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Semana de psicopatologia, com Fernanda Landeiro

AULA 1 - Psicólogo pode fazer diagnóstico?

CFP que define o que o psicólogo pode ou não pode fazer.

Resolução - Atestado psicológico, fica facultado ao psicólogo o uso do CID e outras fontes
de diagnóstico. O CID foi publicado pela OMS, construção por várias áreas do conhecimento.

CID - todos os diagnósticos da categoria F, o psicólogo pode fazer. E todo o DSM.

Diagnóstico = Hipótese diagnóstica (mesma coisa)

Diagnóstico - 3 problemas
● Formação do profissional;
● Formação da psicopatologia na faculdade foi pelo viés da psicanálise;
● Próprio empenho do profissional para aprender sobre esse assunto.

3 Grandes eixos da psicopatologia


● Psicopatologia fenomenológica - que não trabalha com diagnóstico;
● Psicopatologia psicodinâmica (psicanálise, junguiana) - diagnóstico próprio;
● Psicopatologia descritiva - ateórica (sem abordagem).

DSM - linguagem comum dentro da saúde mental. Para psiquiatria e psicologia.

Críticas
● Reducionista
● Diagnóstico rotula e estigmatiza o paciente
● O paciente usa isso para justificar os seus problemas (ex.: não consigo fazer isso
porque tenho depressão)

De onde vem as críticas? Da cisão entre psiquiatria biológica e a filosófica. Psiquiatria se


aproximando mais da medicina do que a filosofia.

Transtorno mental significa disfunção prejudicial - o indivíduo não vai conseguir realizar
suas atividades de maneira funcional (idade, sociedade e cultura) + prejuízo clinicamente
significativo para o indivíduo ou sociedade.

APA coloca que o diagnóstico é cultural e ele pode mudar.

Definição de transtorno mental:

"Uma síndrome caracterizada por distúrbio clinicamente significativo na cognição, na


regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo, que reflete uma disfunção nos
processos psicológicos, biológicos ou desenvolvimentais subjacentes ao funcionamento
mental" (APA, 2013, p. 20).

Psicopatologia descritiva - se aproxima da psicologia baseada em evidências.


● Fatores desencadeantes - fazem com que o indivíduo desenvolva o transtorno
(biológico, genético, ambiental, familiar, social);
● Fatores mantenedores - mantém o indivíduo naquele transtorno.

Diagnóstico
● Tem características de que algo é assim e amanhã pode não ser;
● Ciência se embasa em probabilidades;
● Psicologia baseada em evidências;
● Respeitando uma transitoriedade;
● Diagnósticos que deixam de ser - porque a ciência não é um dogma.

AULA 2 - Qual o modelo diagnóstico atual em saúde mental?

Assuntos abordados:
● Histórico do DSM
● Psicopatologia ateórica num contexto maior

DSM
Criado pela APA (Associação Psiquiátrica Americana) em 1952. Antes da APA se reunir já
houveram outras tentativas de fazer um material neste sentido.

Psicopatologia
Vem antes do DSM;
Estudo científica dos transtornos mentais;

(Ateórica/dinâmica)
Não é baseada em fatos do passado (do paciente), baseada nos sinais e sintomas
Sinais - é tudo aquilo que se pode observar no paciente (ex.: higiene, comportamento,
expressões faciais)
Sintomas - é aquilo que não podemos observar, mas o paciente pode relatar (ex.:
pensamentos do paciente "penso em me matar", ouvir vozes, emoções "me sinto triste")

Modelos do DSM
● I e II - modelo hierárquico
● III, IV e IV-TR - modelo categórico
● V - modelo dimensional

I - (1952) 106 diagnósticos


II - (1968) 182 diagnósticos
III - (1980 junto com a CID-9) 265 diagnósticos
III-R (revisado) - (1987) 292 diagnósticos
IV - (1992) 365 diagnósticos
IV-TR (2000) manteve a quantidade, só aumentou a quantidade de páginas
V - (2013) 372 diagnósticos

● I e II - modelo hierárquico
Baseados na psicopatologia psicodinâmica, embasados na psicanálise. Era dividido em
neuroses e psicoses;
1980 - cisão da psiquiatria, onde se associa com o CID;

Pirâmide hierárquica
- Distúrbios orgânicos (retardo mental, questões neurocognitivos)
- Psicoses graves (esquizofrenia, PMD - Psicose Maníaca Depressiva [agora é
transtorno bipolar]
- Neuroses e transtornos de personalidade - perversão (antissocial)

● III, IV e IV-TR - modelo categórico


- Modelo de sim e não;
- Preenche os critérios = tem o transtorno;
- Tinha um critério excludente - mesmo que se encaixasse em todos os outros, se não
tivesse esse, não poderia fechar o diagnóstico;
Vantagem: descreve bem os sinais e sintomas.
Desvantagem:
- se ampliou o número de comorbidades;
- Categorias muito rígidas de sim e não, aumentou a sensibilidade do diagnósticos e
seu número sobe;
- Critérios excludentes - fazia com que a pessoa não se encaixasse no diagnóstico.

● V - modelo dimensional
- Tem os transtornos dentro de um espectro (possibilidade de gradação - leve,
moderado, grave);
- Aumentar a visão integrada do ser humano;
- Não tem mais a dicotomia entre mente e corpo;
- Possibilidade de dimensionar quanto cada critério está presente;

Sensibilidade
- Quando tem um teste, questionário ou inventário que é mais sensível e pode incluir
casos que não são. Tem a possibilidade de encaixar pessoas que não se enquadrem
totalmente no conceito diagnóstico, mas tem alguns traços.
Especificidade
- Só vai incluir pessoas que tem aquele problema, excluir quem tem os traços e só
deixar quem tem o diagnóstico.

- O DSM-5 tirou as comorbidades infinitas e agora o paciente tem um transtorno com a


especificidade. (Ex.: depressão com especificidade ansiosa)

Desvantagens:
- Necessidade do profissional conhecer mais sobre cada transtorno;
- Risco de patalogizar;
- Risco de ser flexível demais (discordâncias de diagnósticos).

Correlação - qualquer coisa pode ter uma correlação. Na estatística é chamado de pevalor,
um número que se der a partir de tal dado significa que tem correlação. Correlação não tem
a ver com causalidade.

AULA 3 - Epidemia de transtornos mentais? Quem é o novo paciente psiquiátrico


Doença x Transtorno
Doença tem uma etiologia (origem) bem definida. Nos transtornos psiquiátricos não há uma
etiologia bem definida. Uma série de fatores contribui para o aparecimento do tal.

Criação das medicações psiquiátricas aumentou consideravelmente o diagnóstico dos


transtornos mentais.

Epidemia dos transtornos mentais


● Será que existem tantos transtornos mentais assim? Será que estaria a serviço de
alguma coisa, como a indústria farmacêutica?
(Liam Herzberg) Psiquiatria em duas fases:
● Descerebralizada - época que não se conhecia nada sobre o cérebro. Aceitava-se
as noções freudianas;
● Desmentalizada - foco no cérebro, uso massivo de drogas e exames de
neuroimagem. Perdeu o interesse pela história pregressa do paciente. Começou na
década de 80.

Marco na história da psiquiatria - experimento Rosenhan na década de 70 (pesquisador)

12 pessoas, homens e mulheres de idades diferentes. Instruiu que elas fossem em um um


hospital psiquiátrico, falassem qualquer coisa sobre sua história e incluísse que ouvia vozes
e essas vozes diziam 3 palavras "oco, vazio e morte".
Resultado: todos foram internados com esquizofrenia, ficavam na clínica anotando tudo que
acontecia. E lá eles agiam naturalmente, com comportamento "normal". Nenhum dos
profissionais questionou sobre essas pessoas, somente os pacientes.

Confiabilidade é quando os profissionais concordam em um diagnóstico.


Fidedignidade é um exame feito que comprova.

Normal - dentro da norma


Diferente - sai do quadro da norma (traços)
Patológico - transtorno

Modelo dimensional do DSM-5


● Baseado no "big five" - traz 25 traços de personalidade dividido em cinco grandes
domínios;
● Baseado em uma análise estatística, fatorial;
● Agrupamento feito pelo similaridade;
● Bem aceito pela ciência;
● Ex.: paciente tem transtorno, traço especificado tipo antagonismo. (Personalizar o
diagnóstico para o paciente). É um modelo alternativo.

Reflexões
● Estamos criando uma cultura de patalogização ou as pessoas estão intolerantes a
dor? Quando se tem recursos químicos para lidar com isso, a pessoa pode escolher
não querer sofrer;
● Estamos enquadrando falsos diagnósticos? Incluindo todo mundo que não tem
critérios diagnósticos;
● Quem é o novo paciente que vai chegar, o que não tolera a dor, o que quer um
remedinho.

AULA 4 - Como tratar sem diagnosticar?

Para alguém ser diagnosticado não é simples. Precisa ter os critérios descritos pelo DSM,
ter uma frequência alta, intensidade elevada, sofrimento clinicamente significativo.

Alguns pacientes não irão preencher os critérios - então eles terão os traços e não o
transtorno propriamente dito.

A principal ideia dos sistemas de classificação é fazer com que todo mundo fale a mesma
língua dentro da saúde mental. Desenvolve uma ciência com estudos. A partir dos
diagnósticos se geram tratamentos e intervenções.

APA diz que o diagnóstico tem uma utilidade clínica. Saber como conduzir o tratamento,
criar um plano de tratamento, determinar prognósticos e os resultados potenciais.

Problemas:
● Comorbidades - grandes números de diagnósticos no mesmo sintoma. 》》 Passou
a ser Especificador - mudou apenas o nome.
● Diagnóstico diferencial - dificuldade em diferenciar um diagnóstico do outro, pela
semelhança.

O diagnóstico proporciona um norte para o tratamento. Identificar se é traço ou se é


transtorno.

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