Você está na página 1de 3
‘rinar2022 19:20 Manifesto -EcitoraIpéamarelo Inicio (https://editoraipeamarelo.com.br/) > Manifesto (https://editoraipeamarelo.com.br:443/calunga-a-poetica-da-transformacao/) Manifesto Calunga: a poética da transformagao CHyNGA movimento. passagem. transito, transformagao. transmutacao. multiplo e némade, em sua travessia por entre mundos, o termo Ca/unga carrega consigo, em qualquer situagao ou lugar onde seja pronunciado, uma multiplicidade de significados. pois bem! vamos as raizes. se recorrermos ao "Novo Dicionério Banto do Brasil’, de Nei Lopes, Calunga aparece como refer€ncia a “cada um dos integrantes da falange de lemanja”. significa, ainda, “boneco pequeno” ou “figuras humanas nos desenhos infantis’. Lopes aponta o termo como sinénimo para “camundongo”, mas pode referir-se também a alguém “de pouca estatura, principalmente por ser aleijado da coluna vertebral”. 0 andar curvado, sugerido por esta descri¢do, pode remeter ao gestual de Pretas e Pretos velhos - espiritos que trazem o arquétipo do negro escravo, Cultuados na Umbanda e em outras religides de matrizes africanas. tal caracteristica étnica é reforcada pelo significado “individuo de cor preta’ hitpsledtoraipeamarelo.com.brcalunga-a-postice-de-transformacaol 18 ‘71042022 19:20 Manifesto ~ Eatoraipbamarelo Nei Lopes localiza as origens de Calunga no “termo multilinguistico banto Kalunga, que encerra a ideia de grandeza, imensidao, designando Deus, o mar, a morte”. num plano mais terreno, o verbete é também pronunciado para nominar “uma arvore cuja raiz é indicada para tratamento de males do estémago” ou “cada uma das duas bonecas que fazem parte do cortejo de maracatu’. © contexto dos maracatus é ampliado por Raul Lody, em seu "Dicionério de Arte Sacra & Técnicas Afro-brasileiras’. para este pesquisador, Calunga seria uma boneca, “simbolo dos deuses patronos dos maracatus de naco, de Xangé, africano, de baque-virado ou de zabumba’, que, explica ele, séo grupos urbanos que desfilam durante o carnaval nas ruas de Recife, as margens do Rio Capibaribe. Lody descreve a Calunga com riqueza de detalhes: “tradicionalmente uma boneca de madeira, pintada de preto, embora ocorram também bonecos”. de acordo com ele, alguns sao articulados, usam perucas de cerdas naturais, vestem roupas nas cores simbélicas dos orixds e portam acessérios em miniatura explorar os variados sentidos do nome Calunga nos leva a exercitar a poética da impermanéncia/transformacao. e a certa altura deste jogo, inevitavelmente chegamos aos locais de passagem, ritos de despedida, transito e travessia entre mundos. na Umbanda e em outras religides afro-brasileiras, Calunga é um termo cotidianamente proferido para referir-se ao mar, Calunga grande, e ao cemitétio, Calunga pequena. tal significado pode ser encontrado no “Diciondrio da Umbanda", de Altair Pinto, no “Diciondrio de Cultos Afro-Brasileiros”, de Olga Gudolle Cacciatore, e, por fim, no “Dicionario de Umbanda", de Ademir Barbosa Junior. certa ocasiao, durante um ritual de Umbanda, perguntei a uma Preta Velha, que se comunicava por meio de sua médium, o significado da palavra Calunga e, além disso, qual seria a ligacdo entre o cemitério (Calunga pequena) e o mar (Calunga grande). apés baforar serenamente o seu cachimbo, a entidade respondeu, sem ceriménias e com muita sabedoria: ~ mas, ora, ndo seria 0 mar um grande cemitério? pense em quantos de nossos antepassados morreram e foram atirados nas éguas durante a travessia, quando vinham, trazidos & forga, nos navios negreiros! hitpsiledtoraipeamarelo.com.bricalunga-a-postice-ds-transformacao/ 20 ‘7rar2022 19:20 Manifesto ~ Eatoraipbamarelo no plano espiritual ou no mundo dos homens. nos céus, em terra firme ou nas ‘guas. nas brincadeiras, na arte ou na religiosidade, Calunga, vocdbulo némade, palavra magica, prossegue. vida afora, tal como nés, sobreviventes e resistentes & diéspora, danga, canta e realiza a sublime alquimia: transmutar a existéncia em negra poesia. André Pinheiro poeta, historiador e jornalista Referéncias: BARBOSA JR, Ademir. Diciondrio de Umbanda. Sao Paulo: Anubis, 2015. CACCIATORE, Olga Gudolle. Diciondrio de Cultos Afro-Brasileiros. Rio de Janeiro: Forense Universitaria, 1988. LODY, Raul. Diciondrio de Arte Sacra & Técnicas Afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2006. LOPES, Nei. Novo Dicionario Banto do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. PINTO, Altair. Diciondrio da Umbanda. Rio de Janeiro: Editora Eco, s/d. Voltar para pagina de inscricéo (http://editoraipeamarelo.com.br/calunga/) Proudly powered by WordPress (https://wordpress.org) | Theme: Quality Orange hitpsiledtoraipeamarelo.com.bricalunga-a-postice-ds-transformacao/ 3

Você também pode gostar