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Título do plano de trabalho: ANÁLISE DO CONCEITO DE AMBIENTE

EMPREGADO EM TRABALHOS DO XIX ENCONTRO NACIONAL DE


GEÓGRAFOS

Nome do orientando: ANTONIO GABRIEL TERNERO DE OLIVEIRA


Nome do orientador: CAIO AUGUSTO MARQUES DOS SANTOS
Justificativa da importância da pesquisa: A geografia, desde o momento em que
recebeu o título de ciência moderna, tem como um dos objetivos entender questões
voltadas para o ambientalismo. Esta ciência, assim como toda a ciência moderna, se
desenvolveu dentro de uma lógica dualista, uma lógica cartesiana, e, por isso, até
meados do século XX a Geografia concebia o ambiente apenas do ponto de vista
naturalista. Porém, nos últimos 40 anos a noção de ambiente tem ganhado a dimensão
social.
Mendonça (2002), ressalta que a história da sociedade humana do último quarto
do século XX encontra-se fortemente marcada pelo debate da questão ambiental, fato
que interfere de forma direta no conhecimento geográfico. O século XX assistiu a lenta
transformação dos conceitos de ambiente e ambientalismo.
Na evolução do conceito de ambiente observa-se que a abordagem está
diretamente relacionada à natureza, como se o ambiente natural fosse tratado como algo
separado da sociedade. O ambiente é tido como algo externo ao homem, cuja
preocupação seria estudar o funcionamento dos sistemas naturais, tirando, assim, a
sociedade da condição de componente. Por isso, inserir na problemática ambiental a
perspectiva humana, tanto social, econômica, política e, até mesmo cultural, se torna um
desafio para toda a construção de perspectiva da realidade e a elaboração de
conhecimento científico que consiga entender a realidade em seu todo, e não de forma
fragmentada.
Suertegaray (2005) explica que o ambiente pode ser lido como algo externo ao
homem, cuja preocupação seria estudar o funcionamento dos sistemas naturais,
incluindo o homem como parte de processos naturais. Ela continua dizendo que na ótica
ambiental, na perspectiva naturalista, ainda se auxilia de conceitos que não
dimensionam a tensão sob as quais se originam os impactos. Entretanto, a Geografia
tem pensado o ambiente diferentemente da ecologia; nele o homem se inclui não como
ser naturalizado, mas como um ser social produto e produtor de várias tensões
ambientais.
Mendonça (2002), argumenta que o conceito vem ganhando amplitude e se
tornando mais abrangente, entretanto o conceito de  meio ambiente, ou ambiente, parece
não conseguir desprender de uma gênese e uma história fortemente marcada por
princípios naturalistas, o que exclui a sociedade da condição de componente/sujeito,
porém a coloca como agente/fator.
Além disso, Casseti (1999) explica que a concepção externalizada da natureza
responde pela legitimação da apropriação privada dos meios de produção, o que gera
diferentes formas de subjugação, como o antagonismo de classes sociais e os problemas
ambientais, sem deixar de considerar o problema epistemológico evidenciado na
Geografia. Então, o conceito de ambiente é, de certa forma, ideologizado, pois, num
primeiro momento da sua definição, coloca a natureza como algo externo a sociedade.
Conhecer a natureza para dominá-la, leva ao processo de apropriação dos recursos, e,
assim, legitimar a apropriação privada dos meios de produção.
O mesmo autor citado anteriormente, argumenta que se o pensamento resulta da
percepção prática na realidade objetiva, conclui-se que a sociedade não está isolada do
movimento da matéria. Logo, o homem, enquanto processo evolutivo da natureza,
enquanto matéria, também se constitui natureza. É preciso entender que o sistema de
produção e as forças produtivas é que dão à natureza sua existência social. Sendo assim,
torna-se absurda a ideia de dualidade entre pensamento humano e o real, entre o espírito
e a matéria e entre natureza e sociedade.
Mendonça (2002), observa uma forte tendência a utilização, de forma ampla, do
conceito socioambiente, pois tornou-se muito difícil e insuficiente falar de meio
ambiente somente do ponto de vista da natureza quando se pensa na problemática de
interação sociedade-natureza do presente, sobretudo no que concerne a países em
estágio de desenvolvimento complexo.
Sendo assim, o termo socioambiental aparece para unificar sociedade e natureza.
Este termo aponta a necessária participação/vinculação da sociedade enquanto sujeito,
elemento, parte fundamental dos processos relativos a problemática ambiental da atual
sociedade.
Baseado nos fundamentos teóricos-conceituais apresentados, este trabalho parte
da hipótese de que os conceitos de ambiente e socioambiente tem sido utilizados de
forma despreocupada e descolada dos embasamentos teóricos nos trabalhos acadêmicos,
ou seja, os conceitos não estão sendo utilizados conforme as definições dadas pelos
autores que trabalham com a evolução epistemológica do tema, proporcionando uma
generalização e uso equivocado dos conceitos. Considera-se de fundamental
importância um adequado enquadramento teórico dos conceitos para não incorrer no
risco de reforçar ideias que levam a reconhecer a natureza (ambiente) com recurso
(mercadoria).
Vale ressaltar a relação existente entre este plano de trabalho e o projeto de
pesquisa do orientador, que estuda as transformações causadas no ambiente e na
paisagem por processos erosivos lineares e formação e terrenos tecnogênicos. Dessa
forma, os resultados dessa pesquisa colaborarão para o embasamento teórico-conceitual
das pesquisas realizadas no âmbito do projeto do orientador. 

Objetivo: Levando em consideração a hipótese levantada na justificativa, esta pesquisa


pretende fazer uma análise crítica sobre a produção acadêmica, sua forma e seu
conteúdo, fazendo um panorama de como foram utilizados os conceitos de ambiente e
suas variações (socioambiente e meio ambiente) nos trabalhos publicados nos anais do
XIX Encontro Nacional de Geógrafos, no eixo temático Natureza/Meio Ambiente.

Metodologia: Para alcançar o objetivo proposto, traça-se os seguintes procedimentos


metodológicos:
1-) Levantamento e revisão bibliográfica, na ciência geográfica, acerca dos aspectos
teóricos-conceituais dos conceitos de ambiente e socioambiente;
2-) Serão analisados os 263 trabalhos publicados nos anais do XIX Encontro de
Geógrafos, no eixo temático Natureza/Meio Ambiente;
3-) Dos 263 trabalhos, quantificar-se-á os que utilizaram o conceito de ambiente, meio
ambiente, socioambiente ou os três;
4-) Após os trabalhos serem quantificados conforme os conceitos utilizados, quantificar-
se-á aqueles que utilizaram referenciais teóricos para embasá-los e defini-los;
5-) Por fim, analisar-se-á os sentidos empregados pelos autores dos trabalhos para os
conceitos: a) algo externo à sociedade (visão naturalista); b) refletindo a relação
sociedade-natureza; c) ao refletir a relação sociedade-natureza, refere-se à sociedade
como sinônimo de antrópico (generalizando as características heterogêneas da
sociedade), produtora e/ou alvo de problemas ambientais, sem distinção e/ou
caracterização de classes, frações ou camadas sociais; d) ao refletir a sociedade-
natureza, caracteriza e/ou distingue classes, frações ou camadas sociais que produzem e/
ou são atingidas por problemas ambientais.
Assim, com a conclusão da pesquisa, o que se pretende com os resultados, é ter
um panorama, por meio da análise dos trabalhos no referido evento científico, dos
sentidos dados ao conceito de ambiente: se reforçam a natureza como mercadoria (visão
naturalista e dualista), se apontam a sociedade de forma genérica ou distingue (de forma
crítica) classes, frações ou camadas sociais como produtora e/ou alvo de problemas
ambientais.

Cronograma de atividades:

Atividade Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul
Levantamento x x x
bibliográfico
Levantamento x x x
dos trabalhos
publicados
Quantificação x x x
dos trabalhos
Relatório x
parcial
Análise dos x x
resultados
Relatório final x

Referências bibliográficas:

MENDONÇA, F. Geografia Socioambiental. In: MENDONÇA, F.; KOZEL,


S. Elementos de epistemologia da Geografia contemporânea. Curitiba-PR: ed.
UFPR; 2002.
  
CASSETI, V. A Natureza e o Espaço Geográfico. In: MENDONÇA, F; KOZEL,
S. Elementos de epistemologia da Geografia contemporânea. Curitiba: ed. UFPR;
2002.
  
SUERTEGARAY, D.M.A. Notas sobre a Epistemologia da Geografia. In:
SURTEGARAY, D.M.A. Cadernos Geográficos. Florianópolis: ed. UFSC; 2005. 

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