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Ano 2 Ne 10 DIREITO ADMINISTRATIVO — REVISTA DE ACTUALIDADE E CRITICA bimestral * CONTENCIOSO ADUANEIRO A INTEGRAGAO DOS ADIDOS © ACTOS DO PRESIDENTE DA REPUBLICA © RECURSO EXTEMPORANEO © SUMARIOS - DOCUMENTAQAO - INFORMAGAO NOVEMBRO/DEZEMBRO 1981 SUMARIO 1. DOUTRINA 1. CONTENCIOSO ADUANEIRO, ANALISE DE UMA EVOLUGKO ‘oMANo cangho sounes 2, A INTEGRACKO DOS ADIDOS E 0 SEU DIREITO A RECLASSIFICAGKO UL JURISPRUDENCIA erfrica 1, ACTOS DO PRESIDENTE DA REPUBLICA. ACTOS ADMINISTRATIVOS. IMPUGNASILIDADE CONTENCIOSA. ACTO RELATIVO A UM BMBAIXADOR (OU A UM ENVIADO EXTRAORDINARIO, FORA DO DOMINIO DAS RELAGOES INTERNACIONAIS, VICIO DE INCOMPETBNCIA suknao ssrevs De OLIVEIRA 2. RECURSO EXTEMPORANEO. CONHECIMENTO DOS FUNDAMENTOS DO ACTO. RECORRIDO ost osvass0 coms SUMARIOS ML, DOCUMENTACKO E INFORMAGAO 285 ‘que ete pret ltnha sido invocado no deereto de 14 de Agosto de 1976, publicdo no Dito da Repi- lca de 24 de Setembro do mesmo ano, que exonereuo recotrente do cargo de embatezdor de Portugal ex Mapa). "Tal compettacia result, aie, da Lei Orginia do Miniselo das NeaScios Esrangios,promul- sda pelo Deesto-Lai a" 47331, de 25 de Noverbro de 1966, nomeadamente dos §§ 1. 3° do seu {igo 3, com a nora redaoplo dade pelo Decreto-Lei n° 40/74, de 20 de Novembre, presto este to abvigo do qual ah sido feta & nomeaei do recorent, pelo deereto de 21 de Julho de 1975, publ do no dia 28 do mesmo mis ‘Proc, asi, o alegado vicio de incompettacia, pelo que fea preudiada a aprecisto dos mais viiosinvocaos. {8 Pelor fundamentos expesos,concedem provimento #0 recurso, enulando o acto impugn. Sem costa. Lisboa, 5 de Novembro de 1981 ‘Aupmero Manus 9 Sequnims LtAL, SAMPAIO DA NOYOR (Relator) Anrowte Browne Como —Luciaxo os Smeros Partio ANOTAGAO Reflexdo sobre 0 conceito de Acto Administrativo: apontamentos para o estudo io regime juridico substantivo ¢ contencioso dos actos materialmente administrativos praticados por érgios politicos, pxriamentares © jurisdicionais e por entes privados: 10 caso sobre que versou este importante Acérddo da 1 Secgio do S.T.A. era, resumidamente, 0 seguinte: —Em Julho de 1975, F... foi nomeado embsixador dos servigos externos do Ministétio dos Negécios Estrangerose colocado na Embaixada de Portugal em Maputos ‘fo sendo, portm, embaimdor de carrera, ciou-se, para 0 eftito, ¢ nos termos do § 3° do artigo 33.° do Decreto-Lei n° 47 331 (redacgio do Decreto-Lei n° 640/74), tum novo ugar no quadro do pessoal do servico diplomitico; —Por decreto governamental de Agosto de 1976, publicado ne 1° série do Disrio a Replica, F... foi vexonerado do cargo de embaixador de Portugal ex Maputos. — Em recurso entio interposto por F..., a 1 Seegfo do S.T.A. viria a considerar ‘que o referido decreto governamental implicando a sua exoneracio do cargo de embai- xzador em Maputo, nto tinha, conrado, como efeito exoneri-o do lugar de embaixador dos servigos externos do MINE; —Em | de Julho de 1979, foi publicado na II séie do Diivio de Repiblica um decreto do Presidente da Repiblica em que se determinava, com efeitos retroagidos 4.24 de Setembro de 1976, a exoneracio de F... do eargo de embuixador dos servigos externos do MINE». E 0 Acindio proferido pela 1 Steslo no recurso interposto por F... cotta eite decreto presidencial que nos propomos aqui analiser. ‘A principal questio que ira levantar-se ao tribunal era obviamente, a da admissi- bilidade do recurso: estar-se-fa perante um acto subsumfve! no conceito de acto admi- nistrativo — e como tal impugnivel contenciosamente, em sede de legalidade, perante 0s tribunals administrativos — ou flter-Ihe-i algum requsito que impedisse a referida subsuncio? A Secgio enveredot pela primeira sohusfo ¢, admitido o recurso, anulou o decreto presidencial por caréncia de poderes do Presidente para fazer cessar o vinculo juridico que ligavao agente administrativo F.. ao M.N.E., exonerando-o do seu lugar no quadro do sexvigo diplomitico, 2—Comesaremos por anotarincidentalmente alguns aspects curioscs de que ‘se revestiu 0 caso sub-judice. Como se sabe, entre as pessoas colectvas pblics © os agentes ao seu sevigo cestabelece-se uma relacHo juridica com duas facetas distintas, ou, para facilitar a expo- siglo, duas relagdes juridicas distintas: a relaglo de servigo e a relagdo orginica (*). ‘Exemplo bem caracteristico dessa dualidade é, precisamente, o dos embaixa~ ores dos servgos exteros do Ministéro dos Negécios Estangeios: enguasto tule de um lugar do respectivo quadro, 0 embaixador é sujeito duma erelagio de servigo» ‘gue tem como conte essencil, por um lado, os seus direitos a lugar e remunerasio correspondente ¢ pelo outro o dever de prestr o seu trabalho ou esforgo com zelo © diligincia e de o prestr no pais ou na organizagdo internacional que, para 0 efit, The & assinalada, A relaséo orginice, ssa 6 se constitu’ quando o embaixador & nomeado para asegurar uma representasfo diplométice; o conte essencal dessa relasio o dever de representaro Estado Portugués, peranteo respecivo pal ou organizasio internacional no modo € para defesa dos interesses que Ihe forem determinados pelo Geverno da Naslo ¢ exereendo pera o efeito os poderes que a lei the confere. De acord com o ordenmento juridico portuguesa relasG0 de servo constin-se ¢ extingue-se por acto do Ministro dos Negécios Estrangeiros ou do Conselho de ‘Ministros (conforme se trata ou no de embaixador de carreira), enquanto a relaglo conpinic se era e cesa por acto do Presidente da Replica (artigo 138.°, a) da Cons- tiuigio). © carioso € que, no caso sub-judic, a exonerago de F... do cargo de embaixador em Maputo, fezendo cess a relasfo onginic, fi fea por decreto goveraamental, fenguanto que a exoneragio do lugar do quadro do servigo diplomitico do MN.E. (©) Sobre a matteia ver Trevjano Foe, Tretade de Derecho Adminizrative, (Matis, 1967), 1, ples. 176 wan, « 0 nota Divito Adminitrative (Lisbon 1960), 1, pigs. 225 © segues, 237 — fendo extinguir a respectiva relagio de servigo —se deve a um decreto do Prsi- dente da Repiblic! Foi pecisamente por isso, como se disse fy que o S.T.A. amulow © acto recorido, E vamos agora ao ceme da questo. 3 —Convém, em primeiro lugar, louvar 0 modo frontal como o tibunal enfrentou, neste importante Acérdio, um dos mais delicados problemas da teoria geral da activi- dade administrative, quando, porventura, poderia ter chegado a0 mesmo resultado —admissibilidade do recurso e anulagio do acto— por outras vias muito menos controverses, mas que representariam uma rentincia em discutir e decidir sobre o néicieo da. questio. ‘Numa jurisdigo que, nos iltimos decénios, algumas vezes se deixou cair em correntes jurisprudenciais que redundaram na denegagio de elementares direitos dos cidadios por rezBes exlusivamente formais, esta preocupasio de reesaminar concsitos ce dogmas tradicionais & luz de métodos teleol6gicos revela a existéncia dum salutar cespirito critico por parte das geragies de administravstas que vém orupando os cargos de julzes © de magistrados do Ministério Péblico nos tribunais administrativos. ‘Oxalé a tarefa em que parecem embrenhados nfo seja dada por terminada sem ‘que se mostrem repensadas tantas correntes firmadss no S.TA. e que tém servido para ‘manter isentas de controlo jurisdicional e, portanto, impunes largas parcelas da acti dade administrativa (). 4—Como se referiu acima, 0 destino do presente recurso jogava-se— dado ‘que 0 vicio de incompeténcia parecia transparente—na questio di impugnabilidade do acto do Presidente da Repiiblica perante os tribunais administrativos. A resposta que instintivamente, todos darlamos a essa questfo seria negativa, ateudendo a posiclo tradicional ¢ lergamente predominante na doutrina e jurisprudéncia de todos 0s paises (neluindo o nosso) e segundo a qual s6 podem qualficar-se como actos administra- tivos aqueles que tém como autor um érgio administrative — que o Presidente da ‘Repiiblica manifestamente nfo é Essa posigio, sua origem e fundamentos explicam-se em duas palavras. ‘A consagrasflo constitucional, em tantos paises ¢ diferentes épocas, do principio da separegio de poderes fez-se, como € sabido, mediante adapracSes destinadas a obviar ©) Sto laimeras os matéisy em rslagto 4s quai a doutroa adminisvatva portugues tem formalado quexas deste géneos mat, para que ficmao do texto no pase indosumentds,reardamos fis a titulo exerplicativo, as difculdades que « nossa juroprudénca evuntam, antes da pubicacio do Decreto-Lal ne 256-A/77, 20 controle furediclonal do exercico de podecesdrccondros. Basta ‘nee que, at al munen ae steonbeoes a exiténcia do dever gerade fundementir of actos pratcados fo excrlcio desnes podetes, embora a conjurtio do art. 269°, n° 2, da Constuico de 1976 (ou do ‘Consitigdo de 1923) e do §tinkeo do at 19° da Lel Orpiiea do 8.T.A. o exe ranietamente. 238 as dificuldades que a aplicagio das suas regras, concebidas em estado puro, criaria ‘0 funcionamento eficaz dos. érgos de soberania, O trago mais significative dessas adaptagées com que nos diversos regimes constitucionais se aderiu 20 principio abstracto da separagdo de poderes & a atribuicfo de parcelas menores — mas, mais ‘ou menos signficativas — duma fungio estatal a érgios ou Poderes que teoricamente deveriam exercer epenas outra fungio, aguela em vista da qual foram criados © estruturados, De tais adaptagdes constitui exemplo tipico a atribuiglo de fungées legislativas 40 Poder Exccutivos o mesmo aconteceria nv émbito da fungfo administrativa, da qual se iriam distrar algumas parcelas ou sectores para os cometer a érgis politicos, legs lativos © jurisdicionss. Ese facto originou eacstes por parte da lei, da jurisprudéncia e da doutrina administrativas. Por um lado, € 0 objecto do Direito Administrativo que se restringe 20 estudo das normas ¢ principios que regem & actividade materialmente administrativa de érgios da Administragio Piblica; depois, € a nogfo de acto administrativo que se vai aplicar apenas Aqueles actos que, quer do ponto de vista material, quer do ponto de vista subjectivo ou orginico, merecerem o qualifcativo; finalmente, a competéncia ratione materize dos wibunais administrativos aparece delimitada em fungio dum conceito simultaneamente objectivo ¢ subjectivo de acto administrativo (), Durante muito tempo, em Portugal a lei, a doutrina e a jurisprudéncia' manti- veram-se fis a esta concepcio clssica (9). FE assim que 0 conceito de a..5 aparece forjado na ligfo de Mancetto Caztaxo como uma conduta voluntiia e unilateral de lum orgdo da Adnisustragdo PiBlica, que, no exercicio de wm poder de autoridade e para prossecuglo dos interesses postos por lei a seu cargo, produz efeitos juridicos ‘mum caso concrete). Alguns dos elementos contidos na nosdo podiam, talvez, treduzir-se numa férmula terminologicamente mais transparente; o certo € que, quanto 2 sua (deles elementos) necestidade e suficiéncia para defini 0 2.2, nfo existe praticamente controvérsia. () necesrio ater, port —e tate dum dado que nfo pode eaquecerse no racocnio sequite — ave a erigem desta diversas reajtea x que not referimos & de origem forma: fl porgve ct ‘eibunss adminitrativos se cram paca fear of acto dese Poder ou Oreo extatal —o Exteaive a6 dele — que no conccito de a. a. se fez interfer o elemento wbectivo Administra. No foam, ‘ortano, a esnea ou substincis da funefo e do sto administratves que determinaram a posiao da ‘outcna ¢tibunaisadminisrativos. Sobre este pont, muito cramente, ver Pamnne2 Dt VILASCO, EL acto adminizraiv, pig. 70 (Para s defnicio do object do D. A. velam-te no sentido da posicio tradicional AroKo (Quatto,Listes de Dirt Adminizrarive, 1976, pgs 17 e segs. © Mances20 CartANo, Manual de Divo Adminisratve, 10. edigio,T vols pie. 43). ©) Ob. city pls. 490 289 E li esti dito, clara e destacadamente, que o acto adminitrativo & uma conduta de um Srgio da Administracio; no estrangeiro, a concepgfo generalizadamente aceite a mesma (9. 5—Do recurso cumulado aos elementos objectives © subjectivos pars definir 6 acto administrativo resulta ficarem excluidos do conceito aqueles actos que, sendo ‘muterialmente administrativos, t8m como autores: — érgios estatais essencakmente politicos, legislativos ou jursdicionsis, como © slo, entre nbs, respectivamente, o Presidente da Repiblica, a Assembleia dda Repiblica e os Tribunsis; ents singulares ou Grp de entes coletivos de direito privado. Quanto a estes sltimos, o problema da sua qualficago como administrativos coloca-se em relagdo aos actos de entes que actuam em sectores dominados por inte- resses piblicos e que, sob apertado controlo da Administragio, se comportam perante terceiros por modo similar 20 dos entes piblicos, armados de prerrogatives de autoridade (7). Quanto aos actos materialmente administrativs provenientes de érglos essen- cialmente politicos, legslativos e jurisdicionais a questio da qualificagio levanta-se, sobretudo em relagio iqueles em que se traduz a cadministracdov dos Perlamentos, das estruturas de apoio a Presidéncia da Repiblica © dos Tribunais: trata-se de uma exigtncia— ainda que secundéria —do principio da separagio (melhor, da indepen- éncia) de Poderes, esta de que cada érpio estatal se encarregue da sua propria admi- nistragio, Para além desses, hé casos em que érgios de outros Poderes sio chamados a intervir— mas, agora, em clara violagfo do principio abstracto da separacio—na ‘gestfo da propria «coisa administrativar, em tarefas da propria Administragdo Publica, Bo que ee passa, por exemplo, com a compettacia atrbuida so Chefe do Estado para notnear certos agentes ou funcionrios administrativos superiores 0 que entre nés se verifica, v.g., com a designacio do Procurador-Geral da Repiblica ¢ o Presidente (Nese sentido ver por tos: em Bopanha Gonzatez Paz, Et Precedniono Adminizraio, 1964, pégs. 296 e segs; para a Frage, A. de Laubadee, Trai Blonantaie ds Droit Adminisra, 1967, 1 vols pig. 183 ess; em Ila Guupo Zaouna, Corso di Dirto Administrative, 1958, vl. 1 a. 244, ‘ns Gelcla, M, Srasssopounos, Traied des eee adwiniraif, 1973, pigs. 4 e segs. para a Alemanhs, HP, Irons, Verwaltengahte, ix Die Verwalrne, 2954, pie. 5 (C). Bao nacureimente fora de questio 0s tipios actos de gosto privada e também os actor ‘exccutrios proveneates de ents privados concesioirioe da exploracto de servigns « obras palin ‘os primeiroesfo inguesonavelments actos juridicos de dito privado © os segundos, mesmo para & concepelo lisa, slo verdadeitos actor adminsttvos. 290 do Tribunal de Contes (8-9); 0 mesmo se diga com os poderes conferidos & Assem- bleia da Repiblica (ow a uma comissfo parlamentar eleita no seu seio) para decidir sobre a convenitncia ¢ oporumidade de actos praticados no dominio da Reforma Agniria — artigo 72.° da Lei 77/77. Para os defensores da posigio tradicional, 0s actos a que vimos de nos refrir, como quaisquer outros actos matcrialmente administrativos provenientes de érgio no enquadrados no conceito orginico de Administrasio Pablica (*), nfo entram na noglo de acto administrativo, nem no mbito da competéncia contenciosa dos tibu- nais administrativos; e, depois, com muito de petigio de principios & mistura, deduzem que 0 regime juridico-substentivo préprio do acto administrativo também no Ihes é aplicdvel 6—Nem o peso de toda esta tradigdo, nem o prestigio € 0 miimero dos que @ sustentam, assustou os Venerandos Conselheiros que subscreveram 0 Acérdio sob anotagio. E para se verificar até que ponto se resolveram a encarar frontalmente a (questi, atente-se nos seguintes trechos da fundamentacio do Acérdio: —1Cré-se, no entanto, que 2 evoluglo jurisprudencial e legislativa aponta no sentido de, para definiglo do acto administativo, se dever pr o acento ténico ‘no conteddo material do acto, deixando assim de ser elemento decsivo a circuns- Hincia de ele emanar ou ndo de wm érgdo administrative; —s.podendo-se ver, pois, nesta evolusdo legislativa, alinda a evolugio juris- prudencial acima referida, uma indicagio firme no sentido de que o que € decisive para caracterizar um acto como administrativo é @ circunstdncia de cle ter sido proferido no exercicio de uma actividade administatioas; —‘Neste contexto tem de entenderse que, quando o Presidente da Repiblica cxersa fungSes sdministativas —como, por exemplo, as relacionadas com © pessoal das suas Casas Civil e Militar —ar actos pratcados nesse dmbito tin de ser quafcades como actos administrative: eando, consquentenene, sujeits a fscalizapdo comencosa, nos termes do artigo 269, n.° 2, da Consti- tuiglo da Repiblica Portuguesa, pols como jé ats se disse a su qualidade de Grglo de soberania nfo o exime dessa fiscalizasSox; Che, Aso Quad, ob city pigs. 89 & sequins. (No Actrdso sob anor, os Venerandes Canstheros — embors sem grande convo _—rmetem para 9 nosso etido Dirito Adminitativos onde «dad passo ee afirmou que a nomen e embaixadores consiuca também una maifetacio da compettacia administrative do Presidente 4 Repiblia. Compreende-se perfetamente a fala de convicgio revelada nesa ciao do Actrdio ‘ qualifcagio que impatimos — sob reserva expres alia —a ese tipo de actos 6 enc eae ealicn pelo facto de a refria nomeaito, enborseotstiulado eco palico ou de govero, produsir também ‘fetes no dominio des relagSes fideo administatias. () “Sobre o concuitoorslaio de Adminiragio Pabli seauioes. vee A. Quin ob ct» pigs BA © 291 wisto que & precisamente esta Constimigfo que, no jf ciado artigo 269.°, 1.2 2, estabelece a garantia do recurso contencioso contra actos administrativos definitivos e executérios, sem qualquer restricglo, e, portanto, qualquer que suja 0 érgdo de onde os mesmos provenhane. Bota passagens do acrdio sob anotasio ainda vio cetamente, fzer corer muita tinta, porque € natural que @ nos doutrina (que, 20 que parece, ainda nlo se deixara Sensible para o debate) raja a uma revisfo to brusca e profurda da concepslo clissca, 2 qual sempre se mostrou apegnda. TE como se caminha, «pasos largos, no sentido da consagragio dua nova corrente jmisprudencial — que, at, jé se vinha desenhando, embora timidamente em arestos fnterores() — necessirio que ot administatvistas portagueses se debrucem, também ees, eubre 0 conceito tradicional, quando menos para que a sua accitagio se possafundamentar em motives mais eiticos do que aqueles que até agora se vinham utlizmdo para 0 efeito ‘As implicagdes (em termos de competineiacontenciose, mas sotretudo nos domi- ‘nios da disciplina substantiva) que derivam da posigio cléssica e daquela que no Acérdio: da 12 Secgio se Ihe ope, sio de tl modo importantes que bem justicam uma anise cientlica stenta ¢ aprofindeda. 1 claro que, em questi to complexa ¢ delicade, representa pergoss levian~ dade esumir-e aqui uma postura definitiva; preferimos dear amaurecer os fats dda comtroversia doutrna,langando apenas nests linhas algumas pistes para a discussio que urge. ‘fo nos furaremas, contudo, a reveler, através da exposigéo subsequente, que estamos, para jf, com a 1* Secgio do $.T.A. quando nela se repudie 0 conceto orgt~ ‘nico de acto administrative —o que, alids, vem na sequéncia de algumas paginas de teflexo que, hé tempos, dedicimos ao assunto ("*). 7—As hesitagdes que daqui e dali vem suscitando a nogdo cléssica sio, de resto, perfeitamente compreensiveis: basta atentar na origem artifical, quasediriamos expiia, os conceitos orginico-matersis com base nos quais se definiu tadicionalmente 0 objecto do Dircito Administrativo, o acto edministrativo e se procoleu & delimitacio da competéncia em rezio da matéria dos tribunais administrativos. por isso que Afonso Queiré, 0 Autor que mais profunda e lucidamente se tem. embrenhiado, entre nés, no estudo do conceito objective subjectivo de Administrasio Pblice, depois de refer que a reduco do objecto do Direito Administrativo norms (©) All daqules citadoe no Acéedio a propio dos acts ds 6afos da Adminintrglo Milas «© do Conse da Reroluglo, efsam-e, muito mals impresivamente, quanto a 26% por exempl, o& ‘Astedlon da 1.» Seosio do ST. A. de3-VII-T5 (ato Sommer Champalimand, publado nos AD n° 168) fe de 24-180 (can Dr. Alfedo Gasper. (COB city ples, 382 2 386, 202 que disciplinam a sctividade materakmente administativa dos Grgfos administrativos € fruto dessa econvengio porque, precisamente, se trata de matéria em que imperam a5 tadigées da doutrina © 0 acordo dos expositores ou tratadistany, acresoenta que chem se podera realmente entender que também sto Direito Adminstratoo as normas que disciplinam 2 actvidade materalmente administrative levada a cabo por dros 10 administrativos, desde que se quizesse afrontar essas tradigdes ¢ essa opinio comunis se anotasse este ou aquele desvio que (tis normas) consagram ao bloco de prinetpios ‘que constituem a especificidade desta fracglo da ordem juridica» (*), A idcia do lustre Mestre sobre a delimitaglo orglnico-materal do objeto do Direito Administrativo vale, com as necessérias adaptagGes, para o conceito orgfinico- ~material de acto administativo: na verdade, se bem que a origem da nogfo cléssica do a. nfo posse imputarse to exclusiva e linearmente as éconvengtes¢ wradigdest dos AA, o certo € que nela joguram cunmulada e decisivamente as exigéncias — tantas vezes mal imerpretadas — do principio da separagio de poderes em matétia de compe- ‘aca dos tribunsis administrativos ¢ uma eonvensoe aceite, muita vezes por omiss¥0, centre eibunais doutri (9). B queso facto referido acims, em nota, de os tribunais administrativosterem sido ‘riados para fscalizaros acts de gestio piibica do Executivo (Administragio Pablica), 4 s6 dele evou 8 generalidade dos administativsts a construr, consciente ou invo- Tuntariamente © conceito de acto administativo por referéncia apenas aqueles actos sobre os quais a jurisdiko administrativa podia exercer os seus poderes de cognigfo € decisio. por isso que, & semelhanga de tantos outros, um reputado Autor, como Stassi- nopoules, pera negar a naturezs de acto administrtivo a acts (que reconhece serem raterialmente adminisrativos) praticados por rgios legislativos e jurisdicionss, argumenta com o facto de contra eles nfo eaber um recurso contencioso administra- tivo (9 [A posigéo « que acabamos de nos referircarece de suporte metodolégico vilido, por isso que nfo pode dedusir-se o regime e a qualificagio dum aco juridica da natu- reza do tribunal a quem o legislador confiou a tarefa da sua fiscalizaglo: se a impugna- bilidade perante um tribunal administrativo (ou, até, a proveniéncia dum érgio admi- nistrativo) fosse o trago marcante da disciplina juridica dos actos administrativos, entio, sim, sera legltimo reduzir esse conosito 0s actos impugnaveis perante a jurisdigio adminstrativa (ou praticados por Srgios administrativos). 2) sLigbom ies pa 18. (09. Notes, a ene propio, ave x competnca dos tlbunais administrator pica scion da Adminis Pac een, dante lq eo, cm o fundamen de que pins da spuapo ou independnia de Pores cxigia qu fone a Admins aul ds Seas 40. (C) Sobre alguns pects curios den conven, ver «peropei de A. Quam sein

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