
controlá-lo melhor. A metacognição é a marca distintiva do pensamento científico:
diferentemente de uma pessoa que resolve problemas práticos do cotidiano ou de um
oráculo que adivinha o futuro, o cientista tem de demonstrar ou justificar seus
postulados e teorias. Essa capacidade de pensar sobre o pensamento está relacionada
com o domínio da escrita de forma mais geral: um texto escrito é uma forma de
pensamento plasmado no papel, é como se no papel pudéssemos “ver o pensamento”,
retomar quantas vezes quisermos seu ponto de partida ou cada um de seus enlaces. É
comum as pessoas recorrerem à escrita para “organizar as próprias idéias”. A escrita nos
ajuda a controlar nossa atividade cognitiva quando, por exemplo, fazemos uma lista de
compras antes de ir ao supermercado e riscamos cada item à medida que os compramos.
A escrita amplia de forma geral a capacidade de planejamento, quando podemos anotar
no papel todas as tarefas que temos a cumprir nos próximos meses e conferir
periodicamente quais ainda não foram cumpridas. A vida na sociedade moderna oferece
uma série de oportunidades para desenvolvermos essas formas de pensamento
autoconsciente e que transcendem nosso contexto de vivência. Mas a escola é, sem
dúvida, um lugar privilegiado para se desenvolvê-las e, certamente por isso, as pessoas
que a freqüentam por muitos anos levam vantagens nesse aspecto. Isso porque a escola
é o lugar onde as pessoas vão para aprender coisas, tendo a oportunidade de pensar sem
estarem premidas pela necessidade de resolver problemas reais imediatos. Por exemplo,
ao conferir o troco que lhe deu o cobrador de um ôniA escola é um lugar privilegiado
para se desenvolver o pensamento reflexivo 45 Fundamentos e objetivos gerais
Educação de jovens e adultos bus, a pessoa tem de fazer uma operação rápida,
empurrada pelo passageiro que vem atrás. Na escola, ela poderá resolver, com calma,
um grande número de operações de subtração usando diferentes procedimentos,
representá-las no papel, compreender o porquê do “empresta um”, chegar a uma
compreensão ampla sobre o funcionamento do sistema de numeração decimal. Ela
aprenderá na escola um conjunto de conceitos que não têm nenhuma utilidade prá- tica
imediata mas que podem ajudar a organizar o sistema de conceitos que compõem sua
estrutura cognitiva. Na escola, ela exercita a realização de tarefas segundo planos ou
instruções prévias. Todas essas aprendizagens colaboraram para desenvolver essa
modalidade cognitiva que definimos como característica do letramento.
Expectativas e realidades
Para a maioria dos jovens que cursam a EJA, a modalidade serve
como uma aceleração dos estudos, buscando um certificado que
permita-lhes prosseguir com os estudos. Por não se sentirem
representados pela escola que frequentam, eles enfrentam
dificuldades em identificar-se com ela.
Dez anos depois, essa medida seria reforçada pela Resolução nº3
do Conselho Nacional de Educação (CNE), que manteve a decisão
da LDB e reforçou que a oferta da EJA deveria ser variada, visando
atender plenamente os jovens com mais de 15 anos.
Funcionamento da EJA
De acordo com o artigo 37 da LDB, a “Educação de Jovens e
Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade
própria”. A lei ainda diz, no artigo 38, que os “sistemas de ensino
assegurarão gratuitamente aos jovens e adultos oportunidades
educacionais apropriadas”. Antes disso, porém, a Constituição de
1988, no artigo 208, já dizia que era dever do Estado garantir “o
Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles
que não tiveram acesso na idade própria”.