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SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA

SÉRGIO LUIZ AGUILAR LEVIEN

Apostila preparada para o Curso de


Irrigação Localizada para Irrigantes do
Projeto de Irrigação Baixo Açu –
SEBRAE / Fundação Guimarães Duque
/ ESAM

Alto do Rodrigues – RN
2001
SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA
SÉRGIO LUIZ AGUILAR LEVIEN

ÍNDICE

1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................................ 3
2 – A IRRIGAÇÃO LOCALIZADA E AS RELAÇÕES SOLO-ÁGUA-PLANTA .................................... 4
2.1 – APROVEITAMENTO DA ÁGUA......................................................................................................... 4
2.2 – O BULBO ÚMIDO .......................................................................................................................... 4
2.3 – SALINIDADE ................................................................................................................................. 5
2.4 – FERTIRRIGAÇÃO .......................................................................................................................... 5
3 – VANTAGENS E INCONVENIENTES DA IRRIGAÇÃO LOCALIZADA ........................................... 5
3.1 – VANTAGENS DA IRRIGAÇÃO LOCALIZADA ...................................................................................... 5
3.2 – INCONVENIENTES DA IRRIGAÇÃO LOCALIZADA ............................................................................... 5
4 – COMPONENTES DA INSTALAÇÃO................................................................................................ 6
4.1 – CABEÇAL DE CONTROLE .............................................................................................................. 6
4.2 – REDE DE DISTRIBUIÇÃO ................................................................................................................ 7
4.2.1 – Linhas laterais ................................................................................................................. 7
4.2.2 – Linhas terciárias .............................................................................................................. 7
4.2.3 – Linhas secundárias......................................................................................................... 7
4.2.4 – Linha primária.................................................................................................................. 8
4.3 – MECANISMOS EMISSORES ............................................................................................................ 8
4.4 – DISPOSITIVOS DE CONTROLE ........................................................................................................ 8
5 – OBSTRUÇÕES ................................................................................................................................. 8
6 – PRÉ-FILTRAGEM ............................................................................................................................. 9
7 – FILTRAGEM ...................................................................................................................................... 9
7.1 – FILTRO DE AREIA ......................................................................................................................... 9
7.2 – FILTRO DE TELA ......................................................................................................................... 10
7.3 – FILTRO DE DISCOS ..................................................................................................................... 11
8 – EQUIPAMENTO DE FERTIRRIGAÇÃO ......................................................................................... 12
8.1 – TANQUES DE FERTILIZAÇÃO ....................................................................................................... 12
8.2 – FERTILIZADORES TIPO VENTURI .................................................................................................. 13
8.3 – INJETORES ................................................................................................................................ 13
9 – TRATAMENTO QUÍMICO DA ÁGUA............................................................................................. 14
9.1 – ALGAS EM DEPÓSITOS DE ÁGUA ................................................................................................. 14
9.2 – MICROORGANISMOS NO INTERIOR DA INSTALAÇÃO ...................................................................... 14
9.3 – PRECIPITADOS QUÍMICOS ........................................................................................................... 15
9.4 – PRECIPITADOS PROVOCADOS POR INCORPORAÇÃO DE FERTILIZANTES ......................................... 15
10 – ELEMENTOS DE CONTROLE ..................................................................................................... 16
10.1 – REGULADORES DE VAZÃO E DE PRESSÃO ................................................................................. 16
10.1.1 – Reguladores de vazão ................................................................................................ 16
10.1.2 – Reguladores de pressão............................................................................................. 17
10.2 – OUTROS APARATOS DE CONTROLE ........................................................................................... 18
10.2.1 – Manômetros ................................................................................................................. 18
10.2.2 – Rotâmetros................................................................................................................... 19
10.2.3 – Contadores de líquido ................................................................................................ 19
11 – EMISSORES ................................................................................................................................. 19
11.1 – GOTEJADORES ........................................................................................................................ 20
11.2 – TUBOS EMISSORES .................................................................................................................. 20
11.3 – DIFUSORES E MICROASPERSORES ............................................................................................ 21
12 – ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO............................................ 21
12.1 – PROJETO DO SISTEMA.............................................................................................................. 21
12.2 – INSTALAÇÃO DO SISTEMA ......................................................................................................... 21
12.3 – M ANEJO DO SISTEMA ............................................................................................................... 21
13 – INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O PROJETO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO ............ 22
14 – PROJETO AGRONÔMICO........................................................................................................... 22
15 – PROJETO HIDRÁULICO .............................................................................................................. 23
16 – AVALIAÇÃO DE UMA INSTALAÇÃO DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA ..................................... 24
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17 – FERTIRRIGAÇÃO......................................................................................................................... 26
18 – AUTOMATIZAÇÃO ....................................................................................................................... 27
19 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................................................................................. 27

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LEVIEN, S. L. A. Sistemas de irrigação localizada. Alto do Rodrigues, 2001

1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A agricultura atual requer diferentes técnicas para permitir maiores produções e garantir bons
rendimentos por área. A irrigação localizada contribui decisivamente para obter melhores rendimentos
de muitas culturas, cuja exploração é dificultada em regiões de clima árido ou semi-árido, onde a
disponibilidade de água é um dos fatores mais limitantes à atividade agrícola.
A irrigação localizada consiste em aplicar a água a uma zona mais ou menos restringida do
volume de solo que habitualmente ocupam as raízes. Suas características principais são:
- não se molha a totalidade do solo;
- são utilizadas pequenas vazões a baixa pressão;
- a água é aplicada com alta freqüência.
O fato de não molhar toda a superfície do solo faz com que se modifiquem algumas características
das relações solo-água-planta, tais como: redução da evaporação, distribuição do sistema radicular,
regime de salinidade, entre outras. A alta freqüência de aplicação da água implica numas importantes
conseqüências sobre seu aproveitamento, já que o solo ao estar sempre à capacidade de campo ou
muito próximo a ela, as plantas absorvem a água com muita facilidade.
Dentre os vários sistemas de irrigação localizada, os mais difundidos no Brasil são:
- irrigação por gotejamento: a água é aplicada mediante dispositivos que o fazem em forma de
gota a gota ou mediante fluxo contínuo, com uma vazão inferior a 20 l/h por ponto de emissão
ou por metro linear de mangueira de gotejamento.
- irrigação por microaspersão: a água é aplicada mediante dispositivos que o fazem em forma
de chuva fina, com vazões compreendidas entre 16 e 200 l/h por ponto de emissão.
Podemos citar também alguns sistemas não convencionais, alguns mais conhecidos na região
Nordeste do Brasil e outros pouco conhecidos, que são:
- xiquexique: é um tipo de emissor que se caracteriza por distribuir a água as plantas através de
pequenos furos abertos diretamente no tubo de polietileno, por meio de broca, furador ou prego
quente; sobre o orifício é colocado uma capa feita com um segmento do próprio tubo, de mais
ou menos 5 cm, cortado longitudinalmente. Tal capa ajuda a dissipar a pressão e evitar que o
líquido deixe o orifício sob forma de jato. Comumente é feito um pequeno buraco no solo para
funcionar como bacia de infiltração. O sistema de irrigação xiquexique foi desenvolvido para
irrigar pequenas áreas (0,5 a 4,0 ha) e tem como principais características, a simplicidade de
manejo do sistema e a economia de água, pois é possível aproveitar água de pequenas fontes
como poços de baixa vazão e açudes com pequena capacidade.
- “bubbler system”: é um sistema de irrigação desenvolvido, principalmente, para arbustos e
pequenas áreas (máximo 4,0 ha), onde a água é fornecida para cada árvore por meio de um
microtubo plástico de diâmetro entre 5,5 a 10 mm. O sistema de irrigação é enterrado no solo a
profundidade de 0,3 a 0,5 cm. O sistema bubbler pode ser pressurizado ou utilizar apenas a
energia da gravidade no seu funcionamento. O sistema, cujo movimento do fluxo de água é por
gravidade, além de não necessitar de bombas e filtros, pode substituir facilmente sistema de
irrigação tradicional, como sulco, e funcionar com uma pressão de apenas 1 mca. O "bubbler
system" é composto por uma linha principal (em PVC, PE ou tubo corrugado), conectado a uma
fonte d’água, que deverá estar em nível e com uma carga constante, linhas secundárias (o
mesmo material da linha principal), laterais e tubos flexíveis (ambas de PE) de pequeno
diâmetro que aplicam a água requerida de maneira localizada em cada planta. Os tubos
flexíveis devem ser ancorados na própria árvore ou em um piquete, com altura ajustada para
que todos os tubos forneçam a mesma vazão. A água deve ser distribuída em bacia circular,
em torno da árvore, para que haja uma distribuição uniforme na área do sistema radicular da
cultura.
Na irrigação localizada, as pressões de operação dos sistemas são geralmente baixas (10 a 20
mca) e, pequenas variações na pressão, produzem significativo efeito na variação de vazão e,
conseqüentemente, na uniformidade de aplicação de água. A variação de vazão dos emissores é um
resultado do efeito combinado de vários fatores, como: perda de carga por atrito ao longo do tubo e
nas inserções dos emissores, ganho ou perda de energia por posição, qualidade da matéria-prima e
dos processos de fabricação, obstrução e efeitos da temperatura da água sobre o regime de
escoamento e geometria do emissor. Essas características devem ser bem conhecidas para um
dimensionamento adequado do sistema.
Mesmo que o sistema de irrigação tenha sido bem dimensionado, no momento da operação
poderão ocorrer problemas oriundos da instalação ou do manejo do equipamento; portanto, após a
instalação do sistema, recomenda-se a execução de um teste de campo de avaliação para verificar a
adequação e a uniformidade de irrigação projetada e, mesmo, a obtenção de dados úteis no
aperfeiçoamento do manejo e operação do sistema.

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2 – A IRRIGAÇÃO LOCALIZADA E AS RELAÇÕES SOLO-ÁGUA-PLANTA


Na irrigação localizada a localização da água e a alta freqüência de sua aplicação têm
repercussões importantes nas relações solo-água-planta.

2.1 – APROVEITAMENTO DA ÁGUA


A evapotranspiração compreende a evaporação da água do solo e a transpiração das plantas. Na
irrigação localizada, a evaporação da água do solo é menor que em outros sistemas de irrigação, já
que só se molha uma parte da superfície do solo. Em troca, a transpiração costuma ser maior, já que
as plantas absorvem a água com maior facilidade. O aumento da transpiração presume um aumento
da colheita.
Em resumo, na irrigação localizada há um melhor aproveitamento da água (menor evaporação e
maior transpiração) e um maior rendimento da cultura que em outros sistemas de irrigação.
Por outro lado, na irrigação localizada bem manejada ocorrem poucas perdas por escorrimento
superficial e percolação profunda, o que supõe uma economia de água.

2.2 – O BULBO ÚMIDO


Chama-se bulbo úmido ao volume de solo umedecido por um emissor de irrigação localizada. O
movimento da água no solo determina a forma e o tamanho do bulbo úmido, que tem uma grande
importância, já que nele se desenvolve o sistema radicular das plantas.
A água no solo se move em todas as direções, mas em uns casos o faz com maior facilidade do
que em outros, dependendo da porosidade do solo: nos poros grandes a água circula por seu próprio
peso, desde cima até embaixo, enquanto que nos poros pequenos a água circula por capilaridade em
todas as direções.
A forma e tamanho do bulbo úmido dependem dos seguintes fatores:
- a textura do solo: em solos arenosos, com grande quantidade de poros grandes, a água
circula com maior facilidade para baixo, enquanto que em solos argilosos a água se espalha
com mais facilidade para os lados. Em conseqüência, em solos arenosos o bulbo tem forma
alongada, e em solos argilosos tem forma achatada (Figura 1).
- a vazão de cada emissor: quando a água começa a sair por um emissor se forma um
pequeno charco, ao mesmo tempo em que o solo começa a absorver água em toda a
superfície do mesmo. O tamanho do charco depende da vazão que sai pelo emissor: a uma
maior vazão corresponde uma superfície maior do charco e, portanto, um bulbo mais
espalhado em sentido horizontal.
- o tempo de irrigação: à medida que aumenta o tempo de irrigação (supondo uma vazão
constante no emissor) o tamanho do bulbo aumenta em profundidade, mas aumenta pouco sua
largura no sentido horizontal. A Figura 2 mostra a forma e o tamanho que adquire o bulbo num
solo franco quando se aplica a mesma quantidade de água com dois emissores de vazões
diferentes.

Figura 1 - Forma do bulbo úmido em solos de diferentes texturas

Figura 2 - Forma e tamanho do bulbo úmido num solo franco quando se aplica a mesma
quantidade de água com dois emissores de distintas vazões

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2.3 – SALINIDADE
Os sais contidos no solo e os aplicados com a água de irrigação se mantêm dissolvidos na água
do solo. A planta absorve a água e uma pequena parte dos sais, ficando o resto no solo. À medida
que diminui a água aumenta a concentração de sais, com o qual as plantas encontram maior
dificuldade para absorver a água.
Na irrigação localizada se mantém um nível elevado de umidade e, em conseqüência, um nível
baixo de salinidade. Por isso se pode utilizar águas com maior conteúdo de sal que em outros
sistemas de irrigação.
A concentração de sais dentro do bulbo úmido vai aumentando progressivamente até a periferia
(parte externa) do mesmo, sobretudo na zona superficial, onde se apresenta com freqüência uma
coroa branca de sais (Figura 3). As raízes das plantas se concentram na zona mais úmida do bulbo,
que corresponde à de menor concentração de sais, enquanto que a periferia do mesmo, com maior
concentração, oferece uma barreira que dificulta a passagem das raízes até zonas exteriores do
bulbo. No caso de culturas anuais ocorre o risco de que, no cultivo seguinte, as sementes sejam
colocadas nas zonas mais salinizadas, o que pode dificultar sua germinação.
No caso de chuvas não muito intensas, os sais do anel superficial são arrastados para o interior do
bulbo. Para controlar este aumento de salinidade convém não deter a irrigação durante a chuva, ou
colocá-la em funcionamento imediatamente depois de terminar a mesma, com a finalidade de arrastar
de novo os sais para a periferia do bulbo.

Figura 3 - Distribuição dos sais no bulbo úmido

2.4 – FERTIRRIGAÇÃO
Na irrigação localizada o sistema radicular das plantas está contido no bulbo úmido praticamente
em sua totalidade. Portanto, há que se localizar o fertilizante dentro do bulbo, e o melhor modo de
fazê-lo é aplicar os adubos dissolvidos na água de irrigação. Isso permite fazer a fertilização conforme
o exijam as necessidades das plantas.

3 – VANTAGENS E INCONVENIENTES DA IRRIGAÇÃO LOCALIZADA


A irrigação localizada oferece uma série de vantagens e inconvenientes que é preciso conhecer e
avaliar para tomar uma decisão razoável na hora de escolher ou não a sua implantação.

3.1 – VANTAGENS DA IRRIGAÇÃO LOCALIZADA


As vantagens em relação aos sistemas de irrigação tradicionais são as seguintes:
- melhor aproveitamento da água;
- possibilidade de utilizar águas com um índice de salinidade mais alto;
- maior uniformidade de irrigação;
- melhor aproveitamento dos fertilizantes;
- aumento da quantidade e qualidade das colheitas;
- menor infestação de ervas daninhas, devido à menor superfície de solo umedecido;
- possibilidade de aplicação de fertilizantes, corretivos e pesticidas com a água de irrigação;
- facilidade de execução das práticas agrícolas, ao permanecer seca uma boa parte da
superfície do solo;
- economia de mão de obra.

3.2 – INCONVENIENTES DA IRRIGAÇÃO LOCALIZADA


Os inconvenientes são os seguintes:
- necessita-se pessoal mais qualificado;
- tem que fazer análise inicial da água;
- quando se maneja mal a irrigação existe risco de salinização do bulbo úmido;

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- tem que vigiar periodicamente o funcionamento do cabeçal e dos emissores, com a finalidade
de prevenir as obstruções;
- é preciso fazer um controle das doses de água, fertilizantes, pesticidas e produtos aplicados à
água de irrigação;
- exige uma maior inversão (de capital) inicial.

4 – COMPONENTES DA INSTALAÇÃO
Os componentes fundamentais de uma instalação de irrigação localizada são os seguintes:
- cabeçal de irrigação;
- rede de distribuição;
- mecanismos emissores de água;
- dispositivos de controle.
O esquema de distribuição do equipamento no campo varia em função da topografia do terreno,
do tamanho e forma da área a ser irrigada, do tipo de cultura, do esquema de plantio, do tipo de
sistema de irrigação localizada utilizado e, entre outras, da variação da vazão e da pressão permitidas
como critérios de projeto.
Na Figura 4 apresenta-se um esquema geral de um sistema de irrigação localizada e os seus
principais componentes.

Emissor

Linha Lateral

Linha Terciária

Regulador de pressão
Válvula
Linha Principal
Linha Secundária

Filtro de areia

Bomba
Tanque de fertilizante

Manômetro

Registro

Filtro de tela

Figura 4 - Esquema de um sistema de irrigação localizada e seus principais componentes

4.1 – CABEÇAL DE CONTROLE


O cabeçal de irrigação (ou cabeçal de controle) compreende um conjunto de elementos que
servem para tratar, medir e filtrar a água, comprovar sua pressão e incorporar os fertilizantes.
Constitui o elemento central da instalação. Existe uma grande variedade de cabeçais, ainda que os
elementos básicos (equipamento de tratamento de água, filtros, equipamento de fertilização) são
comuns a todos eles e variam segundo a qualidade da água, grau de automatismo e características
dos materiais. Por exemplo, há instalações em que os fertilizantes são aplicados a partir do cabeçal
de controle, entretanto, em algumas instalações, as aplicações são realizadas nas unidades de
irrigação.
Um elemento imprescindível do cabeçal de controle é a válvula volumétrica. Este elemento, além
de indicar a vazão, deve ser totalizador. Alguns modelos permitem a transmissão elétrica de dados, o
que facilita a automatização da irrigação. Estas válvulas devem ser localizadas após os filtros, já que
são muito sensíveis às impurezas.

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Muitos outros elementos podem fazer parte do cabeçal de controle, a maioria dos quais facilita a
automatização das funções do cabeçal, como: começo e fim das irrigações, aplicação de fertilizantes,
limpeza dos filtros, controle de pressão, registro da vazão, eliminação de ar ou sobrepressão, entre
outras.
Do cabeçal depende, em grande parte, o êxito ou fracasso da irrigação, pelo que deve prestar-se
uma grande importância à sua instalação, já que desde ele se regula a aplicação de água e um
grande número de práticas agrícolas, tais como a fertilização e aplicação de pesticidas.

4.2 – REDE DE DISTRIBUIÇÃO


A rede de distribuição conduz a água desde o cabeçal até as plantas. Do cabeçal parte uma rede
de tubulações que se chamam primárias, secundárias, terciárias e laterais, segundo sua ordem. As
de última ordem, chamadas tubulações laterais, distribuem a água uniformemente ao longo se seu
comprimento por meio de emissores ou orifícios.
Costuma-se colocar um regulador de pressão ao princípio de cada tubulação de onde partem as
laterais. A superfície de irrigação dominada por um regulador de pressão se denomina subunidade de
irrigação. Ao conjunto de subunidades de irrigação que se irriga desde um mesmo ponto se denomina
unidade de irrigação, em cujo ponto se costuma instalar um elemento para controlar a vazão de água.
As tubulações primárias, secundárias e terciárias costumam ser de PVC (cloreto de polivinil) ou de
PE (polietileno). As primeiras devem ser enterradas para evitar a deterioração ocasionada pela
exposição à radiação solar. As laterais costumam ser de PE de baixa densidade.

4.2.1 – Linhas laterais


São as tubulações de última ordem, na qual são conectados os emissores, que constituem os
elementos do sistema que distribuem a água de irrigação ao solo. Também são denominadas de
linhas portagotejadores ou portaemissores. Estas linhas devem ser dimensionadas para distribuir a
água com um aceitável grau de uniformidade.
O critério de dimensionamento destas linhas consiste em minimizar a variação da vazão dos
emissores ao longo do seu comprimento. A variação da vazão depende da variação de pressão ao
longo desta tubulação, como resultado do efeito combinado da perda de carga e da energia de
posição. Dessa forma, a variação de pressão pode ser expressa como uma combinação entre a
perda de carga e a variação de nível (do terreno).
As linhas laterais dos sistemas de irrigação localizada, são normalmente dispostas sobre o solo. O
material é de polietileno flexível de baixa densidade. Em gotejamento adotam-se normalmente os
diâmetros nominais de 10 mm, 12 mm, 16 mm e 20 mm, preferindo-se o de 12 mm. Na
microaspersão, utilizam-se os diâmetros nominais de 12 mm, 16 mm, 20 mm e 25 mm, preferindo-se
o de 16 mm.

4.2.2 – Linhas terciárias


São tubulações que alimentam diretamente as linhas laterais. Também são denominadas de
linhas de derivação ou portalaterais. Hidraulicamente, são semelhantes às linhas laterais, por serem
tubulações de múltiplas saídas. Geralmente, no início de cada linha terciária existe um regulador de
pressão. A área de domínio de um regulador de pressão é denominada de subunidade de irrigação,
sendo a base de dimensionamento da linha terciária. No caso extremo em que cada lateral possui um
regulador de pressão, a subunidade de irrigação é constituída por uma só lateral.
As linhas terciárias atuam como um sistema de controle, que deverá permitir uma pressão
adequada no início da lateral, de forma que se possa derivar a vazão necessária a cada linha lateral.
Estas linhas estão normalmente posicionadas no sentido da declividade. O material utilizado pode ser
de polietileno ou PVC rígido, e normalmente estão enterradas no solo.

4.2.3 – Linhas secundárias


Estas linhas nem sempre são necessárias. Entretanto, quando a área a ser irrigada é grande,
exigindo sua divisão em várias subunidades de irrigação, é comum agrupar as subunidades que
funcionam simultaneamente, alimentando-as com uma tubulação denominada linha secundária,
possuindo no seu início uma válvula volumétrica. Ao conjunto de subunidades de irrigação operando
simultaneamente e abastecidas pela mesma linha secundária, denomina-se unidade de irrigação
(Figura 5).

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Cabeçal
Regulador de Pressão

Válvulas Volumétricas

Tubulação Principal Unidades de Irrigação

Tubulação Secundária Subunidades de Irrigação

Tubulação Terciária
Unidades operacionais de Irrigação
Tubulação Lateral

Figura 5 - Esquema de uma instalação de irrigação localizada

4.2.4 – Linha primária


É a tubulação que conduz a água da motobomba, passando pelo cabeçal de controle, até as
linhas secundárias. Também é chamada de linha principal. A distinção entre linhas principal e
secundárias, na maioria das vezes, refere-se à ordem que ocupa a partir do cabeçal de controle.
Alguns técnicos, denominam de linha principal toda a tubulação situada acima das unidades de
irrigação. De qualquer forma, essa distinção é irrelevante com relação ao dimensionamento, que é
feito igualmente em ambas tubulações.
Ao conjunto das unidades de irrigação operando simultaneamente, a partir de um mesmo cabeçal
de controle, denomina-se unidade operacional de irrigação, a qual constitui a base para o
dimensionamento da linha principal, do cabeçal de controle e do conjunto motobomba.

4.3 – MECANISMOS EMISSORES


Os emissores são os dispositivos encarregados de aplicar a água. Em irrigação por gotejamento
são os gotejadores e as tubulações emissoras. Em irrigação por microaspersão são os difusores (com
tubos fixos) e os microaspersores (têm algum elemento com movimento de rotação).

4.4 – DISPOSITIVOS DE CONTROLE


Os dispositivos de controle são os elementos que permitem regular o funcionamento da
instalação. Estes elementos são: contadores (medidores), manômetros, reguladores de pressão ou
de vazão, entre outros.

5 – OBSTRUÇÕES
Um dos maiores problemas que ocorre na irrigação localizada por gotejamento é a obstrução dos
gotejadores, produzida por matérias de distinta natureza que vão reduzindo progressivamente a
passagem da água. A obstrução pode ser causada por:
- partículas orgânicas: restos vegetais e animais, algas, bactérias;
- partículas minerais: areia, silte, argila;
- precipitados químicos.
O maior ou menor risco de obstrução se deve, sobretudo, aos sais dissolvidos na água. A
fertirrigação é um risco de obstrução, visto que modifica algumas qualidades da água de irrigação.
Para combater as obstruções são utilizados dois procedimentos:
- preventivo: consiste em evitar as obstruções mediante filtragem e tratamentos químicos da
água;
- limpeza: quando a obstrução já está produzida se faz tratamentos da água ou se rompe a
obstrução mediante aplicações da água ou ar a pressões altas.
A prevenção de obstruções deve começar antes de entrar em serviço a instalação, efetuando uma
lavagem da mesma com água sob pressão, com a finalidade de facilitar a saída de partículas de
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plástico e de terra que possa haver ficado dentro dos tubos durante a montagem. Devem ser
colocadas válvulas de ar (válvulas de alívio) nos extremos das tubulações principais, secundárias e
terciárias.

6 – PRÉ-FILTRAGEM
Quando a água contém em suspensão uma grande proporção de partículas inorgânicas (areia,
silte e argila) tem-se que eliminar uma boa parte delas antes da entrada da água no cabeçal de
irrigação, para evitar que os equipamentos de filtragem se obstruam continuamente. Esta separação
de partículas ou pré-filtragem se faz de duas formas:
- depósito de decantação: este depósito tem por missão separar da água, mediante
sedimentação, as partículas minerais em suspensão (areia, silte, argila). A saída da água deste
depósito se efetua a meia altura, para evitar a passagem de corpos flutuantes e de partículas
sedimentadas.
- hidrociclone: é um dispositivo que permite a separação da areia que a água leva em
suspensão. Consiste num recipiente de forma de cone invertido, onde a água entra
tangencialmente pela parte superior, de modo que provoca um movimento de rotação. As
partículas de areia são projetadas sobre as paredes do hidrociclone, e descem para um
depósito de sedimentos colocado na parte inferior (Figura 6).

Figura 6 - Esquema de um hidrociclone

7 – FILTRAGEM
A filtragem da água consiste em reter as partículas, levadas pela água, no interior de uma massa
porosa (no filtro de areia) ou sobre uma superfície filtrante (filtro de tela e filtro de discos).

7.1 – FILTRO DE AREIA


O filtro de areia serve para reter partículas orgânicas (algas, bactérias, restos orgânicos) e
inorgânicas (areias, siltes, argilas, precipitados químicos). É o tipo de filtro mais adequado para filtrar
águas muito contaminadas com partículas pequenas ou com grande quantidade de matéria orgânica.
Um filtro de areia consiste de um depósito metálico ou de poliéster, de forma cilíndrica, no interior
do qual coloca-se uma grossa camada de areia através da qual passa a água. A água entra pela
parte superior e se distribui no interior do tanque, por meio de um defletor, saindo filtrada pelos
coletores na parte inferior que desembocam na tubulação de saída. O tanque tem dois orifícios
maiores, tampados. O orifício superior serve para carregá-lo de areia e o inferior serve para a
descarga. A espessura da camada de areia deve ser no mínimo de 50 cm (Figura 7).

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Figura 7 - Esquema de um filtro de areia

A eficácia da filtragem depende do tamanho da areia, cujo diâmetro efetivo deve ser igual ao
diâmetro de passagem de água no gotejador. Um tamanho maior da areia origina uma filtragem
deficiente, e um tamanho menor dá lugar a um rápido entupimento do filtro e, portanto, a limpezas de
filtro mais freqüentes.
Em filtros limpos a perda de carga varia de 1 a 3 mca, dependendo do tipo de areia e da
velocidade média da água. À medida que vão acumulando impurezas, a perda de carga aumenta e
quando alcançar valores da ordem de 4 a 6 mca, deve-se proceder a limpeza. O projeto do sistema
de bombeamento deve ser feito para o caso mais desfavorável, isto é, para 6 mca de perda de carga.
Para saber o momento da limpeza deve-se medir a pressão antes e depois do filtro, utilizando-se
manômetros de conexão rápida. É preferível usar o mesmo manômetro para que se esteja sujeito ao
mesmo erro de leitura. A limpeza é feita invertendo o sentido de circulação da água, para o qual deve-
se prever as derivações necessárias nas tubulações de entrada e saída. Para garantir uma melhor
limpeza convém instalar, no mínimo, dois filtros, de tal forma que a água filtrada de um deles sirva
para fazer a limpeza do outro (Figura 8).

Figura 8 - Funcionamento de um filtro de areia

Pode-se automatizar a limpeza mediante um sistema que se aciona quando a diferença de


pressão na tubulação, antes e depois do filtro, alcance o valor prefixado.
A operação de lavagem se faz durante 5 minutos, pelo menos, com a finalidade de remover bem a
areia e eliminar os possíveis canais preferenciais que possa haver se formado em seu interior. Pode-
se suspeitar da existência de ditos canais quando a diferença de pressão entre a entrada e a saída
do filtro é inferior a 2-3 mca e, no entanto, os filtros de tela (que se colocam mais adiante) se sujam
reiteradamente.
Ao final da temporada de irrigação os filtros de areia devem ser lavados com água e cloro, para
evitar a proliferação de microorganismos.
Os filtros de areia são colocados no cabeçal, antes dos contadores e válvulas volumétricas, já que
estes elementos requerem água limpa para seu correto funcionamento.

7.2 – FILTRO DE TELA


Os filtros de tela devem ser colocados após o equipamento de fertirrigação. Estes filtros retêm as
impurezas minerais que podem atravessar os filtros de areia ou proveniente dos adubos.
Um filtro de tela consiste de um depósito metálico ou de poliéster, de forma cilíndrica, no interior
do qual a filtragem é feita na superfície de uma ou mais malhas concêntricas fabricadas com material
não corrosivo (aço ou material plástico). A água proveniente da tubulação penetra no interior do
cartucho de tela e se filtra através de suas paredes, passando à periferia do filtro e posteriormente à
tubulação de saída. As partículas filtradas ficam na face interior do cartucho de tela (Figura 9).

Figura 9 - Esquema de um filtro de tela

O filtro de tela se entope com rapidez e, por essa razão, são utilizados para reter partículas
inorgânicas em águas que não estejam muito contaminadas. Quando existem algas na água tem que
instalar antes dele um filtro de areia para retê-las, pois de outra forma entupiriam rapidamente a tela.

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Existem diferentes tipos de filtros de tela, a maioria provido de mecanismos que facilitam sua
limpeza. Em alguns tipos, essa limpeza é realizada automaticamente, quando as obstruções
ocasionam uma determinada perda de carga. A obstrução dos filtros de tela é mais rápida que a do
filtro de areia e, por esta razão, a limpeza destes filtros é feita com mais freqüência.
Da mesma forma que os filtros de areia, os filtros de tela provocam uma perda de carga que
cresce à medida que o filtro vai sendo obstruído pelas impurezas. Quando está limpo, a perda de
carga é da ordem de 1 a 3 mca , em função da vazão e do trançado da tela. Este valor deve ser
fornecido pelo fabricante. Quando a perda de carga alcança valores da ordem de 4 a 6 mca deve-se
proceder a limpeza. Permitindo maiores valores de perda de carga no filtro, a sua eficiência diminui e
pode, até mesmo, romper as malhas. Esta perda de carga de 4 a 6 mca é a que deve ser considerada
no cálculo do conjunto motobomba.
As malhas podem ser de metal ou de nylon. Cada malha é definida pelo número de abertura por
polegada linear (tamanho dos orifícios da malha), o que se denomina número de mesh e assim se
diz, por exemplo, 50, 60, 80 ou 100 mesh. Na seleção de um filtro de tela deve-se determinar a
superfície da malha (área total da malha) e o tamanho dos orifícios, isto é, o número de mesh. Um
critério usado, normalmente, é que o tamanho do orifício seja aproximadamente 1/7 (alguns técnicos
recomendam 1/10) do menor diâmetro de saída do emissor, para gotejadores. Este valor pode ser
aumentado para 1/5 no caso de microaspersores.
Como no caso dos filtros de areia, devem ser instalados tantos filtros de areia em paralelo como a
capacidade de cada um e a vazão a tratar exijam. Ainda que, usualmente, sejam instalados no
cabeçal, nos casos em que a aplicação de fertilizantes seja realizada em outras partes da instalação
filtros de tela devem ser situados imediatamente depois da incorporação de fertilizantes.
Em alguns casos e como medida de segurança, pequenos filtros de tela são situados à entrada
das subunidades de irrigação e inclusive à entrada de cada lateral, que servem para evitar que
passem aos emissores partículas que, por acidente, durante a limpeza dos filtros principais ou por
rompimento da instalação, possam haver passado pelo cabeçal.
A limpeza manual dos filtros se realiza abrindo a carcaça, tirando o cartucho com a tela e lavando-
o com uma escova e água sobre pressão. Al final da temporada se realiza uma limpeza mais
esmerada, para a qual se submerge o cartucho durante uns minutos numa dissolução de ácido nítrico
de 5 a 10%, lavando-o posteriormente com água sobre pressão. Também pode se fazer esta limpeza
submergindo o cartucho durante 12 horas em um banho de vinagre, lavando-o posteriormente com
uma escova e água sobre pressão.
Em geral se admite, como normal, 1 ou 2 limpezas diárias. Se, pela qualidade da água, o filtro se
entope antes de terminar a irrigação de uma unidade operacional, recomenda-se a instalação de
mecanismos de limpeza automática.
Quando se instala filtro de areia na instalação de irrigação localizada, o filtro de tela é colocado
depois do primeiro, também, para que a areia que possa ser arrastada pela água procedente do filtro
de areia fique retida no filtro de tela.
Os filtros autolimpantes requerem uma certa pressão de funcionamento, o que tem que ser levado
em conta para sua colocação nos pontos da rede que disponham dessa pressão.

7.3 – FILTRO DE DISCOS


O filtro de disco tem forma cilíndrica e é instalado na linha de tubulação em posição horizontal. O
elemento filtrante é composto de um conjunto de discos ou anéis com ranhuras impressas que vão
montados sobre um suporte central cilíndrico e perfurado. A água é filtrada ao passar pelos pequenos
condutos formados entre dois anéis consecutivos, passando a continuação ao interior do suporte
central através de seus orifícios superficiais (Figura 10). A qualidade da filtragem depende do número
e profundidade das ranhuras, podendo conseguir uma filtragem equivalente à de uma malha de 200
mesh.

Figura 10 - Esquema de um filtro de discos

Seu efeito é, de certa forma, de filtragem em profundidade, como no caso dos filtros de areia, e
por isso, freqüentemente substituem estes. A profundidade da filtragem é correspondente ao raio dos
anéis. São muito compactos e resistentes admitindo pressões de trabalho de até 10 atm. Da mesma

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maneira que os filtros de areia, podem reter grande quantidade de sólidos antes de ficar obstruído.
Com o filtro limpo as perdas de carga oscilam entre 1 e 3 mca.
O filtro de discos tem a mesma aplicação que o filtro de tela, podendo ser utilizado tanto um como
outro indiscriminadamente. Ultimamente é muito utilizado devido a sua grande efetividade e facilidade
de limpeza. Sua limpeza manual é muito simples: abre-se a carcaça, separa-se os anéis e se limpa
com um jorro de água. A limpeza automática também é feita com facilidade, sem necessidade de
desmontar o filtro nem reduzir a pressão e a vazão de água, somente invertendo o sentido do fluxo da
água, o que popularizou o seu uso.
Convém limpar o filtro quando a queda de pressão seja igual ou superior a 2 mca em relação à
queda de pressão característica do filtro limpo, da mesma maneira que se recomenda para filtro de
areia e filtro de tela.

8 – EQUIPAMENTO DE FERTIRRIGAÇÃO
Entende-se por fertirrigação a incorporação das substâncias fertilizantes ao solo através da água
de irrigação. Esta prática, que já vinha sendo aplicada algumas vezes à irrigação por inundação e
aspersão, é de uso comum na irrigação localizada onde os métodos tradicionais de fertilização se têm
mostrado, em geral, pouco eficientes.
A incorporação de adubos é efetuada mediante uns dispositivos que se situam, normalmente, no
cabeçal, se bem que também podem ser instalados nas cabeceiras das unidades operacionais de
irrigação, quando existem vários cultivos na mesma área e estes se encontram dispersos. Em todos
os casos deve-se instalar um filtro de tela depois do dispositivo de fertilização, para evitar a
passagem para a rede de irrigação das possíveis impurezas contidas nos adubos. Estes
equipamentos também podem ser utilizados para incorporar à água de irrigação outras substâncias
como corretivos químicos, nematicidas, pesticidas, entre outros.
O equipamento de fertirrigação é instalado após o filtro de areia. A aplicação de fertilizantes não
deve ocorrer antes destes filtros para evitar a retenção de fertilizantes pela areia e, sobretudo, para
não produzir dentro dos tanques de filtragem um ambiente rico em nutrientes, favorecendo o
desenvolvimento de alguns microorganismos.
O equipamento de fertirrigação é composto dos depósitos de fertilizantes e dos mecanismos de
aplicação de adubo. Os depósitos devem ser de materiais resistentes à corrosão, já que alguns
adubos líquidos possuem pH baixo, próximo a 1. Entre estes materiais, os mais usados são os de
poliéster tratados com resinas especiais e os de polietileno.
Em seguida ao equipamento de fertirrigação, há necessidade de se colocar filtros de tela ou filtros
de discos.
Do ponto de vista hidráulico, ou atuam através de diferença de pressão ou sucção, ou através de
bombeamento. Em consequência, os distintos modelos podem ser agrupados em:
- tanques de fertilização;
- fertilizadores tipo Venturi;
- injetores.

8.1 – TANQUES DE FERTILIZAÇÃO


Consistem num depósito onde se coloca a solução que se quer incorporar e que, uma vez
fechado, alcança em seu interior a mesma pressão que a rede de irrigação. Por isso o tanque deve
ser capaz de suportar a pressão estática e dinâmica da rede. O normal é que resistam uns 3 bares,
como mínimo, ainda que seja recomendado que suportem uma pressão de trabalho de uns 6 bares.
Geralmente são metálicos, mas existem modelos em plástico e fibra de vidro. Em qualquer caso
devem ser capazes de suportar a ação corrosiva das substâncias que se utilizam.
Estes dispositivos são colocados em paralelo à condução principal. Nesta são instaladas duas
tomadas separadas por uma válvula para introduzir uma diferença de pressão entre elas.
A primeira tomada introduz a água por sua parte inferior. Do tanque sai, por sua parte superior,
outro conduto que leva água com adubo dissolvido até a segunda conexão depois da válvula. Para
facilitar o manejo, estas conduções são feitas com mangueira flexível e as conexões com
acoplamentos rápidos. Acionando a válvula, consegue-se criar uma maior ou menor diferença de
pressão e, em consequência, aumentar ou diminuir a vazão de água que passa através do tanque. A
perda de carga mínima para o funcionamento destes tanques é de uns 3 mca.
A vazão de água que entra no tanque é igual à que se incorpora à rede. Portanto, a solução que
permanece no interior do mesmo vai se diluindo a medida que aumenta o tempo de funcionamento.

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A diluição da solução fertilizante ao longo do tempo é um grave inconveniente destes dispositivos,


haja vista que afetam a exatidão da dosagem e deve ser levada em conta tanto na automatização do
sistema como no manejo da irrigação.

8.2 – FERTILIZADORES TIPO VENTURI


São uns dispositivos muito simples que consistem numa peça, geralmente de plástico, em forma
de T que em seu interior tem um tubo Venturi em frente à tomada que está conectada com o depósito
de adubo. O Venturi causa um rápido aumento da velocidade da água, o que origina uma sucção que
introduz a solução fertilizante na rede. Este dispositivo pode ser acoplado diretamente à tubulação
principal da rede, mas como em geral a vazão que circula pelo sistema ultrapassa a capacidade do
próprio Venturi, acostuma-se instalá-lo em paralelo. Neste caso deve colocar-se uma válvula que
permita a derivação de uma parte da vazão que circula pelo circuito que aloja o fertilizador.
O fluxo de fertilizante injetado na rede está em relação direta à pressão da água à entrada do
mecanismo, com uma pressão mínima da ordem de 1,5 bares. A vazão varia nos modelos mais
usuais entre 50 e 2000 l/h. A vazão mínima que deve passar através do aparato, depende de sua
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capacidade e varia desde 1 m /h para os modelos de 1” a mais de 20 m /h para alguns de 2” de alta
capacidade de sucção.
É importante advertir que nos catálogos comerciais, a capacidade de sucção do Venturi está
referida à água pura. Esta capacidade será reduzida a medida que a densidade da solução fertilizante
aumente.
A maior vantagem destes fertilizadores é a simplicidade do dispositivo e, portanto, seu preço,
manutenção e durabilidade, assim como a de não necessitar um depósito de fertilizante capaz de
suportar a pressão da rede. No entanto, a perda de carga que origina é de 10 a 30% da pressão na
tubulação onde são instalados, inclusive alguns modelos produzem perdas de carga entre 30 e 50%.
Em muitos casos é necessário instalar antes do Venturi um pequeno equipamento de
bombeamento para evitar esta perda de carga.

8.3 – INJETORES
Da mesma maneira que os fertilizadores tipo Venturi, utilizam depósitos que não vão estar
submetidos à pressão da rede de irrigação. Neles se coloca a solução concentrada de adubos que se
injeta à rede mediante:
- bombas de motores convencionais: são bombas projetadas especialmente para esta
finalidade, geralmente de pistão ou diafragma que acionadas por motores elétricos são
capazes de injetar sob pressão na rede o adubo ou outras substâncias, sempre que seus
circuitos estejam suficientemente protegidos contra os fenômenos de corrosão que possam ser
produzidos. A pressão de injeção costuma variar entre 5 e 15 bares. A maioria dos modelos
permite controlar a vazão de injeção entre certos limites, e alguns dispõem de várias cabeças
dosificadoras que permitem injetar simultânea e independentemente duas ou mais substâncias
diferentes. O principal inconveniente é que necessitam conexão à rede elétrica, ainda que já
existam no mercado equipamentos alimentados por baterias. Além destas bombas de
fabricação especial, podem ser usados como injetores eletrobombas ou motobombas
convencionais, que entre outros inconvenientes são normalmente muito suscetíveis à corrosão
produzida pelos produtos químicos que se aplicam. Em alguns casos se utiliza como injetor o
próprio equipamento de impulsão (recalque) da instalação de irrigação, acoplando o depósito
de fertilizante à tubulação de aspiração (sucção) através de uma pequena válvula que permita
regular o ritmo de injeção. Em outros, são utilizadas bombas dos equipamentos de tratamentos
fitossanitários. Como norma geral, estas soluções só devem ser adotadas em casos muito
especiais de forma ocasional ou quando não se disponha de outros meios.
- bombas de acionamento hidráulico: usam a própria energia da água da rede para mover
seus mecanismos. São bombas de tipo peristáltico que, portanto, produzem uma dosagem a
impulsos, injetando em cada embolada (movimento completo do êmbolo) um volume de
solução igual à capacidade de sua câmara receptora. Para controlar a dosagem varia-se o
número de emboladas por unidade de tempo ajustando a pressão de entrada na bomba
mediante uma válvula. Para cada modelo, o fabricante deve proporcionar um gráfico ou tabela
que relacione a pressão de entrada com o número de emboladas por unidade de tempo. A
capacidade máxima de injeção de cada modelo é determinada, de uma parte, pelas
características construtivas da bomba, e de outra, pela pressão disponível na instalação.
Quando, por qualquer dos dois motivos, a capacidade duma unidade não seja suficiente para
satisfazer as necessidades de injeção, podem ser instaladas em paralelo tantas unidades como

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seja necessário. A pressão máxima de trabalho dos modelos existentes no mercado pode
variar entre 6 e 10 bares e sua capacidade máxima de injeção costuma estar entre 200 e 300
l/h. A pressão mínima para seu funcionamento varia, segundo os modelos, entre 0,5 e 2 bares.
As bombas de acionamento hidráulico são, normalmente, de pistão ou diafragma e o consumo
d’água para seu funcionamento costuma ser de dois ou três vezes o volume de líquido injetado.
A principal vantagem destes dispositivos é que não necessitam o aporte de energia exterior à
instalação e que não produzem perda de carga adicional. A pressão a que injetam é superior à
da água no ponto em que é acoplado o injetor, portanto, não é necessário criar nenhuma perda
de carga adicional entre o ponto de tomada d’água de funcionamento e o ponto de injeção. No
entanto, a injeção deve ser produzida a uma certa distância do ponto de tomada (é
recomendado como mínimo 1 m) para evitar que se produza perda da solução fertilizante
através da água de funcionamento. A parada destes injetores se realiza fechando a passagem
de água ao circuito de funcionamento, o que pode ser feito manualmente ou colocando uma
válvula hidráulica conectada ao automatismo da instalação de irrigação. Estes injetores
costumam parar automaticamente se a solução fertilizante se esgota ou se obstrui o filtro
situado na aspiração.
Alguns modelos de injetor utilizam um único circuito, onde se mescla a água de funcionamento
com os fertilizantes. Diferentemente dos anteriores não consomem água, mas produzem uma elevada
perda de carga (entre 0,5 e 2 atm).
Tanto nos injetores hidráulicos como nos de acionamento elétrico são fabricadas versões que,
através de mecanismos mais ou menos complexos, conseguem adequar o ritmo de injeção à vazão
da água que passa pela rede, mantendo constante a concentração de fertilizante na água de
irrigação. Estes mecanismos são denominados injetores proporcionais à vazão. Isto permite
automatizar instalações de irrigação quando as distintas unidades apresentam importantes diferenças
de vazões.

9 – TRATAMENTO QUÍMICO DA ÁGUA


O primeiro elemento de um cabeçal de controle é o equipamento de tratamento de água. Muitas
vezes a água apresenta alguns problemas de qualidade que limitam o seu uso em sistemas de
irrigação localizada. Estas limitações, geralmente, estão relacionadas com obstruções de emissores.
Freqüentemente a solução consiste na filtragem; mas, há situações em que se deve fazer um
tratamento químico desta água, antes da filtragem. É o caso, por exemplo, da presença de algas que
não são retidas pelos filtros e podem obstruir os emissores de pequenos orifícios. A solução deste
problema consiste no uso de oxidantes, como hipoclorito de cálcio. Outro caso em que é necessário o
tratamento da água é quando ocorre a formação de precipitados calcários, necessitando-se de
aplicação de ácidos para resolver o problema.
O tratamento químico da água consiste em incorporar algum produto químico, com a finalidade de
prevenir ou combater as obstruções causadas por algas, bactérias ou precipitados químicos.
Para solucionar um problema de obstrução tem que conhecer a causa que o originou. Os
tratamentos químicos mais utilizados são: a cloração (para descompor a matéria orgânica) e a
acidificação (para dissolver os precipitados químicos).
Nos tratamentos químicos tem que se evitar a corrente de refluxo em direção contrária à normal,
que pode ser produzida por feito de sifão ou contrapressão. Esta corrente de refluxo pode contaminar
a água de poços, depósitos ou tubulações de abastecimento de água potável, e portanto, quando
exista esse risco, tem que se incorporar ao sistema uma válvula de retenção que evite essa corrente.

9.1 – ALGAS EM DEPÓSITOS DE ÁGUA


Em muitas ocasiões a água de irrigação é armazenada em depósitos ou tanques ao ar livre, onde
se cria um meio favorável para o desenvolvimento de algas, cujo problema mais importante é que
obstruem com muita freqüência os filtros de areia, o que obriga a lavagens freqüentes.
O tratamento mais efetivo contra as algas é a aplicação de sulfato de cobre, com a dosagem
segundo a espécie de alga a tratar.
O sulfato de cobre não deve ser utilizado quando há tubulações de alumínio na instalação. Em
substituição do sulfato de cobre pode-se aplicar algum alguicida, não tóxico para as culturas, que seja
vendido no comércio, mas este tratamento pode resultar ser mais caro.

9.2 – MICROORGANISMOS NO INTERIOR DA INSTALAÇÃO


A causa mais freqüente de obstruções é a proliferação de algas microscópicas e bactérias no
interior da instalação. A maior ou menor proliferação destes organismos é devido a fatores tais como

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a qualidade da água, sua temperatura, a transparência dos materiais, entre outros. No interior das
tubulações mais ou menos transparentes à luz se desenvolvem umas algas filamentosas que podem
provocar obstruções. Para evitar este inconveniente, as tubulações devem estar enterradas ou ser de
cores escuras.
Os resíduos de algas mortas que atravessam os filtros, junto com alguns íons (ferro, enxofre e
manganês) contidos na água são um bom alimento para certas bactérias que o precipitam. Estes
precipitados se unem aos corpos das bactérias formando uma massa gelatinosa que se adere às
conduções e aos gotejadores.
O tratamento mais eficaz e econômico para destruir algas e bactérias (e em geral a matéria
orgânica) é a cloração, incorporando à água de irrigação hipoclorito de sódio ou cloro gasoso. O
hipoclorito é de fácil manejo, mas resulta mais caro que o cloro gasoso, que, por sua vez, tem o
inconveniente de que é muito perigoso e requer pessoal especializado para sua aplicação. Em
instalações pequenas costuma-se empregar hipoclorito, e em instalações grandes, cloro gasoso.
Para que se produza a morte dos microorganismos se requer um tempo de contato de 30 a 60
minutos, e por isso os tratamentos costumam ser aplicados ao final da irrigação, deixando a água
tratada nas conduções até a próxima irrigação.
A injeção de cloro ou produtos clorados se realiza antes do sistema de filtragem, para evitar o
crescimento de algas e bactérias nos filtros.
A cloração não deve ser realizada ao mesmo tempo em que a fertirrigação com adubos
nitrogenados, já que se produzem uns compostos que podem danificar as culturas.
As doses altas causam danos às culturas e, por isso, os tratamentos de limpeza devem ser feitos
quando não existir cultivo ou, em caso contrário, fazer uma lavagem abundante para diluir o cloro
residual que sai pelos gotejadores.
Como o cloro ataca ao latão, deve se evitar seu contato com aqueles elementos que o contenham
(aparelhos de medida, rotores de bomba, entre outros).

9.3 – PRECIPITADOS QUÍMICOS


Os precipitados químicos são produzidos quando se modificam as qualidades da água
(temperatura, pH, aumento da concentração de certos elementos devido à incorporação de
fertilizantes e outras substâncias químicas) e quando a água nos gotejadores se evapora depois de
cada irrigação, o que faz aumentar a concentração de sais dissolvidos.
As obstruções mais freqüentes são as provocadas por carbonato de cálcio, carbonato de
magnésio e sulfato de cálcio, que são produzidas quando a água contém cálcio, magnésio,
bicarbonato e sulfato; e, com menor frequência, estão as obstruções produzidas por compostos de
ferro, enxofre ou manganês, que em forma reduzida são solúveis, mas precipitam ao se oxidar. Os
valores elevados do pH favorecem a precipitação de sais.
O carbonato de cálcio é um sal pouco solúvel em meio neutro ou alcalino e muito solúvel em meio
ácido. Portanto, o melhor tratamento preventivo contra estas obstruções é a acidificação, empregando
para isso os seguintes ácidos: clorídrico, sulfúrico, nítrico e fosfórico. Os dois últimos aportam
elementos nutritivos.
Tem que ter a precaução de não misturar os distintos ácidos, e de incorporar sempre o ácido à
água e nunca a água ao ácido. A injeção do ácido se faz depois do sistema de filtragem, para evitar
corrosões dos elementos metálicos.
Quando a obstrução é muito grande estes tratamentos são ineficazes, em cujo caso se colocam
os gotejadores em banho de ácido. Em qualquer caso tem que calcular se resulta mais barato fazer
esta aplicação ou substituir os gotejadores por outros novos.

9.4 – PRECIPITADOS PROVOCADOS POR INCORPORAÇÃO DE FERTILIZANTES


Para evitar a formação de precipitados ao incorporar fertilizantes (fertirrigação) ou outros produtos
químicos (quimigação) tem que levar em conta os seguintes requisitos:
- devem ser suficientemente solúveis e muito puros, para que não se formem natas nem
sedimentos;
- tem que evitar a mistura de substâncias que pode reacionar entre si e produzir precipitados;
- compatibilidade com os elementos contidos na água de irrigação;
- não devem corroer nem causar danos ao material da instalação.
Para comprovar a compatibilidade do produto incorporado com a água de irrigação se coloca uma
quantidade do produto num recipiente com água, em tal proporção que resulte uma concentração
ligeiramente mais alta à que se usará na irrigação. Agita-se bem e se deixa em repouso durante 24

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horas. Não se recomenda o emprego desta substância quando se forma sedimento no fundo ou
espuma na superfície.
Em geral, os problemas de obstrução não estão associados aos fertilizantes nitrogenados, salvo
no caso que estes fiquem parados na tubulação entre duas irrigações consecutivas, o que favorece a
proliferação de microorganismos. Para evitar este inconveniente se irriga só com água ao final da
fertirrigação.
Os fertilizantes fosfatados podem reacionar com o cálcio e magnésio presentes na água de
irrigação, provocando a formação de precipitados insolúveis. Para evitar estes inconvenientes, que se
produzem com um pH elevado, acidifica-se a solução fertilizante acrescentando ácido sulfúrico à
própria solução ou imediatamente depois da fertirrigação. Entende-se que os fertilizantes fosfatados
não podem se misturar com outros que contenham cálcio oi magnésio.
Quando se usa fertirrigação tem que ter a precaução de irrigar sem fertilizantes ao princípio e ao
final de cada irrigação, pois nestas fases há um maior risco de que se produzam precipitados.
As soluções concentradas de fertilizantes ou as que têm um pH muito alto ou muito baixo podem
produzir corrosão em cobre, zinco,bronze ou outras partes metálicas, e, por isso, recomenda-se que
os componentes que entrem em contato com esses fertilizantes sejam de plástico ou de aço
inoxidável.
Tem que ter a precaução de não utilizar nematicidas que reacionem com o PVC nem emulsões
que ataquem o polietileno.

10 – ELEMENTOS DE CONTROLE

10.1 – REGULADORES DE VAZÃO E DE PRESSÃO


A regulagem de pressões e/ou vazões à entrada das subunidades de irrigação é imprescindível
nas instalações de irrigação localizada.
Um bom projeto hidráulico garante que as perdas de carga que se produzem dentro da
subunidade de irrigação (ao longo das linhas laterais e terciárias) não ultrapassam determinados
valores, de tal forma que a diferença máxima de pressões entre emissores é tal que a diferença
correspondente de vazões não supera um valor prefixado, em função da uniformidade de irrigação
desejada.
No entanto, em duas subunidades de irrigação da mesma instalação individualmente bem
projetadas, os emissores de uma podem apresentar diferenças de vazões em relação aos da outra,
devido a diferenças importantes nas pressões de entrada às mesmas. Em conseqüência, para um
bom projeto do conjunto da instalação, em muitos casos é necessário colocar elementos que
permitam efetuar a regulagem de pressões e/ou vazões.
Os reguladores são aparatos que absorvem o excesso de energia da rede, proporcionando um
valor constante de pressão e/ou vazão de água. O princípio de funcionamento é criar uma perda de
carga adicional como meio de controlar a pressão e/ou vazão na rede. Por sua vez, ao estar a
pressão e a vazão diretamente relacionadas com um diâmetro dado de tubulação, logra-se uma
regulagem de vazões e/ou pressões.
Os reguladores podem ser classificados como segue:
- reguladores de vazão: mantêm uma vazão aproximadamente constante dentro de uma
determinada faixa de pressões de entrada. A pressão de saída depende das características
hidráulicas da rede de irrigação depois do elemento.
- reguladores de pressão: mantêm uma pressão de saída aproximadamente constante dentro
de uma determinada faixa de pressões de entrada. A vazão depende das características
hidráulicas da rede de irrigação depois do elemento.
Os reguladores de pressão podem ser de dois tipos:
- reguladores de pressão dinâmica: atuam somente com fluxo de água;
- reguladores de pressão estática e dinâmica: atuam com e sem fluxo de água.

10.1.1 – Reguladores de vazão


São aqueles dispositivos capazes de regular a vazão, que circula por uma tubulação, dentro de
uma faixa de pressões, em que atuam eficientemente. A perda de carga que produzem estes
reguladores é devido à variação da seção de passagem da água. Ao aumentar ou diminuir a pressão
à entrada do regulador, sua área de passagem diminui ou aumenta, respectivamente.
Estes elementos apresentam em seu funcionamento o fenômeno de histerese que sofre qualquer
mecanismo que utilize elementos elásticos. A amplitude deste fenômeno depende das características
do material utilizado, sendo desejável que seja a menor possível.

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É denominada vazão nominal (Qn) de um regulador a aquela vazão para que ele foi calibrado. O
desvio máximo admissível desta vazão deve estar dentro da faixa Qn±7%. A pressão mínima de
trabalho (Pmin), é a maior pressão que produz a vazão mínima admissível (Qn-7%). A pressão
máxima de trabalho (Pmax), é a menor pressão que produz a vazão máxima admissível (Qn+7%). A
faixa de pressões de trabalho, é aquela que proporciona vazões compreendidas entre o ±7% da
vazão nominal. É, portanto, a diferença entre a pressão máxima e a pressão mínima. Esta faixa não
deve ser inferior a 30 mca. Na prática, a maior parte dos reguladores de fluxo admite uma faixa
bastante superior (de 5 a 8 bares). A pressão nominal (Pn) é aquela que produziria a vazão nominal
sem regulador de vazão. A diferença entre a pressão de trabalho que obteria a vazão nominal com
regulador e a pressão nominal é denominada perda de carga nominal e é importante que seja a mais
pequena possível para evitar que se tenha que dar ao sistema de irrigação pressões altas. Em geral,
esta perda de carga varia de 2 a 12 mca, dependendo do tipo de regulador. A pressão de saída afeta
ao regime de trabalho do regulador, haja vista que é necessária uma faixa de diferença de pressão
(pressão à entrada menos pressão à saída do elastômero) para que este atue. Portanto, à medida
que é necessário operar com pressões maiores à saída, a pressão mínima de trabalho, aumenta
conseqüentemente.
Os reguladores de vazão devem ser resistentes aos produtos químicos que são injetados na água
de irrigação e não serem afetados por pequenas partículas em suspensão, o que ajuda a flexibilidade
dos elastômeros. A aplicação mais usual consiste em instalá-los antes de cada emissor, por exemplo,
em aspersores convencionais, para convertê-los em autocompensantes. Os microaspersores e
gotejadores que são fabricados como autocompensantes têm um mecanismo a base de elastômeros,
análogo ao de um regulador de vazão. Também podem ser instalados na cabeceira de subunidades e
unidades de irrigação mas não é fácil encontrar um modelo cuja vazão nominal coincida com a
desejada, exceto que fabrique expressamente para isso; e por isso, nestes casos, costuma-se usar
reguladores de pressão. No entanto, têm a vantagem quanto aos reguladores de pressão, de que em
caso de rompimentos águas abaixo do regulador de vazão, o fluxo se mantém constante. Os
reguladores de vazão são de grande utilidade em redes de distribuição de água de irrigação quando
se pretende limitar o fluxo máximo de entregas de água em hidrantes ou parcelas. No processo de
fabricação dos reguladores se produzem inevitáveis diferenças, de forma que suas curvas de
funcionamento não são idênticas. Isto faz com que dois reguladores do mesmo tipo, trabalhando à
mesma pressão, ministrem vazões ligeiramente diferentes. Para poder quantificar a qualidade na
fabricação dos reguladores é definido um coeficiente de variação, de forma análoga ao feito com os
emissores. Este coeficiente de variação de fabricação é um dado importante para estimar a
uniformidade de irrigação.

10.1.2 – Reguladores de pressão


São aqueles dispositivos capazes de regular a pressão de saída dentro de uma faixa de pressões
de entrada na qual atuam eficientemente. O mecanismo que aciona a maior parte dos reguladores é
um pistão com uma mola, que se move dentro duma carcaça ou corpo provocando o estrangulamento
da passagem d’água. Para que o regulador atue tanto sobre pressões dinâmicas como estáticas, é
necessário que o fechamento do disco obturador sobre o assento seja de um ajuste perfeito, de tal
forma que inclusive regule a vazão nula. Estes reguladores resultam muito mais caros, devido à
melhor qualidade dos materiais empregados em sua fabricação e a sua maior robustez (são
fabricados para pressões normalizadas de 16, 25 ou 40 bares). Existem modelos de reguladores cuja
ação não é direta, e sim que atuam mediante uma pequena válvula piloto externa que é a que detecta
a pressão a ser regulada e comanda uma hidráulica principal, que é a que produz a abertura ou
fechamento. Os reguladores de ação direta são fabricados somente até diâmetros 8”, enquanto que
os de acionamento mediante piloto podem chegar a diâmetros muito superiores. Também existem
modelos em que a pressão de saída é uma proporção da pressão de entrada. Estes reguladores são
denominados de proporcionais. Nas instalações de irrigação localizada e mais concretamente no
controle da pressão de entrada das subunidades de irrigação só é necessário regular a pressão
dinâmica, pelo que são empregados aparatos mais econômicos, normalmente construídos com
carcaças de plástico ou combinação plástico-metal, que carecem da câmara superior e o disco
obturador e o assento são igualmente de materiais plásticos que não permitem um fechamento
hermético. As pressões máximas de trabalho destes reguladores não costumam ser superiores a 8
bares e são fabricados em pequenos diâmetros (normalmente até 2”).
Os resortes ou molas que são levados nestes reguladores produzem um fenômeno de histerese
análogo ao dos reguladores de vazão.

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É denominada pressão nominal (Pn) de um regulador a aquela pressão de saída para a qual ele
foi calibrado. O desvio máximo admissível deverá estar aproximadamente na faixa Pn±13%. Em
diversas redes de irrigação, a mesma pressão de saída produz vazões diferentes. Portanto, um
regulador de pressão admite uma ampla faixa de vazões, igual que um regulador de vazão admite
uma ampla faixa de pressões de saída. Para determinar a pressão mínima necessária à entrada do
regulador temos que levar em conta que este tem uma perda de carga intrínseca, que é a perda de
carga que tem o próprio aparato, sem considerar o efeito de regulagem e que depende da vazão.
Um bom regulador deve cumprir os seguintes requisitos:
- a perda de carga intrínseca e o efeito de histerese devem ser os mais reduzidos possíveis;
- o funcionamento do regulador não deve ser afetado por água que contenha silte, areia, algas,
entre outros, na proporção que normalmente são encontrados na água de irrigação;
- sua construção e montagem devem ser simples, com poucas necessidades de manutenção;
- a faixa de regulagem definida por Pmax-Pmin deve ser no mínimo três vezes a pressão nominal
(Pn);
- para um mesmo regulador os fabricantes devem ministrar diferentes gamas de resortes de
distintas calibrações.
Quando a pressão na rede de irrigação seja superior à Pmax de trabalho, pode-se optar por
colocar dois ou mais reguladores em série, de forma que suas faixas de atuação se somem e
permitam provocar a redução desejada. Quando além das pressões dinâmicas se deseja controlar a
pressão estática na rede, podem ser utilizados modelos de reguladores de pressão capazes de
controlar ambas pressões. Em caso destes redutores sejam proporcionais, devemos ter presente
para o cálculo da pressão de saída que a taxa de redução é cumprida tanto para a pressão estática
como para a dinâmica. Quando se trata de regular pressões estáticas, muitas vezes é conveniente a
instalação de válvulas de alivio ou de segurança, para descarregar a pressão que poder ficar presa
como conseqüência de um fechamento com velocidade superior à da atuação do regulador.

10.2 – OUTROS APARATOS DE CONTROLE


Para o correto funcionamento de todos estes elementos (rotâmetros, manômetros e contadores de
líquidos) devem ser instalados em pontos onde não existam turbulências provocadas por peças
especiais. Em geral, antes e depois do aparato devem ser mantidos trechos retos, livres de pontos
singulares, de um comprimento da ordem de 20 vezes o diâmetro. Devem, também, ser consultadas
as normas de instalação que normalmente são ministradas pelos fabricantes.

10.2.1 – Manômetros
Para realizar um bom manejo da irrigação é indispensável conhecer as pressões existentes, tanto
nos diferentes elementos que compõem o cabeçal como em pontos singulares da rede de irrigação. O
objetivo mais importante da medida da pressão é garantir o correto funcionamento da instalação e
detectar possíveis avarias. Também nos permite saber em que momento devemos limpar os filtros,
como fertilizar corretamente, e comprovar que as peças especiais operam com normalidade, entre
outras coisas. Estas pressões são medidas, na maioria dos casos, com manômetros metálicos, tipo
Bourdon. Nestes, a pressão do líquido se comunica a um tubo flexível curvado, que tem um extremo
fechado e conectado, por um acoplamento mecânico (engrenagem de cremalheira), a uma agulha
indicadora que se move sobre uma escala graduada. A pressão do líquido tende a desenrolar o tubo
curvado, produzindo um movimento da agulha. A leitura zero da escala corresponde à pressão
atmosférica. A precisão deste instrumento depende da faixa de medida e de sua calibração. Para os
propósitos citados anteriormente é suficiente instalar modelos que permitam apreciar 1 mca. Convém
eleger os aparatos com uma faixa de medida o mais próximo possível à faixa de pressões que se vá
medir. Os manômetros têm que ser situados nos pontos estratégicos da instalação, ou colocando um
em cada ponto ou instalando somente tomadas manométricas e fazendo leituras com um manômetro
portátil. Este último tem a vantagem de que se evitam os erros de calibração de diferentes
manômetros, haja vista que geralmente (por exemplo, na limpeza dos filtros) interessa mais a
diferença de pressão entre dois pontos que o valor absoluto da mesma. Isto também pode ser
conseguido mediante a instalação fixa de um manômetro que mede pressão em vários pontos através
de uma válvula de três ou mais vias. Em instalações que funcionam com pressão muito baixa (menos
de 3 mca), são muito úteis os manômetros de coluna d’água.

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10.2.2 – Rotâmetros
São dispositivos que medem o fluxo que circula através de uma tubulação. São compostos de
uma câmara cilíndrica ou cônica no interior da qual se aloja um balin (parece com uma bala, um
projetil) de volume e peso conhecidos. É similar ao densímetro. O rotâmetro é colocado em posição
vertical, ou diretamente na tubulação ou em derivação sobre ela, segundo modelos e vazões a medir.
A água circula em direção ascendente deslocando mais u menos o balin para cima, segundo seja a
magnitude do fluxo. Com a ajuda de uma escala se medem os deslocamentos do balin, que estão em
relação proporcional ao fluxo que circula. Em grandes instalações simplificam o manejo e controle da
irrigação, sendo possível detectar facilmente obstruções, quedas de pressão, rompimentos, entre
outras. São muito úteis para conhecer a vazão que se deriva para os tanques de fertilização.

10.2.3 – Contadores de líquido


Quando interessa um controle de água que passa pela instalação podem ser colocados
contadores de líquidos, elegendo, entre os numerosos modelos existentes no mercado, o mais
adequado em cada caso. Existem dois tipos de contadores , que são utilizados para isso:
- Woltmann: é formado por um corpo de fundição em cujo interior e no centro da veia líquida se
encontra um moinhozinho helicoidal. Este gira quando passa a água, sendo sua velocidade de
giro proporcional à vazão que circula pela tubulação. Mediante um sistema de engrenagens se
transmite o número de voltas a um grupo de esferas que indicam a vazão. As válvulas
volumétricas levam incorporadas um contador deste tipo.
- Proporcional: este contador mede parte da vazão que circula pela condução e, estabelecendo
a conveniente proporção, determina seu valor total. Constam de um diafragma ou tubo e um
contador de turbina que se instala em derivação da condução principal. O diafragma, colocado
na veia líquida, provoca uma perda de carga, que é proporcional à vazão que circula pela
tubulação. Ao aumentar a diferença de pressão, a vazão que circula pela derivação é maior e
faz girar mais velozmente a turbina. Depois dos necessários ajustes se recebe o resultado
numas esferas numeradas que registram o volume d’água. Nas esferas destes contadores
podem ser instalados mecanismos eletromagnéticos que produzem impulsos elétricos por cada
unidade de volume de água registrada. Estes impulsos, recolhidos num quadro eletrônico
apropriado, permitem o controle automático de irrigações.
O tipo Woltmann é mais caro que o proporcional; sendo similar o grau de precisão, ainda que
ligeiramente favorável ao Woltmann. Ambos tipos produzem uma perda de carga que oscila entre 1 e
3 mca.

11 – EMISSORES
Os emissores são dispositivos que controlam a saída da água desde as tubulações laterais.
Segundo a vazão que proporcionam se dividem em dois grupos:
- emissores de baixa vazão: inferior a 20 l/h; compreende os gotejadores e os tubos emissores
(mangueiras e fitas de exudação);
- emissores de alta vazão: entre 20 e 200 l/h; compreende os difusores e os microaspersores.
Um emissor deve reunir as seguintes características:
- de instalação fácil;
- pouco sensível à obstrução;
- pouco sensível à variação de pressão;
- de baixo custo;
- que mantenha suas características ao longo do tempo.
Não é necessário que o emissor possua todas estas características de uma vez, mas sim somente
aquelas que são precisas para cada caso concreto. Por exemplo, um emissor deve ser pouco
sensível à obstrução quando se utiliza água superficial bastante contaminada, mas não é tão
necessária esta qualidade quando se utiliza água subterrânea limpa. Em terrenos planos não se
necessita emissores que compensem as diferenças de pressão, mas sim em terrenos ondulados.
Os emissores são, talvez, os elementos de mais importância das instalações de irrigação
localizada. Toda dificuldade no seu projeto construtivo reside no seguinte problema: os emissores
devem proporcionar uma vazão baixa, com o objetivo de que os diâmetros das tubulações,
especialmente as laterais e terciárias, sejam reduzidos. Por outro lado, a pressão de serviço dos
emissores não deve ser alta, para reduzir o consumo de energia; também não deve ser muito baixa,
para minimizar os efeitos dos desníveis do terreno e da perda de carga sobre a uniformidade de
irrigação. Estas condições conduzem a emissores com reduzido diâmetro da seção de passagem da
água. Por outro lado, há uma condição oposta a ser cumprida: o diâmetro da seção de passagem da

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água no emissor deve ser o maior possível, com o objetivo de evitar obstruções, que se apresentam
como o principal problema no manejo dos sistemas de irrigação localizada. Esta condição é resolvida
pelos fabricantes de forma muito variada e, em conseqüência, existem no mercado muitos tipos de
emissores.
A maioria dos emissores de baixa vazão trabalha com uma pressão próxima a 10 mca. Ainda que
os de alta vazão operam de 10 a 30 mca. As fitas de exudação costumam trabalhar entre 1 e 3 mca.
As vazões variam de 1 a 20 l/h em gotejadores e de 20 a 200 l/h em microaspersores. Os
microaspersores operam a pressões que variam de 10 a 30 mca, tendo um orifício de saída maior
que o dos gotejadores e, portanto, requerendo um sistema de filtragem mais simples.
Em teoria, todos os emissores, de uma mesma marca e modelo, deveriam dar a mesma vazão
quando atuam à mesma pressão e temperatura, mas na prática isso não ocorre. As variáveis de
fabricação (tipo de material, temperatura, desgaste da maquinaria, entre outras) afetam as dimensões
do emissor e, portanto, a sua vazão. Para valorar a uniformidade de uma amostra de emissores se
estabeleceu o coeficiente de variação de fabricação (CVf), segundo o qual são estabelecidas duas
categorias de emissores:
- categoria A: coeficiente de variação inferior a 5%;
- categoria B: coeficiente de variação compreendido entre 5 e 10%.
Os emissores de categoria A apresentam um desvio pequeno com respeito à vazão nominal. Os
de categoria B apresentam um desvio considerável, pelo que será desejável eleger os de categoria A,
condição necessária para conseguir uma elevada uniformidade de distribuição da água.

11.1 – GOTEJADORES
Existe no mercado uma grande variedade de gotejadores. Conforme a configuração de seu
conduto podem ser classificados da seguinte forma:
- de labirinto: a água percorre uma trajetória em labirinto; é pouco sensível às obstruções e às
mudanças de pressão e temperatura.
- de orifício: a água é descarregada através de um ou mais orifícios de pequeno diâmetro; é
pouco sensível às variações de pressão e temperatura, mas se obstrui com facilidade devido
ao pequeno diâmetro dos orifícios.
- de redemoinho: este emissor tem uma câmara circular onde se produz o redemoinho, em cujo
centro se localiza o ponto de emissão; o diâmetro do conduto pode ser maior que em outros
emissores, reduzindo o risco de obstrução; e são pouco sensíveis às variações de pressão.
- autocompensante: este emissor tem um dispositivo (geralmente uma membrana flexível) que
permite variar o tamanho do seu conduto com relação à pressão da água; proporciona uma
vazão correta dentro de uma ampla faixa de variação de pressão, pelo que é indicado para
terrenos acidentados, onde são produzidas importantes diferenças de pressão; tem os
inconvenientes de ser bastante sensível às obstruções, de que as variações de temperatura
afetarem a membrana flexível e, de, com o passar do tempo de funcionamento, perder a
faculdade de autocompensação.
A conexão do gotejador à tubulação pode ser feita de duas formas:
- entrelinha: conectam-se os dois extremos do gotejador num corte dado na tubulação; também
são produzidas tubulações com gotejadores embutidos, que são chamados de sistemas
integrados.
- sobrelinha: o gotejador é instalado sobre a parede da tubulação mediante um orifício feito com
uma ferramenta própria.
A escolha de um gotejador adequado influi decisivamente, tanto na garantia de um bom
funcionamento da instalação, como na vida útil, o que repercute nos custos do sistema. O fabricante
deve informar ao usuário, entre outro, os seguintes dados: marca registrada, vazão e pressão de
funcionamento, categoria do emissor, instruções para a conexão à tubulação, tipo de tubulação
aconselhável e suas medidas, instruções para a limpeza, e limitações de uso com fertilizantes e
produtos químicos.

11.2 – TUBOS EMISSORES


Os tubos emissores conduzem e, ao mesmo tempo, aplicam a água através de umas perfurações
pouco espaçadas ou através da parede porosa. Sua vazão é inferior a 16 l/h por metro linear de
condução e trabalham com pressões inferiores a 10 mca. Em geral são bastante sensíveis às
obstruções. Com frequência são fabricados de polietileno e devem ser colocados enterrados a pouca
profundidade. São de baixo custo e são utilizados para irrigar culturas em linha, tipo hortaliças, cuja
separação requer grande quantidade de emissores.

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Há dois tipos de tubos emissores:


- mangueiras: são tubulações de pouca espessura, com perfurações espaçadas uniformemente;
trabalham a pressões inferiores a 10 mca; são muito sensíveis às obstruções; existem dois
tipos: mangueira perfurada e mangueira de parede dupla.
- fitas porosas ou de exudação: a água sai através do material poroso de que estão
constituídas; trabalham a pressões compreendidas entre 1 e 3 mca, com uma vazão de 1 a 2
l/h por metro linear de fita; são muito sensíveis às obstruções provocadas por bactérias e algas
microscópicas, pelo que se recomenda evitar a exposição à luz enterrando-as superficialmente;
sua vida útil é curta.

11.3 – DIFUSORES E MICROASPERSORES


A microaspersão consiste em aplicar a água em forma de chuva fina, mediante dispositivos que a
distribuem num raio não superior a 3 m. Os dispositivos que têm tubos fixos se chamam difusores, e
os que têm algum elemento com movimento de rotação se chamam microaspersores. Trabalham a
uma pressão compreendida entre 10 e 20 mca, com vazões desde 16 a 200 l/h.
Em solos muito arenosos, a irrigação por gotejamento forma uns bulbos estreitos e profundos, o
que pode dar lugar a perdas de água e fertilizantes, que saem fora do alcance das raízes. A irrigação
por microaspersão é uma solução para resolver este inconveniente. Com respeito à irrigação por
gotejamento apresenta, também estas vantagens:
- menor proporção de obstruções;
- maior uniformidade de irrigação;
- melhor controle dos sais do bulbo úmido, já que resulta mais fácil aplicar irrigações de lavagem.
Em troca, apresenta o inconveniente de um maior custo que o gotejamento, devido a que emprega
maior vazão (o que obriga a incrementar o diâmetro das laterais) e uma maior pressão de trabalho (o
que repercute desfavoravelmente no custo da energia).

12 – ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO


A tecnologia da irrigação consiste no uso eficiente da água para a produção agrícola. Desde um
ponto de vista do produtor, o objetivo principal é o de manter níveis de umidade que otimizem o
retorno econômico. A implementação da tecnologia da irrigação requer três etapas:
- projeto;
- instalação;
- manejo.
As características de dita tecnologia são tais que cada uma destas etapas deve ser implementada
corretamente. Se uma das etapas resulta deficiente, o sistema de irrigação como um elemento de um
sistema de produção agrícola será deficiente sem importar o grau de perfeição que se tenha obtido
nas outras duas etapas.

12.1 – PROJETO DO SISTEMA


A etapa de projeto consiste em toda ação requerida para produzir as especificações físicas do
sistema. Ditas especificações consistem numa série de planos, mapas, desenhos e cálculos que
garantam que o sistema foi projetado para satisfazer as demandas da cultura e também cumpre com
os códigos de engenharia vigentes e com os aspectos legais aplicáveis. Também, os planos, mapas,
desenhos e cálculos devem ser o suficientemente detalhados para obter a lista de materiais
requeridos para a instalação do sistema. A etapa de projeto também deve produzir um manual de
operação sob condições normais de operação e recomendações gerais para a operação sob
condições extremas.

12.2 – INSTALAÇÃO DO SISTEMA


O resultado da etapa de instalação consiste num sistema que cumpra com os requisitos
estabelecidos na etapa de projeto.

12.3 – MANEJO DO SISTEMA


A etapa de manejo consiste de:
- estabelecimento de calendários de irrigação;
- operação do sistema de acordo com os calendários;
- manutenção do sistema.

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Os calendários de irrigação num sistema bem administrado são desenvolvidos principalmente com
base nas demandas de água da cultura geradas por condições climáticas.
A operação consiste na aplicação oportuna da água e na quantidade requerida pelas condições de
solo e planta.
Finalmente, a manutenção do sistema consiste naquelas ações que são requeridas para garantir
que este funcione de forma contínua de acordo com as especificações do projeto.
Como se afirmou anteriormente, se alguma das três etapas de implementação é levada a cabo
inadequadamente, o sistema de irrigação não logrará cumprir com seu objetivo principal. Quer dizer,
sistemas mal ou bem projetados e mal manejados, serão ineficientes.

13 – INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA O PROJETO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO


Para projetar um sistema de irrigação localizada tem que ser determinadas todas as
características técnicas da irrigação, com a finalidade de que a distribuição da água seja uniforme e
eficiente. Faz-se em duas etapas: no projeto agronômico se consideram aqueles aspectos
relacionados com o meio (solos, clima, culturas, e outros), e no projeto hidráulico se dimensiona a
rede de distribuição. Os dados imprescindíveis que se necessita são os seguintes:
- do solo: interessa conhecer, se possível, dados de bulbo úmido, onde estão relacionados o
diâmetro ou o raio e a profundidade alcançada para diferentes volumes de água aplicados;
- do clima: interessa conhecer, sobretudo, os dados relativos sobre evapotranspiração;
- da cultura: alternativa de culturas, necessidades hídricas, profundidade radicular, marco de
plantação, trabalhos a serem realizados;
- da parcela: dimensões, topografia, ponto de captação de água e área a ser irrigada;
- da água: vazão disponível e qualidade da água;
- da irrigação: tempo disponível de irrigação cada dia e dias livres de irrigação durante o ciclo; a
eficiência que se pretende alcançar é fixada de antemão.

14 – PROJETO AGRONÔMICO
O projeto agronômico tem por finalidade garantir que a instalação seja capaz de aplicar a
quantidade suficiente de água, com um controle efetivo de sais e uma boa eficiência na aplicação da
água. É desenvolvido em duas fases:
- cálculo das necessidades de água;
- determinação dos parâmetros de irrigação: dose, freqüência e intervalo entre irrigações, vazão
necessária, duração da irrigação, número de emissores e disposição dos mesmos.
Em irrigação localizada de alta freqüência, também, não se considera a chuva efetiva, devido à
grande freqüência na aplicação da água.
Deixando de lado as perdas havidas nos canais e tubulações principais, de condução e
distribuição da água até a parcela de irrigação, as perdas ocorridas na própria parcela podem ser
agrupadas da seguinte forma:
- por evaporação no solo: que já são levadas em conta ao avaliar as necessidades de
evapotranspiração;
- por escorrimento superficial e percolação profunda;
- por lavagem ou lixiviação: ocorre em circunstâncias em que se precisa aplicar um excesso de
água para arrastar os sais para fora do alcance das raízes;
- por distribuição deficiente da água: esta perda é produzida quando nas zonas menos irrigadas
se quer aplicar a quantidade de água necessária para cobrir as necessidades das plantas, com
o que nas zonas mais irrigadas se aplica um excesso.
Uma vez calculadas as necessidades de irrigação temos que determinar os distintos parâmetros
de irrigação: dose, intervalo entre irrigações e duração da irrigação, assim como o número de
emissores por planta e a vazão por emissor. Finalmente se decide a disposição dos emissores.
Em solos de textura arenosa, onde se originam bulbos estreitos e profundos, tende-se a intervalos
muito curtos (uma ou duas irrigações diárias), tempos breves e número elevado de emissores. Em
solos de textura argilosa tende-se a intervalos mais longos (três ou quatro dias por semana), tempos
de irrigação mais amplos e menor número de emissores. Em solos de textura franca costuma-se
irrigar uma vez por dia.
Ao distribuir sobre o terreno as tubulações porta-emissores (laterais) temos que levar em conta
várias considerações:
- proporcionar a cada planta o número de emissores requeridos no projeto agronômico;
- não dificultar os tratos culturais;
- fazer a mínima inversão.

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Na colocação dos gotejadores ao longo das tubulações porta-gotejadores (laterais) podem ser
seguidos dois critérios distintos:
- a zona úmida forma uma linha contínua, ao longo da qual as plantas desenvolvem seu sistema
radicular. Este sistema tem a vantagem de facilitar os trabalhos agrícolas, mas tem o
inconveniente de que pode ser produzida a queda das plantas de porte alto. Adapta-se bem às
culturas em linha;
- forma-se uma série de pontos úmidos ao redor das plantas, com o qual as raízes se
desenvolvem em várias direções e é menor o risco de serem tombadas pelo vento. Este
sistema se adapta bem às culturas arbóreas.
No caso de culturas arbóreas o número de gotejadores vai sendo incrementado a medida que a
planta cresce. Quando a plantação é jovem, os gotejadores são colocados próximos ao pé da árvore
(de 0,70 a 1,20 m), pois de outra forma as raízes poderiam ter dificuldades para atravessar os bordos
salinos do bulbo úmido.
A disposição de uma tubulação por cada fila de planta com gotejadores interlinha é utilizada em
plantas herbáceas e em frutíferas. No caso de frutíferas é necessário que os bulbos se solapem
(cruzem-se, que haja sobreposição de parte deles), pois de outra forma as raízes teriam dificuldades
para atravessar a zona seca compreendida entre bulbos e o bordo salino dos mesmos. Também é
necessário solapar em cultivos herbáceos, porque do contrário as sementes que ficam entre os
bulbos teriam dificuldades para germinar.
A disposição de duas tubulações por cada fila de plantas tem o inconveniente de que se duplica o
comprimento de tubulação. Em muitas culturas se instala uma só tubulação por cada duas filas de
plantas, o que supõe uma grande economia de material. A disposição com múltiplos gotejadores se
instala em frutíferas.
É conveniente lembrar que não só deve se adaptar o projeto de linhas laterais às práticas de
cultivo, mas também, às vezes, pequenas mudanças nelas permitem baratear notavelmente as
instalações. Um caso, que se apresenta freqüentemente em culturas hortícolas, é a conveniência de
modificar levemente o marco de plantação, respeitando a densidade.
O processo, exposto acima, deve ser reiterativo até encontrar a melhor combinação de elementos
que permitam obter uma instalação projetada para um binômio benefício-custo ótimo, sem esquecer
que em ocasiões teremos que optar por não aplicar o sistema de gotejamento, mas partir para outros
métodos de irrigação localizada, como microaspersão, ou para métodos de irrigação convencionais,
que em muitas ocasiões suporão a melhor solução do citado binômio.
O método proposto apresenta como vantagem adicional permitir dar normas razoavelmente
aproximadas para o posterior manejo do programa de irrigação.

15 – PROJETO HIDRÁULICO
O projeto hidráulico tem por finalidade o cálculo das dimensões da rede de distribuição e do ótimo
traçado da mesma.
Uma das características da irrigação localizada é sua falta de flexibilidade para irrigar com uma
determinada instalação outro tipo de cultura que tenha distinto marco de plantação e/ou diferentes
necessidades hídricas. Por isso, cada sistema deverá ser utilizado dentro de parâmetros que são
definidos pelos limites de utilização do projeto.
Em alguns equipamentos é necessário prever uma capacidade extra do sistema, já que é
previsível que a vazão varie com o tempo. Para compensar estas variações, o sistema deverá ser
operado a maior pressão ou aumentar o tempo de aplicação. Por isso, deverá ser projetado com 10 a
20% de capacidade extra ou prever a possibilidade de poder aumentar a pressão de funcionamento
quando a descarga dos emissores decresça.
Se optar pela capacidade extra será necessário aumentar a capacidade do equipamento de
bombeamento, se este é necessário, e o diâmetro dos tubos para diminuir as perdas de carga. Se
escolher a reserva de pressão, só será necessário projetar um equipamento de bombeamento de
mais potência. Conseqüentemente, a segunda solução é menos custosa que a primeira. No entanto,
tem um campo maior de aplicação a capacidade extra, pois inclusive serve para compensar o
aumento de vazões por incremento de vazão média ou por pequenas fugas na instalação.
O dimensionamento da irrigação localizada é baseado no comportamento da subunidade de
irrigação, onde se determina a variação de pressão e vazão permitido dentro da mesma. Para tal se
considera que na entrada da subunidade sempre deverá existir um controlador de pressão. A
variação de pressão permitida deverá ser distribuída tanto no dimensionamento das linhas laterais
como na linha terciária. Já no dimensionamento das linhas secundárias e principal o procedimento a
ser seguido é similar ao da irrigação por aspersão.

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16 – AVALIAÇÃO DE UMA INSTALAÇÃO DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA


Em agricultura irrigada, é importante a avaliação dos parâmetros que afetam a qualidade da
irrigação, especialmente aquelas relacionadas à uniformidade de distribuição de água do sistema de
irrigação em uso.
A avaliação em campo de sistemas de irrigação por gotejamento é importante por vários fatores:
primeiro, para que os técnicos responsáveis pelos projetos confirmem se o mesmo é próspero e se a
uniformidade de aplicação da água nas subunidades de irrigação atingiram as especificações
desejadas; segundo é importante para que o técnico decida se o desempenho da subunidade de
irrigação é aceitável para se realizar a fertirrigação; em terceiro lugar, porque a avaliação é uma
importante ferramenta para diagnosticar os problemas da unidade de irrigação.
Para a avaliação da uniformidade de aplicação da água, é necessário a obtenção de um
Coeficiente de Uniformidade (CU).
Alguns autores recomendam a avaliação anual e periódica da uniformidade de emissão para
monitorar a performance do sistema de irrigação além de mostrar detalhes de problemas no sistema,
e também é prudente para se avaliar novas instalações de sistemas para estabelecer uma linha base
para futuras avaliações. Enquanto que outros recomendam avaliar o sistema ao fim ou início de cada
safra ou ciclo da cultura.
Existem vários métodos de avaliação propostos, na bibliografia. Entre eles podemos destacar dois
métodos que são o método adaptado de Merriam & Keller e o método da ASAE.
No primeiro método, coloca-se o sistema a funcionar de acordo com as condições normais de
manejo. Seleciona-se uma unidade de irrigação que seja representativa do conjunto da instalação e
outra, quando se acredite conveniente, que esteja nas condições mais difíceis (laterais ou terciárias
mais longas e/ou em aclive, ou com declividades maiores que 5%). Em cada uma destas
subunidades, seleciona-se 4 linhas de plantas, de tal forma que uma será a mais próxima do ponto de
alimentação da terciária, outra será a mais distante desse ponto e, as outras duas estarão situadas a
um terço e dois terços do comprimento que separe as duas primeiras. Em cada uma destas linhas de
plantas deverão ser selecionados os emissores que proporcionam água a 4 plantas. A primeira será a
mais próxima do ponto de alimentação da lateral. A última será a mais distante e entre ambas,
escolher-se-ão as situadas a um terço e dois terços da separação entre as duas primeiras. Quando
os emissores estão individualizados, deverão ser selecionados todos os que proporcionam água às
plantas selecionadas previamente, e durante um tempo de cerca de três minutos se recolherá em um
recipiente a água que saia por eles. Estes volumes serão medidos mediante uma proveta graduada e
serão anotados em uma planilha preparada para tal, onde fique claramente refletida a situação de
cada emissor. No caso de microaspersores ou difusores o recolhimento da água deverá ser efetuado
durante um tempo médio de meio minuto. Em tuboemissores porosos ou com orifícios separados a
menos de 0,30 m, mediante um recipiente adequado, deverá ser recolhida a água que saia em um
metro de tubulação em cada uma das localizações anteriores, isto é, 16 por subunidade. Em cada
uma das plantas selecionadas se medirão pressões. Estas medidas devem ser realizadas
imediatamente depois da prova anterior. Antes de terminar o funcionamento das unidades
operacionais de irrigação, nas que estão situadas as subunidades objeto da prova, deverão ser
medidas as pressões mínimas em cada terciária. Para terciárias em nível ou em aclive, a lateral com
pressão de entrada mínima estará situada ao final da terciária. Nas colocadas a favor da declividade,
a lateral se encontrará freqüentemente a um quinto do final da terciária. Quando, na instalação
existam diferentes classes de emissores, as provas anteriores devem ser repetidas para cada classe
de emissor. Com os dados dos volumes de água recolhidos no campo, calcular-se-á o coeficiente de
uniformidade de irrigação da subunidade avaliada.
No segundo método, como no caso anterior, seleciona-se uma subunidade de irrigação que se
coloca em funcionamento de acordo com as condições normais de trabalho. De acordo com a
uniformidade de irrigação esperada e os limites de confiança que para uma probabilidade de 95%,
determina-se o número de observações a serem realizadas. A seleção dos emissores para medir, em
cada um deles, a vazão e pressão, é realizada de forma “artificialmente” aleatória que consiste em
distribuir uniformemente as localizações ou plantas ao longo da subunidade operacional de irrigação
e, em cada uma destas plantas, se escolhe aleatoriamente um emissor. Com as vazões
determinadas, pode ser calculada a uniformidade de distribuição de água.
Podemos falar também de uma metodologia mais simples que estamos desenvolvendo no
Departamento de Engenharia Agrícola da ESAM, a qual é adaptada da metodologia apresentada,
também pela norma técnica da ASAE, e utilizada por alguns extensionistas de Universidades dos
Estados Unidos, juntamente com a metodologia utilizada no trabalho para a coleta das vazões
médias durante os testes de avaliação dos sistemas de irrigação das subunidades, proposta por
Merriam & Keller. Para tal, considera-se que a distribuição das vazões nas subunidades analisadas é
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representada por uma distribuição normal. Dessa maneira, coleta-se os tempos necessários (em
segundos) nos 16 pontos determinados (como na metodologia de Merriam & Keller), para encher um
recipiente de volume conhecido (por exemplo, 200 ml). Ordena-se estes valores de maior a menor.
Separam-se os quatro valores maiores e soma-se (chamando-o Tmax). Separam-se os quatro
valores menores e soma-se (chamando-o Tmin). Então, utiliza-se o gráfico (Figura 12) para
determinar o valor do Coeficiente de Uniformidade. Com esse valor determinado, o irrigante tem
condições de saber como está o comportamento da subunidade de sua instalação.

Figura 12 - Gráfico para determinação do Coeficiente de Uniformidade no campo

O gráfico foi montado para estes valores pois verificou-se que na região, onde foi realizado o teste
e onde o mesmo está sendo divulgado, utiliza-se gotejadores que variam de vazão desde 1 l/h até no
máximo 8 l/h. Com isso, os valores usados nos eixos do gráfico, servem para emissores que
trabalhem entre essas vazões.
Na avaliação de um sistema de irrigação localizada a ser implantado, para obter uma vazão
satisfatória em todas as plantas cultivadas alguns autores recomendam que o coeficiente de
uniformidade deve ficar compreendido entre 90 e 94%, enquanto outros, afirmam que os valores
devem ser iguais ou superiores a 94%. Por outro lado já outros ressaltam que não se pode considerar
projetos com valores do coeficiente de uniformidade inferior a 90%.
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Os valores do coeficiente de uniformidade determinados em campo, devem ficar entre 85% e 95%.
Quando os valores dos coeficientes de uniformidade forem inferiores a 90% deve-se identificar as
causas desta baixa uniformidade e tratar de solucioná-las.
Com um Coeficiente de Uniformidade (CU) acima de 90%, pode-se economizar água, energia e
fertilizantes, melhorar a eficiência de irrigação e rendimento das colheitas preservando o meio
ambiente, e aumentando os benefícios ao produtor. O critério geral para os valores de CU, para
sistemas de irrigação em operação, em uma ou mais secções de área são: excelente, quando maior
que 90%; bom, de 80% a 90%; regular, de 70% a 80%; e pobre, quando menores que 70%. Em
sistemas de irrigação que estão operando a mais de um ano com CU entre excelente e bom é uma
preliminar para atestar o satisfatório manejo prático deste sistema, mas, entretanto, quando a CU
está entre pobre ou próximo de pobre (mais ou menos 70%), usualmente indica entupimento total ou
parcial dos emissores, deteriorização dos emissores, ou problemas na regulagem da pressão do
sistema.
O objetivo principal dos projetos, já implantados ou a serem elaborados, é obter os maiores
coeficientes de uniformidade e uniformidade absoluta possíveis. Os limites mínimos do coeficiente de
uniformidade, asseguram água suficiente para o desenvolvimento da cultura sem perdas significativas
na sua produtividade.
As perdas de água na irrigação localizada são mínimas, proporcionando uma das maiores
eficiências dentre os métodos de irrigação. Como na irrigação localizada, a água é distribuída ao solo
através de pequenas vazões, é preciso termos segurança de que a água assim aplicada, está
atendendo plenamente às necessidades da cultura.
Para que se tenha um eficiente sistema de irrigação localizada se faz necessário que a água seja
aplicada uniformemente em toda a extensão do campo. Se a eficiência de irrigação é definida como a
percentagem de água aplicada à cultura, que é armazenada nas zonas das raízes, então uma baixa
uniformidade de emissão estará conduzindo a uma sub-irrigação, resultando na baixa eficiência e
excessivo consumo de energia da bomba. Igualmente, irá resultar no uso ineficiente dos fertilizantes
que se lixiviam abaixo da zona radicular, devido a excessiva aplicação de água. Então,
evidentemente, a alta uniformidade de emissão é um pré-requisito para a boa eficiência da irrigação.
A eficiência e a uniformidade de aplicação de água desse método de irrigação oferece grande
potencial de benefícios para a cultura, aumentando a produção de frutas de melhor qualidade e
redução de custos pela economia de água, fertilizantes e mão de obra.
A eficiência da irrigação é algo que se identifica por uma relação custo-benefício, cuja
maximização depende de fatores que vão desde as condições de mercado para os produtos
agrícolas, até as características de desempenho dos emissores.

17 – FERTIRRIGAÇÃO
A fertirrigação é a aplicação de fertilizantes dissolvidos na água de irrigação. É utilizada na
irrigação localizada, ainda que também possa ser utilizada na irrigação por aspersão e até na
irrigação por superfície. A fertirrigação na irrigação localizada tem as seguintes vantagens em relação
à adubação tradicional:
- os fertilizantes se localizam na zona onde se desenvolvem as raízes;
- os fertilizantes são administrados à planta conforme suas necessidades nas distintas etapas de
seu desenvolvimento;
- há menos perdas de elementos nutritivos.
Para empregar corretamente os fertilizantes tem que se levar em conta aquelas características
que podem influir sobre o solo de cultivo ou sobre o manejo da instalação.
As características a considerar são as seguintes:
- solubilidade: todos os fertilizantes utilizados em fertirrigação devem ter um grau de
solubilidade que impeça as obstruções com partículas sólidas sem dissolver. Para incorporar
um fertilizante a um sistema de irrigação tem que se preparar previamente uma dissolução
concentrada que é a que se injeta no sistema de irrigação.
- salinidade: a concentração de sais solúveis é um dos critérios mais influentes para julgar a
qualidade das águas de irrigação. Quando a água é de boa qualidade podem ser utilizadas,
sem perigo grave, concentrações altas na adubação; mas quando a água é de má qualidade
resulta ser imprescindível utilizar concentrações baixas, o que requer aplicações freqüentes.
De qualquer forma, ainda com águas boas é preferível aplicar o adubo o maior número
possível de vezes.
- acidez: o mais inconveniente é manter uma reação ácida, o que facilita a solubilização dos
compostos de cálcio e evita, portanto, as precipitações calcárias nas conduções.

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- grau de pureza: os fertilizantes utilizados em fertirrigação devem ter um alto grau de pureza,
para evitar sedimentos ou precipitações que obstruam a instalação.
- compatibilidade das misturas: tem que se evitar as reações químicas de onde se originem
produtos sólidos insolúveis.

18 – AUTOMATIZAÇÃO
Os sistemas de irrigação localizada são, em geral, instalações fixas formadas por várias unidades
de irrigação que operam consecutivamente com tempos de aplicação longos e com alta freqüência.
Portanto, prestam-se a uma possível programação automática.
Com os equipamentos existentes atualmente no mercado se consegue diversos níveis de
automatismo, até chegar com o uso de microprocessadores a uma programação automática da
irrigação para períodos longos de tempo, incluindo a estimativa automática das necessidades de
irrigação. A eleição do nível de automatismo idôneo, para cada caso, deverá ser feita em base a
critérios técnico-econômicos e preferências do agricultor. Também tem que estar de acordo com a
formação do pessoal que o maneja e das possibilidades de um bom serviço de peças e consertos.
O nível “zero” de automatização consiste em utilizar válvulas de acionamento manual para dar
passagem à água de irrigação para cada uma das unidades. Neste caso, o parâmetro utilizado para
controlar a irrigação é o tempo ou volume de água aplicado, se dispormos de um contador de
líquidos, o que não é habitual. Inclusive neste nível “zero” de automatização, as irrigações localizadas
exigem muito menos mão de obra que qualquer outro sistema, com a exceção de determinadas
instalações fixas ou equipamentos mecanizados de aspersão. A principal atividade do irrigante
consiste na recarga de adubos, manter os filtros limpos, vigiar para que os emissores funcionem
corretamente e abrir e fechar válvulas de acordo com o programa de irrigação.
Os progressivos níveis de automatização são centrados precisamente nesta última operação, ou
seja, na abertura e fechamento de válvulas, ainda que nos modelos mais sofisticados pode ser feito
um controle automático do funcionamento da instalação, assim como estimar as necessidades de
irrigação, introduzindo no programa as ordens oportunas. Em geral, podem ser estabelecidas
diversas categorias mais ou menos arbitrárias, para classificar os níveis de automatismo.
Estabeleceremos três níveis:
- nível 1: neste nível cada válvula ou série de válvulas deve ser posta em marcha antes de cada
ciclo de irrigação;
- nível 2: neste nível a válvula, ou conjunto de válvulas, repete o ciclo de irrigação
automaticamente;
- nível 3: é o nível de automatismo total em base a microcomputadores.
Para o controle automático das instalações, cada unidade de irrigação dispõe de uma ou mais
válvulas, que, acionadas por distintos mecanismos, fecham quando passa um determinado volume de
água, ou depois de um determinado tempo de funcionamento, sendo estes dois parâmetros de
controle os habituais.
Em alguns casos, a abertura e fechamento das válvulas podem ser feitos em função de valores
alcançados por parâmetros indicadores do estado da água no solo e/ou na planta, como potencial da
água no solo, ou temperatura da folha. Às vezes com base em parâmetros micrometeorológicos, o
caso mais freqüente é a altura de água num tanque evaporimétrico. Também existem protótipos,
projetados para irrigar com base na radiação global, temperatura, umidade do ar, e outros. Na
realidade, hoje em dia, as limitações não são do tipo instrumental, mas do conhecimento da influencia
dos possíveis parâmetros ao nível necessário para permitir utilizá-los na prática da irrigação nos
diversos cultivos. Na maioria dos casos estes parâmetros só servem para por em funcionamento a
irrigação, que é parada por um controle de tempo ou volume.
No que se refere aos mecanismos utilizados para ordenar a abertura e o fechamento de válvulas,
podemos classificar os automatismos em três tipos:
- hidráulicos: neste caso as válvulas atuam por sinais de pressão de água transmitidos através
de tubos de PE de pequeno diâmetro (4 a 6 mm). Normalmente controlam volume.
- elétricos e/ou eletrônicos: as válvulas atuam sob excitação magnética criada por solenóides
ao receber impulsos elétricos. Normalmente controlam tempo.
- mistos:– nestes se combinam ambos tipos.

19 – BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ASAE EP458. Field evaluation of microirrigation systems. ASAE Standards, 1996.
BERNARDO, S. Manual de irrigação. Viçosa - MG, Imprensa Universitária da UFV, 1997
FUENTES YAGÜE, J. L. Técnicas de riego. Madrid, España, Ediciones Mundi-Prensa, MAPA, 1996

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KLAR, A. E. Critérios para escolha do método de irrigação. Irriga, Botucatu – SP, v. 5, n.1, p. 52-
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LEVIEN, S. L. A. Irrigação localizada: sistemas de irrigação localizada. Mossoró – RN, ESAM,
2001
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LEVIEN, S. L. A. Tópicos gerais da irrigação. Mossoró – RN, ESAM, 2001
MACHADO, L. S. F. Sistemas de irrigação por aspersão convencional, sulco e localizada
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MERRIAM, J. L.; KELLER, J. Farm irrigation system evaluation: a guide for management. 3 ed.
Utah State University. Logan, Utah. USA, 1978.
PROGRAMA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO. Curso de elaboração de projetos de irrigação. Brasília:
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RODRIGO LÓPEZ, J.; HERNANDEZ ABREU, J. M.; PEREZ REGALADO, A., GONZALEZ
HERNANDEZ, J. F. Riego localizado. MAPA-YRIDA, Ed. Mundi-Prensa. 405 p. 1992.

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