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Uma História Dos Conceitos (Koselleck)
Uma História Dos Conceitos (Koselleck)
STORIADOS A
CONCEITOS:*
problemas teóricos e práticos
Reinhart Koselleck
ReinJrarl Koselleck nasceu em Gor/ia IUJ referi nesta conferencia deixar de lado
Alemanha, em 23 tk abril tk 1923. Douwr os problemas de ordem metodológi
em 1954, leve sua le'" publicada em 1959,
ca/prática relativos a uma história dos con
com o título Kritik und Krise (/Iá traduções
para o francês e o italiano). Seu campo de ceitos, pois do contrário estaria me repetin
investigação diz respeito à teoria da hisLÓria e do, já que há cerca de trinta anos venho me
a aspectos da história moderna e ocupando desta problemática. Seria cansa
contemporânea. Foi professor nas tiva a repetição do já conhecido. Optei pela
universidades tk Bocluun (1966), lIeidelberg
abordagem das questões de natureza teóri
(a parlir tk 1968) e Bie/efeld (tk 1973 até
hoje). E aulor tk Presussen zwischen Reforrn ca, que certamente têm a ver com esse meu
•
Nota: Esta palestra roi transcrita, lraduz.ida e editada por Maooel Luis Salgado Guimarães.
e que portanto pode ter uma história. Pala para a qual um certo !trau de teoriza
vras como oh!, ah!, und (e) etc., são pala ção/abstração se faz necessário.
vras que não comportariam prima facie Aqui é preciso distinguir o universo das
uma história do conceito (seriam desprovi- línguas latinas, que possuem a forma subs
das de sentido). E preciso estabelecer a
•
mesma forma como se faz em Saint Cloud, mação de palavras pode ser derivada do
na Califórnia ou em Chicago, entendendo conjunto mais amplo de palavras à dispo
se texto/contexto na sua acepção mais re sição nesta língua.
duzida; o parágrafo no conjunto de um Podemos assumir que a língua (Spra
texto maior. Eu mesmo fiz um teste em chhaushalt) pode ser pensada corno ele
relação ao termo crise, indagando nos tex mento importante na compreensão e enten
tos clássicos franceses a rmazenados em dimento do uso de certos conceitos e não de
computador acerca do contexto em que o outros para a inteligibilidade de realidades
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tenno surgia num dado período de tempo. históricas. Assim procedendo estamos
Dez minutos depois a resposta vinha, e construindo uma cadeia, através do conjun
contexto significava uma frase anterior e to da língua, que articula u m conceito a
uma frase posterior à localização do termo outro. Através desse procedimento pode
solicitado. Ainda que seja de utilidade esse mos constatar, por exemplo, estreita articu
tipo de locali7ação, ela não dispensa o re lação dos conceitos de Estado e Sociedade,
curso às bibliotecas no sentido da melhor articulação hoje esquecida, posto que a par
contextualização, incapaz de ser realizada tir de Hegel esses dois conceitos foram
pelo computador. Um desdobramento lógi pensados separadame nte. Podemos ainda
co desse p roced imento exige necessaria nuançar e separar conceitos tornando pos
mente a contextualização dos termos em síveis de serem ditos e expressos conteúdos
unidades maiores, num conjunto de textos, que não t inham expressão.
por exemplo, como livros, panfletos ou ma A história dos conceitos pode ser pen
nifestos' cartas, jornais etc. Por sua vez, sada a partir de um procedimento metodo
esse texto maior, no qual o tenno se insere, lógico que poderíamos chamar de Seleção
articula-se a um contexto ainda mais am (Ausgrenzung) daquilo que diz respeito a
pliado para além do próprio texto escrito ou um conceito daquilo que não diz respeito,
falado. O que significa dizer que todo con o que pode vir a ser realizado, em grande
ceito está imbricado em um emaranhado de parte, pela análise mesma da língua. No
perguntas e respostas, textos/contextos. caso da antítese entre Estado e Sociedade,
Esse procedimento metodológico nada realizada teoricamente, ainda que ernpiri
tem de novo em relação aos tradicionais camente possa ser questionada, pode ficar
métodos histórico-filológicos de trabalho. claro esse procedimento de nuançar e dife
Temos de ir adiante, avançando teorica renciar próprio da história dos conceitos.
mente um pouco na esteira do trabalho que Poder-se-ia aclarar esta disOlssão atra
Diderot já fizera em relação à Enciclopé vés da utilização da metáfora do fotógrafo.
dia, em que a língua francesa é posta como Para tirar uma fotografia posso ajustar mi
condição última de possibilidade para a nha máquina de acordo com a distância do
formulação de certos conceitos. Assim, objeto a ser fotografado: a perspectiva (se
além de investigar que conceitos foram de mais perto ou de mais longe) vai me
formulados na língua francesa, temos de obrigar a um foco diferente. Assim, tanto
interrogar acerca das possibilidades de for poderei proced er à análise dos conceitos a
mulação conceitual efetivamente passíveis partir de um método que privilegiará textos
de serem deduzíveis do léxico da língua comparáveis, quanto poderei proceder me
francesa. Em que medida, portanto, um todologicamente expandindo minha análi
certo léxico próprio à língua francesa via se ao conjunto da língua. Entre esses dois
bilizaria ou não certas formulações concei procedimentos haveria ainda fonuas inter
tuais. Numa concepção um tanto estática mediárias. O objeto se mantém o mesmo, e
da língua, poder-se-ia pressupor que a for- o que se altera é apenas a perspectiva em
138 I'Sruoos HlSTÓRlCOS-199:1110
relação a ele. Esta seria minha resposta titico de uma cidade..",tado, a expansão do
àqueles que atgUmentam se só seria possí direito de cidadania nos séculos nem para
vel a realização de alÚlises de diSCllrsos. as á reas do mar Mediterrâneo configura um
Esta seria uma das possibilidades, posto quadro de dados históricos empiricamellte
que a história dos oonceitos pe nnanece uma verificáveis bastante diverso daquele que
metódica consistente, com suas fronteiras, ensejara a formulação do conceito original
seuS limites e vantagens, naturalmente. de Aristóteles. Agora o conceito de cidada
Tc.memos nosso quarto ponto, a saber, nia, restrito à experiência histórica de uma
uma afirmação hipotética que posterior única cidade, ganha IIOva conotação, pas
mente procurarei relativi2llr e que tem a sarvlo a designar cidadãos de um mundo
seguinte fonnulação: todo conceito só pode baSlante ampliado. A palavra pode perma
enquanto tal ser pensado e falado/expressa oecer a mesma (a tradução do conceito),110
do uma única vez. O que signi fica dizer que entanto o conteúdo por ela designado alte
sua fonnulação teórica/abstrata relaciona raojlC substancialmente. O que portanto é
se a uma situação concreta que é única. Essa uma societas civilis depende do momento
tese, defendida no seio dos historiadores da em que o tenno é empregado, se no primei
Época Moderna, custou-me críticas fulmi ro ou quarto século depois de Cristo. Isto
nantes, posto que, segundo argumentavam, significa assumir sua variação temporal,
se cada conceito só pode dizer respeito a por isso mesmo histórica, donde seu caráter
uma única situação específica e concreta a único (eirunalig) articulado ao momento de
qual ele designa, tornando-a pensável e in sua utilização.
teligível, como então pensar uma história A questão irá certamente complexifi
dos conceitos, uma vez que este car.iter car-se quando pensarmos no emprego do
único (Eiumaliqkeit) do uso da língua inva mesmo termo societas civiJis em nossas
lidaria a possibilidade da escrita de uma sociedades modernas. Em sua acepção
história enquanto diacronia. moderna, o emprego do conceito socie/as
Vejamos por exemplo Aristóteles com a civilis é um fenômeno próprio dos rUIS do
sua formulação do conceito de Koinonia século xvm, quando a expressão foi tra
politike,4 posteriormente traduzido como duzida por bürgerliche Gesellsclzaft em
respublica ou também societas civilis. Cer alemão, socié/éciviJe oupolitique em fran
tamente ao fonnular o conceito de Koino cês ou ainda civil society em inglês. O caso
nia politike tinha Aristóteles diante de si, inglês parece apresentar certa especificida
como experiência empírica, a realidade da de, que poderíamos abordar no debate,
polis e de sua comunidade de cidadãos. uma vez que, se do ponto de vista teórico
TInba, portanto, diante de si a realidade marcaria uma utili2llção inovadora do ter
específica e concreta tanto da cidade de mo, enquanto linguagem política traria um
Atenas quanto das outras cidades estado da viés marcadamente conservador.
Grécia. Foi para esses cidadãos que Aristó Tornemos o exemplo alemão, por ser
teles pensou e concebeu sua Política. Com relativamente mais fácil: bargerliche Ge
a tradução do tenno para o latim como sellschaft refereojle a unidades de poder
societas civilis, na forma em que aparece político (Herrscbaftseinbeiten) no interior
em Cícero, altera-se o quadro de experiên das ql1ais os cidadãos de alguma forma
cias históricas que possibili taram a Aristó exercem poder político. Qnais deles têm o
teles a formulação do conceito deKoinonia direito ao exercício do poder político rela
politike. Mesmo que o termo possa ainda cionaojle também com a utilização do con
referirojle à cidadania romana, visto que a ceito. Exemplificando: nas cidades econo
cidade de Roma m3Jltém-se no quadro po- micamente ricas e pujantes, eram os gran-
UMA lDSTÓRIA IX)S OONlElOS 139
culos econômicos mais sofisticados e uma dos/pensados ainda que as palavras empre
preocupação orçamentária. Este foi um gadas possa m ser as mesmas. Este grande
processo que começou a se desenvolver na vôo, de Aristóteles ao século XVIIl, sem
primeira metade do século XVIII e que maiores referências ao que ficou no meio,
lnmi>u pensável um novo conceiln de eco mostra-nos que da mesma palavra um no
nomia, o qual, posteriormente, com Adam vo conceito foi fOljado, e que portanln ele
Smilh, encontraria uma formulação antro é único a partir de uma nova situação his
pol()gicamente fundada e pressuporia a sa tórica que não só engendra essa nova for
tisfação global da lntalidade do Logos a mulação conceitual, como também poderá
partir das necessidades de cada um. Um se lnrnar através dela inteligível. Podemos,
conceito em que a economia para além dos radicalizando esta problemática, sugerir
limites de uma forma política especifica, uma nova questão: os conceitos não pos
seria pensada como estando voltada para suiriam uma história e conseguiriam tomar
suprir as necessidades e aumentar a satis inteligível somente aquilo que se apresen
fação geral dos homens através de condi tasse no seu caráter único e de novidade
ções de produção adequadas à realização (Neuheit). Esta hipótese é um tanto radical,
de tais objetivos. Um conceito em que a e gostaria de contestá-Ia imediatamente.
economia, para além do Estado, é pensada No entanln, parece-me que faz sentido for
como dotada de au tonomia, um fenômeno mulá-Ia, pois a questão pode contribuir
próprio da modernidade. Vemos surgir aí para o debate acerca das dificuldades de se
um novo conceiln de economia. escrever uma história dos conceilns. Tenho
Quando descrevi anteriormente a alte propostas a esse respeito formuladas no
ração do valor conceitual do termo socie decorrer das últimas décadas, que implica
dade civil, seria p reciso relacioná-Ia ao riam obrigatoriamente uma outra Begriffs
esfacelamento da tríade aristotélica (Etica geschichte, com claros desdobramenlns de
Oikos-Politike). A partir desse esfacela ordem metodológica demandando novos
menln posso interpretar a política de forma programas de pesquisa. Ainda que sem
puramente econômica, ou posso interpre condições de desenvolvê-Ias, gostaria de
tar a moral de forma econômica - O que, apresentar essas propostas enquanto su
aliás, freqüentemente aconteceu no século gestões.
XIX. Posso a partir daí desenvolver crité lbmemos o caráter único da utilização
rios ideológicos de crítica (Ideologie Kritik da língua (Sprachhandlung) a partir do
Kriterien) e afirmar que determinadas for Tropos tradicional da pragmática (prag
mas de exercício da política atendem a matik), considerando também um outro
interesses econômicos especificas que lhe aspecto: o da semântica. O que é decisivo
são subjacentes. Estabeleço uma relação é que o uso pragmático da língua é sempre
entre política e economia, medindo uma único. Eu falo uma única vez aqui e agora,
em relação a outra, atitude teoricamente procurando convencê-los do que penso; a
realizável somente a partir do século vocés e não àqueles que não me ouvem.
XVIIl. Este seria um exemplo ilustrativo Trata-se de uma situação característica do
da afirmação - enquanto tese por mim uso pragmático da língua: é uma situação
anteriormente proposta -acerca do caráter única, e neste sentido também irrepetível.
único (EinmaJiqkeit) e particular que con Contudo, tudo o que eu disser só será com
figura o momenln concreln em que um pICensível na medida em que os senhores
conceito é formulado e articulado. A histó conhecerem minha seffiâ ntica, pois sem o
ria dos conceitos mostra que novos concei conhecimento prévio do significado das
tos, articulados a conteúdos, são produzi- palavras que utilizo, nada será compreell-
UMA msTóRIA[X)S CONCElIOO 141
pre exemplos morais para os homens. Re tempo significa o relato, o pensamento, o
pentinamente o conceito ganha uma acep falar sobre esta história, enquanto campo
ção singular, que pode ser acompanhada empírico. Tomou-se assim um conceito
nos textos. Não pude provar que esta utili transcendental, articulando condições pos
zação singular do conceito fosse uma ati síveis da realidade no ato do pensamento.
tude consciente dos autores. No entanto, Procedimento hegeliano, portanto: o con
após vinte anos desse uso, por volta de ceito de história expressa a convergência
1780, há subitamente crítiOls ao uso singu entre sujeito e objeto. Hegel pensou a Ges
lar do conceito de história, e a novidade eiliclrLe desta forma, posto que o conceito
nessa utilização no singular do conceito de já fora assim concebido, fenômeno lingüís
história, possível de ser fonnulado, estava tico constatável entre 1770-1780. Neste
em que não se tratava mais de um conceito sentido a filosofia transcendental alemã ar
que se reportasse a uma clara relação su ticula-se a esta concepção de história, que
jeit% bjeto. "A história ensi.-1", e com esta no Ocidente não é assim fonDulada, ainda
nova afinoação estava claro aquilo a ela que posterionnente seja também assumida.
subjacente: a história do Papado, da Igreja, Por exemplo, Napoleão sentia-se responsá
de moa batalha, enfim, a história de alguma vel frente à história, não apenas frente àque
coisa ou de alguém (portanto histórias) les que escreviam sobre a história, mas
ensinava a alguém o que acontecera. também frenteà história enquanto sucessão
A conseqüência lógica desta acepção contúlUa de atos encadeados em direção ao
particular do conceito de história - conce futuro. Esta mesma postura assumiu Hitler,
bida sempre no plural-vigente até o século o que em ambos os casos pressupõe uma
XVIII era de que, ao se traL1r da história de concepção de história como unidadé abs
um país (por exemplo da história da Ingla trnta que se prolonga em direção ao futuro,
terra), subentendia-se na verdade a história onde se torna pensável e realizável, como
das histórias desse país (relatos, descrições procedimento teleológico. Mas como pode
etc.). Thdo se transfonoa quando passo a ser alguém responsável frente à história?
falar de história simplesmente e no singular Pode-se ser responsável frente a outros ho
de uma fonDulação conceitual altamente mens, não frente a uma unidade abstrata
abstrata e teorizada, que transfonna a his como a história. Resumindo, o conceito foi
tória em seu próprio sujeito e também seu fonnulado, e minha tese é de que a diaciO
próprio objeto. E este conceito altamente nia está contida na sincronia: quando se
elaborado abstratamente, em oposição à fonDulou o conceito de história como um
natureza, possui na língua alemã uma traje coletivo transcendental singular, definiu-se
tória só aí perceptível no quadro europeu. um conceito de história, mna concepção de
Ingleses, franceses, nlssos, italianos, todos história, vigente desde mais ou menos 1780
mantêm o tenno história (Historie), pren até hoje. Tomemos por exemplo as falas do
dendo.,;e portanto à idéia do relato da res chanceler alemão Helmut Kohl, com seus
[aetecom a separação analítica radical entre apelosà história, por cujos desdobramentos
pe,\S3r, escrever, falar sobre aquilo que é ele também se sente responsável - o que
feito, sobre aquilo que é pensado. O concei aliás não é totalmente errado se pensannos
to de Geseilicilre (história), falando franca em temlOS da sua efetividade política, mas
mente, articula tantos sentidos em si, que é analitica mente pouco fundado se pensar
para efeitos analíticos não deveria ser utili mos a afiffi13ção em tennos científicos. Há
zado. Pois que o conceito indica num pri portanto uma diaaorua a impregnar o uso
meiro momento a soma de tooas as histórias lingüístico do conceito de história em ale-
UMA HlSTÓRlADOS (X)NCEJlOS 143
anos,9 uma guena cujas batalhas desenvol do com relação ao trnbalbo empírico.
viam-se tanto no Canadá quando na índia Em primeiro lugar, existem as fontes
uma guena com dimensões mundiais. As pnSprias da linguagem do cotidiano, que ÍIO
decisões políticas a serem tomadas pelo seu uso são únicas por princípio. Quando
Estado pmssiano demandavam o controle escrevo uma carta contendo uma informa
sobre o desenrolar das lutas no Canadá ou ção, por exemplo "quebrei o pé", trata-se da
na índia, ainda que o conhecimento desses informação de um ato único, que não acon
desenvolvimentos não f"",e partilhado pe tece todos os dias, evidentemente. Objetiva
lo soldado - mosqueteiro pmssiano - dire alcançar um único ouvinte. O m",mo pode
tamente envolvido no cotidiano da luta. ser pressuposto parn um texto político, ca
Certamente por trás dessa$ decisões esta mo por exemplo um artigo de jornal, suas
vam interesses econômicos mundiais da maocbetes e editoriais, que se ligam a um
Inglatena e da Frnnça em disputa por áreas dia e fatos espeáficos, e que, passados
coloniais. A história do sucesso e dos even· cinco dias, peroem a força que pn<Sufam no
tos cotidianos da Guena dos 7 anos, parn momento de sua publicação, posto que o
que pudesse ser trnnsmilida em sua articu cotidiano pode superá-los, Em relação à
,
lação com a história dos sucessos e eventos história alemã, no caso recente da unifica
de outras regiões extrn..,uropéias, como o ção, isto pode ser facilmente observado e
Canadá e a lndia, passou por um processo comprovado, demonslrnndo o caráter sin
de abstrnção e agregação de elementos que gular e especifico desses textos. Outros ti
tomou possível, pela via do conceito de pos de fontes com o mesmo caráter seriam
história, em sua acepção a partir do século os manifestos, as petições e requerimentos,
XVIII, a sua compreensão e inteligibilidade ligados à linguagem do cotidiano e que em
como fenômeno histórico. Trnta-se portan termos de volume configurariam uma grnn
to de um conceito altamente sofisticado do de massa documental. Estas seriam fontes
ponto de vista teórico, capaz de articular primárias, que do ponto de vista da sua
144 FSlUOOS lOSTóRlCOS 1992/10
-
Acredito poder tenDinar por aqui, não Estado que realizava de forma centralizada
sem antes esclarecer que uma história dos esta tarefa. O mesmo problema existe parn
conceitos só é possível de ser pensada sob nós, que também usamos os conceitos de
a premissa teórica de que se realize uma fonna ingênua, a partir de uma semântica
separação analítica entre Sp raclrausage e que temos em nossas cabeças como um a
Sachanalyse quando se quer ter cJare71l priori. O mesmo problema, visível de for
acerca do que se fala. A separação analítica ma talvez contundente em relação ao mar
entre cada afirmação lingüística presente xismo, existe portanto para todos aqueles
em todas as fontes textuais e a história que se utili71lm de uma linguagem política
concreta, o que deveria ser ou supostamen ou social e fonnulam-nas conceitualmente
te é, deve ser obrigatoria mente reali71lda de de fonna a dar conta (em tennos de com
forma rigorosa do ponto de vista teórico. preensão) das experiências de vida.
Só então posso perguntaràs fontes textuais
o que elas indiciam em relação à história
concreta e que qualidades possuiriam para
coproduzirem história enquanto textos.
Para exemplificar a importãncia desta se Notas
paração, tomemos os textos de Marx e
Engels que foram canoni71ldos pelos parti 1. o autor rcfere·se ao trabalho do qual é
dos leninistas internacionais. E no momen co-editor, i niciado em 1972, e cujo título é Ges·
to mesmo em que foram canonizados po clrichl/icht: GrundlxgrifTe. flu'lorisdle Le.xikon
dem estes textos alterar os fatos, ainda que zur poliJisch.sozialen Spraclll! in DeulselrlaM.
a linguagem pennaneça a mesma. Eles têm 2. Liga (1488-1534), organizada por ordem
que, a partir da mesma lingu.1gem, realizar de Frcderioo IH rom o intuito de manter a paz e
um proced imento de acomodação da reali que viria a se tomar instrumento de poder dos
J-Iabsburgos. Por ocasião das Guerras Campone.
dade à mesma linguagem. O que significa
sas, o exército da Liga (oi acionado contra os
dizer que cada nova situação está sempre
camponeses rebelados. As contradições internas
submetidaà necessidade imperiosa de sub
dos membros da Liga, assi m como as sllcessivas
sumir-se à mesma linguagem, ao mesmo Guems de Religião, terminaram {Xlr levar à sua
conjunto ortodoxo de conceitos e catego desagregação.
rias. Foi uma tarefa extremamente cansa 3. A importância ronferida pelo autor à i nves
tiva, tanto para os mssos quanto paIa o ligação da relação entre U nguagem/Língua e
comunismo da Europa Oriental. Isto por História expressa-se no trabalho realizado em
que as definições lingüísticas ortodoxas, co-edição Spradle und Gesdlielue (Língua e
extremamente rígidas, mostravam-se pou História).
co elásticas para a interpretação do mate 4. Aristóteles, A polírica, \jvro I, t ( 1 252 A)
rial empírico, da novidade, de fonna a (Paris, Belles I...o.!Ures, 1968).
concebê-Ia conceitualmente. Quando sur 5. Tcata·se do historiador alemâo Heinrich
giu o fascismo, não previsto nesta lingua von Treits"hke (1834-1896). Adepto em sua ju
gem ortodoxa, ela só poderia ser interpre ventude da Revol ução de 1848 e (e rrenho adver·
00-
Gonrried Wilhelm l.eibniz (1646-1716), Ii-
mcços do século XX. looofo alemão, estudou nas universidades de
6. Abreviação para Soz;alistische EinheiJs Leipzig e Jena, doutorando-se em 1667 em Alts
portei Deu/schumds (partido da Unidade Socia dorf. A serviço de alguns principes eleitores
lista da Nemanha). fruto da união dos dois dedicou-se à filosofia e ao direito e à defesa de
partidos ligados à classe operária, o SPD (parti um Estado racional concebido em termos deuma
do Social Democrata Nemão) e o KPD (Partido I6respublica OIristiana",
Comunista Alemão), DO Congresso da Unirica
ção realizado em Berlim em 2 1 e 22 de abril de 9. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763), foi
1946. Tomou-se o partido dirigente na ex-Repú uma guerra de dimensões globais. cujo Cinal