2006 Fonte:
http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?
pid=MSC0000000092006000100011&script=sci_arttextAcesso em
19/08/2016 às 20:13
RESUMO
Esta análise apresentada aqui é fruto da prática profissional com trabalho social
com famílias, bem como, da nossa inserção em pesquisas 2 nessa área vinculadas à
Faculdade de Serviço Social do Centro Universitário UniFMU 3 e da nossa
contribuição à Pesquisa "Recuperação de Fontes Seriais para a Historiografia da
Criança Institucionalizada no Estado de São Paulo", coordenada pelo Prof. Dr.
Roberto da Silva, e a realização do Congresso Internacional de Pedagogia Social
(março/2006), que envolveu três instituições de ensino (USP, UniFMU e
Mackenzie).
Introdução
Este artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre a centralidade da
família na política de assistência social, destacando especificamente a mudança de
paradigma ocorrida na Assistência Social, a partir da Constituição Federal de 1988
e a promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), em 1993, no que
concerne a transição do assistencialimso para a assistência social como direito. Para
tanto, iremos trazer alguns eixos presentes na legislação social, especialmente
aqueles que apontam e sedimentam a construção da assistência social como um
direito.
Esta análise apresentada aqui é fruto da prática profissional com trabalho social
com famílias, bem como, da nossa inserção em pesquisas 5 nessa área vinculadas à
Faculdade de Serviço Social do Centro Universitário UniFMU 6 e da nossa
contribuição à Pesquisa "Recuperação de Fontes Seriais para a Historiografia da
Criança Institucionalizada no Estado de São Paulo", coordenada pelo Prof. Dr.
Roberto da Silva, e a realização do Congresso Internacional de Pedagogia Social
(março/2006), que envolveu três instituições de ensino (USP, UniFMU e
Mackenzie).
A assistência passa, portanto, passa a ser "o dever legal de garantia de benefícios e
serviços sociais", rompendo com o "dever moral de ajuda".
[...] A assistência social tem um corte horizontal, isto é, atua ao nível de todas as
necessidades de reprodução social dos cidadãos excluídos, enquanto as demais
políticas sociais têm um corte setorial (educação, saúde[...]) Em outras palavras, é
possível dizer que à assistência social compete processar a distribuição das demais
políticas sociais e também avançar no reconhecimento dos direitos sociais dos
excluídos brasileiros." (MPAS, 1995: 20)
O artigo 11º da LOAS coloca, ainda, que as ações das três esferas de governo na
área da assistência social realizam-se de forma articulada, cabendo a coordenação
e as normas gerais à esfera Federal e a coordenação e execução dos programas,
em suas respectivas esferas, aos estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
(Política Nacional de Assistência Social, p. 37)
A centralidade da família
Podemos notar acima, que a NOB 2005 estabelece para o SUAS eixos
estruturantes, alguns dos quais já abordamos neste texto. Chegamos agora ao
ponto central do que nos propomos analisar, ou seja a centralidade da família.
Essa centralidade presente no SUAS, traz em sua base, a concepção de que todas
as outras necessidades e públicos da assistência social estão, de alguma maneira,
vinculados à família, quer seja no momento de utilização dos programas, projetos e
serviços da Assistência, quer seja, no início do ciclo que gera a necessidade do
indivíduo vir a ser alvo da atenção da política. A família é o núcleo social básico de
acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social. (NOB/05, p.
17)
Numa perspectiva social, podemos dizer, que a família é palco dos fatos mais
marcantes de nossas vidas. É a partir da família que nos constituímos como grupo
social, e ocupamos um lugar na sociedade. A seguir, tentaremos trazer os
elementos presentes em diferentes autores e, em especial, na própria legislação,
na busca da concretização de conceitos e concepções tão usados cotidianamente.
A família deve ser compreendida no contexto em que vive, lembrando que cada
família possui seus costumes e valores, e em constante movimento de
transformação. Além disso, podemos dizer que a família reflete as mudanças sociais
e paralelamente atua sobre elas, ocupando um importante papel no movimento da
sociedade.
A família deve ser apoiada e ter acesso a condições para responder ao seu papel no
sustento, na guarda e na educação de suas crianças e adolescentes, bem como na
proteção de seus idosos e portadores de deficiência. (NOB/05, p. 17)
Vale lembrar que, família pode ser considerada aquela que propicia o bem-estar de
seus componentes, ela desempenha um papel decisivo na educação formal e
informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários e
onde se aprofundam laços de solidariedade, é também em seu interior que se
constroem as marcas entre as gerações e são observados os valores culturais
(Ferrari, 1994, p. 8). Conforme Damatta (1994), a família pode representar uma
instituição fundamental na vida social, uma rede de relações, ou ainda, de acordo
com a definição da Organização das Nações Unidas – ONU (1994), "família é gente
com quem se conta".
Cabe ressaltar, que a família produz no seu interior padrões e valores culturais,
econômicos e sociais, que orientam a vida em sociedade, conduzindo seus
membros a um processo de socialização. Porém, de acordo com cada sociedade e
contexto histórico, a família se apresenta de maneira heterogênea e mutável,
refletindo e transmitindo as transformações sociais e atuando sobre elas.
No decorrer dos tempos a família constrói sua história, em constante interação com
o contexto econômico, político e social, presentes a sua volta. Nas últimas décadas,
as várias transformações sociais e econômicas contribuíram para a entrada em
massa das mulheres no mercado de trabalho, transformando as convenções de
comportamento social e pessoal, afetando os padrões e as relações familiares,
aumentando a tendência de famílias chefiadas por mulheres e de pessoas vivendo
sozinhas.
Nesse contexto, gerar filhos, ampliar a prole, muitas vezes é um fardo e não uma
opção. A luta pela sobrevivência e o precário acesso aos direitos sociais, dificulta a
possibilidade de acesso à informação sobre sexualidade, contracepção e
planejamento familiar.
A situação vivenciada por estas mulheres não se difere muito da situação vivida por
boa parte das mulheres brasileiras, que além de enfrentarem múltipla jornada de
trabalho, mesmo exercendo as mesmas funções que o homem são remuneradas
com um valor inferior.
No entanto, é importante ressaltar um dos aspectos abordados por Carvalho(1998),
que identifica uma tendência atual nas famílias e domicílios chefiados por mulheres
que extrapola fronteiras geográficas e classes sociais, e que seguramente também
é condicionada por situações regionais, possuindo manifestações específicas que,
mesmo dentro de um mesmo país, determinam e diferenciam entre grupos de
famílias e domicílios quanto ao seu grau de vulnerabilidade e a sua incidência.
Esta tendência de centralidade na família presente nas leis e nas políticas sociais
confere-lhe uma perspectiva que prioriza a relação entre política e a dinâmica
socioeconômica internacional e nacional, por meio da apreensão de seu caráter
contraditório, dos mecanismos de regulação estatal e das diversas formas de
participação e expressão dos movimentos sociais e, principalmente, da inserção nas
organizações governamentais e não governamentais.
O trabalho com famílias, nas suas mais diversas configurações, compõe o cotidiano
de trabalho do assistente social na quase totalidade de suas áreas de intervenção.
Portanto, se faz necessário ampliar as produções teóricas direcionadas ao trabalho
social com famílias, visando desenvolver maior competência técnica, ética e política
na direção do projeto ético-político da profissão.
Entendemos que primeiramente, o que deve nortear o trabalho social com famílias
é o reconhecimento que as pessoas são ou podem vir a ser autores e atores de sua
própria história, a partir do resgate de seus saberes e quereres, da (re)construção
de valores, identificação de habilidades e potencialidades, tendo em vista uma
perspectiva emancipatória. Nosso trabalho parte de uma abordagem cidadã,
orientando sobre os direitos sociais, possibilitando o acesso às políticas existentes e
informando os meios para a garantia e consolidação dos direitos, fortalecendo,
portanto, o desenvolvimento de protagonismo social.
Segundo o mesmo autor, para que isso seja possível, requer atividades que
permitam a pessoa se sentir acolhida de modo que possam colocar suas opiniões,
suas idéias, enfim sua visão de mundo. E muitas vezes isso só é possível pela via
afetiva, ou seja, no desenvolvimento de vínculos tanto com os membros do grupo e
também com o profissional que exerce o papel de facilitador do processo grupal. O
profissional, facilitador do processo deve sempre monitorar adequadamente o
grupo, mantendo a comunicação fluida entre todos. Dessa forma entendemos que
os sujeitos passam a se sentir responsáveis por seus papéis na construção de sua
história. Para isso o grupo deve possibilitar o acolhimento, escuta e
territorialização:
As ações coletivas são entendidas como ações organizadas a partir de uma visão
estratégica e focada no desenvolvimento do ser humano e do desenvolvimento
local, motivados pelo ideal da construção de processos participativos a partir de
deliberações em conjunto que promovam novas alternativas de desenvolvimento do
território numa perspectiva do exercício de cidadania, tendo em vista a
consolidação dos direitos. Dizendo de outra forma, é quando o grupo passa a se
sentir responsável pela construção de sua história e da história coletiva, começando
pelo território onde vive.
É nesse estágio que o território passar a ter nova dimensão para as famílias
envolvidas no trabalho, pelos significados e re-significações que os sujeitos vão
construindo em torno de suas experiências de vida em dado território, a
identificação das potencialidades do lugar com vistas ao desenvolvimento local.
Sabemos que esse caminho é longo, pois para tornar dinâmica uma potencialidade
é preciso um conjunto de fatores de desenvolvimento, tais como o acesso à renda,
ao conhecimento e ao poder. Tais questões extrapolam o esforço individual e
coletivo de um dado território, mas se o caminho é longo e vários já estão trilhando
esse caminho, não há outro jeito a não ser nos prepararmos para fazer nossa
caminhada.
Considerações finais
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