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O DIREITO DO CONSUMIDOR E O CORONAVÍRUS: DESAFIOS JURÍDICOS E


SOCIAIS

CONSUMER LAW AND THE CORONA VIRUS: LEGAL AND SOCIAL CHALLENGES

Wallace Théo Gomes Mendes Calheiros1

RESUMO

O iminente trabalho tem como objetivo estudar o contexto consumerista no qual foi abalado em
razão da pandemia da Covid-19 no mundo, e precisamente no Brasil que carrega consigo
traços e características próprias de consumo. Os setores de empresas aéreas com seus voos
domésticos e internacionais sofreram grande impacto sanitário e sobretudo econômico, porém
os consumidores se sentiram atingidos no momento em que voos foram suspensos e as
passagens não foram reajustadas ou devolvidas. Nesse momento os órgãos de Defesa do
Consumidor tiveram grande importância, com regulamentos e exigências aos fornecedores de
serviços, como exemplo as linhas aéreas. Não obstante, os consumidores da área de turismo e
lazer também sofreram impacto ao ter suas viagens canceladas, eventos, ingressos e shows
cancelados ou postergados, como também, e não menos importante a educação e o serviço de
aulas online, a regulamentação nas mensalidades e comportamento do Procon, Judiciário e do
Governo para equilibrar e organizar as demandas de consumo.

PALAVRAS-CHAVE: Consumidores. Coronavírus. Desafios. Jurídicos. Sociais. Código.

ABSTRACT

The new work aims to study the consumer context due to the pandemic-19 in the world, and
precisely in Brazil it carries its own consumption characteristics and resources. The air transport
sectors with their air and international flights were not only high impact and economical flights,
however, in which they felt if they were hit at the moment or moments of transit, they were not
only felt as suspended and transit passengers. At that time, the Consumer Defense agencies
had great importance, with regulations and requirements for service providers, such as airlines.
Notwithstanding, notwithstanding, the education of the area and tourism, although important, to
events, also, to important events, the leisure conduct and the leisure service, have no impact, as
well as your trips, incidents and cancellations, monthly importance and behavior and tourism are
not important. of Procon, the Judiciary and the Government to balance and organize
consumption demands.

KEYWORS: Consumers. Coronavirus. Challenges. Legal. Social. Code.

1
Graduando em Direito pelo Centro Universitário Uninassau – Maceió, e-mail: wcalheiros@hotmail.com.
Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito, sob orientação
do Professor Dr. Josival Nascimento dos Santos.
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Data de submissão: 08/06/2022


Data de aprovação: 13/06/2022

1 INTRODUÇÃO
No fim de 2019 o mundo tomou conhecimento que a pandemia da Covid-19
estava para chegar com seu maior nível de gravidade, assolando os últimos 2 anos
com inúmeras mortes e que embora já haja vacina, não se prevê especificamente o seu
fim. A Organização Mundial da Saúde em 2020, precisamente em março, recomendou
o lockdown em todos os países, sendo obedecido e se tornando obrigatório em países
de ponta e os em desenvolvimento, como o Brasil.
O confinamento no Brasil trouxe inúmeros desafios sociais, sanitários, políticos e
jurídicos para a sociedade, solicitando uma resolução imediatas sobre os assuntos e
assim, trazendo seguridade em meio ao lockdown. Um dos principais problemas
evidenciados imediatamente foi a proibição das escolas abertas, a suspensão de voos,
o fechamento de cinemas, casas de shows, parques, restaurantes, bares, shoppings,
etc.
Diante ao “fique em casa” o consumo cresceu consideravelmente por meio do
delivery e compras onlines, trabalho via home office, e estudos à distância, através de
plataformas digitais. Contudo, o emprego do estudo à distância, especificamente,
evidenciou uma garne lacuna jurídica para harmonizar o déficit econômico com o
cenário presente, sendo essencial a intervenção política e jurídica.
O iminente trabalho visa como objetivo analisar as diversas áreas afetadas pela
pandemia e como os órgãos de proteção ao consumidor atuou para garantir seus
direitos, como na saúde, no turismo e lazer e na educação, discutindo sobre todos os
aspectos importantes de cunho social, e sobretudo, político. Os objetivos específicos
delimitam e abordam os capítulos, com o intuito de pesquisar quais foram as decisões
de impacto no meio do judiciário, político, e de Governo, à exemplo: O direito do
consumidor e a preservação à saúde dos consumidores, as contribuições das leis de
proteção ao consumidor no turismo e lazer durante a pandemia e por fim, o direito do
consumidor e a educação na pandemia.
O trabalho é de grande importância para o momento atual e o futuro, pois deixa
uma margem de eventuais casos em que o consumo será discutido não somente em
sua etimologia, mas como algo que está entrelaçado a saúde e contexto social de um
povo. Proteger o consumidor em dias normais é uma garantia constitucional, mas
protegê-los em momentos de pressão, doenças e incertezas evidencia o compromisso
com a sociedade que produz e consume.
No que diz respeito à estrutura do trabalho, a metodologia utilizada e inserida no
trabalho é a pesquisa bibliográfica, seguindo as premissas gerais de raciocínio
descendente, objetivando conclusões jurídicas e de doutrinas para o tema. Os objetivos
específicos do trabalho são demostrados por meio de explorações bibliográficas, como
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artigos, livros, matérias jornalísticas e demais meios legais, como obras de autores
reconhecidos.
2 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
O Código de Defesa do Consumidor é a garantia de que todo cidadão tem de ao
comprar terão seus produtos e serviços regulados e cumpridos como lhe prometido,
para tanto a defesa do consumidor também faz parte dos direitos fundamentais da
Constituição Federal:
A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
I – soberania nacional;

II – propriedade privada;

III – função social da propriedade;

IV – livre concorrência;

V – defesa do consumidor;

VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado


conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação;

VII – redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII – busca do pleno emprego;

IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas


sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos
casos previstos em lei. (BRASIL, CF 1988, art. 170º)

Logo, a defesa do consumidor tem importância tão quanto o princípio da


igualdade e a soberania nacional. Não obstante, o consumidor além de possuir primazia
relevância na obtenção de riquezas para o Estado, contribui para o crescimento do país
e consecutivamente, para a geração de empregos.
Para tanto, o CDC traz diretrizes em seus arts. 4º e 5º acerca de políticas de
estatais de defesa ao consumidor.
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo

Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo,


contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:
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I – manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor


carente;

II – instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito


do Ministério Público;

III – criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de


consumidores vítimas de infrações penais de consumo;

IV – criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas


Especializadas para a solução de litígios de consumo;

V – concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de


Defesa do Consumidor. (BRASIL, CF, 1990)

Além disso, o legislativo tipifica taxativamente os direitos básicos do consumidor:


São direitos básicos do consumidor:

I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por


práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos;

II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e


serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,


com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais


coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços;

V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas

A Eficácia do Código de Defesa do Consumidor em Face do Tratamento


Diferenciado aos Consumidores na Fase Pós-Venda, por Parte dos Serviços de
Atendimento ao Consumidor

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos;

VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção


ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus


da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

IX – (Vetado);

X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. (BRASIL


1990, art. 6º)
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Diante disso, a dignidade do consumidor está totalmente atrelada a dignidade da


pessoa humana.
2.1 Conceito de Consumidor
No 2º art.do CDC, o consumidor é retratado como “toda pessoa física ou jurídica
e adquire ou utiliza bem ou serviço como destinatário final”.
A teoria maximalista interpreta o art. 2º do CDC de forma ampla, como sendo
destinado a toda sociedade de consumo, e não só àqueles que adquirem bens
para fins individuais, como também àqueles que, ora consomem, ora fornecem.
Não importando, também, a pessoa ser física ou jurídica, ou se obtém ou não
lucros com sua aquisição. Destinatário final seria, para os maximalistas, o
destino fático do serviço ou produto: aquele que o retira do mercado, não
importando seu fim (MARQUES; BENJAMIM, 2009, p. 71)

Portanto, consumidor é aquele que consome o produto ou serviço, sem importar


que seja pessoa jurídica ou física e que adquira ou não vantagem.
Em contrapartida, a corrente finalista defende que destinatário final é somente
aquele que, ao fazer uso de um bem o serviço, não o estará fazendo de forma a
conseguir, através dele, gerar lucros. Só é destinatário final (consumidor)
aquele que adquirir-se de um bem para necessidades individuais, privadas. Por
exemplo, uma costureira que compra uma máquina de costura para vender
suas roupas, não é uma destinatária final do produto. Entretanto, se a mesma
costureira comprar um televisor, para fim único de entretenimento, ela se torna,
do televisor, o destinatário final, por tê-lo retirado do mercado com o intuito de
fazer uso individual e restrito do aparelho. (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 61)

Há controvérsias acerca das duas teorias supracitadas, mas o que importa são
as garantias instituídas aos consumidores. Ademais, deve analisar quais são os tipos
de fragilidades que os consumidores ainda sofrem dos fornecedores e que tipo de
regulamentação pode se tornar mais protetora.
Conceituam-se também, como consumidores, todos aqueles que sofrerem
danos, indiretamente, sem que necessariamente seja destinatário final: pelo Art.
17 do CDC “equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento”, e,
ainda, pelo Art. 29, “para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se
aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas
nele previstas.”. Portando, sendo chamado também como Bystander, esse
gênero de consumidor é aquele que, por exemplo, é atropelado por um carro.
Mesmo não tendo adquirido o veículo e não sendo o destinatário final do
produto, sofreu consequências deste consumo e, portanto, há de ter seus
direitos também defendidos pela lei. (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 69-70)

Portanto, ressalva-se que se o consumidor é ou não o destinatário final,


ocorrendo danos, devem ser reparados a nível do CDC.
2.2 Fornecedor
O conceito expresso de fornecedor se encontra no art. 3º do CDC:
fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
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exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de


serviços (BRASIL, CDC, 1990).

O fornecedor, segundo Wisniewski e Bolesina (2014, p. 8) é aquele que “atua


nas áreas que sustentam o mercado de consumo. Deste modo, os fornecedores estão
ligados à produção, oferta, comercialização de bens ou produtos, que são consumidos
através da ação de fornecedores”.
Entretanto, faz-se necessária a exclusão daqueles que, por exemplo, não
possuem também a característica da habitualidade: fornecedor necessita que
sua função, seu trabalho, de fins lucrativos, seja habitual. Se alguém vende a
um terceiro algo que não lhe é mais útil, esse alguém não é de fato fornecedor;
só seria considerado assim se, no caso, a venda de produtos fosse habitual.
Portanto, habitualidade é também um atributo dos fornecedores. (WISNIEWSKI;
BOLESINA, 2014, p. 9)

Para tanto, caiem para eles a responsabilidade da entrega do produto ou serviço,


como também o bom estado de conservação, chegando até o consumidor.
2.3 Definição de Produto pelo CDC
Referindo-se ao parágrafo 1º do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, a
lei estabelece: “Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”. Logo,
produto está ligado aos bens como resultado de produção para o mercado de serviço.
O CDC subdivide os bens em móveis e imóveis, como exposto em seus arts. 79
e 80, respectivamente.
Ainda, tratando-se de bens, estes são classificados, também, em materiais e
imateriais, duráveis e não duráveis. Entretanto, seu conceito individual faz-se,
por vezes, desnecessário, já que o real intuito do CDC, em classifica-los de tal
forma, é deixar estabelecido também que todo tipo de bem, material (tal como
um carro) ou imaterial (como por exemplo, uma aplicação financeira), tanto
como os duráveis (aqueles feitos para que sejam utilizados por várias vezes,
como livros e automóveis), não duráveis (estes tais que se referem aos que
cessam, acabam, como alimentos, remédios, bebidas) por estarem
acompanhados de serviços, são bens de consumo e devem ser abrigados
também pela legislação consumerista (CAVALIERI FILHO, 2011, p. 75-76)

2.4 Serviços segundo o CDC


No parágrafo 2º do art. 3º serviço é “qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e secundária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.
A lei evidencia certas atividades, como as bancárias, financeiras e crediaristas,
de forma a deixar também claro que, como qualquer outra relação de consumo,
bancos e financiadoras, no momento em que exercem suas devidas funções,
estão colocando à disposição de sua clientela e de toda a sociedade o consumo
de bens. Fato este que, por sua vez, as caracteriza como fornecedoras, fazendo
com que seja necessário também estarem dentro da regulamentação prevista
pelo CDC (NUNES, 2009, p. 95-100).
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Fica óbvio que serviço está ligado a rentabilidade, ou seja, ao que gera lucro.
Com isso, o serviço gera direta ou indiretamente sustentação ao mercado de consumo.
(Wisniewski; Bolesina, 2014, p. 11)
3 O DIREITO DO CONSUMIDOR E A PRESERVAÇÃO À SAÚDE DOS
CONSUMIDORES
Diante da crise pandêmica que dominou o mundo desde final de 2019 até os dias
de hoje, a necessidade de consumir se apresentou de diferentes formas do
convencional, tendo que se adaptar à sucessivos lockdown e ao “novo normal”,
aderindo ao consumo virtual e delivery. Embora o consumo seja muito além de comprar
e consumir, tende-se avaliar que diante da proteção do consumidor, o meio jurídico,
sanitário, econômico e político tem tudo a ver para consolidar medidas benéficas
consumeristas, e resultou na obrigatoriedade de tais medidas durante a pandemia do
coronavírus (COVID-19).
A Covid-19 trouxe incerteza para todas as áreas consumeristas, como as
empresas aéreas, o comércio como um todo, tipificando lojas, restaurantes, bares,
ambientes de lazer, shoppings centers, dentre outros. Houve aqueles que discordaram
das medidas de Estado, pois se viam como uma grande ameaça de falir e seu negócio
não rentabilizar, enquanto houve aqueles que discordaram diante de ideologias e
convicções próprias de que a pandemia não seria tão maléfica à população para fechar
tudo.
Vale, ainda, afirmar que o inciso I, abrange mais do que somente a integridade
física do consumidor, na medida em que agrega, também, em sua interpretação
os princípios maiores de dignidade, e, ainda, como se observa através do art. 4º
do CDC, a ação governamental que visa proteger o consumidor. Mais do que
apenas assegurar proteção à vida, saúde e a segurança, este dispositivo deve
ser compreendido como preocupado acerca do bem-estar moral e psicológico
do consumidor (SAAD, 2013; BRANCO, p. 198)

Contudo, se torna comprovado o quanto a pandemia é letal e ameaçadora para


um contingente, necessitando, portanto, de todas as medidas que outrora foram
utilizadas para a contenção do vírus. Em contrapartida, durante a pandemia, nunca se
foi deixado de se consumir, pelo contrário, o número de compras virtuais, dobraram.
O Código de Defesa do Consumidor, sem seu artigo 4º diz:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios. (BRASIL, CDC, 1990).

Como exposto, deve-se presar pela saúde dos consumidores, intervindo quando
necessário para facilitar as políticas de enfrentamento a qualquer prática que venha
despactuar com a dignidade do indivíduo e qualquer outra prática que infrinja seus
direitos fundamentais expostos à primazia na Constituição Federal e demais leis.
É sabido que houve inúmeras interferências durante a pandemia para prezar
pela saúde dos consumidores, e o que talvez tenha sido o mais impactante, diz respeito
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às políticas da aviação civil para proteger os funcionários, tripulantes e os


consumidores, tanto durante o voo, como também equivalente às mudanças e
restrições de viagens no processo de contaminação serva do vírus.
Os órgãos de defesa do consumidor iniciaram movimentos de garantia dos
direitos daqueles que tiveram a necessidade de alterar suas viagens. O
Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-MG) em
Uberlândia instaurou em 11 de março, investigações para apurar a conduta das
companhias aéreas em relação a cancelamentos e remarcações de voos de
consumidores que desejam alterar as viagens em razão da pandemia, além de
notificar tais empresas a comparecerem a uma audiência agendada para o dia
18 de março. (DIÁRIO DE UBERLÂNDIA, 2020).

Mucelin e d’Aquino (2020) explanam que o número considerado de


cancelamentos de voo é significativo pela insegurança por parte dos consumidores
quanto a pandemia e a exposição que uma viagem pode causar aos indivíduos para a
contaminação. Em conseguinte, em janeiro de 2022, dado pelos festejos do fim do ano
e uma pandemia também da influenza H3N2, vários voos vieram a ser cancelados,
nesse caso porque inúmeros tripulantes foram contaminados.
O cancelamento de voos por conta da contaminação de parte da tripulação por
Covid-19 segue pelo sexto dia consecutivo no Brasil. Entre a última quinta-feira
(6) e o próximo domingo (16) estão sendo cancelados 948 voos de Azul e
Latam Brasil – desses, 765 são da Azul, a mais afetada por estar operando no
limite da sua capacidade. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2022).

Nota-se que diante da propagação do vírus com novas variantes e demais


doenças respiratórias, se faz necessário o afastamento imediato dos trabalhadores de
diversas áreas, inclusive da aviação, responsável por contato direto com milhares de
consumidores por dia. Logo, cria-se um princípio de confusão por parte dos
passageiros que tiveram seus voos cancelados abruptamente, portanto, de imediato, o
Procon e demais órgãos de Defesa do Consumidor devem prestar total auxílio,
juntamente com as empresas aéreas, garantindo um acordo para melhor atender as
demandas de cada consumidor.
No atual cenário de pandemia, vários serviços contratados não foram ou serão
prestados e produtos não serão entregues. Em decorrência da Covid-19, os
fornecedores e prestadores de serviços em geral estão impossibilitados de
prestar os serviços por regras impostas por autoridades competentes como
medidas de contenção do vírus, portanto, por motivos alheios à sua vontade. Há
barreiras sanitárias impostas pelos Governos, determinação de fechamento de
aeroportos e do espaço aéreo, impedimento de deslocamento de pessoas
através de espaços geográficos, gerando, consequentemente, impactos nos
contratos já celebrados. É fundamental, nestes tempos não limitar o
atendimento ao consumidor sob pena 2 de violar o seu direito de obter a
informações adequadas e claras e a efetiva prestação do serviço (artigo 6º, III,
CDC), sendo dever do fornecedor disponibilizar aos consumidores todos os
canais possíveis de comunicação, como telefone, e-mail, site, entre outros.
(LINDERNMEYER; MARQUES; GATTO; FORMETINI; SERRER, 2021, p. 3)

Outro ponto interesse de bastante repercussão durante a pandemia, que tem a


ver direto com o direito do consumidor e a saúde, diz respeito aos atendimentos em
hospitais privados por meio de plano de saúde, cirurgias eletivas e urgentes, e demais
serviços de prestação ao consumidor.
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[...] ANS tem definido novas medidas para mitigar os impactos da pandemia,
propondo que as operadoras de planos de saúde garantam o atendimento aos
inadimplentes, ainda que passado o prazo previsto em lei. Obrigou, ainda, a
preparação de vagas nas UTIs, considerando a atual pandemia e a decretação
do estado de calamidade pública. (REYMÃO; ASSUNÇÃO; FARO, 2020, p. 72).

Devido as inúmeras reclamações pertinentes à planos de saúde, principalmente


à inadimplementos é evidente que necessitaria de uma regulamentação para garantir
que consumidores em débito conseguissem atendimento hospitalar durante a
pandemia. O Procon de todos os Estados agiu de maneira para garantir a dignidade do
consumidor diante um contexto de crise sanitária e consequentemente, econômica.
Por óbvio, o isolamento social decorrente da pandemia fez aumentar as vendas
fora do estabelecimento comercial, por meio do sistema de entrega domiciliar,
pois as necessidades das pessoas continuam existindo, mas elas se viram
impedidas de circular e, ainda, porque os fornecedores foram impedidos de
manter seus estabelecimentos abertos para recepção de clientes. Ocorre que
esse aumento está trazendo novas questões ligadas ao direito de reflexão e de
arrependimento do consumidor, podendo gerar, para o fornecedor, uma
insegurança jurídica quanto à manutenção dos contratos. Assim, para evitar as
discussões doutrinárias e jurisprudenciais sobre a interpretação do Art. 49 da
Lei nº 8.078, de 1990, durante a pandemia, e o consequente aumento de
vendas diretas, o legislador, ao menos temporariamente, estabeleceu, no dizer
de Gagliano e Oliveira (2020), “uma interpretação extensiva do mesmo,
especificamente para dois tipos de produtos essenciais: os bens perecíveis ou
de consumo imediato e os de medicamento”, conforme previsão do Art. 8º da
Lei nº 14.010, de 2020. (LINDERNMEYER; MARQUES; GATTO; FORMETINI;
SERRER, 2021, p. 3)

É importante frisar que, embora o consumidor tenha plano de saúde, o mesmo


também tinha o direito de ocupar leito do SUS, o que é seu de direito por ser cidadão.
Não obstante, fica caracterizado não somente a intervenção do judiciário, mas o
emprego de políticas públicas à frente dos consumidores para a melhor garantia de
seus direitos.
Além de estar devidamente protegido e com seus direitos assegurados, por
exemplo, durante a compra de quaisquer bens materiais (como de um carro), a
fruição de serviços, bem como atos de consumo praticados em prol de um
prazer social, que tenha como fim o bem-estar moral ou psicológico (lazer, por
exemplo), devem ser assegurados pelo direito. Portanto, é necessária a
proteção à vida, à saúde física tanto quanto à saúde psicológica, e à segurança,
de mesma forma. (WISNIEWSKI; BOLESINA, 2014, p. 10)

Vale salientar que em tempos normais o consumidor sempre será


hipossuficiente, porém precisamente em uma crise sanitária de grande domínio, sua
hipossuficiência aumenta, sendo necessário um cuidado e atenção maior na garantia
de seus direitos à frente de todas as áreas consumeristas. Portanto, o primeiro capítulo
se encerra com a certeza de que os órgãos de Defesa ao Consumidor prestaram apoio
quanto a saúde de seus consumidores, exemplificando o cuidado com as linhas aéreas
e seus passageiros tanto em relação as viagens e sobretudo, no cancelamento
obrigatório, também diante do comportamento dos planos de saúde e da
obrigatoriedade de atender os consumidores inadimplentes que no momento
precisavam de ajuda.
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3.1 As contribuições das leis de proteção do consumidor no turismo e lazer


durante a pandemia
Diante à incerteza da pandemia e dos picos de contaminação, o consumidor fica
receoso de programar suas viagens e por algum problema, ser desmarcado, enquanto
outros sofreram com os problemas de desmarcação de uma viagem outrora
programadas. Então, por meio dos Órgãos de Defesa ao Consumidor, pôde se
organizar e regulamentar os contratos onerosos de turismo, evitando um risco de
quebra da proteção contratual e prejuízo ao consumidor.
Aquele em que um contratante adquire para si ou para terceiro, de uma agência
de viagem/operadora ou de alguém que pratique ato ou atividade turística, um
conjunto de serviços que pode abranger o transporte (aéreo, terrestre, marítimo,
fluvial etc.), a hospedagem (hotéis, pousadas, camping etc.), os traslados
terrestres, refeições, guias locais, ingressos de pontos turísticos ou
estabelecimentos públicos etc. (SCARTEZZINI, 2007, p. 226).

Mesmo antes da pandemia havia-se uma proteção contratual em face de


eventuais quebras de contrato, mas em uma crise sanitária não é adequado e racional
tentar formalizar um acordo de onerosidade de forma abrupta e que traga
constrangimentos aos consumidores. Sabe-se que a conciliação e o acordo consensual
entre as partes são um bom ímpeto para manter as relações contratuais respeitosas.
De se frisar que a prática corrente dos fornecedores de produtos e serviços
relacionados ao turismo é a cobrança de taxas e multas em caso de
cancelamento ou alterações, o que é um desincentivo às alterações,
praticamente obrigando o consumidor a viajar. No caso da pandemia de
COVID-19, isso significaria exposição do consumidor e de toda a comunidade a
um risco aumentado de que a doença se espalhe ainda mais. (MUCELIN;
D’AQUINO, 2020, p. 9).

A retomada do turismo, sobretudo, vem acontecendo gradativamente,


orquestrado pelos órgãos sanitários, judiciais e de fiscalização, para evitar a exposição
do turista, do empregado e de toda comunidade ao vírus. Em relação a isso, a Lei
Federal nº 14.186, prorroga o prazo até 2022 dos reembolsos ou se preferirem, a
utilização do crédito pelos consumidores em relação ao turismo e cultura, evitando,
portanto, transtornos e a judicialização (PROCON GOIÁS, 2021).
O setor ainda sofre com restrições, em alguns casos ainda mais severas
do que em 2020. Por isso, é necessário que haja uma medida
semelhante à MP 944 [de 2020], que garantiu linhas de crédito para
pagar os salários dos colaboradores do setor. É preciso que se suspenda
a cobrança das parcelas dos fundos de financiamentos também em 2021,
como feito em 2020, e se abram novas linhas de crédito acessível para
evitar que mais unidades hoteleiras encerrem suas atividades.

Diante da queda acentuada da demanda, diversas empresas do setor de


turismo foram além das novas leis e passaram a oferecer a possibilidade
de reembolso em dinheiro e sem multas caso o cliente não se sinta
seguro para viajar na data marcada e desista do passeio. Pelas leis, em
caso de cancelamento, as companhias podem cobrar multas contratuais
ou oferecer vouchers com os créditos. (AGÊNCIA SENADO)
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IMAGEM

(Fonte: www12.senado.leg.br)

É possível notar que durante a pandemia houve um grande índice de desistência


de viagens e consecutivamente, o impacto na aviação com cancelamentos e
remarcações e voos.
O debate público sobre a abertura total de áreas de lazer, e consequentemente,
o turismo é de grande repercussão no país porque tem os que concordam que
liberando o turismo a economia melhora, e tem os que pensam que seguir as
recomendações da ciência é sempre o mais seguro. Antemão, em vários casos que a
justiça foi solicitada, diz respeito ao nível de divergências acerca da condução dos
fornecedores e do trato com os consumidores, discernente à pandemia.
Não é o fenômeno isolado de alguns juízes que anseiam brigar com o poder
público, haja vista que muitas vezes o magistrado é socialmente impelido a se
pronunciar sobre a interpretação de uma legislação inacabada ou a julgar algum
conflito que deveria ter sido resolvido na esfera do debate político, funcionando
como a última voz com autoridade para tal. (VERBICARO; VERBICARO;
MACHADO, 2018, p. 197).

Diante de toda problematização do consumo cultural no país e o confinamento


das pessoas, evidentemente houve um aumento considerável de jurisprudências,
decretos e demais configurações do Estado para com a economia e o funcionamento
das prestações de serviços, contudo deve-se atentar que possivelmente no decorrer
dos anos novas pandemias devem ocorrer e qual será o nível de preparação do
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judiciário, incluindo os órgãos de Defesa ao Consumidor, juntamente com políticas


públicas de conscientização à saúde e proteção do consumidor.
3.2 Direito do Consumidor e a educação na pandemia
A educação é um direito de todos, previsto na Constituição Federal,
principalmente para crianças e adolescente, como diz o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Contudo, diante da pandemia tornou-se impossível que as escolas
funcionassem presencialmente, por causa do alto de risco de contaminação da doença,
e com isso, adotou-se o sistema de ensino ead (Ensino à Distância).
IMAGEM

(Fonte: futura.org.br)

O MEC diz que a Educação à Distância é:


Educação a distância é a modalidade educacional na qual alunos e professores
estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se necessária a
utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação. Essa
modalidade é regulada por uma legislação específica e pode ser implantada na
educação básica (educação de jovens e adultos, educação profissional técnica
de nível médio) e na educação superior. (PORTAL MEC, 2020).

Embora a educação à distância já tenha sido implantada no país, sobretudo em


universidades, cursos de pós-graduação e profissionalizando, o uso em escolas para
crianças e adolescentes foi um quanto desafiador. Crianças e adolescentes são
acostumados com o convívio social, a presença em sala de aula conta para o
desenvolvimento intelecto e social dos indivíduos, que no momento era impossível de
se acontecer.
Escolas particulares, por ter uma garantia maior de recursos financeiros, foram
os primeiros a ingressar com o sistema virtual, por meio de plataformas digitais pagas
que davam suporte as aulas e demais atividades. As escolas públicas, portanto,
precisaram de um momento maior para se organizar e empregar tais ferramentais
13

digitais, como a capacitação de professores e servidores para maior aptidão do sistema


utilizado.
O primeiro conjunto de documentos autoriza, em caráter excepcional, a
substituição das disciplinas presenciais, em andamento, por aulas remotas.
Essa substituição só é aplicável às disciplinas “em andamento” na data da
edição na norma, conforme está expresso no artigo 1º da Portaria MEC nº
343/2020 – com a redação que lhe foi atribuída pela da Portaria MEC nº
345/2020. Disciplinas previstas como presenciais no PPC e iniciadas
posteriormente à data da publicação da Portaria retificadora – 19 de março –
estão excluídas dessa possibilidade de substituição. (AGÊNCIA SENADO,
2020).

O impacto do processo de transição do ensino presencial para o remoto não


impactou somente no desenvolvimento intelectual das crianças e adolescentes, mas
também no bolso dos pais em meio à crise sanitária e econômica na qual o país se
encontrava em 2020, ano em que o sistema foi implantado.
Diante desse cenário, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) apresentou o
projeto de lei n. 1.163/2020 que obriga as instituições de ensino fundamental e
médio da rede privada a reduzirem as suas mensalidades em, no mínimo, 30%,
sob o argumento que no período de suspensão das atividades, os
estabelecimentos de ensino terão seus custos com água, energia, alimentação,
manutenção reduzidos (AGÊNCIA SENADO, 2020).

Faculdades também foram exigidas a reduzir os valores das mensalidades dos


alunos, pois tornou-se inviável em meio a pandemia pagar instituições de ensino de
forma integral, o que de uma forma ou de outra, aliviou os pais das crianças e
adolescentes, como os adultos que pagavam o seu estudo. Deve-se atentar as políticas
públicas também, como a suspensão do FIES durante a pandemia. “Terão direito à
suspensão dos pagamentos, até o fim do ano, alunos em dia com as prestações do
financiamento e aqueles com parcelas em atraso por, no máximo, 180 dias”. (AGÊNCIA
CÂMARA DE NOTÍCIAS, 2020).

O Procon-SP como órgão de fiscalização para garantir os direitos dos


consumidores, elaborou diretrizes para as escolas no momento da pandemia, o que
contribuir para que o Procon de outros Estados fizesse as mesmas recomendações.

Diante da situação excepcional e de ampla abrangência imposta pela pandemia


da covid-19, em que todas as relações de consumo foram afetadas ao mesmo
tempo, é crescente a demanda de consumidores com dificuldades relacionadas
a instituições privadas de serviços educacionais no ensino infantil, fundamental
e médio

[...] – é direito dos consumidores a rapidez no atendimento de suas demandas,


bem como à análise de sua situação contratual de inadimplência, devendo a
instituição negociar alternativas para o pagamento, como, por exemplo, maior
número de parcelas. (PROCON SP, 2020)

Logo se percebe que o Procon tem uma contribuição fundamental para a


manutenção das garantias educacionais dos consumidores, auxiliando tanto na
preservação da saúde, quanto as questões financeiras para evitar uma judicialização
entre as partes. O dever das políticas públicas também impulsiona o equilíbrio entre o
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fornecedor e o consumidor, empregando o princípio da hipossuficiência e equilibrando


os problemas sociais.
4 DIREITO DO CONSUMIDOR E O DIREITO À VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA

Como exposto, o trabalho trouxe diversos fatores que atingiram o setor


consumerista por causa da pandemia da covid-19, entre elas o acesso à educação,
lazer, saúde, entre outros. Diante disso, um dos princípios do direito do consumidor é a
dignidade, logo o direito à vida, saúde e segurança são requisitos expostos no art. 6º do
CDC.
O inciso I do art. 6º do CDC, afirma que o consumidor tem, por direito básico, a
proteção da vida, da saúde e segurança contra os riscos provocados por
práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos. Destarte, fica esclarecido que se trata, claramente, da integridade do
consumidor: é de extrema necessidade que, além de o fornecedor atentar para
a qualidade e fim ao qual se destina seu produto, também deve fazer com que
seja preservada a segurança do consumidor e de sua saúde, certificando-se,
para isso, de que seu produto ou serviço não seja nocivo, perigoso ou destrutivo
ao consumidor (CAVALIERI FILHO, 2011, p. 93).

A pandemia além de trazer um risco iminente à vida de milhares de pessoas,


contribuir para a vulnerabilidade em relação as compras e os riscos que pode ser
encontrada quando não há fiscalização e regulamentação junto com os órgãos de
defesa ao consumidor. À exemplo, se a compra de um bem pode influenciar para a
propagação da pandemia ou até mesmo o risco ao consumidor de pôr a sua saúde em
risco;
4.1 Direito à educação para o consumo
A informação que o produto carrega é o que vai fazer ser vendido ou não, pois o
consumidor tem facilidade em comprara quilo que carrega de forma descrita suas
especificações.
Partindo desse aspecto básico, o inciso II do art. 6º do CDC, remete, portanto,
ao direito que possui o consumidor à educação e divulgação do consumo
adequado (seguro e sustentável) dos produtos e serviços, estando sempre
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. Trata-se
do direito à educação para consumo. É através dessa perspectiva que a
vulnerabilidade do consumidor, já anteriormente analisada, pode se fazer
diminuída, evitando que escolhas sejam feitas com leviandade. Aquele que
adquire o conhecimento torna-se, assim, capaz de fazer escolhas previamente
analisadas, e corre menos riscos de tornar-se vítima de relações de consumo
indesejadas e mal-sucedidas. (WISNIEWSKI; BOLESINA, 2014, p. 13)

Portanto, é dever do fornecedor elencar as informações mais claras possíveis ao


consumidor, para que não seja imputado nenhuma ilegalidade ao produto ou serviço.
Quando no produto não há informações, a vulnerabilidade do consumidor se prejudicar
é maior.
4.2 Direito à informação
O inciso III do art. 6º da CDC trata sobre as relações de consumo:
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Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com


especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
(Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012)

O direito à informação é responsável por exigir do fornecedor as especificações


corretas do produto, como quantidade, composição, tributos, qualidade, preço, dentre
outros. “Portanto, todo tipo de produto e serviço necessita conter tais especificações.
Desta maneira, fazendo referência às características do anteriormente citado inciso II,
observa-se que o inciso III, aqui analisado, é a medida tomada para que se faça
realizada a educação para consumo. É direito que tem o consumidor, e obrigação do
fornecedor, expor informações, dados e características acerca daquilo que será
consumido”. (Wisniewski; Bolesina, 2014, p. 13).
Todavia, vale ressaltar que, quando o CDC afirma ser do consumidor o direito
de saber a composição de cada produto adquirido, abriu-se margem de dúvida
acerca da exposição, considerada, também, violação de segredos industriais e
de produção. Corre-se o risco de que concorrentes de mercado acabassem por
plagiar a fórmula de outrem e, assim, direitos de terceiros seriam violados.
Como forma de solução, abre-se uma exceção ao expor as substâncias
presentes em cada produto: trata-se da informação acerca de quais elementos
que integram o produto e quais circunstâncias seu uso pode acarretar, sem
necessariamente ser preciso especificar qual a quantidade de cada substância
(SAAD; SAAD; BRANCO, 2006, p. 200-201)

O cliente fica mais confortável e seguro se o produto tem todas as informações


necessárias para ele comprar seguro.
4.3 Direito à proteção contra publicidade enganosa e abusiva
O inciso IV do CDC disserta sobre propaganda enganosa e abusiva:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais


coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços (BRASIL, CDC, 1990);

A propaganda que deve primeiramente chegar ao consumidor antes mesmo do


produto ou serviço, deve ser íntegra e respaldada na verdade
É tema do inciso IV do CDC, portanto, o direito à proteção contra a publicidade
enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como
contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços. Trata-se de propaganda enganosa aquela que, sendo inteira ou
parcialmente falsa, pode induzir o consumidor ao erro na hora da compra por
conter informações errôneas ou omitidas acerca de composição, quantidade,
função, ou quaisquer outros dados do produto. Quando há qualquer publicidade
que, por sua vez, discrimine, desrespeite valores ambientas, induza o
consumidor a se comportar de forma prejudicial à sua própria saúde, explore
medo, incite violência, essa será considerada abusiva. A propaganda passa,
portanto, a ser responsabilidade também do fornecedor, eis que tudo aquilo que
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consiste nela deve ser por ele assegurado, passando, assim, a fazer parte do
contrato nas relações de consumo (ZAGHETTO GAMA, 1999, p. 36-37)

Com base no inciso IV do CDC, é crime o abuso tornando o consumidor ser


obrigado a consumir tal produto. Portanto, é necessária a proteção do consumidor aos
prejuízos e riscos que podem ser oferecidos pelo mau uso das técnicas de
propagandas (Cavalieri Filho, 2011, p. 99-100).
4.4 Direito à proteção contratual
O art. 6º, inciso V do CDC diz:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas (BRASIL, CDC, 1990);

Explana Wisniewski; Bolesina, (2014, p. 14) sobre o tema:

É direito do consumidor, ainda, a modificação das cláusulas contratuais que


estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosa (CDC, art. 6º, V). Ao
falar-se da proteção contratual, portanto, remete-se às situações onde o risco e
prejuízo causado ao consumidor não estão necessariamente atrelados a um
produto de fato, mas, sim, à relação de consumo com o fornecedor, através de
contrato estabelecido por ambos, de modo a proteger eventual prejuízo
causado pelo serviço adquirido.

Logo se o consumidor se sentir prejudicado quanto as cláusulas contratuais de


determinado produto ou serviço, deve buscar formas de conciliar e fazer com que o
contrato seja bom para ambos. O Procon é um bom meio de se iniciar tratativas nesse
sentido, oportunizando o consumidor e os prepostas o livre acordo conciliativo.
4.5 Direito à prevenção e reparação de danos
Acontece quando os consumidores vão utilizar ou utilizam bens ou serviços,
mesmo que de forma moderada e recomendada, podem acabar surgindo prejuízos
(danos do produto). O CDC em seu Art. 6º, inciso VI, abriga o direito à efetiva
prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.
Desta maneira, é necessário que haja indenização àquele que for prejudicado (o
consumidor).
Os danos morais, por sua vez, são aqueles que ferem a integridade do
consumidor ou, ainda, e não menos importante, sua imagem. Danos individuais
correspondem àqueles que, como já diz o nome, prejudicam um indivíduo ou
um grupo familiar apenas, de modo a consistir, portanto, em um dano ao
indivíduo. Em contrapartida, existem os danos coletivos, que consistem
naqueles que atacam indeterminada quantidade de indivíduos, de diferentes
camadas sociais, e de forma contínua, mesmo que não se tratem
especificamente dos mesmos prejuízos em cada indivíduo. Por fim, os danos
difusos correspondem àqueles que são causados por produtos, na maioria das
vezes, produzidos em grande escala, que contêm substâncias prejudiciais à
saúde ou ao bem estar do indivíduo, pois, por serem comercializadas em larga
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escala, têm potencial para alastrar-se rapidamente à sociedade (ZAGHETTO


GAMA, 1999, p. 38).

5 CONCLUSÃO

Verifica-se no presente trabalho o impacto da pandemia nos meios econômicos


que resultam no convívio social, e principalmente, na preservação da saúde de todos. A
Covid-19 foi, sem sombra de dúvida, um grande desafio não somente de competência
sanitária, mas jurídica e social, atingindo as diversas áreas da sociedade, no que diz
respeito à saúde, financeiro, educação, lazer, dentre outros.
O papel do Estado em regulamentar por meios de decretos, notas técnicas,
medidas provisórias, leis, o andamento da pandemia resultou em uma verdadeira
cartilha de como lidar com eventuais crises sanitárias abruptas e no que se deve
melhorar para equilibras os demais problemas que exijam atenção imediata.
O primeiro capítulo discutiu o papel do Estado e dos Órgãos de Defesa ao
Consumidor a preservação da saúde e o cuidado por parte das empresas aéreas e as
exigências por parte dos planos de saúde para o atendimento dos inadimplentes. O
segundo, portanto, discutiu-se acerca do turismo e lazer na pandemia e como o
processo de judicialização influencia na preservação do consumidor tanto em razão da
saúde, como nos pactos contratuais.
O trabalho, de forma geral, dissertou sobre a educação na pandemia, à princípio,
como direito de todos, mas de forma diferente do convencional, a transição de
aprendizagem remota e principalmente, os meios de intervenção para o equilíbrio
financeiro dos consumidores, com ajuda do Estado por meio das políticas públicas e
das recomendações e fiscalização do Procon para eventuais abusos dos fornecedores
de serviços educacionais.
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AGRADECIMENTOS

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