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_ ; 2. A produgao social da identidade e da diferenca Tomaz Tadeu da Silva As questées do multiculturalismo e da diferenga torna- ram-se, nos ultimos anos, centrais na teoria educacional criti- cae até mesmo nas pedagogias oficiais. Mesmo que tratadas de forma marginal, como “temas transversais”, essas ques- toes so reconhecidas, inclusive pelo oficialismo, como legi- timas questdes de conhecimento. O que causa estranheza nes- sas discuss6es 6, entretanto, a auséncia de uma teoria da iden- tidade e da diferenga. Em geral, 0 chamado “multiculturalismo” apoia-se em um vago e benevolente apelo 4 tolerancia e ao respeito para coma diversidade ea diferenga. E particularmente problema- leia de diversidade. Parece difi- limita a proclamar a existéncia base para uma pedagogia que litica da identidade e da di- dade, a diferengaea identi- talizadas, essencializa- tica, nessas perspectivas, a id cil que uma perspectiva que se da diversidade possa servir de coloque no seu centro a critica po ferenga. Na perspectiva da diversi dade tendem a ser naturalizadas, cris das. Sao tomadas como dados ou fatos da vida social oa dos quais se deve tomar posi¢ao. Em geral, a posiga0 social- mendada é de respeito € Mente aceitae i te rec! pedagogicamen| : 4 que tolerancia para com a diversidade ¢ a diferenca. Mas ecapo ~ : . ] = " as questdes da identidade e da diferenga s¢ esgotam 2 aa Sigdo liberal? E, sobretudo: essa perspect!v4 ae B servir de base para uma pedagogia critica e que: Nao deveriamos, antes de mais nada, ter uma teo cao da identidade ¢ da diferenga? Quais as ima Sobre 4 politicas de conceitos Como diferenga, identidade fi lieagieg de, altendade > O que esta em jogo na identidade» cia, configurana uma pedagogia eum curriculo que or centrados nao na diversidade, mas na diferenca como proceso. uma pedagogia e um curriculo que na mitassem a celebrar a identidade e a diferenga, mas 0 se |. cassem problematiza-las? E para quest6es como essa bus. volta o presente ensaio. que se Stionadg, . produ 10 Se °StiVessen, COncebig, identidade e diferenga: aquilo que é e aquilo que nao é Em uma primeira aproximagao, parece ser facil definir “identidade”. A identidade é simplesmente aquilo que se é: “sou brasileiro”, “sou negro”, “sou heterossexual”, “sou jo- vem”, “sou homem”. A identidade assim concebida parece ser uma positividade (“aquilo que sow”), uma caracteristica independente, um “fato” auténomo. Nessa perspectiva, a identidade s6 tem como referéncia a si propria: ela é au- tocontida e autossuficiente. Na mesma linha de raciocinio, também a diferenga é con- cebida como uma entidade independente. Apenas, neste ¢ so, em oposicao a identidade, a diferenga é aquilo que 0 outro é “ela é italiana”, “ela ¢ branca”, “ela é homossexual”, “ela velha”, “ela é mulher”. Da mesma forma que a identidade, a diferenca é, nesta perspectiva, concebida como autorte renciada, como algo que remete a si propria. A diferenga como a identidade, simplesmente existe. e identidade edifere™ déncia. A fom a escom E facil compreender, entretanto, qu' ¢a esto em uma relag3o de estreita depen afirmativa como expressamos a identidade tenee 74 essa relacao. Quando digo “sou brasileiro” parece que estou fazendo referéncia a uma identidade que se esgota em si mes- ma. “Sou brasileiro” — Ponto. Entretanto, eu s6 Preciso fazer essa afirmagao porque existem outros seres humanos que nao sao brasileiros. Em um mundo imaginario totalmente homo- géneo, no qual todas as pessoas partilhassem a mesma identi- dade, as afirmagées de identidade nao fariam sentido. De cer- ta forma, é exatamente isto que ocorre com nossa identidade de “humanos”. E apenas em circunstancias muito raras e es- peciais que precisamos afirmar que “somos humanos”. Aafirmag&o “sou brasileiro”, na verdade, é parte de uma extensa cadeia de “negagées”, de expressdes negativas de identidade, de diferengas. Por tras da afirmacao “sou brasilei- 346, 10” deve-se ler: “nao sou argentino”, “nao sou chinés”, “nao sou japonés” e assim por diante, numa cadeia, neste caso, quase interminavel. Admitamos: ficaria muito complicado pronunciar todas essas frases negativas cada vez que eu qui- sesse fazer uma declara¢ao sobre minha identidade. A grama- tica nos permite a simplificagao de simplesmente dizer “sou brasileiro”. Como ocorre em outros casos, a gramatica ajuda, mas também esconde. Damesma forma, as afirmagGes sobre diferenga s6 fazem sentido se compreendidas em sua relagdo com as afirmagoes sobre a identidade. Dizer que “ela é chinesa” significa dizer que “ela nao € argentina”, “ela nao é japonesa” etc., incluindo a afirmacdo de que “ela nao é brasileira”, isto é, que ela nao é © que eu sou. As afirmacoes sobre diferenga também depen- dem de uma cadeia, em geral oculta, de declaragdes negativas Sobre (outras) identidades. Assim como a identidade depende da diferenga, a diferenga depende da identidade. Identidade diferenca sio, pois, inseparaveis. _ Emgeral, consideramos a diferenga como um produto de- "ado da identidade, Nesta perspectiva, a identidade é a refe- 15 réncia, € 0 ponto original relativamente ao qual Se define 4 F ferenga. Isto reflete a tendéncia a tomar aquilo que som, como sendo a norma pela qual descrevemos ou 2valian aquilo que nao somos. Por sua vez, na Perspectiva que ye S tentando desenvolver, identidade e diferenca S40 Vistas co mutuamente determinadas. Numa visio mais radical tanto, seria possivel dizer que, contrariamente a primeira ber, pectiva, éa diferenga que ver em primeiro lugar. Para i880 se. ria preciso considerar a diferen¢a nao simplesmente Como te. sultado de um processo, mas como 0 processo mesmo poly qual tanto a identidade quanto a diferenga (compreendi da aqui, como resultado) sao produzidas. Na origem estaria a di. ferenca-compreendida, agora, como ato ou processo de dife. renciagao. E precisamente essa nogdo que est no centro da conceituacao linguistica de diferenga, como veremos adiante, > tre. Identidade e diferenga: criaturas da linguagem Além de serem interdependentes, identidade e diferenga partilham uma importante caracteristica: elas so 0 resultado de atos de criacdo linguistica. Dizer que sao 0 resultado de atos de criagdo significa dizer que nao sao “elementos” da natureza, que nao sdo esséncias, que nao sao coisas que este- jam simplesmente ai, a espera de serem reveladas ou desco- bertas, respeitadas ou toleradas. A identidade e a diferenca tém que ser ativamente produzidas. Elas nao sao criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mun- do cultural e social. Somos nés que as fabricamos, no contex- to de relagdes culturais e sociais. A identidade e a diferen¢@ sdo criagdes sociais e culturais. Dizer, por sua vez, que identidade e diferenga s40 © Te sultado de atos de criagao linguistica significa dizer que be Sio criadas por meio de atos de linguagem. Isto parece U™ obviedade. Mas como tendemos a toma-las como dadas. como “fatos da vida”, com frequéncia esquecemos que 4 76 igentidade eadiferenga tem que ser nomeadas, i ejo de atos de fala que instituimos a identida renga como tais. a definigdo ge identidade brasileira, por exemplo. OD resultado da criagao de variados ¢ complexos 4108 linguisticos que a definem como sendo diferente de ou- “ag jdentidades nacionais. apenas por de ea dife- tras | Como ato linguistico, a identidade ea diferenga esto su- jeitasacertas propriedades que caracterizam a linguagem em veral. Por exemplo, segundo o linguista suigo Ferdinand de Saussure, a linguagem 6, fundamentalmente, um sistema de diferengas. Nos ja haviamos encontrado esta ideia quando fa- lamos da identidade e da diferenga como elementos que sé tém sentido no interior de uma cadeia de diferenciagao lin- ouistica (“ser isto” significa “no ser isto” e “nao ser aquilo e “nao ser mais aquilo” e assim por diante). De acordo com Saussure, os elementos ~ os signos — que constituem uma lingua nao tém qualquer valor absoluto, nao fazem sentido se considerados isoladamente. Se considera- mos apenas o aspecto material de um signo, seu aspecto grafi- co ou fonético (0 sinal grafico “vaca”, por exemplo, ou seu equivalente fonético), nao ha nele nada intrinseco que remeta aquela coisa que reconhecemos como sendo uma vaca - ele poderia, de forma igualmente arbitraria, remeter a um outro objeto como, por exemplo, uma faca. Ele s6 adquire valor — ou sentido — numa cadeia infinita de outras marcas graficas ou fonéticas que sao diferentes dele. O mesmo ocorre se con- Sideramos 0 significado que constitui um determinado signo, 'sto é, se consideramos seu aspecto conceitual. O conceito de “vaca” s6 faz sentido numa cadeia infinita de conceitos que mio so “vaca”, Tal como ocorre com o conceito “sou brasi- leito”, a palavra “vaca” é apenas uma maneira conveniente ceervinda de dizer “isto nao é porco”, “naoé arvore”, “naoe © assim por diante. Em outras palavras, a lingua nao 77 1 sistema de diferengas. Reencontramos, aqui a ideia de diferenga como Produto, a noga, diferenga como a operagao ee 0 gy basico de funcion mento da lingua ¢. por extensao, de instituigdes culty, ciais como a identidade, por exemplo. passa de ur contraste com ee Tals e 59. Mas a linguagem vacila... A identidade e a diferenga nao podem ser compreen pois, fora dos sistemas de significagdo nos quais adquiten sentido. Nao sdo seres da natureza, mas da cultura e dos siste. mas simbdlicos que a compdem. Dizer isso nao Significa, en. tretanto, dizer que elas sao determinadas, de uma vez por to. das, pelos sistemas discursivos e simbdlicos que lhes dio de. finicdo. Ocorre que a linguagem, entendida aqui de forma mais geral como sistema de significacao, é, ela propria, uma estrutura instavel. E precisamente isso que tedricos pis-es- truturalistas como Jacques Derrida vém tentando dizer nos ultimos anos. A linguagem vacila. Ou, nas palavras do lin- guista Edward Sapir (1921), “todas as gramaticas vazam”, didas, Essa indeterminagao fatal da linguagem decorre de uma caracteristica fundamental do signo. O signo é um sinal, uma marca, um trago que esta no lugar de uma outra coisa, a qual pode ser um objeto concreto (0 objeto “gato”), um conceito ligado a um objeto concreto (0 conceito de “gato”) ou um conceito abstrato (“amor”). O signo nao coincide coma cois? 0u 0 conceito. Na linguagem filoséfica de Derrida, poderit ™os dizer que o signo nao é uma presenca, ou seja, a coisa 04 0 Conceito nao esto presentes no signo. Mas a natureza da linguagem é tal que nao podemos der xar de ter a ilus&o de ver o signo como uma presen¢a, " : ae en signoa Presenca do referente (a “coisa”) ou ee » 1, 1880 que Derrida chama de “metafisica 43 PT" 5a". Essa “ilusio” é hecessdria para que o signo " 78 como tal; afinal, © signo esta no lugar de alguma outra coisa: Embora nunca plenamente realizada, a promessa da precene ¢ parte integrante da ideia de signo. Em outras palavras, po- m Derrida, que a plena presenga (da “coisa”, demos dizer. co go conceito) no signo é indefinidamente adiada. E também a impossibilidade dessa presenga que obriga 0 signo a depen- der de um processo de diferenciacio, de diferenga, como vi- mos anteriormente. Derrida acrescenta a isso, entretanto, a jdeia de tra¢o: 0 signo carrega sempre nao apenas 0 tra¢o da- uilo que ele substitui, mas também o trago daquilo que ele nao é, OU seja. precisamente da diferenca. Isso significa que nenhum signo pode ser simplesmente reduzido a si mesmo, ou seja. a identidade. Se quisermos retomar o exemplo da identidade e da diferenga cultural, a declaragao de identidade “sou brasileiro”, ou seja, a identidade brasileira, carrega, contém em si mesma, 0 traco do outro, da diferenga — “nao “nao sou chinés” etc. Amesmidade (ou a iden- (ou da diferenga). re o trago da outridade O exemplo da consulta ao dicionario talvez ajude a com- preender melhor as questdes da presenga ¢ da diferenga em Derrida. Quando consultamos uma palavra no dicionario, 0 dicionario nos fornece uma defini¢éo ouum sindnimo daque- la palavra. Em nenhum dos casos, 0 dicionario nos apresenta a“coisa” mesma Ou O “conceito” mesmo. Adefinigao do di- cionario simplesmente nos remete para outras palavras, ov “coisa” mesma ou do seja, para outros signos. A presenga da . conceito “mesmo” € indefinidamente adiada: ela sO existe como trago de uma presenga que nunca se concretiza. Alem disso, na impossibilidade da presen¢® um determinado SIE" 5660 que é porque ele nao éumoutro, nem aquele outro etc., Ou seja, sua existéncia € marcada unicamente pela diferen¢a i sma & que sobrevive em cada signo como tragO- como fanta ¢ im dizer. Em suma, 0 Signo © assombracdo, se podemos ass! sou italiano”, tidade) porta semp' 719 caracterizado pelo diferimento ou adiamento (da oe pela diferenga (relativamente a outros signos), die risticas que Derrida sintetiza no conceito de diffé-g, pertos a Scar a inf ulheres ou de certos grupos racials” oy ¢ tig, cteristica natural ou biologica a0 ‘a Naty. Subvertendo e complicando a identidade Mais interessantes, entretanto, sao os movimentos que conspiram para complicar e subverter a identidade. A teoria cultural contemporanea tem destacado alguns desses movi- mentos. Alids, as metaforas utilizadas para descrevé-los re- correm, quase todas, 4 propria ideia de movimento, de via gem, de deslocamento: diaspora, cruzamento de fronteiras. nomadismo. A figura do flaneur, descrita por Baudelaire € retomada por Benjamin, é constantemente citada come exemplar de identidade mével. Embora de forma indireta, 4s metaforas da hibridizagao, da miscigena¢ao, do sinoretis mo e do travestismo também aludem a alguma especie © mobilidade entre os diferentes territorios da identidade. : metaforas que buscam enfatizar os processos Ue oe cam € subvertem a identidade querem enfatizar a tra hn Com 0 processo que tenta fixa-las — aquilo Ss perspectivas, esses process 86 mente teoricos: eles sao parte integral da dinami amica Jes! mp .o da identidade e da diferenga. da produca " ‘ado, sobretu- 10 das identida m o process lades s ¢ étnicas. Na perspectiva da teo . .a, o hibridismo — a mistura, a conjungao. diferentes nacionalidades, entre diferent es. mo, por exemplo, tem sido anal om o processo de prod ohibridis clagao © do.em" jon emporane so entre «entre diferentes ragas coloca em xeque aqueles pro. > tendem a conceber as identidades como funda- paradas, divididas, segregadas. 0 processo confunde a suposta pureza e insolub idade se reuinem sob as diferentes identidades na- ou étnicas. A identidade que se forma por smo nao é mais integralmente nenhuma das inais, embora guarde tragos delas. ntdades org le esquecer, entretanto, que a hibridizagao se jtuadas assimetricamente em relagdo hibridizagdo analisados pela teo- m de relagGes conflituosas raciais ou étnicos. Eles ac! ont de pibridizagao as grupos que Nao se pod gu entre identidades si poder. Os processos de rig cultural contemporanea nasce! tre diferentes grupos nacionais, ao ligados a historias de ocupagao, colonizagao e destrui- clo. Trata-se, na maioria dos casos, de uma hibridizagao wrgada. O que ateoria cultural ressalta € que, a0 confundira stubilidade e a fixagao da identidade, ahibridizagao, de al- uma forma, também afeta 0 poder. O “terceiro espago” BHABHA, 1996) que resulta da hibridizagao nao é deter- ninado, nunca, unilateralmente, pela identidade hegemoni- le introduz uma diferenga que constitui a po ibilidade de seu questionamento. O hibridismo esta ligado aos mov ue permitem 0 contato entre diferentes i me 7 deslocamentos nomades, as viage ronteiras, Na perspectiva da eon cultul imentos demograficos identidades: as dids- ns, os eruzamen- ral contempo- 87 a. esses movimentos podem ser literais, como na di ra foreada dos povos africanos por meio da escravizacao, Por exemplo, ou podem ser simplesmente metaforicos, “Cruzar _ por exemplo, pode significar simplesmente aa ver-se livremente entre os territorios simbélicos de diferentes identidades. “Cruzar fronteiras” significa nao Tespeitar Os si- nais que demaream “artificialmente” ~— 08 limites entre os territorios das diferentes identidades. rane spo. fronteiras™. Mas ¢ no movimento literal, concreto, de grupos em mo- vimento, por obrigagéo ou por op¢ao, ocasionalmente ou constantemente, que a teoria cultural contemporanea vai bus- car inspira¢ao para teorizar sobre os processos que tendema desestabilizar e a subverter a tendéncia da identidade a fixa- cao. Diasporas, como a dos negros africanos escravizados, por exemplo, ao colocar em contato diferentes culturas e ao favorecer processos de miscigenagdo, colocam em movi- mento processos de hibridizacao, sincretismo e crioulizagao cultural que, forgosamente, transformam, desestabilizam e deslocam as identidades originais. Da mesma forma, movi- mentos migratérios em geral, como os que, nas tiltimas déca- das, por exemplo, deslocaram grandes contingentes popula- Cionais das antigas coldnias para as antigas metropoles, favo- recem processos que afetam tanto as identidades subordina- das quanto as hegeménicas. Finalmente, é a viagem em geral ‘uc ¢ tomada como metafora do carater necessariamente mo- vel da identidade. Embora menos traumatica que a diaspora ouvamigracao forgada, a viagem obriga quem viajaa sentirs¢ comaneeiro”, Posicionando-o, ainda que temporariamen” ° outro”. A viagem proporciona a experiéncia do "4 enuir-se em casa” que, na perspectiva d ia cultural com temporanea Caracteriza eee teor ‘dade cultu- ral. Na Viagem a ma verdade, roe ae forma limitada, as aaa “MOS experimentar, ainda que “dade € da precariedade ie € as Insegurangas — da instabil a identidade, 88 Se 0 movimento entre fronteiras coloca em evidéncia a instabilidade da identidade, nee aE linhas de fronteira, nos Jimiares. NOS ad que sua Precariedade se torna Aqui, mais do que a partida ou a chegada, é fronteira, é estar ou permanecer na fronteira, que ec acontecimento critico. Neste caso, é a teorizagao cultural contemporanea sobre géneroe sexualidade que ganha centra- jidade. AO chamar a atengao para o carater cultural e cons- truido do énero e da sexualidade, a teoria feminista e a teoria queer contribuem, de forma decisiva, para o questionamento das oposigdes binarias — masculino/feminino, heterosse- xual homossexual — nas quais se baseia 0 processo de fixa- cao das identidades de género e das identidades sexuais. A possibilidade de “cruzar fronteiras” e de “estar na fronteira’’, de ter uma identidade ambigua, indefinida, é uma demonstra- cao do carater “artificialmente” imposto das identidades fixas. O“cruzamento de fronteiras” e 0 cultivo propositado de iden- tidades ambiguas é, entretanto, ao mesmo tempo uma podero- saestratégia politica de questionamento das operagoes de fixa- cdo da identidade. A evidente artificialidade da identidade das pessoas travestidas e das que se apresentam como drag-queens, porexemplo, denuncia a— menos evidente—artificialidade de todas as identidades. mais Vis eruzara Identidade e diferenga: elas tem que ser representadas Ja sabemos que a identidade e a diferenga estao estreita- mente ligadas a sistemas de significagao. A identidade é um significado — cultural e socialmente atribuido. A teoria cultu- Tal recente expressa essa mesma ideia por meio do conceito A Tepresentagdo. Para a teoria cultural contemporanea, a Kentidade ea diferenca estao estreitamente associadas a sis- Mas de representacao. 89 06 xo ‘JOatsia jgquy NO [PTUOUL O' edejuasaadas ‘eounu ‘ovsdoouos ovdnquasasdos y [eso orssaudxa pun ap ‘o1xm juin op sprpessojoy RUIN Op “pamutd Pun ap or _ggsaidxo opdequasardas y ‘Jeuoieus roe ind ou ais ap pUlaIsts outod ‘9 IS! ‘ayURILUAIS ap OBSUUUIP PS uedtUn epiqoou 1901 ON -poiBojootsd ganbyenb no seys| -nyaigos squepiafor as aonb ‘qquowiesioustid *eotj1usis _pannayso-sod ogdequasaidas Bun ap as-PIP4 J “Porssel> 1 ogddaouod ens UWIOd SOPRIIOSSP SODNQUITL 2 puvasap SPur “ORSEOYIUTIS ap PUIDIS!s Sejuaso1dad B “OJXO]UOI SSN 401497 y vou 09 9 ovdeiuosoidas “ristyeuninansa apepuouaiut risodns Puin W099 udu saodRIOUOD Janbstrnb “op ° wo ae -sod ons! opdeqoosse -yosol! srisiy soysodnssaud SO oS-LUE: un W109 BPIqIoU09 9 oR’ -ppuouaytp 8 © opepHUOP! 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Assim, por exemplo, uma sentenga nto”. ti pntretanto. do como per ‘Joao é pouco inteli gente”, embora pare¢a ser simples- descritiva, pode funcionar — em um sentido mais am- como performativa, na medida em que sua repetida enunciagdo pode acabar produzindo o “fato” que suposta- mente apenas deveria descrevé-lo. E precisamente a partir ovias da sexualidade. Belo Horizonte: Auténtica, p. 151-172. DERRIDA. J. (1991). Limited Inc. Campinas: Papirus. EDO. LL. (1996). El sujeto inevitable. In: CRUZ, M. (org.). > ompo de subjetividad. Barcelona: Paidos, p. 133-154. SAPIR. E. (1921), Language. Nova York: Harcourt Brace. 102

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