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Artigo de Atualização/divulgação

PROPOSTA DE PROTOCOLO PARA AVALIAÇÃO DA APRAXIA DE FALA

PROPOSAL OF PROTOCOL TO EVALUATION OF APRAXIA OF SPEECH

Fernanda Chapchap Martins *


Karin Zazo Ortiz **

* Fonoaudióloga. Mestranda em Distúrbios da Comunicação Humana pela


Universidade Federal de São Paulo.
** Fonoaudióloga. Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela
UNIFESP-EPM. Docente da Disciplina de Distúrbios da Comunicação Humana da
UNIFESP-EPM.

O trabalho foi realizado no Departamento de Fonoaudiologia da


Universidade Federal de São Paulo.

Fernanda Chapchap Martins


Av. Moaci, 780, apto 72.
Moema, São Paulo/SP
CEP: 04083-002
Email: fechap@hotmail.com

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar um protocolo de avaliação


capaz de diagnosticar a apraxia de fala em qualquer indivíduo que tenha sofrido
uma lesão cerebral; mesmo que esta esteja inserida num quadro afásico ou
disártrico. Para elaborar este protocolo, foram compilados quatro testes
destinados a avaliar desordens na programação motora da fala, e destes, foram
escolhidas e adaptadas as tarefas que julgamos melhores para a identificação
deste quadro. O protocolo proposto é dividido em duas partes – a avaliação da
apraxia não-verbal e a avaliação da apraxia verbal. A primeira parte é composta
por 20 itens, englobando movimentos isolados e em seqüência dos órgãos
fonoarticulatórios. A parte que avalia a apraxia verbal contém diferentes tipos de
provas destinadas a caracterizar a fala do indivíduo. São elas: a repetição de
palavras e frases, a fala automática e espontânea e a leitura em voz alta. As
análises qualitativa e quantitativa dos erros encontrados permitem o diagnóstico
adequado de um quadro apráxico, além de direcionar o processo terapêutico. Uma
vez que este protocolo foi composto por tarefas que são tidas na literatura
internacional como padrão para a avaliação de pacientes apráxicos, pode-se
concluir que o instrumento de avaliação produzido neste trabalho é capaz de
diagnosticar com precisão um quadro de apraxia de fala.

Palavras-chave: transtornos da articulação, apraxia, avaliação

ABSTRACT

This study aims to propose a protocol for evaluation of apraxia of speech in


pacients with cerebral lesion; even those subjects who present aphasic or dysartric
impairments. To elaborate this protocol, four tests destined to assess motor
speech programming disorders were considered. The proposed protocol is divided
in two parts – assessment of nonverbal apraxia and assessment of verbal apraxia.
The first one is composed of 20 itens, including isolate and sequencial orofacial
movements. To assess verbal apraxia diferent types of tests destined to
characterize the speech were proposed: words and sentences repetition, automatic
and spontaneous speech and oral reading. Since this protocol had been created
from other protocols considered standard to assess apraxic pacients by
internacional literature, it can be concluded that the assessment implement
produced in the present study is able to diagnose apraxia of speech precisely.

Key words: articulation disorders, apraxia, assessment

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INTRODUÇÃO

Frederic L. Darley e colaboradores, em 1975, definiram a apraxia de fala

como uma desordem da articulação que resulta da perda, causada por uma lesão

cerebral, da capacidade de organizar os movimentos necessários às produções

espontâneas de fonemas ou de seqüências de fonemas. Porém, esta não é

acompanhada por fraqueza ou lentidão significantes, ou incoordenação desses

músculos aos movimentos reflexos ou automáticos.

A apraxia de fala começou a ser investigada como uma desordem distinta

da afasia, principalmente, a partir de 1969 (Rosenbek, 1984). Até então, a apraxia

era considerada uma das manifestações esperadas dentro de um quadro afásico,

porém as pesquisas demonstraram que mesmo um indivíduo não afásico poderia

apresentar alguma alteração na programação da fala. Em 1978, Mateer observou

em seu estudo, que alguns indivíduos sem alterações de linguagem não foram

capazes de realizar séries de movimentos orais não verbais. Diversos autores

como Darley et al. (1975), Rosenbek (1984), Kitselman (1985), Emerick (1986),

Rodrigues (1989) e Freed (2000) também pontuam as diferenças entre afasia e

apraxia, afirmando que estas desordens podem ou não se manifestar

concomitantemente; além de distinguirem a apraxia da disartria.

As condições etiológicas desta desordem da fala incluem os acidentes

vasculares encefálicos, doenças degenerativas, traumas e tumores, desde que

estas lesões centrais se localizem em áreas responsáveis pela seqüencialização

dos comandos motores da fala (Freed, 2000). Estas áreas processam, integram e

fornecem informações lingüísticas a serem faladas, incluindo os fonemas

necessários para uma seqüencialização correta. Assim, elas transmitem a


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mensagem, em uma determinada seqüência de impulsos neuronais, aos músculos

apropriados, que irão se contrair no tempo e momento adequados para a fala

(Darley et al., 1975 e Freed, 2000).

Durante a avaliação, para o diagnóstico correto da apraxia de fala, o

examinador necessita investigar algumas características presentes no paciente,

que são específicas de um quadro apráxico; são elas: maior dificuldade para

produzir movimentos ou fala sob comando, ou seja, voluntariamente, que

movimentos ou fala automáticos (Darley et al., 1975; Emerick, 1986; Rodrigues,

1989 e Freed, 2000); os erros são imprevisíveis e inconsistentes; maior

probabilidade de erros nas palavras mais extensas e com maior carga gramatical

dentro de uma sentença (Darley et al, 1975; Kitselman, 1985; Emerick, 1986 e

Freed, 2000); erros de substituição de fonemas (Darley et al., 1975; Rosenbek,

1984; Canter et al, 1985; Emerick, 1986 e Freed, 2000); perseverações,

antecipações, transposições, adições ou inclusões de fonemas (Darley et al, 1975;

Emerick, 1986 e Freed, 2000); alteração de prosódia – pausas, hesitações, fala

lentificada, equalização da tonicidade (Darley et al., 1975; Canter et al, 1985;

Kitselman, 1985; Freed, 2000 e Howard et al., 2000); maiores erros nas palavras

menos freqüentes na língua falada; presença de movimentos faciais associados a

movimentos articulatórios e os erros se intensificam conforme a complexidade do

ajuste motor necessário para produzir determinado fonema, assim, as vogais se

tornam os sons mais fáceis, seguidos das consoantes e por último os grupos

consonantais (Darley et al, 1975 e Freed, 2000).

Na maioria das vezes, a apraxia de fala se manifesta juntamente com um

quadro afásico, podendo assim contribuir para o déficit emissivo do paciente.

Como a incidência de quadros puramente apráxicos em indivíduos lesionados é

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baixa, o instrumento utilizado para avaliar e diagnosticar esta desordem do

planejamento motor deverá ser capaz de identificar e pontuar apenas estas

características descritas acima, mesmo que o paciente apresente uma disartria ou

uma afasia. Isto é, as falhas apresentadas pelo paciente nos resultados, causadas

pelas dificuldades de linguagem ou pela diminuição da força ou lentidão muscular,

não poderão influenciar no diagnóstico da apraxia.

Assim, o objetivo deste trabalho foi elaborar um protocolo para a avaliação

da apraxia de fala para indivíduos que sofreram lesão cerebral. Este protocolo

inclui diversas tarefas e seus resultados seguem uma escala gradual de

respostas.

A avaliação através de um instrumento objetivo permite a obtenção de

dados quantitativos que favorecem a comparação entre desempenhos de

diferentes pacientes, além de possibilitar a comparação de quadro de um mesmo

paciente antes e depois de um processo terapêutico. Isto é, o protocolo pode

auxiliar no direcionamento da terapia, enfatizando as reais dificuldades práxicas

do indivíduo.

MATERIAL E MÉTODO

Para alcançar o formato final do protocolo, foram compiladas 4 avaliações

destinadas a diagnosticar a apraxia de fala; as quais foram elaboradas pelos

seguintes autores: Darley et al.(1975), Emerick (1986), Rodrigues (1989) e Freed

(2000). Devido ao fato de 3 dos 4 protocolos estarem publicados na língua inglesa,

as palavras utilizadas nestes testes sofreram algumas adaptações. A simples

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tradução, do inglês para o português, não permitiria uma avaliação precisa de

certas características existentes na fala do paciente apráxico falante do português.

Assim, levou-se em consideração algumas variáveis que influenciam no

desempenho do paciente. Como já foi citado anteriormente, os erros cometidos

pelos apráxicos são mais facilmente eliciados nas seguintes situações: palavras

compostas por fonemas menos freqüentes na língua falada (Darley et al., 1975 e

Freed, 2000), palavras mais extensas ou com grupos consonantais (Darley et al.,

1975; Kitselman, 1985; Emerick, 1986 e Freed, 2000), palavras com fonemas

fricativos e que contém fonemas com distantes pontos articulatórios, isto é, por

exemplo, a produção da palavra sapo é mais difícil do que a palavra papo (Freed,

2000). Diante disto, as palavras que fizeram parte do protocolo proposto neste

trabalho obedeceram as variáveis citadas acima.

Para elaborar a avaliação da apraxia não-verbal, foram incluídos os itens

que mais apareciam nos protocolos pesquisados. Além disso, os movimentos

cujos comandos verbais seriam muito complexos foram descartados. Como a

avaliação proposta neste trabalho destina-se a todos os indivíduos lesados,

inclusive os afásicos, a presença de ordens verbais mais complexas poderia

alterar o desempenho destes indivíduos nos casos de desordem de compreensão

oral associada.

RESULTADOS

Para iniciar o protocolo, alguns dados de identificação do paciente deverão

ser interrogados, como nome, idade, data de nascimento, telefone, profissão,

escolaridade, data da lesão cerebral, causa local e extensão da lesão. Estas

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últimas informações podem ajudar na caracterização do quadro, além de

colaborarem no parecer sobre o prognóstico do paciente.

O protocolo elaborado está dividido em duas partes: apraxia não-verbal e

apraxia verbal. Primeiramente, será abordada a avaliação da apraxia não-verbal.

Esta avaliação é basicamente composta por movimentos isolados e em

seqüência, os quais o paciente deverá executar através de um comando verbal.

No quadro abaixo estão listados os itens que pertencem à avaliação da

apraxia não-verbal.

1- Mostrar os dentes 11- Tossir

2- Mostrar o sorriso 12- Inflar as bochechas

3- Protruir a língua 13- Lateralizar a língua

4- Assoprar 14- Elevar e abaixar a língua

5- Elevar a língua 15- Mandar um beijo

6- Morder o lábio inferior 16- Alternar bico e sorriso

7- Pigarrear 17- Lateralizar a mandíbula

8- Abaixar a língua 18- Passar a língua nos lábios

9- Protruir e retrair a língua 19- Estalar a língua

10- Fazer um bico 20- Lateralizar e elevar a língua

O paciente deverá realizar o movimento requisitado pelo examinador. Se

apenas com o comando verbal o paciente não for capaz de executar

corretamente, o movimento deverá ser demonstrado a fim de facilitar a

performance do paciente através de uma pista visual.

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O desempenho do paciente em cada item será classificado de acordo com

a seguinte escala gradual de respostas:

PONTUAÇÂO:
5 pontos – correto e imediato, sem hesitação
4 pontos – correto após algumas tentativas
3 pontos – diminuição de amplitude, adequação e velocidade de movimento
2 pontos – resposta parcial
1 pontos – incorreto após tentativas
0 pontos – incorreto ou sem resposta

Nesta escala apresentada, a resposta parcial é aplicada nas situações em

que o paciente, por exemplo, no item 20, apenas lateraliza a língua; ou seja,

quando o paciente não realiza o movimento solicitado por completo.

Se a resposta do paciente foi eliciada somente sob o comando verbal do

examinador, deve-se acrescentar 5 pontos no item em questão. Assim, o total

máximo de pontos que o paciente poderá chegar será 200 (10 pontos х 20 itens).

Os pacientes que alcançarem entre 160 e 200 pontos são considerados normais,

os que alcançarem entre 80 e 159 e entre 40 e 79 são considerados,

respectivamente, apráxicos não-verbais leves e moderados e os que não

ultrapassarem 39 pontos são considerados apráxicos graves.

Quanto à avaliação da apraxia verbal, esta tem como objetivo analisar o

desempenho do paciente diante diferentes tipos de produções orais como

repetição de palavras e frases, automatismos, fala espontânea e leitura.

Na prova de repetição de palavras, o paciente deverá repetir os seguintes

estímulos:

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- sapeca - Revolução Industrial

- conferência - Branca de Neve e os Sete Anões

- Taubaté - sapo / sapato/ sapateiro

- drenagem - pedra / pedreiro / pedregulho

- Americana - fã / família / fantástico

- quitandeiro - clã / classe / clássico / classificados

- condomínio - rio / riso / ridículo / ribanceira

- mimo - pipa

- Jorge - dedo

- bebê - Xuxa

A prova de repetição de frases contém as seguintes sentenças listadas

abaixo:

1) A garota bonita está dançando.

2) Ontem dei um brinco de presente.

3) O estranho andou ao longo da estrada.

4) O banqueiro saiu à noite para comer.

Na avaliação dos automatismos, o paciente deverá produzir as seguintes

séries automáticas:

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- Contar de 1 a 20

- Dizer os meses do ano

Na avaliação da fala espontânea, o paciente deverá descrever o que está

acontecendo na figura de um determinado cartão temático. A fala deverá ser

transcrita pelo examinador e analisada quanto aos tipos e quantidade de erros

articulatórios cometidos. Deverão ser descartados erros de linguagem como

agramatismos, anomias, parafasias semânticas entre outros erros que não fazem

parte da fala de um indivíduo apráxico.

A leitura em voz alta é composta pelas seguintes palavras isoladas e frases:

- pão - zebra - caderno - telefone - negociante

- gol - dama - janela - porcelana - felicidade

- mel - veloz - semente - motorista - borboleta

- O seu time de futebol ganhou no domingo.

- A festa de casamento da sua mãe foi inesquecível.

O avaliador deverá assinalar no quadro correspondente o número e os tipos

de erros cometidos durante todas as provas da avaliação da apraxia verbal:

adição – A (gol  gole), substituição – S (sapeca  tapeca), repetição – R (dama

 dadama) e metátese – M (telefone  telenofe).

provaerro A S R M
Rep.palavras
Rep. frases
Automatismo
Leitura

1
DISCUSSÃO

Como já foi citado anteriormente, as provas foram elaboradas a partir de

determinados aspectos, que permitiriam uma avaliação confiável e objetiva para

alcançar um diagnóstico preciso.

Como os erros articulatórios aumentam com a complexidade da

programação motora necessária para realizar os movimentos da fala (Darley et al.,

1975 e Freed, 2000), os itens pertencentes à avaliação da apraxia não-verbal

estão seguindo esta “hierarquia”. Ou seja, a avaliação se inicia com a execução de

movimentos mais simples e, ao longo dos itens, os movimentos vão se tornando

mais complexos, exigindo uma programação motora da fala mais refinada.

Analisando as respostas dos pacientes, pode-se chegar ao nível de apraxia não-

verbal apresentado por eles. Se o paciente encontra dificuldade para executar os

primeiros comandos, conclui-se que sua apraxia é grave. Da mesma forma que se

ele apresentar uma apraxia não-verbal leve, apresentará uma maior dificuldade

para realizar os últimos itens da prova.

Considerando que o grau da apraxia é estabelecido de acordo com a

quantidade de erros presente na fala do apráxico (Freed, 2000) e que os erros

aumentam de acordo com a complexidade motora necessária (Darley et al., 1975

e Freed, 2000), a escala de pontos para classificar o grau da apraxia foi elaborada

a partir dos tipos e quantidade de erros cometidos. A partir daí, o indivíduo é

considerado normal se for capaz de realizar o movimento correto sem

demonstração visual. E, seguindo a complexidade dos exercícios, o paciente pode

ser avaliado como tendo uma apraxia leve, moderada ou grave.

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Em 1989, Kimura et al sugeriram que a execução de movimentos orais

isolados é controlada por um sistema diferente do que controla a execução de

movimentos seqüencializados. Além disso, afirmaram que a complexidade do

movimento não faz parte de diferentes níveis de um mesmo sistema, porém

admitem que uma falha no sistema responsável pela realização dos movimentos

individuais limita a capacidade de realização de movimentos seqüencializados e

que o sistema necessário para organizar diferentes movimentos em uma

determinada seqüência é dispensável na performance de movimentos isolados.

Sendo assim, o indivíduo que não realiza os movimentos mais simples é

incapaz de realizar os mais complexos (quadros mais graves), contudo o indivíduo

que possa ter uma falha no sistema responsável pela seqüencialização

organizada dos movimentos pode ser capaz de executar um movimento mais

simples adequadamente (quadros mais leves).

Quanto às provas responsáveis pela avaliação da apraxia verbal, seus

estímulos foram cuidadosamente elaborados seguindo determinados critérios já

citados anteriormente. Para analisar as respostas obtidas pelos pacientes, uma

observação quantitativa e qualitativa dos erros cometidos é fundamental.

Primeiramente, uma análise detalhada dos erros encontrados em cada

prova separadamente irá permitir um perfil do paciente (leve, moderado, grave).

Deste modo, a identificação da quantidade e dos tipos de erros (substituição,

adição, repetição e metástase) se torna necessária. Neste momento, o avaliador

deverá ser cuidadoso ao selecionar quando a resposta dada é considerada erro

ou não. Algumas manifestações afásicas podem interferir nas respostas

fornecidas pelo paciente. Assim, o avaliador deverá descartar os erros de

1
linguagem como as anomias, o agramatismo, as parafasias semânticas, os

neologismos e, principalmente, as parafasias fonêmicas.

Em 1985, Canter et al. avaliaram 20 sujeitos, 10 com apraxia de fala, 5 com

afasia de Wernicke e 5 com afasia de condução. Neste estudo, eles observaram

que ambos os grupos (os apráxicos e os somente afásicos) apresentaram erros de

substituição de fonemas nas provas de repetição e fala espontânea. Apesar do

tipo do erro ser comum entre os dois grupos, algumas diferenças encontradas

foram capazes de distinguir um erro apráxico de uma parafasia fonêmica. Os

apráxicos apresentaram maior dificuldade com as consoantes localizadas no início

da palavra do que com as consoantes localizadas no final. Além disso, eles

observaram que a complexidade articulatória é mais influente nos apráxicos e a

presença de hesitação na fala destes pacientes é bastante evidente. Os autores

justificam este aspecto afirmando que os erros de substituição dos apráxicos

acontecem devido à tentativa de produzir o fonema já selecionado

adequadamente e não devido a uma falha na seleção e busca fonológica.

Um protocolo para a avaliação da apraxia deve permitir a identificação

correta dos tipos de erros cometidos. Esta verificação irá auxiliar na programação

do processo terapêutico. Segundo Wertz et al. (1981), o tratamento eficaz da

apraxia de fala requer exercícios que utilizem estímulos previamente selecionados

de acordo com as dificuldades individuais de cada paciente.

Após se considerar os erros em todas as tarefas do protocolo (repetição,

leitura, fala espontânea e automática), será realizada uma comparação entre as

performances do indivíduo em cada tipo de teste.

Na prova de repetição, os itens contêm seqüências de palavras; desde

monossílabas a polissílabas. Isto porque a freqüência dos erros apráxicos

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aumenta com o aumento da extensão da palavra (Darley et al., 1975; Kitselman,

1985; Emerick, 1986 e Freed, 2000). Além disto, a prova também consiste de

palavras dissílabas que apresentam o mesmo fonema inicial de cada sílaba, por

exemplo: dedo, pipa. Segundo Freed (2000), o paciente articula com mais

precisão este tipo de palavra do que palavras com fonemas de diferentes pontos

articulatórios, em que a programação motora necessária é mais complexa. Na

repetição de sentenças, se espera este mesmo tipo de erro nas palavras mais

extensas e, além disto, os apráxicos apresentam maior número de erros nas

palavras mais carregadas no seu conteúdo lingüístico, como os adjetivos, os

verbos e os substantivos (Darley et al., 1975 e Dunlop, 1977). Pode-se então

acreditar que os apráxicos menos comprometidos serão capazes de repetir as

palavras que possuem o mesmo fonema no início de cada sílaba e as palavras

menos extensas.

Na prova em que o paciente deverá falar alguns automatismos, como

contar até dez e dizer os meses do ano, será encontrado um desempenho melhor

do que nas demais provas do protocolo. Apesar do individuo apráxico apresentar

inadequação da velocidade de fala e imprecisão fonoarticulatória, estas

manifestações não aparecem em movimentos automáticos como tossir, engolir ou

mastigar e, na fala automática podem também não aparecer ou estarem presentes

em menor grau (Darley et al., 1975 e Freed, 2000).

Na prova de leitura em voz alta, a característica mais evidente é a alteração

da prosódia. Os pacientes tentam evitar os erros de articulação através de uma

cuidadosa programação dos movimentos musculares, assim, eles lentificam a fala,

tornando a entonação monótona. Seguindo o mesmo raciocínio utilizado para

analisar os erros cometidos na prova de repetição de sentenças, na prova de

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leitura também há a influencia do valor lingüístico de cada palavra lida, além de

sua extensão. Segundo Dunlop (1977), a combinação da extensão da palavra com

a sua importância gramatical tem sido considerada um importante determinante

para eliciar erros.

Na avaliação da fala espontânea será apresentada ao paciente uma figura,

e ele deverá descrevê-la. O apoio de uma pista visual (o desenho) irá facilitar a

programação motora do paciente como na prova de leitura, mas seu desempenho

não será melhor que o encontrado na prova de automatismos, já que a fala

automática no apráxico é mais fácil para a programação que a voluntária (Darley

et al., 1975; Emerick, 1986; Rodrigues, 1989 e Freed, 2000).

CONCLUSÃO

Tomando-se por base que as provas propostas neste protocolo foram

compiladas e adaptadas de instrumentos eficazes para a avaliação da apraxia e

que todas as manifestações dos distúrbios práxicos orofaciais e verbais foram

considerados na elaboração desta avaliação, pode-se concluir que o protocolo

proposto neste estudo é capaz de diagnosticar a apraxia de fala nos indivíduos

que sofreram lesão cerebral.

A partir deste modelo de avaliação, esperamos que os indivíduos que

apresentem a desordem da programação motora da fala obtenham um diagnóstico

mais preciso e, posteriormente, uma reabilitação mais objetiva e eficaz.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DARLEY F.L.; ARONSON A.E.; BROWN J.R. Motor Speech Disorders.


Philadelphia: W. B. Saunders, 1975.

2. ROSENBEK J.C. Advences in the Evaluation and Treatment of Speech


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Hemisfere Damage: A Followup Analysis os Errors. Brain and Language. 6, 334-
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4. KITSELMAN K.P. Assessment of Aphasia: A Speech Pathology


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6. RODRIGUES N. As Apraxias e a Apraxia Motora de Órgãos


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1989. p 99-120.

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Diego: Singular Publishing Group, 2000. 323 p.

8. CANTER G.J.; TROST J.E.; BURNS M.S. Contrasting Speech Patterns in


Apraxia of Speech and Phonemic Paraphasia. Brain and Language. 24, 204-222,
1985.

9. HOWARD L.A.; BINKS M.G.; MOORE A.P.; PLAYFER J.R. The


Contribution of Apraxia of Speech to Working Memory Deficits in Parkinson’s
Disease. Brain and Language. 74, 269-288, 2000.

10. KIMURA D.; WATSON N. The Relation between Oral Movements


Control and Speech. Brain and Language. 37, 565-590, 1989.

11. WERTZ R.T.; LAPOINT L.L.; ROSENBEK J.C. Apraxia of Speech in


Adults: the disorder and it management. San Diego: Singular, 1981.

12. DUNLOP J.M.; MARQUARDT T.P. Linguistic and Aritculatory Aspects of


Single Word Production in Apraxia of Speech. Cortex. 13, 17-29, 1977.

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Anexo 1

Protocolo de Avaliação da Apraxia de Fala verbal e não-verbal

Identificação:
Nome: Data da Avaliação:
Idade: Data de Nascimento:
Telefone:
Escolaridade: Profissão:
Lesão (data, local, tipo):

AVALIAÇÃO DA APRAXIA NÃO-VERBAL

1- Mostrar os dentes 11- Tossir

2- Mostrar o sorriso 12- Inflar as bochechas

3- Protruir a língua 13- Lateralizar a língua

4- Assoprar 14- Elevar e abaixar a língua

5- Elevar a língua 15- Mandar um beijo

6- Morder o lábio inferior 16- Alternar bico e sorriso

7- Pigarrear 17- Lateralizar a mandíbula

8- Abaixar a língua 18- Passar a língua nos lábios

9- Protruir e retrair a língua 19- Estalar a língua

10- Fazer um bico 20- Lateralizar e elevar a língua

PONTUAÇÂO: *
5 pontos – correto e imediato, sem hesitação
4 pontos – correto após algumas tentativas
3 pontos – diminuição de amplitude, adequação e velocidade de movimento
2 pontos – resposta parcial
1 pontos – incorreto após tentativas
0 pontos – incorreto ou sem resposta
* mais 5 pontos se não houver demonstração visual
Total de pontos:

1
AVALIAÇÃO DA APRAXIA VERBAL

Repetição de palavras:

- sapeca - Revolução Industrial

- conferência - Branca de Neve e os Sete Anões

- Taubaté - sapo / sapato/ sapateiro

- drenagem - pedra / pedreiro / pedregulho

- Americana - fã / família / fantástico

- quitandeiro - clã / classe / clássico / classificados

- condomínio - rio / riso / ridículo / ribanceira

- mimo - pipa

- Jorge - dedo

- bebê - Xuxa

Repetição de frases:

1) A garota bonita está dançando.

2) Ontem dei um brinco de presente.

3) O estranho andou ao longo da estrada.

4) O banqueiro saiu à noite para comer.

Automatismos:

- Contar de 1 a 20

- Dizer os meses do ano

1
Fala Espontânea

Leitura em voz alta:

- pão - zebra - caderno - telefone - negociante

- gol - dama - janela - porcelana - felicidade

- mel - veloz - semente - motorista - borboleta

- O seu time de futebol ganhou no domingo.

- A festa de casamento da sua mãe foi inesquecível.

RESULTADOS:

PROVA \ TIPO ERRO A S R M


Repetição palavras
Repetição frases
Automatismos
Leitura em voz alta

CONCLUSÃO:

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