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Análise da Introdução da Crítica da Razão Pura de

Immanuel Kant

Trabalho desenvolvido no âmbito da Unidade Curricular História da Lógica orientada pelo


Professor Doutor Henriques Jales Ribeiro da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra e pelo discente Beatriz Melo, Bernardo Caetano e Gonçalo Sargo
(nº 2019225583, nº 2021240781 e nº 2020248965)
Introdução

Neste trabalho iremos explicar a introdução da crítica da razão pura de Kant.

Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo alemão, fundador da “Filosofia Crítica”


-sistema que procurou determinar os limites da razão humana. Sua obra é considerada a pedra
angular da filosofia moderna. Com Kant surge o “Racionalismo Crítico” ou “Criticismo”:
sistema que procura determinar os limites da razão humana. Sua filosofia foi sintetizada em
suas três obras principais: “Crítica da Razão Pura”, “Crítica da Razão Prática” e “Crítica do
Juízo”.

Com a publicação de “Crítica da Razão Pura” (1781), Kant tratou de fundamentar o


conhecimento humano e fixar seus limites. Diante da questão: “Qual é o verdadeiro valor dos
nossos conhecimentos?” Kant colocou a razão num tribunal para julgar o que pode ser
conhecido legitimamente e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso
pretendia superar a dicotomia racionalismo-empirismo.

Neste trabalho vamos abordar alguns aspetos importantes da sua obra, tais como:

- A diferença entre conhecimento puro e conhecimento empírico

- A necessidade de uma ciência que determine a possibilidade

-Princípios e extensão do conhecimento a priori

-Distinção entre juízos analíticos e juízos sintéticos

-Princípios sintéticos a priori

-Ideia e divisão de uma ciência particular com o nome de crítica da razão pura
Immanuel Kant começa esta introdução afirmando que o conhecimento de algo começa
sempre pela experiência. Isto é, através dos sentidos o ser estabelece contacto com a realidade
sensível e cria então representações da mesma, ou seja, com o auxílio dos seus sentidos adquire
impressões dos objetos. Além disto, o ser pode ainda relacionar mentalmente as várias representações
que possui e adquirir ainda um outro tipo de conhecimento. Tem-se assim dois tipos de conhecimento,
que confirmam esta tese inicial apresentada, de que todos os conhecimentos se iniciam pela
experiência. É importante também acrescentar que Kant ao defender que existe um conhecimento
fornecido pela experiência e outro produzido mentalmente pelo sujeito acaba por unir duas correntes
modernas que eram vistas como contraditórias: o empirismo e o racionalismo.
Provado que todo o conhecimento tem início na experiência Kant questiona: ‘‘se haverá um
conhecimento (...), independente da experiência e de todas as impressões dos sentidos’’ 1. Ou seja,
interroga-se sobre a existência de um possível conhecimento que não tenha origem na experiência.
Conclui portanto que sim, que há conhecimentos que não são imediatamente derivados da
experiência. Estes são sim extraídos de uma regra geral que, no entanto, se formou a partir da
experiência repetida de um fenômeno. Pois, como já se referiu logo no início do texto, todo o
conhecimento tem origem na experiência. Para explicar esta situação fornece-se o seguinte exemplo:
‘‘(...) diz-se de alguém, que minou os alicerces da sua casa, que podia saber a priori que ela havia de
ruir, isto é, que não deveria esperar, para saber pela experiência, o real desmoronamento. Contudo,
não poderia sabê-lo totalmente a priori, pois era necessário ter-lhe sido revelado anteriormente, pela
experiência, que os corpos são pesados e caem quando lhes é retirado o sustentáculo’’ 2. Melhor
dizendo, uma pessoa não precisa de fazer a experiência de partir alguma coisa para saber que se o
fizer esta coisa se vai partir. Deduz-se esta instância porque já se observou no passado outras coisas a
cairem. A partir disso cria-se assim uma crença baseada numa relação de causa e efeito que diz que
quando algo é atingido se desmorona. É necessário portanto observar alguma vez esta instância para
se criar a ideia dela e se puder mais tarde aplicá-la sem se ter que recorrer diretamente à experiência.
Os juízos a priori não são portanto aqueles que estão antes da experiência, que não dependem
dela de forma alguma, mas os que são independentes desta. Isto é, são conhecimentos que começam
na experiência mas não dependem dela para existir. A partir destes conhecimentos a priori, Kant
apresenta dentro dos mesmos uma distinção mais específica. Este refere que existe um tipo de
conhecimento a priori puro, que é completamente independente da experiência. Ou seja,
conhecimentos puros são ‘‘aqueles em que nada de empírico se mistura’’ 3. Melhor dizendo, são
aqueles que não necessitam de um dado da experiência para serem explicados, como se viu no
exemplo dado anteriormente em que o sujeito sabia que algo atingido era derrubado com base em
experiências vividas. O conhecimento puro não necessita portanto de uma experiência prévia.

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Exemplificando, pode-se dizer que um destes entendimentos puros é o juízo: todo o corpo é extenso.
Isto porque o mesmo não deriva da experiência do corpo dado que a extensão é uma instância que faz
parte do próprio conceito de corpo.
Após apresentar este novo conceito, Kant distingue o conhecimento a posteriori do a priori.
Para isto explica que os juízos originados pela experiência nunca são universalmente verdadeiros na
medida em que são sempre realizados por indução. Ou seja, que um conhecimento a posteriori é
sempre realizado em relação a algo. Ele só é verdadeiro na medida em que não existe algo, até à data,
que o contraria. Por essa razão, possui uma veracidade instável. Por outro lado, uma proposição a
priori pode ser necessária enquanto não for derivada de nenhuma outra. Ao contrário da proposição a
posteriori que é considerada como verdadeira em relação a algo, a a priori é aquela que é válida
enquanto pensada universalmente. Ou seja, é aquela que é válida quando se tem universalmente a
certeza de que não existe nenhuma exceção que a contrarie.
Em suma, a universalidade empírica é sempre ‘‘uma extensão arbitrária da validade, em que
se transfere para a totalidade dos casos a validade da maioria’’ 4. Ou seja, é aquela da qual não se tem
absolutamente a certeza porque pode a qualquer momento ser contrariada e que por isso confere à
proposição uma probabilidade e não a certeza de ser verdadeira. Por outro lado, a universalidade de
um juízo a priori é sempre certa e rigorosa. Um juízo a priori é assim universal quando necessário,
quando se tem a certeza que é verdadeiro e que nenhum acontecimento o pode contrariar. Um destes
juízos a priori universalmente verdadeiros são os matemáticos e os lógicos. Por exemplo, é necessário
e universalmente verdadeiro que um triângulo é um polígono formado por três lados e três ângulos
internos independentemente daquilo que se observa na realidade sensível. Por outro lado, a ideia de
que o sol nasce todos os dias baseia-se apenas naquilo que se constatou até aos dias de hoje. Nada nos
garante que um dia isto não seja contrariado e por essa razão esta é uma verdade que se baseia apenas
na probabilidade de o ser, não é universal nem necessária. Os juízos formados empiricamente não são
portanto verdades evidentes, mas sim crenças, pois não se baseiam em nada sem ser no hábito, no
costume de uma determinada relação de causalidade que nenhuma certeza nem conhecimento lógico
transmite.
É importante ter em conta que não se deve desprezar nenhum destes tipos de juízos. Os juízos
a posteriori ajudam o ser na sua vida quotidiana fazendo-o entender que determinadas ações na
maioria das vezes originam determinadas consequências. Este conhecimento empírico guia o ser e faz
com que ele sobreviva no meio em que habita. Por exemplo, se o ser não tivesse consciência que o
fogo queima, não evitaria tocar no mesmo e saíria portanto prejudicado. Por outro lado, os juízos a
priori transmitem estabilidade e segurança ao ser humano. Isto é, fazem com que este não se rodeie
apenas de verdades contingentes e que possa ter certeza em relação a algo. Além disto, esta origem a
priori está presente em alguns conceitos que influenciam o nosso processo de conhecimento. Estes são
importantes porque se retirarmos todos os conceitos empíricos que temos acerca de um objeto ficamos

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com estas qualidades a priori que nunca podem ser retiradas e que fazem com que o consideremos
enquanto substância.
Existem, portanto, conhecimentos que excedem todos os campos da experiência, que não
podem ser representados pela mesma. Estes conhecimentos possuem um significado último que
ultrapassa toda a área do empírico e dos fenômenos que interessam à razão pura. São exemplos destas
temáticas Deus, a liberdade, a imortalidade e a metafísica, isto é, a ciência que pretende exatamente
estudar estes problemas. Kant apresenta o fascínio que se deve ter perante este tipo de entendimento
na medida em que possui uma origem indeterminada que não pode ser negada pela experiência. Está-
se assim aqui a abordar um nível de conhecimento superior que deve por isso ser encarado como tal.
Kant tem o desejo de abordar este nível de conhecimento a priori independente da
experiência, mas quer fazê-lo com cautela. Refere que o ser humano ao encarar este nível diferente de
entendimento puro que se separa da experiência, possui o desejo de ir sempre mais além, de adquirir
mais e mais conhecimento. Porém, para se construir este edifício de saberes necessários e universais é
necessário ter se primeiro um suporte sólido no qual eles assentem, isto é, analisar se a base é
composta por bons fundamentos. Se não for desta forma, corre-se o risco de construir algo que se
baseia numa falsidade e que é, portanto, também em si falso. É necessário analisar os conceitos que
estão na base de todas as relações que fazemos no processo de conhecimento. Ou seja, antes de se
começar qualquer raciocínio a priori é necessário investigar os elementos que o compõem, os
conceitos prévios tomados precocemente como verdadeiros. É necessária uma ‘‘ciência que determine
a possibilidade, os princípios e a extensão de todo o conhecimento a priori’’ 5.
Kant vai entender que o nosso conhecimento deriva de dois factores fundamentais, o
conhecimento da razão (a priori) e da nossa experiencia (a posteriori). Para ele a razão tem a
função de organizar as acções humanas, o conhecimento a priori (toda a forma de conhecer
que depende da razão) depende da razão e não da sua experiencia, ao contrário disso temos o
conhecimento a posteriori, um conhecimento que vem após a sua experiencia, é preciso
experiencias para poder adquirir o conhecimento.
Chegamos então à famosa teoria dos juízos de Kant, para ele os juízos dão a formação
do conhecimento que temos, e existem três formas de juízo, os juízos analíticos (todos os
juízos analíticos são a priori, os juízos analíticos são aqueles em que existe a união do sujeito
com o predicado, ou seja, o predicado pertence intimamente ao sujeito: “Todos os corpos são
extensos”, nós sabemos que o corpo e extensão estão ligados intimamente, pois não existe
corpo sem extensão), os juízos sintéticos (Os juízos sintéticos são aqueles em que o predicado
não se identifica com o sujeito: “Todos os corpos são pesados”, pesado no sentido de
quantidade, é um sujeito sintético porque nem todos vão ter o peso de que ele fala, o

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predicado não está identificado no sujeito. Para Kant todos os juízos sintéticos partem da
experiencia, segundo as palavras do próprio filósofo “Os juízos da experiencia são todos
sintéticos porque seria absurdo fundar um juízo analítico na experiencia, pois para formá-lo
não preciso sair do meu conceito e, por conseguinte, não me é necessário o testemunho da
experiencia”) e os juízos sintéticos a priori (neste juízo existe uma união entre a experiencia e
a razão, são aqueles em que o predicado não se identifica com o sujeito, porem, não necessita
de uma experiencia imediata, um exemplo desse juízo é a matemática, como o próprio Kant
descreveu “Poder-se-ia em verdade crer, á primeira vista, que a proposição 7+5=12 é
puramente analítica, resultando, segundo o principio de contradição, do conceito de uma
soma de sete e cinco. Mas se a considerarmos com mais atenção que o conceito de soma de
sete e cinco não contem mais do que a união dos dois números em um só, o que não faz
pensar qual seja esse numero único que compreenda aos outros dois. O conceito de 12 não é
de modo algum percebido só pelo pensamento da união de cinco e sete e posso decompor
todo o meu conceito dessa soma tanto quanto quiser, sem que por isso encontre o numero
sete, o numero 12 é separado, pois se olharmos para o 12 apenas pensamos num numero e
não na soma de 7+5).
No final desta introdução, Kant vai perceber o problema e afirmar que este se debate
entre explicar a existência dos juízos sintéticos a priori, sendo que o próprio admite que ir de
encontro ao problema é facilitar o trabalho. Mas, sabe que se tivesse ido resolvê-lo seria mais
benéfico para a metafísica, esta que se encontra “perdida” em incertezas e sem explicações,
ao ponto que se tivesse chegado à questão anteriormente referida podia-se, até, encontrar
respostas para outros “problemas”, como perceber claramente a distinção entre juízos
sintéticos e analíticos. Ainda nesta questão, sabe-se que David Hume, o único filósofo que se
envolveu e estudou para responder, nem chegou perto da resolução, mas afirma que a
metafísica não passaria de uma ilusão extraída da experiência e dada pelo hábito a aparência
da necessidade, fazendo parte de um suposto conhecimento racional, ou seja, o filósofo
prende-se à proposição sintética da relação do efeito com as suas causas (principium
causalitatis). Esta não podia ser a solução porque corrompia a filosofia e até mesmo a
matemática, por exemplo, porque nesta também se pode encontrar proposições sintéticas a
priori, mas deste modo, na salvação do problema está incluído a possibilidade do uso puro da
razão na fundamentação e desenvolvimento nas áreas que contem um conhecimento teórico a
priori dos objetos, Kant separando a metafísica das ciências, percebe que, pela fraca evolução
da metafísica e o seu propósito essencial esteja inalcançável, não é real como a ciência, mas
que existe uma disposição natural (metaphysica naturalis), pois a razão estará presente nos
homens, sem precisando de experiências, e assim, existirá metafísica. Mas, ao perceber isso,
interroga-se novamente sobre a possibilidade da metafísica enquanto disposição natural, o
que lhe conduz à ciência, ou seja, ao uso dogmático da razão, e consequemente, ao ceticismo,
depois de tudo anteriormente referido, Kant chega à “Critica da razão pura”, que se vai
denominar por uma ideia de uma ciência particular, devido à faculdade da razão nos conduzir
aos princípios do conhecimento a priori e refletindo sobre este aspeto da razão pura, Kant vai
denominar por vários nomes o sistema de perceber os seus limites, fontes e a razão pura, mas
percebe que devia chamar “filosofia transcendental”, devido a chamar transcendental a todo o
conhecimento a priori que se ocupa menos do que os objetos, assim sendo, a filosofia
transcendental vai ser uma ideia de uma ciência da qual a crítica da razão pura deverá criar os
seus sistemas em volta de todo o conhecimento humano a priori.

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