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Apontamentos para a primeira frequência de

História da Lógica

Márcio Luís Lima


1. Explique qual é a problemática central do “Sofista” do ponto de vista da
lógica;

A obra de Platão, “O Sofista”, pode ser dividido em três secções distintas que estão
relacionadas entre si e estão delimitadas com os seguintes temas: na primeira parte,
uma introdução e desenvolvimento de uma tentativa de definição que represente o
sofista; na segunda parte da obra, como questão nuclear, a investigação sobre a questão
do “ser” e do “não-ser”; e na terceira e última parte, Platão retoma à problemática de
definir o que é o sofista.

A obra dá-se num diálogo entre Teeteto e um estrangeiro de Eléia, tendo em conta
que este último é que conduz o pensamento da obra. Na primeira parte da obra, já
referida, o estrangeiro divide o sofista em várias analogias, a primeira delas é
caracterizando-o como um “caçador” que persegue jovens ricos e da alta sociedade para
receber dinheiro no pretexto do ensino; consecutivamente apresenta-se como um
“comerciante em ciências” que vai de cidade em cidade vender uma ciência que ele
mesmo não produziu a troco de dinheiro; entretanto como um “pequeno comerciante”
quando se estabelece numa cidade a negociar os tais ensinos; depois como um
“mercenário” caso receba dinheiro para ensinar a combater argumentos através de
perguntas e respostas organizadas com o único propósito de vencer e não valorizando
a verdade; por fim, o sofista é tido como um “refutador” na medida em que contesta
tudo e purifica as opiniões que são um obstáculo à ciência, esta purificação consiste em
separar na medida de reter o melhor e rejeitando o pior.

O estrangeiro vê o sofista como aquele que discute qualquer assunto, o que seria
impossível, criando ilusões de construir um discurso verdadeiro, ou seja, este é
mimético. Isto irá conduzir à questão da arte mimética e da falsidade, ou seja, para o
que é contraditório: ser como verdade e não-ser como falso.

Para admitir a falsidade teria de se contestar Parménides e a sua tese de “Jamais


obrigarás o não-ser a ser; (…)” e isso implicava uma contradição, de modo que, para
tentar pronunciar o não-ser, nada se pronunciaria, uma vez que não-ser a nada se
atribui. Para Parménides, o ser é o único objeto de pensamento, ou seja, só podemos
pensar e dizer o ser, excluindo o não ser do pensamento e discurso. Para o estrangeiro,
uma vez que nenhuma falsidade seria possível se não fosse admitido o não-ser como
ser, ou seja, como existente, passa-se então à parte central do diálogo.

O estrangeiro refere-se ao não-ser como uma estátua, uma imagem sem realidade,
simulacro, sendo assim, a verdade é o que é e a falsidade o que não-é, mas a estátua de
certo modo é, ou seja, força a reconhecer a condição da existência de um discurso falso.
A imagem parece o verdadeiro, há ali algo, mesmo que não seja o verdadeiro. Sendo
assim, há, portanto, uma ligação entre o ser e o não-ser, contrariando a tese de
Parménides.

Na problemática do ser, é tida em questão que as coisas que mudam pelo devir são
distintas do ser porque, para estes, o ser não muda, é imóvel, sendo assim, não pode
sofrer nem causar reação; contudo estes concordam que a alma conhece e o ser é
conhecido, ora, para tal acontecer é necessária ação (passar de não conhecido a
conhecido) e se o ser sofre e age então ele é móvel, e este é um devir constante,
portanto, é invalidade a possibilidade de permanência de estado. É conduzido então no
diálogo para uma conclusão do ser que este inclui os dois (repouso e movimento).

Entre as proposições de “o ser é movimento” e “o ser é repouso”, nenhum


predicado dá identidade ao ser, por exemplo, dizer que um homem é racional não
implica dizer que os termos homem e racional sejam o mesmo. Platão diz que eles estão
em relação de participação, ou seja, implica dizer que o termo homem participa no
termo racional e a palavra homem continua com muitos outros predicados possíveis.

Sendo que o ser não se pode então identificar com repouso ou movimento tem de
haver então uma terceira hipótese. Na teoria de Parménides, o não-ser configura uma
contradição do ser e o terceiro termo fica excluído, mas no caso de incluirmos este para
dar sentido à negativa, deixa de haver esta contradição. Tendo os três caminhos:
primeiro de tratar as coisas como incapazes de participação mútua, nada pode ser
atribuído a nada; segundo, tudo é capaz de união mútua, o movimento torna-se repouso
absoluto e vice-versa; e por fim, supor que há algo com associação mútua e algo que
não;
Apenas o último caminho mantém o ser entrelaçado com o não-ser, uma vez que o
primeiro exclui a possibilidade predicativa do ser e o segundo não mantém a identidade,
aceita-se então a possibilidade de associação entre géneros. Então o não-ser passa a
participar de cada coisa.

O princípio de não contradição é, de certo modo, reformulado por Platão: o não-ser


não é o contrário do ser, é um ser outro que está em contraste com o ser.

2. Quais são os aspetos lógico formais da silogística categórica de Aristóteles?

A nova forma de silogismo aparece aos olhos de Aristóteles como a forma


acabada da dedução, de maneira a poder identificar-se com ela.

Um silogismo é composto por três termos, unidos dois a dois em três


proposições elementares, ocorrendo cada uma delas duas vezes. Um dos termos
tem como função efetuar a mediação entre os outros dois termos, o termo
médio, os demais correspondem aos extremos, sendo que um tem maior
extensão e aparece em primeiro lugar, o termo maior, e o outro, o termo menor,
que só intervém depois do outro. A conclusão é o que une os dois termos
extremos, o menor como sujeito e o maior como predicado, e é a última a ser
enunciada.

As outras proposições repartem o termo médio, são as premissas, a que


se coloca em primeiro lugar é a maior e a que vem a seguir é o termo menor (isto
na primeira figura).

No silogismo categórico aristotélico, não se encontram caso de


proposições singulares, daí se substituir o nome de algo em especifico para, por
exemplo, a uma das espécies a que pertence, contudo serão usadas letras; este
foi um progresso importante para o avanço da matemática, cálculo aritmético,
etc. e começa aí uma lógica propriamente formal.

Se estivermos perante “Se A pertence a B, e B a C, então A pertence a C”,


aqui não estaremos perante uma inferência, mas sim perante uma lei lógica que
garante a validade da inferência. Uma inferência não é verdadeira nem falsa,
uma vez que estas qualidades só cabem às proposições, ou seja, podemos
apenas dizer se esta está correta ou não e uma regra se é válida ou não através
da justificação por uma lei. É a lei lógica “Se A pertence a B, e B a C, então A
pertence a C” que permite tirar a conclusão da conjunção das premissas, isto é,
fazer inferência.

Portanto, um silogismo é um esquema proposicional complexo, de forma


hipotética, representadas por proposições atributivas elementares, cada uma
delas com dois termos variáveis (um dos quais comum às duas premissas, o
termo médio, ao passo que os outros dois são da conclusão) de modo a que este
esquema proposicional complexo dá sempre uma proposição verdadeira quando
nele se substitui cada variável por um qualquer termo concreto, mesmo que tal
mudança tenha como efeito tornar falsa um ou outra das premissas, ou ambas
ao mesmo tempo, eventualmente, a conclusão que dele se tira, por isso um
silogismo deve ser olhado como uma lei lógica.

Aristóteles reparte em três figuras, consoante o papel que o termo médio


desempenha. Só é considerado válido aquela cuja conclusão se segue
necessariamente das premissas, consideradas unicamente do ponto de vista da
sua forma e independentemente da verdade ou falsidade do seu conteúdo.

Há silogismos da primeira figura quando os três termos estão entre eles


em relações tais que o menor esteja contido na totalidade do médio e o médio,
contido ou não, na totalidade do maior, esta figura comporta quatro modos
válidos (AAA, EAE, AII, EIO). Nesta figura a maior é sempre universal e a menor é
sempre afirmativa, e a conclusão é qualquer uma das quatro espécies de
proposições.
Há silogismos de segunda figura quando um mesmo termo pertence a um
sujeito tomado universalmente, e não pertence ao outro sujeito tomado
universalmente, ou quando pertence ou não pertence tanto a um como a outro
dos dois sujeitos tomados universalmente. Também com quatro modos válidos
(EAE, AEE, EIO, AOO). Nesta figura a conclusão é sempre negativa.

Há silogismos de terceira figura quando um termo pertence e um outro


não pertence a um mesmo termo tomado universalmente. Nesta figura há seis
modos válidos (AAI, EAO, IAI, AII, OAO, EIO). Nesta figura a conclusão é sempre
particular.

Os silogismos perfeitos são os de primeira figura e esta servirá para


demonstrar as outras duas. Para tais reduções, em primeiro está a conversão,
por exemplo, tornar uma universal negativa numa particular afirmativa. Contudo
este processo não acontece com particular negativa uma vez que esta não deixa
que se converta.

Daí surge a redução ao impossível que consiste em supor que o silogismo


em questão não é válido, ou seja, a conclusão falsa com premissas verdadeiras,
tornando assim as premissas uma contradição, o que é impossível.

3. Qual é a conceção dominante da lógica entre os estoicos?

O axioma, segundo os estoicos, é “um dito completo em si, que pode ser
afirmado no que se refere a si mesmo”, portanto, é a afirmação ou a negação de uma
qualidade relativa a um sujeito e pode ser verdadeira ou falsa. Assim, quando alguém
afirma “é dia”, faz isso a pensar que o juízo “é dia” é verdadeiro naquele momento.

Os axiomas simples são aqueles que são compostos por um sujeito e predicado
sem conter conetores lógicos e são divididos entre os definidos, indefinidos e
intermédios, com três tipos de negações diferentes.
Os axiomas não simples são compostos por um ou mais conetivo na sentença
correspondente, portanto, são de três tipo: conjunção, que é composto por conetivos
conjuntivos (e) por exemplo “É dia e há luz”; disjunção, que é composto por conetivos
disjuntivos (ou) por exemplo “Ou é dia ou é noite”; condicional, que é composto por o
conetivo “se”, por exemplo “Se é dia, há luz”;

Contudo há ainda a negação, nas quais se acrescenta o prefixo “não”, contudo


esta não é um conetivo uma vez que não junta nenhuma das partes do discurso. Um
axioma e a sua negação são contraditórios uma vez que não podem ser verdadeiros
em simultâneo. Consecutivamente ainda existe a dupla negação que torna um axioma
verdadeiro.

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