FACULDADE/CURSO DE DIREITO
TEXTOS DE APOIO:
BIOÉTICA E BIODIREITO
LUANDA/2020
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Conteúdos Programáticos:
O aborto:
o Noção geral – definições
o Tipologias:
- Espontâneo
- Induzido
- Ilegal
o Legislação constitucional e ordinária – punibilidade do aborto
o Visão internacional sobre o aborto
o A moralidade: aborto
Anencefalia:
o Conceitos
o Argumentos favoráveis e desfavoráveis ao aborto do fecto anencéfalo
Ética profissional:
o Conceptualização
o Importância e Vantagens da ética aplicada ao trabalho
o Exemplos de atitudes éticas
o O que fazer e não fazer no ambiente de trabalho
Metodologia
Expositiva/dialogada
Demonstração (apresentação de slides)
Teórica e Debates sobre os temas programados
Sistema de avaliação
Bibliográfia:
ENQUADRAMENTO:
Todo ser humano é dotado de uma consciência moral, que o faz distinguir entre certo
ou errado, justo ou injusto, bom ou ruim, com isso é capaz de avaliar suas ações;
sendo, portanto, capaz de ética. Esta vem a ser os valores, que se tornam os deveres,
incorporados por cada cultura e que são expressos em acções. A ética, portanto, é a
ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta humana.
Isso implica dizer que ética pode ser conceituada como o estudo dos juízos de
apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de
vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo
absoluto.
O bem é uma forma de vida que mistura inteligência e prazer. Para Baruch Espinoza
"el hombre que es guiado por la razón es más libre en el Estado donde vive según el
decreto común, que en la soledad donde sólo se obedece a sí mismo." Portanto, o
homem que vive pela razão, não vive guiado pelo medo, deseja fazer o que é melhor
para todos e através até mesmo das leis do Estado, viver livremente.
Existe uma profunda ligação entre ética e Filosofia: a ética nunca pode deixar de ter
como fundamento à concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total deste
como ser social, histórico e criador. Uma série de conceitos com os quais a ética
trabalha de uma maneira específica, como os de liberdade, necessidade, valor,
consciência, sociabilidade, pressupõe um prévio esclarecimento filosófico. Também os
problemas relacionados com o conhecimento moral ou com a forma, significação e
validade dos juízos morais exigem que a ética recorra a disciplinas filosóficas
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
O QUE É A ÉTICA?
OBJECTIVOS DA ÉTICA
Aristóteles diz que na prática ética somos o que fazemos, visando a uma finalidade boa
ou virtuosa. Isso leva à ideia de que o agente, a acção e a finalidade do agir são
inseparáveis: “Toda arte, toda investigação e do mesmo modo toda acção e eleição,
parecem tender a algum bem; por isso se tem dito com razão que o bem é aquilo a que
todas as coisas tendem.”
A Ética define a “filosofia das coisas do homem”, e com a Política constitui o âmbito das
realidades que podem ser diferentemente do que são, reinos da contingência e não da
necessidade. A Ciência política não somente deve conhecer o bem, mas deve realizá-
lo. No campo da Ética, a razão intervém para definir regras de conduta, mas através de
um procedimento muito diferente do dedutivo, próprio das ciências teoréticas.
Os melhores prazeres não são os corporais, mas os espirituais que contribuem para a
paz da alma.
Para ser feliz o homem precisa de liberdade, amizade e tempo para meditar.
“A presença do prazer era sinonimo da ausência da dor.”
Os Estóicos (fundado por Zenão de Cício, Séneca e Marco Aurélio por volta
300 a.C)
Defendiam que a ética decorre de uma lei natural racional e perfeita. A vida feliz é a
vida virtuosa, conforme a natureza e a razão.
O fundamental é viver com rectidão, lutando contra as paixões.
O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu
destino.
Defendiam aspectos como: compreensão, igualdade e o homem como cidadão do
mundo.
Cada um procura alcançar o bem ao actuar, pelo que do bem depende a auto-
realização do homem.
Ética Moderna
Immanuel Kant (1724-1804)
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Kant também afirmava que “(...) a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas
conseqüências, mas apenas por sua motivação ética.” Ele sustentava que o homem é
o centro do conhecimento e da moral. Sendo o ato ético e moral criado e seguido pelo
homem, isso passa a ser incondicionado e absoluto.
O homem é visto, como sujeito histórico-social, e como tal, sua acção não pode mais
ser analisada fora da colectividade. Por isso, a ética ganha um dimensionamento
político (área de avaliação dos valores nas relações sociais): uma acção eticamente
boa é politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça, distribuição igualitária
do poder entre os homens. Na ética pragmática o homem é politicamente ético, - “todos
os aspectos da condição humana, têm alguma relação com a política” - há uma co-
responsabilidade em prol de uma finalidade social: a igualdade e a justiça entre os
homens. Segundo Severino, no momento histórico em que vivemos existe um
problema ético-político grave. Forças de dominação ter-se-iam consolidado nas
estruturas sociais e económicas, mas através da criticidade seria possível desvelar a
dissimulação ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana. Quando se
está agindo com a totalidade dos esclarecimentos que a objectividade pode fornecer
quando criticamente aplicada à práxis, feita através da intencionalidade subjectiva,
reflexão crítica. “Há o reino humano da práxis, no qual as acções são realizadas
racionalmente não por necessidade causal, mas por finalidade e liberdade”, realizando
assim uma ética consciente.
Nietzsche (1844-1900)
A vida é vontade de poder, princípio último de todos os valores.
O bem é tudo que favorece a força vital do homem, intensifica e exalta o sentimento do
poder, vontade e o próprio poder.
O mal é tudo que vem da fraqueza.
Ética Moderna/Contemporânea
William James (1842-1910) – o bom é algo que conduz a obtenção eficaz de
uma finalidade, fim esse sob uma óptica utilitária.
Bertrand Russel (1872-1970)- a ética é subjeciva. Não contém afirmações
verdadeiras ou falsas.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Resume:
O que importa é aplicar princípios éticos aos casos concretos;
Ter conduta ética não depende da formação, pratica-se no dia a dia;
Tem como próposito ajudar o homem a ser bom e plenamente homem;
Construção de uma vida;
Procurar ser éticos aqui e agora;
Ética não é para análise e mesmo para a vida.
Pergunta ética
“Qual é coisa certa a fazer nesta situação em que estou envolvido.”
“O que depende e o que não depende de nós.”
O Relativismo e Pragmatismo
“Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada
mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens” (Mt 5.13).
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus” (Rm 12.2).
Ensina-se que não existem leis e verdades absolutas e universais. A fim de enfrentar
este terrível mal, o cristão tem de tomar algumas atitudes extremamente importantes.
Vejamos:
a) Não se conformar com o mundanismo (Rm 12.2). Há muitos cristãos que estão
acomodados ao mundanismo, cujo mentor é o Diabo. Essa conformação é ruinosa para
a moral cristã. Temos de amar o pecador, mas combater energicamente o pecado e
suas estruturas, pois levam o ser humano à perdição.
b) Ser transformado pela renovação do entendimento. A “visão de mundo” do cristão,
cujo entendimento é renovado pelo Espírito Santo, tem de ser contrária aos conceitos
materialistas e relativistas (1 Jo 5.19). A maneira de o crente ver o mundo deve passar
pela ótica da revelação de Deus. Somente assim, poderá experimentar “a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1,2).
O DESAFIO DO SECULARISMO
b) Perda da identidade bíblica e cristã. Ser cristão é identificar-se com Cristo e não com
o mundo (At 11.26). Nos dias atuais, há situações em que um visitante não sabe mais
se está numa igreja ou num clube. Não é exagero! O crente precisa consagrar-se a
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
c) Perda da ética cristã. Sem zelo pela ética cristã é impossível manter-se em
comunhão com Jesus Cristo. Ser cristão não é apenas pertencer a uma igreja local ou
denominação. É ser cidadão dos céus; é viver a ética do reino de Deus, conforme
estabelece a Bíblia.
Vejamos alguns princípios que norteiam a integridade na vida cristã, de acordo com os
ensinos da Palavra de Deus.
1. Lealdade incondicional a Cristo. Jesus disse: “Quem não é comigo é contra mim;
e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.30). Não se pode atender aos apelos do
mundo e, ao mesmo tempo, fazer a vontade de Deus. É impossível! Ou se é totalmente
de Cristo, ou contra Ele (Jo 15.14; Mt 12.30; 6.24).
2. Fé. A Bíblia afirma que “... tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14.22,23). O crente
não precisa recorrer a padrões humanos para posicionar-se quanto aos seus atos e
palavras. Se tem dúvida, não deve fazer. E se não tem dúvida, pode fazer tudo o que
aprova? Depende. É preciso que sua atitude ou pensamento esteja de acordo com a
Palavra de Deus (1 Co 6.1 2). A Bíblia é o nosso padrão ético.
O cristão precisa lembrar-se de que nem tudo o que é lícito é edificante (1 Co 10.23b).
A ênfase, aqui, é a edificação espiritual de quem se posiciona ante o que fazer ou não.
Neste contexto, se enquadram os sites de relacionamento na internet e outros casos
similares. É fundamental que cada um avalie diante de Deus se o conteúdo que está
diante de si é edificante, alienante ou pecaminoso. Se é pecado, evite.
Integridade: “Integridade procede do verbo ‘integrar’, que significa ‘tornar unido para
formar um todo completo ou perfeito’. As Escrituras nos ensinam que o espírito, a
mente e o corpo todos vêm da mão de Deus e, portanto, devem estar unidos,
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
funcionando juntos, como um todo. Os nossos atos devem ser coerentes com os
nossos pensamentos. Precisamos ser a mesma pessoa, pública e privadamente.
Apenas a visão de mundo cristã pode nos dar a base para este tipo de integridade.
Além disso, o cristianismo nos dá uma lei moral absoluta que nos permite julgar entre o
certo e o errado. Tente perguntar aos seus amigos seculares como decidem o que
devem fazer, quais princípios éticos seguir. Como sabem que esses princípios são
corretos? Em que autoridade eles confiam? Sem uma moral absoluta, não existe uma
base real para a ética.
Um lei moral absoluta não confina as pessoas em uma camisa de força de puritanismo
vitoriano. As pessoas sempre irão debater as fronteiras da lei moral e as suas variadas
aplicações. Mas a própria idéia do certo e do errado só faz sentido se houver um
padrão final, uma medida de referência, pela qual poderemos fazer julgamentos
morais”.
CONCLUSÃO
O CRISTÃO O ÍMPIO
Leal a Cristo Contrário a Cristo
Fé Razão
Ética da Palavra de Ética própria
Deus
Glorifica a Deus Auto glorificação
Pauta sua vida na Pauta sua vida naquilo que a sociedade
Bíblia convenciona ser o certo
Busca agradar a Deus Busca agradar aos homens
Respeita o mais fraco Despreza o mais fraco
Relativismo é uma doutrina que prega que algo é relativo, contrário de uma ideia
absoluta, categórica.
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Ser pragmático é ter seus objetivos bem definidos, é fugir do improviso, é se basear
no conceito de que as ideias e atos só são verdadeiros se servirem para a solução
imediata de seus problemas.
A teoria ética de Kant oferece-nos um princípio da moral que deve poder ser aplicado a
todas as questões morais. Kant enuncia-o de diferentes maneiras com o objectivo de
esclarecer as suas implicações. Partiremos de um caso simples, de senso comum,
para esclarecer essas diferentes formulações:
O Silva reparou que uma pessoa que saía da sua pequena loja deixou cair uma nota de
50 €. Apanhou-a e... que fez?
1. Ficou com os 50 €.
2. Devolveu os 50 € para ficar bem visto e ganhar reputação de honesto.
3. Devolveu os 50 € pelo simples facto de pertencerem ao cliente.
A teoria de Kant não impede que a pessoa satisfaça os seus interesses — afinal
também era do interesse do Silva decidir o que fazer com os 50 € e, apesar de não ter
sido esse o motivo da acção 3, também ganhou a consideração do cliente. O acto deve
ser desinteressado mas se, além disso, satisfizer interesses, tanto melhor para o
agente; se contrariar interesses, paciência.
É provável que Kant, neste aspecto, se afaste um pouco do senso comum. O senso
comum pode pensar que a “imparcialidade” será considerar igualmente “cada um dos
interesses envolvidos” ou, então, ajuizar sobre cada caso atendendo ao “interesse de
todos”. Mas os “interesses das partes envolvidas” podem ser igualmente imorais.
Quanto ao “interesse de todos” pode nem existir (afinal é típico os interesses estarem
em conflito...) e, se existir, será, como todos os interesses, contingente, caprichoso
como a humanidade, e a moral não pode estar sujeita a caprichos. “Imparcialidade”,
para Kant, significa decidir independentemente de quaisquer interesses. De facto, Kant
pensava, em parte de acordo com o senso comum, que o progresso moral também
ajuda à felicidade e aos interesses mais dignos das pessoas. Mas ele sabe que a
harmonia entre a moral e a felicidade não é certa e que se a acção moral gerar
felicidade será por acréscimo ou efeito secundário.
O princípio do dever: Se a pessoa não deve agir por interesse, então deve agir por
obrigação, por dever. A acção 1 foi em tudo contrária ao dever. A acção 2 está em
conformidade com o dever, porque o Silva fez o que deveria ter feito, mas foi feita por
interesse e não por dever. Só a acção 3, a única a ter toda a nossa aprovação moral,
foi feita por dever. Assim, o princípio da moralidade pode ser enunciado deste modo:
“Age apenas por dever e não segundo quaisquer interesses, motivos ou fins.”
Devemos ter em mente que falamos de decisões e acções morais. Se um papel inútil
na minha secretária me incomodar, é do meu interesse deitá-lo para a reciclagem e, ao
fazê-lo, não estou a violar o princípio dos deveres; mas se atirar o papel para o quintal
do vizinho, deixo de cumprir o dever de respeitar as pessoas...
Assim, podemos evitar o erro, bastante difundido, de supor que os deveres morais são
criações ou convenções sociais. Dois argumentos contribuem para este erro. O
primeiro parte do facto de alguns dos “deveres morais” de uma sociedade serem
diferentes dos de outras, para concluir, erradamente, que todos os deveres são
convenções sociais. O segundo argumento parte do facto de muitas vezes cumprirmos
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Ora, a teoria kantiana permite distinguir os deveres morais das regras ditadas por
quaisquer autoridades exteriores ao agente. O indivíduo tem na sua razão o critério dos
deveres: pensando desinteressada e imparcialmente ele sabe o que é o dever. O
conflito entre o dever, que é a ordem que damos a nós mesmos (“Sê honesto!” —
ordenou o Silva a si mesmo), e os interesses que nos afastam do dever (“Mas os 50 €
davam-me jeito...” — hesitou o Silva), explica por que o dever parece ter origem numa
autoridade exterior que nos contraria.
A acção correcta é decidida pelo indivíduo quando adopta uma perspectiva universal.
Como? Abstraindo dos seus interesses, a pessoa pensará como qualquer outra que
também faça abstracção dos seus interesses adoptando, portanto, uma perspectiva
universal.
Regressa ao exemplo dado e verifica que qualquer pessoa que abstrai dos seus
interesses e pensa imparcialmente faz o mesmo: é honesta e devolve os 50 €. Aplica a
mesma ideia a deveres morais comuns como “Cumpre as promessas”, “Paga o que
deves”, “Sê leal”, “Não roubes” e verifica, com Kant, que só o interesse e a parcialidade
do agente podem levar à violação de tais regras ou deveres morais. Eliminada a
parcialidade, pensamos segundo uma perspectiva universal e aprovamo-las. Kant
exprimiu esta ideia numa fórmula conhecida por princípio da universalizabilidade:
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se
torne lei universal.”
Uma máxima é uma regra que deve valer para certos tipos de acção e será moral ou
imoral consoante esteja ou não de acordo com o princípio moral, que é uma regra que
deve valer para todas as acções. A máxima da acção 1 poderia enunciar-se assim: “Se
isso servir os teus interesses, não devolvas dinheiro ao seu dono.” Poderia o Silva
querer que ela fosse universalmente acatada? Não, porque a obediência universal a tal
regra criaria um estado de coisas terrível em que mesmo os seus interesses acabariam
por ser lesados... Tenta transformar outras violações dos deveres em máximas e
pergunta se podes querer que todos as cumpram. Pode o ladrão querer que todos
roubem quando a oportunidade surge? Podes querer que todos façam promessas sem
a intenção de cumprir?
Esta ideia também pode parecer estranha porque nos parece que os deveres não
estiveram à nossa espera para serem criados. Pensamos que são as tradições que
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
“Age como se a máxima da tua acção se devesse tornar, pela tua vontade, em lei
universal da natureza.”
“Age [...] de tal maneira que a vontade pela sua máxima se possa considerar a si
mesma ao mesmo tempo como legisladora universal.”
Se a devolução dos 50 € não visou servir qualquer interesse, então para quê fazê-lo?
Qual é a sua finalidade? A finalidade, já vimos, foi a de cumprir o dever pelo dever. Mas
isso, também já vimos, é, ao mesmo tempo, definir a única legislação adequada a
qualquer a pessoa, ou seja, a todo o ser racional, capaz de ultrapassar interesses para
pensar e decidir por si. Assim, cumprindo o dever que deu a si mesmo, o Silva respeita
todos os seres racionais, incluindo, claro, tanto o próprio Silva como a pessoa do seu
cliente. O mesmo seria dizer que respeitando a pessoa do seu cliente, o Silva respeita-
se e respeita todos os seres racionais, tomando-os como fins da sua acção.
Kant sintetizou o seu pensamento noutra fórmula: “Age de tal maneira que uses a
humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e
simultaneamente como fim e nunca apenas como meio.”
Nota que a fórmula não proíbe as pessoas de serem meios umas para as outras,
porque se o proibisse, proibiria qualquer prestação de serviços. A lei moral não proíbe
o Silva de usar os seus clientes para prosperar, mas se enganar nos preços e não
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
devolver o dinheiro esquecido pelos clientes, está a tratá-los apenas como meios,
instrumentos ou objectos.
Imaginemos que cumpri o dever de não mentir por receio de ser preso, por não querer
ser alvo de uma investigação fiscal, para não ver a minha reputação prejudicada. Não
cometendo qualquer fraude, cumpri o dever de não mentir. Contudo, não cumpri o
dever por dever. Porquê? Porque não mentir foi um meio para evitar situações
desagradáveis: cumpri o dever por medo, por receio, por interesse em evitar
problemas. Não respeitei incondicionalmente a norma que proíbe a mentira. Se
dissesse a mim mesmo "Não devo mentir porque é meu dever não mentir", estaria a
cumprir o dever sem dar importância a mais nada: cumpriria o dever por dever. Ora, o
que concluir do exemplo dado? Disse a mim próprio: "É do meu interesse cumprir o
dever." Agi em conformidade com o dever, fiz o que era devido, mas o motivo que me
levou a agir conforme ao dever não foi pura e simplesmente cumprir o dever. Quando
cumprimos o dever sem qualquer outro motivo a influenciar-nos a não ser a vontade de
o cumprir, estamos, segundo Kant, a agir de uma forma moralmente válida. Melhor
dizendo, esta é a única forma de agir que Kant considera moralmente válida.
Por outras palavras, o que está Kant a dizer-nos? Que para avaliar a moralidade de
uma acção o que conta é a intenção de quem age? O que nos motiva a cumprir o dever
é, para a ética kantiana, o problema decisivo. Não se trata simplesmente de cumprir o
dever, mas sim de como cumprir o dever. As normas morais vigentes numa
determinada sociedade dizem-nos que deveres cumprir ("Não matarás!"; "Não
roubaras!"; "Não mentiras!"), mas não como cumprir esses deveres, qual a forma válida
de os cumprir. Onde encontrar o princípio que nos diz como devemos cumprir o dever?
Na nossa consciência de seres racionais que se reconhecem dotados de liberdade.
Que princípio é esse? Kant dá-lhe o nome de lei moral.
Come se vê, a lei moral exige um absoluto e incondicional respeito pelo dever. Assim, é
nosso dever não matar por absoluto respeito pela dignidade e valor da vida humana e
não por causa dos problemas que a infracção desse dever acarretaria. Dizendo-nos a
forma como devemos agir ao cumprir o dever, a lei moral é, para Kant, uma lei
puramente formal. Não dá regras concretas e particulares de acção, mas exige que as
nossas acções boas tenham sempre uma determinada forma. Tal exigência é absoluta
e deve-se cumprir o que a lei moral ordena por puro e simples respeito por ela. Isto
quer dizer que a lei moral é um imperativo categórico e não um imperativo hipotético.
Por outro lado, o imperativo categórico é uma ordem que não está submetida a
condições: ordena que se cumpra o dever tendo em conta simplesmente o dever ("Não
deves ofender os teus vizinhos porque esse é o teu dever"). O cumprimento do dever é
exigido como fim em si mesmo (sem esperar nada em troca).
ÉTICA E MORAL
Ética: Conjunto de valores morais e princípios que norteam a conduta humana na
sociedade, garantindo o bem-estar social.
Tanto a ética como a moral tem a mesma finalidade, são responsáveis por construir as
bases que vão guiar a conduta do homem em sociedade, determinando o seu carácter
e virtudes.
A moral não é somente um acto individual, pois as pessoas são, por natureza seres
sociais, assim percebe-se que moral também é um empreendimento social e esses
actos morais, quando reliazados por livre participação da pessoa, são aceites
voluntariamente. A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência
Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de
garantir o seu-estar. A moral independe das fronteiras geográficas e garante uma
identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo
referencial moral comum.
A ética e a moral andam lado a lado com a liberdade, quando ela é vista como o
princípio do respeito pelas coisas alheias e a si mesmo
A Ética exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva
o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por
convicção e inteligência.
Dentre as mais variadas espécies de ações humanas como a ação política, a ação de
educar, a ação de trabalhar, a ação de se alimentar, a ação de se emitir um discurso...,
dependem de como são canalização as energias para se atingir os determinados fins;
sem dúvidas, neste caso, há que se priorizar as atenções destes enfoques sobre a
questão da ação moral.
É muito difícil definir o que seja a ação moral em si e por si, devido que ela não
corresponde especificamente à prática de um ato isolado e individualizado, como no
caso de se dar uma esmola, ajudar alguém em dificuldade pela idade a atravessar uma
rua, socorrer um oprimido diante de uma injustiça etc.
A ação moral tem a ver com todos os atos praticados no decorrer de uma existência,
pois, uma atitude isolada não serve de parâmetro para se determinar se uma pessoa é
ética ou não, haja vista que precisam ser observados e somados seus diversos traços
comportamentais na família, na sociedade, no trabalho, entre outros.
Lembre-se que nenhuma pessoa é igual à outra, pois cada ser humano de acordo com
a sua educação familiar, sua crença religiosa, sua cultura, tem o livre arbítrio de
hierarquizar e eleger o que há de mais importante como conduta moral e ética a ser
observada e trilhada.
Ainda bem que essa forma de sentir e perceber as coisas, no ambiente em que
estamos inseridos, é tão diferenciado de indivíduo para indivíduo, pois, o que torna a
vida bastante interessante é o aprendizado de se conviver com essas diferenças,
buscando um ponto de equilíbrio, por meio da harmonização dessas ações. Cada
indivíduo, dentro dos padrões aceitos pela sociedade, tem a liberdade de deliberar e
decidir qual é a melhor forma de conduzir a sua própria personalidade, tendo a ética
como a capacidade coligada a essa liberdade.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Segundo o eminente professor BITTAR (2009, p. 104 - 105): “Os pilares de uma
sociedade podem ser os próprios valores por ela construídos, capazes de sustentá-la
em períodos de crise, em momentos de conflito, em épocas de cortesia. Quais são
esses pilares, senão os sólidos valores de preservação do indivíduo e da coletividade,
construídos por processos históricos pela cultura de uma sociedade”.
Enfim, a ética deve ser racional e relativizada de modo a fortalecer ainda mais a moral,
portanto, o saber ético não deve se ocupar somente das virtudes, mas também dos
vícios humanos e das habilidades em lidar com o bem e com o mal, de modo a
administrá-los da melhor forma possível, superando erros e buscando cada vez mais o
aperfeiçoamento da moral e da justiça imparcial tão sonhada e almejada por muitos,
para a construção de uma sociedade mais digna e mais justa e que valorize tudo aquilo
que é bom e útil para toda a humanidade.
Qual a diferença entre ética e moral? Podemos responder a esta pergunta com
uma história árabe.
O profeta pensou por um momento e respondeu: falo em nome daquele que detém em
sua mão a minha alma de carne: desde que estou sentado aqui, não vi passar
ninguém.
A moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em sociedade, regras
estas determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é uma pessoa
moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral.
A ética, por sua vez, é a parte da filosofia que estuda a moral, isto é, que reflete sobre
as regras morais. A reflexão ética pode inclusive contestar as regras morais vigentes,
entendendo-as, por exemplo, ultrapassadas.
Se o profeta fosse apenas um moralista, seguindo as regras sem pensar sobre elas,
sem avaliar as consequências da sua aplicação irrefletida, ele não poderia ajudar o
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
homem que fugia dos bandidos, a menos que arriscasse a própria vida. Ele teria de
dizer a verdade, mesmo que a verdade tivesse como consequência a morte de uma
pessoa inocente.
Logo, embora seja possível ser ético e moral ao mesmo tempo, como de certo modo o
profeta o foi, ética e moral não são sinônimas. Também é perfeitamente possível ser
ético e imoral ao mesmo tempo, quando desobedeço uma determinada regra moral
porque, refletindo eticamente sobre ela, considero-a equivocada, ultrapassada ou
simplesmente errada.
No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e eles estavam certos quanto
a isso. Na verdade, a regra moral vigente é que estava errada, a moral é que era
estúpida. A partir da sua reflexão ética a respeito, Rosa pôde deliberada e
publicamente desobedecer àquela regra moral.
Há que proceder eticamente, como o fez o profeta Maomé: não seguir as regras
morais sem pensar, só porque são regras, e sim pensar sobre elas para encontrar a
atitude e a palavra mais decentes, segundo o seu próprio julgamento.
BIOÉTICA
Discutir sobre ética nos remete à Bioética, que
procede do grego bios, vida e ethos, ética, que significa
ética da vida. Mas, como ocorreu a gênese e o desenvolvimento da Bioética?
O caso Tuskegee tem sido objeto de divulgação e reflexão nestes últimos anos.
Analisar um projeto de pesquisa feito no passado (1932) merece alguns cuidados. O
primeiro e mais o importante deles é o de manter a adequação dentro dos parâmetros
então utilizados e não cair na tentação de utilizar reflexões posteriores como base para
o julgamento. É fundamental utilizar os critérios contemporâneos para criticar e
prevenir outras situações semelhantes.
De 1932 a 1972 o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos da América realizou
uma pesquisa, cujo projeto escrito nunca foi localizado, que envolveu 600 homens
negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, da cidade de Macon, no estado do
Alabama. O objetivo do Estudo Tuskegee, nome do centro de saúde onde foi
realizado, era observar a evolução da doença, livre de tratamento. Vale relembrar que
em 1929, já havia sido publicado um estudo, realizado na Noruega, a partir de dados
históricos, relatando mais de 2000 casos de sífilis não tratado.
Não foi dito aos participantes do estudo de Tuskegee que eles tinham sífilis, nem dos
efeitos desta patologia. O diagnóstico dado era de “sangue ruim”. Esta denominação
era a mesma utilizada pelos Eugenistas norte-americanos, no final da década de 1920,
para justificar a esterilização de pessoas portadoras de deficiências.
A inadequação inicial do estudo não foi a de não tratar, pois não havia uma terapêutica
comprovada para sífilis naquela época. A inadequação foi omitir o diagnóstico
conhecido e o prognóstico esperado.
O interesse pela análise deste tema se acelerou ainda mais, quando se decifrou o
código genético humano, mostrando novos recursos de manipulação científica da
natureza. O homem se viu diante de problemas imprevistos.
Assim, seu estudo vai além da área médica, abarcando psicologia, direito, biologia,
antropologia, sociologia, ecologia, teologia, filosofia etc, observando as diversas
culturas e valores. Esta pesquisa não tem fronteira, dificultando, inclusive, uma
definição uma vez que os problemas são considerados sob vários prismas, na tentativa
de harmonizar os melhores caminhos.
c) Bioética clínica (o de decisão): trata da praxis médica e do caso clínico, quais são
os valores em jogo e quais os caminhos corretos de conduta.
Define-se Bioética como "o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão,
decisão e normas morais - das ciências da vida e do cuidado com a saúde, utilizando
uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar." Trata, portanto,
entre outros assuntos, do direito dos indivíduos à saúde, do direito dos pacientes, do
direito à assistência, das responsabilidades jurídicas dos pacientes e dos profissionais
da saúde, das responsabilidades sobre as ameaças ã vida no planeta, do direito
ambiental, dos direitos com respeito às novas realidades tecnológicas da medicina e da
biologia (incluindo as novas tecnologias genéticas), etc.
OS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS:
A Bioética é uma ética aplicada, chamada também de “ética prática”1[1], que visa “dar
conta” dos conflitos e controvérsias morais implicados pelas práticas no âmbito das
Ciências da Vida e da Saúde do ponto de vista de algum sistema de valores (chamado
também de “ética”).
Como tal, ela se distingue da mera ética teórica, mais preocupada com a forma e a
“cogência” (cogency) dos conceitos e dos argumentos éticos, pois, embora não possa
abrir mão das questões propriamente formais (tradicionalmente estudadas pela
metaética), está instada a resolver os conflitos éticos concretos. Tais conflitos surgem
das interações humanas em sociedades a princípio seculares, isto é, que devem
encontrar as soluções a seus conflitos de interesses e de valores sem poder recorrer,
consensualmente, a princípios de autoridade transcendentes (ou externos à dinâmica
do próprio imaginário social), mas tão somente “imanentes” pela negociação entre
agentes morais que devem, por princípio, ser considerados cognitiva e eticamente
competentes. Por isso, pode-se dizer que a bioética tem uma tríplice função,
reconhecida acadêmica e socialmente: (1) descritiva, consistente em descrever e
analisar os conflitos em pauta; (2) normativa com relação a tais conflitos, no duplo
sentido de proscrever os comportamentos que podem ser considerados reprováveis e
de prescrever aqueles considerados corretos; e (3) protetora, no sentido, bastante
intuitivo, de amparar, na medida do possível, todos os envolvidos em alguma disputa
de interesses e valores, priorizando, quando isso for necessário, os mais “fracos”
(Schramm, F.R. 2002. Bioética para quê? Revista Camiliana da Saúde, ano 1, vol. 1, n.
2 –jul/dez de 2002 – ISSN 1677-9029, pp. 14-21). Mas a Bioética, como forma talvez
especial da ética, é, antes, um ramo da Filosofia, podendo ser definida de diversos
modos, de acordo com as tradições, os autores, os contextos e, talvez, os próprios
objetos em exame. Algumas definições:
"Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais
importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente
necessária: conhecimento biológico e valores humanos.” (Van Rensselaer Potter,
Bioethics. Bridge to the future. 1971)
“A bioética, da maneira como ela se apresenta hoje, não é nem um saber (mesmo que
inclua aspectos cognitivos), nem uma forma particular de expertise (mesmo que inclua
experiência e intervenção), nem uma deontologia (mesmo incluindo aspectos
normativos). Trata-se de uma prática racional muito específica que põe em movimento,
ao mesmo tempo, um saber, uma experiência e uma competência normativa, em um
contexto particular do agir que é definido pelo prefixo ‘bio’. Poderíamos caracteriza-la
melhor dizendo que é uma instância de juízo, mas precisando que se trata de um juízo
prático, que atua em circunstâncias concretas e ao qual se atribui uma finalidade
prática a través de várias formas de institucionalização. Assim, a bioética constitui uma
prática de segunda ordem, que opera sobre práticas de primera ordem, em contato
direto com as determinações concretas da ação no âmbito das bases biológicas da
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
existência humana.” (Ladrière, J. 2000. Del sentido de la bioética. Acta Bioethica VI(2):
199-218, p. 201-202).
Bioética
Direito Civil
Direito Penal
Direito Ambiental
Direito Constitucional,
Microbioética: É o ramo da bioética que tem por objetivo o estudo das relações entre
médicos e pacientes e entre as instituições e os profissionais de saúde. A microbioética
trabalha, especificamente, com as questões emergentes, que nascem dos conflitos
entre a evolução da pesquisa científica e os limites da dignidade da pessoa humana.
Macrobioética: É o ramo da bioética que tem por objetivo o estudo das questões
ecológicas em busca da preservação da vida humana. A macrobioética trabalha,
especificamente, com as questões persistentes. As QUESTÕES PERSISTENTES são
aquelas que reiteradamente se manifestam no grupo social e por isso se encontram
regulamentadas, por exemplo, a preservação florestal ou de um patrimônio cultural.
Também denominada de Macrobiodireito, o mesmo pode abranger questões de cunho
ambiental e internacional ambiental, pela amplitude de sua incidência.
Ética e ciência
Ciência- conjunto de saberes, conhecimentos sistematizados, rigorosos e racional com
um objecto de estudo deternimado.
Fazer a ciência especialmente nos dias de hoje é estar carregado de implicações com
a ética.
Todo ser humano, recém-iniciado ou adulto, são ou enfermo, com funções biológicas
ou insuficientes, deve ser respeitado em sua vida e dignidade. Arnaldo Rizzardo
Ainda nessa mesma linha de raciocínio, assuntos como sexualidade, biologia do sexo,
objeção de consciência, contracepção e aborto eugênico, bancos de sêmen e óvulos,
homossexualidade, transplante de órgãos, eutanásia, distanásia e ortotanásia,
maternidade de substituição, obesidade, dentre outros, são temas que, apesar de não
regulamentados legalmente, com o desenvolvimento biotecnológico e biomédico,
visando melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, vêm sendo aplicados no ser
humano.
Tem-se, então, a Bioética como a disciplina que examina e discute os aspectos éticos
relacionados com o desenvolvimento e as aplicações da biologia e da medicina,
indicando os caminhos e o modo de se respeitar o valor da pessoa humana, como
unidade e como um todo. O biodireito como um processo de concretização normativa
dos valores e princípios fixados pela ética, tomando como paradigma o valor da
pessoa humana. É um novo ramo do direito da vida humana, necessário porque a
legislação do passado é insuficiente.
Conclui Emerson Ike Coan que, frente a esses avanços “se deve considerar o homem
não um simples produto da natureza, ou seja, só um ser biológico, mas um ser social
capaz de atuar conscientemente sobre aquela, modificando-a, pela sua liberdade
racional e responsável, o que implica sempre limites éticos. Isto embasa o princípio da
dignidade humana.”
O Direito e a Bioética devem estar lado a lado, cada um cumprindo o seu papel, a
Bioética no campo da obrigação moral e o direito elaborando leis legítimas que
regulem as atitudes humanas visando à proteção da VIDA. Assim, o Biodireito torna-se
um dos pilares da Bioética.
A vida e a dignidade são os bens mais valiosos do ser humano. Admitir que esses
bens sejam menosprezados frente aos experimentos científicos, possivelmente
acarretaria riscos de aberrações genéticas, seleção racial, dentre outras
conseqüências prejudiciais à humanidade.
Civil: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a
salvo desde a concepção os direitos do nascituro. A discussão toda acontece por não
se chegar a um consenso sobre qual é momento da concepção. Na Tutela Civil estão
previstos o nascituro, a existência e os efeitos "post mortem".
Penal: Não há crime sem lei anterior que o defina; não há penalização sem prévia
cominação legal. Nesta tutela estão previstos o homicídio, o suicídio, infanticídio,
fratricídio, lesão corporal e aborto.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
A segunda questão de caráter geral que se coloca para a bioética - o que se deve
fazer -, também, é respondida de forma diversa pelas duas correntes de pensamento.
O pensamento liberal sustenta que se deve promover a tolerância e assegurar a
resolução pacífica dos conflitos. Os conservadores consideram, por outro lado, que se
torna necessário aprofundar os debates sobre as descobertas e tecnologias da
genética, antes que a ciência humana aventure-se por campos do conhecimento ainda
pouco conhecidos; esses debates devem obedecer a uma estratégia política de
dissuasão, através do medo, a chamada "heurística do medo" ( Hottois, 1993:23).
Assim, na concepção conservadora seria exorcizada a compulsão tecnicista da
contemporaneidade, que, ao ver de importantes críticos da modernidade, transformou
o homem de sujeito em objeto da técnica.
A posição liberal sustenta não ser possível determinar uma definição do bom e do mal
de forma abstrata e com expressão universal. Em conseqüência, o importante nas
questões da bioética, como em todos os demais problemas sociais, consistirá na
preservação da liberdade de escolha e do debate público, permitindo-se que cada
indivíduo e comunidade estabeleçam seus próprios padrões de contrôle (Charlesworth,
1993: 10 e segs.). Os liberais consideram mesmo que esta não é uma questão
essencial, pois cada sociedade, em princípio, deve determinar os seus próprios
parâmetros normativos, seja do ponto de vista moral, seja sob o aspecto jurídico.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Nascituro
Nos termos do art. 2º do Código Civil de 2002, "A personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos
do nascituro". Nos termos de nossa legislação surge um impasse, pois, embora não
tenha personalidade, que apenas começa com o nascimento com vida, o nascituro
pode titularizar direitos, como, por exemplo, a busca de "alimentos gravídicos". Em
razão das controvérsias acerca da natureza jurídica do nascituro, três teorias forjaram-
se, basicamente. A primeira, natalista, afirma que o nascituro possui mera expectativa
de direito, só fazendo jus à personalidade após o nascimento com vida (art.2º, 1ª parte
do CC/02); já a teoria concepcionista assegura ao nascituro personalidade, desde a
concepção, possuindo, assim, direito à personalidade antes mesmo de nascer; a teoria
da "personalidade condicionada" forja, a seu turno, uma "personalidade virtual ao
nascituro", vez que ele possui personalidade, mas sob a condição de nascer com vida.
Essas teorias foram defendidas por diferentes juristas brasileiros. Para José Carlos
Moreira Alves, em um posicionamento mais alinhado com a teoria natalista, "não há,
nunca houve, direito do nascituro, mas, simples, puramente, expectativas de direito,
que se lhe protegem, se lhe garantem, num efeito preliminar, provisório, numa
Vorwirkung, porque essa garantia, essa proteção é inerente e é essencial à expectativa
do direito". Assim, aduz, se "o nascituro não é titular de direitos subjetivos, não será
também, ainda que por ficção, possuidor".
Em que pese as diferenças apontadas pelas correntes, é sustentado que o Código Civil
brasileiro as adotou, a depender do momento. Assim é que, para fins sucessórios, foi
utilizada a 3ª terceira corrente. A busca de alimentos gravídicos (lei 11.804/2008) se
funda na segunda, sendo certo que a primeira fundamenta a definição de
personalidade no CC/02. A lei brasileira põe a salvo, desde o momento da concepção,
os direitos do nascituro.[4] O nascituro tem seus direitos assegurados, mas ainda não
os detém. Somente os terá quando nascer com vida, ainda que esta seja breve, sendo
essa a teoria da "personalidade condicionada".
O Código Civil, ao mesmo tempo em que concebe direitos ao nascituro, dispõe que a
personalidade começa do nascimento com vida, o que põe em questão a relação entre
personalidade (humana) e subjetividade jurídica. Para os defensores dos direitos dos
animais, por exemplo, um animal pode ser titular de direitos subjetivos, mas não possui
personalidade (humana). A diferenciação entre ambos os institutos é questionada por
Amaral, que desafia: "como se fosse possível separar personalidade da subjetividade
jurídica". Para Bevilácqua, in Teoria geral do direito civil (RIO 1975), "a capacidade de
direito confunde-se com a própria personalidade".
Já com relação à questão da capacidade jurídica, Carlos Maximiliano expressa que "A
mãe da criança pode acionar, porém, em nome do filho menor ou nascituro, no papel
de tutora, ou curadora, nata; pois não se cogita de reparação à mulher, e sim de
adquirir ou recobrar o filho o seu estado civil. Basta estar a pessoa concebida para ser
sujeito de direito; naquilo que ao embrião aproveita, intervém a seu favor a Justiça,
provocada a agir pelos representantes legais dos incapazes: Infans conceptus pro jam
nato habetur quoties de ejus commodis agitur, "a criança concebida se tem como
nascida já, toda vez que se trata do seu interesse e proveito"." [5]
É premissa, portanto, que o nascituro é pessoa incapaz. E ele pode ser representado
judicialmente por quem detém o pátrio poder, quando não tiver interesses conflitantes e
for capaz ou, caso contrário, por curador nomeado ou pelo Ministério Público, até
quando for suficiente para o exercício pleno.
Esta ressalva exprime que o ser humano, desde o momento em que é concebido,
considera-se como já tendo nascido para tudo quanto diga a conservação de sua
expectativas de direito. É a consagração do velho preceito do direito romano -
"nasciturus pro jam nato habetur si de ejus commodo agitur” (o nascituro considera-se
como nascido, quando se trata de seus interesses)."[6]
Nasciturus pro iam nato habetur quando de eius commodo agitur ("no interesse do
nascituro, é ele considerado já nascido"). Sempre que se trata de aplicação do
princípio, há pretensão do nascituro à sentença (resolução judicial), qualquer que seja
(declarativa, condenatória, constitutiva, mandamental, executiva), e à execução. A cada
pretensão corresponde ação, como aconteceria se o titular da pretensão fosse pessoa
já nascida.[7]
"Durante a gestação, pode ser preciso à vida do feto e à vida do ente humano, após o
nascimento, outra alimentação ou medicação. Tais cuidados não interessam à mãe;
interessam ao concebido. Por outro lado, há despesas para roupas e outras despesas
que têm que ser feitas antes do nascimento, delas exigir a pessoa logo ao nascer. O
“quantum” de alimentos é limitado, e o que escreveu Oliveira Cruz "o maior desses
direitos é, sem dúvida o de ser alimentado e tratado para poder viver; assim pode a
mãe pedir alimentos para o nascituro, hipótese em que, na fixação, o juiz levará em
conta as despesas que se fizerem necessárias para o bom desenvolvimento da
gravidez, até o seu termo final, e incluindo despesas médicas e medicamentos".
Guima Tamã (in: Tudo sobre alimento, Síntese), didaticamente discrimina todas as
possíveis situações em que são devido os alimentos, destacando-se: "1.11. A
descendente grávida de qualquer um: Estando grávida a filha, neta ou bisneta, etc, sem
rendimentos para se manter, pode acionar os pais, avós ou bisavós, que os tenham
para alimentá-la, mesmo sendo ela maior e filho não legitimo. Essa obrigação do
ascendentes decorre da necessidade de ser alimentado o nascituro".
Uma vez concebido, ou seja, a partir do ovo, a responsabilidade dos alimentos esta
presente. Ao nascituro são devidos alimentos em sentido lato – alimentos civis – para
que possa nutrir-se e desenvolver-se com normalidade, objetivando o nascimento com
vida. Deve-se incluir nos alimentos, a adequada assistência médico cirúrgica e as
despesas do parto.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Aborto
O aborto é a interrupção de uma gravidez.
A incidência do aborto se estabilizou nos últimos anos, após ter tido uma queda nas
últimas décadas devido ao maior acesso a planejamento familiar e a métodos
contraceptivos. 40% das mulheres do mundo têm acesso a aborto induzido em seus
países (dentro dos limites gestacionais).
Tipos de Aborto:
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Aborto Espontâneo
Aborto Induzido
Aborto Ilegal
Aborto Espontâneo surge quando a gravidez é interrompida sem que seja por
vontade da mulher. Pode acontecer por vários factores biológicos, psicológicos e
sociais que contribuem para que esta situação se verifique.
Os métodos que não são realizados com acompanhamento médico (uso de certas
drogas, ervas, ou a inserção de objectos não cirúrgicos no útero) são potencialmente
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Entre 2003 e 2008, cerca de 47 mil mulheres morreram e outros 8,5 milhões tiveram
consequências graves na sua saúde, decorrentes da prática do aborto.
Câncer de mama
Esta hipótese não é aceita pelo consenso científico das entidades ligadas ao câncer
Bind é um pesquisador com uma agenda enviesada e pseudocientífica para a
promoção de suas crenças religiosas através do do "Breast Cancer Prevention
Institute".
Dor do feto
sétima semana enquanto outros sustentam que os requisitos neuro-anatómicos para tal
só existirão a partir do segundo ou mesmo do terceiro trimestre da gestação.
O hipotálamo, parte do cérebro receptora dos sinais do sistema nervoso e que liga ao
córtex cerebral, forma-se à quinta semana.
Novos estudos do Hospital Chelsea, realizados pela Dra. Vivette Glover em Londres
sugerem que a dor fetal pode estar presente a partir da décima sétima semana de vida
do feto. O que justificaria, segundo os proponentes do aborto, o uso de anestésicos
para diminuir o provável sofrimento do feto. Estes estudos contrariam a versão da
entidade que reúne obstetras e ginecologistas do Reino Unido, o Royal College of
Obstretics and Gynacologists; para esta organização, só há dor depois de 26 semanas.
Síndrome pós-abortiva
Entretanto, tal síndrome teria sido catalogada em inúmeras pesquisas, entre elas a do
dr. Vincent Rue, que no estudo da Desordem Ansiosa Pós-Traumática (DAPT),
presente em ex-combatentes do Vietnã, e teria sua correspondente na síndrome pós-
aborto (SPA).
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Uma opinião contrária, entretanto, apresentada por grupos pró-vida, seria que, mesmo
que sejam encontradas correlações estatísticas entre gravidez indesejáveis e situações
consideradas psicologicamente ruins para as crianças nascidas, esta situação não
pode ser comparada com a de crianças abortadas, visto que estas não estão vivas.
Uma "situação de vida" não seria passível de comparação com uma "situação de
morte", visto a inverificabilidade desta enquanto situação possivelmente existente (a
chamada "vida após a morte") pelos métodos científicos disponíveis. Como não se
pode estipular se uma situação ruim de vida, por pior que fosse, seria pior que a morte,
o aborto, no caso, não poderia ser apresentado como solução, visto que não dá a
capacidade de escolha ao envolvido, enquanto ainda é um feto
Métodos de indução
Aborto farmacológico
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Os abortos farmacológicos precoces são responsáveis pela maioria dos abortos com
menos de 9 semanas de gestação na Grã-Bretanha, França,Suíça, e nos países
nórdicos. Nos Estados Unidos, o percentual de abortos farmacológicos precoces é
menor.
A aspiração manual intrauterina (AMIU) consiste em uma aspiração cujo vácuo é criado
manualmente utilizando-se uma cânula flexível acoplada a uma seringa. Foi
desenvolvida para ser realizada ambulatorialmente sem anestesia geral, não
necessitando ser realizada em bloco cirúrgico. Não é necessária a dilatação cervical.
O procedimento também pode ser utilizando um aparelho de vácuo eléctrico. Neste tipo
de aspiração o conteúdo do útero é sugado pelo equipamento.
Em gestações mais avançadas, nas quais o material a ser removido do útero é muito
volumoso, recorre-se à curetagem. Ao contrário da aspiração uterina à vácuo, que
pode ser realizada em consultórios ou clínicas, a dilatação e curetagem é um
procedimento cirúrgico, devendo ser realizado em um hospital com bloco cirúrgico.
Inicialmente o médico alarga o colo do útero da paciente com dilatadores, para permitir
a passagem da cureta a seguir. A cureta é um instrumento cirúrgico cortante, em forma
de colher, que é introduzida no útero para realizar a raspagem. Servindo-se da cureta,
o médico retira todo o conteúdo uterino, incluindo o endométrio.
Dilatação e evacuação
O aborto por esvaziamento craniano intrauterino (ECI), também conhecido como aborto
com "nascimento parcial", é uma técnica utilizada para provocar o aborto quando a
gravidez está em estágio avançado, entre 20 e 26 semanas (cinco meses a seis meses
e meio). Guiado por ultrassom, o médico segura a perna do feto com um fórceps, puxa-
o para o canal vaginal, e então retira o feto do útero, com exceção da cabeça.
Faz então uma incisão na nuca, inserindo depois um cateter para sugar o cérebro do
feto e então o retira por inteiro do corpo da mãe. Em alguns países, essa prática é
proibida em todos os casos, sendo considerada homicídio e punida severamente. Esta
técnica tem sido alvo de intensas polêmicas nos Estados Unidos.
Em 2003, sua prática foi proibida em todo o país, gerando revoltas de movimentos pró-
aborto.
Outros métodos
com sucesso a perda fetal No Sudeste da Ásia, há uma tradição antiga de se tentar o
aborto através de forte massagem abdominal
Terminologia
A palavra aborto tem sua origem etimológica no latim abortacus, derivado de aboriri
("perecer"), composto de ab ("distanciamento", "a partir de") e oriri ("nascer").
Sociedade e cultura
Consequências positivas
Consequências negativas
As situações possíveis vão desde o aborto ser considerado um crime contra a vida
humana, até ao apoio estatal para a sua realização a pedido da grávida. [85]
Brasil:O aborto é proibido no Brasil, apenas com exceções quando há risco de morte
da mãe causado pela gravidez, quando esse é resultante de um estupro e se o feto não
tiver cérebro. Nesses três casos, permite-se à mulher optar por fazer ou não o aborto.
Quando essa decide abortar, deve realizar o procedimento gratuito pelo Sistema Único
de Saúde. Um dos argumentos pró-escolha é de que a vida do indivíduo não começa
na fecundação, e de que esse apenas deveria ter direito civis, depois da formação do
ser humano propriamente dito. Os pró-vida, porém, dizem que depois do óvulo ter sido
fecundado, o indivíduo passa a existir e que ele tem os mesmos direitos de uma
pessoa já nascida.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Canadá: O aborto não é restringido pela lei canadense. Desde 1969 que a lei permite a
prática de aborto em situações de risco à saúde, e, a partir de 1973, a interrupção
voluntária da gravidez deixou de ser ilegal. O Canadá é um dos países do mundo que
dá mais liberdade de fazer um aborto; o acesso ao aborto é fornecido pela assistência
médica pública para os cidadãos canadenses e para os residentes permanentes, nos
hospitais do país.
De 1994 a 1998, membros de movimentos "pro-life” alvejaram com armas de fogo
quatro médicos que praticavam abortos, tendo um sido assassinado em 1998. Em
1992, uma bomba incendiária causou severos danos numa clínica onde se realizavam
abortos.
Cuba: O aborto é permitido até as dez primeiras semanas de gravidez, regra que
vigora desde a revolução comunista, em 1959. Cuba é primeiro país da América Latina
a legalizar o aborto sem restrições. O Uruguai é o segundo, e a Cidade do México
também é uma exceção.
México: No México a legislação sobre o aborto é muito regional. Existem estados onde
o aborto é legal quando o feto apresenta alguma deformação genética ou quando é
produto de uma violação. Recentemente no ano 2009 em muitos estados mexicanos
passaram leis que proíbem qualquer forma de aborto como reação ao fato de que o
aborto é legal na Cidade do México desde 2008, com a única limitação de que seja
praticado até a 12ª semana de gestação.[5] O aborto neste caso é praticado e assistido
em clinicas do estado com atenção medica especializada e gratuita.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Uruguai: No Uruguai, o aborto pode ser feito por qualquer motivo até a 12ª semana
de gestação, até a 14ª semana de gestação em caso de estupro, e a qualquer
momento em caso de má-formação do feto ou risco de vida para a mãe. Há
acompanhamento médico feito por uma equipe formada por um ginecologista, um
psicólogo e um assistente social, e cinco dias de reflexão para que a mãe tenha
certeza da decisão.[6]
Irlanda: Num referendo em 26 de maio de 2018, a maioria dos irlandeses votou pela
revogação da proibição constitucional do aborto. O "Sim" alcançou 68% dos votos
contra os 32% do "Não". O governo da Irlanda avançará até ao fim de 2018 com
legislação que possibilite o aborto até às 12 semanas de gravidez em qualquer
circunstância.
médica, ela tem de ser realizada por dois médicos diferentes do que vai realizar o
aborto.
Na Polônia o aborto foi livre durante o regime comunista até 1993. Movimentos fazem
campanha para que a Constituição polonesa seja reformada, no sentido de ampliar a
proteção legal da vida humana até o momento da concepção. Há também movimentos
que defendem a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez à semelhança
da maioria dos países da União Europeia.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos aumentou de
23% 1963 para 30% em 1967, tendo diminuído até 20% em 1987. A partir deste ano há
uma quebra acentuada e os valores chegam a 2.3% em 1992 tendo mantido valores
inferiores a 0.25% desde então.
Portugal: O aborto é permitido em Portugal até às dez semanas de gestação a pedido
da grávida. A Lei nº 16/2007 de 17 de Abril indica que é obrigatório um período mínimo
de reflexão de três dias e tem de ser garantido à mulher "a disponibilidade de
acompanhamento psicológico durante o período de reflexão" e "a disponibilidade de
acompanhamento por técnico de serviço social, durante o período de reflexão" quer
para estabelecimentos públicos quer para clínicas particulares. A mulher tem de ser
informada "das condições de efectuação, no caso concreto, da eventual interrupção
voluntária da gravidez e suas consequências para a saúde da mulher" e das
"condições de apoio que o Estado pode dar à prossecução da gravidez e à
maternidade". Também é obrigatório que seja providenciado "o encaminhamento para
uma consulta de planeamento familiar."
O período de permissão é estendido até às dezesseis semanas em caso de violação
ou crime sexual (não sendo necessário que haja queixa policial), até às vinte e quatro
semanas em caso de malformação do feto.
É permitido em qualquer momento em caso de risco para a grávida ("perigo de morte
ou de grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da
mulher grávida") ou no caso de fetos inviáveis.
Reino Unido: O aborto é permitido até as 24 semanas por razões sociais, médicas ou
económicas. Permitida após as 24 semanas nos casos de risco para a vida da mãe,
risco de grave e permanente doença para a mãe e nos casos de risco de malformação
do feto.
O aborto é legal na Inglaterra, Escócia e País de Gales desde 1967. Nessa altura, a
legislação britânica era uma das mais liberais da Europa. Hoje, a maioria dos países
europeus adoptaram legislação semelhante.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se[19] estável entre 23% e 26% de 1985 a 1997, tendo aumentado até 30% em 2001.
Rússia: Em 1885, a Rússia czarista baniu o aborto no Código Criminal Imperial, sendo
que esta lei foi questionada em 1914 pela divisão russa da União Internacional dos
Criminologistas de São Petesburgo e no início da Revolução Russa, apesar de ser uma
questão controversa devido a necessidade de preservar a vida como um bem
comunitário, por um lado, e a necessidade de dar segurança e saúde para as
mulheres; e evitar que elas dependam de médicos especuladores, o procedimento foi
legalizado. Uma mulher foi inocentada em primeira instância por ter praticado o aborto
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
em 1920 para ser legalizado em escala nacional no mesmo ano pelo Ministério
Soviético de Saúde e Justiça.
O Stálin limitou o aborto por lei a casos de extremo perigo de vida para a mulher, só
voltando a ser desregulamentado em 1955.[27][28][29][30] Visando a constituição de uma
mão-de-obra fabril, Stálin criou leis que condenavam a morte ou a 2 anos de prisão
quem conduzia e pressionava por abortos, aumentou o salário e os benefícios
trabalhistas de mulheres grávidas e mães que recém-pariram seus filhos além de
aplicar penalidades a quaisquer empregadores que se recusassem a contratam e/ou
discriminar mulheres grávidas.
Suécia: O aborto é permitido a pedido da mulher até as dezoito semanas. Permitida
até as 22 semanas por motivos de força maior (ex: inviabilidade do feto).
A primeira legislação aceitando o aborto na Suécia foi emitida em 1938. Previa que o
aborto seria legal caso existissem razões médicas, humanitárias ou eugénicas.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos aumentou de 3%
em 1960 para 36% em 1979 tendo-se mantido entre 28 e 36% desde então.
Suíça:O aborto é permitido até as doze semanas . A mulher deve ser informada
exaustivamente antes de se submeter à intervenção.
O aborto é regulado pelo artigo 119 do Código Penal.
Taiwan: O poder executivo da Taiwan propôs uma emenda à legislação vigente sobre
o aborto que, entre outras coisas, estabelece um período de "reflexão" de três dias
para todas as mulheres que desejem abortar. Isto devido a recentes estatísticas que
revelam um número maior de abortos que de nascimentos por ano no país. Segundo
um estudo de 1992 publicado pelo Journal of the Royal Society of Health, 46 por cento
das mulheres de Taiwan já se submeteram a um aborto. A agência Associated
Press informa que vários proeminentes ginecólogos de Taiwan actualmente creem que
há mais abortos que nascimentos por ano, uma cifra estimada em 230 mil abortos.
A emenda obrigaria as mulheres a provar que consultaram seu médico antes de buscar
um aborto, e as menores de 18 anos teriam que contar com autorização de seus pais
ou tutores.
Nova Zelândia: O aborto é permitido, desde 1977, até as vinte semanas de gravidez, e
depois das vinte semanas, se prejudicar a saúde da mulher. A regulamentação requer
que o aborto após as doze semanas de gestação têm que ser realizadas em
“instituições licenciadas”, que são normalmente hospitais.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Anencefalia
Trata-se de patologia letal. Bebês com anencefalia possuem expectativa de vida muito
curta, embora não se possa estabelecer com precisão o tempo de vida que terão fora
do útero. A anomalia pode ser diagnosticada, com certa precisão, a partir das 12
semanas de gestação, através de um exame de ultra-sonografia, quando já é possível
a visualização do segmento cefálico fetal.
Embriologia
A anencefalia é um dos três principais defeitos do tubo neural (DTN). Os outros são a
encefalocele e a mielomeningocele. Os defeitos do tubo neural resultam de uma falha
no fechamento do tubo neural que ocorre entre 25 e 27 dias após a concepção.
Epidemiologia
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Feto anencéfalo.
Sinais e sintomas
Diagnóstico
Às vezes a anencefalia não é diagnosticada, pois o feto acaba evoluindo para aborto
espontâneo. Em outros, principalmente em mulheres que não têm acesso ao pré-natal,
a doença é diagnosticada apenas durante o parto.
Prognóstico
Não existe cura ou tratamento padrão para a anencefalia e o prognóstico para estes
pacientes é a morte. A maioria dos fetos não sobrevive ao nascimento, o que
corresponde a 55% dos casos não abortados. Quando a criança não é um natimorto
(nasce sem vida), ela geralmente morre de parada cardiorrespiratória em poucas horas
ou dias após o nascimento.
Interrupção da gravidez
Ética/Deontologia Profissional:
Ética é uma palavra de origem grega (éthos), que significa propriedade do caráter. Ser
ético é agir dentro dos padrões convencionais, é proceder bem, é não prejudicar o
próximo. Ser ético é cumprir os valores estabelecidos pela sociedade em que se vive.
O termo deontologia foi criado no ano de 1834, pelo filósofo inglês Jeremy Bentham,
para falar sobre o ramo da ética em que o objeto de estudo é o fundamento do dever e
das normas. A deontologia é ainda conhecida como "Teoria do Dever."
Immanuel Kant também deu sua contribuição para a deontologia, uma vez que a dividiu
em dois conceitos: razão prática e liberdade.
Para Kant, agir por dever é a maneira de dar à ação o seu valor moral; e por sua vez, a
perfeição moral só pode ser atingida por uma livre vontade.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito
Para os profissionais, deontologia são normas estabelecidas não pela moral e sim para
a correção de suas intenções, ações, direitos, deveres e princípios.
Ter ética profissional é o indivíduo cumprir com todas as atividades de sua profissão,
seguindo os princípios determinados pela sociedade e pelo seu grupo de trabalho.
Cada profissão tem o seu próprio código de ética, que pode variar ligeiramente, graças
a diferentes áreas de atuação. No entanto, há elementos da ética profissional que são
universais e por isso aplicáveis a qualquer atividade profissional, como a honestidade,
responsabilidade, competência, etc.
Código de ética profissional é o conjunto de normas éticas, que devem ser seguidas
pelos profissionais no exercício de seu trabalho.
recompensa é ser reconhecido, não só pelo seu trabalho, mas também por sua postura
ética, de valores e conduta exemplar.
Permita-se ir além! Chegou o momento de você iniciar uma nova etapa em sua história.
Como tal, um código de ética fixa normas que regulam os comportamentos das
pessoas dentro de uma empresa ou organização. Apesar de a ética não ser coactiva
(não implica penas legais), o código de ética supõe uma normativa interna de
cumprimento obrigatório.
Sigilo: Alguns assuntos são confidenciais por segurança, e não é nada ético sair
falando aos quatro ventos sobre coisas que não dizem respeito a determinados
públicos. Informações sigilosas geralmente estão protegidas por lei e, caso algum
funcionário quebre este protocolo, a pena é certa.
Que estas informações possa contribuir para a vossa formação como académico,
como profissional e principalmente como pessoa.