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Textos de apoio: Bioética e Biodireito

UNIVERIDADE METODISTA DE ANGOLA

CAMPUS DA SAÚDE E DOS DESPORTOS/KINAXIXI

FACULDADE/CURSO DE DIREITO

TEXTOS DE APOIO:

BIOÉTICA E BIODIREITO

PROFESSORA: MANUELA CÂNDIDA GOMES DA VIEGA

LUANDA/2020
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Com a realidade da biotecnologia e da biomedicina, as pesquisas avançadas sobre o


ser humano e a aplicação dessas descobertas no homem fizeram surgir conflitos
jurídicos não imaginados pelo legislador, reclamando o nascimento de normas jurídicas
para solucionar tais situações, com a finalidade de proteger a vida, sem desacelerar o
progresso da ciência. Neste sentido houve a necessidade da junção entre as duas
áreas (ética e direito) do saber, para que se forneça aos estudantes, profissionais e
toda a comunidade de interesse princípios que contribuiu para uma reflecção, análise,
enquadramento legal, das acções e atitudes dos que trabalham em prol da preservação
da dignidade da pessoa humana.

Conteúdos Programáticos:

 Enquadramento da disciplina e a sua importância para a área do direito.


 Ética, bioética e biodireito:
o Conceitos e funções/papéis
o Importância
o Evolução conceptual da ética
o Pragmatismo e relativismo moral
o Kant e os princípios da acção moral
o As relações entre a ética/moral e o direito e a sua importância para o
biodireito
o Diferença entre a moral e ética
 Bioética
o Génese e desenvolvimento
o Diferentes momentos da bioética:
- Geral
- Especial
- Clínica
o Princípios da bioética:
- Autonomia
- Beneficência
- Não maleficência
- Justiça
- Proporcionalidade
o Ética e ciência (prós e contra)
 Bioética e biodireito e o respeito a dignidade da pessoa humana
 Correntes liberais e conservadores da bioética
o Enquadramento
o O titular da dignidade:
- O nascituro e o embrião
- Embrião no útero e in vitro
- A personalidade jurídica
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 O aborto:
o Noção geral – definições
o Tipologias:
- Espontâneo
- Induzido
- Ilegal
o Legislação constitucional e ordinária – punibilidade do aborto
o Visão internacional sobre o aborto
o A moralidade: aborto
 Anencefalia:
o Conceitos
o Argumentos favoráveis e desfavoráveis ao aborto do fecto anencéfalo
 Ética profissional:
o Conceptualização
o Importância e Vantagens da ética aplicada ao trabalho
o Exemplos de atitudes éticas
o O que fazer e não fazer no ambiente de trabalho

Metodologia

 Expositiva/dialogada
 Demonstração (apresentação de slides)
 Teórica e Debates sobre os temas programados

Sistema de avaliação

 Duas (2) frequência = 45% cada


 Outros elementos de avaliação: participação/intervenção nas aulas, assiduidade
= 10%

Obs: O sistema de avaliação será analisado e decidido em comum acordo entre o


professor e os estudantes.

Os conteúdos a serem ministrados, poderão ser ajustados caso algum tema


tenha pertinência para o aumento do conhecimento.

Bibliográfia:

1. Cortina, Adela, Etica Mínima, Tecnos, Madrid 2010;


2. Neves, João César, Introdução a Ética Empresarial, Lisboa, Principia, 2008.
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ENQUADRAMENTO:
Todo ser humano é dotado de uma consciência moral, que o faz distinguir entre certo
ou errado, justo ou injusto, bom ou ruim, com isso é capaz de avaliar suas ações;
sendo, portanto, capaz de ética. Esta vem a ser os valores, que se tornam os deveres,
incorporados por cada cultura e que são expressos em acções. A ética, portanto, é a
ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta humana.

Isso implica dizer que ética pode ser conceituada como o estudo dos juízos de
apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de
vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo
absoluto.

O bem é uma forma de vida que mistura inteligência e prazer. Para Baruch Espinoza
"el hombre que es guiado por la razón es más libre en el Estado donde vive según el
decreto común, que en la soledad donde sólo se obedece a sí mismo." Portanto, o
homem que vive pela razão, não vive guiado pelo medo, deseja fazer o que é melhor
para todos e através até mesmo das leis do Estado, viver livremente.

Ainda podemos definir a ética como um conjunto de regras, princípios ou maneiras de


pensar que guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar, as acções de um grupo em
particular (moralidade), ou, também, o estudo sistemático da argumentação sobre
como nós devemos agir (filosofia moral). A simples existência da moral não significa a
presença explícita de uma ética, entendida como filosofia moral, pois é preciso uma
reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais.

Existe uma profunda ligação entre ética e Filosofia: a ética nunca pode deixar de ter
como fundamento à concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total deste
como ser social, histórico e criador. Uma série de conceitos com os quais a ética
trabalha de uma maneira específica, como os de liberdade, necessidade, valor,
consciência, sociabilidade, pressupõe um prévio esclarecimento filosófico. Também os
problemas relacionados com o conhecimento moral ou com a forma, significação e
validade dos juízos morais exigem que a ética recorra a disciplinas filosóficas
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especiais, como a lógica, a filosofia da linguagem e a epistemologia. As questões


éticas fundamentais devem ser abordadas a partir de pressupostos básicos, como o da
dialética da necessidade e da liberdade. Assim, a história da ética se entrelaça com a
história da filosofia, e é nesta que ela busca fundamentos para regular o
desenvolvimento histórico-cultural da humanidade.

Etimologicamente o termo ética, deriva da palavra Grega “Ethos” – carácter, modo de


ser de uma pessoa.

O QUE É A ÉTICA?

 Conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na


sociedade.

 Forma de proceder ou de comportar do ser humano no seu meio social.

 Doutrina que estuda os juízos morais referentes a conduta humana.

 Virtude caracterizada pela orientação dos actos pessoais segundo os valores do


bem e da decência pública.

OBJECTIVOS DA ÉTICA

 Regular o comportamento do homem na sociedade;


 Equilibrar o bom funcionamento da sociedade;
 Ajudar o ser humano a realizar-se como pessoa.
 Pretender a perfeição humana.
As doutrinas éticas nascem e desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como
respostas aos problemas de:
 Relacionamento entre os homens;
 Pelo seu comportamento perante a moralidade;
 Mutação da sociedade.
As doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladas, mas dentro de um processo
de mudanças e de sucessão que constitui a sua história.
Pode-se dizer que todas as doutrinas estão interligadas e em conexão umas com as
outras.
Divisão do percurso das doutrinas éticas em correlação com a história:
 Ética grega: Sócrates, Platão, Aristóteles
 Ética cristã: São Tomás de Aquino, Santo Agostinho
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 Ética medieval: Nicolau Maquiavel,


 Ética moderna
 Ética contemporânea
Há um princípio histórico de que a ética teve a sua origem, na antiguidade grega,
através de Aristóteles, porém é possível identificar as primeiras abordagens com os
pré-socráticos, quando buscam entender as razões do comportamento humano.
“Podemos dizer, a partir dos textos de Platão e Aristóteles, que, no Ocidente, a ética ou
filosofia moral inicia-se com Sócrates”

 Sócrates (470-399 a.C.)


Ninguém prática voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso, ou seja,
só age mal quem desconhece o bem, pois o homem quando sabe o que é o bem,
reconhece-o racionalmente e passa a praticá-lo.
Ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e é um ser feliz.

 Platão (427-347 a.C.)


Subordinou a ética à metafísica (depois de, além de. Tentativas de descrever os
fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou princípios, bem
como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em geral).
Sua metafísica era do dualismo entre o mundo sensível e o mundo das ideias
permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituem a verdadeira realidade.
O Mundo Sensível é aquele onde se encontra a maioria das pessoas, aprisionadas do
mundo iluminado, onde somente podem ver sombras de imagens manipuladas por
outros, tanto na sua forma como na sua dimensão. O mundo das ideias (o dos
filósofos) é aquele onde o ser liberta-se da caverna e pode lançar seu próprio olhar
para o mundo iluminado.
A alma é o princípio que anima e move o homem e divide-se em:
 Razão- deve aspirar à sabedoria
 Vontade- deve aspirar à coragem
 Apetite ou desejos- devem ser controlados para atingir a temperança (ter
controle sobre as paixões, ter sobriedade em suas atitudes e decisões, evitar os
excessos em seus apetites, seus desejos e vontades).
Para Sócrates, o conceito de ética iria além do senso comum da sua época, o corpo
seria a prisão da alma, que é imutável e eterna. Existiria um “bom em si” próprios da
sabedoria da alma e que podem ser rememorados pelo aprendizado.[3] Esta bondade
absoluta do homem tem relação a uma ética apriorística, pertencente à alma e que o
corpo para reconhecê-la terá que ser purificado.

 Aristóteles (384-322 a.C.)


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Privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade), tidas como propensas tanto


para provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age quanto
simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive.
O homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o que é mais adequado para
si e para os outros, movido por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre o
excesso e a deficiência.
“ A bondade tanto é rara quanto nobre e louvável.”
“Ser ético é para ser feliz.”
Aristóteles subordina sua ética à política, acreditando que na monarquia e na
aristocracia se encontraria a alta virtude, já que esta é um privilégio de poucos
indivíduos. Na sua doutrina a ética está em conformidade com a ordem vigente. “Cada
virtude seria um meio-termo entre dois extremos, e cada um desses extremos seria um
vício”. Assim, sua ética era adaptativa, servindo as necessidades políticas de sua
época, onde o homem deveria ser conformado com a sua realidade, para tanto se fazia
necessário à interferência da família e da educação para conter suas paixões.

Aristóteles diz que na prática ética somos o que fazemos, visando a uma finalidade boa
ou virtuosa. Isso leva à ideia de que o agente, a acção e a finalidade do agir são
inseparáveis: “Toda arte, toda investigação e do mesmo modo toda acção e eleição,
parecem tender a algum bem; por isso se tem dito com razão que o bem é aquilo a que
todas as coisas tendem.”

Do livro grande tratado de filosofia moral, a Ética a Nicômaco, de Aristóteles,


testemunha a génese da Ética como branca autónoma da filosofia. Isto acontece, com
Aristóteles, quando a reflexão moral se separa da especulação teorética (em Platão
intimamente conexas), e assume as características de ter um próprio objecto específico
e um próprio método de indagação. Aristóteles diz que o objecto da filosofia política (o
novo nome da filosofia prática) é o bem supremo do homem, seu fim último. Não é
somente o bem de cada indivíduo, mas de toda a Polis. A ciência da Polis, por ocupar-
se do fim último, é a ciência arquitectónica, que desempenha uma função directiva nas
relações entre todas as outras artes ou ciências práticas.

A Ética define a “filosofia das coisas do homem”, e com a Política constitui o âmbito das
realidades que podem ser diferentemente do que são, reinos da contingência e não da
necessidade. A Ciência política não somente deve conhecer o bem, mas deve realizá-
lo. No campo da Ética, a razão intervém para definir regras de conduta, mas através de
um procedimento muito diferente do dedutivo, próprio das ciências teoréticas.

 O Epicurismo (fundado por Epicuro de Samos- 341-270 a.C.)


Defende que o homem deve fazer o que gosta mais, o que lhe dá prazer, do corpo e da
alma, ou seja o prazer é um bem e como tal o objectivo de uma vida feliz.
Esta busca do prazer deve ser regida pela prudência, para afastarmos a dor e
preocupações. O homem deve diminuir os desejos, para ser auto-suficiente,
despreocupado e tranquilo.
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Os melhores prazeres não são os corporais, mas os espirituais que contribuem para a
paz da alma.
Para ser feliz o homem precisa de liberdade, amizade e tempo para meditar.
“A presença do prazer era sinonimo da ausência da dor.”

 Os Estóicos (fundado por Zenão de Cício, Séneca e Marco Aurélio por volta
300 a.C)
Defendiam que a ética decorre de uma lei natural racional e perfeita. A vida feliz é a
vida virtuosa, conforme a natureza e a razão.
O fundamental é viver com rectidão, lutando contra as paixões.
O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu
destino.
Defendiam aspectos como: compreensão, igualdade e o homem como cidadão do
mundo.

 O Cristianismo (São Tomás de Aquino: 1226-1274 e Santo Agostinho: 354-430)


Com o fim da escravatura, constrói-se a sociedade feudal, estratificada e hierarquizada
e a religião garantia uma certa unidade social.
A igreja católica passa a exercer, além do poder espiritual, o poder intelectual.
A ética cristã é subordinada à religião, que regula o comportamento do homem para a
divindade.
Com o cristianismo, através de S. Tomás de Aquino e Santo Agostinho, incorpora-se a
ideia de que a virtude se define a partir da relação com Deus e não com a cidade ou
com os outros. Deus nesse momento é considerado o único mediador entre os
indivíduos. As duas principais virtudes são a fé e a caridade.

Através do cristianismo, se afirma na ética o livre-arbítrio, sendo que o primeiro impulso


da liberdade dirige-se para o mal (pecado). O homem passa a ser fraco, pecador,
dividido entre o bem e o mal. O auxílio para a melhor conduta é a lei divina. A Ideia do
dever surge nesse momento. Com isso, a ética passa a estabelecer três tipos de
conduta; a moral ou ética (baseada no dever), a imoral ou antiética e a indiferente à
moral.

 Santo Agostinho, corroborava com as ideias do Platão.


O objectivo da moral é ajudar o homem a ser feliz, mas a felicidade suprema consiste
num encontro amoroso do homem com Deus.
Só através e pela graça de Deus podemos ser felizes.

 São Tomás de Aquino, corroborava com as ideias do Aristóteles.


“Ser ético é para ser feliz.”
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Cada um procura alcançar o bem ao actuar, pelo que do bem depende a auto-
realização do homem.

 Ética Medieval: Época em que a razão se separa da fé.

 Nicolau Maquiavel (1469-1527)


Provoca uma revolução na ética ao romper com a moral cristã, que impõe os valores
espirituais como superiores aos políticos.
O que importa são os resultados e não a acção política em si.

 Thomas Hobbes (1588-1679)


A vida do homem no estado de natureza, sem leis nem governo, era solidária, podre,
curta..., uma vez que os homens são por índole agressivos, autocentrados e
obcecados por um desejo de ganho imediato.
O principal dos bens é a conservação de si mesmo.

 Baruch de Espinosa (1632-1677)


Os homens tendem naturalmente a pensar apenas em si mesmos.
Os seus desejos e opiniões são sempre conduzidas por suas paixões, as quais nunca
levam em conta o futuro ou as outras pessoas.
Cada um deve se amar a si mesmo, procurando o que lhe é útil de verdade, desejando
tudo o que conduz a uma maior perfeição

 Jonh Locke (1632-1704)


Deus estabeleceu uma ligação indissolúvel entre a virtude e a felicidade pública, e
tornou a prática da virtude necessária à conservação da sociedade humana.
O homem deve aprovar as regras e recomendá-las aos outros.

 David Hume (1711-1776)


O fundamental da moral é a utilidade, ou seja, é boa acção aquela que dá felicidade e
satisfação à sociedade.
Ao invés de limitar os desejos humanos, Hume percebeu que muitas das nossas
paixões estão basedas na simpatia – capacidade de sentir em si mesmo os sofrimentos
e as alegrias de outrem.

 Jean Jaques Rosseau (1712-1778)


O homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer um aprimoramento quase
ilimitado.

 Ética Moderna
 Immanuel Kant (1724-1804)
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A ideia fundamental é a concepção da ética como um sistema de regras que devemos


seguir partindo de um sentido de dever, independentemente do nosso desejo.
Um juízo ético tem de se apoiar em boas razões e as razões têm de ser válidas para
todos em todos os momentos.
Existem alguns direitos e deveres morais que o homem deve obrigatoriamente cumprir
independentemente dos benefícios que obtenha.
Máxima Kantiana
“Não faz aos outros o que não gostarias que te fizessem.”
Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos impulsos, apetites, desejos e
paixões não teremos autonomia ética, pois a Natureza nos conduz pelos interesses de
tal modo que usamos as pessoas e as coisas como instrumentos para o que
desejamos. Não podemos ser escravos do desejo. Para isso devemos agir conforme o
Imperativo Categórico, ou seja, o acto moral deve concordar com a vontade e com as
leis universais que ela dá a si mesma: “Age apenas segundo uma máxima tal que
possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”.

Kant também afirmava que “(...) a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas
conseqüências, mas apenas por sua motivação ética.” Ele sustentava que o homem é
o centro do conhecimento e da moral. Sendo o ato ético e moral criado e seguido pelo
homem, isso passa a ser incondicionado e absoluto.

 Friedrich Hegel (1770-1831)


A vida ética ou moral dos indivíduos, enquanto seres históricos e culturais, é
determinada pelas relações sociais.
Divide a ética em ética subjectiva (pessoal), consciência de dever e a ética objectiva
(social), formada pelos costumes, leis e normas de uma sociedade.
No século XIX, Friedrich Hegel traz uma nova perspectiva complementar e não
abordada pelos filósofos da Modernidade. Ele apresenta a perspectiva Homem -
Cultura e História, sendo que a ética deve ser determinada pelas relações sociais.
Como sujeitos históricos culturais, nossa vontade subjectiva deve ser submetida à
vontade social, das instituições da sociedade. Desta forma a vida ética deve ser
“determinada pela harmonia entre vontade subjectiva individual e a vontade objectiva
cultural.”

Através desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal maneira que


passamos a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se isso não ocorrer é
porque esses valores devem estar incompatíveis com a nossa realidade e por isso
devem ser modificados. Nesta situação podem ocorrer crises internas entre os valores
vigentes e a transgressão deles.

Já na actualidade o conceito de ética se fundiu nestas duas correntes de pensamento.


Na visão da ética praxista, o homem tem a capacidade de julgar, ele não é totalmente
determinado pelas leis da natureza, nem possui uma consciência totalmente livre. O
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homem tem uma co-responsabilidade frente as suas acções. Com raízes na


apropriação de coisas e espaços, na propriedade, a ética Pragmática tem como desafio
à alteridade (misericórdia, responsabilização, solidariedade), para transformar o Ter, o
Saber e o Poder em recursos éticos para a solidariedade, contribuindo para a
igualdade entre os homens: “distribuição equitativa dos bens materiais, culturais e
espirituais.”

O homem é visto, como sujeito histórico-social, e como tal, sua acção não pode mais
ser analisada fora da colectividade. Por isso, a ética ganha um dimensionamento
político (área de avaliação dos valores nas relações sociais): uma acção eticamente
boa é politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça, distribuição igualitária
do poder entre os homens. Na ética pragmática o homem é politicamente ético, - “todos
os aspectos da condição humana, têm alguma relação com a política” - há uma co-
responsabilidade em prol de uma finalidade social: a igualdade e a justiça entre os
homens. Segundo Severino, no momento histórico em que vivemos existe um
problema ético-político grave. Forças de dominação ter-se-iam consolidado nas
estruturas sociais e económicas, mas através da criticidade seria possível desvelar a
dissimulação ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana. Quando se
está agindo com a totalidade dos esclarecimentos que a objectividade pode fornecer
quando criticamente aplicada à práxis, feita através da intencionalidade subjectiva,
reflexão crítica. “Há o reino humano da práxis, no qual as acções são realizadas
racionalmente não por necessidade causal, mas por finalidade e liberdade”, realizando
assim uma ética consciente.

 Karl Marx (1818-1883)


A moral cumpre a função social, que servia para sacramentar as relações e condições
de existência de acordo com os interesses da classe dominante.

 Nietzsche (1844-1900)
A vida é vontade de poder, princípio último de todos os valores.
O bem é tudo que favorece a força vital do homem, intensifica e exalta o sentimento do
poder, vontade e o próprio poder.
O mal é tudo que vem da fraqueza.

 John Satuart Mill (1806-1873) – Ética Utilitarista


A felicidade reside na busca do máximo prazer e do mínimo de dor
O objectivo da ética é o bem, dando a felicidade para o maior número possível de
pessoas.
“O que quer que traga essa felicidade tem validade. Vê no útil o valor supremo da vida.”

 Ética Moderna/Contemporânea
 William James (1842-1910) – o bom é algo que conduz a obtenção eficaz de
uma finalidade, fim esse sob uma óptica utilitária.
 Bertrand Russel (1872-1970)- a ética é subjeciva. Não contém afirmações
verdadeiras ou falsas.
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Resume:
 O que importa é aplicar princípios éticos aos casos concretos;
 Ter conduta ética não depende da formação, pratica-se no dia a dia;
 Tem como próposito ajudar o homem a ser bom e plenamente homem;
 Construção de uma vida;
 Procurar ser éticos aqui e agora;
 Ética não é para análise e mesmo para a vida.
Pergunta ética
“Qual é coisa certa a fazer nesta situação em que estou envolvido.”
“O que depende e o que não depende de nós.”

O Relativismo e Pragmatismo
“Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada
mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens” (Mt 5.13).

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus” (Rm 12.2).

Que o cristão testemunhe firmemente que a Bíblia é a inspirada e inerrante Palavra de


Deus e a única norma de fé e prática num século relativista e que jaz no maligno.

O momento em que vivemos exige um sério posicionamento da igreja frente à


mentalidade mundana, relativista, hedonista e profana. A Escola Dominical ainda é o
maior instrumento da igreja para formar em seus membros a mente de Cristo e
desenvolver a espiritualidade cristã. A Verdade do evangelho, agora mais do que
nunca, deve ser ensinada e proclamada, a fim de que esta geração de crentes possa
não somente resistir ao relativismo, mas também estar preparada para responder com
mansidão e convicção a razão de sua fé.
Num mundo relativista e pragmático, ser fiel e santificado a Deus, conforme exige a
Bíblia Sagrada, é um grande desafio para o seguidor de Cristo. Nesta lição,
estudaremos sobre a necessidade de o cristão manter-se íntegro diante de uma
sociedade indiferente às reivindicações divinas.

OS DESAFIOS DO RELATIVISMO MORAL E DO PRAGMATISMO

1. O Relativismo Moral. No mundo pós-moderno, os conceitos morais não se baseiam


nos valores absolutos das Sagradas Escrituras. Para a sociedade relativista, as
verdades e valores da Bíblia são relativos e parciais. Ou seja, a prática da moral e da
ética depende da experiência de cada pessoa.
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Ensina-se que não existem leis e verdades absolutas e universais. A fim de enfrentar
este terrível mal, o cristão tem de tomar algumas atitudes extremamente importantes.
Vejamos:

a) Não se conformar com o mundanismo (Rm 12.2). Há muitos cristãos que estão
acomodados ao mundanismo, cujo mentor é o Diabo. Essa conformação é ruinosa para
a moral cristã. Temos de amar o pecador, mas combater energicamente o pecado e
suas estruturas, pois levam o ser humano à perdição.
b) Ser transformado pela renovação do entendimento. A “visão de mundo” do cristão,
cujo entendimento é renovado pelo Espírito Santo, tem de ser contrária aos conceitos
materialistas e relativistas (1 Jo 5.19). A maneira de o crente ver o mundo deve passar
pela ótica da revelação de Deus. Somente assim, poderá experimentar “a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2).

2. O Pragmatismo. Para o pragmatismo(Teoria que afirma que a verdade de uma


proposição consiste no fato de que ela seja útil, tenha alguma espécie de êxito ou de
satisfação), tudo que resulta em satisfação imediata é verdade. Mas para o crente, a
verdade é a expressão absoluta e universal da vontade divina conforme a encontramos
na Bíblia Sagrada. Os israelitas, por exemplo, foram pragmáticos quando tentaram
levar a Arca do Senhor num carro de bois, ao invés de conduzi-la sobre os ombros dos
levitas, conforme determinava a lei (Nm 4.15; Js 3.3; 1 Cr 15.2,15). Deus não aceitou
tão descabido e profano pragmatismo. O resultado foi uma severa punição divina (2 Sm
6.6-9). Hoje, o pragmatismo é apresentado de maneira sutil e enganosa.

O relativismo e o pragmatismo apresentam-se como os dois grandes desafios a serem


superados pela Igreja de Cristo nos últimos tempos.

O DESAFIO DO SECULARISMO

1. Conceito. O termo secularismo origina-se de uma palavra que significa “profano”,


“mundano”, “humanista”, “deste século”. Secular é o oposto do sagrado, religioso,
espiritual. Sob a ótica cristã, é a corrupção doutrinária que ignora os princípios
espirituais para a igreja, tornando o sagrado fútil e comum. O secularismo tenta
destronar a Deus e exaltar o homem, pois, segundo esta filosofia, o homem é a medida
de todas as coisas.

2. O desafio para a igreja de Jesus. Muitas igrejas, infelizmente, têm sido


influenciadas pelo secularismo, especialmente em seu aspecto organizacional e
litúrgico. Como reconhecer uma igreja presa pelos tentáculos da secularização?

a) Profanação do sagrado. Quando uma igreja se torna secular, tende a desprezar os


valores espirituais e a exaltar os humanos, materiais. Há igrejas, cujos santuários e
púlpitos transformaram-se em locais de entretenimentos e demonstrações de cultura
popular. A Bíblia, porém, afirma: “Mui fiéis são os teus testemunhos; a santidade
convém à tua casa, SENHOR, para sempre” (Sl 93.5).

b) Perda da identidade bíblica e cristã. Ser cristão é identificar-se com Cristo e não com
o mundo (At 11.26). Nos dias atuais, há situações em que um visitante não sabe mais
se está numa igreja ou num clube. Não é exagero! O crente precisa consagrar-se a
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Deus, a fim de não se conformar com as coisas da carne (1 Pe 1.14; Jd v.23). É


urgente viver em santidade (1 Pe 1.15,16).

c) Perda da ética cristã. Sem zelo pela ética cristã é impossível manter-se em
comunhão com Jesus Cristo. Ser cristão não é apenas pertencer a uma igreja local ou
denominação. É ser cidadão dos céus; é viver a ética do reino de Deus, conforme
estabelece a Bíblia.

O secularismo ignora os princípios espirituais para o homem, pois considera-o “a


medida de todas as coisas”.

OS PRINCÍPIOS DA INTEGRIDADE CRISTÃ

Vejamos alguns princípios que norteiam a integridade na vida cristã, de acordo com os
ensinos da Palavra de Deus.

1. Lealdade incondicional a Cristo. Jesus disse: “Quem não é comigo é contra mim;
e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.30). Não se pode atender aos apelos do
mundo e, ao mesmo tempo, fazer a vontade de Deus. É impossível! Ou se é totalmente
de Cristo, ou contra Ele (Jo 15.14; Mt 12.30; 6.24).

2. Fé. A Bíblia afirma que “... tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14.22,23). O crente
não precisa recorrer a padrões humanos para posicionar-se quanto aos seus atos e
palavras. Se tem dúvida, não deve fazer. E se não tem dúvida, pode fazer tudo o que
aprova? Depende. É preciso que sua atitude ou pensamento esteja de acordo com a
Palavra de Deus (1 Co 6.1 2). A Bíblia é o nosso padrão ético.

3. Licitude, conveniência e edificação. Nem tudo o que é lícito convém (1 Co 6.12;


10.23). Esse critério orienta o cristão a não praticar as coisas apenas porque são
lícitas; além de lícitas, têm de estar em absoluta conformidade com o referencial ético
da Palavra de Deus.

O cristão precisa lembrar-se de que nem tudo o que é lícito é edificante (1 Co 10.23b).
A ênfase, aqui, é a edificação espiritual de quem se posiciona ante o que fazer ou não.
Neste contexto, se enquadram os sites de relacionamento na internet e outros casos
similares. É fundamental que cada um avalie diante de Deus se o conteúdo que está
diante de si é edificante, alienante ou pecaminoso. Se é pecado, evite.

A lealdade incondicional a Cristo, a fé e a licitude(O que é lícito, justo ou permitido;


admissível, permissível) são princípios pelos quais os cristãos podem manter a
integridade espiritual e moral.

Com o intuito de vencer o relativismo e o materialismo, precisamos, antes de tudo,


dedicar-nos à oração, a fim de sabermos usar as armas que Deus tem colocado à
nossa disposição (Ef 6.10-18). Devemos, portanto, continuar a proclamar as verdades
absolutas e universais de Deus.

Integridade: “Integridade procede do verbo ‘integrar’, que significa ‘tornar unido para
formar um todo completo ou perfeito’. As Escrituras nos ensinam que o espírito, a
mente e o corpo todos vêm da mão de Deus e, portanto, devem estar unidos,
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funcionando juntos, como um todo. Os nossos atos devem ser coerentes com os
nossos pensamentos. Precisamos ser a mesma pessoa, pública e privadamente.
Apenas a visão de mundo cristã pode nos dar a base para este tipo de integridade.

Além disso, o cristianismo nos dá uma lei moral absoluta que nos permite julgar entre o
certo e o errado. Tente perguntar aos seus amigos seculares como decidem o que
devem fazer, quais princípios éticos seguir. Como sabem que esses princípios são
corretos? Em que autoridade eles confiam? Sem uma moral absoluta, não existe uma
base real para a ética.

Um lei moral absoluta não confina as pessoas em uma camisa de força de puritanismo
vitoriano. As pessoas sempre irão debater as fronteiras da lei moral e as suas variadas
aplicações. Mas a própria idéia do certo e do errado só faz sentido se houver um
padrão final, uma medida de referência, pela qual poderemos fazer julgamentos
morais”.

CONCLUSÃO

Só conseguiremos resistir ao espírito mundano que predomina em nossa sociedade, se


conhecermos suas raízes, seus ensinos, fundamentos e atuação. Caso contrário,
estaremos propensos a assimilá-los ainda que de modo inconsciente. A igreja possui
duas opções: ignorar que seus membros estão a todo momento sendo bombardeados
por ensinos relativos, profanos e hedonistas, ou confrontá-los com a Verdade de Deus,
a fim de esclarecer e fortalecer a convicção de cada crente.

A sociedade atual convive com a falsidade, a mentira, a bajulação, as informações


distorcidas, e com a imoralidade. Portanto, há um clamor desesperado por
autenticidade, integridade e verdade. Nós, como Igreja, portadora e defensora desses
valores e princípios cristãos, devemos exibir o caráter de Deus em nossas relações
internas e externas, tendo o amor como principal fundamento. Como pregaremos a
Verdade, se ela não puder ser percebida em nossas relações? Nossa sociedade
carece de uma igreja autêntica, verdadeira e fidedigna.

O CRISTÃO O ÍMPIO
Leal a Cristo Contrário a Cristo
Fé Razão
Ética da Palavra de Ética própria
Deus
Glorifica a Deus Auto glorificação
Pauta sua vida na Pauta sua vida naquilo que a sociedade
Bíblia convenciona ser o certo
Busca agradar a Deus Busca agradar aos homens
Respeita o mais fraco Despreza o mais fraco

Relativismo é uma doutrina que prega que algo é relativo, contrário de uma ideia
absoluta, categórica.
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O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos tipos de análise, mesmo


sendo análises aparentemente contraditórias. As diversas culturas humanas geram
diferentes padrões segundo os quais as avaliações são geradas. Max Weber, em suas
obras sobre epistemologia, abre espaço para o relativismo nas ciências da cultura
quando diz que a ciência é verdade para todos que querem a verdade, ou seja, por
mais diferentes que sejam as análises geradas por pontos de vista culturais diferentes,
elas sempre serão cientificamente verdadeiras, enquanto não refutadas.

Assim podemos concluir que o Relativismo é um termo filosófico que se baseia na


relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. Todo
ponto de vista é válido.

Na filosofia moderna o relativismo por vezes assume a denominação de "relativismo


cético", relação feita com sua crença na impossibilidade do pensador ou qualquer ser
humano chegar a uma verdade objectiva, muito menos absoluta.
Pragmatismo é uma doutrina filosófica cuja tese fundamental é que a ideia que
temos de um objeto qualquer nada mais é senão a soma das ideias de todos os efeitos
imaginários atribuídos por nos a esse objeto, que passou a ter um efeito prático
qualquer.

Ser pragmático é ter seus objetivos bem definidos, é fugir do improviso, é se basear
no conceito de que as ideias e atos só são verdadeiros se servirem para a solução
imediata de seus problemas.

Kant e o princípio da acção moral

A teoria ética de Kant oferece-nos um princípio da moral que deve poder ser aplicado a
todas as questões morais. Kant enuncia-o de diferentes maneiras com o objectivo de
esclarecer as suas implicações. Partiremos de um caso simples, de senso comum,
para esclarecer essas diferentes formulações:

O Silva reparou que uma pessoa que saía da sua pequena loja deixou cair uma nota de
50 €. Apanhou-a e... que fez?

Avaliemos três decisões possíveis de Silva

1. Ficou com os 50 €.
2. Devolveu os 50 € para ficar bem visto e ganhar reputação de honesto.
3. Devolveu os 50 € pelo simples facto de pertencerem ao cliente.

O princípio do desinteresse: A acção 1 é claramente imoral. O Silva ficou com os 50


€ devido ao seu interesse. Quanto à acção 2, o senso comum diria que é hipócrita ou
interesseira, pois o Silva devolveu os 50 € apenas porque isso é do seu interesse. De
facto, o princípio da decisão em 2 foi o mesmo que em 1 — o interesse. Pôr o seu
interesse acima de tudo, como princípio das acções, é imoral. Assim, só a acção 3 é
moralmente correcta, já que o Silva ultrapassou os seus interesses e agiu de forma
desinteressada. O nosso juízo sobre cada uma das possíveis decisões do Silva foi
guiado pelo princípio do desinteresse: “Age desinteressadamente.”
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A teoria de Kant não impede que a pessoa satisfaça os seus interesses — afinal
também era do interesse do Silva decidir o que fazer com os 50 € e, apesar de não ter
sido esse o motivo da acção 3, também ganhou a consideração do cliente. O acto deve
ser desinteressado mas se, além disso, satisfizer interesses, tanto melhor para o
agente; se contrariar interesses, paciência.

O princípio da imparcialidade: Podemos enunciar o princípio do desinteresse de


outra maneira: “Decide com imparcialidade.”

Aprovamos moralmente as decisões e as acções quando o sujeito, como no caso 3,


decide como um juiz imparcial. Nos casos 1 e 2 Silva permitiu que os seus interesses
lhe roubassem a imparcialidade.

É provável que Kant, neste aspecto, se afaste um pouco do senso comum. O senso
comum pode pensar que a “imparcialidade” será considerar igualmente “cada um dos
interesses envolvidos” ou, então, ajuizar sobre cada caso atendendo ao “interesse de
todos”. Mas os “interesses das partes envolvidas” podem ser igualmente imorais.
Quanto ao “interesse de todos” pode nem existir (afinal é típico os interesses estarem
em conflito...) e, se existir, será, como todos os interesses, contingente, caprichoso
como a humanidade, e a moral não pode estar sujeita a caprichos. “Imparcialidade”,
para Kant, significa decidir independentemente de quaisquer interesses. De facto, Kant
pensava, em parte de acordo com o senso comum, que o progresso moral também
ajuda à felicidade e aos interesses mais dignos das pessoas. Mas ele sabe que a
harmonia entre a moral e a felicidade não é certa e que se a acção moral gerar
felicidade será por acréscimo ou efeito secundário.

O princípio do dever: Se a pessoa não deve agir por interesse, então deve agir por
obrigação, por dever. A acção 1 foi em tudo contrária ao dever. A acção 2 está em
conformidade com o dever, porque o Silva fez o que deveria ter feito, mas foi feita por
interesse e não por dever. Só a acção 3, a única a ter toda a nossa aprovação moral,
foi feita por dever. Assim, o princípio da moralidade pode ser enunciado deste modo:

“Age apenas por dever e não segundo quaisquer interesses, motivos ou fins.”

Devemos ter em mente que falamos de decisões e acções morais. Se um papel inútil
na minha secretária me incomodar, é do meu interesse deitá-lo para a reciclagem e, ao
fazê-lo, não estou a violar o princípio dos deveres; mas se atirar o papel para o quintal
do vizinho, deixo de cumprir o dever de respeitar as pessoas...

Os deveres morais e as convenções sociais: Os princípios do desinteresse, da


imparcialidade e do dever dizem a mesma coisa e têm as mesmas implicações. Isto
permite esclarecer o que são deveres morais: O dever é uma regra estipulada por uma
razão desinteressada, imparcial.

Assim, podemos evitar o erro, bastante difundido, de supor que os deveres morais são
criações ou convenções sociais. Dois argumentos contribuem para este erro. O
primeiro parte do facto de alguns dos “deveres morais” de uma sociedade serem
diferentes dos de outras, para concluir, erradamente, que todos os deveres são
convenções sociais. O segundo argumento parte do facto de muitas vezes cumprirmos
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os deveres contrariados, como se fôssemos obrigados por uma autoridade externa,


para concluir que não podem ter origem em nós mas sim numa autoridade externa.

Ora, a teoria kantiana permite distinguir os deveres morais das regras ditadas por
quaisquer autoridades exteriores ao agente. O indivíduo tem na sua razão o critério dos
deveres: pensando desinteressada e imparcialmente ele sabe o que é o dever. O
conflito entre o dever, que é a ordem que damos a nós mesmos (“Sê honesto!” —
ordenou o Silva a si mesmo), e os interesses que nos afastam do dever (“Mas os 50 €
davam-me jeito...” — hesitou o Silva), explica por que o dever parece ter origem numa
autoridade exterior que nos contraria.

O princípio da universalidade: A teoria moral de Kant concilia a ideia de que os


deveres morais são criações dos indivíduos e a ideia de que a moral é universal,
comum a todos. Esta ideia pode surpreender-nos: não é verdade que “cada cabeça,
sua sentença”?

A acção correcta é decidida pelo indivíduo quando adopta uma perspectiva universal.
Como? Abstraindo dos seus interesses, a pessoa pensará como qualquer outra que
também faça abstracção dos seus interesses adoptando, portanto, uma perspectiva
universal.

Regressa ao exemplo dado e verifica que qualquer pessoa que abstrai dos seus
interesses e pensa imparcialmente faz o mesmo: é honesta e devolve os 50 €. Aplica a
mesma ideia a deveres morais comuns como “Cumpre as promessas”, “Paga o que
deves”, “Sê leal”, “Não roubes” e verifica, com Kant, que só o interesse e a parcialidade
do agente podem levar à violação de tais regras ou deveres morais. Eliminada a
parcialidade, pensamos segundo uma perspectiva universal e aprovamo-las. Kant
exprimiu esta ideia numa fórmula conhecida por princípio da universalizabilidade:

“Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se
torne lei universal.”

Uma máxima é uma regra que deve valer para certos tipos de acção e será moral ou
imoral consoante esteja ou não de acordo com o princípio moral, que é uma regra que
deve valer para todas as acções. A máxima da acção 1 poderia enunciar-se assim: “Se
isso servir os teus interesses, não devolvas dinheiro ao seu dono.” Poderia o Silva
querer que ela fosse universalmente acatada? Não, porque a obediência universal a tal
regra criaria um estado de coisas terrível em que mesmo os seus interesses acabariam
por ser lesados... Tenta transformar outras violações dos deveres em máximas e
pergunta se podes querer que todos as cumpram. Pode o ladrão querer que todos
roubem quando a oportunidade surge? Podes querer que todos façam promessas sem
a intenção de cumprir?

O princípio da autonomia: Se juntares agora o princípio da universalizabilidade e o


esclarecimento da origem dos deveres, compreenderás a ideia surpreendente de Kant
de que nas decisões morais nós somos legisladores criando regras válidas para todos
os seres racionais.

Esta ideia também pode parecer estranha porque nos parece que os deveres não
estiveram à nossa espera para serem criados. Pensamos que são as tradições que
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constituem listas de deveres apoiadas em sistemas de punições e recompensas. Mas,


aceitar esta teoria implica afirmar que a acção 3 é impossível porque, nesse caso, o
Silva só poderia agir devido ao seu interesse em evitar punições ou de ser
recompensado e, em consequência, a nossa aprovação moral de 3 não teria sentido.
Se aceitarmos os princípios já expostos, conclui Kant, aceitamos que em cada juízo ou
decisão moral, o sujeito determina o dever. O facto de esses deveres coincidirem com
alguns dos deveres tradicionais explica-se pela universalidade da razão. Kant
sublinhou esta ideia de autonomia do sujeito em outras fórmulas do princípio moral:

“Age como se a máxima da tua acção se devesse tornar, pela tua vontade, em lei
universal da natureza.”
“Age [...] de tal maneira que a vontade pela sua máxima se possa considerar a si
mesma ao mesmo tempo como legisladora universal.”

A fórmula da universalizabilidade ainda poderia sugerir que quando decide moralmente,


o sujeito escolhe entre máximas que ele não criou mas que já estão disponíveis. A
novidade mais notória destas fórmulas está no facto de acentuarem a autonomia do
sujeito: o sujeito deve obedecer apenas a regras que criou, ao mesmo tempo, para si
mesmo e para todos os seres racionais.

O princípio do respeito pela pessoa: Perguntemos como é que, em cada um dos


casos 1, 2 e 3, as pessoas são tratadas. Em 1, o Silva usou o outro como meio, como
se a outra pessoa fosse uma coisa ou instrumento, para o aumento directo da sua
fortuna. Em 2, o Silva usou a outra pessoa como meio de marketing e propaganda.
Nestes dois casos, ao mesmo tempo que usou a outra pessoa apenas como meio, o
Silva usou-se como meio, abdicando da sua autonomia para favorecer impulsos e
interesses que o escravizam. Que quer dizer “usar-se como meio”? Silva é uma
pessoa, um ser autónomo. O que constitui esta pessoalidade ou autonomia é a
capacidade de pensar e decidir por si. Mas nos casos 1 e 2 ele usou estas capacidades
para servir fins ditados pelo interesse. Usar-se como meio é usar a sua autonomia para
a perder. Em 3, o Silva não tratou a outra pessoa como meio, tratou-a como um fim.
Devemos esclarecer esta ideia.

Se a devolução dos 50 € não visou servir qualquer interesse, então para quê fazê-lo?
Qual é a sua finalidade? A finalidade, já vimos, foi a de cumprir o dever pelo dever. Mas
isso, também já vimos, é, ao mesmo tempo, definir a única legislação adequada a
qualquer a pessoa, ou seja, a todo o ser racional, capaz de ultrapassar interesses para
pensar e decidir por si. Assim, cumprindo o dever que deu a si mesmo, o Silva respeita
todos os seres racionais, incluindo, claro, tanto o próprio Silva como a pessoa do seu
cliente. O mesmo seria dizer que respeitando a pessoa do seu cliente, o Silva respeita-
se e respeita todos os seres racionais, tomando-os como fins da sua acção.

Kant sintetizou o seu pensamento noutra fórmula: “Age de tal maneira que uses a
humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e
simultaneamente como fim e nunca apenas como meio.”

Nota que a fórmula não proíbe as pessoas de serem meios umas para as outras,
porque se o proibisse, proibiria qualquer prestação de serviços. A lei moral não proíbe
o Silva de usar os seus clientes para prosperar, mas se enganar nos preços e não
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devolver o dinheiro esquecido pelos clientes, está a tratá-los apenas como meios,
instrumentos ou objectos.

O que é uma acção moralmente válida?


Diremos imediatamente que é uma acção que cumpre o dever ou evita infringi-lo.
Quando dizemos a verdade em vez de mentir; quando não cometemos qualquer fraude
na declaração de impostos; quando socorremos os necessitados ou não nos
apossamos de bens alheios estamos a agir bem, a fazer o que é devido. Mas será que
agir bem, cumprir o dever - o que é sempre louvável - é suficiente para que uma
acção seja moralmente válida?Kant diz que não.
Então o que é, para Kant, uma acção moralmente válida? É uma acção em que
cumprimos o dever - isso é importante - por dever - isto é mais importante. O que quer
dizer cumprir o dever por dever? Significa cumprir o dever tendo como único e
exclusivo motivo o respeito pelo dever, isto é, o cumprimento do dever é um fim em si
mesmo. Exemplifiquemos: há uma norma moral que me diz que não devo mentir.
Suponhamos que na minha declaração de impostos não cometo qualquer fraude, não
falsifico qualquer dado. É claro que cumpro o dever de não mentir.

Imaginemos que cumpri o dever de não mentir por receio de ser preso, por não querer
ser alvo de uma investigação fiscal, para não ver a minha reputação prejudicada. Não
cometendo qualquer fraude, cumpri o dever de não mentir. Contudo, não cumpri o
dever por dever. Porquê? Porque não mentir foi um meio para evitar situações
desagradáveis: cumpri o dever por medo, por receio, por interesse em evitar
problemas. Não respeitei incondicionalmente a norma que proíbe a mentira. Se
dissesse a mim mesmo "Não devo mentir porque é meu dever não mentir", estaria a
cumprir o dever sem dar importância a mais nada: cumpriria o dever por dever. Ora, o
que concluir do exemplo dado? Disse a mim próprio: "É do meu interesse cumprir o
dever." Agi em conformidade com o dever, fiz o que era devido, mas o motivo que me
levou a agir conforme ao dever não foi pura e simplesmente cumprir o dever. Quando
cumprimos o dever sem qualquer outro motivo a influenciar-nos a não ser a vontade de
o cumprir, estamos, segundo Kant, a agir de uma forma moralmente válida. Melhor
dizendo, esta é a única forma de agir que Kant considera moralmente válida.
Por outras palavras, o que está Kant a dizer-nos? Que para avaliar a moralidade de
uma acção o que conta é a intenção de quem age? O que nos motiva a cumprir o dever
é, para a ética kantiana, o problema decisivo. Não se trata simplesmente de cumprir o
dever, mas sim de como cumprir o dever. As normas morais vigentes numa
determinada sociedade dizem-nos que deveres cumprir ("Não matarás!"; "Não
roubaras!"; "Não mentiras!"), mas não como cumprir esses deveres, qual a forma válida
de os cumprir. Onde encontrar o princípio que nos diz como devemos cumprir o dever?
Na nossa consciência de seres racionais que se reconhecem dotados de liberdade.
Que princípio é esse? Kant dá-lhe o nome de lei moral.

A lei moral diz-nos: "Deves absolutamente e em qualquer circunstância cumprir o


dever pelo dever.
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Come se vê, a lei moral exige um absoluto e incondicional respeito pelo dever. Assim, é
nosso dever não matar por absoluto respeito pela dignidade e valor da vida humana e
não por causa dos problemas que a infracção desse dever acarretaria. Dizendo-nos a
forma como devemos agir ao cumprir o dever, a lei moral é, para Kant, uma lei
puramente formal. Não dá regras concretas e particulares de acção, mas exige que as
nossas acções boas tenham sempre uma determinada forma. Tal exigência é absoluta
e deve-se cumprir o que a lei moral ordena por puro e simples respeito por ela. Isto
quer dizer que a lei moral é um imperativo categórico e não um imperativo hipotético.

O imperativo hipotético é uma ordem condicionada. A sua forma geral é esta: Se


queres (A) deves fazer (B). Em termos mais concretos: «Se não queres ter problemas,
não ofendas os teus vizinhos. O cumprimento do dever não é exigido por si mesmo. É
um meio para um fim. "Não ofender os vizinhos" é a ordem que se deve cumprir para
evitar problemas. Se é meu interesse evitar aborrecimentos e quezílias com os meus
vizinhos não devo ofendê-los.

Por outro lado, o imperativo categórico é uma ordem que não está submetida a
condições: ordena que se cumpra o dever tendo em conta simplesmente o dever ("Não
deves ofender os teus vizinhos porque esse é o teu dever"). O cumprimento do dever é
exigido como fim em si mesmo (sem esperar nada em troca).

ÉTICA E MORAL
Ética: Conjunto de valores morais e princípios que norteam a conduta humana na
sociedade, garantindo o bem-estar social.

Moral: são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada


sociedade.

 Conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada


cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas acções e os
seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.

Tanto a ética como a moral tem a mesma finalidade, são responsáveis por construir as
bases que vão guiar a conduta do homem em sociedade, determinando o seu carácter
e virtudes.

A ética é uma espécie de legislação do comportamento moral das pessoas.

A moral não é somente um acto individual, pois as pessoas são, por natureza seres
sociais, assim percebe-se que moral também é um empreendimento social e esses
actos morais, quando reliazados por livre participação da pessoa, são aceites
voluntariamente. A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência
Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Surgiu realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é,


surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos.

A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de
garantir o seu-estar. A moral independe das fronteiras geográficas e garante uma
identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo
referencial moral comum.

É um conjunto de conduta ou hábitos julgados válidos para qualquer tempo ou lugar.

A moral constitui um processo de construção do carácter da pessoa humana, partindo


normalmente de uma maneira de como foi direccionado pelos ensinamentos dos pais.
Ela adquire-se também no meio onde se vive.

A ética e a moral andam lado a lado com a liberdade, quando ela é vista como o
princípio do respeito pelas coisas alheias e a si mesmo

A Ética exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva
o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por
convicção e inteligência.

Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na acção


humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

A ética se constitui das experimentações humanas, e, portanto, busca encontrar o seu


ponto de equilíbrio por meio de experiências vivenciadas e na postura comportamental,
no calor das decisões morais, em meio aos conflitos existenciais, as paixões,
sentimentos e agitações psicoemocionais afetivas que impulsionam o indivíduo, os
grupos sociais, a comunidade e a sociedade como um todo.

O laboratório da ética são as inquietações humanas, fundamental a sua existência. A


ética funciona como uma balança de precisão, onde devem ser pesadas, medidas e
avaliadas, as ações e o comportamento humano, a fim de se verificar a utilidade, o
possível direcionamento e as possíveis conseqüências advindas dessas ações.

É necessário que se busque um equilíbrio moderado, ou seja, bem dosado, como no


caso do uso do sal ao temperar os alimentos, sobre as atitudes e comportamentos que
terão importantes reflexos no plano da ação ética. A questão da ética esta diretamente
ligada às ações humanas no tempo e no espaço que se manifesta de diversas formas,
quer seja isolada ou no contexto social, como trabalhar, estudar, construir, destruir,
elogiar, ofender etc; movida sempre pelo sentimento de alcançar alguma finalidade,
como ganhar dinheiro, ascender a algum cargo e/ou função dentro do serviço público
ou privado, ofender, magoar, estimular ou desestimular alguém etc; visando a
consecução de determinados efeitos positivos ou negativos como o de viver as próprias
custas, promover seu bem-estar ou o de outrem, subir a qualquer custo causando
sofrimento, o aniquilamento e a desgraça a outrem, não fazer nada e criticar
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

veementemente aqueles que fazem ou produzem alguma coisa etc.

Normalmente, as ações humanas são cogitadas com certa carga de intencionalidade


de modo a atingir determinados fins e a produzir efeitos no meio externo, ensejando
críticas, elogios, idéias, mudanças e inovações. Desta feita, influir-se que, os atos
exteriores realizados automaticamente pelo homem estão intimamente ligados a atitude
interna do pensar humano, isto é, de modo que da consciência a ação, exista uma
mínima diferença relacionada à consumação daquilo que foi cogitado (pensado). Essas
ações humanas são cargas de energias positivas ou negativas direcionadas a produzir
algum efeito no contexto social, refletindo na sociedade de forma boa ou ruim, uma vez
que a soma dessas ações individualizadas convergirão para a formação da
intersubjetividade, momento em que se torna impossível distinguir uma ação individual
da outra, nesse entrelaçamento de ações que se inter-relacionam.

Dentre as mais variadas espécies de ações humanas como a ação política, a ação de
educar, a ação de trabalhar, a ação de se alimentar, a ação de se emitir um discurso...,
dependem de como são canalização as energias para se atingir os determinados fins;
sem dúvidas, neste caso, há que se priorizar as atenções destes enfoques sobre a
questão da ação moral.

É muito difícil definir o que seja a ação moral em si e por si, devido que ela não
corresponde especificamente à prática de um ato isolado e individualizado, como no
caso de se dar uma esmola, ajudar alguém em dificuldade pela idade a atravessar uma
rua, socorrer um oprimido diante de uma injustiça etc.

A ação moral tem a ver com todos os atos praticados no decorrer de uma existência,
pois, uma atitude isolada não serve de parâmetro para se determinar se uma pessoa é
ética ou não, haja vista que precisam ser observados e somados seus diversos traços
comportamentais na família, na sociedade, no trabalho, entre outros.

Lembre-se que nenhuma pessoa é igual à outra, pois cada ser humano de acordo com
a sua educação familiar, sua crença religiosa, sua cultura, tem o livre arbítrio de
hierarquizar e eleger o que há de mais importante como conduta moral e ética a ser
observada e trilhada.

Ainda bem que essa forma de sentir e perceber as coisas, no ambiente em que
estamos inseridos, é tão diferenciado de indivíduo para indivíduo, pois, o que torna a
vida bastante interessante é o aprendizado de se conviver com essas diferenças,
buscando um ponto de equilíbrio, por meio da harmonização dessas ações. Cada
indivíduo, dentro dos padrões aceitos pela sociedade, tem a liberdade de deliberar e
decidir qual é a melhor forma de conduzir a sua própria personalidade, tendo a ética
como a capacidade coligada a essa liberdade.
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Segundo o eminente professor BITTAR (2009, p. 104 - 105): “Os pilares de uma
sociedade podem ser os próprios valores por ela construídos, capazes de sustentá-la
em períodos de crise, em momentos de conflito, em épocas de cortesia. Quais são
esses pilares, senão os sólidos valores de preservação do indivíduo e da coletividade,
construídos por processos históricos pela cultura de uma sociedade”.

Enfim, a ética deve ser racional e relativizada de modo a fortalecer ainda mais a moral,
portanto, o saber ético não deve se ocupar somente das virtudes, mas também dos
vícios humanos e das habilidades em lidar com o bem e com o mal, de modo a
administrá-los da melhor forma possível, superando erros e buscando cada vez mais o
aperfeiçoamento da moral e da justiça imparcial tão sonhada e almejada por muitos,
para a construção de uma sociedade mais digna e mais justa e que valorize tudo aquilo
que é bom e útil para toda a humanidade.

Qual a diferença entre ética e moral? Podemos responder a esta pergunta com
uma história árabe.

Um homem fugia de uma quadrilha de bandidos violentos quando encontrou, sentado


na beira do caminho, o profeta Maomé. Ajoelhando-se à frente do profeta, o homem
pediu ajuda: essa quadrilha quer o meu sangue, por favor, proteja-me!

O profeta manteve a calma e respondeu: continue a fugir bem à minha frente, eu me


encarrego dos que o estão perseguindo.

Assim que o homem se afastou correndo, o profeta levantou-se e mudou de lugar,


sentando-se na direção de outro ponto cardeal. Os sujeitos violentos chegaram e,
sabendo que o profeta só podia dizer a verdade, descreveram o homem que
perseguiam, perguntando-lhe se o tinha visto passar.

O profeta pensou por um momento e respondeu: falo em nome daquele que detém em
sua mão a minha alma de carne: desde que estou sentado aqui, não vi passar
ninguém.

Os perseguidores se conformaram e se lançaram por um outro caminho. O fugitivo


teve a sua vida salva.

A moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em sociedade, regras
estas determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é uma pessoa
moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral.

A ética, por sua vez, é a parte da filosofia que estuda a moral, isto é, que reflete sobre
as regras morais. A reflexão ética pode inclusive contestar as regras morais vigentes,
entendendo-as, por exemplo, ultrapassadas.

Se o profeta fosse apenas um moralista, seguindo as regras sem pensar sobre elas,
sem avaliar as consequências da sua aplicação irrefletida, ele não poderia ajudar o
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homem que fugia dos bandidos, a menos que arriscasse a própria vida. Ele teria de
dizer a verdade, mesmo que a verdade tivesse como consequência a morte de uma
pessoa inocente.

Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta com absoluto rigor moral, temos de


condená-lo como imoral, porque em termos absolutos ele mentiu. Os bandidos não
podiam saber que ele havia mudado de lugar e, na verdade, só queriam saber se ele
tinha visto alguém, e não se ele tinha visto alguém “desde que estava sentado ali”.

Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta, no entanto, nos termos da ética


filosófica, precisamos reconhecer que ele teve um comportamento ético, encontrando
uma alternativa esperta para cumprir a regra moral de dizer sempre a verdade e, ao
mesmo tempo, ajudar o fugitivo. Ele não respondeu exatamente ao que os bandidos
perguntavam, mas ainda assim disse rigorosamente a verdade. Os bandidos é que
não foram inteligentes o suficiente, como de resto homens violentos normalmente não
o são, para atinarem com a malandragem da frase do profeta e então elaborarem uma
pergunta mais específica, do tipo: na última meia hora, sua santidade viu este homem
passar, e para onde ele foi?

Logo, embora seja possível ser ético e moral ao mesmo tempo, como de certo modo o
profeta o foi, ética e moral não são sinônimas. Também é perfeitamente possível ser
ético e imoral ao mesmo tempo, quando desobedeço uma determinada regra moral
porque, refletindo eticamente sobre ela, considero-a equivocada, ultrapassada ou
simplesmente errada.

Um exemplo famoso é o de Rosa Parks, a costureira negra que, em 1955, na cidade


de Montgomery, no Alabama, nos Estados Unidos, desobedeceu à regra existente de
que a maioria dos lugares dos ônibus era reservada para pessoas brancas. Já com
certa idade, farta daquela humilhação moralmente oficial, Rosa se recusou a levantar
para um branco sentar. O motorista chamou a polícia, que prendeu a mulher e a
multou em dez dólares. O acontecimento provocou um movimento nacional de boicote
aos ônibus e foi a gota d’água de que precisava o jovem pastor Martin Luther King
para liderar a luta pela igualdade dos direitos civis.

No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e eles estavam certos quanto
a isso. Na verdade, a regra moral vigente é que estava errada, a moral é que era
estúpida. A partir da sua reflexão ética a respeito, Rosa pôde deliberada e
publicamente desobedecer àquela regra moral.

Entretanto, é comum confundir os termos ética e moral, como se fossem a mesma


coisa. Muitas vezes se confunde ética com espírito de corpo, que tem tudo a ver com
moral mas nada com ética. Um médico seguiria a “ética” da sua profissão se, por
exemplo, não “dedurasse” um colega que cometesse um erro grave e assim matasse
um paciente. Um soldado seguiria a “ética” da sua profissão se, por exemplo, não
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

“dedurasse” um colega que torturasse o inimigo. Nesses casos, o tal do espírito de


corpo tem nada a ver com ética e tudo a ver com cumplicidade no erro ou no crime.

Há que proceder eticamente, como o fez o profeta Maomé: não seguir as regras
morais sem pensar, só porque são regras, e sim pensar sobre elas para encontrar a
atitude e a palavra mais decentes, segundo o seu próprio julgamento.

BIOÉTICA
Discutir sobre ética nos remete à Bioética, que
procede do grego bios, vida e ethos, ética, que significa
ética da vida. Mas, como ocorreu a gênese e o desenvolvimento da Bioética?

O termo Bioética foi descrito pela primeira vez em


um artigo de 1970 de Van Rensselaer Potter, The science
of survival e, no ano seguinte, num livro do mesmo autor
Bioethics: bridge to the future. Também em 1971, Andre
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Hellegers utiliza esse termo para nomear o Institute for


Study of Human Reproduction and Bioethics, instituição
importante na gênese e desenvolvimento da Bioética.

Entretanto, determinar o nascimento da Bioética não é


fácil, vários são os fatos e documentos que tiveram impacto na sua gênese e
desenvolvimento.

Documentos da gênese da bioética

O Código de Nuremberg é um conjunto de princípios éticos que regem a pesquisa


com seres humanos, sendo considerado como uma das consequências dos Processos
de Guerra de Nuremberg, ocorridos no fim da Segunda Guerra Mundial.

A medicina, durante muitos séculos, foi exercida com autoritarismo. O Juramento de


Hipócrates, datado do século V a.C., enfatiza o sigilo médico e a beneficência, mas
não menciona, em momento algum, a autonomia do paciente. A experimentação feita
com seres humanos, a despeito de ter contribuído para melhorar a qualidade de vida
do homem e a sua relação com o ambiente, foi exercida, desde os primórdios, muitas
vezes de forma abusiva.

No século XX, nos campos de concentração nazistas, os prisioneiros raciais, políticos


e militares foram colocados à disposição dos médicos para todo e qualquer tipo de
experimentação. Mediante o advento da comunicação e o alcance das informações,
que mostram ao mundo o conflito entre o interesse científico e o interesse da
sociedade em sua totalidade, e a ética torna-se norteadora da evolução social, o
choque das imagens da Segunda Guerra produziu efeito ímpar sobre a comunidade
científica e a população.

Em 9 de dezembro de 1946, fim da Segunda Guerra Mundial, o Tribunal Militar


Internacional, em Nuremberg julgou vinte e três pessoas - vinte das quais, médicos -
que foram consideradas criminosas de guerra, pelos brutais experimentos realizados
em seres humanos nos campos de concentração nazistas. Foi o 1º dos 12 Processos
de Guerra de Nuremberg, sendo esse o Processo contra os médicos, tais como
Rudolph Brandt, Waldemar Hoven, e muitos outros.

A Declaração de Genebra foi aprovada pela Assembleia Geral da Associação Médica


Mundial em Genebra, 1948, sofrendo alterações em 1968, 1984, 1994, 2005 e 2006. A
declaração foi concebida como uma revisão modernizadora dos preceitos morais do
Juramento de Hipócrates e tem sido utilizada em vários países na solenidade de
recepção aos novos médicos inscritos na respectiva Ordem ou Conselho de Medicina
[1] .

A Declaração de Helsinque é um conjunto de princípios éticos que regem a pesquisa


com seres humanos, e foi redigida pela Associação Médica Mundial[1] em 1964.
Posteriormente, foi revisada 7 vezes, sendo sua última revisão em outubro de 2013,
durante a Assembleia Geral da WMA em Fortaleza (Brasil), e teve dois
esclarecimentos. A Declaração é um importante documento na história da ética em
pesquisa, e surge como o primeiro esforço significativo da comunidade médica para
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

regulamentar a investigação em si. É considerada como sendo o 1º padrão


internacional de pesquisa biomédica e constitui a base da maioria dos documentos
subsequentes.

Antes do Código de Nuremberg, em 1947, não havia um código de conduta que


regesse os aspectos éticos das pesquisas com seres humanos, embora alguns países,
tais como Alemanha e Rússia, tivessem políticas nacionais.[2]

Reconhecendo algumas falhas no Código de Nuremberg, realizado no fim da Segunda


Guerra Mundial, por ocasião dos Julgamentos em Nuremberg, a Associação Médica
Mundial elaborou a Declaração de Helsinque, em junho de 1964, durante a 18ª
Assembleia Médica Mundial, em Helsinque, na Finlândia. A partir de então, esse
documento se tornou referência na maioria das diretrizes nacionais e internacionais,
defendendo em 1º lugar a afirmação de que "o bem estar do ser humano deve ter
prioridade sobre os interesses da ciência e da sociedade", e dando importância
especial ao consentimento livre e firmado em pesquisas médicas que envolvam seres
humanos.

A Declaração desenvolveu os dez primeiros princípios defendidos no Código de


Nuremberg, e aliou-os à Declaração de Genebra (1948), uma declaração de deveres
éticos do médico. Dirigida mais à investigação clínica, solicitou mudanças na prática
médica a partir do conceito de "Experimentação Humana" utilizada no Código de
Nuremberg, sendo uma delas a flexibilização das condições de autorização, que era
"absolutamente essencial" em Nuremberg. Os médicos foram convidados à obtenção
do consentimento "se possível" e a possibilidade de investigação foi autorizada sem o
consentimento, o qual poderia ser conseguido através de um guardião legal.

O caso Tuskegee tem sido objeto de divulgação e reflexão nestes últimos anos.
Analisar um projeto de pesquisa feito no passado (1932) merece alguns cuidados. O
primeiro e mais o importante deles é o de manter a adequação dentro dos parâmetros
então utilizados e não cair na tentação de utilizar reflexões posteriores como base para
o julgamento. É fundamental utilizar os critérios contemporâneos para criticar e
prevenir outras situações semelhantes.

De 1932 a 1972 o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos da América realizou
uma pesquisa, cujo projeto escrito nunca foi localizado, que envolveu 600 homens
negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, da cidade de Macon, no estado do
Alabama. O objetivo do Estudo Tuskegee, nome do centro de saúde onde foi
realizado, era observar a evolução da doença, livre de tratamento. Vale relembrar que
em 1929, já havia sido publicado um estudo, realizado na Noruega, a partir de dados
históricos, relatando mais de 2000 casos de sífilis não tratado.

Não foi dito aos participantes do estudo de Tuskegee que eles tinham sífilis, nem dos
efeitos desta patologia. O diagnóstico dado era de “sangue ruim”. Esta denominação
era a mesma utilizada pelos Eugenistas norte-americanos, no final da década de 1920,
para justificar a esterilização de pessoas portadoras de deficiências.

A contrapartida pela participação no projeto era o acompanhamento médico, uma


refeição quente no dia dos exames e o pagamento das despesas com o funeral.
Durante o projeto foram dados, também, alguns prêmios em dinheiro pela participação.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

A inadequação inicial do estudo não foi a de não tratar, pois não havia uma terapêutica
comprovada para sífilis naquela época. A inadequação foi omitir o diagnóstico
conhecido e o prognóstico esperado.

A partir da década de 50 já havia terapêutica estabelecida para o tratamento de sífilis,


mesmo assim, todos os indivíduos incluídos no estudo foram mantidos sem
tratamento. Todas as instituições de saúde dos EEUU receberam uma lista com o
nome dos participantes com o objetivo de evitar que qualquer um deles, mesmo em
outra localidade recebesse tratamento. A inadequação do estudo foi seguindo o
padrão conhecido como "slippery slope", isto é, uma inadequação leva a outra e o
problema vai se agravando de forma crescente. Da omissão do diagnóstico se evoluiu
para o não tratamento, e deste para o impedimento de qualquer possibilidade de ajuda
aos participantes.

Para Van Rensselaer Potter a finalidade da bioética é auxiliar a humanidade no sentido


de participação racional, porém cautelosa no processo da evolução biológica e cultural.
Bioética é a combinação de conhecimentos biológicos e valores humanos.

O vocábulo "bioética" indica um conjunto de pesquisas e práticas pluridisciplinares,


objetivando elucidar e refletir acerca das soluções para questões éticas provocadas
principalmente pelo avanço das tecnociências biomédicas.

O interesse pela análise deste tema se acelerou ainda mais, quando se decifrou o
código genético humano, mostrando novos recursos de manipulação científica da
natureza. O homem se viu diante de problemas imprevistos.

Assim, seu estudo vai além da área médica, abarcando psicologia, direito, biologia,
antropologia, sociologia, ecologia, teologia, filosofia etc, observando as diversas
culturas e valores. Esta pesquisa não tem fronteira, dificultando, inclusive, uma
definição uma vez que os problemas são considerados sob vários prismas, na tentativa
de harmonizar os melhores caminhos.

Qual a razão da emergência da bioética?

Ocorre que nos últimos anos a medicina, a biologia e a engenharia genética


alcançaram extraordinários avanços: multiplicaram-se os transplantes, experiências
bem sucedidas com animais se multiplicaram, inseminações artificiais se tornaram
corriqueiras, bem como nascimentos humanos fora do corpo humano (fertilização in
vitro). Igualmente pela crescente legislação, adotada por vários, países, que permite o
aborto e, em menor escala, a eutanásia. Ela tem procurado orientar não só os
cientistas dedicados a experiências genéticas como também a opinião pública e os
legisladores em geral. Aos cientistas alerta-os para os limites da sua investigação, à
opinião pública para esclarecê-la e aos legisladores para que façam as leis seguindo
princípios éticos aceitáveis.

DIFERENTES MOMENTOS DA BIOÉTICA:

a) Bioética geral: ocupa-se das funções éticas, é o discurso sobre os valores e os


princípios originários da ética médica e sobre fontes documentais da bioética
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

b) Bioética especial: analisa os grandes problemas enfrentando-os sempre sob o


perfil geral, tanto no terreno médico quanto no biológico (engenharia genética, aborto,
eutanásia, experiência clínica etc...). São as grandes temáticas da bioética.

c) Bioética clínica (o de decisão): trata da praxis médica e do caso clínico, quais são
os valores em jogo e quais os caminhos corretos de conduta.

Define-se Bioética como "o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão,
decisão e normas morais - das ciências da vida e do cuidado com a saúde, utilizando
uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar." Trata, portanto,
entre outros assuntos, do direito dos indivíduos à saúde, do direito dos pacientes, do
direito à assistência, das responsabilidades jurídicas dos pacientes e dos profissionais
da saúde, das responsabilidades sobre as ameaças ã vida no planeta, do direito
ambiental, dos direitos com respeito às novas realidades tecnológicas da medicina e da
biologia (incluindo as novas tecnologias genéticas), etc.

OS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS:

1. Princípio da autonomia: requer do profissional respeito à vontade, o respeito à


crença, o respeito aos valores morais do sujeito, do paciente, reconhecendo o domínio
do paciente sobre sua própria vida e o respeito à sua intimidade. Este princípio gera
diversas discussões sobre os limites morais da eutanásia, suicídio assistido, aborto,
etc. Exige também definições com respeito à autonomia, quando a capacidade
decisional do sujeito (ou paciente) está comprometida. São as pessoas ou grupos
considerados vulneráveis. Isto ocorre em populações e comunidades especiais, como
menores de idade, indígenas, débeis mentais, pacientes com dor, militares, etc. Com
relação à ética em pesquisa, gera o princípio do "termo de consentimento livre e
esclarecido" a ser feito pelo pesquisador e preenchido pelos sujeitos da pesquisa ou
seus representantes legais, quando os sujeitos estiverem com sua capacidade
decisional comprometida.

2. Princípio da beneficência: assegura o bem-estar das pessoas, evitando danos e


garante que sejam atendidos seus interesses. Trata-se de princípio indissociável ao da
autonomia.

3. Princípio da não maleficência: assegura que sejam minorados ou evitados danos


físicos aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. Riscos da pesquisa são as
possibilidades de danos de dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural
ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente.
Dano associado ou decorrente da pesquisa é o agravo imediato ou tardio, ao indivíduo
ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do
estudo científico.

4. Princípio da justiça: exige eqüidade na distribuição de bens e benefícios em


qualquer setor da ciência, como por exemplo: medicina, ciências da saúde, ciências da
vida, do meio ambiente, etc.

5. Princípio da proporcionalidade: procura o equilíbrio entre os riscos e benefícios,


visando ao menor mal e ao maior benefício às pessoas. Este princípio está
intimamente relacionado com os riscos da pesquisa, os danos e o princípio da justiça
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

A Bioética é uma ética aplicada, chamada também de “ética prática”1[1], que visa “dar
conta” dos conflitos e controvérsias morais implicados pelas práticas no âmbito das
Ciências da Vida e da Saúde do ponto de vista de algum sistema de valores (chamado
também de “ética”).

Como tal, ela se distingue da mera ética teórica, mais preocupada com a forma e a
“cogência” (cogency) dos conceitos e dos argumentos éticos, pois, embora não possa
abrir mão das questões propriamente formais (tradicionalmente estudadas pela
metaética), está instada a resolver os conflitos éticos concretos. Tais conflitos surgem
das interações humanas em sociedades a princípio seculares, isto é, que devem
encontrar as soluções a seus conflitos de interesses e de valores sem poder recorrer,
consensualmente, a princípios de autoridade transcendentes (ou externos à dinâmica
do próprio imaginário social), mas tão somente “imanentes” pela negociação entre
agentes morais que devem, por princípio, ser considerados cognitiva e eticamente
competentes. Por isso, pode-se dizer que a bioética tem uma tríplice função,
reconhecida acadêmica e socialmente: (1) descritiva, consistente em descrever e
analisar os conflitos em pauta; (2) normativa com relação a tais conflitos, no duplo
sentido de proscrever os comportamentos que podem ser considerados reprováveis e
de prescrever aqueles considerados corretos; e (3) protetora, no sentido, bastante
intuitivo, de amparar, na medida do possível, todos os envolvidos em alguma disputa
de interesses e valores, priorizando, quando isso for necessário, os mais “fracos”
(Schramm, F.R. 2002. Bioética para quê? Revista Camiliana da Saúde, ano 1, vol. 1, n.
2 –jul/dez de 2002 – ISSN 1677-9029, pp. 14-21). Mas a Bioética, como forma talvez
especial da ética, é, antes, um ramo da Filosofia, podendo ser definida de diversos
modos, de acordo com as tradições, os autores, os contextos e, talvez, os próprios
objetos em exame. Algumas definições:

"Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais
importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente
necessária: conhecimento biológico e valores humanos.” (Van Rensselaer Potter,
Bioethics. Bridge to the future. 1971)

“Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão moral,


decisões, conduta e políticas - das ciências da vida e atenção à saúde, utilizando uma
variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar”.(Reich WT.
Encyclopedia of Bioethics. 2nd ed. New York; MacMillan, 1995: XXI).

“A bioética, da maneira como ela se apresenta hoje, não é nem um saber (mesmo que
inclua aspectos cognitivos), nem uma forma particular de expertise (mesmo que inclua
experiência e intervenção), nem uma deontologia (mesmo incluindo aspectos
normativos). Trata-se de uma prática racional muito específica que põe em movimento,
ao mesmo tempo, um saber, uma experiência e uma competência normativa, em um
contexto particular do agir que é definido pelo prefixo ‘bio’. Poderíamos caracteriza-la
melhor dizendo que é uma instância de juízo, mas precisando que se trata de um juízo
prático, que atua em circunstâncias concretas e ao qual se atribui uma finalidade
prática a través de várias formas de institucionalização. Assim, a bioética constitui uma
prática de segunda ordem, que opera sobre práticas de primera ordem, em contato
direto com as determinações concretas da ação no âmbito das bases biológicas da
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

existência humana.” (Ladrière, J. 2000. Del sentido de la bioética. Acta Bioethica VI(2):
199-218, p. 201-202).

“A palavra ‘bioética’ designa um conjunto de pesquisas, de discursos e práticas, via de


regra pluridisciplinares, que têm por objeto esclarecer e resolver questões éticas
suscitadas pelos avanços e a aplicação das tecnociências biomédicas. (...) A rigor, a
bioética não é nem uma disciplina, nem uma ciência, nem uma nova ética, pois sua
prática e seu discurso se situam na interseção entre várias tecnociências (em
particular, a medicina e a biologia, com suas múltiplas especializações); ciências
humanas (sociologia, psicologia, politologia, psicanálise...) e disciplinas que não são
propriamente ciências: a ética, para começar; o direito e, de maneira geral, a filosofia e
a teologia. (...) A complexidade da bioética é, de fato, tríplice. Em primeiro lugar, está
na encruzilhada entre um grande número de disciplinas. Em segundo lugar, o espaço
de encontro, mais o menos conflitivo, de ideologias, morais, religiões, filosofias. Por fim,
ela é um lugar de importantes embates (enjeux) para uma multidão de grupos de
interesses e de poderes constitutivos da sociedade civil: associação de pacientes;
corpo médico; defensores dos animais; associações paramédicas; grupos ecologistas;
agro-business; industrias farmacêuticas e de tecnologias médicas; bioindustria em
geral” (Hottois, G 2001. Bioéthique. G. Hottois & J-N. Missa. Nouvelle encyclopédie de
bioéthique. Bruxelles: De Boeck, p. 124-126).

“A bioética é o conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e justificam


eticamente os atos humanos que podem ter efeitos irreversíveis sobre os fenômenos
vitais” (Kottow, M., H., 1995. Introducción a la Bioética. Chile: Editorial Universitaria,
1995: p. 53)

Biodireito:Ramo do Direito Público que se associa à bioética, estudando as relações


jurídicas entre o direito e os avanços tecnológicos conectados à medicina e à
biotecnologia, com peculiaridades relacionadas ao corpo e à dignidade da pessoa
humana.

O biodireito se associa a cinco matérias:

 Bioética
 Direito Civil
 Direito Penal
 Direito Ambiental
 Direito Constitucional,

Bioética: Bioética é o estudo interdisciplinar entre biologia, medicina e ética


(especificamente a ética normativa e da moral humana), que investiga todas as
condições necessárias para uma administração responsável do profissional de saúde
em relação à vida humana em geral e da dignidade da pessoa humana em particular.
Esta ciência relacionada ao biodireito, portanto, estuda a responsabilidade moral de
cientistas e bacharéis em medicina na pesquisa médica e de biotecnologias e suas
aplicações sem causar dano a ninguém que se submete a qualquer risco terapêutico.
Este ramo da biomedicina trata de todas as questões delicadas do biodireito e é
dividido em dois grupos de estudo:
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Microbioética: É o ramo da bioética que tem por objetivo o estudo das relações entre
médicos e pacientes e entre as instituições e os profissionais de saúde. A microbioética
trabalha, especificamente, com as questões emergentes, que nascem dos conflitos
entre a evolução da pesquisa científica e os limites da dignidade da pessoa humana.

Macrobioética: É o ramo da bioética que tem por objetivo o estudo das questões
ecológicas em busca da preservação da vida humana. A macrobioética trabalha,
especificamente, com as questões persistentes. As QUESTÕES PERSISTENTES são
aquelas que reiteradamente se manifestam no grupo social e por isso se encontram
regulamentadas, por exemplo, a preservação florestal ou de um patrimônio cultural.
Também denominada de Macrobiodireito, o mesmo pode abranger questões de cunho
ambiental e internacional ambiental, pela amplitude de sua incidência.

Ética e ciência
Ciência- conjunto de saberes, conhecimentos sistematizados, rigorosos e racional com
um objecto de estudo deternimado.

Ética- conjunto de valores e princípios que orientam o comportamento do homem em


sociedade.

Tecnologia- conjunto de instrumentos métodos e técnicas para a resolução de um


problema.

A relação entre a ciência e a ética é um dos grandes colocados a nós na 2ª metade do


séc, XX.

As ambiguidades do processo cientifico-tecnólogico passou do plano teórico para o


real, ou seja, começamos a perceber a deteriorização do meio físico, social e da
integridade humana.

As conquistas tecnologicas no campo da comunicação, transporte, alimentação,


moradia, saúde, lazer vivem ao lado do desiquilibro ecológico, da miséria, da fome,
desemprego, violência que destroi a dignidade da pessoa humana.

Tudo o que se cria nas áreas cientifícas e de conhecimento é para superar as


necessidades e muitas vezes a ambição dos homens e corre-se o risco de
acreditarmos que a superação do impasse se dará por um “código de ética.”

A ciência tem como objectivo transformar a natureza, mininizar incertezas, dúvidas,


preconceitos e procurar soluções para as diversas inquietações e dar respostas a
inumeras questões.

Fazer a ciência especialmente nos dias de hoje é estar carregado de implicações com
a ética.

O melhor seria um entendimento entre os cientistas e a população em geral em que


discutissem o assunto e participassem das avaliações e tomadas de decições tendo
em conta que todos estão implicitos nisso.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

E as pessoas que participam das decisões estão mais interessadas em desenvolver e


aplicação do conhecimento cientifico gerado do que em questões éticos/morais.

Bioética e Biodireito: Respeitando o direito à vida e à dignidade da


pessoa humana

Todo ser humano, recém-iniciado ou adulto, são ou enfermo, com funções biológicas
ou insuficientes, deve ser respeitado em sua vida e dignidade. Arnaldo Rizzardo

Com a realidade da biotecnologia e da biomedicina, as pesquisas avançadas sobre o


ser humano e a aplicação dessas descobertas no homem fizeram surgir conflitos
jurídicos não imaginados pelo legislador, reclamando o nascimento de normas
jurídicas para solucionar tais situações, com a finalidade precípua de proteger a vida,
sem desacelerar o progresso da ciência.

A exemplo da aplicação desses avanços no homem, podemos citar a reprodução


humana medicamente assistida, que tem por objetivo auxiliar pessoas com
dificuldades de reprodução; a clonagem terapêutica, que emprega a criação e a
utilização de embriões especificamente para pesquisa, cujo escopo é desvendar a
cura de doenças e, futuramente, gerar órgãos para reposição; o transexualismo, que
visa adequar o sexo físico ao psíquico, a fim de amenizar o sofrimento psicológico e a
dignidade do transexual.

Ainda nessa mesma linha de raciocínio, assuntos como sexualidade, biologia do sexo,
objeção de consciência, contracepção e aborto eugênico, bancos de sêmen e óvulos,
homossexualidade, transplante de órgãos, eutanásia, distanásia e ortotanásia,
maternidade de substituição, obesidade, dentre outros, são temas que, apesar de não
regulamentados legalmente, com o desenvolvimento biotecnológico e biomédico,
visando melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, vêm sendo aplicados no ser
humano.

Primeiramente, vale destacar que os experimentos biotecnológicos e biomédicos no


ser humano devem observar como linhas mestras os princípios bioéticos.

De acordo com a Encyclopedia of Bioethics, a Bioética é um “estudo sistemático da


conduta humana no campo das ciências biológicas e da atenção de saúde, na medida
em que esta conduta seja examinada à luz de valores e princípios morais”.

Declara Eduardo de Oliveira Leite: “o desenvolvimento de novas tecnologias a serviço


da vida ou da saúde colocou em xeque as referências e medidas habituais e os
fundamentos da moral e da deontologia que figuravam nos códigos jurídicos que
regulavam a conduta humana”.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Assim, mesmo a bioética traçando limites éticos e morais para a biomedicina e a


biotecnologia, não é o suficiente para dissipar dúvidas e exageros cometidos, usando
o ser humano como objeto de manipulação. Por isso, é necessária a presença de um
novo ramo do direito dentro do ordenamento jurídico, capaz de regularizar tais
assuntos. Esse novo ramo é denominado Biodireito.
O Biodireito, apesar de sua relevância no que tange à proteção do ser humano frente à
biotecnologia, não é consagrado como ciência jurídica. Podemos analisá-lo sobre o
prisma dos direitos de 4ª geração, que se referem ao progresso técnico-científico do
homem sobre o próprio homem.

Tem-se, então, a Bioética como a disciplina que examina e discute os aspectos éticos
relacionados com o desenvolvimento e as aplicações da biologia e da medicina,
indicando os caminhos e o modo de se respeitar o valor da pessoa humana, como
unidade e como um todo. O biodireito como um processo de concretização normativa
dos valores e princípios fixados pela ética, tomando como paradigma o valor da
pessoa humana. É um novo ramo do direito da vida humana, necessário porque a
legislação do passado é insuficiente.

Conclui Emerson Ike Coan que, frente a esses avanços “se deve considerar o homem
não um simples produto da natureza, ou seja, só um ser biológico, mas um ser social
capaz de atuar conscientemente sobre aquela, modificando-a, pela sua liberdade
racional e responsável, o que implica sempre limites éticos. Isto embasa o princípio da
dignidade humana.”

O Direito e a Bioética devem estar lado a lado, cada um cumprindo o seu papel, a
Bioética no campo da obrigação moral e o direito elaborando leis legítimas que
regulem as atitudes humanas visando à proteção da VIDA. Assim, o Biodireito torna-se
um dos pilares da Bioética.

Censurável seria esquecer-se do surgimento de um novo ramo do Direito, vale dizer, o


Biodireito, o qual embasar-se-ia em princípios constitucionais, gerais e específicos,
valendo-se ao mesmo tempo do direito consuetudinário, de normas e regulamentos
éticos nacionais e internacionais, tendo como padrão o valor da pessoa humana.

A vida e a dignidade são os bens mais valiosos do ser humano. Admitir que esses
bens sejam menosprezados frente aos experimentos científicos, possivelmente
acarretaria riscos de aberrações genéticas, seleção racial, dentre outras
conseqüências prejudiciais à humanidade.

Urge, portanto, que o Estado conscientizese da imprescindibilidade do tão famigerado


e especulado Biodireito.

Ao prescrever, o médico considera, com base em conhecimento e responsabilidade, a


segurança e eficácia do produto. A ANVISA definiu o "erro de medicação" e "reação
adversa"1.O primeiro é o evento evitável que, de fato ou potencialmente, pode levar ao
uso inadequado de medicamento, que, por sua vez, poderia lesar ou não o paciente.
Pode estar relacionado à prática profissional, ao produto usado, procedimento, má
comunicação na prescrição, rótulos, embalagens, preparação, dispensação,
distribuição, monitoramento, etc. "Reação adversa" é qualquer efeito prejudicial ou
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

indesejado após a administração do medicamento, em doses normalmente utilizadas


para profilaxia, diagnóstico ou tratamento. Expressa o risco inerente do medicamento,
quando usado corretamente. A possibilidade da prevenção é uma das diferenças entre
reações adversas e erros de medicação: a primeira é considerada inevitável e o erro
de medicação é passível de prevenção. Menos definidas são as ocorrências a partir do
momento em que o paciente chega à farmácia. Minoria entre as mais de 50 mil
farmácias brasileiras possui farmacêutico, único autorizado por lei a orientar o uso da
medicação ou efetuar troca de medicamento por genérico. Esse diálogo entre
balconista e paciente pode ser um problema para este último e para o sistema de
saúde porque girará em torno de preço, sem consideração à fabricação e ao ato da
prescrição médica. Se essa troca resultar em menor eficácia, ineficácia ou reação
adversa inesperada, a quem responsabilizar? Não se discute aqui o genérico,
intercambiável com o produto-referência. O médico muitas vezes prescreve apenas o
princípio ativo, com a consciência de que a troca pode acontecer, caso não oriente de
forma contrária, na receita. Todavia, entre marcas e genéricos, há os "bonificados".
Estes são comercializados por empresas, muitas vezes, sem compromisso ético, que
se beneficiam das deficiências da fiscalização e operam com estratégias comerciais e
fiscais questionáveis, oferecendo a balconistas de algumas lojas bonificações variáveis
em espécie e valor em troca de vendas. Garantir a qualidade desses produtos - origem
da matéria-prima, local de fabricação e adesão às boas práticas laboratoriais - nem
sempre é rotina para alguns desses laboratórios, assim como também nem sempre o é
farmacovigilância. A questão que fica para os médicos é: o que fazer se um paciente
retorna queixando-se de falha terapêutica do medicamento prescrito e substituído pela
farmácia? Sendo o responsável pela receita, o seria também pela troca? Muitos
profissionais optam por explicitar na receita que "os medicamentos prescritos não
devem ser trocados na farmácia". Assim, o médico pode assumir total
responsabilidade pela sua prescrição, não a compartilhando com terceiros desprovidos
do devido preparo e movidos por interesses comerciais.

Tutela da vida humana

Civil: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a
salvo desde a concepção os direitos do nascituro. A discussão toda acontece por não
se chegar a um consenso sobre qual é momento da concepção. Na Tutela Civil estão
previstos o nascituro, a existência e os efeitos "post mortem".

Penal: Não há crime sem lei anterior que o defina; não há penalização sem prévia
cominação legal. Nesta tutela estão previstos o homicídio, o suicídio, infanticídio,
fratricídio, lesão corporal e aborto.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Duas respostas aos temas da bioética: Os liberais e os


conservadores

As questões políticas referentes à bioética foram respondidas de forma diversas pelas


duas grandes linhas do pensamento contemporâneo: liberais e conservadores. Para
que se possa, de uma forma geral, verificar onde se encontram as diferenças entre os
dois grandes grupos doutrinários do cenário político da modernidade, torna-se
necessário situar as políticas advogadas, por ambas as correntes do pensamento
social, no quadro de três perguntas básicas, cujas respostas servem para diferenciar
os pensadores liberais dos pensadores conservadores ( Fagot-Largeault, 1996: 33 e
segs.). Essas perguntas representam o cerne da indagação bioética contemporânea e
em função delas encontramos, grosso modo, respostas que têm a ver com a
concepção do homem e da sociedade, como foram formuladas pelo pensamento
social.

As perguntas que constituem o cerne da temática política da bioética são as seguintes:

a) o que é necessário evitar?

b) o que é necessário promover e apoiar?

c) qual o estatuto do corpo humano?

As respostas às três questões acima referidas traçaram o quadro teórico dentro do


qual desenvolveu-se o debate sobre a bioética nos tempos atuais, quadro este que
deverá informar ou complementar o trabalho do legislador e do julgador. À primeira
pergunta, os conservadores responderam com a afirmação de que não se encontra em
discussão a liberdade dos indivíduos, mas sim os problemas individuais e sociais,
provocados pelas novas tecnologias, ainda não devidamente controladas e conhecidas
em suas conseqüências pelo homem. Sustentam os conservadores que, no caso de
dúvida, deve-se paralisar as experiências e transferir para especialistas bem
intencionados a decisão e o contrôle final do processo científico e tecnológico.

Os liberais, por sua vez, respondem colocando em situação privilegiada o indivíduo,


acima de considerações de caráter público ou social. Considerado como agente moral,
cuja a liberdade constitui a sua dimensão principal, o indivíduo é o senhor absoluto dos
seus destinos, não devendo sujeitar-se às imposições dos detentores do
conhecimento ou do poder público; trata-se, portanto, para os liberais, de evitar
qualquer restrição ao exercício pleno da liberdade individual. Em torno da idéia de
pessoa e de liberdade, a boa doutrina liberal ( Engelhardt, ob.cit.) sustenta que, por
tratar-se da pessoa humana, e em função dela, é que se deverão aplicar os princípios
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

da bioética; e da pessoa humana que vive numa sociedade democrática e pluralista,


significando, assim, que os princípios da bioética supõem a existência de uma
sociedade liberal. Essa objetivação dos princípios da bioética, para Engelhardt,
sòmente pode ocorrer na sociedade plural, estruturada através de uma ordem política
liberal, sendo essa a razão pela qual, em seu pensamento, o princípio da autonomia
torna-se hegemônico em relação aos dois outros princípios da bioética. A solução
política liberal deixa, então, para o indivíduo, através de seus representantes políticos,
a tarefa de avaliar o progresso da ciência e da tecnologia, cujo ritmo e objetivos
deverão estar sujeitos ao contrôle da sociedade civil.

A segunda questão de caráter geral que se coloca para a bioética - o que se deve
fazer -, também, é respondida de forma diversa pelas duas correntes de pensamento.
O pensamento liberal sustenta que se deve promover a tolerância e assegurar a
resolução pacífica dos conflitos. Os conservadores consideram, por outro lado, que se
torna necessário aprofundar os debates sobre as descobertas e tecnologias da
genética, antes que a ciência humana aventure-se por campos do conhecimento ainda
pouco conhecidos; esses debates devem obedecer a uma estratégia política de
dissuasão, através do medo, a chamada "heurística do medo" ( Hottois, 1993:23).
Assim, na concepção conservadora seria exorcizada a compulsão tecnicista da
contemporaneidade, que, ao ver de importantes críticos da modernidade, transformou
o homem de sujeito em objeto da técnica.

Tanto liberais, como conservadores, entendem o estatuto do corpo do indivíduo de


forma diferente, sendo que esse entendimento resulta de uma concepção, também
diversa, da natureza ontológica do ser humano. Para os conservadores, o homem
estrutura-se em função de uma unidade orgânica, na qual a liberdade constitui a
espinha dorsal, essencial para o equilíbrio e aperfeiçoamento da pessoa humana. Por
essa razão, a natureza biológica do ser humano é facilmente atingida pelas temidas
agressões tecnológicas, cujas conseqüências acabam atentando contra a própria
natureza humana. Sustentam os conservadores ser necessário suspender essas
experiências, que resultam em violações desse espaço primitivo de liberdade natural,
para que se possa recuperar a unidade natural do indivíduo. Os liberais respondem à
questão sobre o estatuto do ser humano relacionando-o com uma das formas naturais
que garantem o exercício da liberdade; na verdade, os liberais, pelas próprias
caraterísticas do seu pensamento, não têm uma concepção unificada do ser humano,
a não ser a remissão à liberdade.

As diferentes respostas, dadas por liberais e conservadores, permitem determinar qual


o entendimento do homem e da sociedade, que se encontra subjacente em cada uma
das posições e quais as conseqüências para o mundo da nova biologia. A posição
conservadora parte da suposição de que as aplicações dos novos conhecimentos,
principalmente genéticos, devem ser encarados com cautela. Não se encontrando no
contexto das biotecnologias parâmetros seguros, que possam servir de referência para
pesquisas, ainda embrionárias, deve-se procurar preservar a todo o custo a esfera da
pessoa, considerada como um todo orgânico. Propõem os conservadores, o
estabelecimento de uma moratória nessas pesquisas, impedindo-se, assim, que a
natureza humana seja desnaturada (Jonas, 1980:141 e segs.). Essa moratória serviria,
portanto, para resguardar a pessoa humana de tecnologias que poderão ou não
modificar a própria natureza humana, pois, sustentam os conservadores, ninguém
conhece com precisão os resultados e as repercussões, principalmente, da engenharia
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

genética. O temor de um progresso científico e tecnológico, que se desenvolvia em


ritmo acelerado, a partir de 1950, fez mesmo com que o argumento contrário ao
prosseguimento das pesquisas fosse aceito pela comunidade científica, durante a
reunião de Asilomar, em 1974, quando cientistas concordaram em estabelecer uma
moratória nas pesquisas sobre a recombinação artificial com vistas à transferência de
material genético para uma célula receptora. Em 1975, ainda em Asilomar, a moratória
foi suspensa, retomando-se as pesquisas. Constatamos, assim, como para o
pensamento conservador o importante, tendo em vista a imprevisibilidade do novo
mundo que se vai abrindo para o conhecimento humano, é evitar o risco tecnológico,
ainda que custe novos avanços na ciência.

A posição liberal sustenta não ser possível determinar uma definição do bom e do mal
de forma abstrata e com expressão universal. Em conseqüência, o importante nas
questões da bioética, como em todos os demais problemas sociais, consistirá na
preservação da liberdade de escolha e do debate público, permitindo-se que cada
indivíduo e comunidade estabeleçam seus próprios padrões de contrôle (Charlesworth,
1993: 10 e segs.). Os liberais consideram mesmo que esta não é uma questão
essencial, pois cada sociedade, em princípio, deve determinar os seus próprios
parâmetros normativos, seja do ponto de vista moral, seja sob o aspecto jurídico.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Nascituro

Um nascituro é um feto. No Direito é grande a controvérsia se tal feto pode ser


considerado um ser humano quanto à sua personalidade jurídica (pois ter "vida" não é
sinônimo de ter "vida humana") e sobre quais direitos tal feto possui, se é que possui.

Nos termos do art. 2º do Código Civil de 2002, "A personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos
do nascituro". Nos termos de nossa legislação surge um impasse, pois, embora não
tenha personalidade, que apenas começa com o nascimento com vida, o nascituro
pode titularizar direitos, como, por exemplo, a busca de "alimentos gravídicos". Em
razão das controvérsias acerca da natureza jurídica do nascituro, três teorias forjaram-
se, basicamente. A primeira, natalista, afirma que o nascituro possui mera expectativa
de direito, só fazendo jus à personalidade após o nascimento com vida (art.2º, 1ª parte
do CC/02); já a teoria concepcionista assegura ao nascituro personalidade, desde a
concepção, possuindo, assim, direito à personalidade antes mesmo de nascer; a teoria
da "personalidade condicionada" forja, a seu turno, uma "personalidade virtual ao
nascituro", vez que ele possui personalidade, mas sob a condição de nascer com vida.

Essas teorias foram defendidas por diferentes juristas brasileiros. Para José Carlos
Moreira Alves, em um posicionamento mais alinhado com a teoria natalista, "não há,
nunca houve, direito do nascituro, mas, simples, puramente, expectativas de direito,
que se lhe protegem, se lhe garantem, num efeito preliminar, provisório, numa
Vorwirkung, porque essa garantia, essa proteção é inerente e é essencial à expectativa
do direito". Assim, aduz, se "o nascituro não é titular de direitos subjetivos, não será
também, ainda que por ficção, possuidor".

Já Ives Gandra da Silva Martins, em um posicionamento concepcionista, alinhado com


os seus preceitos religiosos, partindo do pressuposto que um nascituro já é um ser
humano postula que "o primeiro e mais importante de todos os direitos fundamentais
do ser humano é o direito à vida. É o primeiro dos direitos naturais que o direito positivo
pode simplesmente reconhecer, mas que não tem a condição de criar. O homem nasce
com certos direitos, que não vem a receber por mera repetição de fatos históricos que
os valorizam. O direito a vida é o principal direito do ser humano. Cabe ao Estado
preservá-lo, desde a sua concepção, e preservá-lo tanto mais quanto mais insuficiente
for o titular deste direito. Nenhum egoísmo ou interesse estatal pode superá-lo. Sempre
que deixa de ser respeitado, a História tem demonstrado que a ordem jurídica, que o
avilta perde estabilidade futura e se deteriora rapidamente".[3]
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Em que pese as diferenças apontadas pelas correntes, é sustentado que o Código Civil
brasileiro as adotou, a depender do momento. Assim é que, para fins sucessórios, foi
utilizada a 3ª terceira corrente. A busca de alimentos gravídicos (lei 11.804/2008) se
funda na segunda, sendo certo que a primeira fundamenta a definição de
personalidade no CC/02. A lei brasileira põe a salvo, desde o momento da concepção,
os direitos do nascituro.[4] O nascituro tem seus direitos assegurados, mas ainda não
os detém. Somente os terá quando nascer com vida, ainda que esta seja breve, sendo
essa a teoria da "personalidade condicionada".

Alimentos: Os doutrinadores divergem quanto aos direitos a alimentos ao nascituro na


impossibilidade deste ser até mesmo considerado ser humano, quanto mais titular ou
capaz de direito.

O Código Civil, ao mesmo tempo em que concebe direitos ao nascituro, dispõe que a
personalidade começa do nascimento com vida, o que põe em questão a relação entre
personalidade (humana) e subjetividade jurídica. Para os defensores dos direitos dos
animais, por exemplo, um animal pode ser titular de direitos subjetivos, mas não possui
personalidade (humana). A diferenciação entre ambos os institutos é questionada por
Amaral, que desafia: "como se fosse possível separar personalidade da subjetividade
jurídica". Para Bevilácqua, in Teoria geral do direito civil (RIO 1975), "a capacidade de
direito confunde-se com a própria personalidade".

Já com relação à questão da capacidade jurídica, Carlos Maximiliano expressa que "A
mãe da criança pode acionar, porém, em nome do filho menor ou nascituro, no papel
de tutora, ou curadora, nata; pois não se cogita de reparação à mulher, e sim de
adquirir ou recobrar o filho o seu estado civil. Basta estar a pessoa concebida para ser
sujeito de direito; naquilo que ao embrião aproveita, intervém a seu favor a Justiça,
provocada a agir pelos representantes legais dos incapazes: Infans conceptus pro jam
nato habetur quoties de ejus commodis agitur, "a criança concebida se tem como
nascida já, toda vez que se trata do seu interesse e proveito"." [5]

É premissa, portanto, que o nascituro é pessoa incapaz. E ele pode ser representado
judicialmente por quem detém o pátrio poder, quando não tiver interesses conflitantes e
for capaz ou, caso contrário, por curador nomeado ou pelo Ministério Público, até
quando for suficiente para o exercício pleno.

Esta ressalva exprime que o ser humano, desde o momento em que é concebido,
considera-se como já tendo nascido para tudo quanto diga a conservação de sua
expectativas de direito. É a consagração do velho preceito do direito romano -
"nasciturus pro jam nato habetur si de ejus commodo agitur” (o nascituro considera-se
como nascido, quando se trata de seus interesses)."[6]

Nasciturus pro iam nato habetur quando de eius commodo agitur ("no interesse do
nascituro, é ele considerado já nascido"). Sempre que se trata de aplicação do
princípio, há pretensão do nascituro à sentença (resolução judicial), qualquer que seja
(declarativa, condenatória, constitutiva, mandamental, executiva), e à execução. A cada
pretensão corresponde ação, como aconteceria se o titular da pretensão fosse pessoa
já nascida.[7]

Continuando, Pontes de Miranda reforça a necessidade que justificam os alimentos:


Textos de apoio: Bioética e Biodireito

"Durante a gestação, pode ser preciso à vida do feto e à vida do ente humano, após o
nascimento, outra alimentação ou medicação. Tais cuidados não interessam à mãe;
interessam ao concebido. Por outro lado, há despesas para roupas e outras despesas
que têm que ser feitas antes do nascimento, delas exigir a pessoa logo ao nascer. O
“quantum” de alimentos é limitado, e o que escreveu Oliveira Cruz "o maior desses
direitos é, sem dúvida o de ser alimentado e tratado para poder viver; assim pode a
mãe pedir alimentos para o nascituro, hipótese em que, na fixação, o juiz levará em
conta as despesas que se fizerem necessárias para o bom desenvolvimento da
gravidez, até o seu termo final, e incluindo despesas médicas e medicamentos".

Reafirmando-se, "os alimentos provisionais podem ser pedidos ... inclusive a


nascituro", no entendimento de Moura Bitencourt, em seu livro Alimentos, página 115
(EUD,1979).

Guima Tamã (in: Tudo sobre alimento, Síntese), didaticamente discrimina todas as
possíveis situações em que são devido os alimentos, destacando-se: "1.11. A
descendente grávida de qualquer um: Estando grávida a filha, neta ou bisneta, etc, sem
rendimentos para se manter, pode acionar os pais, avós ou bisavós, que os tenham
para alimentá-la, mesmo sendo ela maior e filho não legitimo. Essa obrigação do
ascendentes decorre da necessidade de ser alimentado o nascituro".

Uma vez concebido, ou seja, a partir do ovo, a responsabilidade dos alimentos esta
presente. Ao nascituro são devidos alimentos em sentido lato – alimentos civis – para
que possa nutrir-se e desenvolver-se com normalidade, objetivando o nascimento com
vida. Deve-se incluir nos alimentos, a adequada assistência médico cirúrgica e as
despesas do parto.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Aborto
O aborto é a interrupção de uma gravidez.

É a expulsão de um embrião ou de um feto antes do final do seu desenvolvimento e


viabilidade em condições extra-uterinas.
O aborto pode ser espontâneo ou induzido. São várias as causas e os motivos que
podem levar a que uma gravidez seja interrompida, quer espontaneamente, quer por
indução.
O aborto pode ser induzido medicamente com o recurso a um agente farmacológico, ou
realizado por técnicas cirúrgicas, como a aspiração, dilatação e curetagem.

Quando realizado precocemente por médicos experientes e com as condições


necessárias, o aborto induzido apresenta elevados índices de segurança.

Um aborto, ou interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão prematura de um


embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo por esta causada. Isto
pode ocorrer de forma espontânea ou induzida, provocando-se o fim da gestação, e
consequente fim da atividade biológica do embrião ou feto, mediante uso de
medicamentos ou realização de cirurgias.

O aborto induzido, quando realizado por profissionais capacitados e em boas


condições de higiene é um procedimento seguro para a mãe. Entretanto, o aborto feito
por pessoas não qualificadas ou fora de um ambiente hospitalar, resulta em
aproximadamente 70 mil mortes maternas e cinco milhões de lesões maternas por ano
no mundo Estima-se que sejam realizados no mundo 44 milhões de abortos
anualmente, sendo pouco menos da metade destes procedimentos realizados de forma
insegura.

A incidência do aborto se estabilizou nos últimos anos, após ter tido uma queda nas
últimas décadas devido ao maior acesso a planejamento familiar e a métodos
contraceptivos. 40% das mulheres do mundo têm acesso a aborto induzido em seus
países (dentro dos limites gestacionais).

Historicamente, o aborto induzido vem sendo realizado através de diferentes métodos e


seus aspectos morais, éticos, legais e religiosos ainda são objeto de intenso debate em
diversas partes do mundo. No Brasil os grupos religiosos, liderados pela Igreja Católica
mas com a participação ativa de evangélicos e espíritas, são os principais atores
sociais contrários ao aborto. Eles atuam no Congresso Nacional e em outras instâncias
para que a proibição do aborto seja mantida.

Tipos de Aborto:
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

 Aborto Espontâneo
 Aborto Induzido
 Aborto Ilegal

Aborto Espontâneo surge quando a gravidez é interrompida sem que seja por
vontade da mulher. Pode acontecer por vários factores biológicos, psicológicos e
sociais que contribuem para que esta situação se verifique.

Aborto Induzido é um procedimento usado para interromper uma gravidez.


Pode acontecer quando existem malformações congénitas, quando a gravidez resulta
de um crime contra a liberdade e autodeterminação sexual, quando a gravidez coloca
em perigo a vida e a saúde física e/ou psíquica da mulher ou simplesmente por opção
da mulher.
É legal quando a interrupção da gravidez é realizada de acordo com a legislação em
vigor. Quando feito precocemente por médicos experientes e em condições
adequadas apresenta um elevadíssimo nível de segurança.

Aborto Ilegal é a interrupção duma gravidez quando os motivos apresentados não se


encontram enquadrados na legislação em vigor ou quando é feito em locais que não
estão oficialmente reconhecidos para o efeito.
O aborto ilegal e inseguro constitui uma importante causa de mortalidade e de
morbilidade maternas. O aborto clandestino é um problema de saúde pública.

Complicacões do aborto. :Embora o aborto, realizado adequadamente, não implique


risco para a saúde até às 10 semanas, o perigo aumenta progressivamente para além
desse tempo. Quanto mais cedo for realizado, menores são os riscos existentes.
Entre as complicações do aborto destacam-se as hemorragias, as infecções e
evacuações incompletas, e, no caso de aborto cirúrgico, as lacerações cervicais e
perfurações uterinas. Estas complicações, muito raras no aborto precoce, surgem com
maior frequência no aborto mais tardio.
Se nos dias seguintes à intervenção a mulher tiver febre, com temperatura superior a
38ºC, perdas importantes de sangue, fortes dores abdominais ou mal-estar geral
acentuado,deve contactar rapidamente o estabelecimento de saúde onde decorreu a
intervenção.

Todos os estabelecimentos que prestam este serviço têm de estar equipados de


forma a reconhecer as complicações do aborto, com pessoal treinado quer para lidar
com elas, quer para referenciar adequadamente as mulheres para cuidados
imediatos.

Não há evidência de que um aborto sem complicações tenha implicações na


fertilidade da mulher, provoque resultados adversos em gravidezes subsequentes ou
afecte a sua saúde mental.

Outras classificações do aborto

Quanto ao tempo de duração da gestação:


Textos de apoio: Bioética e Biodireito

 Aborto subclínico: abortamento que acontece antes de quatro semanas de


gestação
 Aborto precoce: entre quatro e doze semanas
 Aborto tardio: após doze semanas

Riscos de um aborto: Os riscos para a saúde envolvidos no aborto induzido


dependem de o procedimento ser realizado com ou sem segurança.

A Organização Mundial de Saúde define como abortos não-seguros aqueles realizados


por indivíduos sem formação, equipamentos perigosos ou em instituições sem
higiene.[10] Os abortos legais realizados nos países desenvolvidos estão entre os
procedimentos mais seguros na medicina. Nos Estados Unidos, a taxa de mortalidade
materna em abortos entre 1998 e 2005 foi de 0,6 morte por 100.000 procedimentos
abortivos, tornando o aborto cerca de 14 vezes mais seguro do que o parto, cuja taxa
de mortalidade é de 8,8 mortes por 100.000 nascidos vivos.

O risco de mortalidade relacionada com o aborto aumenta com a idade gestacional,


mas permanece menor do que o do parto até pelo menos 21 semanas de gestação.
Isso contrasta com algumas leis presentes em alguns países que exigem que os
médicos informem os pacientes que o aborto é um procedimento de alto risco.

A aspiração uterina a vácuo no primeiro trimestre é o método de aborto não-


farmacológico mais seguro, e pode ser realizado em uma clínica de atenção primária
em saúde, clínica de aborto ou hospital. As complicações são raras e podem incluir
perfuração uterina, infecção pélvica e retenção dos produtos da concepção
necessitando de um segundo procedimento para evacuá-los.

Geralmente são administrados antibióticos profiláticos (preventivos) (como a doxiciclina


ou metronidazol) antes do aborto eletivo, pois acredita-se que eles diminuem
substancialmente o risco de infecção uterina pós-operatória. As complicações após
abortos no segundo-trimestre são similares às que ocorrem após o aborto no primeiro
trimestre, e dependem do método escolhido.

Existe pouca diferença em termos de segurança e eficácia entre o aborto


farmacológicos usando regime combinado de mifepristona e misoprostol e o aborto
não-farmacológico (aspiração a vácuo) quando são realizados no início do primeiro
trimestre (até 9 semanas de idade gestacional). O aborto farmacológico com o uso do
análogo de prostaglandina misoprostol isolado é menos efetivo e mais doloroso do que
o aborto usando o regime combinado de mifepristona e misoprostol ou do que o aborto
cirúrgico.

Existe controvérsia na comunidade médica e científica sobre os efeitos do aborto. As


interrupções de gravidez feitas por médicos competentes são normalmente
consideradas seguras para as mulheres, dependendo do tipo de cirurgia
realizado.Entretanto, um argumento contrário ao aborto seria de que, para o feto, o
aborto obviamente nunca seria "seguro", uma vez que provoca sua morte sem direito
de defesa.

Os métodos que não são realizados com acompanhamento médico (uso de certas
drogas, ervas, ou a inserção de objectos não cirúrgicos no útero) são potencialmente
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

perigosos para a mulher, conduzindo-a a um elevado risco de infecção permanente ou


mesmo à morte, quando comparado com os abortos feitos por pessoal médico
qualificado.

Segundo a ONU, pelo menos 70 mil mulheres perdem a vida anualmente em


consequência de abortos realizados em condições precárias, não há, no entanto,
estatísticas confiáveis sobre o número total de abortos induzidos realizados no mundo
nos países e/ou situações em que o aborto é criminalizado.

Existem, com variado grau de probabilidade, possíveis efeitos negativos associados à


prática abortiva, nomeadamente a hipótese de ligação ao câncer de mama, a dor fetal,
a síndrome pós-abortiva. Possíveis efeitos positivos incluem redução de riscos para a
mãe e para o desenvolvimento da criança não desejada.

Em janeiro de 2012 uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde


revelou que a prática do aborto é maior nos países em que ele é proibido e quase
metade de todos os abortos feitos no mundo é realizada com altos riscos para a
mulher.

Entre 2003 e 2008, cerca de 47 mil mulheres morreram e outros 8,5 milhões tiveram
consequências graves na sua saúde, decorrentes da prática do aborto.

Quase todas as interrupções de gravidez intencionais realizadas de maneira insegura,


aconteceram em nações em desenvolvimento, na América Latina e África. "O aborto é
um procedimento muito simples. Todas essas mortes e complicações poderiam ter sido
facilmente evitadas", disse Gilda Sedgh, pesquisadora-sênior do Instituto norte-
americano Guttmacher, autora do estudo.

Câncer de mama

O médico estadunidense Joel Brind é o principal defensor de uma suposta relação


causal entre o aborto induzido e o risco de desenvolvimento de câncer de mama.[30]

Sua teoria é que no início da gravidez, o nível de estrogénio aumenta, levando ao


crescimento das células mamárias necessário à futura fase de lactação. A hipótese de
relação positiva entre câncer de mama e aborto sustenta que se a gravidez é
interrompida antes da completa diferenciação celular, então existirão relativamente
mais células indiferenciadas vulneráveis à contracção da doença.

Esta hipótese não é aceita pelo consenso científico das entidades ligadas ao câncer
Bind é um pesquisador com uma agenda enviesada e pseudocientífica para a
promoção de suas crenças religiosas através do do "Breast Cancer Prevention
Institute".

Dor do feto

A existência ou ausência de sensações fetais durante o processo de abortamento é


hoje matéria de interesse médico, ético e político. Diversas provas entram em conflito,
existindo algumas opiniões defendendo que o feto é capaz de sentir dor a partir da
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

sétima semana enquanto outros sustentam que os requisitos neuro-anatómicos para tal
só existirão a partir do segundo ou mesmo do terceiro trimestre da gestação.

Os receptores da dor surgem na pele na sétima semana de gestação.

O hipotálamo, parte do cérebro receptora dos sinais do sistema nervoso e que liga ao
córtex cerebral, forma-se à quinta semana.

Todavia, outras estruturas anatómicas envolvidas no processo de sensação da dor


ainda não estão presentes nesta fase do desenvolvimento. As ligações entre o tálamo
e o córtex cerebral formam-se por volta da 23ª semana. Existe também a possibilidade
de que o feto não disponha da capacidade de sentir dor, ligada ao desenvolvimento
mental que só ocorre após o nascimento.

Novos estudos do Hospital Chelsea, realizados pela Dra. Vivette Glover em Londres
sugerem que a dor fetal pode estar presente a partir da décima sétima semana de vida
do feto. O que justificaria, segundo os proponentes do aborto, o uso de anestésicos
para diminuir o provável sofrimento do feto. Estes estudos contrariam a versão da
entidade que reúne obstetras e ginecologistas do Reino Unido, o Royal College of
Obstretics and Gynacologists; para esta organização, só há dor depois de 26 semanas.

Síndrome pós-abortiva

A síndrome pós-abortivo seria uma série de reações psicológicas apresentadas ao


longo da vida por mulheres após terem cometido um aborto.

Há vários relatos de problemas mentais relacionados direta ou indiretamente ao aborto;


uma descrição clássica pode ser encontrada na obra "A psicopatologia da vida
cotidiana", de Sigmund Freud. No livro "Além do princípio de prazer", Freud salienta:
"Fica-se também estupefato com os resultados inesperados que se podem seguir a um
aborto artificial, à morte de um filho não nascido, decidido sem remorso e sem
hesitação.

Há médicos portugueses, porém, que questionam a existência do síndroma; não existe


nenhum estudo português publicamente divulgado sobre o assunto. Entretanto nos
Estados Unidos, Reino Unido e mesmo no Brasil, essa possibilidade já é bastante
discutida, com resultados contrastantes.

O síndroma pós-abortivo (PAS), conhecido também como síndroma pós-traumático


pós-abortivo ou por síndroma do trauma abortivo, é um termo que designa um conjunto
de características psicopatológicas que alguns médicos dizem ocorrer nas mulheres
após um aborto provocado. Alguns estudos, no entanto, concluem que alguns destes
sintomas são consequência da proibição legal e/ou moral do aborto e não do ato em si.
[

Entretanto, tal síndrome teria sido catalogada em inúmeras pesquisas, entre elas a do
dr. Vincent Rue, que no estudo da Desordem Ansiosa Pós-Traumática (DAPT),
presente em ex-combatentes do Vietnã, e teria sua correspondente na síndrome pós-
aborto (SPA).
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Algumas estatísticas de organizações pró-vida argumentam que há um aumento de 9%


para 59% nos índices de distúrbios psicológicos em mulheres que se submetem ao
aborto.

Outro estudo, do Royal College of Psychiatrists, a associação dos psiquiatras britânicos


e irlandeses, considerou que o aborto induzido pode trazer distúrbios clínicos severos
para a mulher, e que essa informação deve ser passada para a mesma, antes da
opção pelo aborto.

Mulheres grávidas vítimas de violência

Embora existam notícias indicando que muitas mulheres grávidas morrem em


consequência de atos violentos, aparentemente não há dados conclusivos que cruzem
esta informação com o risco de morte geral das mulheres não-grávidas em situações
semelhantes.

Consequências a longo prazo para a criança não desejada

Muitos membros de grupos pró-escolha consideram haver um risco maior de crianças


não desejadas (crianças que nasceram apenas porque a interrupção voluntária da
gravidez não era uma opção, quer por questões legais, quer por pressão social) terem
um nível de felicidade inferior às outras crianças incluindo problemas que se mantêm
mesmo quando adultas, entre estes problemas incluem-se:

 doença e morte prematura


 pobreza
 problemas de desenvolvimento
 abandono escolar
 delinquência juvenil
 abuso de menores
 instabilidade familiar e divórcio
 necessidade de apoio psiquiátrico
 falta de autoestima

Uma opinião contrária, entretanto, apresentada por grupos pró-vida, seria que, mesmo
que sejam encontradas correlações estatísticas entre gravidez indesejáveis e situações
consideradas psicologicamente ruins para as crianças nascidas, esta situação não
pode ser comparada com a de crianças abortadas, visto que estas não estão vivas.
Uma "situação de vida" não seria passível de comparação com uma "situação de
morte", visto a inverificabilidade desta enquanto situação possivelmente existente (a
chamada "vida após a morte") pelos métodos científicos disponíveis. Como não se
pode estipular se uma situação ruim de vida, por pior que fosse, seria pior que a morte,
o aborto, no caso, não poderia ser apresentado como solução, visto que não dá a
capacidade de escolha ao envolvido, enquanto ainda é um feto

Métodos de indução

Aborto farmacológico
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Também conhecido como aborto médico, químico ou não-cirúrgico, é o aborto induzido


por administração de fármacos que provocam a interrupção da gravidez e a expulsão
do embrião. O aborto farmacológico é aplicável apenas no primeiro trimestre da
gravidez.

Tornou-se um método alternativo de aborto induzido com o surgimento no mercado dos


análogos de prostaglandina no início dos anos 1970 e do antiprogestágeno
mifepristona (RU-486) nos anos 1980.

Os regimes de aborto mais comuns para o primeiro trimestre utilizam mifepristona em


combinação com um análogo de prostaglandina (misoprostol) até 9 semanas de idade
gestacional, metotrexato em combinação com um análogo de prostaglandina até 7
semanas de gestação, ou um análogo de prostaglandina isolado. Os regimes de
mifepristona–misoprostol funcionam mais rápido e são mais efetivos em idades
gestacionais mais avançadas do que os regimes combinados de metotrexato-
misoprostol, e os regimes combinados são mais efetivos que o uso do misoprostol
isolado.

Em abortos muito precoces, com até 7 semanas de gestação, o regime combinado de


mifepristona-misoprostol é considerado mais efetivo do que o aborto cirúrgico
(aspiração à vácuo). Os regimes de aborto médico precoce que utilizam 200 mg de
mifepristona, seguido por 800 mcg de misoprostol vaginal ou oral 24-48 horas após
apresentam efetividade de 98% até as 9 semanas de idade gestacional. Nos casos de
falha do aborto farmacológico, é necessária a complementação do procedimento com o
aborto cirúrgico.

Os abortos farmacológicos precoces são responsáveis pela maioria dos abortos com
menos de 9 semanas de gestação na Grã-Bretanha, França,Suíça, e nos países
nórdicos. Nos Estados Unidos, o percentual de abortos farmacológicos precoces é
menor.

Regimes de aborto farmacológico usando mifepristona em combinação com um


análogo de prostaglandina são os métodos mais comumente usados para abortos de
segundo trimestre no Canada, maior parte da Europa, China e Índia, ao contrário dos
Estados Unidos, onde 96% dos abortos de segundo trimestre são realizados
cirúrgicamente com dilatação e esvaziamento uterino.

Aborto cirúrgico ou por procedimentos

Os procedimentos no primeiro trimestre podem geralmente ser realizados usando


anestesia local, enquanto os realizados no segundo trimestre podem necessitar de
sedação ou anestesia geral.[19]

Aspiração uterina a vácuo


Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Um aborto realizado por aspiração a vácuo com equipamento elétrico em uma


gestação de oito semanas (seis semanas após a fertilização).1: Bolsa amniótica2:
Embrião3: Endométrio4: Espéculo5: Cureta de aspiração6: Saída para a bomba à
vácuo

No procedimento de aspiração uterina a vácuo o médico realiza vácuo no útero da


gestante para remover o feto. São utilizados equipamentos manuais ou elétricos para a
realização do vácuo. Geralmente são realizados em gestações de até doze semanas
(primeiro trimestre).

A aspiração manual intrauterina (AMIU) consiste em uma aspiração cujo vácuo é criado
manualmente utilizando-se uma cânula flexível acoplada a uma seringa. Foi
desenvolvida para ser realizada ambulatorialmente sem anestesia geral, não
necessitando ser realizada em bloco cirúrgico. Não é necessária a dilatação cervical.

O procedimento também pode ser utilizando um aparelho de vácuo eléctrico. Neste tipo
de aspiração o conteúdo do útero é sugado pelo equipamento.

Ambos os procedimentos são considerados não-cirúrgicos e são realizados em cerca


de dez minutos. São eficazes e seguros, pois apresentam um baixo risco para a mulher
(0,5% de casos de infecção).

Dilatação e curetagem uterina

Figura mostrando como é empregada a técnica da curetagem

Em gestações mais avançadas, nas quais o material a ser removido do útero é muito
volumoso, recorre-se à curetagem. Ao contrário da aspiração uterina à vácuo, que
pode ser realizada em consultórios ou clínicas, a dilatação e curetagem é um
procedimento cirúrgico, devendo ser realizado em um hospital com bloco cirúrgico.
Inicialmente o médico alarga o colo do útero da paciente com dilatadores, para permitir
a passagem da cureta a seguir. A cureta é um instrumento cirúrgico cortante, em forma
de colher, que é introduzida no útero para realizar a raspagem. Servindo-se da cureta,
o médico retira todo o conteúdo uterino, incluindo o endométrio.

Uma das principais complicações da curetagem é a perfuração uterina causada pela


cureta.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Evita-se a realização da curetagem uterina em gestações com mais de 12-16 semanas


sem antes realizar a expulsão fetal.

Dilatação e evacuação

O procedimento de curetagem é aplicável ainda no começo do segundo trimestre, mas


se não for possível terá de recorrer-se a métodos como a dilatação e evacuação. Neste
procedimento o médico promove primeiro a dilatação cervical (um dia antes).

Na intervenção que é feita sob anestesia é inserido um aparelho cirúrgico na vagina


para cortar o material intra-uterino em pedaços, e retirá-los de dentro do útero. No final
é feita a aspiração. O feto é remontado no exterior para garantir que não há nenhum
pedaço no interior do útero que poderia levar a infecção séria. Em raríssimas situações
(0,17% das IVGs realizadas nos Estados Unidos em 2000) o feto é removido intacto.

Eliminação ou expulsão fetal (indução do trabalho de parto)

A eliminação ou expulsão fetal geralmente é reservada para gestações com mais de


doze semanas. Consiste em forçar prematuramente o trabalho de parto com o uso do
análogo de prostaglandina misoprostol. Pode-se associar o uso de ocitocina ou injeção
no líquido amniótico de soluções hipertônicas com solução salina ou ureia.

Após a expulsão fetal, pode ser necessária a realização de curetagem.

Aborto por esvaziamento craniano intrauterino

O aborto por esvaziamento craniano intrauterino (ECI), também conhecido como aborto
com "nascimento parcial", é uma técnica utilizada para provocar o aborto quando a
gravidez está em estágio avançado, entre 20 e 26 semanas (cinco meses a seis meses
e meio). Guiado por ultrassom, o médico segura a perna do feto com um fórceps, puxa-
o para o canal vaginal, e então retira o feto do útero, com exceção da cabeça.

Faz então uma incisão na nuca, inserindo depois um cateter para sugar o cérebro do
feto e então o retira por inteiro do corpo da mãe. Em alguns países, essa prática é
proibida em todos os casos, sendo considerada homicídio e punida severamente. Esta
técnica tem sido alvo de intensas polêmicas nos Estados Unidos.

Em 2003, sua prática foi proibida em todo o país, gerando revoltas de movimentos pró-
aborto.

Outros métodos

No passado, diversas ervas já foram consideradas portadoras de propriedades


abortivas e foram usadas na medicina popular.[75] No entanto, o uso de ervas com a
intenção abortiva pode causar diversos efeitos adversos graves e até mesmo letais,
tanto para a mãe quanto para o feto, e não é recomendado pelos médicos.

O aborto, às vezes, é tentado através de trauma no abdômen. O grau da força, se


intensa, pode causar diversas lesões internas graves sem necessariamente induzir
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

com sucesso a perda fetal No Sudeste da Ásia, há uma tradição antiga de se tentar o
aborto através de forte massagem abdominal

Métodos utilizados em abortos autoinduzidos não seguros incluem o uso incorreto de


misoprostol e a inserção de materiais não cirúrgicos como agulhas e prendedores de
roupas no útero. A utilização destes métodos não seguros raramente é observada em
países desenvolvidos, onde o aborto cirúrgico é legal e disponível.[79]

A história do aborto, segundo a Antropologia, remonta à Antiguidade.

Há evidências que sugerem que, historicamente, dava-se fim à gestação, ou seja,


provocava-se o aborto, utilizando diversos métodos, como ervas abortivas, o uso de
objetos cortantes, a aplicação de pressão abdominal entre outras técnicas.

Terminologia

A palavra aborto tem sua origem etimológica no latim abortacus, derivado de aboriri
("perecer"), composto de ab ("distanciamento", "a partir de") e oriri ("nascer").

Sociedade e cultura

Situação jurídica do aborto ao redor do mundo:


Legalizado em todos os casos,
Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde, fatores
socioeconômicos ou má-formação do feto
Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde ou má-formação
do feto
Legalizado em caso de estupro, risco de vida ou problemas de saúde
Legalizado em caso de risco de vida ou problemas de saúde
Proibido em todos os casos
Varia por região
Não há informação

Consequências positivas

Em um estudo polêmico de Steven Levitt da Universidade de Chicago e John Donohue


da Universidade Yale associa a legalização do aborto com a baixa da taxa de
criminalidade na cidade de Nova Iorque e através dos Estados Unidos. Tal estudo
apresenta, com base em dados de diversas cidades norte-americanas e com
significância estatística, o possível efeito da redução dos índices de criminalidade onde
o aborto é legal. Ainda segundo os autores, estudos no Canadá e na Austrália
apontariam na mesma direção.

O recurso a abortos ilegais, segundo os defensores da legalização, aumentaria a


mortalidade maternal. Tanto a mortalidade quanto outros problemas de saúde seriam
evitados, segundo seus defensores, quando há acesso a métodos seguros de aborto.

Segundo o Instituto Guttmacher, o aborto induzido ou interrupção voluntária da


gravidez tem um risco de morte para a mulher entre 0,2 a 1,2 em cada 100 mil
procedimentos com cobertura legal realizados em países desenvolvidos. Este valor é
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

mais de dez vezes inferior ao risco de morte da mulher no caso de continuar a


gravidez.

Pelo contrário em países em desenvolvimento em que o aborto é criminalizado as


taxas são centenas de vezes mais altas atingindo 330 mortes por cada 100 mil
procedimentos.[80] Para o Ministro da Saúde brasileiro, José Gomes Temporão,
defensor da legalização do aborto, a descriminalização do aborto deveria ser tratada
como problema de saúde pública.[81]

Consequências negativas

Como consequências negativas da legalização do aborto na sociedade, apontam-se,


entre outras: a banalização de sua prática, a disseminação da eugenia, a submissão a
interesses mercadológicos de grupos médicos e empresas farmacológicas, a
diminuição da população, o controle demográfico internacional, a desvalorização
generalizada da vida, o aumento de casos de síndromes pós-aborto, e, indiretamente,
o aumento do número de casos de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).

Legislação Dependendo do ordenamento jurídico vigente, o aborto do nascituro


considera-se uma conduta penalizada ou despenalizada, atendendo a circunstâncias
específicas.

As situações possíveis vão desde o aborto ser considerado um crime contra a vida
humana, até ao apoio estatal para a sua realização a pedido da grávida. [85]

Meios de comunicação Os assuntos relacionados com o aborto de gravidez ainda são


um grande tabu em boa parte do mundo, sobretudo em países de maioria religiosa. Os
meios de comunicação divulgam posicionamentos e opiniões variadas sobre a prática.
O assunto já foi tema de muitas músicas, filmes e documentários.

Recentemente Rebecca Gomperts provocou polêmica no Facebook, com a publicação


de um manual de aborto caseiro seguro. O Facebook retirou, entretanto, a imagem que
continha informações sobre como praticar o aborto com segurança - recorrendo a um
medicamento com efeito abortivo - em países onde o aborto é ilegal

A LEI DO ABORTO A NÍVEL INTERNACIONAL

Argentina:Na Argentina o aborto é ilegal, mas começou a ser debatido no congresso


em 2018.

Brasil:O aborto é proibido no Brasil, apenas com exceções quando há risco de morte
da mãe causado pela gravidez, quando esse é resultante de um estupro e se o feto não
tiver cérebro. Nesses três casos, permite-se à mulher optar por fazer ou não o aborto.
Quando essa decide abortar, deve realizar o procedimento gratuito pelo Sistema Único
de Saúde. Um dos argumentos pró-escolha é de que a vida do indivíduo não começa
na fecundação, e de que esse apenas deveria ter direito civis, depois da formação do
ser humano propriamente dito. Os pró-vida, porém, dizem que depois do óvulo ter sido
fecundado, o indivíduo passa a existir e que ele tem os mesmos direitos de uma
pessoa já nascida.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Bolívia: Na Bolívia o aborto é legal em três casos: em caso de estupro, de incesto ou


de risco de vida à mulher.

Canadá: O aborto não é restringido pela lei canadense. Desde 1969 que a lei permite a
prática de aborto em situações de risco à saúde, e, a partir de 1973, a interrupção
voluntária da gravidez deixou de ser ilegal. O Canadá é um dos países do mundo que
dá mais liberdade de fazer um aborto; o acesso ao aborto é fornecido pela assistência
médica pública para os cidadãos canadenses e para os residentes permanentes, nos
hospitais do país.
De 1994 a 1998, membros de movimentos "pro-life” alvejaram com armas de fogo
quatro médicos que praticavam abortos, tendo um sido assassinado em 1998. Em
1992, uma bomba incendiária causou severos danos numa clínica onde se realizavam
abortos.

Chile: No Chile o aborto é proibido em qualquer circunstância,[5] incluído fins


terapêuticos, durante todo o período da gestação. A ilegalização da interrupção
voluntária da gravidez inclui as gravidezes ectópicas.
O aborto terapêutico foi permitido pelo Código de Saúde de 1931, mas abolido pelo
regime militar no país em 15 de setembro de 1989. A preocupação em torno das altas
taxas de mortalidade materna decorrente do aborto ilegal levou o governo do Chile a
lançar um programa de planejamento familiar em 1964.As mortes em decorrência de
complicações do aborto ilegal caíram de 118 para 24 a cada cem mil nascidos vivos
entre 1964 e 1979.

Colômbia: O aborto é legalizado em caso de estupro, de má formação do feto ou de


risco à mulher.

Cuba: O aborto é permitido até as dez primeiras semanas de gravidez, regra que
vigora desde a revolução comunista, em 1959. Cuba é primeiro país da América Latina
a legalizar o aborto sem restrições. O Uruguai é o segundo, e a Cidade do México
também é uma exceção.

Estados Unidos da América: O aborto é legal em todos os estados do país desde


1973, a partir da decisão da Suprema Corte no caso Roe vs Wade.

México: No México a legislação sobre o aborto é muito regional. Existem estados onde
o aborto é legal quando o feto apresenta alguma deformação genética ou quando é
produto de uma violação. Recentemente no ano 2009 em muitos estados mexicanos
passaram leis que proíbem qualquer forma de aborto como reação ao fato de que o
aborto é legal na Cidade do México desde 2008, com a única limitação de que seja
praticado até a 12ª semana de gestação.[5] O aborto neste caso é praticado e assistido
em clinicas do estado com atenção medica especializada e gratuita.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Nicarágua: Na Nicarágua, o aborto é proibido em qualquer circunstância e durante


todo o período da gestação.

Paraguai: No Paraguai o aborto é legal em caso de risco de vida à mulher.

Peru: No Peru o aborto é legal em três casos: em caso de estupro, de incesto ou de


risco de vida à mulher.

Uruguai: No Uruguai, o aborto pode ser feito por qualquer motivo até a 12ª semana
de gestação, até a 14ª semana de gestação em caso de estupro, e a qualquer
momento em caso de má-formação do feto ou risco de vida para a mãe. Há
acompanhamento médico feito por uma equipe formada por um ginecologista, um
psicólogo e um assistente social, e cinco dias de reflexão para que a mãe tenha
certeza da decisão.[6]

Venezuela: Na Venezuela o aborto é legal em caso de risco de vida à mulher.[5]


Em todos os países da Europa, excepto Malta, o aborto não é penalizado em situações
controladas.
Alemanha: O aborto é permitido até às doze semanas a pedido da mulher após
aconselhamento médico, ou em consequência de violação ou outro crime sexual. É
também permitido após as doze semanas por razões médicas que possui, segundo a
lei alemã, uma definição lata, incluindo saúde mental e condições sociais adversas.
A interrupção da gravidez é regulada na Alemanha pelo Artigo 218 do Código Penal.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-se entre
20 e 21% de 1980 a 1985, tendo diminuído até 13% em 1995. Em 1996 houve um
aumento abrupto para 16%, mantendo-se em 1997 e a taxa de 2000 foi de 18%.
Áustria: O aborto é permitido até as doze semanas a pedido da mulher (lei de 1975).
Permitida após as doze semanas em caso de perigo de vida, risco de malformação do
feto, mulher menor de 14 anos.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se estável em cerca de 15% de 1960 a 1974, tendo em 1975 tido um salto para 28% e
diminuindo gradualmente até 17% em 1988. Em 1989 houve uma quebra significativa
para 4.1% tendo mantido valores entre 3.9% e 2.8% desde então.
Bélgica: O aborto é permitido até as doze semanas quando a gravidez coloca em risco
a mulher, razões sociais ou económicas. Permitida após as doze semanas em caso de
sério risco para a saúde
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos tem variado entre
9% e 23% de 1992 a 1999, não apresentando dados para outros anos.
Bulgária: O aborto é permitido a pedido da mulher até às doze semanas. Até às vinte
semanas por risco médico. Permitida após as vinte semanas em caso de má formação
do feto.
Segundo dados da Eurostat, há um número semelhante[10] de abortos legais e nados-
vivos desde 1960 a 1999. Estes valores diminuíram ligeiramente em 2000 e a taxa
passou para 75% em 2001.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Dinamarca: O aborto é permitido até as doze semanas a pedido da mulher mediante a


apresentação de um requerimento a um médico ou centro social, que aconselhará a
mulher e a encaminhará para um hospital, se mantiver a intenção de interromper.
Permitida após as doze semanas em caso de risco de morte ou saúde física da mulher,
risco de malformação do feto.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se estável em cerca de 5% de 1960 a 1967, tendo aumentado rapidamente até 41%
em 1976 e estabilizando até 1981 altura em que começou a diminuir gradualmente até
25% em 1994 tendo-se mantido mais ou menos estável desde então.
Grécia: O aborto é permitido até as doze semanas a pedido da mulher. Permitida até
as vinte semanas em caso de risco de morte ou saúde física ou mental da mulher,
violação ou outros crimes sexuais. Permitida até as 24 semanas no caso de risco de
malformação do feto.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos aumentou de
7.3% em 1989 para 12.2% em 1994.
Países Baixos: O aborto é permitido até as treze semanas a pedido da mulher.
Permitida após as 24 semanas em comprovadas situações de dificuldade e falta de
alternativas da mulher, decisão tomada entre a mulher e um médico.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se[13] estável entre 9.5% e 9.9% em 1985 e 1992 tendo aumentado ligeiramente desde
então até 11.6% em 1997.
Itália: O aborto é permitido até aos noventa dias (entre as doze e treze semanas) por
razões sociais (incluindo as condições familiares e/ou as circunstâncias em que se
realizou a concepção), médicas ou económicas: de facto, a pedido da mulher.
Permitida em qualquer momento em caso de risco de morte ou saúde física ou mental
da mulher, risco de malformação do feto, violação ou crime sexual.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos aumentou de
32% em 1980 para 39% em 1984 tendo diminuído gradualmente desde então até 26%
em 1992 e mantendo-se mais ou menos estável até 1999.

Irlanda: Num referendo em 26 de maio de 2018, a maioria dos irlandeses votou pela
revogação da proibição constitucional do aborto. O "Sim" alcançou 68% dos votos
contra os 32% do "Não". O governo da Irlanda avançará até ao fim de 2018 com
legislação que possibilite o aborto até às 12 semanas de gravidez em qualquer
circunstância.

Malta: O aborto é proibido em qualquer circunstância.

Noruega: O aborto é permitido a pedido da mulher até as doze semanas. Permitida


após as 12 semanas para proteger a saúde da mulher e nos casos de violação.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos variou entre 25%
e 31% de 1974 a 1992, tendo-se mantido entre 25% e 23% até 2001.
Polônia: O aborto é permitido em caso de violação (estupro), incesto, risco de morte
ou saúde física da mulher ou risco de malformação do feto. Nos casos de justificação
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

médica, ela tem de ser realizada por dois médicos diferentes do que vai realizar o
aborto.
Na Polônia o aborto foi livre durante o regime comunista até 1993. Movimentos fazem
campanha para que a Constituição polonesa seja reformada, no sentido de ampliar a
proteção legal da vida humana até o momento da concepção. Há também movimentos
que defendem a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez à semelhança
da maioria dos países da União Europeia.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos aumentou de
23% 1963 para 30% em 1967, tendo diminuído até 20% em 1987. A partir deste ano há
uma quebra acentuada e os valores chegam a 2.3% em 1992 tendo mantido valores
inferiores a 0.25% desde então.
Portugal: O aborto é permitido em Portugal até às dez semanas de gestação a pedido
da grávida. A Lei nº 16/2007 de 17 de Abril indica que é obrigatório um período mínimo
de reflexão de três dias e tem de ser garantido à mulher "a disponibilidade de
acompanhamento psicológico durante o período de reflexão" e "a disponibilidade de
acompanhamento por técnico de serviço social, durante o período de reflexão" quer
para estabelecimentos públicos quer para clínicas particulares. A mulher tem de ser
informada "das condições de efectuação, no caso concreto, da eventual interrupção
voluntária da gravidez e suas consequências para a saúde da mulher" e das
"condições de apoio que o Estado pode dar à prossecução da gravidez e à
maternidade". Também é obrigatório que seja providenciado "o encaminhamento para
uma consulta de planeamento familiar."
O período de permissão é estendido até às dezesseis semanas em caso de violação
ou crime sexual (não sendo necessário que haja queixa policial), até às vinte e quatro
semanas em caso de malformação do feto.
É permitido em qualquer momento em caso de risco para a grávida ("perigo de morte
ou de grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da
mulher grávida") ou no caso de fetos inviáveis.

Reino Unido: O aborto é permitido até as 24 semanas por razões sociais, médicas ou
económicas. Permitida após as 24 semanas nos casos de risco para a vida da mãe,
risco de grave e permanente doença para a mãe e nos casos de risco de malformação
do feto.
O aborto é legal na Inglaterra, Escócia e País de Gales desde 1967. Nessa altura, a
legislação britânica era uma das mais liberais da Europa. Hoje, a maioria dos países
europeus adoptaram legislação semelhante.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se[19] estável entre 23% e 26% de 1985 a 1997, tendo aumentado até 30% em 2001.

Rússia: Em 1885, a Rússia czarista baniu o aborto no Código Criminal Imperial, sendo
que esta lei foi questionada em 1914 pela divisão russa da União Internacional dos
Criminologistas de São Petesburgo e no início da Revolução Russa, apesar de ser uma
questão controversa devido a necessidade de preservar a vida como um bem
comunitário, por um lado, e a necessidade de dar segurança e saúde para as
mulheres; e evitar que elas dependam de médicos especuladores, o procedimento foi
legalizado. Uma mulher foi inocentada em primeira instância por ter praticado o aborto
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

em 1920 para ser legalizado em escala nacional no mesmo ano pelo Ministério
Soviético de Saúde e Justiça.
O Stálin limitou o aborto por lei a casos de extremo perigo de vida para a mulher, só
voltando a ser desregulamentado em 1955.[27][28][29][30] Visando a constituição de uma
mão-de-obra fabril, Stálin criou leis que condenavam a morte ou a 2 anos de prisão
quem conduzia e pressionava por abortos, aumentou o salário e os benefícios
trabalhistas de mulheres grávidas e mães que recém-pariram seus filhos além de
aplicar penalidades a quaisquer empregadores que se recusassem a contratam e/ou
discriminar mulheres grávidas.
Suécia: O aborto é permitido a pedido da mulher até as dezoito semanas. Permitida
até as 22 semanas por motivos de força maior (ex: inviabilidade do feto).
A primeira legislação aceitando o aborto na Suécia foi emitida em 1938. Previa que o
aborto seria legal caso existissem razões médicas, humanitárias ou eugénicas.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos aumentou de 3%
em 1960 para 36% em 1979 tendo-se mantido entre 28 e 36% desde então.
Suíça:O aborto é permitido até as doze semanas . A mulher deve ser informada
exaustivamente antes de se submeter à intervenção.
O aborto é regulado pelo artigo 119 do Código Penal.

Taiwan: O poder executivo da Taiwan propôs uma emenda à legislação vigente sobre
o aborto que, entre outras coisas, estabelece um período de "reflexão" de três dias
para todas as mulheres que desejem abortar. Isto devido a recentes estatísticas que
revelam um número maior de abortos que de nascimentos por ano no país. Segundo
um estudo de 1992 publicado pelo Journal of the Royal Society of Health, 46 por cento
das mulheres de Taiwan já se submeteram a um aborto. A agência Associated
Press informa que vários proeminentes ginecólogos de Taiwan actualmente creem que
há mais abortos que nascimentos por ano, uma cifra estimada em 230 mil abortos.
A emenda obrigaria as mulheres a provar que consultaram seu médico antes de buscar
um aborto, e as menores de 18 anos teriam que contar com autorização de seus pais
ou tutores.

Nova Zelândia: O aborto é permitido, desde 1977, até as vinte semanas de gravidez, e
depois das vinte semanas, se prejudicar a saúde da mulher. A regulamentação requer
que o aborto após as doze semanas de gestação têm que ser realizadas em
“instituições licenciadas”, que são normalmente hospitais.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Anencefalia

A anencefalia é uma má formação rara do tubo neural, caracterizada pela ausência


parcial do encéfalo e da calota craniana, proveniente de defeito de fechamento do tubo
neural nas primeiras semanas da formação embrionária.

Ao contrário do que o termo possa sugerir, a anencefalia não caracteriza casos de


ausência total do encéfalo, mas situações em que se observam graus variados de
danos encefálicos. A dificuldade de uma definição exata do termo "baseia-se sobre o
fato de que a anencefalia não é uma má-formação do tipo 'tudo ou nada', ou seja, não
está ausente ou presente, mas trata-se de uma má-formação que passa, sem solução
de continuidade, de quadros menos graves a quadros de indubitável anencefalia. Uma
classificação rigorosa é, portanto quase que impossível".

Na prática, a palavra "anencefalia" geralmente é utilizada para caracterizar uma má-


formação fetal do cérebro. Nestes casos, o bebê pode apresentar algumas partes do
tronco cerebral funcionando, garantindo algumas funções vitais do organismo.

Trata-se de patologia letal. Bebês com anencefalia possuem expectativa de vida muito
curta, embora não se possa estabelecer com precisão o tempo de vida que terão fora
do útero. A anomalia pode ser diagnosticada, com certa precisão, a partir das 12
semanas de gestação, através de um exame de ultra-sonografia, quando já é possível
a visualização do segmento cefálico fetal.

O risco de incidência aumenta 5% a cada gravidez subsequente. Inclusive, mães


diabéticas têm seis vezes mais probabilidade de gerar filhos com este problema. Há,
também, maior incidência de casos de anencefalia em filhos de mães muito jovens ou
nas de idade avançada. Uma das formas de prevenção mais indicadas é a ingestão de
ácido fólico antes e durante a gestação.

Embriologia

A anencefalia é um dos três principais defeitos do tubo neural (DTN). Os outros são a
encefalocele e a mielomeningocele. Os defeitos do tubo neural resultam de uma falha
no fechamento do tubo neural que ocorre entre 25 e 27 dias após a concepção.

Epidemiologia
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Feto anencéfalo.

Nos Estados Unidos, a anencefalia ocorre em 1 a cada 10.000 nascimentos.[4] A


malformação é mais comum em meninas[5] , brancos e em mães nos extremos de
idade. A taxa de anencefalia em nascidos vivos provavelmente subestima a real taxa
de ocorrência da doença, pois diversos casos de aborto espontâneo são causados por
fetos afetados que não chegam a receber o diagnóstico.

A prevalência ao nascimento diminuiu nos Estados Unidos após a suplementação


obrigatória de alimentos com ácido fólico, que iniciou em janeiro de 1998.

Sinais e sintomas

Um recém-nascido com anencefalia geralmente é cego, surdo, inconsciente e incapaz


de sentir dor. Embora alguns indivíduos com anencefalia possam nascer com um
tronco encefálico, a falta de um cérebro funcionante descarta a possibilidade de vir a
ter consciência e ações reflexas, como a respiração e respostas aos sons ou toques.

Diagnóstico

A anencefalia frequentemente pode ser diagnosticada no pré-natal através de um


exame de ultrassom. O diagnóstico ultrassonográfico tem alta acurácia e é baseado na
ausência do cérebro e da calota craniana. Outra característica que pode ser observada
na ultrassonografia é a polidramnia, que ocorre em até 50% dos casos durante o 2º e
3º trimestres de gestação devido à menor deglutição do feto.

A dosagem de alfafetoproteína (AFP) sérica materna[6] e o ultrassom fetal[7] são úteis


para rastreio de defeitos do tubo neural como espinha bífida ou anencefalia.

Às vezes a anencefalia não é diagnosticada, pois o feto acaba evoluindo para aborto
espontâneo. Em outros, principalmente em mulheres que não têm acesso ao pré-natal,
a doença é diagnosticada apenas durante o parto.

Prognóstico

Não existe cura ou tratamento padrão para a anencefalia e o prognóstico para estes
pacientes é a morte. A maioria dos fetos não sobrevive ao nascimento, o que
corresponde a 55% dos casos não abortados. Quando a criança não é um natimorto
(nasce sem vida), ela geralmente morre de parada cardiorrespiratória em poucas horas
ou dias após o nascimento.

Entretanto, já existiram casos relatados de anencefalia que os pacientes sobreviveram


até 2 anos após o nascimento.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito

Em um caso que se tornou famoso no Brasil (ocorrido no Município de Patrocínio


Paulista), uma criança diagnosticada como anencéfala viveu por um ano, oito meses e
doze dias após o nascimento. A menina, batizada de Marcela de Jesus Galante
Ferreira, nasceu no dia 20 de novembro de 2006 e morreu no dia 31 de julho de 2008.
Marcela não tinha o córtex cerebral, apenas o tronco cerebral, responsável pela
respiração e pelos batimentos cardíacos. A menina faleceu em consequência de uma
pneumonia aspirativa.

O caso gerou divergências: alguns especialistas, baseados na deficiência de uma


definição exata do termo "anencefalia", levantaram a hipótese de que a menina na
verdade sofria de uma malformação do crânio (encefalocele), associada a um
desenvolvimento reduzido do cérebro (microcefalia). Outros afirmam que o que houve,
na verdade, foi uma forma "não clássica" de anencefalia, como avaliou a pediatra da
menina, Márcia Beani Barcellos, profissional que mais acompanhou o caso. Segundo
Márcia, a sobrevivência surpreendente de Marcela foi "um exemplo de que um
diagnóstico não é nada definitivo".

Interrupção da gravidez

A interrupção da gravidez, também conhecida como aborto terapêutico, é permitida em


casos de anencefalia em diversos países.

O Brasil autorizou em 2012 a realização do aborto terapêutico para fetos com


anencefalia. Até então, grávidas com fetos com anencefalia precisavam de autorização
judicial para realizar o aborto.

Segundo grupos contrários à manutenção da vida do feto com anencefalia, a


interrupção da gravidez nestes casos diferiria do aborto por interromper o
desenvolvimento de um feto que inevitavelmente morreria durante este processo, ou
logo após o parto, enquanto o aborto interromperia o desenvolvimento de um bebê
normal. A interrupção da gravidez seria um processo semelhante, neste caso, a tirar a
vida de uma pessoa em estado terminal, a qual sabe-se que inevitavelmente irá morrer,
mais cedo ou mais tarde - no caso da anencefalia, provavelmente muito cedo. [13] . Essa
visão é, entretanto, contestada por grupos contrários ao aborto, que alegam que toda
vida tem valor, independente de seu tempo de duração.

Um estudo realizado na Alemanha, onde o aborto terapêutico é permitido, demonstrou


que as mães optam menos pela interrupção da gravidez em casos de anencefalia do
que em casos de síndrome de Down (trissomia do 21) (5.642 abortos em 6.141
diagnósticos pré-natais de trissomia do 21 = 91,9%; 483 abortos de 628 casos de
anencefalia = 76,9%; 358 abortos de 487 casos de espinha bífida = 73,5%)
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Ética/Deontologia Profissional:

Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a consciência do


profissional e representam imperativos de sua conduta.

Deontologia profissional é uma filosofia que faz parte da filosofia moral


contemporânea, que significa ciência do dever e da obrigação. É um tratado dos
deveres e da moral. É uma teoria sobre as escolhas dos indivíduos, o que é
moralmente necessário e serve para nortear o que realmente deve ser feito.

Ética é uma palavra de origem grega (éthos), que significa propriedade do caráter. Ser
ético é agir dentro dos padrões convencionais, é proceder bem, é não prejudicar o
próximo. Ser ético é cumprir os valores estabelecidos pela sociedade em que se vive.

O termo deontologia foi criado no ano de 1834, pelo filósofo inglês Jeremy Bentham,
para falar sobre o ramo da ética em que o objeto de estudo é o fundamento do dever e
das normas. A deontologia é ainda conhecida como "Teoria do Dever."
Immanuel Kant também deu sua contribuição para a deontologia, uma vez que a dividiu
em dois conceitos: razão prática e liberdade.

Para Kant, agir por dever é a maneira de dar à ação o seu valor moral; e por sua vez, a
perfeição moral só pode ser atingida por uma livre vontade.
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A deontologia também pode ser o conjunto de princípios e regras de conduta ou


deveres de uma determinada profissão, ou seja, cada profissional deve ter a sua
deontologia própria para regular o exercício da profissão, e de acordo com o Código de
Ética de sua categoria.

Para os profissionais, deontologia são normas estabelecidas não pela moral e sim para
a correção de suas intenções, ações, direitos, deveres e princípios.

A deontologia jurídica é a ciência que se preocupa em cuidar dos deveres e dos


direitos dos profissionais que trabalham com a justiça.

Ter ética profissional é o indivíduo cumprir com todas as atividades de sua profissão,
seguindo os princípios determinados pela sociedade e pelo seu grupo de trabalho.

Cada profissão tem o seu próprio código de ética, que pode variar ligeiramente, graças
a diferentes áreas de atuação. No entanto, há elementos da ética profissional que são
universais e por isso aplicáveis a qualquer atividade profissional, como a honestidade,
responsabilidade, competência, etc.

Código de Ética Profissional

Código de ética profissional é o conjunto de normas éticas, que devem ser seguidas
pelos profissionais no exercício de seu trabalho.

O código de ética profissional é elaborado pelos Conselhos, que representam e


fiscalizam o exercício da profissão.

O código de ética médica em seu texto descreve: O presente código contém as


normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão,
independentemente da função ou cargo que ocupem. A fiscalização do cumprimento
das normas estabelecidas neste código é atribuição dos Conselhos de Medicina, das
Comissões de ética, das autoridades de saúde e dos médicos em geral. Os infratores
do presente Código, sujeitar-se-ão às penas disciplinares previstas em lei.

Ética Profissional (Ética no Trabalho)

A ética profissional é um conjunto de atitudes e valores positivos aplicados no


ambiente de trabalho. A ética no ambiente de trabalho é de fundamental importância
para o bom funcionamento das atividades da empresa e das relações de trabalho
entre os funcionários.

Vantagens da ética aplicada ao ambiente de trabalho:

- Maior nível de produção na empresa;

- Favorecimento para a criação de um ambiente de trabalho harmonioso, respeitoso e


agradável;
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- Aumento no índice de confiança entre os funcionários.

Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho:

- Educação e respeito entre os funcionários;

- Cooperação e atitudes que visam à ajuda aos colegas de trabalho;

- Divulgação de conhecimentos que possam melhorar o desempenho das atividades


realizadas na empresa;

- Respeito à hierarquia dentro da empresa;

- Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros colegas de trabalho;

- Ações e comportamentos que visam criar um clima agradável e positivo dentro da


empresa como, por exemplo, manter o bom humor;

- Realização, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas relacionadas ao trabalho;

- Respeito às regras e normas da empresa.

Ser bom profissional, ter conhecimentos técnicos, dons, talentos, habilidades e


capacidades bem desenvolvidas, cabe a qualquer pessoa que deseja ter uma carreira
de sucesso. Ter bom relacionamento com os colegas, facilidade no trabalho em equipe,
boa comunicação, flexibilidade entre outras características, são aspectos altamente
valorizados nas organizações.
Porém, uma conduta ética no trabalho, seguindo padrões e valores, tanto da
sociedade, quanto da própria organização são essenciais para o alcance da excelência
profissional. A dinâmica do mercado nos exige atualização a aperfeiçoamentos
constantes, e uma postura ética é de suma importância no ambiente corporativo.
Através dela ganhamos credibilidade e a confiança de superiores, liderados e demais
colegas e colaboradores.
Ética é que o conjunto de valores morais que conduzem o comportamento humano
dentro da sociedade. As organizações seguem os padrões éticos sociais, porém criam
suas próprias regras para o bom andamento dos processos de trabalho, e alcance de
metas e objetivos.
O profissional deve seguir tanto os padrões éticos da sociedade quanto as normas e
regimentos internos das organizações. Um exemplo são as informações sigilosas, para
a preservação de uma marca ou produto, onde este deve manter uma postura
congruente com seu trabalho e manter para si os dados que lhe foram confiados, a fim
de guardá-los.
A ética no ambiente de trabalho proporciona ao profissional um exercício diário e
prazeroso de honestidade, comprometimento, confiabilidade, entre tantos outros, que o
conduzem tanto na tomada de decisões como no processo de adotá-las. Ao final, a
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recompensa é ser reconhecido, não só pelo seu trabalho, mas também por sua postura
ética, de valores e conduta exemplar.
Permita-se ir além! Chegou o momento de você iniciar uma nova etapa em sua história.

Ética Profissional é compromisso social

Código de Ética é um documento de texto com diversas diretrizes que orientam as


pessoas quanto às suas posturas e atitudes ideais, moralmente aceitas ou toleradas
pela sociedade com um todo, enquadrando os participantes a uma conduta
politicamente correta e em linha com a boa imagem que a entidade ou a profissão quer
ocupar, inclusive incentivando à voluntariedade e à humanização destas pessoas e
que, em vista da criação de algumas atividades profissionais, é redigido, analisado e
aprovado pela sua entidade de classe, organização ou governo competente, de acordo
com as atribuições da atividade desempenhada, de forma que ela venha a se adequar
aos interesses, lutas ou anseios da comunidade beneficiada pelos serviços que serão
oferecidos pelo profissional sobre o qual o código tem efeito.

Como tal, um código de ética fixa normas que regulam os comportamentos das
pessoas dentro de uma empresa ou organização. Apesar de a ética não ser coactiva
(não implica penas legais), o código de ética supõe uma normativa interna de
cumprimento obrigatório.

As normas mencionadas nos códigos de ética podem estar vinculadas às normas


legais (por exemplo, discriminar é um crime punido por lei). O principal objectivo destes
códigos consiste em manter uma linha de comportamento uniforme entre todos os
integrantes de uma empresa. Existindo instruções por escrito, não há necessidade de
os dirigentes explicarem constantemente quais são as obrigações que têm os
funcionários.

Os elementos mais importantes da ética profissional são muito semelhantes aos


da ética social
A ética profissional é o conjunto de práticas que determinam a adequação no exercício
de qualquer profissão. É através dela que se dão as relações interpessoais no trabalho,
visando, especialmente, o respeito e o bem-estar no ambiente profissional.

É importante lembrar que a ética é indispensável para conviver em sociedade. É


através dela que se pratica o respeito. Portanto, dentro do ambiente de trabalho ela é
ainda mais importante. Afinal, atitudes inadequadas podem afetar o desempenho e a
reputação de uma empresa.

Existe uma ética padrão?


Algumas profissões possuem conselhos responsáveis pela criação de códigos de ética
específicos, como é o caso dos médicos, dos advogados, das engenharias etc. No
entanto, estes códigos se referem a procedimentos e normas padrões das áreas, e são
necessários por uma questão de segurança. Eles preveem penas disciplinares em lei
para violações. No entanto, há comportamentos que devem ser adotados em qualquer
que seja a área, por contribuírem para o bom funcionamento do trabalho.
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Quais são os principais fatores componentes da ética profissional?


Os elementos mais importantes da ética profissional são muito semelhantes aos da
ética social. São eles:
Honestidade: É um preceito básico para a convivência tanto pessoal quanto
profissional. Falar sempre a verdade, não culpar colegas por erros seus e assumir
falhas próprias são atitudes honestas e de valor para uma vida profissional ética e reta.

Sigilo: Alguns assuntos são confidenciais por segurança, e não é nada ético sair
falando aos quatro ventos sobre coisas que não dizem respeito a determinados
públicos. Informações sigilosas geralmente estão protegidas por lei e, caso algum
funcionário quebre este protocolo, a pena é certa.

Competência: A competência envolve também o compromisso, a organização e a


capacidade de ajudar os demais, tudo com a finalidade de realizar um bom trabalho de
forma geral.

Prudência: Ter noção da hierarquia, cuidado com comentários, brincadeiras e atitudes


que podem até mesmo ofender os demais. É importante ainda ter prudência na
realização das tarefas, fazer tudo da forma mais correta possível, sem “atalhos” ou
“jeitinhos”.

Humildade: Perguntar quando há dúvidas, no caso do empregado. É ouvir os


subordinados, no caso do líder. Ou, para ambos, reconhecer erros e aprender com
eles.

Imparcialidade: Tratar a todos de maneira igual, independentemente do cargo que


ocupam. Ser imparcial é mais importante ainda para os gestores. É comum as relações
profissionais extrapolarem os limites do escritório, mas é imprescindível saber separar
a relação pessoal da profissional.
A ética profissional vale para todos, independentemente de cargo. Comportamentos
antiéticos praticados por líderes invariavelmente abalam o clima organizacional,
prejudicando o rendimento da equipe. Seja respeitoso e responsável, dessa maneira o
sucesso profissional ficará mais próximo de você.

Que estas informações possa contribuir para a vossa formação como académico,
como profissional e principalmente como pessoa.

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