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INSTALAÇÃO PREDIAL DE ÁGUAS PLUVIAIS

1. Descrição Geral do Sistema de Águas Pluviais

As instalações prediais de águas pluviais seguem as preconizações da norma


NBR10844 (ABNT, 1989) – Instalações Prediais de Águas Pluviais.
Os objetivos específicos que se pretende atingir com o projeto de instalações de águas
pluviais são os seguintes:

1. Permitir recolher e conduzir as águas da chuva até um local adequado e permitido;


2. Conseguir uma instalação perfeitamente estanque;
3. Permitir facilmente a limpeza e desobstrução da instalação;
4. Permitir a absorção de choques mecânicos;
5. Permitir a absorção das variações dimensionais causadas por variações térmicas bruscas;
6. Ser resistente às intempéries e à agressividade do meio (ex. maresia da orla marítima);
7. Escoar a água sem provocar ruídos excessivos;
8. Resistir aos esforços mecânicos atuantes na tubulação;
9. Garantir indeformabilidade através de uma boa fixação da tubulação.

Apresentam-se abaixo algumas das definições associadas aos conceitos de hidrologia e


hidráulica:
• Altura pluviométrica: é o volume de água precipitada (em mm) por unidade de área, ou é a
altura de água de chuva que se acumula, após um certo tempo, sobre uma superfície
horizontal impermeável e confinada lateralmente, desconsiderando a evaporação.
• Intensidade pluviométrica: é a altura pluviométrica por unidade de tempo (mm/h).
• Duração de precipitação: é o intervalo de tempo de referência para a determinação de
intensidades pluviométricas.
• Período de retorno: número médio de anos em que, para a mesma duração de precipitação,
uma determinada intensidade pluviométrica é igualada ou ultrapassada apenas uma vez.
• Área de contribuição: soma das áreas das superfícies que, interceptando chuva, conduzem as
águas para determinado ponto da instalação.
• Tempo de concentração: intervalo de tempo decorrido entre o início da chuva e o momento
em que toda a área de contribuição passa a contribuir para determinada seção transversal de
um condutor ou calha.
Segundo CREDER (2006), os códigos de obras dos municípios, em geral, proíbem o
caimento livre da água dos telhados dos prédios de mais de um pavimento, bem como o
caimento em terrenos dos vizinhos. Tal água deve ser conduzida aos condutores de águas
pluviais, ligados à caixa de areia no térreo; daí, podendo ser lançada aos coletores públicos de
águas pluviais.
Conforme a NBR10844, os seguintes materiais podem ser utilizados para coleta e
condução de águas pluviais:
 Calha: Aço galvanizado, folhas de flandres, cobre, aço inoxidável, alumínio,
fibrocimento,
 PVC rígido, fibra de vidro, concreto ou alvenaria.

Figura 1 - Calha colonial de aço galvanizado.

 Condutor Vertical: Ferro fundido, fibrocimento, PVC rígido, aço galvanizado, cobre,
chapas de aço galvanizado, folhas de flandres, chapas de cobre, aço inoxidável, alumínio ou
fibra de vidro.
 Condutor Horizontal: Ferro fundido, fibrocimento, PVC rígido, aço galvanizado,
cerâmica vidrada, concreto, cobre, canais de concreto ou alvenaria.
 Saída: Orifício na calha, cobertura, terraço e similares, para onde as águas pluviais
convergem.
Figura 2 - Saída de calha de aço galvanizado.

As canalizações enterradas devem ser assentadas em terrenos resistentes ou sobre base


apropriada, livre de detritos ou materiais pontiagudos. O recobrimento mínimo deve ser de
30cm. Caso não seja possível executar esse recobrimento mínimo de 30cm, ou onde a
canalização estiver sujeita a carga de rodas, fortes compressões ou ainda, situada em área
edificada, deverá existir uma proteção adequada com uso de lajes ou canaletas que impeçam a
ação desses esforços sobre a canalização.
Calhas são dispositivos que captam as águas diretamente dos telhados impedindo que
estas caiam livremente causando danos nas áreas circunvizinhas, principalmente quando a
edificação é bastante alta. Possuem formato V, U, Semi Circular, Quadrada e Retangular.
Diversos tipos de calhas podem ser instalados, seguem alguns:

Figura 3: Tipos de calhas.


Obs. O sistema de esgotamento das águas pluviais deve ser completamente separado da rede
de esgotos sanitários, rede de água fria e de quaisquer outras instalações prediais. Deve-se
prever dispositivo de proteção contra o acesso de gases no interior da tubulação de águas
pluviais, quando houver risco de penetração destes.

2. Fatores meteorológicos

Para se determinar a intensidade pluviométrica (I) para fins de projeto, deve ser fixada
a duração da precipitação e do período de retorno adequado, com base em dados
pluviométricos locais.

3. Raio Hidráulico

É um dos termos mais adotados, que significa a área molhada (área ocupada pelo
líquido, na seção transversal da calha ou condutor – m²) sobre o perímetro molhado (linha que
limita a seção molhada junto às paredes da calha ou condutor – m).

4. Intensidade Pluviométrica (I)

A determinação da intensidade pluviométrica “I”, para fins de projeto, deve ser feita a
partir da fixação de valores adequados para a duração de precipitação e o período de retorno.
Tomam-se como base dados pluviométricos locais, conforme tabela da norma NBR
10844/89.
O período de retorno (NBR 10844) deve ser fixado segundo as características da área a
ser drenada, obedecendo ao estabelecido a seguir:
 T = 1 ano, para áreas pavimentadas, onde empoçamentos possam ser tolerados;
 T = 5 anos, para coberturas e/ou terraços;
 T = 25 anos, para coberturas e áreas onde poças ou extravasamento não possam ser
tolerados.
Obs. A duração de precipitação deve ser fixada em t = 5min.
Para construção até 100m² de área de projeção horizontal, salvo casos especiais, pode-
se adotar: I = 150mm/h.

Ex. Abaixo a formula de precipitação da chuva do municipio de Campo ande/MS.


Sendo: i em mm/h; T em anos e t em minutos

4. Área de Contribuição

No cálculo da área de contribuição, devem-se considerar os incrementos devidos à


inclinação da cobertura e às paredes que interceptem água de chuva que também deva ser
drenada pela cobertura.

Figura 4 – Indicações para cálculos da área de contribuição – NBR10844/89.


5. Vazão de projeto

A vazão de projeto deve ser calculada pela fórmula:

𝑰. 𝑨
𝑸=
𝟔𝟎
Onde:
Q = Vazão de projeto, em L/min
I = intensidade pluviométrica, em mm/h
A = área de contribuição, em m2

6. Dimensionamento das calhas

Sempre que possível, as calhas de beiral e platibanda devem ser fixadas centralmente
sob a extremidade da cobertura e o mais próximo desta. Sua inclinação deve ser uniforme,
com valor mínimo de 0,5%.
Quando a saída não estiver colocada em uma das extremidades, a vazão de projeto
para o dimensionamento das calhas de beiral ou platibanda deve ser aquela correspondente à
maior das áreas de contribuição.
Quando não se pode tolerar nenhum transbordamento ao longo da calha, extravasores
podem ser previstos como medida adicional de segurança. Nestes casos, eles devem
descarregar em locais adequados.
Em calhas de beiral ou platibanda, quando a saída estiver a menos de 4m de uma
mudança de direção, a vazão de projeto deve ser multiplicada pelos coeficientes da
tabela a seguir:

Tabela 1: Coeficientes multiplicativos da vazão de projeto.


O dimensionamento das calhas deve ser feito através da fórmula de Manning-
Strickler:

𝑺
Q = K 𝑹𝒉 𝟐/𝟑 𝒊𝟏/𝟐
𝒏
Onde:
Q = Vazão de projeto, em L/min
S = área da seção molhada, em m2
n = coeficiente de rugosidade
Rh = raio hidráulico, em m
P = perímetro molhado, em m
i = declividade da calha, em m/m
K = 60.000
Tabela 2: Coeficientes de rugosidade - n.

Para o caso de calhas semicirculares, obtém-se as capacidades de calhas


semicirculares, usando o coeficiente n = 0,011 para valores de algumas declividades. Os
valores são calculados utilizando a fórmula de Manning-Strickler, com lâmina de água igual à
metade do diâmetro interno.
Figura 5 - Calha semicircular.
Neste caso, primeiramente fixa-se uma declividade para a calha, então basta utilizar o
valor de vazão e escolher, na tabela 3 abaixo, um valor maior ou igual a ele. Dessa forma, o
resultado encontrado será o diâmetro para a calha circular.

Tabela 3: Capacidade de calhas semicirculares.

Figura 6 – Tubos de saída de água pluvial.

Diâmetro nominal: Simples número que serve para classificar, em dimensões, os elementos
de tubulações e que corresponde aproximadamente ao diâmetro interno da tubulação em
milímetros, não servindo para fins de cálculos.
Perímetro molhado: Linha que limita a seção molhada junto às paredes e ao fundo do
condutor ou calha.
Área molhada: Área útil de escoamento em uma seção transversal de um condutor ou calha.
Raio hidráulico: Razão entre a área molhada e o perímetro molhado.

Vazão de projeto: Vazão de referência para o dimensionamento de condutores e calhas.


Bordo livre: Prolongamento vertical da calha, cuja função é evitar transbordamento.

Vale lembrar que algumas recomendações devem ser levadas em conta para o
dimensionamento das calhas, são elas:
 Inclinação uniforme mínima: 0,5%;
 Quando a saída não estiver colocada em uma das extremidades: a vazão de projeto
para o dimensionamento das calhas deve ser aquela correspondente à maior das áreas
de contribuição;
 Quando não se pode tolerar nenhum transbordamento ao longo da calha: podem ser
previstos extravasores como medida adicional de segurança;
 Quando a saída estiver a menos de 4m de uma mudança de direção: a vazão de projeto
para a calha deve ser multiplicada pelos coeficientes da Tabela 1.

7. Dimensionamento dos condutores verticais

Os condutores deverão ser instalados, sempre que possível, em uma só prumada. Quando
houver necessidade de desvios devem ser utilizadas curvas de 90º de raio longo ou curvas de
45º, sempre com peças de inspeção. Dependendo do tipo de edifício e material dos
condutores, os mesmos poderão ser instalados interna ou externamente ao edifício.
O diâmetro interno mínimo dos condutores verticais de seção vertical é de 75mm
e devem ser dimensionados a partir dos seguintes dados:

Q = vazão de projeto (l/min);


H = altura da lâmina de água na calha (mm);
L = comprimento do condutor vertical (m).

A partir dos dados deve-se consultar os ábacos das Figuras 7 e 8, da seguinte maneira:
Levantar uma vertical por Q até interceptar as curvas de H e L correspondentes. No caso de
não haver curvas dos valores de H e L, interpolar entre as curvas existentes. Transportar a
interseção mais alta até o eixo D. Deve-se adotar um diâmetro nominal interno superior ou
igual ao valor encontrado no ábaco.

Figura 7 – Dimensionamento dos condutores verticais para calha com saída em aresta viva.

Figura 8 – Dimensionamento dos condutores verticais para calha com funil de saída.
8. Caixa de areia

Devem ser previstas inspeções nas tubulações aparentes e caixas de areia nas tubulações
nos seguintes casos:
- conexão com outra tubulação;
- mudança de declividade e/ou de direção;
- a cada trecho de 20 metros nos percursos retilíneos.
Em ambos os casos, em cada descida (condutor vertical) ou no pé do tubo condutor
vertical deverá ser instalada uma caixa de areia. De acordo com a NBR10844 (ABNT, 1989)
– Instalações Prediais de Águas Pluviais, a ligação entre os condutores verticais e horizontais
é sempre feita por curva de raio longo com inspeção caixa de areia. A Figura 6 indica um
modelo desta caixa.

Figura 9 - Modelo da caixa de areia.

Figura 10 – Caixa de areia de PVC.


9. Dimensionamento dos condutores horizontais

Utilizando-se a fórmula de Manning-Strickler e considerando uma altura de lâmina


igual a 2/3 do diâmetro, obteve-se a Tabela 4. Nesta tabela, o diâmetro é determinado a partir
da rugosidade, da declividade adotada e da vazão necessária.

Tabela 4 – Capacidade dos condutores horizontais de seção circular (vazões em l/min).

REFERENCIAS

CREDER, Hélio. Instalações hidráulicas e sanitárias. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006;
423p.

LIMA, Maria Cleide Oliveira. Instalações Prediais – Esgotos Sanitários – Introdução.


Disponível em:
<http://docente.ifrn.edu.br/cleideoliveira/disciplinas/instalacoeshidrossanitarias/
esgoto-sanitario-introducao/aulas-de-esgoto/esgoto-sanitario-introducao>.
Acesso em: <04 dez. 2015> às <14:50>.

____ NBR 5688, Sistemas prediais de água pluvial, esgoto sanitário e ventilação:
ABNT:2010.
____ NBR 8160, Instalações prediais de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT:1999.
____ NBR 9648, Estudo de concepção de sistemas de esgoto sanitário. Rio de Janeiro:
ABNT:1986.
____ NBR 9649, Projeto de redes coletoras de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT:1986.
____ NBR 9814, Execução de rede coletora de esgoto sanitário - Procedimento. Rio de
Janeiro:ABNT:1987.
____ NBR 10844, Instalações prediais de águas pluviais. Rio de Janeiro: ABNT:1989.

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