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Imagine ter dificuldade para ouvir uma música, conversar ou até

mesmo escutar uma buzina no meio da rua e evitar um acidente?


A perda auditiva, ou seja, a diminuição da capacidade de perceber
os sons, é bastante comum na população. De acordo com a OMS
(Organização Mundial de Saúde), cerca de 466 milhões de pessoas
têm uma perda auditiva incapacitante, isto é, que compromete a
qualidade de vida e bem-estar do indivíduo. E até 2050, a
expectativa é que 900 milhões de indivíduos estejam nessa
situação.
"Estima-se que pelo menos 60 milhões de pessoas apresentam
perda auditiva no Brasil. Fatores genéticos e ambientais, tais como
exposição a sons altos e toxinas influenciam na progressão desse
problema", afirma Edson Ibrahim Mitre, presidente da SBO
(Sociedade Brasileira de Otologia). Vale destacar que a perda
auditiva possui diferentes graus: leve, moderado, severo e
profundo. No primeiro caso, a pessoa consegue ouvir e participar de
conversas, mas sente dificuldade de escutar sussurros, por
exemplo. Já no nível severo há perda da capacidade de
comunicação. Apesar de a perda de audição ser mais comum na
terceira idade, existem outras questões que a comprometem
durante a vida. São elas:
 doenças crônicas como hipertensão, diabetes, além de
doenças autoimunes;
 tabagismo - por interferir na circulação sanguínea do ouvido
interno;
 efeitos colaterais de medicamentos;
 traumatismos;
 inflamações crônicas no ouvido.
"Esses fatores de riscos levam a diferentes graus de perdas
auditivas. As doenças crônicas, por exemplo, podem causar
alterações metabólicas que danificam as células da orelha interna,
levando à perda de audição", destaca Hugo Leite,
otorrinolaringologista e professor da Unirio (Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro). Além disso, entre as causas adquiridas
destaca-se conviver por longos períodos em um ambiente com
ruídos excessivos, principalmente em locais de trabalho com
barulhos de máquinas, uso de motos ou em shows e eventos. Outro
fator que causa a diminuição da audição é a exposição a sons altos
de forma frequente com o uso de fone de ouvido.

Tipos de perda auditiva


Há vários tipos de perda auditiva que afetam um ou ambos os
ouvidos. Algumas pessoas têm mais de um tipo associado. Veja
detalhes:
Condutiva - ocorre quando há uma alteração mecânica e as
vibrações do som não passam do ouvido externo para o interno.
Geralmente, acontece devido a alguma "barreira" na entrada do
ouvido como excesso de cera, acúmulo de fluido, uma perfuração
no tímpano, infecções, entre outros motivos. Caracteriza-se por
apresentar uma sensação de ouvido abafado. É mais comum em
crianças na idade escolar.
Neurossensorial - é o tipo mais frequente e geralmente começa a
partir dos 50 anos. Ocorre quando o som não é processado
adequadamente e não chega no nervo auditivo. Acontece devido à
idade, por excesso de ruído, malformações congênitas e algumas
doenças.
Mista - é a combinação da perda auditiva neurossensorial com a
condutiva. Nesses casos, há uma alteração na condução do som e
também no nervo auditivo.
Sintomas mais frequentes
Geralmente, não há sintomas específicos. Na maioria das vezes, a
pessoa só percebe que tem um problema de audição quando já
existe algum grau de perda estabelecida. É possível que a pessoa
sinta dificuldade para ouvir conversas, a televisão ou precisa se
esforçar muito para entender o que os outros falam.
"Normalmente, a perda auditiva no idoso, por exemplo, só será
detectada por meio de exames específicos", explica Luiz Carlos
Sava, otorrinolaringologista e professor da Escola de Medicina da
PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Mas, algumas vezes, ocorrem sintomas associados, como zumbido,
dores de cabeça ou tontura. Vale ficar de olho se perceber que a
perda auditiva está interferindo nas atividades diárias, se é pior em
um ouvido ou se ocorreu de forme repentina.

O fone de ouvido é um dos vilões da audição?


Sim. O uso constante de fones de ouvido pode ser responsável pelo
aumento da perda auditiva. Nesse caso, o problema é conhecido
como perda auditiva induzida pelo ruído intenso.
Segundo a OMS, cerca de 1,1 bilhão de adolescentes e jovens
adultos estão em risco de comprometer a audição por usar
dispositivos pessoais de áudio, incluindo celulares. "O risco de usar
fone de ouvido e prejudicar a audição existe, pois o ouvido humano
não identifica o aumento da intensidade. Além disso, ao ouvir em
vias barulhentas o usuário pode aumentar ainda mais o som. Por
isso, é preciso bastante atenção", explica Sava.
Uma pesquisa realizada com crianças em idade escolar mostrou
que o uso de fones de ouvido pode estar relacionado com a perda
auditiva. Foram avaliados mais de 3.000 jovens entre 9 e 11 anos.
Os pesquisadores reforçaram os efeitos prejudiciais da exposição
frequente a sons altos por meio de fones de ouvido em tablets e
celulares.
Além disso, uma revisão de 26 estudos demonstrou que 58% dos
adolescentes e adultos jovens são expostos a níveis sonoros acima
do recomendado usando dispositivos pessoais com fone de ouvido.
Diagnóstico e opções de tratamento
Durante a consulta médica e após o relato de sintomas, o
especialista solicita exames para comprovar a perda auditiva. O
mais comum é o de audiometria, que avalia a capacidade de
audição e de reconhecer os sons.
O tratamento depende da causa e da idade do paciente. Após a
confirmação do problema, geralmente é indicado o uso do aparelho
auditivo. Eles são pequenos dispositivos colocados no ouvido para
amplificar os sons e ajudar a ouvir melhor.
Na maioria dos casos, não é indicada cirurgia. Mas há situações
que exigem procedimentos cirúrgicos como implantes de próteses,
reconstrução da membrana timpânica, implantes cocleares, entre
outros.
"A reabilitação auditiva, seja ela realizada por meio de cirurgia ou
próteses auditivas, deve ser feita quando o paciente possui uma
perda auditiva incapacitante. Hoje em dia há diversas opções como
aparelhos auditivos convencionais (AASI) menores, mais potentes,
permitindo maior praticidade, interatividade e conectividade que
visam melhorar a qualidade de vida", explica Andy Vicente,
otorrinolaringologista do Hospital CEMA (SP).
Quando há excesso de cera no canal auditivo, os médicos fazem a
remoção no consultório com instrumentos específicos. Se a perda
auditiva for causada por uma infecção, o especialista pode indicar
medicações.
Como lidar com a resistência ao aparelho auditivo
Estima-se que aproximadamente um terço dos adultos acima de 65
anos apresente algum tipo de problema de audição. E metade dos
idosos com mais de 85 anos tem perda auditiva. Nesses casos, ela
é conhecida cientificamente como presbiacusia e acontece devido
ao processo de envelhecimento do corpo e alterações físicas no
ouvido.
"É justamente porque o envelhecimento é um processo gradativo
que a perda auditiva instala-se lentamente, refletindo na diminuição
de células auditivas e de fibras do nervo auditivo funcionantes. Em
geral, começa a partir dos 60 anos, mas alguns indivíduos podem
manifestá-la a partir dos 50 anos", afirma Tanit Ganz Sanchez,
otorrinolaringologista e professora da USP (Universidade de São
Paulo).
Muitas vezes, o idoso não percebe que está com perda auditiva ou
"se acostuma" com a situação. Os familiares precisam se atentar
para os sintomas que aparecem no dia a dia e buscar uma
avaliação médica para averiguar se a pessoa não está escutando
bem.
Alguns idosos podem se recusar a usar o aparelho auditivo. Nesses
casos, os cuidadores encontram grande resistência e dificuldades
para lidar com a situação. De acordo com os especialistas
consultados por VivaBem, o idoso precisa entender o seu
diagnóstico e como a audição funciona. Vale reforçar para eles que
os aparelhos auditivos hoje em dia são muito pequenos e muitas
vezes é difícil perceber que estão sendo usados.
"Hoje existem diversos aparelhos modernos com recursos digitais e
de programação, além de um programa de acompanhamento e
apoio para obter o melhor benefício possível na adaptação. Além
disso, pode ser indicado o acompanhamento com um
fonoaudiológico pelo período necessário", explica Sava.
Em vários casos, o uso de aparelhos auditivos estimula os ouvidos
e o cérebro ao mesmo tempo. Um estudo mostrou que as pessoas
com perda de audição usuárias de aparelhos auditivos
apresentavam menos chances de ter depressão, demência e até
mesmo quedas. Sabe-se que manter o cérebro em estado de
privação de estímulos auditivos pode provocar a piora cognitiva.
"O aparelho auditivo age no tempo presente já que melhora a
compreensão da fala, da localização dos sons, do zumbido; e no
futuro ao diminuir o risco de progressão da própria perda auditiva e
também da memória", reforça Sanchez.
Segundo Leite, vale o esforço, pois a audição é um dos nossos
sentidos mais importantes. "Sem ela, não aprenderíamos a falar e a
comunicação fica muito prejudicada, o que leva a um grande
isolamento social, principalmente em idosos", completa.
Dicas para evitar a perda auditiva
É muito importante prevenir a perda auditiva desde a juventude. "A
principal recomendação é evitar a exposição a sons de alta
intensidade, quaisquer que sejam. Uma regra prática ao usar fones
de ouvido: se o seu vizinho escuta o som do seu fone, está alto
demais.
E trabalhadores em ambientes de ruído devem usar protetores
auriculares específicos que realmente atenuem os sons e protejam
os ouvidos", diz Mitre.
A seguir, veja algumas atitudes que contribuem para preservar a
audição:
 use protetores de ouvido em locais barulhentos;
 não ultrapasse a metade da potência dos fones de ouvidos e
não use por longas horas;
 evite a exposição prolongada a ruídos altos e música;
 procure tratamentos para infecções no ouvido; mantenha
diabetes e pressão arterial sob controle;
 nunca coloque objetos estranhos no ouvido;
 não se automedique para evitar efeitos colaterais que afetem
a audição;
 limpe com cuidado as orelhas e não use cotonetes para evitar
empurrar a cera para dentro ou machucar o tímpano;
 realize visitas regulares ao médico e faça exames preventivos
auditivos.
"Vale reforçar: quando surgir qualquer sintoma nos ouvidos, por
mais leve que seja, o melhor a fazer é procurar imediatamente o
otorrinolaringologista. Isso porque o tratamento precoce, em alguns
casos, pode reverter a perda auditiva e até evitar a progressão do
problema", finaliza Mitre.

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