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Revista Ibérica de Sistemas e Tecnologias de Informação

Recebido/Submission: 13/10/2019
Iberian Journal of Information Systems and Technologies Aceitação/Acceptance: 27/01/2020

Utilizando robótica para permitir a experiência


musical de crianças surdas por meio da vibração:
visão prática

Cristiano da Silva Benites1, Ismar Frango Silveira2

benites_silva@hotmail.com, ismarfrango@gmail.com

Faculdade de Computação e Informatica, Universidade Presbiteriana Mackenzie - Rua da Consolação, 930 -


Consolação, São Paulo - SP, 01302-907 São Paulo, SP – Brasil.
Pages: 412–422

Resumo: Este artigo apresenta resultados de experimentos musicais realizados com


crianças com deficiência auditiva utilizando um rôbo. São apresentados os desafios
encontrados na inclusão de crianças com deficiência auditiva no aprendizado de
música e mostra como a sociedade aceita essas pessoas. Busca conhecer como a
comunidade de surdos vê a música e, finalmente, avaliar os elementos visuais e
tecnológicos na educação musical infantil. Os desafios das ações apresentadas não
apontam para uma teoria de maneira abrangente ou apenas estatística, mas para
propor uma discussão sucinta sobre o assunto, para levar outras pessoas a refletir
sobre as necessidades específicas dessas crianças.
Palabras clave: criança com deficiencia auditiva, elementos visuais, aplicações
tecnológicas, robótica e música.

Using robotics to enable the musical experience of deaf children


through vibration: vision practice.

Abstract: This article presents results of musical experiments conducted with


hearing impaired children using a robot. It presents the challenges encountered
in including children with hearing impairment in music learning and shows how
society accepts these people. It seeks to know how the deaf community views music
and, finally, to evaluate the visual and technological elements in early childhood
music education. The challenges of the actions presented do not point to a theory
that is comprehensive or only statistic, but to propose a brief discussion on the
subject, to lead others to reflect on the specific needs of these children.
Keywords: hearing impaired child, visual elements, technological applications,
robotics and music.

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1. Introdução
A relação entre surdos e música é uma questão polêmica desde o pessado até os dias
atuais, uma vez que a música é considerada um fenômeno do meio audível e os surdos
não podem ouvir, mas podem sentir a musica por causa das vibrações no próprio
corpo. As pessoas que defendem a cultura dos surdos afirmam que a música é criada e
compreendida para a concepção de pessoas ouvintes, como conseqüência não faz parte
da cultura dos surdos, portanto, os surdos não podem apreciar a música como ouvintes
fazem conforme cita (Glennie, 2018). O som nada mais é do que a vibração do ar, que
o ouvido capta e converte em sinais elétricos que são interpretados no cérebro. No caso
de vibrações com frequências muito baixas, o ouvido se torna ineficiente e o sentido
tátil começa a dominar. Surdez não significa não ouvir, há simplesmente algo errado
com o ouvido, porque mesmo alguém com surdez profunda pode sentir e ouvir sons
(Finck, 2009), portanto, para (Glennie, 2018), o processo de ouvir está relacionado
com a percepção dos sentidos e não apenas com o ouvido, por isso, se a música é uma
expressão na forma de sons, como o indivíduo surdo pode perceber a música? Nesta
parte, é notória a necessidade de criar propostas pedagógicas para o ensino de música
a pessoas surdas. É interessante notar que os surdos sentem vibrações através da pele:
esse evento ocorre nos surdos através de um local no cérebro que é o mesmo local que
o ouvinte, de modo que esse local lhes dá uma percepção diferente de como entender a
leitura do ritmo musical.
As ondas de vibração, transmitidas pelo ar, atingem a pele e, portanto, os músculos e
os ossos os sentem, finalmente atingindo o sistema nervoso autônomo, o que permite
sentir o ritmo e o volume, a intensidade e a duração do som (Haguiara-Cervellini et al.,
2003). Essas percepções, quando integradas à percepção do movimento interno, podem
permitir que os surdos apreciem os elementos sonoros (Benenzon, 1983). O autor ainda
apresenta uma relação entre o surdo e a música e propõe a substituição de seu sistema
auditivo por recursos táteis, o que permitiria ao surdo conhecer o som ao redor.
Analisando estudos que utilizam perspectivas de vibração sonora, observa-se que eles
não são percebidos apenas pelos aparelhos auditivos, assim podemos citar estudos
clássicos como (Madsen, Mears et al., 1965), onde mediram a sensibilidade tátil de
pessoas com deficiência auditiva e obtiveram resultados satisfatórios. Um ano antes,
(Gescheider, 1964) demonstrou com que precisão a pele pode identificar vibrações
sonoras, com base nisso, (Montagu, 1988) afirmou que, em termos de som, a pele é
o sistema mais importante do corpo humano, uma pessoal pode viver surdo, cego
e completamente desprovido de cheiro e sabor, mas não pode viver sem as funções
desempenhadas pela pele. O autor também menciona as experiências de surdos e cegos
que, quando estimulados, demonstraram compensações por essas deficiências, em um
grau extraordinário por meio da pele.
No que diz respeito à sensibilidade das crianças com surdez à música (Haguiara-
Cervellini, 2003) mostrou que elas tentam percebê-la usando todo o corpo para sentir
as vibrações que podem ser do chão, das paredes e também dos instrumentos musicais,
assim os surdos geralmente preferem instrumentos de percussão, que produzem fortes
vibrações e são mais facilmente percebidos. Nesse sentido, o surdo deve ter todas as
possibilidades da experiência musical para desenvolver sua sensibilidade à música.

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2. Surdos em contato com a música


Para muitos acadêmicos, a relação entre música e deficiência auditiva é considerado um
tema contraditório, de acordo com (Mahler, 2016), geralmente se supõe que músicos e
compositores têm “audição perfeita”, então o autor gera um argumento cuja suposição
leva os acadêmicos a imaginarem a surdez como a antítese mais profunda do ambiente
musical, o que os leva a considerarem um surdo como incapaz de ouvir música. Isso acaba
promovendo a distância entre essas pessoas surdas e a música e, consequentemente,
distanciando-as dos benefícios que a música pode promover para o indivíduo, esse tipo
de concepção geralmente é baseado em uma visão limitada da música.
A música envolve vários elementos que vão muito além do som: a experiência musical é
limitada apenas no sentido da audição, o autor também relata que o tema principal desse
tipo de atitude a considerar é o relato de pessoas interessadas em Música, incluindo
músicos amadores. e também os profissionais. Para ajudá-lo a entender melhor,
podemos lembrar o músico Bob Hiltermann citado por (Jones, 2016), onde ele relata
que pessoas surdas, gostam de música, e essas pessoas ajudam a construir novas visões
sobre música e música .
Os relatos de surdos interessados ​​em música nos permitem refletir sobre sua relação
com a música e aprender sobre as diferentes formas de experiência no contexto musical
a partir de suas práticas (Mahler, 2016). O autor ainda nos desafia a pensar sobre a
música que vai além de nossos ouvidos e a imaginar maneiras alternativas que a música
nos permite ter, a viver a experiência que uma pessoa surda tem e, assim, demonstrar
que os músicos surdos interagem com os sons da música. sensação de vibração e uso de
imagens. A maneira de fazer música e sentir-se surdo é o uso da expressão que permite
que as pessoas conheçam sua realidade, mesmo sendo uma minoria cultural dentro
de um mundo de grande audição, permitindo compartilhar histórias e diferenças de
linguagem.
O primeiro registro de educação musical para uma pessoa surda foi citado por (Darrow,
Haller et al., 1985), onde uma jovem surda queria aprender piano. O artigo citado
relacionou a experiência do ensino musical a Augusta Avery de Syracuse. Assim, ele
percebeu que a música pode ser ensinada aos surdos para que eles possam ter uma idéia
do ritmo musical, da qualidade da expressão e da relação dos tons, formando o uso da
visão e do toque, o autor ainda citou o caso do pianista que impressionou ouvintes com
seu domínio do piano e também enfatizou que a vontade e o interesse inicial de aprender
a tocar piano.
Hoje a educação musical evoluiu no campo da inclusão do surdo, experiências que
valorizam situações nas quais envolvem sensações vibratórias, expressão corporal e a
relação entre som e imagem, experiências que facilitam o uso de ferramentas tecnológicas.

3. Metodologia
Selecionamos um grupo de 7 crianças de 5 a 10 anos para fazer um experimento musical
usando robótica e software. Entre essas crianças, 6 têm problemas auditivos e precisam
de intérpretes para ajudá-las. Durante todo o processo, houve consentimento de seus
responsáveis que acompanharam as crianças durantes os 3 momento que nos reunimos.

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As três etapas dos experimentos foram realizadas em uma sala de uma organização
religiosa, para não perturbar os lares das famílias e evitar impactos em diferentes
ambientes dos experimentos. Para obter opiniões e resultados durante os testes práticos,
usamos um questionário modelo para as avaliações realizadas pelos conselheiros das
crianças, onde cada um deles avaliava a criança durante as atividades.
Para as crianças surdas apresentamos os fundamentos da música, como notas musicais
combinadas com cores, ritmos e tempos musicais representadas pelo movimento de um
robô. Deixando a maneira tradicional como você pode usar o livro, o quadro ou qualquer
outro meio que não seja o uso da tecnologia.
Na figura 1, apresentamos a situação da comunicação de cada uma das 7 crianças que
participaram dos experimentos, para conhecer as circunstâncias envolvidas, portanto,
inserimos o que os responsáveis pelas ​​nos informaram, onde o simbolo “✔” Indica
positivo e “-”indica negativo e o que foi comprovado durante os experimentos.

Figura 1 – Situação de comunicação de cada criança.

Durante os experimentos utilizadmos o software Scratch, em uma versão adaptada pelo


Makeblock, para controlar o robô e seus recursos através de um iPad onde as crianças
farão combinações no aplicativo para enviar comandos ao robô, executando conceitos
musicais predefinidos no aplicativo, eles terão que imitar os movimentos do robô
durante cada etapa, em seguida, vamos usar um pequeno jogo no aplicativo integrado
ao robô. À medida que a criança entender o jogo e passar a fase, iremos aumentando a
dificuldade do jogo, praticando o básico de formas diferentes.

Figura 2 – Notas musicais e cores propostas no software..

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Antes de iniciar qualquer atividade com o robô e as crianças, ensinaremos a eles o


conceito do projeto para que elas possam entender o que cada elemento significa durante
a prática do jogo, já que nenhuma das crianças tem conhecimento musical. Assim,
mostraremos as cores das notas musicais como uma teoria proposta nesta atividade,
como mostra a Figura 2.
Assim que cada criança souber qual cor pertence à nota musical, será solicitado que
indique no iPad qual nota o robô executa, e a criança poderá apontar o dedo na tela do
dispositivo. Para isso, o programa Editom foi utilizado no projeto, para que fosse possível
usar a pauta e colorir as notas musicais de acordo com a necessidade do experimento.
O software Editom foi criado para ensinar música para iniciantes, representando
graficamente como escrever e ouvir os sons das notas. No experimento, o Editom será
usado apenas para a representação visual de crianças surdas.

Figura 3 – Pentagrama Editom como notas musicais coloridas.

Depois que as crianças tiverem a base do que cada cor na pauta significa, passaremos
para a segunda parte da teoria que diz respeito ao tempo rítmico, pode-se usar no
aplicativo os tempos já definidos, para que a criança selecione apenas o movimento que
você deseja para o robô. Na figura 4 você pode ver como a tela fica onde a criança usará
essa função.

Figura 4 – Divisão dos tempos musicais.

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Com o conhecimento do conteúdo conceitual, começaremos a praticar cores com o robô.


Na Figura 5, temos um exemplo de como o processo inicial de design de contato do robô
será executado, cada nota musical tocada no piano digital no iPad terá uma cor no robô,
o LED colorido será combinado com um movimento, assim a criança entenderá que cor
pertence a qual nota musical e seu ritmo rítmico na prática, de acordo com a escolha
rítmica. Quando a criança clica na tecla vermelha, como mostra a figura 5, o robô acende
a luz vermelha, para que a criança saiba que pressionou a tecla C no teclado virtual. O
robô, além de acender a luz vermelha, vibrará para que a criança sinta que houve alguma
ação no robô quando ele fez um comando no iPad.

Figura 5 – Nota musical Dó executada no IPAD.

Para que o robô execute e reconheça comandos enviados pelo iPad, foi necessário
compilar o código dentro do Arduino do robô, usamos a linguagem de programação
mBlock no modo Python, que é uma linguagem de programação compatível com o
aplicativo. Com o uso de jogos, será possível saber qual foi a abstração dos conceitos que
as crianças adquiriram com o experimento.
Para facilitar a utilização da proposta prática, será criado um plano de orientação para
os experimentos: nesse caso, haverá três planos, um para cada domingo de atividades.
Nos três usaremos o robô e somente no último experimento teremos uma mudança, que
será a inserção do piano de cauda e uma pulseira vibratória.
Teremos intérpretes para facilitar a comunicação com crianças, pois existem crianças
que não sabem ler e não conhecem a LIBRAS. Uma das crianças não será deficiente para
ser um modelo para os outros.

4. Experimentos realizados em cada etapa


O contato inicial com as crianças durou aproximadamente 4 horas, para que se
familiarizassem com o cenário proposto e, para que se sentissem mais à vontade, foi
necessário realizar uma atividade para gerar entretenimento, pois algumas crianças
estavam receosas, assim montamos o robô usado na proposta. Depois de montar o
robô com as crianças, atividade que durou aproximadamente 30 minutos, começamos
a atividade objetiva. Nesta primeira etapa, a criança ouvinte começou a fazer o primeiro
contato com o robô e as outras crianças acompanharam o que foi feito, a outra criança
deficiente auditiva realizaria a mesma atividade em seguida. A Figura 6 mostra como
iniciamos a atividade realizada com as crianças observando o que era feito.

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Figura 6 – Crianças participando da atividade.

As crianças surdas observaram o que o robô fezia e, depois do movimento do mesmo, as


crianças deviam imitar o robô, neste caso, o movimento e, se o robô acender algum LED,
as crianças devem levantar as mãos para indicar que havia feito algum movimetno ou
nota foi executada. Dessa forma, eles poderiam interagir entre si e ver se os movimentos
foram executados corretamente ou não, o que gerou uma entretenimento entre elas.
Cada criança realizou a atividade com o robô e o IPAd por 20 minutos, com a ajuda do
pesquisador que realizou a atividade. Quando uma criança terminava a atividade, era
a vez de outra criança assumir e fazer o mesmo procedimento que a criança anterior
realizou, assim cada criança viu e participou da mesma atividade sete vezes seguidas,
dessa forma o contexto ficaria compreendido por cada criança.
O segundo dia de contato ocorreu no domingo seguinte, assim tinhamos o plano de
lembrar as crianças das cores das notas e do ritmo das medidas tomadas no experimento
inicial, mas as crianças ainda tivessem em mente toda a referência do primeiro estágio
do processo, lembraram todas as cores das notas e o ritmo de cada compasso. Portanto,
como não havia necessidade de lembrar o que foi feito no domingo anterior fomos
diretamente ao jogo para as crianças executarem a proposta nessa segunda etapa de
experimentos. Dessa vez, começamos com a criança surda mais nova, pois acreditava-
se que ela tinha o conceito teórico em mente e poderia realizar a atividade musical com
pouca dificuldade.
Quando a primeira criança iniciou o jogo, demorou um pouco para executar o que foi
proposto e após algum tempo, o pesquisador e o intérprete deixaram a criança sozinha e
ela realizou boa parte das fases do jogo sozinha, e as outras crianças deveriam imitar o robô
como na primeira etapa da investigação, o que gerou muita diversão entre as crianças.
No terceiro domingo, fizemos novamente o uso do robô que já era usado desde a primeira
etapa, mas, diferentemente das outras ocasiões, as crianças não comandavam o robô
usando o iPad ou o controle do robô, nesse estágio, as crianças usavam o robô apenas
como uma referência para saber se as notas que eles estavam pressionando na tecla do
piano que usamos neesse ultimo experimeto era executada. Nas etapas anteriores, as
crianças estavam interagindo com o robô e IPAD para sentir vibrações e imitar seus
movimentos, para ter uma idéia do que podiam sentir quando estivessem em contato
com um piano real, que estava planejado para ocorrer nesta intervenção final.
Para realizar a atividade final, foi utilizado um piano de cauda Roland que estava no
local dos experimentos, o modelo utilizado foi o “Gp607 Pel”, utilizado por um período
de 5 horas.

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Este piano possui entradas USB e P10; nesse caso, a entrada USB do piano foi
fundamental nesta etapa final, usamos o USB para integrar o robô ao piano e, assim,
ajudar as crianças em sua compreensão. Portanto, procuramos o paralelismo, de modo
que, quando uma nota é tocada no piano, o robô gera uma cor e uma vibração no robô ao
mesmo tempo, para evitar confusão para as crianças.
Como nos dois primeiros experimentos, as crianças não tiveram contato com o piano,
isso poderia criar uma dificuldade e gerar confusão, então vimos que seria necessário
inserir uma pulseira integrada ao robô nessa ultima etapa. Dessa forma, quando as
crianças tocavam uma nota musical no piano ele vibrava porque era acústico, o robô
vibrava tambpem e acendia um LED que indicava que a nota tocada, e por fim enviava
um comandao a pulseira que estava integrada ao robô, gerando uma vibração no pulso
das crianças com a mesma frequencia do piano.
Programamos o robô com antecedência para chegar e simplesmente conectarmos
no piano e obtemos uma resposta satisfatória com as notas pressionadas no piano.
Conectamos a porta USB do robô ao piano, clicamos em uma nota Dó representada
pela cor vermelha nos testes anteriores e, conforme esperado, o robô ficou com o LED
vermelho e enviou a frequencia para a pulseira que vibrou na mesma intensidade
do piano.
Ao realizar a atividade final a criança ficava com a mão esquerda no piano, a mesma
mão com a pulseira, também sentia a vibração do piano e a vibração da pulseira. Tudo
isso aconteceu de forma sincronizada e procurou estar livre de atrasos, para não criar
confusão na cabeça das crianças durante sua participação no experimento.

Figura 7 – Criança tocando piano com todas as funções integradas.

Ao final do terceiro experimento, todas as crianças participaram das atividades, pode-se


sentir satisfação das mesmas, pois sentiram o prazer de ter o primeiro contato com a
música de maneira prática, o que foi emocionante para as crianças e para todos aqueles
que acompanhavam os experimennos desde o inicio.

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5. Resultados e discussões
Como as crianças com deficiência auditiva realizavam as atividades em cada um dos três
experimentos, os conselheiros avaliavam seu desempenho de acordo com as opções do
questionário. Após concluir as três experiências, foi possível ter uma opinião sobre o
desempenho de cada criança que participou das experiências:
•• Todas as crianças foram capazes de realizar as atividades propostas usando o
aplicativo através do iPad em conjunto com o robô, realizando todos os exercícios
com sucesso e aproveitando a atividade que gerou muita diversão entre elas em
100% dos casos.
•• Nenhuma criança recebeu treinamento específico ou separado das outras
crianças para entender o conteúdo. O máximo que pudemos observar foi um
pouco de lentidão para iniciar a atividade, mas com o tempo, mesmo sem ajuda,
puderam fazer todo o conteúdo. Os conselheiros estimaram que cerca de 60%
das crianças tiveram que pensar um pouco mais para iniciar o processo, mas
isso era de se esperar, uma vez que nunca tiveram contato com as tecnologias
do experimento.
•• 100% das crianças acharam fácil entender as imagens para realizar a atividade
e imitar o movimento do robô.
•• Após esse periodo de atividade realizadas apenas aos domingos, as crianças
não apresentaram dificuldade em lembrar o que havia sido feito 7 dias atrás na
atividade anterior, 100% delas realizavam atividades praticamente semelhantes
nos três experimentos.
As atividades realizadas nesta investigação indicaram que a combinação do aplicativo
Scratch com um hardware, neste caso um robô, pode proporcionar aprendizado de
música para crianças com deficiência auditiva. Os experimentos mostraram que o
conjunto utilizado indicam potencial para atividades musicais e podem ser adaptados a
outras situações de diferentes pontos de vista, para que possa ensinar outros pontos na
teoria musical e crianças aprendidas a se divertir. Portanto, é essencial o uso de meios
adaptativos na educação musical de crianças surdas, assim apontou-se ser necessário
verificar a eficácia do aplicativo e do hardware utilizado, estudar formas de saber
qual é o real impacto sobre quem participa do aprendizado, neste caso crianças com
deficiência auditiva.

6. Considerações do projeto
Uma vez iniciados os experimentos musicais com as crianças, foi possível analisar que a
arquitetura utilizada com a aplicação e o robô permitiam que as crianças realizassem a
atividade musical, com o mesmo auxiliando na percepção dos sons que eram feitos com
as medidas, vibrações e ritmos através do robô.
Depois que as crianças perceberam o som através da cor e do movimento do robô,
elas puderam reproduzir e se mover de acordo com sua intensidade, quando geraram
movimento e cores. Portanto, foi possível refletir sobre os benefícios que a música trazia
para as crianças através de suas atitudes e os comentários dos conselheiros no momento

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das atividades, e enquanto avaliava as crianças durante as atividades, apresentando o


conceito prático.
Ao fazer uso da avaliação dos conselheiros, percebeu-se geralmente que eles indicaram
que o uso do aplicativo Scratch com robótica pode ser uma excelente maneira de ser
usado nas atividades musicais de crianças surdas. Porém, observou-se que nem todas
as crianças tinham um conceito 100% bom ao sentir a vibração do robô, o que mostrou
que as crianças tinham que ter um treinamento háptico um pouco mais longo para se
acostumarem com a vibração. O problema encontrado com a vibração era que o robô
só vibrava ao receber uma nota quando estava no chão nos experimentos iniciais, o
problema dos movimentos longos às vezes dificultava o uso em uma mesa ou sobre o
piano que seria ideal para vibração, mas limitaria movimentos de robô para crianças
para imitá-lo. Portanto, a proposta inicial do projeto era trabalhar com as cores musicais
e os tempos de medição do robô, o que limitava o planejamento da vibração e porque o
robô era pequeno e possuía uma força de vibração limitada.
Assim, este trabalho destaca um estudo mais aprofundado da vibração, juntamente com
o ensino da música para crianças surdas, especialmente no caso do tempo de vibração
e da intensidade das notas musicais, para diferenciar as vibrações. Nesse caso, focamos
na diferenciação através das cores para não criar confusão para as crianças. Utilizou-
se um dispositivo conectado ao braço da criança, uma pulseira; assim, quando o robô
vibrava, a pulseira também vibrava com a mesma intensidade, de modo que o robô era
responsável pelas cores e movimentos e a pulseira vibrava junto com o piano , como foi
feito no último experimento.
Devemos considerar que o ensino de música para crianças surdas deve ter como objetivo
gerar uma reflexão sobre o indivíduo,em como conceber a inclusão de pessoas com
situações polêmicas para os ouvintes, para ensinar música ou seja, comunicar com
outras pessoas através das libras ou também ambiente social, a identidade real das
crianças surdas, consequentemente, expande seu ambiente.

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