Você está na página 1de 3

8ª LIÇÃO

2) O direito função da sociedade? – as conceções redutivistas (o direito como variável


dependente)

- problema da determinação do modo como o direito se articula com a sociedade – será o


direito uma pura função dependente da sociedade?

- para essas orientações o direito seria um mero resultado dos elementos materiais
irredutivelmente constitutivos da sociedade

- existem correntes defensoras da ideia de que o direito depende, em exclusivo, e


respetivamente, da economia, da política e da cultura» o direito sendo uma realidade fraca
determinada pelas realidades mais fortes;

A. A redução do direito ao económico:


• sustenta a redução da normatividade jurídica – o direito é a mera expressão normativa
das relações económicas, não traduzindo mais do que a normação do económico;
• a estrutura económica da sociedade determina todas as dimensões de sentido e de
valor da vida humana – desde a consciência individual à superestrutura jurídica e
política que se viesse a institucionalizar;
• para Marx, a infraestrutura é que seria a causa nuclear de todas as dimensões da vida
societariamente significativas: cada cultura seria determinada pelas relações de
produção constitutivas da mencionada estrutura económica da sociedade;
• desta perspetiva, o económico seria o elemento determinante, e o direito, como
estrato integrante da superestrutura, seria determinado por aquela infraestrutura;
• é indesmentível o peso das preocupações económicas logo ao nível dos princípios – o
económico é ainda hoje o referente decisivo, mas nem sempre o foi;
• a racionalidade do económico é a da mera eficiência pragmática» como dispomos
sempre de poucos meios vemo-nos constantemente compelidos a optar pelo meio
mais eficaz para satisfazer os seus interesses ocasionais;
• a racionalidade económica é funcional, instrumental de meio-fim;
• se a realidade social fosse totalmente dominada pela economia, haveria apenas uma
única racionalidade, a puramente técnico-funcional;
• crítica: os interesses não podem ser avaliados em termos de pragmática eficiência» há
exigências constitutivas da prática, isto é, da significação especificamente humana da
vida – para além dos interesses há referentes culturais suscetíveis de serem
mobilizados para ajuizar desses interesses;
• crítica: tudo isto mostra não ser o económico o determinante exclusivo. O económico
não reduz o ético-jurídico.
B. A redução do direito ao político:
• a política é uma estratégia de eficiência finalística e visa o domínio;
• a comunidade tem no político uma dimensão constitutiva do seu próprio sentido, uma
vez que é nele que se encontram os valores e os princípios que a humanizam;
• o político é o húmus axiologicamente densificante e fundamentante da prática de
qualquer comunidade concreta;
• a política, diferentemente, identifica um programa finalístico, que tem na sua
estratégia e que é assumido por um governo. A política alimenta-se de valores, mas
sendo uma estratégia atuada por mais ou menos complexos jogos táticos, não se
confunde com eles;
• será o direito redutível à política? – é necessário apurar se o direito não passa da
política traduzida em normas;
• a autonomização da política coincidiu com a afirmação do Estado moderno – do
Estado que assumiu a titularidade de toda a prática da comunidade e também do
direito» tentação de reduzir todo o universo prático à política;
• com o Estado moderno o direito passou a ser legislação, mera expressão da vontade
do próprio Estado;
• para esta tese redutivista o direito não é mais do que a vontade da instância
politicamente soberana;
• críticas: (plano institucional*) problema das relações direito/poder e (plano
intencional+) as intensões do jurídico e da política:
• *o problema da legitimidade do poder do Estado» o poder será legítimo se estiver em
consonância substantiva com os valores que entretecem o político e se os tiver
realizado em termos adjetivamente conformes a esse referente fundamentante – a
dignidade da pessoa humana» afirmam-se direitos fundamentais inalienáveis de todos,
mesmo dos membros da minoria, de que a maioria não pode dispor;
• se o poder determinasse as validades, nunca entraria em conflito com elas, porque as
validades estar-lhe-iam subordinadas e o poder disporia sempre delas» isto contribui
para pôr em causa a mencionada e pretensa redução do direito ao poder;
• um exemplo de limitação do poder é o Estado-de-direito – uma limitação do poder em
nome em nome do direito» exigências predicativas da dignidade ética que nos
reconhecemos. O Estado-de-direito representa uma tentativa de resolver o problema
entre o poder e as validades;
• hodiernamente fala-se em Estado-de-direito material porque se afirmam valores
jurídicos que estão acima da própria legalidade;
• há uma relação entre o direito e a política, mas isso não significa que o direito se
identifique necessariamente com a política;
• +a política e o direito têm racionalidades distintas: a primeira é uma estratégia
finalisticamente prosseguida, ao passo que a normatividade, como validade que é, tem
caráter universal, perfilando-se, por isso, como um fundamento dialogicamente
constitutível, mobilizável e afinável;
• a política e o direito sempre se afirmaram na história como realidades
intencionalmente distintas;
• houve depois um momento em que o direito se identificou com a legalidade» os
valores jurídicos e políticos coincidiram. Todavia, esta coincidência logo se desfez
quando a lei deixou de ser o estatuto universal, o enquadrante estável e racional das
liberdades, para se transformar em mero instrumento da política;
• distinção entre lei/direito a significar a existência de uma normatividade vigente
constituída pela jurisprudência e pela própria realidade jurídica e a traduzir o
reconhecimento de valores trans-legais – o direito distingue-se, então, da legislação
política.
C. A redução do direito ao axiológico-cultural:
• O direito assimila os valores que entretecem a ordem axiológica da comunidade. Mas
o direito não é menos condicionado pelos histórico-socialmente concretos problemas
dessa mesma comunidade;
• o direito só verdadeiramente o será se puder dizer-se vigente;
• uma cultura será vigente quando se nos apresentar como uma efetiva dimensão de
sentido de uma certa prática, conformando axiológico-intencionalmente e histórico-
sociologicamente a pluralidade das manifestações existencialmente predicativas de
uma determinada comunidade;
• o direito só deverá considerar-se vigente se estiver em consonância problemática e
intencional com uma certa prática, se responder aos problemas justificadamente
reconhecidos como juridicamente relevantes que nela emergem e se assumir as
constituendas valências especificantes da juridicidade que nela se afirmam» o direito
tem a ver com a textura axiológica da comunidade circunstancialmente relevante;
• o direito é um dever-ser, porque é uma intenção de validade que transcende os factos
sociais para poder ajuizar deles;
• (questão do juracionalismo e do jusnaturalimos – pág 262-269);
• podemos concluir que o direito, embora não seja alheio a valores (pois é neles que
afinal radica a sua dimensão de validade), não se reduz a eles: o direito, para se
afirmar autenticamente como tal, tem também que ser eficaz, pois só assim será
vigente – o direito não se reduz, portanto, nem ao económico, nem à política, nem ao
axiológico-cultural» radica na intersubjetividade.

Você também pode gostar