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Origem 

da evolução 
Ecologia, Evolução e Adaptação 

Um dos ensinamentos fundamentais da ecologia consiste em evidenciar as interações recíprocas 
entre o meio e os seres vivos e a adaptação destes a suas condições de vida. Só as possibilidades 
de  adaptação  dos  seres  vivos  a  um  meio  variável  asseguram  a  sobrevivência  das  espécies  e 
permitem sua extensão geográfica e diversificação. 

Origem e Evolução dos Seres Vivos 

As  condições  de  meio  que  reinavam  em  nosso  planeta  há  alguns  bilhões  de  anos  eram  muito 
diferentes  das  que  conhecemos  hoje.  Permitiram  o  aparecimento  da  vida  e  sua  evolução 
progressiva,  sendo  que  os  seres  vivos,  por  sua  presença,  modificaram  pouco  a  pouco  o  meio. 
Berkner  e  Marshall  expuseram  uma  teoria  que  explica  bem  os  fenômenos  observados  e  mostra 
que  a  evolução  nos  tempos  geológicos  antigos  pode  ser  interpretada  como  uma  série  de 
interações entre o  oxigênio produzido pelos  seres vivos  e estes últimos. A existência de estágios 
críticos  que  provocavam  importantes  variações  nas  propriedades  do  meio  foi  imediatamente 
seguida pelas respostas adaptativas dos seres vivos. 
Pode­se  atribuir  à  Terra  a  idade  de  cerca  de  4,5  bilhões  de  anos.  Existia  então  uma 
"pneumatosfera", não estando ainda separadas a hidrosfera e a atmosfera. A separação fez­se há 
cerca de 3,8 bilhões de anos. A atmosfera primitiva era redutora e continha hidrogênio, amoníaco, 
vapor de água, metano, gás carbônico. A ausência de oxigênio tornava esta atmosfera permeável 
aos  raios  ultravioletas,  condição  favorável  à  produção  de  substâncias  tais  como  os  ácidos 
aminados  e  as  bases  como  a  pirimidina,  constituintes  fundamentais  da  matéria  viva.  Matéria 
orgânica  "abiogênica"  pode  assim  acumular­se  em  certos  lugares  favoráveis  do  oceano  primitivo, 
por exemplo, nas margens,onde ao contacto de catalisadores tais como a argila teriam aparecido 
diversas  moléculas  mais  complexas  como  as  enzimas  e  sobretudo  a  clorofila.  Estes 
acontecimentos  devem  ter  se  produzido  há  2,7  bilhões  de  anos.  Pequenos  traços  de  oxigênio 
tinham  podido  aparecer  antes,  por  fotodissociação  do  vapor  d'água  sob  a  ação  dos  raios 
ultravioletas. Mas, graças à clorofila, a fotossíntese que se iniciava iria pouco a pouco enriquecer 
de  oxigênio  a  atmosfera.  Os  raios  ultravioleta  atravessam­na  facilmente  e  podem  atingir  a 
superfície  da  Terra.  A  vida  está  confinada  nas  águas  pouco  profundas  e  os  fósseis  conhecidos 
raros, sendo constituídos pr algumas esquizófitas como Eobacterium da África do Sul e Guntflintia 
do Ontário. Na alta atmosfera o oxigênio se transforma progressivamente em ozônio, formando um 
anteparo  que  se  torna  pouco  a  pouco  bastante  denso  para  reter  uma  boa  parte  dos  raios 
ultravioleta  de  curto  comprimento  de  onda  (2.400  a  2.900  A)  nocivos  à  vida.  Os  seres  vivos 
espalham­se, então, pouco a pouco, nos oceanos e se diversificam. A primeira célula de eucariota 
conhecida data de 1,2 bilhões de anos. Quando o teor de oxigênio é igual a 1% do que existe na 
atmosfera  atual  manifesta­se  o  "efeito  Pasteur".  Designa­se,  assim,  o  fenômeno  que  permite  às 
bactérias que podem ser indiferentemente aeróbias ou anaeróbias tornarem­se aeróbias quando a 
taxa de oxigênio é suficiente. A respiração torna­se então o fenômeno dominante do metabolismo. 
Este primeiro nível crítico é acompanhado de uma extensão brusca da vida em todos os oceanos. 
Estamos  no  Ediacariano,  há  0,7  bilhões  de  anos.  Os  cnidários  e  os  celomados  diversificam­se 
rapidamente. Um segundo nível crítico é atingido quando o teor de oxigênio da atmosfera chega a 
10%  de  seu  valor  atual.  O  anteparo  completo  de  ozônio  acha­se  então  formado.  Os  raios 
ultravioletas  não  atingem  mais  o  solo  e  a  terra  firma,  é  conquistada  pela  vida.  Estamos  no 
Ordoviciano.  A  evolução  vai  prosseguir  em  seguida  rapidamente  por  motivo  da  exuberância  da 
flora.  A  taxa  atual  de  oxigênio  foi  atingida  desde  o  Carbonífero.  A  partir  de  então  sofreu  apenas 
variações muito pequenas. 

O papel da competição na evolução 

Um fato notável na evolução é a substituição no curso do tempo de certos grupos zoológicos por 
outros, que ocupam os mesmo nichos ecológicos. Explica­se assim o desaparecimento da maioria 
dos  grupos  de  réptes  do  Secundário,  que  teriam  sido  eliminados  pelos  mamíferos.  O  mesmo  se
deu com a substituição dos criptógamos pelas plantas com flores. Os grupos sobreviventes são os 
que escaparam à concorrência. A evolução dos cefalópodes do grupo dos amonóides no Priário e 
no Secundário é característica. Aparecem primeiramente os goniatites. Sua extinção corresponde 
ao  desenvolvimento  dos  ceratites,  que  atingem  o  apogeu  no  fim  da  Era  Primária  e  desaparecem 
bruscamente para deixar o lugar aos amonites da Era Secundária. O povoamento da América do 
Sul  pleos  mamíferos  mostra  os  mesmos  fenômenos  de  substituição  devidos  à  competição.  Se 
considerado  o  caso  dos  pequenos  herbívoros  do  porte  dos  Roedores,  que  ocupam  nichos 
ecológicos bem determinados, este papel é desempenhado no Eoceno pelos marsupiais da família 
dos  Polidolídeos.  São  substituídos  pelos  ungulados  euterianos  do  tamanho  de  Roedores, 
particularmente os Tipoterianos e os Hegetorerianos. Depois são os Roedores Histricomorfors que 
tomam o lugar e finalmente estes sofrem fortemente a concorrência de espécies vindas da América 
do Norte (esquilos, ratos, coelhos) a partir do Plioceno, quando a comunicação entre a parte norte 
e a parte sula da América foi estabelecida. 

Influência da predação sobre o tamanho dos mamíferos 

Deve­se a Valverde o estudo do tamanho dos mamíferos em função de sua ecologia. O tamanho 
das espécies não se distribui ao acaso. As relativas aos diversos grupos para diversas regiões têm 
todas  a  mesma  forma:  Há  mais  espécies  pequenas  do  que  grandes.  Os  predadores  ocupam  o 
tamanhos  médios.  Na  Europa,  entre  30  cm  e  1  m  há  somente  8  espécies  herbívoras,  nenhum 
insetívoro  e  16  predadores.  Acima  e  abaixo  desse  tamanhos  há  54  espécies  presas  para  3 
espécies predadoras acima de 1 metro. Todas as espécies que superam o tamanho médio de seu 
grupo  são  adaptadas  defensivamente,  as  que  não  têm  adaptações  são  todas  de  pequeno 
tamanho.  As  espécies  presas  de  grande  tamanho  são  adaptadas  à  corrida  ou  então  têm  um 
tamanho que as torna capazes de  se defenderem. Afastados dos tamanhos médios pela pressão 
exercida  pelos  carnívoros,  os  herbívoros  têm  tamanhos  iguais  ou  superiores  a  estes.  Em 
conclusão,  se  o  tamanho  dos  mamíferos  tende  a  aumentar  no  curso  da  evolução,  as  pequenas 
espécies presas não podem fazê­lo por motivo da pressão da seleção "exercida pelos carnívoros". 
As grandes espécies, pelo contrário, aumentam de tamanho para escapar à predação. Existe uma 
zona de predação total na qual nenhuma espécie presa terrestre pode subsistir. Na Europa, entre 
os  62,5  cm  do  porco­espinho  Hystrix  cristata  e  os  115  cm  do  corço  Capreolus  há  uma  região  na 
qual  o  único  herbívoro  é  o  castor,  aquático.  Estes  fatos  podem  explicar­se  por  considerações 
bioenergéticas. Se chamarmos I um índice de apetência tal que I é igual a energia obtida comendo 
a  presa  dividido  sobre  a  energia  gasta  para  capturá­la  as  probabilidades  de  uma  espécie  são 
inversamente proporcionais a I. Quanto mais um predador tem de gastar  energia para capturar a 
presa  menor  é  o  benéfico  da  captura.  A  aquisição  de  meios  de  defesa  passiva  (vida  endogéia, 
arborícla ou aquática) é um meio de diminuir o valor de I. 

A velocidade da evolução 

Alguns  dados  precisos  podem  ser  obtidos,  particularmente  no  caso  das  faunas  e  das  floras  bem 
conhecidas  e  isoladas  das  ilhas.  No  atol  Henderson  (no  arquipélago  das  Pitcairn,  no  Oceano 
Pacífico), que tem somente cerca de 30 metros de altura existem plantas, moluscos, insetos e aves 
endêmicas,  que  têm  no  máximo  alguns  milhões  de  anos,  idade  do  atol.  Nas  ilhas  Havaí  os 
Lepidópteros  do  gênero  Omiodes  são  representados  por  23  espécies.  Ora,  cinco  delas  estão 
ligadas  à  bananeira,  que  era  desconhecida  no  arquipélago,  antes  de  ter  sido  introduzida  pelo 
homem  há  cerca  de  800  anos.  E  portanto  certo  que estas  5  espécies  formaram­se  em  800  anos 
(ou  menos)  a  expensas  de  uma  ou  de  várias  outras  espécies  de  Omiodes  que  viam  nas 
Gramíneas, Leguminosas ou Liliáceas (Zimmermann, 1948). 

Alguns exemplos de evolução 

A  evolução  devida  ao  isolamento  geográfico  é  particularmente  espetacular  nas  ilhas,  porque  um 
certo  número  de  peculiaridades  dos  ecossistemas  insulares  vêm  ainda  acentuar  o  fenômeno. 
Trata­se  primeiramente  da  redução  do  número  dos  indivíduos  nas  populações,  o  que  acelera  as 
conseqüências  do  isolamento.  Trata­se  em  seguida  a  simplificação  das  biocenoses  e  dos
ecossistemas,  por  motivo  da  uniformidade  dos  biótopos,  o  que  limita  o  número  de  nichos  e  o 
número de espécies por nicho. Os predadores de grande tamanho acham­se geralmente ausentes 
nas  ilhas  pequenas  ou  então  são  representados  pelas  raças  de  dimensões  menores  que  as 
existentes  nos  ecossistemas  continentais  equivalentes.  A  simplificação  dos  ecossistemas  assim 
realizada modifica  os fatores  de  competição  e  predação,  permitindo  por  exemplo  o  aparecimento 
de  aves  incapazes  de  voar.  Conhecem­se  em  certas  ilhas  do  Atlântico  pequenos  Insetívoros  do 
grupo das musaranhas, os crocíduros, que se diferenciaram em raças gigantes devido à ausência 
de  pequenos  carnívoros.  Ao  mesmo  tempo  os  Roedores  do  grupo  dos  arganzes  adquiriram 
igualmente grande tamanho, uma vez que o pequeno tamanho era um meio de defesa em face dos 
predadores  que  são  aqui  ausentes.  A  grande variabilidade  das  espécies  insulares  é  considerada 
como conseqüência da baixa da pressão de predação. 
O isolamento geográfico influi também nos continentes. Nos Pirineus os Coleópteros cavernícolas 
do gênero Aphaenops formaram mais de trinta espécies e subespécies localizadas numa gruta ou 
numa numerosa raças endêmicas de vegetais e animais. Em escala maior a majengra Parus major 
existe em sua forma típica na Europa, na forma cinereus na Índia e numa parte da Ásia Central, na 
forma minor na China. Existem zonas de superprosição entre a raça major e a raça cinereus assim 
como para as raças major e minor mas nas regiões onde estas raças são simpátricas elas não se 
hibridam e se comportam como espécies diferentes. 
Um exemplo de seleção de um genótipo particular por fatores do meio é o da anemia falciforma no 
homem. Esta anomalia, encontrada sobretudo entre os negros, caracteriza­se pelo aspecto 
peculiar das hemácias, que têm forma anormal, mais ou menos em crescente. Determinada por um 
gene Sk semidominante e autossomal, a doença existe em forma grave, freqüentemente mortal 
nos homozigotos Sk/Sk e em forma ligeira nos heterozigotos Sk/sk. A elevada proporção de 
geterozigotos encontrada em certas regiões da África Oriental e na Índia explica­se pela 
imunização natural dos indivíduos heterozigotos Sk/sk com relação ao impaludismo, o que explica 
a conservação do gene.

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