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ROTEIRO PARA RESOLUÇÃO DE CASOS SOBRE APLICAÇÃO DA LEI NO

TEMPO

Nota prévia.
O roteiro que a seguir se apresenta representa apenas uma proposta do caminho que pode ser
seguido na determinação da lei aplicável a situações jurídicas em contacto com duas ou mais
leis que se sucedem no tempo.
Vejamos quais são as situações mais típicas que poderão surgir e qual a abordagem mais
adequada.

Ponto 1.
Antes de mais, importa determinar com precisão qual a data de início de vigência (IV) da lei
nova (LN).
Deve verificar-se se a própria LN fixa o seu IV; em caso negativo, deve verificar-se a
existência de um eventual período de vacatio legis, fixado na LN; em caso negativo, aplica-se
o período geral de 5 dias fixado em legislação especial (mencionado no art. 5º do CC).
Deve mencionar-se qual o período de vacatio legis relevante e indicar com precisão o dia de
IV da LN.

Ponto 2.
Depois devemos verificar se existe realmente um conflito de leis no tempo.
Tal implica a existência de uma situação/relação jurídica nascida sob o âmbito da lei antiga
(LA) que subsiste à data de IV da LN, sendo que esta última estabelece uma regulamentação
diferente da LA. Se certa situação/relação jurídica nasce, vive e morre sob o âmbito da LA ou
da LN não existe um conflito de leis naquele caso concreto.

Ponto 3.
O terceiro passo dirige-se à qualificação da LN segundo os critérios estabelecidos nos arts.
12º, 13º e 297º CC e à consequente aplicação destas normas.
a) A LN vem regular as condições de validade substancial, formal ou os efeitos de certo facto
jurídico (dispõe sobre a capacidade das partes, a licitude do conteúdo de certo negócio, as
formalidades que o mesmo deve observar, etc.); a LN regula o facto jurídico como uma
realidade estática no momento da sua (do facto) verificação/celebração — aos factos
verificados antes do IV da LN aplica-se a LA (art. 12º, nº 2, primeira parte, CC).

b) A LN vem regular os direitos e deveres das partes numa certa situação/relação jurídica; a
LN regula a situação/relação como realidade dinâmica (o modo como essa situação/relação se
desenvolve) e fá-lo com força imperativa — a LN dispõe directamente sobre o conteúdo da
relação jurídica abstraindo do facto que lhe deu origem (por ter força imperativa), logo aplica-
se às relações já existentes no momento do seu IV (art. 12º, nº 2, segunda parte, CC).

c) A LN vem regular os direitos e deveres das partes numa certa situação/relação jurídica; a
LN regula a situação/relação como realidade dinâmica (o modo como essa situação/relação se
desenvolve) mas agora a LN é uma norma supletiva ou interpretativa — a LN dispõe
directamente sobre o conteúdo da relação jurídica mas já não abstrai do facto que lhe deu
origem (por ser meramente supletiva ou interpretativa), logo não se aplica às relações já
existentes no momento do seu IV (art. 12º, nº 2, segunda parte, CC, a contrario sensu).

d) A LN é uma lei interpretativa — tratando-se de uma verdadeira lei interpretativa (não


confundir com norma interpretativa), aplica-se às relações já constituídas e aos factos
ocorridos antes do IV da LN, segundo o art. 13º CC, com as limitações aí referidas; se, pelo
contrário, estiver em causa uma lei inovadora, tratar-se-á de uma lei retroactiva que, por isso,
também se deve aplicar às relações já constituídas e factos já ocorridos (art. 13º CC), mas
com as limitações resultantes do art. 12º, nº 1, CC, e da Constituição.

e) A LN vem encurtar um prazo para a prática de certo acto (ou o início da contagem do
prazo é antecipado, ou cria um prazo que antes não existia) — a LN aplica-se aos prazos em
curso no seu IV, mas o prazo só se conta a partir desse IV (art. 297º, nº 1, CC); se faltar
menos tempo para o prazo se completar segundo a LA, é esta a lei aplicável ((art. 297º, nº 1,
parte final, CC).

f) A LN vem alongar um prazo para a prática de certo acto (ou o início da contagem do prazo
é postcipado) — a LN aplica-se aos prazos em curso no seu IV, mas o prazo é contado desde
o momento fixado na LA (art. 297º, nº 2, CC).

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