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Género no final do século XX

1.Introdução

O presente trabalho em estudo versa-se sobre o género no final do século XX. O feminino e o
masculino são apresentados como categorias opostas, excludentes e hierarquizadas, nas quais a
mulher, os valores e os significados femininos ocupam lugar inferior. E a dicotomia daí decorrente
cristaliza concepções do que devem ser as atribuições femininas e masculinas e dificulta a
percepção de outras maneiras de estabelecermos as relações sociais. No que tange O género pode
também ser designado como o verdadeiro aparato de produção através do qual os sexos são
estabelecidos. Assim, o género não está para a cultura como o sexo para a natureza; o género é
também o significado discursivo/cultural pelo qual a ‘natureza sexuada’ ou o ‘sexo natural’ é
produzido e estabelecido como uma forma ‘pré-discursiva’ anterior à cultura, uma superfície
politicamente neutra sobre a qual a cultura age.

2. Género no final do século XX

Por “género”, refere ao discurso sobre a diferença dos sexos. Ele não remete apenas a ideias, mas
também a instituições, a estruturas, a práticas quotidianas e a rituais, ou seja, a tudo aquilo que
constitui as relações sociais. O discurso é um instrumento de organização do mundo, mesmo se
ele não é anterior à organização social da diferença sexual. Ele não reflecte a realidade biológica
primária, mas ele constrói o sentido desta realidade. A diferença sexual não é a causa originária a
partir da qual a organização social poderia ter derivado; ela é mais uma estrutura social movediça
que deve ser ela mesma analisada em seus diferentes contextos históricos (SCOTT, 1998: 15).

2.1. Género, uma das dimensões das relações sociais

Em nossa sociedade, as diferenças entre homens e mulheres são comummente remetidas


directamente ao sexo, às características físicas tidas como naturais e imutáveis. Com base em
definições essencialistas do que é ser homem e/ou mulher edifica-se um sistema de discriminação
e exclusão entre os sexos.

Em decorrência, funções como alimentação, maternidade, preservação, educação e cuidado com


os outros ficam mais identificadas com os corpos e as mentes femininas, ganhando, assim, um
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lugar inferior na sociedade, quando comparadas às funções tidas como masculinas.


O feminino e o masculino são apresentados como categorias opostas, excludentes e hierarquizadas,
nas quais a mulher, os valores e os significados femininos ocupam lugar inferior. Este modo de
compreensão da realidade é reforçado pelas explicações oriundas da medicina e das ciências
biológicas e também pelas instituições sociais como a família e a escola. (THAMIRIS, 2012)

Como diz (SILVA, 1993), as relações de género são relações sociais fundadas sobre as diferenças
percebidas entre os sexos, mas também estão presentes nos símbolos culturalmente disponíveis
sobre homens e mulheres, assim como sobre masculinidades e feminilidades. Assim, o género está
presente em qualquer tipo de relação social: nas distintas atribuições relativas às masculinidades e
às feminilidades; nos conceitos normativos que estabelecem as regras e normas no campo da
educação ou em qualquer outro campo; nas políticas públicas em geral, nas políticas educacionais
implantadas nas escolas e nas identidades subjectivas que muitas vezes sustentam e em outras
procuram reverter o modelo dominante de masculinidade, como um modo de dar significado às
relações de poder estabelecidas e difundidas pelas políticas educacionais nas suas mais variadas
esferas, níveis e modalidades de ensino.

3. Dominação e resistência: género e sexualidade na educação

São múltiplos e surpreendentes os significados de género e de sexualidade na vida humana e, por


consequência, nas relações e nos conteúdos escolares. As relações de género, como um modo de
dar significado às relações sociais, são estabelecidas e difundidas pela sociedade nas suas mais
variadas esferas, entre elas no universo da educação formal. As políticas e práticas educativas
reproduzem e reflectem, em muitos momentos, as concepções dominantes das relações de género.
Nesse sentido, as políticas educacionais, o quotidiano e as práticas escolares não podem ser
analisados sem o exame preciso das interacções conflituosas que elas mantêm, a cada período de
sua história, com o conjunto das relações de poder que lhe são contemporâneas.

A inclusão da óptica de género, da sexualidade e da diversidade sexual nas políticas públicas de


educação aparece inserida em um longo processo de mudanças desde o final da década de 1990,
respaldado por um conjunto de convenções, documentos e resoluções internacionais que defendem
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a inserção das mais variadas dimensões da diversidade na agenda das políticas educacionais, em
especial com relação às questões de raça e género. (Aquino, 1997).

3.1. Luta pela igualdade de género e pela emancipação da mulher

Para (THAMIRIS, 2012), entende-se que a luta pela igualdade de género avançou em nossa
sociedade, considerando a luta do movimento feminista e de mulheres ao longo do século XX, em
especial aquele movimento de mulheres que emerge na década de 1960 e que teve o mérito de
introduzir na agenda política questões que estavam antes restritas à esfera, supostamente
despolitizada e neutra, da vida privada, trazendo para o debate público temas como sexualidade e
corpo feminino. Necessário evidenciar que esse movimento já lutava por liberdades democráticas
em vários países em que os direitos libertários foram usurpados pela imposição da ditadura militar
de 1964, quando o movimento de mulheres teve papel central na luta pela liberdade. A luta pela
igualdade de género passa a ser colocada como central na luta das mulheres pelo reconhecimento
de sua condição de cidadãs e sujeitos de direitos, capazes de decidir sobre as próprias vidas.
Embora em pleno século XXI, a mulher tenha conquistado uma Secretaria de Políticas para
Mulheres, uma presidenta da República, várias ministras, uma lei que previne e pune a violência
contra a mulher, o resultado positivo dos índices da inserção das mulheres nas universidades,
inclusive em cursos que antes era do domínio masculino, ainda convivemos com desigualdades,
seja no campo económico, do trabalho, na cultura, no parlamento, entre outros. Mas ainda temos
muito a caminhar para alcançar a igualdade de género. A luta pela igualdade de género está
entrelaçada com a luta pela emancipação da mulher. (Aquino, 1997).
Avalia-se que é na luta concreta, no quotidiano, na luta contra a alienação imposta pelo modo de
produção capitalista, que conquistou a emancipação da mulher. Quanto mais liberdade de
expressão, de organização e de manifestação, mais consciência de seu papel na sociedade, mais as
mulheres conquistarão a liberdade. A verdadeira emancipação da mulher só ocorrerá em uma nova
sociedade, erguida e regida pelas mulheres e pelo conjunto dos trabalhadores. Porém, mesmo em
uma nova sociedade, será necessário romper com as amarras culturais machistas e patriarcais que
impedem a verdadeira emancipação social.
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4. Actuação da mulher no casamento

Importante registar que o Código Civil anterior mantinha elementos profundos de subordinação e
da visão da mulher como propriedade masculina. É necessário evidenciar que essa mudança veio
acompanhada de um processo de luta histórica do movimento de mulheres, ou seja, foram mais de
80 anos de luta.

Agora a mulher, ao casar, não apenas “assume a condição de companheira do marido nos encargos
de família, cumprindo-lhe velar pela direcção material e moral desta” (art. 240 do Código de 1916),
mas passa a exercer direitos e deveres baseados na comunhão plena de vida e na igualdade entre
os cônjuges. A mudança na linguagem é fundamental, pois deixamos de ser uma “sombra” do
homem. a utilização do género humano para compreensão do papel de homens e mulheres no
processo histórico e o Código avança ao colocar o termo “pessoa.
Nos anos 1960 e mesmo 1970 do século XX, bem recentemente, se uma mulher com idade inferior
a 21 anos “fugia para casar”, mesmo que não tivesse consumado a relação carnal, tinha que casar
para não ficar isolada ou negligenciada à solidão e estigmatizada como “prostituta”. Na
actualidade, nenhuma mulher tem mais que provar “honestidade” para ter direito à herança paterna.
Agora, o marido também poderá acrescer ao seu nome o nome da esposa. Ou ainda continuarem
com os nomes de solteiros. As mulheres e homens são iguais e ambos podem opinar sobre todas
as questões da família, acabando com a “chefia da sociedade conjugal” que era exercida apenas
pelo homem. Com relação à direcção da sociedade conjugal, a mulher deixou de ser apenas uma
colaboradora do marido, que tinha a chefia da família. Agora, a direcção da sociedade conjugal
passa a ser exercida por ambos, marido e mulher. (Aquino, 1997).

4.1. Os principais avanços adquiridos pelas mulheres no que compete às mudanças no direito
do trabalho

Seria difícil imaginar que quando as feministas há mais de 100 anos lutavam pelo direito à
educação e ao voto, estaríamos hoje com os índices de ocupação dos postos de trabalho chegando
quase a metade da força de trabalho e em ocupações até então não permitidas às mulheres como
motoristas, engenheiras, operárias da construção civil, trabalhadoras rurais, comandante de avião,
etc.
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Nota conclusiva: É da responsabilidade da educação fomentar os assuntos que refere ao género,


não se circunscreve somente aos docentes/professores, mas abrangendo também, da mesma
maneira, a família e a sociedade, que, de modo geral, negligenciam seu papel na construção da
igualdade de género. Convém assinalar que muitos dos posicionamentos relativos ao género
parecem ser gerados por desconhecimento ou informações insuficientes. A temática se mostra
polémica, culturalmente negada, causadora de desconforto no diálogo inclusive entre parceiros
sexuais. Depreende-se, portanto, que a educação referente ao género e igualdade na escola deve
fomentar reflexões, como também a tomada de consciência de si e do outro, reconhecendo como
lícito o direito à busca e vivência da sexualidade e do prazer, de forma responsável e orientada, a
fim de a sociedade em geral possam buscar melhores condições para construção da cidadania.

Bibliografia

1. THAMIRIS, Magalhães. O século XX representa o nascimento social da mulher. São


Paulo. 2012
2. AQUINO, J.G. (org.) Sexualidade na escola: Alternativas teóricas e práticas. São Paulo:
Summus, pp.119-129,1997.
3. SILVA, Hélio R. S. Travesti: a invenção do feminino. Rio de Janeiro: Ed. Relume-Dumará,
1993.
4. SCOTT, Joan. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. In: Revista Educação e
Realidade. Porto Alegre: UFRGS, 1990.

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