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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CÂMPUS GOIÁS
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA

EXPLICAÇÃO DE TEXTO FILOSÓFICO:


PREFÁCIO DA
CRÍTICA DA RAZÃO PURA - IMMANUEL KANT

CIDADE DE GOIÁS
MAIO, 2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CÂMPUS GOIÁS
CURSO LICENCIATURA EM FILOSOFIA

EXPLICAÇÃO DE TEXTO FILOSÓFICO:


PREFÁCIO DA
CRÍTICA DA RAZÃO PURA - IMMANUEL KANT

Trabalho apresentado por José Octávio Abramo ao


curso de Licenciatura em Filosofia e à disciplina de
Leitura e Produção de Textos Filosóficos,
ministrado pelo Prof. Dr. Cícero Josinaldo da Silva
Oliveira.

CIDADE DE GOIÁS
Pretendemos neste trabalho, explicar o nosso entendimento sobre o prefácio da
segunda edição, de 1787, da Crítica da Razão Pura.
Para tanto nos detivemos apenas ao texto, sem consulta de outras obras ou
opiniões, tentando mesmo desconsiderar quaisquer preconceitos ou análises sobre a obra,
inclusive as já estudadas.
Certamente este esforço será desastroso.

Como podemos, de fato e indiscutivelmente, conhecer algo? Essa pergunta, em


vários aspectos, pode nunca vir a ser totalmente respondida mas, ao menos em seus
aspectos teóricos, certamente a foi por Kant em sua Crítica da Razão Pura, um divisor de
águas da Filosofia Moderna, publicado em 1781, com sua segunda edição em 1787, sendo
desta segunda edição o prefácio tratado.
Kant propõe que somente o resultado sobre qualquer conhecimento oriundo da
razão, permite verificar se sua elaboração segue ou não a via segura da ciência. Ou seja,
um conhecimento que, mesmo com profundos argumentos, não se esclarece, ou ainda
retorna ao ponto inicial, ou não é unânime e possível de ser replicado por vários
estudiosos, certamente não é ciência mas algo irrefletidamente proposto.
Dessa forma ele percebe que a lógica é bem sucedida como ciência pura pois desde
a Antiguidade ela é praticamente imutável, não refutada e, se houveram pequenas
alterações em sua pesquisa, isso se deu mais para aprimoramento da forma que do
conteúdo. Mais ainda a lógica, singularmente, prescinde de quaisquer objetos para seu
estudo o que não ocorre com a razão ao analisar os fenômenos. Kant determina que a
matemática e a física são conhecimentos científicos puros pois determinam a priori seus
objetos de estudo. Entretanto ele percebe a matemática seguramente dessa forma pura e
a física apenas parcialmente por necessitar de outras formas de conhecimento que não
apenas a razão. A matemática, na Grécia antiga, foi determinada de forma pura, sem
possibilidade de refutação sendo o conhecimento a priori dela maior que o da física por
não depender de nenhum fator externo ou natural para seu estudo. No exemplo do
triângulo isósceles que Kant dá, creditado a Tales de Mileto, ele reconhece a “iluminação”
do filósofo e matemático grego que percebe não ser necessário ver ou mesmo ter o
conceito da figura para, utilizando apenas seus conceitos a priori dela, poder construí-la
e dessa forma estabelecer, matematicamente e de maneira irrefutável, sua fórmula. A
física, entretanto, precisa, além desses conceitos puros, da experimentação empírica.
Asim Kant percebe a necessidade de se forçar a natureza e não ser apenas guiado por ela.
Dessa forma ele vê essa revolução no pensamento, no caso da física, como a forma que a
fez uma ciência pura, ao não apenas imaginar mas utilizar a razão ao procurar na natureza
o que dela se queria e assim aprender o que não seria possível por outra via segura.
"O destino não foi até hoje tão favorável que permitisse trilhar o caminho seguro
da ciência à metafísica,..." (KANT, 2001, p. 44). Assim a metafísica, mesmo sendo a mais
antiga e certamente a última a sobreviver entre todas as outras ciências, jamais trouxe
resultados comprovados e permanentes. Kant propõe então o famoso giro copernicano no
estudo. Não mais o objeto seria o centro do estudo mas nossos conhecimentos e
capacidades cognitivas, a priori ou empíricas, determinariam seu estudo. A Crítica
propõe um novo método e não um sistema científico. Propõe a maneira correta de se
expôr o objeto de estudo e delimitar a forma de entendimento metafísico. Kant ressalta
que esses objetos de estudo metafísicos, como Deus, a alma imortal ou a liberdade podem
ser pensados como coisas em si mas não conhecidos como coisas em si. Entendo aqui
uma concessão do filósofo ao abstrato que, mesmo por natureza abstrato, ainda é pensado
e tem sua importância para nós, desde os primórdios da humanidade.

"Se, porém, a crítica não errou, ensinando a tomar o objeto em dois


sentidos diferentes, isto é, como fenômeno e como coisa em si; se
estiver certa a dedução dos seus conceitos do entendimento e se, por
conseguinte, o princípio da causalidade se referir tão-somente às coisas
tomadas no primeiro sentido, isto é, enquanto objeto da experiência e
se as mesmas coisas, tomadas no segundo sentido, lhe não estiverem
sujeitas, então essa mesma vontade pode, por um lado, na ordem dos
fenômenos (das ações visíveis), pensar-se necessariamente sujeita às
leis da natureza, ou seja, como não livre; por outro lado, enquanto
pertencente a uma coisa em si, não sujeita a essa lei e, portanto, livre,
sem que deste modo haja contradição." (KANT, 2001, p. 52)

Ao admitir que não há contradição entre o modo sensível e o intelectual, Kant


demonstrou a nossa ignorância em relação a coisa em si que não pode ser reduzida a
"algo". Assim ele percebe que ao suprimir o saber para dar lugar a crença, mantendo o
dogmatismo da metafísica e sem sua crítica, isso apenas manteria o pressuposto da
incredulidade quanto à ela e, pior, mantendo um suposto entendimento do que não é
entendível. Nesse ponto, é perceptível a crítica que Kant faz da Academia ao expôr se as
"provas" metafísicas da escola alcançam o público em geral e se o correto não seria a
busca de provas concretas ao invés de se manter um intelectualismo em detrimento do
conhecimento comum. Assim ele afirma que somente a Crítica poderia acabar com essa
questão, não ao se opor ao procedimento dogmático da razão mas ao dogmatismo que
uma filosofia dita pura. "A crítica é antes a necessária preparação para o estabelecimento
de uma metafísica sólida fundada rigorosamente como ciência, que há-de desenvolver-se
de maneira necessariamente dogmática e estritamente sistemática..." (KANT, 2001, p.
57).
Ao final do prefácio da segunda edição da Crítica, Kant afirma, sem modéstia, a
mesma ser um trabalho que perduraria por muito tempo, sendo que estudiosos ao se
debruçarem nela, poderiam talvez simplificá-la, mas não refutá-la, no máximo não
compreendê-la. Estava certo.

Concluímos portanto, que Kant tenta “formatar” uma maneira de conhecimento,


buscando seguir a “via segura da ciência”, mas percebe que a metafísica estaria além
desse entendimento. Mesmo assim seria impossível refutá-la pois, ao pensarmos em algo,
mesmo sem o objeto (fenômeno) ser possível racionalmente, o mesmo não deixaria de
existir.

REFERÊNCIAS

KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad. Manuela Pinto dos Santos e
Alexandre Fradique Morujão. Lisboa, PT: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

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