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perspectiva histórica
Recibido: 30-04-2022
Aceptado: 26-05-2022
Resumo
Neste artigo, abordamos o processo de construção da educação das relações
raciais a partir de uma perspectiva analítica que tem como elemento central a
história da educação dos negros, no Brasil. Dessa forma, construímos um percurso
que trata de diferentes momentos em relação ao processo de incorporação dos
negros à sociedade brasileira, especificamente o tráfico de africanos escravizados,
a abolição da escravidão e a constituição do movimento negro como sujeito
coletivo. Analisamos esses eventos procurando destacar seu significado
educacional e suas implicações na construção do movimento negro como um
agente transformador da sociedade. O ponto culminante da análise foi o processo
de aprovação da Lei 10.639/2003 e a construção de uma política pública voltada
para reconfiguração da educação das relações raciais. Destacamos esse processo
como uma das mais importantes transformações pela qual passou a educação
brasileira, sobretudo no que diz respeito ao reconhecimento da diversidade, o
combate ao racismo e às desigualdades raciais.
1
(mvfonseca@ufop.edu.br). Professor Associado III da Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP). Fez mestrado em educação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutorado
em educação na Universidade de São Paulo (USP). Entre suas publicações mais importantes estão os
livros A educação dos negros: uma nova face do processo de abolição do trabalho escravo no Brasil.
Editora da Universidade São Francisco (2002), População negra e educação: um perfil racial das
escolas mineiras no século XIX. Ed. Mazza (2009) e A História da Educação dos Negros no Brasil.
EdUFF, (2016), obra da qual foi um dos organizadores.
Araucaria. Revista Iberoamericana de Filosofía, Política, Humanidades y Relaciones Internacionales, año 25, nº 51.
Tercer cuatrimestre de 2022. Pp. 291-317. ISSN 1575-6823 e-ISSN 2340-2199 https://dx.doi.org/10.12795/araucaria.2022.i51.13
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Abstract
This article addresses the process of building racial relations education
from an analysis centered on the history of black education in Brazil. In this
way, it deals with different moments in relation to the process of incorporation
of blacks into Brazilian society, specifically the trafficking of enslaved
Africans, the abolition of slavery and the constitution of the black movement
as a collective subject. We analyze these events highlighting their educational
significance and their implications for the construction of the black movement
as a transforming agent of society. The high point of the analysis was the
approval of Law 10.639/2003 and the construction of a public policy aimed
at reconfiguration of education in racial relations. We highlight this process as
one of the most important transformations that Brazilian education has gone
through, especially with regard to the recognition of diversity, as well as the
struggle against racism and racial inequalities.
Introdução
2
Trataremos a história da educação dos negros como elemento central para o processo de
reconfiguração do padrão de entendimento das relações raciais, sobretudo a partir da aprovação da
Lei 10.639/2003. Não abordaremos aspectos relativos às populações indígenas. Contudo, trata-se
também de uma dimensão importante desse processo, aliás, como foi reconhecido pela aprovação da
Lei 11.645/2008.
Araucaria. Revista Iberoamericana de Filosofía, Política, Humanidades y Relaciones Internacionales, año 25, nº 51.
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O Brasil é um país que foi construído a partir de uma forte relação com
uma das instituições sociais mais perversas e cruéis que foram produzidas pelas
sociedades humanas: a escravidão. A escravidão está na base do processo de
construção da sociedade brasileira e esteve em pleno funcionamento entre os
séculos XVI e XIX. Na verdade, a escravidão pode ser contabilizada como uma
das instituições mais perenes na trajetória de constituição do país, ao longo de
seus mais de 500 anos de existência.
Uma das faces mais duras e impactantes do escravismo está vinculada ao
tráfico de africanos e suas consequências na África e na América, em particular
no Brasil. Isso pode ser plenamente visualizado naquilo que foi denominado
por Martins (2016) de tragédia demográfica:
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Quadro I
Tragédia Demográfica da Escravidão Moderna
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Segundo Klein (1987: 139): “No período de 1726 a 1769 (com alguns anos não considerados),
o total de crianças era de 9.871 e o de adultos 176.775, o que significa que as crianças de todas as
categorias representavam apenas 5% dos escravos trazidos ao Brasil.”
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O negro era o escravo e, para tal fim, chegou ele no Brasil. O jesuíta foi contra
a escravidão, mas não pôde vencer a sociedade da Colônia e da Metrópole
que, na escravidão, baseavam sua lavoura e economia. Por isso, o negro jamais
pôde ir a escola... mesmo depois da proclamação da independência e mesmo
com negros libertos, não lhes será, muitas vezes em mais de uma província,
permitido frequentar escolas (grifo adicionado).
A exclusão dos Moços pardos se justificou mais pelo número dos que entravam
que pelo mau exemplo que davam aos Brancos: era informado que muitos
procuravam melhorar a fortuna de sua cor na estudiosa aplicação com que
aspiravam excedê-los, e seria estímulo mui honesto para o procedimento dos
brancos a emulação dos pardos.
Gráfico 1
Número de Criança nas Escolas Mineiras – 1831 (por raça)
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Em 1871, essa situação foi alterada pela Lei do Ventre Livre, que impôs
mais um golpe à escravidão, determinando a liberdade das crianças nascidas de
mulheres escravizadas. Estava, assim, estancada a única fonte de introdução de
novos trabalhadores cativos no país, abrindo o caminho para que, em 1888, a
Lei Áurea estabelecesse o fim da escravidão.
Portanto, entre os anos de 1850 e 1888, encontramos o processo de
construção da arquitetura jurídica que, através de um movimento gradual,
acabou com a escravidão no Brasil. Em meio a esse processo, ocorreram
diferentes iniciativas ligadas à emancipação. Entre elas, destaca-se aquela que
estabeleceu a conexão entre abolição e as questões relativas à educação da
população negra.
Foi em meio aos debates sobre a elaboração da Lei do Ventre Livre
que as questões relativas à educação dos negros apareceram como elemento
constitutivo de um debate político. Nele, encontramos até mesmo aquilo
que poderíamos chamar de uma política para a educação dos indivíduos que
estavam saindo do cativeiro (Fonseca, 2002).
Isso porque, ao tomar a liberdade das crianças nascidas de mulheres
escravizadas como um elemento em prol da emancipação uma questão
fundamental se impôs ao debate: quem seria o responsável pela educação das
crianças que nasceriam livres? A mãe que continuaria escrava? Os senhores das
mães? O Estado?
O debate em torno dessa questão foi intenso e mobilizou políticos,
intelectuais, educadores e senhores de escravos. No confronto de ideias que
ocorreu no parlamento, encontramos diferentes propostas de encaminhamento
dessa questão. No entanto, todas elas caminhavam em direção a um consenso:
não era possível libertar as crianças sem que essas recebessem uma educação
adequada para viverem em liberdade.
A força desse consenso pode ser percebida até mesmo na ação dos que
eram contrários à lei de libertação do ventre que procuraram fazer da educação
uma justificativa para atacar o projeto. Estes alegavam ser impossível libertar
as crianças sem que essas fossem antes educadas. Um raciocínio como esse foi
apresentado pelo escritor e político José de Alencar, que, em 1870, era detentor
de um mandato de deputado pela província do Ceará. Dizia ele:
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A Lei do Ventre Livre vigorou entre os anos 1871 e 1888 e os dados relativos
a seu processo de execução revelam que o governo do Império desenvolveu
algumas iniciativas para o cumprimento de sua dimensão educacional.
Durante os anos 1870 e 1880, foram realizadas parcerias entre o governo
e associações que deveriam receber as crianças que não ficassem em poder
dos senhores de suas mães. Nas décadas de 1870 e 1880, encontramos o
registro das seguintes instituições: Asilo do Imperial Instituto Fluminense
de Agricultura (RJ), Asilo Agrícola Isabel (RJ), Estabelecimento Rural de
São Pedro de Alcântara (PI), Colônia Orfanológica Izabel (PE), Colônia
Orfanológica Blasiana (GO), Colônia Orfanológica N. S. do Carmo (MG),
Colônia Orphanologica Cristina (CE), Collegio de N. S. do Amparo (PA) e o
Instituto dos Educandos e Artífices (PA).
De acordo com dados do Ministério da Agricultura, em 1885 – ou seja,
mais de uma década após aprovação da lei – havia em todo o Brasil 403.827
crianças que nasceram dentro das condições jurídicas estabelecidas pela Lei
do Ventre Livre. De acordo com esse mesmo órgão, um número insignificante
dessas crianças foi entregue ao Estado em troca da indenização: apenas cento
e treze crianças.
Esses dados revelam que houve uma atitude sistemática dos senhores
de reterem as crianças em seu poder com objetivo de utilizá-las como
trabalhadores em condições muito próximas à escravidão. Assim, as discussões
e as iniciativas sobre educação que ocorreram durante a abolição não atingiram
seus destinatários originais, que, na verdade, permaneceram sob o domínio
dos senhores de suas mães em condições que fizeram deles escravos livres
(Fonseca, 2002).
Portanto, podemos considerar que, em meio ao processo de abolição do
trabalho escravo, manifestou-se uma consciência clara acerca da importância
da educação como fator de inclusão social. Isso emergiu como um consenso em
meio a vários setores da sociedade, que tinham clareza em relação à necessidade
de uma educação com características específicas para a vida em uma sociedade
organizada a partir do trabalho livre. De outro lado, manifestou-se também
iniciativas governamentais que tinham como destinatários indivíduos que
se encontravam em transição do cativeiro para o trabalho livre. Mas, essa
consciência e essas iniciativas encontraram limites nas ações dos escravistas,
que demonstraram capacidade de defender e impor seus interesses, relegando
aos negros a condição de uma inclusão marginal na sociedade organizada a
partir do trabalho livre.
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Quadro II
Organizações Negras Após a Abolição da Escravidão (1888-1980)5
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Esses dados refletem o estágio atual das pesquisas, principalmente aquelas que foram produzidas
a partir dos centros de investigação concentrados no Sudeste, que tendem a colocar em destaque as
ações que ocorreram em estados como São Paulo e Rio de Janeiro.
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Quadro III
Imprensa Negra no Brasil (1888-1985)
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Associações negras também abriram escolas, sendo que uma delas a Sociedade
Amigos da Pátria, de São Paulo, fundada em 13 de maio de 1908, era dirigida
por Salvador Luís de Paula, um negro ex-ativista do movimento abolicionista.
A escola chamava-se Progresso e Aurora. Não se têm maiores detalhes de
sua dinâmica interna. Contudo, o jornal paulista Progresso, em 23/9/1929,
informava que a escola era ‘mista’ e atendeu ‘mil e tantas pessoas’ durante dez
anos. (Domingues, 2009. p. 969)
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da inoperância do Estado, como até então havia sido a forma mais usual de
trabalho das organizações negras. O movimento negro passou a colocar em
primeiro plano a crítica quanto à discriminação racial presente nas escolas e
as reivindicações em relação à necessidade do Estado de oferecer educação
pública de qualidade para todos.
Um período importante para o aparecimento e a publicização dessas
questões foram os debates relativos à reforma constitucional, nos anos 1980,
que contou com uma ampla mobilização do movimento negro para incluir
elementos da luta antirracista entre os dispositivos constitucionais:
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Gráfico 2
Número Médio de Estudo - evolução por cohorte
Fonte: Henriques, 2001
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Considerações finais
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Referências Bibliográficas
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