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PUC-SP
Doutorado em Direito
São Paulo
2016
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP
Doutorado em Direito
São Paulo
2016
Banca Examinadora:
_______________________________________
Prof. Dr. Gabriel Benedito Issaac Chalita
_______________________________________
Profª. Dra. Marcia Cristina de Souza Alvim
_______________________________________
Prof. Dr. Willis Santiago Guerra Filho
_______________________________________
Profª. Dra. Margareth Anne Leister
_______________________________________
Prof. Dr. Guilherme Amorim Campos da Silva
Para Camila
Quem quiser se libertar precisa amar,
Amar de tal maneira que se sinta preso ao objeto amado;
Preso de tal maneira que sinta que a morte o acometerá se o
objeto desaparecer;
Amar de tal maneira que não saiba onde está a sua vontade
individual;
Amar de tal maneira que esteja disposto a dar a sua vida pela
felicidade do outro;
...
Depois de amar desta maneira, estará pronto para descobrir que
o ser amado era apenas uma ilusão, mas que o fascinou de tal
maneira que lhe possibilitou a travessia do rio invisível que divide
o mundo dual do Uno.
(Paulo Thomas Korte, primavera de 2009)
Agradeço ao Absoluto e a todos aqueles
que dEle fazem parte.
RESUMO
KORTE, Paulo Thomas. Law, Marriage and Love: The marriage, one way to
find the Absolute. 2016. 120 fls. – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
This study demonstrates the inquietude of the human with himself in trying to
reduce his anxiety. His anxiety comes from the comprehension where he comes
from, what he is and where he goes. The human, composed by a material part
(body) and another immaterial part (soul), tries to reach a place where there is
not any feeling of missing but where is plenitude and satisfaction. Many
philosophies and religions show that this place exists and it is possible to reach
it. There are many ways to reach it. More than that, the present study questions
if there is some need to follow someone to reach the Absolute or if it is possible
to reach it by yourself without any kind of imitation. Übermensch or “Superman”,
Absolute, 7th grade of soul, Self, excellence, are these all names for the same
thing? Animus, Anima, the male and female archetypes, the shadow as the levels
to the Jungian way to find, through the marriage, the Absolute.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 9
2 O MÉTODO TRANSDISCIPLINAR....................................................... 15
4 O CASAMENTO.................................................................................... 47
4.1 A história do casamento no Brasil..................................................... 47
4.2 O casamento atual............................................................................... 53
4.3 Conceitos jurídicos de casamento..................................................... 54
4.4 A natureza jurídica do casamento...................................................... 57
4.4.1 O casamento como sacramento............................................................ 58
4.4.2 O casamento como contrato ou instituição............................................ 61
4.5 Os dez mandamentos do casamento................................................. 65
4.5.1 Monogamia............................................................................................ 67
4.5.2 Fidelidade............................................................................................... 73
4.5.3 Vida em comum no domicílio conjugal................................................... 80
4.5.4 Sustento, guarda e educação dos filhos................................................ 81
4.5.5 Mútua assistência.................................................................................. 83
4.5.6 Respeito e consideração mútuos........................................................... 84
4.5.7 Igualdade............................................................................................... 85
4.5.8 Afetividade............................................................................................. 90
4.5.9 Tolerância.............................................................................................. 95
4.5.10 Perenidade da família............................................................................ 97
6 CONCLUSÃO........................................................................................ 108
REFERÊNCIAS..................................................................................... 111
9
1 INTRODUÇÃO
1 “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei entre vós” (MT, 18:20).
11
mas hoje não é necessariamente assim! E esta definição de papéis e tarefas está
cada vez mais difícil de fazer. Cada casal está fazendo a sua definição, o seu próprio
conjunto de regras e hábitos que dizem quem é ele e quem é ela, e tudo isso para
alcançar a felicidade, sem que possa sequer ser recriminado por quem quer que
seja.
Em outras palavras, o movimento de emancipação da mulher foi positivo, no
sentido de libertar a mulher do jugo do pai e do marido; por outro lado, trouxe efeitos
à relação homem/mulher que ainda estão sendo percebidos na sociedade, e que
devem se acomodar ao longo do tempo. Talvez muito tempo, mas este trabalho tem
o intuito de diminuir este tempo, ou quando menos, torna-lo menos sofrido.
Se antigamente a estabilidade das famílias dependia (e muito!) da condição
de subserviência da mulher em relação aos filhos e ao marido, a nova família a ser
formada deve ter em conta a mulher emancipada, não apenas financeiramente em
decorrência de seu ingresso no mercado de trabalho, mas também política e
psicologicamente.
E essa evolução da mulher tem sido acompanhada pelo direito brasileiro, na
medida em que este lhe reconhece, pela Magna Carta, a condição de igualdade em
relação ao homem. Surgiram os movimentos feministas, levando à família, e por
consequência a sociedade, a uma inescapável revolução que começou, no Direito
pátrio, em 1932 (Decreto nº 21.076), com o voto feminino, avançou em 1962 (Lei nº
4.121 – Estatuto da Mulher Casada), um pouco mais em 1977 (Lei do Divórcio), e
consagrou-se em 1988 (Constituição Federal). Esta igualdade, já solidificada no
campo do Direito, ainda está em processo de maturação na sociedade.
Um dos fenômenos sociais desta mudança é o número crescente de
divórcios. Se há, hoje em dia, no Brasil, a livre manifestação de vontade dos
cônjuges no momento do matrimônio, quais razões levam esses mesmos
personagens, depois de algum tempo — não necessariamente muito — a
descumprirem as normas entre eles estabelecidas e aceitas, acabando por dissolver
o matrimônio, não raramente causando extremo mal à família e, consequentemente,
à sociedade?!
Conta a mitologia grega que Ulisses, prestes a viajar com sua nau, passaria
por um lugar onde havia sereias, conhecidas por deixarem os capitães dos navios
em estado de sedução, fazendo com que desviassem as embarcações do caminho
original, levando-as às rochas e provocando o naufrágio, perdendo-se todas as vidas
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e pertences. Ciente do perigo que iria encontrar, Ulisses procurou o oráculo, a quem
atribuía profunda credibilidade e perguntou como deveria proceder diante de tal
tarefa.
O herói recebeu como resposta que deveria ordenar a seus marinheiros que,
ao chegar a determinado ponto, deveriam amarrá-lo no mastro e não mais obedecer
às suas ordens, até que recobrasse a lucidez. Cumprindo a primeira ordem de
Ulisses, os marinheiros, pouco antes de chegarem ao ponto em que certamente
encontrariam as sereias, amarraram seu capitão no mastro do navio. Logo em
seguida, surgiram os seres encantadores e Ulisses, já sob o efeito da sedução,
ordenou a seus marinheiros que o soltassem e levassem o navio ao encontro delas.
Mesmo aos berros, Ulisses não era atendido, pois seus marinheiros já haviam sido,
por ele mesmo precavidos de tal situação. Assim, desobedecendo à segunda ordem,
dada em momento de ausência de lucidez, os marinheiros salvaram o navio, e
também seu capitão.
Os nubentes se unem em casamento, hoje em dia, por livre e espontânea
vontade. Entende-se que, no instante da decisão do casamento, cada qual faz as
suas promessas, assumindo direitos e obrigações, e estabelecendo o vínculo do
casamento.
Se hoje não se fala mais em casamento por obrigação, pelo menos no Brasil,
e as pessoas podem escolher livremente, por amor, seu futuro cônjuge e com ele
dispor das regras que regerão o matrimônio, não mais haveria razão para o aumento
do número de dissoluções de casamento. Mas não é bem assim. Embora o Direito
possa ser observado como a primeira ordem, a ordem dada no momento de lucidez,
e principalmente a ordem proferida com base em uma autoridade respeitada, o
espírito do ser humano não trata essa questão de forma tão simples.
Embora haja uma determinação, um compromisso inicial, o ser humano pode
falhar por meio da incontinência:
incontinência, e seguindo conselhos de outros que não tinham, nem têm a mesma
credibilidade e experiência daqueles que deram a primeira ordem.
O Direito pode influenciar positivamente na manutenção do contrato
matrimonial, figurando esse não apenas como a primeira ordem dada para a nau
não naufragar, como também como uma terceira ordem para colocar a nau no rumo
certo, caso seja descumprida a primeira ordem por um marinheiro desavisado. Esta
terceira ordem estaria manifestada na figura do princípio do afeto e da tolerância; ou
seja, caso descumprida a primeira ordem, por uma segunda proferida em momento
de falta de lucidez, na tristeza, na doença ou na pobreza, uma terceira ordem pode
surgir, com os princípios de afeto e de tolerância, que pode fazer com que a nau não
naufrague e chegue ao destino final: o Absoluto.
O art. 1566 do Código Civil brasileiro prevê os deveres de ambos os cônjuges
no contrato matrimonial, como sendo: fidelidade, vida em comum no domicílio
conjugal, mútua assistência, sustento e guarda e educação dos filhos, respeito e
consideração mútuos. Esses seriam, continuando com a metáfora, os conselhos do
oráculo, as primeiras regras assumidas no momento do casamento, com base na
experiência dos mais velhos.
O casamento provoca no ser humano um movimento psíquico, às vezes ao
Céu, às vezes ao Inferno, fazendo com que os cônjuges experimentem lugares
dentro de si que só poderiam passar com a ajuda do outro. O cônjuge, nesse
contexto, funciona como um espelho para que o ser humano consiga atingir níveis
de experiência que jamais poderia passar sozinho, sejam elas más ou boas. Os
momentos de êxtase em estar com o outro ou os momentos infernais impulsionam o
ser humano no sentido de conhecer sua alma em sua amplitude, que é o Absoluto,
às vezes movimentada pelo amor, às vezes pela raiva, mas na maioria das vezes
por ambos.
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Em seu poema, Eros e Psique, Fernando Pessoa (1985, p. 49) retrata este
caminho, com a força da síntese e da beleza que a poesia contém:
A Princesa Adormecida,
se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
e orna-lhe a fronte esquecida,
verde, uma grinalda de hera.
2 O MÉTODO TRANSDISCIPLINAR
[...] por meio do pensar é posto o eu; mas até agora se acreditou,
como o povo, que no “eu penso” jaz algo imediatamente certo e que
esse “eu” seria a causa dada do pensar, e por analogia com ela
todos nós entenderíamos as outras relações causais. Por mais que
essa ficção agora possa ser costumeira e indispensável – isso,
somente, não prova nada contra o seu caráter fictício: uma crença
pode ser condição da vida e, apesar disso, ser falsa. “É pensado:
consequentemente há pensante”: a isso chega a argumentação de
Cartesius. Mas isso significa postular nossa crença no conceito de
substância a como “verdadeira a priori” – que, quando seja pensado,
deva haver alguma coisa “que pense” é, porém, apenas uma
formulação de nosso hábito gramatical, que põe para um fazer [Tun]
um agente [Täter]. Em resumo, aqui já se propõe um postulado
lógico-metafísico – e não somente há constatação...Pelo caminho de
Cartesius não se chega a algo absolutamente certo, mas só a um
fato de uma crença muito forte [...] desta forma não se pode repudiar
a “aparência” do pensamento. Cartesius, porém, queria que o
pensamento não tivesse apenas uma realidade [Realität] aparente,
mas uma em si.
18
A ideia de um eu fixo, que olha o mundo sem colocar neste olhar as suas
próprias impressões, é, sem dúvida, um equívoco. O mundo externo é construído
pelas experiências do observador, pelos sentimentos que ele traz consigo. Uma
pessoa com fome não pode olhar a beleza das nuvens, nem sentir o prazer do
vento. O mesmo se pode dizer de uma pessoa com sede. O mundo é pensado de
acordo com os sentimentos que passam no ser humano.
Seguindo o método da dúvida, Bertrand Russel (2008, p. 69) questiona:
“Haverá algum conhecimento no mundo que seja tão certo que nenhum homem
razoável possa dele duvidar?”, enfatizando, inclusive, a possibilidade de a matéria
não existir. Esta argumentação pareceria absurda, mas suas citações mostram que
tais questionamentos podem nos levar à conclusão da relatividade da existência, ou
seja, existimos na medida em que nossa existência é reconhecida pelo outro:
à teoria da relatividade de Einstein. A física está tentando, há muito, ainda sem êxito,
desenvolver uma teoria uniforme para todos os corpos, conforme Hawking (2005),
teoria ainda mais sustentada com o campo de Higgs.
Enfim, se as dúvidas existenciais e funcionais podem ser suscitadas em
relação aos corpos materiais que são perceptíveis pelos seres humanos, com a
possibilidade de serem medidos, pesados, enfim, serem conhecidos de uma maneira
racional e empírica, dúvidas maiores, também existenciais e funcionais, surgem na
compreensão e estudo do ser humano, especialmente, em sua parte imaterial.
O que se quer dizer com isso é que o Direito, quando trata o homem e a
mulher como se fossem seres distintos, e, por isso, com denominações distintas na
legislação, talvez esteja reduzindo a compreensão do ser humano, fugindo à
verdade que provavelmente os iguale substancialmente, ou seja, quanto à sua parte
imaterial — sua alma.
Antes de ingressar no tema da relação matrimonial, necessário se faz tentar
entender o que é o ser humano. Toda a filosofia se resume justamente nesta
questão, pois, embora existam quatro questões que delimitam a filosofia,2 o que
importa é apenas a última: — o que é o ser humano?
Por isso, não temos a pretensão de esgotar o assunto sobre o conceito de ser
humano em um capítulo. Entretanto, é de grande valia para o estudo do matrimônio
tecer algumas considerações sobre o ser humano, e qual a sua concepção para o
Direito, com as implicações inerentes a eventuais desacertos das definições
utilizadas pelo legislador.
Desde os tempos remotos, o homem se esforça para se conhecer. Já dizia a
inscrição na porta do oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo, lembra-te de que
és mortal e nada em excesso”. Bem mais tarde, explorando minuciosamente esta
questão, Foucault (2006), dando um sentido um pouco mais amplo à regra do
“conhece a ti mesmo” (gnôthi seautón), nela englobou a regra do “cuida de si
mesmo” (epimeleia heautoû).
Para Foucault, a ideia do cuidar de si mesmo está intrinsecamente ligada à do
conhece a ti mesmo. Uma não pode subsistir sem a outra. Para cuidar de si mesmo,
velhos instintos nos quais até então se baseava sua força, seu prazer
e o tempo que inspirava.
O que se extrai de tudo isso é que o ser humano tem a convicção de que seu
corpo está destinado ao crescimento, envelhecimento, e à morte. O crescimento e a
morte são certos, mas o envelhecimento só àqueles que não encontraram a morte
antes da velhice, por sorte ou azar. Porém o ser humano não tem ainda, salvo
crenças místicas, certeza do destino de sua alma, tampouco a consciência de todos
os movimentos que nela ocorrem. O que se mostra, pela narrativa dos filósofos
supracitados, é que há na alma humana um ou vários movimentos que fazem com
que ela se conheça, e procure conhecer o que está fora dela, por meio de um
processo de dúvida, de desespero, em busca de equilibrar seus instintos mais fortes,
expandir-se, tornar-se mais forte, mais lúcida, mais feliz.
Pode-se concluir, ainda, que há na alma o desejo de dominar a si própria; ou
seja, de manter um controle interior que pode ser objeto de crítica ou de elogio.
O importante é constatar que a alma humana não é estática, está em
constante movimento e, na maior parte das vezes, em luta consigo própria, tentando
ora se descobrir, pelo processo da dúvida ou desespero, ora se dominar, ora se
limitar, ora transbordar seus limites.
25
3 Ou além-homem (übermensch).
27
dissolva nos elementos de sua composição orgânica”. Neste grau, a alma dos seres
humanos está no mesmo nível da alma dos vegetais, executando a função basilar
de animar o corpo. No segundo grau, já diferenciando a alma dos seres humanos da
dos vegetais, a alma concentra-se no:
Este segundo grau da alma é o mesmo dos animais irracionais; ou seja, o ser
humano que vivesse neste segundo grau, em nada se diferenciaria dos animais
irracionais, viveriam apenas para o seu próprio sustento, tendo relações sexuais,
abrigando e alimentando a si e a sua prole.
No terceiro grau, a alma do ser humano se distingue da dos animais
irracionais. É neste terceiro grau que a razão, a imaginação e a criação do ser
humano terão expressão nas:
[...]
consciência dessa completude, ele precisa do outro que faz, por meio de profundo
amor, a função do espelho, e possibilita enxergar aquelas partes escondidas do
corpo, que os movimentos mecânicos do corpo, sozinhos, não conseguem ver.
Além disso, se a alma humana tem condições de alcançar o Absoluto, ela
carrega dentro de si todos os sentimentos, dos piores aos melhores. O Absoluto não
comporta outro ser além d’Ele. Todos os seres estão dentro d’Ele, ainda que possam
ser diferenciados por nomes ou conceitos. O Absoluto é o Absoluto. Chegando-se a
Ele não há separação, há completude. As coisas podem ser distinguidas com nomes
diferentes, mas não há separação entre elas. É possível dar nome às árvores, aos
rios, aos peixes, às montanhas, aos animais, aos planetas, às estrelas, aos
Universos, mas tudo continuará dentro do Absoluto.
Há termos que se usam para designar o Absoluto. E aqui, em todo o trabalho,
tratamos Absoluto com a ideia que se expressa comumente em Deus. Não um Deus
transcendente, mas sim imanente. Aquele em que o ser humano pode tocar com sua
alma, mergulhar, vivenciar. Conforme Santo Tomás de Aquino, não convém nomear
Deus (AQUINO, 1973, p. 109), entre outras coisas, porque não pode ser designado,
“nem pode ser expresso relativamente”.
O fato de não poder ser relativo significa que não pode o ser humano nomear
Deus, defini-LO, atribuir qualidades ou defeitos. Dizer se é bom ou mau, ou se tem
inclinação para o bem ou para o mal. Deus, no sentido de Absoluto é absoluto.
Sendo absoluto Ele é tudo. E sendo tudo, qualquer palavra que o expresse estará
justamente tirando a sua qualidade essencial: ser absoluto.
Hegel expressa o Absoluto também como Espírito, e afirma que Ele
“conquista a sua verdade somente quando se encontra a si mesmo na absoluta
dilaceração” (HEGEL, 1999, p. 309).
Reconhece Hegel que Deus não é bom nem mau: “O Espírito não é esse
poder a modo positivo que se desvia do negativo, como acontece quando dizemos
de alguma coisa que ela não é nada ou é falsa”. O Espírito, ou Absoluto é o “poder
somente quando contempla o negativo face a face e junto dele permanece. Esse
permanecer é a força mágica que converte o negativo em ser” (HEGEL, 1999, p.
309).
O deus relativo (emprego com letra minúscula porque não se trata do
Absoluto) é um deus que pode ser adotado como um meio pedagógico de se
apresentar Deus, o Absoluto. Dizer que Deus é bom, Deus castiga se as crianças
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não fazem a coisa certa, que Deus tudo vê, e avalia todas as coisas do ser humano,
e Ele proverá, pode ser um meio para inspirar o ser humano a crer na existência do
Absoluto e buscá-Lo. O sentimento de fé no Absoluto, por si só, não preenche o
vazio do ser humano nem sua angústia. O que preenche o ser humano é a
experiência do Absoluto, momento em que o ser não vê Deus, não crê em Deus, ele
sente Deus.
Criar a ideia de que é possível conversar com Deus, que podemos pedir a
Ele, como se estivéssemos pedindo para algo fora de nós, pode funcionar
pedagogicamente a fim de que o ser possa começar a fazer uma imagem do
Absoluto que um dia poderá encontrar, não no conceito, mas no êxtase, não pela
razão, mas pela intuição, e sentir dentro de si Aquilo com quem conversou durante a
sua vida.
A confissão constitui uma forma de o ser humano reconhecer o que fez, e que
acha que fez errado, trazer para o mundo as dores que passam em sua alma
dividida em razão de este fato deixá-lo sentir-se culpado, torturando-se. Através do
padre, o ser humano procura fazer a mediação da alma relativa com ela mesma a
fim de obter paz de espírito. Esta atividade do sacerdote foi reproduzida pela
psicanálise, que reconheceu na fala um modo de curar. Ao fazer o exercício de
representar os sentimentos que passam na alma, conceituá-los e avaliá-los, o ser
humano pode curar sua enfermidade, sua dor, que só têm lugar na relatividade.
De qualquer forma, o que se percebe é que, tanto na confissão, quanto no
consultório, a alma está conversando com ela própria, ainda que por meio de outro
ser. Mas se ambos fazem parte do Absoluto é sempre a consciência conversando
com ela mesma, ou seja, como citado, “o sujeito não tem fora de si a mediação, ele
é a própria mediação” (HEGEL, 1999, p. 309).
Quando se alça à consciência absoluta, o sujeito enxerga tudo interligado.
Pode distinguir a mão do pé, o braço da cabeça, mas são membros de um mesmo
corpo. Pode nomear o Brasil, a Argentina, a Alemanha, ou os Estados Unidos, mas
reconhece uma ligação umbilical entre eles. Vê o Sol, a Terra, as estrelas, as
galáxias e os buracos negros, mas percebe que todos estão unidos no Absoluto.
São imagens separadas dentro de uma mesma tela.
No Absoluto é possível distinguir as pessoas umas das outras, os outros
seres vivos também, mas todos fazem parte d’Ele e todos podem alcançar esta
consciência.
32
Jung trata esse processo com outras palavras. Para ele, há dentro da alma
humana duas partes: uma consciente e outra inconsciente. O ego seria o núcleo da
parte consciente, o self, o núcleo da parte inconsciente, mas também o núcleo de
toda a alma. Há uma parte da alma, denominada sombra, que seria a parte que o
ser humano nega existir em si mesmo.
Tal expressão da alma, segundo Jung, pode ser objeto de observação na
seguinte imagem:
Essa seria, para Jung, uma fotografia didática da alma. Em sua teoria, o
movimento de individuação4 do ser humano compreende o percurso do caminho do
consciente (A), que é a parte clara, e cujo núcleo é o ego, até o inconsciente (B),
que é parte negra e parte cinzenta (sombra). Neste caminho, o indivíduo transforma
o inconsciente em consciente, e desloca-se do núcleo do consciente (ego), ao
núcleo de toda a alma, o Self, tendo-se assim a consciência plena de si. Esse
caminho se dá com a realização da sombra, a consciência da anima e do animus,
que seriam os arquétipos feminino e masculino no interior da alma, e, por fim, o
encontro com o Self que é o núcleo mais profundo da alma, onde o ser deixa de lado
todo e qualquer processo mental de imitação inconsciente.
A realização da sombra ocorre “quando a pessoa fica consciente (e muitas
vezes envergonhada) das tendências e impulsos que nega existirem nela mesma,
mas que consegue perceber perfeitamente nos outros” (JUNG, 1986, p. 168). Seria
a sombra a parte bestial da alma, o que os maniqueístas chamariam de mal. O
exercício para começar a reconhecer a própria sombra está em enxergar em si tudo
aquilo que há nos outros. Reconhecer a inveja, a raiva, as necessidades biológicas,
o desejo de poder, a vaidade dos outros, e atribuir a si próprio estes defeitos é uma
4 Ou maturidade da alma.
33
forma de começar a entender o Absoluto, sendo este símbolo, do Yin Yang, onde o
Yin (preto) é o feminino, o passivo, a sombra, o irracional, e o Yan (branco) o
masculino, o ativo, a luz, o racional, usada pelo Taoísmo, uma forma para
apresentar este estado de consciência na harmonia entre o masculino e o feminino:
E, por fim, se “um indivíduo lutou séria e longamente com a sua anima ou o
seu animus de maneira a não se deixar identificar parcialmente com eles, o
inconsciente muda o seu caráter dominante e aparece em uma nova fase simbólica,
representada pelo self, o núcleo mais profundo da psique” (p. 195).
35
3.2 Autoridade
Do que foi visto até agora, pode-se extrair que a alma é dotada de pelo
menos duas partes, uma consciente e outra inconsciente, como também de duas
tendências extremas, à bestialidade que pretende atender às necessidades do
corpo, e à moralidade que atende às aspirações da alma.
De qualquer forma, seja para atender as necessidades da alma, seja as do
corpo, o ser humano, quando nasce, já está diante de uma autoridade. Será essa
autoridade externa que o reconhecerá como ser humano,5 de quem ele receberá o
primeiro afeto, dirá onde e como obter seu alimento, a sua segurança, seu grupo
social, sua autoestima, sua realização, o que será o certo, o que o errado, o que
será sagrado ou profano. Será esta autoridade que dirigirá inicialmente sua alma da
bestialidade à excelência moral, ou do primeiro grau ao sétimo, ou do símio ao
Super-Homem, da consciência natural à consciência absoluta.
Além dessa autoridade externa, haverá outra interna alcançada por meio da
intuição. Aqui, poderíamos iniciar uma longa discussão a respeito dos
conhecimentos a priori e os conhecimentos a posteriori, da Teoria kantiana, ou ainda
a discussão a respeito do direito natural em contraposição ao direito positivo, se o
ser humano nasce com direitos naturais que podem ser contraditórios com o direito
positivo da sociedade em que ele irá crescer.
Nas palavras de Norberto Bobbio, “o direito positivo “illud est quod ab
homonibus institutum”, isto é, a sua característica é a de ser posto pelos homens,
em contraste com o direito natural que não é posto por esses, mas por algo (ou
alguém) que está além desses, como a natureza (ou o próprio Deus)” (BOBBIO,
1995). Se esse alguém coloca normas de conduta no ser humano recém-nascido,
poderá fazê-lo dentro da alma humana, da mesma forma que coloca no corpo as
informações anteriores por meio do DNA. Porém, não iremos adentrar nesta zona
cinzenta do pensamento.
Sabe-se que há a possibilidade de existir um ordenamento jurídico interno da
alma, que pode entrar em conflito com outro ordenamento jurídico posto pela
sociedade onde nasce o ser humano, que também exerce autoridade, embora de
natureza externa.
Porém, neste capítulo, veremos a influência do ordenamento externo da alma
(independente de haver outro interno), segundo o qual o ser humano aprende a
falar, buscar a própria subsistência, entender o que é importante ou não; ou seja, ter
sua avaliação moral no ambiente em que vive. É nesse ambiente (físico e psíquico)
que o ser humano aprende a cultivar o amor ou ódio. É o ambiente em que o ser
humano nasce que lhe dará condições de desenvolver seu corpo e sua alma.
O que será considerado sagrado, e o que será considerado profano, a forma
de conviver com o outro, se deve amar ou odiar o semelhante, respeitar ou explorar
à exaustão a natureza, abusar do poder ou ser humilde e sabê-lo usar, enfim, guiar-
se pelas virtudes ou pelos vícios. Essas, sem dúvida, serão justamente as tarefas
das autoridades externas do ser humano, especialmente em seus primeiros anos de
vida.
37
Essa espécie de autoridade pode-se dizer que seria aquela a que Hannah
Arendt se referiu como sendo a “que não se confunde com qualquer forma de poder
ou violência”, que “exclui a utilização de meios externos de coerção”, pois nesta
autoridade “onde a força é usada, a autoridade em si mesma fracassou” (ARENDT,
2005, p. 169).
Essa autoridade em discussão é incompatível com o diálogo, pois não aceita
igualdade, nem formação de argumentos e contra-argumentos. É também
hierárquica: até um determinado momento o ser humano não contesta se o leite
materno é ou não saudável para o seu sustento; se a roupa que usa é ou não boa
para si; se a língua a ser falada será o idioma da família ou outro, se o dinheiro da
casa servirá para pagar o supermercado ou a colônia de férias no final de semana,
enfim, atos que não são passíveis de discussão pelo ser humano recém-nascido.
Normalmente, essa autoridade é exercida pelos membros da família. E,
mesmo que o ser humano fique órfão, outras pessoas exercerão o papel referente a
esta autoridade. A autoridade familiar é posta e aceita com relação aos hábitos,
costumes e à moral. Se um bebê brasileiro for criado por pais ingleses, ele
certamente falará a língua inglesa e talvez nunca tenha contato com uma palavra
sequer da língua portuguesa, embora nascido no Brasil. Da mesma forma, é difícil
conceber um ser humano de uma raça amando outro ser humano de outra raça se o
ambiente no qual viveu sempre o ensinou a odiá-lo.
Os Tupinambás eram índios antropófagos, pois acreditavam que comendo a
carne de seu inimigo corajoso eles receberiam o mana dele proveniente, e com isso
se tornariam mais corajosos. Além disso, eles guerreavam com a tribo vizinha desde
os tempos mais remotos, e a guerra fazia parte de sua cultura da mesma forma que
a antropofagia. Tendo chegado os padres católicos à aldeia dos Tupinambás,
horrorizados com o que viram, iniciaram a tentativa de conversão, para que os
silvícolas deixassem de comer a carne humana e de guerrear, pois aquilo trazia a
morte de membros da tribo e talvez eles pudessem viver sem estes dois hábitos.
Depois de muita tentativa de convencimento por parte dos padres, o cacique
da tribo atendeu apenas um dos pedidos. Para ele, era possível deixar de comer a
carne humana, mas não deixaria de guerrear. Com a ausência do primeiro hábito
cultural, a sociedade, segundo o cacique, poderia sobreviver. Mas se eliminasse a
guerra, provavelmente, outros valores sociais iriam ser eliminados, como a coragem,
a força, e a autoestima dos guerreiros que faziam com que a sociedade
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sobrevivesse. A guerra tinha a sua função social, e, por isso, não poderiam abrir
mão dela. Portanto, aquele índio Tupinambá recém-nascido não poderia conceber
um sentimento de amor à tribo inimiga, porque todo o seu ambiente estava cercado
de ódio contra aquela tribo, e era esse ódio, inclusive, que dava sustentação à
própria identidade da sociedade Tupinambá. Aquele indiozinho, por outro lado,
aprenderia amar seus companheiros de tribo de acordo com os valores que lhe eram
passados por seus ancestrais.
O que se quer dizer com isso é que cada sociedade elege determinados
valores, formas de conduta, para melhor viver e educar os seres humanos que dela
fazem parte, dirigindo as almas de acordo com as experiências de seus
antepassados. Os que nascem nesta sociedade obedecem inconscientemente à
autoridade dos mais velhos, que, por sua vez, obedeceram à autoridade de seus
antepassados.
Todavia, há na alma humana, além desse processo de imitação, outro: o de
progresso. Em razão deste segundo elemento, a sociedade acaba, pouco a pouco,
modificando a cultura, as normas, e os modos de produção de acordo com as suas
necessidades para melhor se adequar ao espaço e ao tempo.
Daí decorre a importância do progresso, seja ele econômico, moral, social,
cultural, científico, jurídico, como manifestação deste movimento de atribuição de
uma autoridade dos antepassados, e ao mesmo tempo, a sua negação, para que
nova seja criada. Hannah Arendt (2005, p. 129) afirma que esta autoridade, em
nossa sociedade moderna está já há algum tempo em crise. Em suas palavras:
A flor não nega totalmente o botão. Ela parte do botão para se tornar a flor.
Sem o botão, não há flor. Ela carrega em si a essência do botão, mudada pela força
do tempo e da nova experiência. A flor é a flor, que, por sua vez, não deixa de ser
em parte o botão e a planta. As novas filosofias, por vaidade ou outras razões,
querem estabelecer a flor à força, negando o botão e, por vezes, querendo que ela
tenha toda a natureza da planta, que ela não tem, por si só, sem atribuir valor algum
ao botão.
Na evolução da alma, seja em busca da excelência moral, seja para ascender
ao sétimo grau da alma, o ser humano tende a imitar inconscientemente seus
antepassados. Será através deste processo de imitação, que decorre de uma
autoridade, que o ser humano adquire os valores de seus antepassados e os
reproduz. Mas isso não quer dizer que tenha que reproduzir todos os valores
antigos, da mesma forma que a flor não precisa — como não pode — reproduzir
totalmente o botão, pois, caso contrário, não se tornaria flor e se manteria botão.
Todavia, com o processo de individualização do ser humano, esta atribuição
de autoridade entrou em crise e foi sendo deixado de lado o valor do ascendente.
40
E isso não quer dizer que a igualdade, fruto do progresso, não deva ser
preservada. Muito pelo contrário! Quer dizer que se deve modificar aquilo que não
serve mais ao direito matrimonial, mas conservar aqueles princípios e valores
antigos que ainda podem ser válidos e eficazes. Se a borboleta deixa o casulo e não
mais o utiliza, porque não lhe serve mais, não quer dizer que tenha de negar a
essência da larva, que um dia foi a sua própria essência.
6 Carlota Queiroz foi a primeira mulher a ocupar cargo no Poder Legislativo em 1933. Fonte: Projeto
de resolução nº 2/2004 do Senado Federal.
7 Alzira Soriano Souza foi a primeira prefeita de um município do Brasil, eleita em 1928 em Lages –
8 Thereza Tang foi a primeira juíza do País, em 1954, em Santa Catarina, e desembargadora do
TJSC a partir de 1975.
43
9 Nas questões cíveis, vigeram até jan. 1917, quando entrou em vigor o Código Civil de 1916.
44
homem e mulher competindo para quem tem o falo maior, ou melhor, para quem tem
mais poder ou dinheiro, competição antes que só era vista entre dois homens.
Se um homem não abrisse a porta de um carro para a mulher antigamente,
ele seria um mal educado ou um chucro. Hoje, se não o faz, não há problema algum.
Não será reprimido, não será condenado. Uma mulher dirigindo era um absurdo. Se
estivesse com um homem então, um absurdo maior ainda. Hoje não é mais assim.
Não é difícil ver uma mulher na direção e o homem ao lado. Sem problema.
O que importa neste momento do trabalho é demonstrar que o conceito de
homem e de mulher está em mutação. Com a evolução da consciência da
humanidade, tende-se a acreditar que a única distinção geral de gêneros será a
questão biológica; ou seja, a mulher será aquele ser humano que gera, e o homem
aquele que produz a semente da fecundação. Os hábitos do dia a dia que dirão
quem será o homem e quem será a mulher ficarão adstritos em cada relação
particular, sem regra geral. Serão os casais que dirão qual será a dança e quem irá
levar. As vezes um, às vezes o outro, mas o que importa é que seja uma dança
harmônica, que gere felicidade e alegria.
47
4 O CASAMENTO
E ainda:
Qualquer homem, que dormir com sua filha, ou com qualquer outra
sua descendente, ou com sua mãe, ou outra sua ascendente, sejão
queimados, e olla também, e ambos feitos per fogo em pó.
2. E o que dormir com sua thia, irmã de seu pai, ou mãi, ou com sua
prima co-irmã, ou com outra sua parenta no segundo grão, contado
segundo o Direito Canônico, seja degradado dez annos para a África,
e ella cinco para o Brazil.... (Livro 5 – Título 17).
Que o marido não possa litigar em juízo sobre bens de raiz sem
outorga de sua mulher
10 As Ordenações Filipinas tiveram vigência na matéria cível até a promulgação do Código Civil em
1º.01.1916 e, portanto, vigoraram mais tempo no Brasil que em Portugal, cujo Código Civil foi
promulgado em 1867; em matéria penal o primeiro Código Penal Brasileiro foi promulgado em 1830,
substituindo a partir de então as Ordenações Filipinas.
49
Que o marido não possa vender, nem alher bens, sem outorga
da mulher
Mandamos que o marido não possa vender, nem alhear bens alguns
de raiz, sem procuração, ou expresso consentimento de sua mulher,
nem bens, em que cada hum delles tenha o uso e fructo somente,
quer sejam casados por carta de metade, segundo costume do
Reino, quer por dote e arras. O qual consentimento se não poderá
provar, senão per escritura publica, e fazendo-se o contrário, a
venda, ou alheação seja nenhuma, e sem effeito algum. E postoque
se allegue, que a mulher consentio, e outorgou na venda, ou
alheamento caladamente, tal outorga tácita não valha, nem seja
alguém admittido a allegar, salvo allegando outorga expressa, e
provando-a; porque muitas vezes as mulheres por medo, ou
reverencia dos maridos deixam caladamente passar algumas
cousas, não ousando de as contradizer por receio de alguns
scandalos e perigos, que lhes poderiam vir...” (Livro 4 – Título 48).
11Tal dispositivo regulamenta o disposto em Romanos, 7:2: “A mulher casada está vinculada, por lei,
ao marido enquanto ele viver. Morto o marido está livre da lei que a vinculava ao marido”.
50
Isso significa que a única Igreja legitimada para exteriorizar seu culto era a
Igreja Católica, sendo permitido às outras o seu culto particular ou doméstico. Por
outro lado, muito embora houvesse esta tolerância com quanto às outras religiões,
com relação à possibilidade de culto particular, o mesmo não se dava com relação
ao casamento, propriamente dito, uma vez que somente era reconhecido o
casamento realizado perante a autoridade da Igreja Católica.
Contudo, ainda na vigência da Constituição do Império, tal limitação religiosa
deixou de existir com a Lei n. 1.144 de 1861, pela qual foi autorizada e reconhecida
a celebração do casamento pelas outras religiões. E assim vigorou essa legislação
até a Proclamação da República.
Com a proclamação da República houve a separação formal entre Igreja e
Estado, assumindo este último o poder de regulamentar o casamento, o que foi
manifestado no ano seguinte, por meio do Decreto n. 181, de 24.01.1890, de autoria
de Rui Barbosa.
A partir de então, somente seria considerado casamento aquele feito sob o
crivo do Estado e assentado nos Cartórios de Registro Civis.
Todavia, o Decreto n. 181/90 não proibiu que os seres humanos fizessem o
casamento religioso segundo as suas próprias crenças, ou seja, não havia uma
preponderância entre um ou outro casamento. Porém, como a lei não teve o condão
de mudar o hábito social instantaneamente e os seres humanos insistiam em realizar
apenas o habitual casamento religioso, não reverenciando o poder estatal,
promulgou-se outro Decreto, o de n. 521, em 26 de junho do mesmo ano de 1890,
que proibia terminantemente o casamento religioso antes do civil, impondo à
autoridade religiosa que o celebrasse sob pena de prisão de seis meses,
aumentando-a para um ano em caso de reincidência.
Dessa maneira, o Estado brasileiro se impôs em face da Igreja, impedindo
que os brasileiros fossem a ela tomar a bênção matrimonial religiosa antes de terem
recebido o reconhecimento estatal do seu vínculo matrimonial. Desde então, uma
pessoa só poderia ser considerada casada se tivesse reconhecida tal união pelo
Estado. Ou seja, com a Lei n. 1.144/1861, e os Decretos n. 181 e 521, ambos de
1890, o Estado foi absorvendo paulatinamente o controle e a regulamentação do
casamento, e consequentemente da família.12
12 Os decretos foram apenas revogados em 1937, pela Lei n. 379, que regulamentou o casamento
religioso para que gerasse efeitos civis.
51
13 Art. 144. “A família constituída pelo casamento indissolúvel está sob proteção especial do Estado”,
admitindo, contudo, no parágrafo único deste artigo, a possibilidade do desquite e da anulação do
casamento. Já no art.146 deixou de existir a proibição de ser celebrado o casamento religioso antes
do civil, sendo o primeiro equiparado a este “desde que perante a autoridade civil, na habilitação dos
nubentes, na verificação dos impedimentos e no processo da oposição sejam observadas as
disposições da lei civil e seja ele inscrito no Registro Civil".
14 Art. 124. A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob proteção especial do Estado”.
15 Art.163. A família é constituída pelo casamento de vínculo indissolúvel e terá direito à proteção
especial do Estado.
16 Art. 167. A família é constituída pelo casamento e terá direito a proteção dos Poderes Públicos. §1º
O casamento é indissolúvel”.
17 Art.175. A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes Públicos.
18 O § 1º, do art. 176, da Constituição Federal de 1969 dizia: “O casamento é indissolúvel”. Porém,
esse dispositivo foi alterado pela Emenda Constitucional 9/77, de 28 de junho de 1977, que instituiu o
divórcio no Brasil, dando-lhe a seguinte redação: “§ 1º - O casamento somente poderá ser dissolvido,
nos casos expressos em lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos". A lei
federal que regulamentou o divórcio foi a de n. 6.515, de 26.12. 1977.
52
O que se pode concluir com esta evolução jurídica é que, à época do Brasil
Colônia, inicialmente, ao casamento não era dada grande importância pelo Estado, a
não ser em pequenas questões patrimoniais (posto que não havia dissolução do
matrimônio e, desta forma, eram questões não muito discutidas na sociedade, como,
por exemplo, com relação ao incesto (que já era uma norma das primeiras famílias
consanguineas do ser humano selvagem) e com relação ao adultério (com evidência
que tal norma era mais dirigida às mulheres do que aos homens). Com o passar dos
anos, o Estado foi absorvendo a regulamentação desta relação matrimonial,
especialmente quando inseriu na Constituição de 1934 a expressão de que a família
estava “sob proteção do Estado”.
Da mesma forma que o Estado protegia outras instituições, a família,
constituída pelo matrimônio, estava agora sob proteção expressa do Estado.
Essa preocupação do Estado ficou ainda mais caracterizada no
reconhecimento do art. 226, da Constituição vigente de que a família constitui a
“base da sociedade”, o que, sem dúvida, mostra uma responsabilidade marcante na
função da família na sociedade.
Com isso, a Constituição de 1988 tirou do casamento a definição anterior de
que a família só seria “constituída pelo casamento” — indissolúvel ou não. Com o
advento da Constituição vigente, tal expressão foi suprimida, constando apenas a
proteção do Estado à família que não é necessariamente constituída apenas pelo
casamento.
19Art. 71 a 75, da Lei nº 6.015, de 31.12. 1973 (Lei de Registros Públicos); e art. 1515 e 1516 do
CC/2002.
53
20 Ideia defendida por Platão, em a República, com o intuito de difundir a força do amor familiar
(storge) para todos os cidadãos.
56
21Ou autoridade religiosa – Constituição Federal, art. 226, § 2º, Código Civil, arts. 1.515, 1516, § 2º, e
1532, e arts. 70 a 75, da Lei n. 6.015/73 (Lei de Registros Públicos).
57
22Mesmo porque a grande parte dos doutrinadores do direito de família não deixa de mencionar essa
caracterização religiosa do casamento, como Caio Mario da Silva Pereira, Maria Helena Diniz, Silvio
Rodrigues, Silvio de Salvo Venosa, entre outros,
58
chegado, o homem que optou por uma vida profana não consegue abolir
completamente o comportamento religioso” (ELIADE, 2008, p. 27).
Sagrado é tudo aquilo que é santo, divino, inviolável, aquilo pelo qual as
pessoas podem dar a sua própria vida, pois sem aquilo não vale a pena viver. O que
é sagrado ao ser humano constitui tudo que é absolutamente valioso, essencial, de
maneira mais profunda, e essa categoria de valores, independe de o ser humano
professar alguma religião ou não. As pessoas podem colocar a vida em risco para
salvar outras, para defender uma ideia, para alcançar um objetivo. Nas guerras,
muitas pessoas se alistavam voluntariamente por conta da vergonha que sentiriam
caso não o fizessem. Os policiais que saem às ruas todos os dias arriscam suas
vidas no exercício de sua profissão. Os bombeiros do mesmo modo. Os
revolucionários que defendem ideias que se contrapõem a um regime autoritário,
também arriscam suas vidas para alcançar algo maior para si ou para seus filhos. Há
pessoas que colocam sua vida em risco por prazer, para escalar uma montanha ou
para pular de para quedas. Há ainda pessoas que tiram sua própria vida porque
perdem dinheiro, honra ou poder. Enfim, a vida não é um valor absoluto. Há outros
valores que podem sobrepor-se a ela, entre eles a própria permanência ao lado da
pessoa amada.
Kunzmann, Burkard e Wiedmann (1999, p. 198) estabelecem a escala de
valores do ser humano da seguinte forma, sendo o primeiro o estágio mais profundo,
e o que é essencial, para mais superficial ou acidental:
1º sagrado x profano;
2º belo x feio; justiça x injustiça; verdadeiro x falso;
3º nobreza x vulgaridade;
4º agradável x desagradável.
Por essa razão, o casamento para se manter como sacramento não pode ser
dissolvido27 a não ser em casos excepcionais de erro de pessoa ou de qualidade
desta.28 Se através do casamento “os cônjuges se tornam uma só carne” (Can.
1061, §1º), nos diversos momentos que sucederão o matrimônio, de doença e de
saúde, de tristeza e de alegria, de pobreza ou de riqueza, um não poderia atentar
contra a sua própria carne, uma vez que considerando a sacralidade do matrimônio
“cheia de poder, deseja viver naquele poder e mantê-lo vivo” (BELLO, 1998, p. 30).
Porém, conforme dito, a Igreja Católica prevê a separação, não sem antes,
fomentar o perdão de um cônjuge para com o outro, conforme se observa dos
seguintes dispositivos do Código Canônico:
Cân. 1152
embora seja causa do contrato, não torna nulo o matrimônio, salvo se essa qualidade for primeira e
diretamente visada. Cân.1098 Quem contrai matrimônio, enganado por dolo perpetrado para obter o
consentimento matrimonial, a respeito de alguma qualidade da outra parte, e essa qualidade, por sua
natureza, possa perturbar gravemente o consórcio da vida conjugal, contrai invalidamente.
61
4.5.1 Monogamia
Segundo este relato, nessa fase da evolução da família, irmão tinha relação
sexual com irmã e não tinham qualquer tipo de exclusividade. A única relação sexual
proibida era a relação de ascendentes com descendentes. O casamento então era
um casamento plural de todos com todos, com exceção da relação sexual do pai
com a filha e da mãe com o filho.
Na segunda espécie de família, a punaluana, o ser humano, ainda na fase
selvagem, tem um avanço com relação à proibição de relação sexual entre os
irmãos e irmãs. Inicialmente, teriam sido proibidas as relações entre irmãos e irmãs
uterinos, ou seja, por parte de mãe, evoluindo para a proibição entre irmãos
colaterais, o que hoje designamos por primos e primas em segundo e terceiro graus.
Engels assinala que, provavelmente, “nas tribos onde esse progresso limitou
a reprodução consanguínea, deve ter havido um progresso mais rápido e mais
completo que naquelas onde o matrimônio entre irmãos e irmãs continuou sendo
uma regra e uma obrigação” (ENGELS, 2002, p. 42), supondo dessa forma, que esta
proibição intuitiva de nossos antepassados teria tido relação com o princípio da
seleção natural segundo o qual os filhos e filhas deste tipo de família nasceram mais
fortes e saudáveis do que os anteriores.
Em todo o caso, nessa fase, o casamento era em grupos, ou seja, eram
mulheres comuns de seus maridos comuns. O casamento também aqui tinha as
mesmas propriedades da família consanguínea, porém com a distinção de que aqui
começaram a formar famílias geneticamente mais diversas, em razão da proibição
do sexo entre os irmãos. Ademais, ainda que houvesse mulheres comuns com
maridos comuns, notava-se, nesta espécie de família, o início de uma união dos
69
pares, ou seja, uma mulher que se identificava mais com um marido e vice-versa. E
esse foi o embrião para formação da nova família, a sindiásmica.
A terceira etapa da família, a sindiásmica, aparece no limite entre o estado
selvagem do ser humano e a barbárie. Aquelas uniões de pares com mais afinidade
deram surgimento à poligamia, porém a “poligamia e a infidelidade ocasional
continuam a ser um direito dos homens, embora a poligamia seja raramente
observada, por causas econômicas” (ENGELS, 2002, p. 57). Essa nova concepção
de família teria sido uma conquista das mulheres que se libertaram da antiga
comunidade de maridos e adquiriam para si o direito de não se entregar a mais de
um homem.
Na quarta espécie de família, a monogâmica, surge a monogamia como
regra, agora no período da civilização. Essa monogamia não surgiu, de forma
alguma, segundo Engels, em razão do fruto do amor sexual individual, “já que os
casamentos, antes como agora,29 permaneceram casamentos por conveniência”.
A família evoluiu para este estágio, junto com a evolução da propriedade, que
passou de comum para a propriedade privada. Somente com o surgimento da
monogamia os filhos eram reconhecidos como tais e herdavam o patrimônio
construído pelo pai. Se houve nessa nova família um progresso, houve um sensível
retrocesso, explica-se:
O primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide
com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher
na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do
sexo feminino pelo masculino. A monogamia foi um grande
progresso histórico, mas, ao mesmo tempo, iniciou, juntamente com
a escravidão e as riquezas privadas, aquele período, que dura até
nossos dias, no qual cada progresso é simultaneamente um
retrocesso relativo, e o bem-estar e o desenvolvimento de uns se
verificam às custas da dor e da repressão de outros (ENGELS, 2002,
p. 44).
Isto significou que foi cerceada dos seres humanos, por meio dessa evolução,
a liberdade sexual, especialmente a das mulheres. Mas se houve o cerceamento
sexual ao longo da história, aumentando as tensões sexuais que antes eram
solucionadas pelos casamentos em grupos, por outro lado, surgiu, no mesmo
instante, o alívio destas tensões (mas especialmente dos homens) por meio do
adultério e da prostituição.
suas coisas boas e más — deve ser recebida pelo amante, e vice-versa; ou seja, o
amante também deve doar suas coisas boas e más, seu lado consciente e
inconsciente para receber o mesmo do outro e perceber a consciência Absoluta.
Sem a monogamia este processo é boicotado pela presença de outro rosto. E
por isso a monogamia é fundamental para o que se pretende com este trabalho.
4.5.2 Fidelidade
32Art. 240. Cometer adultério: Pena – detenção de quinze dias a seis meses (revogado pela lei
11.106/2005).
75
Fora do casamento, por inexistirem estes assuntos, o sexo pode ser tão bom quanto
era antes do casamento com aquele que se tornou cônjuge.
Acrescente-se ainda o perigo de contrair doenças que possam inclusive ser
posteriormente transmitidas ao cônjuge. E isso, infelizmente, não é incomum. Ao
deixar-se levar pela infidelidade, o ser humano pode colocar em risco seu projeto
inicial de vida, sua família, projeto este traçado no momento do casamento. Além
disso, põe também em risco o bem-estar dos filhos e o seu próprio para saciar um
desejo animal. Não são poucos os filhos que condenam seu pai ou sua mãe por
terem traído um ao outro. E este tema foi objeto de uma peça de teatro — Adivinhe
quem vem para rezar — de Dib Carneiro Neto, na qual atuou, entre outros, Paulo
Autran. Esta peça mostra como os filhos fazem este julgamento dos pais, vivem com
estes rancores, até eles perceberem, mais velhos, como esse assunto é muito mais
complexo e delicado. Mas esta compreensão só ocorre depois de muito julgamento
e sofrimento, que poderiam ter sido evitados se houvesse fidelidade.
A terceirização clandestina do sexo no casamento, ou seja, aquela que não é
conhecida pelo cônjuge, ocorre tanto em casamentos sexualmente felizes como nos
infelizes. Nos felizes, pela busca de mais prazer. Nos infelizes, pela busca de prazer
simplesmente. Agora, se o prazer sexual está ruim no casamento, buscá-lo em
outros lugares, com ou sem a autorização do cônjuge, pode piorá-lo ou até mesmo
exterminá-lo. Em um primeiro momento, pode até ser bom, o cônjuge recobra a sua
autoestima, sente-se bem pelo que fez. Porém, pode ter sua parte ruim, a ressaca
moral, podendo ficar sentindo-se culpado por longos anos. Nesse estado de culpa
pode cobrir o outro de presentes, joias, prometer mundos e fundos, mas a culpa não
lhe sai da cabeça. Pode ocorrer também que aquele prazer no acaso se aprofunde
em paixão e o ser comece a viver uma vida dupla, recheada de mentiras e de
falsidade, o que também não pode ser considerado virtuoso, muito menos saudável.
Reconhecer se a relação paralela é uma fantasia ou um caso de amor de verdade
só o caso concreto dirá.
Em época de gravidez e amamentação, o índice de infidelidade aumenta
muito, justamente porque a mulher está em uma fase na qual o sexo não é a sua
prioridade. Os nove meses de gestação, mais alguns meses de amamentação
constituem um tempo considerável para a contenção do desejo sexual masculino.
Evidente que nesta época a mulher, se não tiver complicações na gravidez, pode —
e é até saudável — ter relações sexuais com o marido. Mas ela pode não querer e
78
isso traz problemas ao homem. Ele terá então que ter temperança e controlar seu
impulso sexual, por mais violento que seja, ainda que seja como Diógenes fazia
(FOUCAULT, 2007, p.52), sem a necessidade de fazer isso em praça pública, por
óbvio.
Mesmo porque, é “perigoso, para o indivíduo, obter seu prazer ao acaso; mas
se é ao acaso que ele procria, e não importa como, o futuro de sua família é
colocado em perigo” (FOUCAULT, 1984, p. 110). Ou seja, procurar satisfazer desejo
ao acaso coloca em perigo o matrimônio e até a família.
No processo de individuação traçado por Jung, o homem deseja uma mulher
(Eva – 1ºestágio). O instinto de procriação faz com quem um homem busque uma
mulher para ter relações sexuais. Este primeiro instinto visa unicamente perpetuar a
espécie. Depois de encontrar uma mulher, ele busca uma mulher bonita (Helena –
2ºestágio). Se Eva é o arquétipo do instinto de perpetuar a espécie, Helena é de
melhorá-la. Será neste segundo estágio que o homem procura satisfazer seu desejo
sexual e, por um espaço de tempo, sente-se pleno e satisfeito. Assim, se a sua
esposa não lhe faz mais o papel de Helena, ele busca este arquétipo fora do
casamento, pois é através dele que encontra facilmente a sensação de plenitude
grosseira da alma, ainda que por apenas alguns segundos, por meio do gozo. Ao ser
infiel à sua mulher, ainda que com várias mulheres, o homem está se relacionando
apenas com a Helena, que é o segundo estágio de seu arquétipo feminino. Muitos
belos rostos de mulheres, perfeitas curvas, porém sempre a mesma mulher, o
mesmo arquétipo: a Helena.
Se o homem pulveriza seu amor para várias mulheres, dificilmente passa ao
terceiro estágio de sua anima, a Virgem Maria. A fidelidade faz com que a força do
amor seja dirigida a apenas um rosto, e através deste rosto, ele passa adiante para
o terceiro estágio. Certamente, distrair-se com várias mulheres, sempre com o
mesmo rosto (ou curvas) de Helena, dificulta, ou até mesmo impossibilita que o
homem consiga enxergar o terceiro estágio mais profundo de sua anima, a Virgem
Maria.
A fidelidade sexual força o homem a concentrar toda a sua vitalidade, sua
força, seu amor para uma mulher só, aquele amor, segundo Aristóteles que só se dá
para um ser. É este amor, é esta força que faz com que o homem encontre seu
arquétipo da Virgem Maria que eleva o amor (eros) à grandeza da devoção
espiritual, do sagrado. Esta é a máxima devoção que um homem pode ter com uma
79
mulher, seja por respeito a ela, seja por autodomínio, seja pela máxima intensidade
de amor que um homem pode dirigir a uma só mulher. Neste estágio é preferível
morrer a ser infiel a ela ou deixá-la infeliz, tal o grau de devoção e de amor. Eros
canaliza a alma para a catarse final, avançando ao conhecimento de si.
A fidelidade faz com que o homem alcance este estágio de seu arquétipo e
experimente o êxtase de seu amor; e, ao mesmo tempo, a morte de uma parte de
sua identidade construída pelo ego. Neste estágio, não há mais valor no desejo e na
vontade do amante, mas somente no desejo e na vontade do ser amado. É apenas
isso que importa. Sob a consciência relativa, adora, com fervor, seu amor. Neste
estágio de grande força do amor, ele tem objeto próprio, representado pelo ser
amado, que, na verdade, coincide, neste instante com o arquétipo da Virgem Maria,
no terceiro estágio da anima.
Em um momento seguinte, “inda tonto do que houvera, à cabeça, em
maresia” (Fernando Pessoa) o infante encontra hera, e “vê que ele mesmo era a
Princesa que dormia”. E aqui chegamos ao Absoluto. O que antes era uma figura
externa à pessoa, um rosto, passa a ser reconhecido como conjunto de impressões
internas da alma. Maria desaparece para dar espaço ao último estágio da anima: a
Sophia ou Monalisa. Neste estágio o homem reconhece que o ser amado, da forma
como lhe parecia, era apenas uma ilusão, um rosto que o levou a encontrar consigo
mesmo, nas profundezas do seu ser, o Absoluto, o gozo supremo.
Esta imersão em sua parte imaterial do corpo é catalisada pelo dever de
fidelidade. A fidelidade faz a função das margens do rio que o canaliza para o
deságue no mar. Sem as margens o rio não chega ao mar. Ele se dispersa nas
planícies. O dever de fidelidade, impulsionado pela força natural que leva todos para
à consciência absoluta, e, no caso, catalisada pelo amor, faz com que o homem
chegue a este aspecto último de sua alma, a Monalisa, o Absoluto.
Daí a necessidade da fidelidade.
80
Legislar sobre o sustento, guarda e educação dos filhos, atribuindo tal tarefa
como um dos deveres do casamento, demonstra a preocupação do Estado com a
família. Vimos que a força primordial que une os seres humanos é a da procriação.
Embora tenhamos romantizado este assunto ao longo do processo de civilização, o
que importa para a natureza da espécie é que ela se propague.
Toda criança que nasce representa contribuição para a eternidade da
espécie. Quando um casal cuida de seu próprio filho, não está cuidando apenas de
uma criança, está cuidando de toda a humanidade. Aquela criança representa a
humanidade. “Esposa e esposo devem ter em vista gerar para o Estado crianças da
maior excelência e beleza possíveis” (PLATÃO, 1999, p. 271).
82
Evidente que um ser não pode ser renegado em sua vontade individual, a
ponto de submetê-la a zero. Isso não é saudável, justamente porque isso interfere
na felicidade da família. Uma pessoa que não tem vontade individual não tem
expressão individual, e fica somente escrava dos desejos e vontades da família,
acaba por diminuir o grau de felicidade da família. É bom que todos estejam plenos
e felizes na sua individualidade e no contexto familiar.
O dever de sustento, guarda e educação dos filhos pressupõe que cada um
dos cônjuges abra mão, na maior parte das vezes, de seus desejos individuais, para
que os dos filhos sejam satisfeitos, até que eles atinjam a maioridade civil e
psicológica. E aqui entra outro ponto importante: se os pais têm obrigação de
sustentar, guardar e educar os filhos, também têm obrigação de ensiná-los a um dia
sustentarem-se, guardarem-se e educarem seus próprios filhos.
4.5.7 Igualdade
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”, tendo sido, portanto, abolida qualquer
discriminação entre os sexos, e, portanto, foram modificadas as divisões anteriores
do Código Civil de 1916, com relação aos direitos e deveres do marido (Capítulo II
do Título II do CC de 1916) e da mulher (Capítulo III do Título II do CC de 1916), que
davam sustentação à desigualdade materializada no que era o antigo art. 233: “O
marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da
mulher, no interesse comum do casal e dos filhos”.
Não vamos tratar da igualdade geral dos homens e das mulheres, que, para o
Direito, é indiscutível, e uma grande conquista da Constituição de 1988. O que nos
interessa aqui é procurar estabelecer o nível desta igualdade dentro do casamento,
e, principalmente, a forma de seu exercício.
Conforme Engels (2002), em certo momento da história, houve a transição
das famílias punaluanas, quando homens e mulheres tinham igualdade sexual,
quando eram comuns as poligamias e as poliandrias, para as famílias sindiásmicas.
Por muito tempo, o homem detinha o poder sexual aparentemente superior ao
da mulher. Diz-se aparentemente, porque tal poder era legitimado pela obediência e
talvez até mesmo pela ausência de desejo por parte da mulher. Ou seja, para o
equilíbrio da família, a mulher poderia entender que era melhor, naquele momento,
ceder a esse impulso, em determinadas épocas, especialmente na gravidez, mais
forte nos homens do que nas mulheres.
Por outro lado, a mulher era a dona da casa, era ela quem dava a última
ordem nas questões caseiras e “ai do pobre marido ou amante que fosse preguiçoso
ou desajeitado demais para trazer sua parte ao fundo de provisões da comunidade”.
E continua a seguir: “Por mais filhos ou objetos pessoais que tivesse na casa, podia,
a qualquer momento, ver-se obrigado a arrumar a trouxa e sair porta afora”
(ENGELS, 2002, p. 57).
Assim, se havia uma desigualdade na questão sexual, que era tolerada,
também havia uma desigualdade na relação de poder dentro do espaço da casa. E
essas desigualdades eram toleradas pelo bem da família. Ou seja, enquanto os
homens da família sindiásmica tinham o poder sexual e, portanto, a poligamia era
permitida, por outro lado, caso não exercessem a sua função de forma satisfatória,
sendo preguiçosos, não provendo a casa, poderiam ser expulsos pela mulher, que
era a dona da casa. E ficavam sem a casa, sem os filhos e evidentemente, sem a
87
teríamos de concluir que a luta histórica entre o homem e a mulher não terá fim se
continuarem a se enxergar como opostos e não complementares, e um quiser
subjugar o outro, ao invés de harmonizarem suas vontades. Devem passar a
compreender-se como partes da relação mais importante à propagação e educação
da humanidade: a unidade homem-mulher.
De toda forma, ainda que esta luta persista no campo social, dificilmente ela
prosseguirá no campo do Direito. O princípio da igualdade entre o homem e a
mulher é uma realidade no nosso ordenamento jurídico, uma conquista das
mulheres depois de muitos anos de luta, sofrimento, repressão, dor, vergonha,
infelicidade. O Direito já distribuiu o poder de forma igualitária entre homens e
mulheres. Caberá aos seres humanos usarem essa distribuição de poder da melhor
maneira possível, em prol da felicidade do casamento. Se haverá ou não igualdade
real entre os cônjuges, ainda que obtida apenas pelo equilíbrio contratual isso só
será pertinente ao próprio casal.
No processo psíquico, porém, que envolve o casamento, a igualdade é um
fator fundamental. Primeiro, porque aquele que ama verdadeiramente não ama um
objeto, e sim outro ser humano. Ao reconhecer o ser humano amado não como um
objeto, mas como um ser humano, o amante reconhece no ser amado a existência
de um corpo e de uma alma, sendo esta última parte consciente e parte
inconsciente. Além disso, reconhece que no cônjuge há uma personalidade criada
(ego), mas também uma personalidade profunda (self) que é o centro do
inconsciente, e que está mais próxima da noção de Absoluto.
Esse processo não pode acontecer em sua plenitude se o homem não
enxergar na mulher um ser humano com as mesmas propriedades intelectuais e
sentimentais que ele. A percepção equivocada de um homem ser superior à mulher
ou a mulher superior ao homem deixa os dois estagnados na consciência relativa, o
que lhes impede a evolução para a consciência absoluta.
Quando se olha no espelho, a imagem que nele reflete é a mesma de quem o
observa e na mesma altura. Não é possível enxergar no espelho a própria imagem,
em alturas diferentes. Se o observador se eleva, a imagem no espelho também se
eleva. Se agachar, a imagem também agachará. Para que o homem chegue ao seu
aspecto mais sutil do feminino, ou seja, a sabedoria (a Monalisa), segundo o
processo de individuação de Jung, é fundamental que tenha na mulher um ser
humano igual, que lhe possa dar o espelho de sua alma, na mesma altura que tem.
90
Isto não significa que a mulher e o homem não possam exercer papéis
diferentes. Podem exercer papeis diferentes sim, mas não quer dizer com isso que
um será inferior ao outro.
4.5.8 Afetividade
O ser humano é um ser social. Por essa característica é da sua essência ter
vontade de estar junto de outro. Essa vontade pode ser motivada por meio do afeto.
É o afeto34 que faz com que os seres humanos unam-se uns aos outros. Esse afeto
pode ser utilitário ou verdadeiro, segundo a definição aristotélica, ou interessado e
verdadeiro, segundo a definição platônica. O afeto utilitário (ou interessado) depende
da condição de a relação gerar prazer ou algum outro benefício, e, portanto, a
relação dura enquanto esse prazer ou benefício durar. O afeto verdadeiro pode
gerar – e acaba gerando – prazer e sendo útil, mas não é esse o seu fim. O seu fim
reside nele mesmo. O ser humano carece de afeto. O afeto verdadeiro tem fim na
própria relação, independentemente de seus efeitos. A intenção é de estar juntos e
fazer o bem um para o outro, ainda que em determinados contextos esse bem não
fique evidente.
Dentro do afeto verdadeiro há quatro tipos: eros, filia, storgè e ágape.
Eros é o amor romântico, erótico, o afeto entre duas pessoas apaixonadas;
filia é a amizade, aquele afeto que difere do eros, porquanto não há desejo sexual,
sendo encontrado entre seres humanos que se querem bem, independente de
qualquer interesse; storgè é o amor pela família, ou seja, aquele ligado aos laços
sanguíneos; e o amor ágape35 é o amor a tudo e a todos indistinta e
34 No sentido de amor, pois o afeto pode ter a acepção de tudo aquilo que afeta o ser humano, logo,
tanto o amor quanto o ódio seriam afetos dos seres humanos. Mas aqui utiliza-se o afeto apenas no
sentido do amor.
35 O amor ágape é citado entre as virtudes expostas em Coríntios I; 13: Ainda que eu falasse a língua
dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. / E
ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. / E
ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu
corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. / O amor é sofredor, é
benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. / Não se
porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita não suspeita mal; / Não folga com a
injustiça, mas folga com a verdade; / Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. / O amor nunca
falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
desaparecerá [...] / Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, mas o maior destes é o
amor.
91
Na relação matrimonial podem existir todos esses amores, amor de pai, amor
de mãe, amor de filho, amor fraterno/conjugal (que seria o filia com laços
sanguíneos, na relação fraternal, ou apenas laços matrimoniais), na medida em que
tais amores estão ligados às atividades da alma e não necessariamente coincidem
com os papéis biológicos. Ou seja, a esposa pode fazer o papel da mãe, em um
determinado momento, de pai em outro, de irmã, de amiga, além do de fêmea. Da
mesma forma, o marido pode exercer esses papéis, de pai, de mãe, de irmão, de
amigo, além do de macho.
Ademais, o segundo mandamento de Cristo, segundo o qual devemos amar o
próximo como a nós mesmos, consiste em um dos preceitos fundamentais da cultura
ocidental, porque sem este preceito, “a vida civilizada seria insuportável” (FREUD,
1996). Por outro lado, acrescenta Bauman (2003, p.97), “é também o que mais
contraria o tipo de razão que a civilização promove: a razão do interesse próprio e da
busca da felicidade”.
Ocorre que, como vimos anteriormente, nos pensamentos de Michel Foucault,
não é uma tarefa fácil definir o que seria amar a si mesmo — que estaria implícita no
“cuidar de si mesmo” (epimeleia heautoû) — na medida em que tal conhecimento
demandaria outro, que seria o de “conhecer a si mesmo” (gnôthi seatón). Da mesma
forma, o cuidar do outro, o amar o outro pressupõe a necessidade de conhecer o
outro. E aqui reside um grande problema: o ser humano está em constante
movimento e sofre dinâmicas alterações.
Quando um ser ama o outro, ele está diante de um ser que não será o ser do
momento imediatamente posterior. A pessoa amada não é um objeto inanimado,
imóvel, constante. É um ser animado, em transformação, inconstante, tanto no seu
aspecto material (do corpo), quanto no aspecto imaterial (da alma), e a cada
momento adquire novas realidades.
93
Por conta disso, o amor eros que ligou inicialmente os dois jovens
apaixonados, pode não se manter na mesma intensidade ou qualidade, mas nem
por isso, deixa de ser amor. O amor eros pode se transformar em amor storgè, o
afeto à família, ou ainda, em filia (a amizade), ou até mesmo ágape e assim,
sucessiva ou inversamente.
Para Schoppenhauer (2001, p. 12), “contentarmo-nos com a felicidade, o
bem-estar e o prazer de outro, mas isto é secundário e mediado pelo fato de que,
antes, seu sofrer e sua carência nos perturbaram”. E, em razão desta perturbação,
ou simplesmente, da possibilidade de ela ocorrer é que agimos ou não de acordo
com a mais natural e pura moral. Para ele é a compaixão que nos move para
promover a ação moral, estamos:
catarse final. Para o homem compreender que sua mente é absoluta e carrega
dentro de si todos os arquétipos que possui a mulher amada e que nela busca, há
um estágio anterior que precisa ser superado. A consciência natural necessita de um
ingrediente para se transformar em absoluta: o amor.
É este ingrediente em sua intensidade máxima, ou seja, de só valer a pena a
vida, se for ao lado do ser amado que eleva o ser ao Absoluto. Porque, é neste
instante que, por uma catarse mágica, a consciência se dá conta de ser absoluta. E,
aí sim, livre das paixões e do apego do ser amado, escolhe ficar com ele ou não,
mas livre e consciente de que a plenitude almejada já estava latente dentro de si e é
independente das coisas e das pessoas a sua volta, pois todos fazem parte do
Absoluto.
4.5.9 Tolerância
1º sagrado x profano;
2º belo x feio;
3º justiça x injustiça;
4º verdadeiro x falso;
5º nobreza x vulgaridade;
6º agradável x desagradável.
a)Sócrates não deixa claro nenhum motivo pelo qual esse costume
deva ser parte do sistema social; b) quando vista como meio para
alcançar um fim (par o qual, diz-se no diálogo, o Estado Existe), a
proposta é inviável; c) em nenhum lugar é explicada a maneira como
a proposta pode ser posta em prática. Refiro-me à seguinte fala de
Sócrates:” “É melhor que o Estado cresça na unidade”. Certamente
isso não é verdade. O estado que se tornar progressivamente uma
unidade deixará de ser Estado. A pluralidade, neste caso, é natural; e
quanto mais o Estado se afastar da pluralidade, em direção à
unidade, menos Estado será e mais próximo estará de uma família,
que por sua vez tornar-se-á um indivíduo. Digo isso porque a família,
está claro, é mais unidade do que o Estado, assim como o indivíduo
o é em relação à família. Assim, mesmo que fosse possível realizar
essa unidade, ela não deveria ser feita, pois destruiria o Estado.
98
Assim, por mais linda, romântica e idealista que fosse a ideia de Platão, que
em muito se assemelha à ideia cristã de que todos somos irmãos e irmãs, na prática
esta ideia não se aplica, pelo menos ainda. Não se aplica porque o que move o
mundo do ser humano para a eternidade é justamente o amor entre um pai/mãe e
um filho. Todos foram cuidados em algum berço, bom ou ruim, mas foram
amamentados, tiveram suas fraldas trocadas, cuidados quando estavam doentes, e
isso foi feito por um ou mais genitores, ou por aqueles que fizeram este papel.
Especialmente na atualidade, quando as instituições perderam muito seu
valor, é difícil alguém morrer pelo Estado, pela Igreja, ou por uma ideia, mas pelo
filho certamente a maioria dos pais e mães morreriam.
O art. 226 da Constituição Federal reconhece que a família é a base da
sociedade, o que corrobora a ideia aristotélica da Política, sendo, pois, a base
fundamental da sociedade e consequentemente do Estado. Sem a família a
sociedade ruiria e colocaria fim ao Estado. Essa grande relevância da família,
considerada em sua maior parte constituída pelo casamento, leva-nos a extrair um
dos princípios do casamento — o da perenidade da família.
É através deste princípio que se percebe que a família não tem fim como
instituição. Também no campo concreto de uma família específica, vê-se que ela só
tem fim com a morte de todos os seus membros. É a existência de dois ou mais
seres humanos consanguíneos até quarto grau, que se pode considerar como sendo
família, e, portanto, dificilmente uma família tem fim. Mesmo porque, ainda que
99
sobreviva apenas um membro, este poderá se juntar a outro e juntos formarem uma
nova família, mantendo, evidentemente, parte do DNA da família que o originou.
O vínculo jurídico decorrente do casamento não se extingue totalmente com a
separação. Mesmo não tendo filhos, os cônjuges são obrigados a assistirem-se
mutuamente para o resto de suas vidas. A obrigação é vitalícia. Ainda que tenha
havido o divórcio e ambos tenham constituído novos casamento e outras famílias, ou
tenham tido outros filhos, o vínculo com o primeiro cônjuge não se extingue e o
dever de prestar alimentos continua.36
É bem verdade que esse dever pode ficar suspenso enquanto o cônjuge
separado mantiver um segundo convívio, porém tal obrigação é reestabelecida
quando esta relação cessa e o ex-cônjuge necessita do auxílio (ainda que tenha
havido separação litigiosa e o necessitado tenha sido o culpado art. 1704, parágrafo
único37 do Código Civil).
Agora, quando dessa relação nasce(m) filho(s) a condição de perpetuidade da
família é ainda mais reforçada: o cônjuge divorciado continuará a ser o pai ou a mãe
do filho do casamento desfeito. Por mais que as separações tenham uma forte carga
emocional, o vínculo entre o pai e a mãe não se dissolve, nem mesmo com a morte
do filho.
Ademais, o casamento no Brasil não admite prazo determinado. Não é
possível efetuar um casamento com prazo para terminar. Podem-se estabelecer
cláusulas que prevejam hipóteses de ruptura, suas formas e consequências. Mas
não se pode firmar um casamento com prazo determinado.38
O dever de prestar assistência permanece enquanto dura o matrimônio, e
mesmo após a sua dissolução por toda a vida, caso o cônjuge dele necessite e o
outro possa pagá-lo. Seja o casamento um contrato ou uma instituição, é uma
36 ALIMENTOS. Exoneração. Separação de fato. Filho com outro homem. — O fato de a mulher ter
um filho depois da separação do casal não é motivo suficiente para a exoneração da pensão
alimentar, se não concorrerem outros fatores. Precedentes: REsp 21.697/SP; REsp 11.476. — O
nascimento de filho havido com outro homem, fato ocorrido há mais de trinta anos e união da qual
não resultou convivência duradoura, não pode servir de fundamento para o pedido de exoneração
dos alimentos que o marido presta à mulher desde quando se separaram. Mulher com setenta anos,
sustentada pelo marido há meio século, com dificuldade de visão e sem outra renda, não pode ser
privada da pensão pela única razão do nascimento daquele filho. Recurso conhecido e provido (STJ -
REsp 300165 / RJ).
37 Art. 1704. [...] Parágrafo único: Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e
não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será
obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável para a sobrevivência.
38
O direito islâmico autoriza o que eles chamam de o casamento por prazer, este sim, com prazo
determinado chamado de mut'ah, sighe ou misyar.
100
relação que surge para durar a vida toda e essa é a intenção que deve ser
enaltecida no momento do seu estabelecimento: sua perenidade.
O casamento traz em si uma face institucional, e, portanto, representa a
família também no âmbito institucional. Cada dupla de seres humanos que se unem
em um casamento está colaborando para eternizar a ideia de família. Embora seja
um ato de vontade individual, o casamento tem toda uma repercussão social. Não
são apenas os noivos que torcem e vivem as emoções, boas ou ruins, do
casamento, mas também todos que estão a sua volta e, com isso, a felicidade de um
casamento influencia a felicidade da sociedade.
Se o casamento traz os seus caracteres do passado, pelos rituais e
significados de cada cultura, ele reforça, ainda que faça algumas modificações, a
tradição, levando-a para o futuro, para a eternidade.
Cada casal que se une legalmente não está apenas adotando um método ou
um símbolo particular para a sua vida, mas sim um hábito cultural que vem sendo
construído pelo passado das tradições humanas e, ao mesmo tempo, reforçado e
projetado para o futuro. A responsabilidade da ligação não está adstrita ao
casamento frente aos cônjuges ou aos seus filhos, mas também frente a toda a
humanidade, e, por essa razão, também deve ser considerado como regido pelo
princípio da perenidade da família.
101
qual existe um eu observador (ainda que construtor do mundo) e um mundo que são
os objetos e os seres que estão a sua volta. O ser humano considera como limite de
sua alma, os próprios limites do corpo e interage com o Universo, dentro destes
limites.
O amor é um sentimento que faz o ser humano perceber que a alma não tem
os mesmos limites do corpo. O amor transcende o corpo no ser amado. O amor
expulsa o ser humano da compreensão limitada que tem de si, e se lança no espaço
do outro, como se pudesse entrar na própria epiderme do outro. Ao mesmo tempo, o
amor recepciona a parte imaterial do outro dentro da sua. Se os corpos podem se
encaixar, com alma há uma fusão, não um encaixe. É a entrega total, mas também a
receptividade total.
No primeiro estágio deste processo de fusão de almas, no movimento do
homem até a mulher, ele busca Eva, o seu primeiro arquétipo feminino. Eva é a
mulher que impulsiona o homem pela força instintiva e natural de reprodução da
espécie. Ele quer procriar, conscientemente ou não, e, por isso, precisa achar uma
fêmea, pois é através desta união que ele, como macho, poderá gerar filhos. O
enorme prazer dado pela natureza ao ato sexual mostra a sua vontade de se manter
viva e de se eternizar. O prazer não é a finalidade do ato sexual em sua concepção
natural. O prazer é um chamariz, um artifício que a natureza criou, para atrair os
gêneros opostos para realizarem este ato que perpetua a espécie. Eva, portanto, é a
primeira mulher, o estágio mais primitivo dentro do arquétipo feminino do ser
humano em sua parte imaterial. Eva é a mulher que garante a perpetuação da
espécie.
Ao encontrar Eva, o ser humano pode refinar sua escolha e procurar Helena,
que é o segundo estágio, um pouco mais sofisticado, pois agora não basta que seja
apenas uma fêmea, mas sim uma mulher com belos traços estéticos e cuja relação
tenha certo romantismo. Se Eva representa a perpetuação da espécie, Helena
representa a melhora da espécie. Porém, nesta fase, o ser humano já não está
apenas preocupado com a perpetuação e melhora da espécie, mas sim em obter
certo prazer sexual e mantê-lo. Além disso, Helena é representada por Jung, como a
descrita por Fausto, aquela em que ele primeiramente a reconhece no espelho e se
encanta por sua beleza e que o arrebata de tal maneira que ele pede ajuda a
Mefistófeles (que faz o papel da sombra) para sua conquista. Embevecido por este
amor, o ser humano pode fazer loucuras para encontrar Helena, para tê-la em sua
103
companhia. Mas enquanto está com Helena, o ser humano ainda se encontra no
estágio de consciência relativa, percebendo ela como um outro ser humano
separado dele, um ser que lhe esquenta a sua alma e seu corpo, atende os seus
prazeres sexuais (afrodisia) e que lhe faz completo, pelo menos por algum tempo.
Ou seja, o homem precisa da mulher neste estágio, para se sentir completo. Sem ela
ele é incompleto e infeliz.
É comum que, quando a mulher não dá mais este espelho de Helena para o
homem, ele procure outra mulher para tal fim. Helena é fácil de encontrar. Há muitas
Helenas espalhadas pelo mundo. Muitos rostos bonitos e curvas perfeitas que
podem dar este espelho ao homem. Inclusive as cortesãs e as prostitutas podem
fazer este papel. O homem, quando está com Helena, se sente forte, poderoso, tem
sua autoestima elevada e fica feliz.
Em todo este processo surge a importância crucial das regras e dos princípios
matrimoniais. O direito, por meio das dez normas vistas neste trabalho, pode ajudar
o ser humano a manter o foco, seguindo o mesmo rosto anteriormente escolhido,
consciente ou inconscientemente para transcender. O direito aqui representa a
limitação do desejo, o sacrifício dos prazeres sensíveis, a canalização de eros. As
margens que impedem eros transbordar, mas que dão o contorno e a força
necessária para o rio chegar ao mar. Neste estágio de Helena, o ser humano pode
cumprir o direito, especialmente a regra da fidelidade, mas é tarefa difícil. Sabe que
é bom e verdadeiro, mas muitas vezes age de forma contrária a ele. Mas se amou
intensamente Helena, o homem pode encontrar o terceiro arquétipo que é a Maria.
Se existem várias Helenas, ou seja, várias mulheres bonitas Virgem Maria é
uma só. A Virgem Maria é o terceiro estágio da anima dentro do homem. Nela, a
mulher passa a ter uma conotação sagrada. Nesta fase, o homem é inferior à
mulher, pois ela é sacra. Ele é o devoto e ela a santa. A vida dela é mais importante,
muito mais importante, do que a própria vida dele. A felicidade de Maria é
infinitamente mais importante do que a felicidade do homem que a ama. Tudo é para
ela, ainda que nada fique para ele. Neste momento, já é mais fácil atender as
limitações do direito, como no estágio anterior. Aqui as regras e os princípios do
matrimônio são cumpridos de forma mais pacífica pela alma, pois a amada é
sagrada, inviolável, santa e aquela intensidade do amor, acalma o ser e o faz
deslumbrar apenas por um rosto e por suas curvas, sem ter olhos para outras.
104
Este Absoluto não pode ser expresso em conceito, mas somente sentido e
intuído (HEGEL, 1999, p. 298), no êxtase do espírito que sente encontrar-se consigo
mesmo, em uma realidade que já existia desde o início, mas que dela não tinha
consciência. Não convém nomear o Absoluto (TOMÁS DE AQUINO, 1973, p. 109),
justamente porque, ao nomeá-Lo, é travado um diálogo relativo no qual Ele é o
objeto e há um observador externo ao objeto, o que não se concebe no Absoluto. O
Absoluto deve ser sentido, intuído, inominado, inexplicável. Não há nada fora do
Absoluto.
O Absoluto pode ser comparado ao mar, como fez Gibran Khalil Gibran, onde
a consciência relativa faz a função do rio, que, entre curvas, rochedos, planícies e
planaltos, vai ao encontro do mar, querendo ou não, consciente ou não do processo
que culmina com o fim do rio, que une suas águas doces ao mar salgado. Onde
termina o rio? Podemos definir, apenas por uma questão de forma, e para facilitar o
diálogo, que ele termina onde acabam as suas margens. Mas a água que fazia parte
do rio agora desemboca no mar. A água se funde ao mar e, portando, é correto dizer
que parte do rio também está no mar, e o rio não acabou quando terminaram suas
margens.
Da mesma forma, a flor, quando surge, substitui a forma de botão que tinha
anteriormente, mas guarda dentro de si alguns elementos do botão. O fruto também
faz o mesmo com a flor. Onde termina um e começa o outro é definição da
linguagem. Da mesma forma com os corpos. Onde começa um homem e termina
também é uma definição da linguagem. Dizer que o homem termina em sua
epiderme seria limitá-lo ao seu aspecto material, da mesma forma que seria dizer
que a água do rio termina onde ele termina.
Mas o homem não é somente o corpo. Ele tem a parte imaterial que não tem
limites definidos pela linguagem, e está em movimento, ainda quando o corpo está
dormindo e parado. Quando o ser humano se comunica ele dá um pouco de si para
o outro e, também, recebe um pouco do outro para si. Quando ama e é amado, esta
comunicação é ainda mais intensa com a fusão de almas. Nesta fusão são mantidos
os aspectos individuais do ser humano, mas criam-se outros, fundidos um ao outro,
comuns a um e ao outro. E estes aspectos não estão limitados pela epiderme. Os
pensamentos de um influenciam os pensamentos do outro, de forma que, muitas
vezes, é difícil definir onde termina um e começa o outro. E esta fusão, na
intensidade máxima que o amor permite, pode levar o homem a encontrar este
106
aspecto profundo de sua parte imaterial, onde terminam suas angústias, suas
ilusões, onde reside e tem consciência o Absoluto.
Esta mudança de consciência natural para a absoluta pode se dar através do
casamento, mediante o processo de individuação, superando os seus arquétipos
femininos, Eva, Helena, Maria e Monalisa (ou Sophia, sabedoria), e sua sombra
como aqui descrito. A sombra representa aquilo que muitas vezes comanda nossas
ações, mas que não nos damos conta, e principalmente tudo aquilo que o ser
humano não conhece dentro de si. O ser humano precisa da sombra para conhecer
melhor a si mesmo, ela faz parte dele. São os vícios, os impulsos negativos, que, se
negados, segundo Lacan, são reforçados. São os instintos mais primitivos, os que
aproximam os seres humanos dos animais, que precisam ser compreendidos e
aceitos para se chegar ao Absoluto.
Se havia alguma dúvida com relação à necessidade de estipulação de regras
para o casamento, este processo, apresenta a solução desta dúvida. Não é razoável
que um cônjuge busque um juiz para definir uma indenização por dano moral, por ter
sido desrespeitado pelo outro cônjuge. Muito menos, que um juiz obrigue um marido
a dormir na mesma casa que a mulher, por ser esta a obrigação do casamento.
Também, na hipótese de vontade mútua de manutenção do casamento, não é
razoável, nem muito menos eficaz, que ambos procurem um juiz para que ele os
obrigue a amar um ao outro ou serem mutuamente fiéis. Mas todas estas regras do
matrimônio, selecionadas aqui e nomeadas como os dez mandamentos do
casamento, funcionam como elementos de um ritual mágico para que o casal
chegue ao Absoluto.
Importante se faz ressaltar, mais uma vez, que a realização do homem, que
atravessa os três primeiros estágios da anima, Eva, Helena e Maria, para encontrar
Sophia, pode se dar, mesmo com o descumprimento destas regras, porém, é mais
difícil. Ulisses talvez tivesse passado pelas sereias, sem ter seguido as orientações
do Oráculo. Entretanto, pelo que conta a história, só o fez porque seguiu as
instruções. Da mesma forma, a consciência absoluta por meio do casamento, neste
caminho do homem em direção da mulher, tem determinadas regras, que podem
não ser seguidas, mas seguindo-as parece ter mais êxito.
Mesmo porque, o encontro com o Absoluto traz uma euforia atrelada a uma
certa decepção. Euforia porque o homem tem contato com a eternidade, aquilo que
não é limitado pelo espaço, nem pelo tempo, ele se identifica com o Universo, e
107
6 CONCLUSÃO
PÓSFACIO
Vi muitas pessoas.
E encontrei uma.
Decidi ficar com ela e abri mão de Você, por mais maravilhosa que Você
pudesse ser.
Mas sua presença continuou sentida. Parecia que a minha escolha não havia
sido definitiva.
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