Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
123.01
abstracts
how to quote
languages
original: português
share
123
123.00
Arquitetura moderna,
estilo campestre
Hotel, Parque São
Clemente
Carlos Eduardo Comas
123.02
Centralidades
o simbólico, o
institucional e o
Ruínas de Teatro Grego, sítio arqueológico de Segesta, Sicília, econômico na região
Itália. Foto Victor Hugo Mori metropolitana de Belo
Foto Victor Hugo Mori Horizonte
1/10 Leandro de Aguiar e
Souza, Yara Landre
Marques and Diego
Filipe Cordeiro Alves
123.03
Poesia da democracia
Introdução Cultura e transformação
social na obra de Fábio
“Tendo, por conseguinte, a sabedoria natural concedido não ao Penteado
conjunto dos povos, mas a uns poucos homens dispor de tais Ivo Renato Giroto
capacidades; devendo o ofício do arquiteto ser exercitado em 123.04
todos os saberes e, podendo a mente, em virtude da dimensão da A divisão social do
matéria, ter além do necessário, não toda, mas uma pequena noção trabalho e as
das ciências, peço, ó César, tanto a ti quanto aos que hão ler transformações da arte
estes livros, que ignorai o que vier a ser explicado em pouca e da técnica na
concordância com as leis da gramática. De fato, como não sou produção arquitetônica
filósofo, nem orador eloquente, nem gramático versado em todas as Viviane Zerlotini da
regras do ofício, mas sim arquiteto, imbuí-me de escrevê-los da Silva
maneira que se segue.” (2)
123.05
No estudo História da arte uma questão é de capital importância: quando, La resistencia estética
exatamente, teria surgido a arquitetura? Isto é, quando e em que região Eduardo Subirats
geográfica precisa, certos trabalhadores que se ocupavam de construções 123.06
passaram a ser conhecidos pela denominação específica – ou foram Mario Palanti
"agraciados" com este "título" de caráter hierárquico ou diferenciador – Textos e ideas.
de arquitetos, destacando-se, portanto, do corpo do restante dos Repercusiones e
trabalhadores envolvidos no processo construtivo. Estamos partindo da historiografía
premissa de que quando houve um objeto ao qual foi conferido o epíteto de Virginia Bonicatto
construção, houve, igualmente um construtor, ou construtores. E, em um
determinado momento, construção e construtores foram socialmente 123.07
reconhecidos e designados com os conceitos de arquitetura e arquitetos. Reflexões sobre a obra
Mas, quando, precisamente, isto ocorreu? E, sobretudo, haveria uma de Hans Broos
continuidade histórica do conceito forjado neste caput? Karine Daufenbach
123.08
Podemos muito bem pensar que tais reconhecimento e denominação não se A participação das
produziram, necessariamente, no momento do surgimento do objeto, e que novas mídias na
poderiam muito bem ser posteriores, ou mesmo anteriores ao processo. universalização do
Poder-se-ia tratar de um caso de anterioridade literária, ou, ao conceito e dos
contrário, de uma "anexação histórica". instrumentos legais da
diversidade cultural
Estas questões sobre as quais lançamos luz parecem banais, uma vez que já Eliane Lordello and
teriam sido respondidas inúmeras vezes, em diversos livros, escritos Norma Lacerda
pelos mais variados autores. No entanto, refletir as respostas dadas pode
demonstrar que a questão ainda não teria perdido o seu caráter
instigador, e que, portanto, outras respostas seriam tão possíveis quanto
far-se-iam necessárias.
Vamos proceder, então, a uma análise que possa ser compreendida como a
"história do léxico", o recorte pretendido inicia-se na Grécia, passa por
Roma e encontra a sua síntese no Renascimento florentino, o Olimpo
erigido por historiadores italianos, habitat dos deuses fundadores de uma
nova fé.
Os gregos
Infelizmente, para nós, as pedras não falam... Temos, então, que recorrer
aos textos para uma compreensão mínima da historicidade da palavra e do
objeto. Ora, é amplamente conhecida a desconfiança de alguns filósofos
gregos em relação aos "produtores de objetos", trabalhadores manuais,
artífices da thécne, tais como pintores, ferreiros, oleiros, escultores,
sapateiros e... arquitetos. Apesar da importância social da sua
atividade, pintores e poetas, artistas enfim, não tinham lugar na Polis
ideal concebida por Platão. Não poderiam alcançar as ideias, posto que
eram prisioneiros das determinações da matéria. Além disto, uma
escultura, por exemplo, não seria senão uma cópia de algo que, desde a
sua origem, já estaria "condenado" como uma cópia do mundo sensível
criado pelo demiurgo a partir da contemplação das ideias. Mas, assim como
os marceneiros e carpinteiros, os arquitetos gregos teriam, pelo menos,
um parco consolo: não fariam, diretamente, cópias do mundo, como o fazem
pintores e escultores. A condenação que pesa sobre o objeto arquitetônico
é de natureza mais sutil: existindo como matéria, somente se realiza como
cópia sensível do não-sensível, do imaterial, e, portanto, da Verdade.
Há, portanto, ainda menos "verdade" nas obras dos escultores e pintores
do que nas dos carpinteiros, marceneiros e arquitetos.
Os romanos
Os modernos
Não tendo sido descoberto senão em 1825, na cidade de Paris, o Carnet não
se tornou um tema literário para os modernos, e coube ao ambiente
cultural neogótico a criação das condições da sua recepção (16). Isto
significa que as possibilidades para a sua assimilação e inclusão na
narrativa histórica não foram colocadas senão muito tardiamente, ao passo
que os escritos dos italianos tiveram uma boa penetração entre as classes
instruídas da Europa já desde o século XV. Um outro fator interessante, e
que vai afastar o texto medieval dos seus correlatos italianos, é a sua
própria condição de escritura: enquanto os tratados de arquitetura dos
séculos XV e XVI foram escritos em latim ou na língua vulgar das classes
dominantes, o que facilitava a sua recepção e transmissão, o texto
medieval foi escrito em uma língua vulgar, o Picardo, e não em latim ou
na língua vulgar falada na região de Île-de-France, a qual torna-se-ia, a
partir de 1539, a língua administrativa do Reino da França.
Conclusão
notas
1
Publicado em: Interpretar arquitetura, v. 7, 2004.
2
POLIÃO, Marco Vitrúvio. Da arquitetura. Tradução: Marco Aurélio Lagonegro. São
Paulo, Hucitec/Annablume, 2002.
3
DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem: uma breve história do olhar no ocidente.
Petrópolis, Vozes, 1989, p. 102.
4
XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates. Tradução: Jaime Bruna, Líbero
Rangel de Andrade, Gilda Maria Reale Strazynski, 5ª edição. São Paulo, Nova
Cultural, 1991, p. 116.
5
LAWRENCE, A. W. Arquitetura grega. Tradução: Maria Luiza Moreira de Alba. São
Paulo, Cosac & Naify, 1998, p. 128.
6
NIETZSCHE, Friedrich. Introduction à la lecture des dialogues de Platon. 2ª
edição. Paris, l`éclat, 1998, p. 7.
7
O historiador francês Paul Veyne, ao discutir a obra de Foucault, coloca esta
questão nos seguintes termos: "Primeira consequência: tal referente não tem
tendência a tomar esse ou aquele rosto, sempre o mesmo, a vir a ter tal
objetivação, Estado, loucura ou religião; é a famosa teoria das
descontinuidades: não existe "loucura através dos tempos", religião ou medicina
através dos tempos. A medicina anterior à clínica só tem o nome em comum com a
medicina do século XIX, alguma coisa que se pareça um pouco com o que se
entende por ciência histórica no século XIX, nós o encontraremos não no gênero
histórico, mas na controvérsia (ou, dito de outra forma, o que se assemelha ao
que chamamos de História é a Histoire des variations, livro, aliás, sempre
admirável e leitura que se devora, e não o ilegível Discours sur l`histoire
universelle.) Em resumo, em uma certa época, o conjunto das práticas engendra,
sobre tal ponto material, um rosto histórico singular em que acreditamos
reconhecer o que chamamos, com uma palavra vaga, ciência histórica ou, ainda,
religião; mas, em uma outra época, será um rosto particular muito diferente que
se formará no mesmo ponto, e, inversamente, sobre um novo ponto, se formará um
rosto vagamente semelhante ao precedente. Tal é o sentido da negação dos
objetos naturais: não há, através do tempo, evolução ou modificação de um mesmo
objeto que brotasse sempre do mesmo lugar" (VEYNE, Paul. Como se escreve a
história. Tradução: Alda Maria e Maria Auxiliadora Kneipp. 4ª Edição. Brasília,
UnB, 1998, p. 268-269). Seguindo o pensamento de Foucault tal como nô-lo expõe
Veyne, poder-se-ia dizer que, assim como não há nem medicina nem loucura
através dos séculos, também não há uma arquitetura nem uma arte através dos
séculos.
8
BAYER, Raymond. História da estética. Tradução: José Saramago. Lisboa, Estampa,
1979, p. 15.
9
POLIÃO, Marco Vitrúvio. Op. cit., p. 98.
10
Idem, ibidem.
11
Idem, p. 101
12
O termo do idioma português "mestre construtor" é ainda mais complicado
ideologicamente que o original francês – nesta língua se diz maître d`oeuvre,
tradução do termo latino magister operarium, ou, na língua vulgar: maistre
masson – porque parece sugerir uma artificial divisão entre arquitetura e
construção. Sobre estas questões lexicais e históricas remetemos o leitor aos
seguintes artigos, escritos pelo historiador francês Jean-Michel Mathonière: Le
plus noble et le plus juste fondement de la taille de la pierre, L`architecte
au Moyen-Age: un ouvrier sorti du rang e Le livre muet des cathédrales. Estes
três artigos podem ser consultados no site http://perso.wanadoo.fr/jean-
michel.mathonière/html/Accueil/accueil.htm. Ver, igualmente o dossier Les
bâtisseur de cathédrales publicado na revista Histoire, n° 249, Dezembro, 2000.
13
O historiador, igualmente italiano, Leonardo Benevolo, chega a mesma conclusão:
teria cabido a Brunelleschi a "invenção da arquitetura renascentista". Em seu
admirável livro sobre a arquitetura clássica o arquiteto brasileiro Elvan Silva
comenta, com muita propriedade, esta questão: "Essas duas categorias, o rigor
intelectual e o domínio do traçado, devem ser destacadas, pois são essenciais
na concepção de uma arquitetura considerada civilizada e culta, atributos
negados, pelos eruditos italianos do Renascimento, à arquitetura medieval, que
tinham por bárbara. Há, evidentemente, fortes componentes xenófobos,
chauvinistas mesmo, nesta qualificação" (SILVA, Elvan. A forma e a fórmula:
cultura, ideologia e projeto na arquitetura da Renascença. Porto Alegre, Sagra,
1991, p. 120).
14
ARGAN, Giulio Carlo. Clássico anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a
Bruegel. Trad.: Lorenzo Mammì. São Paulo, Companhia das Letras, 1999, p. 96.
15
O chamado mestre-construtor gótico já gozava de uma função e um reconhecimento
social bem semelhantes aos dos arquitetos renascentistas, isto é, era
responsável por um trabalho mais intelectual do que mecânico. Observemos, a
este respeito, as duras palavras do predicador Nicolas de Briard proferidas em
1261 em um sermão, dirigidas contra estes trabalhadores: "Nestes grandes
edifícios, é comum ter um mestre principal que dá ordens pela palavra e que
raramente faz um trabalho manual, e, no entanto, recebe salários mais
consideráveis que os outros" (Apud.: PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura
ocidental. Tradução: José teixeira Coelho Netto e Silvana Garcia. São Paulo:
Martins Fontes, 1982, p. 85). Atentemos para o fato de que estas mesmas
palavras que foram dirigidas "contra" os mestres construtores, apenas um século
mais tarde poderiam ter sido dirigidas "a favor" de Brunelleschi ou Alberti.
16
Estas "descobertas" não são, obviamente, casuais, e assim como coube aos
eruditos do Renascimento italiano a "descoberta" do texto de Vitrúvio, foi o
ambiente neogótico que possibilitou que o manuscrito do mestre construtor
picardo pudesse ser compreendido e assimilado.
17
Uma interpretação assaz interessante e original foi posta por Lewis Munford: "A
fim de compreender a cidade pós-medieval, é necessário que nos guardemos contra
a interpretação ainda em moda da Renascença, como um movimento no sentido da
liberdade e do restabelecimento da dignidade do homem. Na realidade a
verdadeira renascença da cultura europeia, a grande época da edificação de
cidades e do triunfo intelectual, foi aquela que começou no século XII e
alcançou a sua apoteose simbólica na obra de Um Aquino, de um Alberto Magno, de
um Dante, de um Giotto. Entre aquela revivescência e a revivescência clássica
do século XV, havia ocorrido um grande desastre natural: a Peste Negra do
século XIV, que varreu entre um terço e metade da população, segundo
estimativas mais conservadoras. Ao chegar o século XVI, aquelas perdas haviam
sido reparadas; mas a solução de continuidade resultante da peste foi acentuada
por uma redução da vitalidade comunal, como aquela que se verifica após uma
guerra exaustiva" (MUNFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens,
transformações e perspectivas. Tradução: Neil R. da Silva, 4ª Edição. São
Paulo, Martins Fontes, 1998, p. 376-7). Segundo o nosso autor, temos, então, um
Renascimento que se iniciaria no século XII, e que teria sido interrompido pela
peste negra no século XIV; e, após este desastre de dimensões formidáveis,
teria havido uma "fase intermediária" que culminaria em um período de plena
consolidação, já no século XVII, designada usualmente por Barroco.
sobre o autor
comments
© 2000–2022 Vitruvius The sources are always responsible for the accuracy of the
All rights reserved information provided