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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CÂMPUS GOIÁS
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA

SEGUNDA PRODUÇÃO TEXTUAL


Análise reflexiva a partir de questão estruturada:
o individualismo liberal de Locke e o comunitarismo de Rousseau.

CIDADE DE GOIÁS
NOVEMBRO, 2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CÂMPUS GOIÁS
CURSO LICENCIATURA EM FILOSOFIA

PRIMEIRA PRODUÇÃO TEXTUAL


Análise reflexiva: o absolutismo de Hobbes e o liberalismo Locke

Trabalho apresentado por José Octávio Abramo


(matrícula: 202001540) ao curso de Licenciatura em
Filosofia e à disciplina de Filosofia Política I,
ministrado pelo Prof.º Dr.º Cícero Josinaldo da Silva
Oliveira.
CIDADE DE GOIÁS
ROTEIRO PARA O TRABALHO
As filosofias políticas de John Locke e Jean-Jacques Rousseau integram de forma
bastante peculiar e decisiva a tradição moderna de pensamento jusnaturalista.
Apesar dos autores partilharem a moldura geral ou o quadro teórico característico
dessa linha de pensamento, a saber, as noções de estado de natureza, pacto social e
Estado civil, elas se desdobram em concepções antagônicas de Estado e de sociedade,
respectivamente fundamentadas nas perspectivas liberal e comunitária. Reconstrua
brevemente os traços principais dessas concepções políticas identificando e
comparando as diferenças que estruturam o referido antagonismo. Para esta análise
comparativa, considere o seguinte itinerário:
• Os fundamentos do pacto social ou as exigências constitutivas da vida em
comum e o objetivo da associação/Estado;
• A relação entre o povo e o poder político;
• Sentido do individualismo liberal de Locke e do comunitarismo de
Rousseau.

Para esta atividade vou considerar meu entendimento sobre os textos e aulas,
evitando, se não excluindo, qualquer citação direta ou indireta. Penso esta forma ser a
mais coerente para mim pois, mais que apresentar citações exaustivamente conhecidas,
prefiro uma interpretação pessoal desses autores e textos e, assim, após a correção,
perceber o meu grau de absorção desse conteúdo.
Locke e Rousseau partem de premissas jusnaturalistas próximas, de que o homem
em seu estado natural não seria mau e belicoso como proposto por Hobbes, mas viveria
em liberdade, igualdade e razoável paz. Locke propõe desde então o direito, concedido
por Deus (ou pela Natureza), da propriedade de tudo o que a terra oferece. Se, com meu
trabalho, acumulo e consumo, é meu. Se retiro algum material da natureza e o beneficio,
com meu esforço e engenhosidade, esse objeto transformado também é meu. Mas, se não
consumo a totalidade do produto do meu trabalho, então estaria agindo em prejuízo aos
demais e mesmo roubando deles. Até aí a teoria lockeniana, a meu ver, parece justa e
correta, mas, posteriormente, Locke, de forma bastante facciosa, irá justificar o acúmulo
de bens e a desigualdade entre os homens. Ele determina que essa desigualdade seria
normal e mesmo aceita tacitamente e mais, com o advento do dinheiro, o excedente do
que possuo ou produzo, para não se perder e dessa forma prejudicar aos outros, poderia
ser vendido e essa riqueza acumulada ad infinitum. Assim não haveria nada imoral em se
acumular maçãs, bolotas, bitcoins ou ações do Banco Itaú, mesmo que meu vizinho esteja
passando fome.
Rousseau, com proposta parecida quanto ao estado natural no qual o homem é
intrinsecamente bom e piedoso, percebe já em seu Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens de 1754, que a desigualdade se inicia
justamente quando do pacto social pois o mais forte e poderoso irá, certamente, subjugar
e explorar aos seus inferiores. Condição que persiste e se agrava desde então, atingindo
no século XVIII seu ápice para o filósofo. Ele também considera que a família se
organiza, após o desenvolvimento e independência dos filhos e em se mantendo seus
membros unidos, como o germe da sociedade civil, sua primeira expressão.
Ambos os pensadores consideram o pacto social a partir do momento em que os
homens primeiro se reúnem em comunidade para somente então definir o estado, um ato
em dois estágios, diferentemente de Hobbes que parte do povo já definindo seu soberano
absoluto. Locke e Rousseau consideram o povo senhor absoluto no pacto social e que
esse pacto sempre será benéfico, sendo que a privação da liberdade natural individual será
sobrepujada pelos benefícios e pela força adquiridos em conjunto e que meu direito
individual de justiça e punição deve ser substituído por uma organização política
sustentada pelo legislativo e executivo. Para o primeiro, a principal função desse corpo
político seria a preservação e proteção da propriedade, para o segundo seria a proteção da
vida, liberdade e igualdade entre os homens. Porém mais diferenças começam a partir de
então. Como dito, para Locke a função do pacto social é proteger a propriedade, entendida
como a vida, a liberdade e os bens e propõe então esse corpo político, que se forma em
um acordo com todos os participantes da comunidade que irão, em maioria, abdicar de
seus poderes naturais e decidir quem pode agir em nome de todos, legislando e
executando as leis. Dessa forma Locke propõe que essa escolha, por maioria absoluta,
delega ao corpo legislativo e executivo o poder de decisão sobre todos, sendo a
preservação e proteção da propriedade sua principal, se não única, função. O estado
apenas existe para a preservação dos direitos naturais individuais e de suas posses e
mesmo da desigualdade dessas posses. A propriedade é assim intocável em qualquer
hipótese. Ele também irá definir o poder federativo, que irá decidir questões
internacionais para o povo, porém acredito de menor importância para o entendimento de
sua filosofia política e portanto não vejo necessidade de aprofundamento.
Rousseau por sua vez irá pensar esse pacto social como uma maneira de proteger
seus indivíduos e suas posses, com a soma das forças de cada um, mas protegendo a
liberdade individual, uma forma muito mais radical no sentido da igualdade. Para ele,
cada um renunciaria em nome da coletividade de tudo que possui, até mesmo de sua vida,
em benefício de todos, isso seria a cláusula de alienação total. Assim, se todos se dão para
todos, ninguém é prejudicado e todos estão em perfeita igualdade, num só corpo político,
moral e coletivo. Isso não significaria a perda das posses materiais individuais ou mesmo
da vida de forma arbitrária mas, caso o soberano, que é o povo, decidir que para o bem
da coletividade uma posse ou a vida de um indivíduo é necessária, assim será. O
legislativo, poder supremo e soberano desse corpo político, é o povo e somente o povo,
não podendo delegar, de forma fiduciária, esse poder a quem quer que seja. Dessa forma
o povo, para Rousseau, seria passivo enquanto Estado e ativo como soberano. O
legislativo, na teoria rousseana, poderia delegar somente os poderes executivo, judiciário
e federativo pois nada mais seriam que a execução das leis por ele estabelecidas, sendo
elas também o limite do poder soberano. Por fim, Rousseau imagina a figura do
Legislador, um ser tão elevado e perfeito cuja função seria, não de legislar, mas de indicar
e conduzir o povo, ignorante, a melhor legislar. Figura um tanto quanto improvável,
convenhamos.
Comparar o liberalismo individual de Locke ao comuni(tari)smo de Rousseau
seria comparar argila com manteiga, ambas ao toque podem ser parecidas mas as
semelhanças encerram aí. É óbvio que tanto um quanto outro são fundamentais para a
política das sociedades democráticas atuais, assim como foram para as mudanças políticas
de seu tempo. Infelizmente Locke parece hoje em dia vitorioso sobre Rousseau, e o
neoliberalismo conseguiu a proeza de aprofundar as desigualdades normalizadas por
Locke e devem, pelo andar da carruagem, conseguir também a proeza de nos encaminhar
para uma possível extinção. Num mundo ideal Rousseau seria vitorioso. Mas não vivemos
num mundo ideal.

REFERÊNCIAS
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil e outros estudos. Ensaio
sobre a origem, os limites e os fins verdadeiros do governo civil. Petrópolis/RJ:
Editora Vozes, 2001.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da


desigualdade entre os homens.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000053.pdf

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo/SP: Editora Nova Cultural


Ltda., 2000.

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