Você está na página 1de 81

Física Contemporânea (MNPEF-Polo 4)

Prof. Ricardo de Sousa (UFAM)


1º semestre de 2022

Aula 3: Teorias atômicas

Manaus-2022
Sumário
1. Instabilidade do átomo: Modelo de Thomson
2. Problemas fundamentais em 1900
3. Radiação do corpo negro (as primeiras “teorias”)
4. Radiação do corpo negro (Planck, 1900)
5. Teoria dos quanta de Einstein (1905)
6. Efeito fotoelétrico (Einstein, 1905)
7. Radiação segundo Einstein (1907)
8. Experimento de Compton (1922)
1. Modelo de Thomson (1904)
Fórmula de Larmor


é o tempo de vida-média 
do átomo 
Problemas fundamentais em 1900
O que é a luz?
1) Radiação térmica (1900) 2) Efeito Hertz ou fotoelétrico (1905)

Wien Planck Lennard Einstein Millikan


Nobel (1911) Nobel (1918) Nobel (1905) Nobel (1921) Nobel (1923)

4) Espectro atômico (1814-1913)


2) Calor específico dos sólidos (1907)

Einstein Debye
Nobel (1921) Nobel química (1936)
RADIAÇÃO DE CORPO NEGRO
As primeiras “teorias”

Kirchoff (1859):  é universal, não


depende das características do material
Densidade espectral
Wien (1893)

 O máximo da distribuição espectral se desloca


mantendo a relação:

max/T = a=1,03x1011 s-1/K ou maxT = b=2,94x10-2 m.K

Lei do deslocamento de Wien


Corpo Negro (primeira teoria)

 A lei de Stefan-Boltzmann u= T4 foi


testada e confirmada em 1897 por
diversos pesquisadores:

 F. Paschen, O. Lummer, E. Pringheim, C.


E. Mendenhall, F. A. Saunders,....
Reduction of Stefan's law, por Boltzmann, em Wied Ann. 22, 291 (1884).
1º Teste: Use a relação p= u/3 para a radiação, combine com a
1ª e 2ª lei da termodinâmica: TdS=pdV+dU, mostre que uT4
Sendo S(T,V) uma função de estado, logo sua diferencial exata será escrita
por

dS= VdT+ TdV=

ou
T=

VdT+ TdV=

V=
Sendo =

= = =

=
= uT4
max/T = a=1,03x1011 s-1/K
maxT = b=2,94x10-2 m.K

Lei do deslocamento de Wien


Alguns resultados…….
1) Lei do deslocamento de Wien
(1893):

  , T    f  / T 
3


u    ( , T ) d    T 4

2) Segunda lei de Wien (1896):

  , T    e 3   / T

i) Baseada numa comparação (absurda!!) da


distribuição de velocidades das moléculas de Maxwell-Boltzmann
ii) É adequada na região de altas frequências (falha no infravermelho distante)
Teorema de Planck

 Planck: Calculou energia emitida e absorvida


(por unidade de tempo) por ressonadores
eletromagnéticos (contínuo de energia)
8 e 2 2 2
Eem  3

3mc
e 2
Eabs   ( , T )
3m
Max Planck
(Ann. Physik 1, 99 (1900))

Na situação de equilíbrio: emissão = absorção


8 2
 ( , T )  3 
c
 (,T) descreve a radiação, e é a energia
média dos ressonadores
 Esta relação é puramente clássica, baseada no
eletromagnetismo de Maxwell
# Para maiores detalhes, ver a dedução no livro do
Caruso, seção 10.2.2 (Os osciladores de Planck, 1899).
Radiação na cavidade
Remarks upon the Law of Complete
Radiation,
por Rayleigh, em Phil. Mag. 49, 539 (1900).

Condição de contorno periódica ( , T )  8 2


Onda livre na caixa
3

c
o

=x,y,z
n=0,1,2,..
R

 
+ + = )=

No de modos (e densidade) de vibrações no
volume V das ondas de frequência  ,T) )

)  
)= = 8 2
  ( , T )  
c3
Radiação do corpo negro
Planck (1900)

Osciladores

Contínuo
 da energia
(,T)=

Onda eletromagnética
Rayleigh (1900)
Dipolo hertziano usado para a
Justificativa da 2ª lei de Wien comunicação navio-terra através
de código Morse (alcance ~ 10
Max Planck km)

 Dipolos oscilantes (segundo a


teoria de Maxwell) haviam sido
estudados por Heinrich Hertz em
1889, e por Planck em 1895 e 1896.

James Clerk Maxwell Heirich Hertz


Catástrofe do ultravioleta!!!
 
(,T)= (,T)=

Teorema da equipartição
(Teoria de Rayleigh-Jeans)

O termo catástrofe do
ultravioleta foi
primeiramente usado em
1911 por (Paul Ehrenfest).
Problemas !
 Em outubro de 1900, H. Rubens e F. Kurlbaum fizeram
novas medidas contrárias à lei de Wien e avisaram a
Planck dos seus resultados, antes de divulgá-los.

 Para altos comprimentos de onda e altas


temperaturas, a densidade de energia era proporcional à
temperatura, em concordância com a lei de Rayleigh, i.e.,

( ,T )  a   T   T
Max Planck
 A experiência mostrava
que a lei de Wien estava
errada!!

 Rapidamente, Planck
procurou verificar se
havia algum ponto da
sua dedução antiga que
poderia ser mudado.
Construindo as “Teorias” de Planck
1 S
1
d S 1 dT  2  dE 
2

  2   T  
T E dE T dE   dT 
2

Planck Wien
8 2
 ( , T )  3    , T    e
3   / T

c
  / T
  E  a e
d S 2


d 2

Max Planck

 O ponto crucial da dedução, que não


dependia diretamente do
eletromagnetismo nem da termodinâmica
geral, mas de um modelo de
ressonadores, era o que levava à
equação:
2
d S 

d 2

 Até o início de 1900, a Max Planck
principal contribuição
de Planck à teoria do
corpo negro era ter
“provado” a lei de
Wien, que antes se
baseava em uma
analogia com a
distribuição de MB.

 Planck acreditava que


a lei de Wien era a
única compatível com a
termodinâmica e o
eletromagnetismo
(física clássica).
Max Planck
(outubro de 1900, Ann. Physik 1, 719 (1900)]
 Sendo a densidade de energia proporcional à temperatura
no limite de baixas frequências (0), então a energia
média dos ressonadores também deveria ser proporcional
à temperatura, e nesse caso teríamos:
  T d S2
b
1 S  2
 (ter mod in amica) d 2

T 

2
d S 
  (  )
d 2

1º trabalho de Planck-interpolação
 b
 (  0 )
d S  
2 2
  
d 2
a (,T)=
  (   )
 
d 2S a a1 1 
    
d 2
 (  b) b   b
h
  
exp(h / k BT )  1

 


8h 2  8h 3
1
 ( , T )  
c3 c 3 exp(h / k BT )  1
1º trabalho de Planck-interpolação
(19 de outubro de 1900: Lei de Planck)
8 h3
1
  , T   3 h / kT
,
c e 1
27
h  6.63 10 erg.s
8 kT
2
h / kT  1    , T   3
c
 Rayleigh  Einstein  Jeans
8 h  h / kT
3
h / kT  1    , T   3
e
c
 Wien
Max Planck
 Ajustando as constantes dessa equação às medidas
experimentais, Planck notou que a equação descrevia
exatamente os dados antigos quanto os novos.

C 5
 ( , T )  c / T
e 1
Max Planck
O único aspecto positivo dessa primeira comunicação era que
Planck havia chegado a uma equação que satisfazia as
medidas experimentais

Rubens confirmou a concordância

Pouco depois, Lummer e Pringsheim também

Durante as 8 semanas seguintes, Planck


procurou justificar a sua equação.................
2º trabalho de Planck
14 de dezembro de 1900 Max Planck
Ann, Phys. 4, 553 (1901)]

Deduziu a sua equação


do corpo negro
utilizando a dedução
anterior (que levava à lei
de Wien),
aparentemente com
uma única diferença:
análise probabilística
dos ressonadores,
utilizando estatística
de Boltzmann.
Cálculo estatístico de Planck
[Ann. Phys. 4, 553 (1901)].
 Supôs que a energia total E=Po podia ser dividida em
P elementos o= h, e distribuída entre N ressonadores,
Planck calculou o número de distribuições possíveis de
energia (“complexions”) (Boltzmann-1877)


 N  P  1!  N  P 

N P

 N  1!.P! N P
N P
A constante h aparecia na fórmula final da radiação do
corpo negro.
  N  E /  o N  E /  o 
S ( E, N )  k B ln  N E /o 
 N (E /  o ) 
1 dS kB  E   
E h
   ln  
T dE  o  E  N o  N exp( h / k BT )  1

8h 2  8h 3
1
 ( , T )  
c3 c 3 exp(h / k BT )  1

 Fazendo h=0 não obtém a equação correta


(sob o ponto de vista experimental).
Determinação das constantes h e kB
8h 2  8h 3 1
 ( , T )  
c3 c 3 exp(h / k BT )  1

Lei do deslocamento de Wien


8h 2
8h 3 1
 ( , T )  
c 3
c exp(h / k BT )  1
3

Lei de Stefan-Boltzmann
Quantização, segundo Planck

 Posteriormente, Planck
declarou que a introdução de
h e dos elementos de
energia foi “um ato de
desespero”, e que “era
preciso dar uma explicação
teórica [para a equação do
corpo negro] a qualquer
custo, fosse qual fosse o
preço”.
Efeitos do trabalho de
Planck
 O trabalho de Planck teve
pequena repercussão nos anos
seguintes.

 Teoria do corpo negro foi testada e


confirmada: “funciona”.
 Dedução teórica não foi muito comentada
 A introdução do h e dos elementos de
energia parecia um truque sem
importância física
Limitações da teoria eletromagnética
Efeito Hertz ou fotoelétrico (1887)
Ann. Physik 31, 983 (1887).
Ueber einen Einfluss des ultravioletten Lichtes auf die elektrische Ent ladung

(Sobre a influência da luz ultravioleta na descarga elétrica)


Heinrich Hertz

Heinrich Hertz (1857-


1894)
Ann. Physik 8, 149 (1902).

Ueber die lichtelektrische Wirkung


(Sobre o efeito fotoelétrico)
Phillip Lenard
Phillip Lenard(1962-1947)
Nobel-1905


eVo=max

 E2E1
Lenard concluiu que o máximo
 E1
da velocidade dos elétrons que
deixam o catodo depois de Física clássica
iluminada é independente da
intensidade da luz, só depende
da sua frequência .
Conclusões de Lennard

 A ocorrência da emissão de elétrons não depende da


intensidade da luz incidente
 Havendo emissão, a corrente é proporcional à intensidade da
luz, quando a frequência e o potencial retardador são mantidos
constantes.
 A ocorrência da emissão depende da frequência da luz.
 Para cada metal há um limiar de frequência, , abaixo do qual
não há emissão.
 O ponte de corte independe da intensidade da luz:
 A energia cinética dos elétrons e o potencial de corte
crescem com a frequência da luz:
Bezüglich eines heuristischen Betrachtungspunkts geht es um die
Emission und die Transformation von Licht, Albert Einstein, Ann.
Phys. 17, 132 (1905);
[Am. J. Phys. 33, 367 (1965); RBEF 27, 93 (2005)].
Gás ideal (monoatômico)
Lei de Wien (1895)
Quantização da energia

O quantum de luz foi anos mais tarde


denotado por Gilbert Lewis de fóton: The
conservation of photons, Nature 118, 874
(1926)

Academia Brasileira de Ciências (RJ)


7 de maio de 1925
Teoria de Einstein (1905)

Partícula
de luz U=No
(fóton)
430 Hz oh)

750 Hz
Efeito fotoelétrico

Equação de Einstein (1905)

max=eVo=h-
Função trabalho

=ho
h=6,62607015x10-34 J.s
Definição do quilograma padrão (2019)
18-

V
Exercícios
# Use
 1-Um fóton de luz laranja tem comprimento de onda 600 nm.
Calcule:
a) A frequência desse fóton
b) A energia desse fóton em joules e em eV
 2-Quantos fótons de frequência são necessários para
se obter um feixe com energia
 3-Uma placa de é iluminada por luz amarela ( ).
A intensidade de iluminação na placa é Quantos
fótons atingem essa placa a cada 2 minutos?
 4-A função trabalho de certo metal é 1,20 eV. Se esse material é
iluminado com luz de frequência com que energia
cinética (máxima) serão emitidos elétrons desse material?
 5-Para impedir que elétrons de certo material sejam liberados é
necessário um potencial de corte de 2,0 V. Se o material está
recebendo luz cujos fótons tem energia 4,2 eV, qual é a energia de
ligação desses elétrons?
 6-Certa emissora transmite com frequência 800 MHz e tem potência
12 kW. Quantos fótons ela emite a cada segundo?
a) Da teoria da relatividade, a velocidade da luz (e do fóton) é a mesma para
qualquer referencial, portanto, a velocidade relativa de um fóton em relação
ao outro é igual a c.

b) t12=7 MeV

c)
=
a) 

b) = =
c)
d) A frequência de corte (c) é determinada a partir da função
trabalho-, que é a energia necessária para arrancar um
elétron da superfície do metal, e é dada por


c =
onde para >c teremos corrente fotoelétrica.
Ou em função do comprimento de onda, teremos


tal que para <c teremos corrente fotoelétrica.


Nature Communications, volume 9, Article number: 3340 (2018)
Isolated detection of elastic waves driven by the momentum of light
(Detecção isolada de ondas elásticas impulsionadas pelo momentum
da luz)
Pozak e colaboradores

=h=

Comprovação do momentum do fóton


Efeito da temperatura
a) Efeito termiônico (Richardson)

Nobel de Física-1928
b) Efeito fotoelétrico (Hallwachs)
Einstein e os quanta de luz
Em 1905, Einstein publicou uma sugestão sobre a
existência dos “quanta” de luz.
 Não se baseou na lei de Planck do corpo negro.
 Utilizou o limite de Wien, e mostrou que ele era
compatível com a hipótese de um “gás” de partículas de
luz (mais tarde chamado de gás de fótons)
Einstein e os quanta de luz

O trabalho de Einstein não foi levado a sério, pois não


podia explicar fenômenos ondulatórios da luz:
interferência, difração e polarização.
Radiação, segundo Einstein
Um pouco de mecânica estatística

Função de partição (contínuo de energia)


Teoria clássica: (,T)=
Radiação, segundo Einstein (1907)
Quantização da energia


= 



Fórmula de Planck

(,T)= 
Radiação do corpo negro: Einstein


 
 =  
(,T)=
 
Fórmula de Planck (,T)= 
EQUÍVOCO DIDÁTICO

 
(,T)= 
Fórmula de Planck JRS, RBEF (2022)

 
(,T)= 

1. Interpolação termodinâmica-Planck (1900)


2. Entropia de Boltzmann-Planck (1900)
3. Peso estatístico de Boltzmann-Einstein (1907)
4. Teoria quântica da radiação-Einstein (1917)
5. Moléculas de luz-Louis de Broglie (1923)
6. Gás de fótons-Bose (1924)
Zeit. Phys. 76, 178 (1924); RBEF 27, 463 (2005)
Gás de fótons
S. N. Bose
(1894-1974)

  +

=

()= ()= 
 
g()= =
 Fórmula de Planck
  
(,T)=g(). = (,T)= 
Calor específico dos sólidos
 Em 1819, Pierre Louis Dulong e Alexis Thérese Petit mostraram que
o produto do calor específico pelo peso atômico de vários elementos
sólidos pareciam constante
Problemas:
Física de baixas
temperaturas

• Baixa Temperatura: James Dewar (1905): To=-259oC


Calor específico do sólido
Modelo de Einstein (1907)
Quantização da energia


2
d   h    e h / k BT 
cV   3 k B    
dT k T
 B   eh / k BT
1 
2

2
d   h   e h / k BT 
cV   3 k B    
dT k T
 B   e 
h / k BT
1 
2


A teoria previa que o calor específico dos sólidos seria menor


do que o previsto pela lei de Dulong-Petit (cV=3R), a baixas
temperaturas.

2
 E  1
CV  3NkB    E /T
T0 T  e
3
12 NkB  T 
4
CV   
5 D 
Modelo de Einstein (1907)

 A teoria de Einstein violava o princípio de equipartição da


energia e era incompatível com toda a teoria cinética do
século XIX.

 Supunha quantização da energia dos osciladores, que


Planck não aceitava nessa época.

 A concordância experimental era fraca e ninguém deu


importância à teoria.
Calor específico do sólido
Modelo de Peter Debye (1911)

Nobel Química (1936)

3
12  Nk B
4
 T 
CV   
5 D 
Congresso de Solvay, 1911 (Bruxelas)

A teoria da radiação e os quanta

Você também pode gostar