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Direito

Constitucional
Direito Constitucional
Breve historial da Disciplina

Para Ferdinand Lassalle1 no livro O que é uma Constituição Política argumenta que desde
tempos antigos os países tinham constituições não escritas "todos os países possuem, possuíram
sempre, em todos os momentos de sua história, uma constituição real e afectiva. A diferença é
que agora se verifica - e isto deve ser realçado porque tem muita importância - não são as
Constituições reais e efectivas, mas sim as Constituições escritas nas folhas de papel. O
constitucionalismo, teoria que deu ensejo à elaboração do que é formalmente chamado de
Constituição, surgiu a partir das teorias iluministas e do pensamento que também deu base à
Revolução Francesa de 1789.Considera-se a Magna Carta o documento que esboçou o que
posteriormente seria chamado de Constituição. Foi assinada pelo Príncipe João Sem-Terra face à
pressão dos barões da Inglaterra medieval, e apesar da notícia histórica de que os únicos que se
beneficiaram com tal direito foram os barões ingleses, o documento não perde a posição de
elemento central na história do constitucionalismo ocidental. A partir da moderna doutrina
constitucionalista, a interpretação dada à Magna Carta sofre um processo de mutação
denominado mutação constitucional, onde novos personagens ocupam as posições ocupadas
originalmente pelos participantes daquele contrato feudal, de maneira que as prerrogativas e
direitos que foram concedidos aos barões passam a ser devidos aos cidadãos, e os deveres e
limitações impostos ao Príncipe João Sem-Terra passam a limitar o poder do Estado. Contudo,
foi a partir das "Revoluções Liberais" (Revolução Francesa, Revolução Americana e Revolução
Industrial) que surgiu o ideário constitucional, no qual seria necessário, para evitar abusos dos
soberanos em relação aos súbditos, que existisse um documento onde se fixasse a estrutura do
Estado, e a consequente limitação dos poderes do Estado em relação ao povo. Ferdinand Lassalle
foi um dos pensadores do Direito Constitucional2Com o passar do tempo, em especial com as
teorias elaboradas por Hans Kelsen, grande jurista da Escola Austríaca da primeira metade do
Século XX, passou-se a considerar a Constituição não como apenas uma lei limitadora e
organizativa, mas como a própria fonte de eficácia de todas as leis de um Estado. Tal teoria
(chamada de Teoria Pura do Direito, de Kelsen), apesar de essencial para a formação de um
pensamento mais aprofundado acerca desta norma, não dá todo o alcance possível do poder e
função constitucional. Mais tarde, outros pensadores como Ferdinand Lassalle, Konrad Hesse,

1
(1825-1864), Politico alemão nascido em Breslau.

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Robert Alexy Juan Bautista Alberdi e Ronald Dworkin contribuíram sobremaneira para definir a
real função da Constituição. Esta norma, superior a todas, não teria apenas a função de garantir a
existência e limites do Estado. Ao contrário, ao invés de apenas ter um carácter negativo em
relação ao exercício dos direitos das pessoas, a Lei Maior deve prever os Direitos Fundamentais
inerentes a cada pessoa, e prever modos de garantir a eficácia dos mesmos, de modo que o
Estado não apenas se negue a prejudicar as pessoas, mas sim cumpra aquela que é sua função
precípua: a promoção da dignidade da pessoa humana

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Direito Constitucional
Direito Constitucional

Conceito

É um ramo de Direito público2 e interno3 dedicado a análise e interpretação das normas


Constitucionais.

Segundo Jorge Miranda vem a definir o Direito Constitucional como sendo a parcela da ordem
jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto poder. É o conjunto de
normas (regras e princípios) que recortam o contexto jurídico correspondente à comunidade
política como um todo e ai situam os indivíduos e os grupos uns em face dos outros e perante o
Estado-poder e que, ao mesmo tempo, definem a titularidade do poder, os modos de formação e
manifestação da vontade política, os órgãos de que esta carece e os actos em que se concretiza.4

Chama-se também Direito Político, por essas serem normas que se reportam directa e
imediatamente ao Estado que constituem o estatuto jurídico do Estado ou do político, que
exprimem um particular enlace da dimensão política e da dimensão jurídica das relações entre os
homens.

Objecto 5

O Direito Constitucional estuda a Constituição6 política de um Estado

Quando esse estudo visa apenas ao ordenamento jurídico-constitucional de um determinado


Estado, diz-se Direito Constitucional Particular ou Especial. Se mira o conjunto de normas dos
ordenamentos de diversos Estados, dos princípios que informam o moderno constitucionalismo,
diz-se Direito Constitucional Geral. Por fim, quando compara as Constituições de diferentes

2
Público porque regula a relação entre o particular e o estado
3
Interno porque tem a sua vigência num determinado estado, ou seja, cada estado possui uma constituição e que
estuda essa mesma constituição.
Ex: CRM.
4
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo I 8ᵃEd.p13-17
Ao falar do Direito Constitucional pensa-se mais na regulamentação jurídica, no estatuto, na forma de Direito que é
a Constituição
5
É sobre o que incide uma determinada cadeira
6 Lei mãe de um determinado Estado e que nela contem os direitos e deveres do Cidadão, etc.

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Estados, ou quando analisa, no tempo, as diversas ordens constitucionais de um mesmo Estado,
diz-se Direito Constitucional Comparado.

Origem

O Direito Constitucional, enquanto ramo do Direito que estuda os princípios necessários e


indispensáveis à estruturação da vida do Estado, teve como origem a Assembleia Nacional
Constituinte da França de 26/09/1791, que determinou a obrigatoriedade do ensino da
Constituição para os estudantes franceses.
A expressão Direito Constitucional, contudo, somente surgiu em 1797, em Milão, norte da Itália

FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL


As fontes do Direito Constitucional podem ser divididas em fontes imediatas e fontes mediatas.
Como fontes imediatas temos a própria Constituição política, fonte primária do Direito
Constitucional, que estabelece as directrizes políticas e organizacionais de uma sociedade –
podendo esta ser escrita – como verbi gratia, a Constituição moçambicana – ou não escrita –
como a Constituição inglesa, e as leis constitucionais esparsas, escritas ou não – estas nos
países que adoptam o common law.
Como fontes mediatas temos o Direito Natural, a doutrina, a jurisprudência e os costumes e
tradições do povo, da sociedade.

O SENTIDO DE CONSTITUIÇÃO
Em sentido geral, amplo, constituição é a estrutura fundamental ou a maneira de ser de qualquer
coisa.
Em teoria política e direito, Constituição, em letra maiúscula, refere-se a Estado, podendo ser
empregada em sentido amplo ou restrito.
Em sentido amplo, genérico, é a própria organização estatal. Todos os países possuem suas
Constituições, que lhes são próprias.

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Em sentido restrito, define-se a Constituição como o conjunto de normas jurídicas necessárias e
básicas à estruturação de uma sociedade política, geralmente agrupadas em uma única Lei
Fundamental
Para Ferdinand Lassale (1825-1864)7, advogado na antiga Prússia, as questões constitucionais
não são jurídicas, mas políticas, onde os factores reais do poder formam a chamada Constituição
real do país. Para Lassalle, o poder da força seria sempre superior ao poder das normas jurídicas,
situação em que a normatividade é submetida à realidade fáctica. Isso significaria a negação da
Constituição jurídica, que teria unicamente a função de justificar as relações de poder
dominantes.
Hesse8, traduzido entre nós por Gilmar Ferreira Mendes, se contrapõe às concepções de Lassalle
demonstrando que o desfecho entre os factores reais de poder e a Constituição não implica
necessariamente na derrota desta última. Para Hesse, existem pressupostos realizáveis que
permitem assegurar sua força normativa, e que apenas quando esses pressupostos não sejam
satisfeitos é que as questões jurídicas podem se converter em questões de poder. O primeiro
desses pressupostos é a vontade de Constituição. A Constituição transforma-se em força activa
se existir a disposição de orientar a própria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se
fazerem-se presentes, na consciência geral (especialmente na consciência dos principais
responsáveis pela ordem constitucional), não só a vontade de poder, mas também a vontade de
Constituição. E conclui Hesse, que a força normativa da Constituição não está assegurada de
plano, configurando missão que somente em determinadas condições poderá ser realizada de
forma excelente. Para ele, compete ao direito constitucional realçar, despertar e preservar a
vontade de Constituição, que, indubitavelmente, constitui a maior garantia de sua força
normativa.
Hans Kelse formulador e principal defensor da “Teoria Pura do Direito”, fundador da Escola
Normativista, também chamada Escola de Viena, contrapôs-se a Lassalle e a Hesse. Para Kelsen,
o direito deve ser examinado como ele de facto o é, isento de juízos valorativos, e não como
deveria ser. Vale dizer, o direito tem de ser despido de todo seu conteúdo valorativo, e que
necessita existir uma respeitabilidade entre o conjunto hierarquizado das normas, que contém na
Constituição seu ápice.

7
LASSALLE, Ferdinand. A Essência da Constituição. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1998.
8 HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Safe, 1991.

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Segundo Kelsen9, “o ordenamento jurídico não é, portanto, um sistema jurídico de normas
igualmente ordenadas, colocadas lado a lado, mas um ordenamento escalonado de várias
camadas de normas jurídicas”.

Em suma,
A Constituição É o conjunto de normas jurídicas dotadas de “superlegalidade”; que estão
hierarquicamente acima de quaisquer outras normas no ordenamento jurídico de um determinado
país.10
A Constituição é, na verdade, uma lei, mas não é uma lei comum. Ela contém as normas
jurídicas supremas do país. Estas normas, por serem dotadas do atributo da eficácia superior
sobre todas as outras, têm força subordinante - obrigam as demais a não contrariá-las e informam
o conteúdo e alcance das normas que lhe são inferiores. 11

RELACÇÃO DO DIREITO CONSTITUCIONAL COM OUTROS RAMOS DE DIREITO

O Direito Constitucional tem como objecto de estudo a constituição e dentro dela encontramos
regras, caminhos que as outras cadeiras devem seguir e fazer o estudo detalhado de tal matéria.

Direito Constitucional Económico: Conjunto de princípios e normas constitucionais que


cuidam da organização económica da sociedade, medindo os termos da intervenção do poder
publico, no plano dos regimes económicos, financeiros e fiscal. Ex: art.96 e ss.

Direito Constitucional Organizatório: O conjunto de princípios e das normas que fixam a


disciplina do poder publico, no modo como se organiza e funciona, bem como nas relações que
Direito Constitucional Garantistico.

O conjunto de princípios e das normas constitucionais que estabelecem os mecanismos


destinados à protecção da constituição e da defesa da sua prevalência sobre os actos jurídico-
políticos que lhe sejam contrários. Ex: n 3 e 4 do art.2 e art.38.

9
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Revista dos Tribunais, São Paulo, p. 103, 2003
10
Isso significa que as normas não se encontram uma ao lado da outra, ou seja numa posição horizontal mais sim
vertical.
11
Em caso de uma norma infraconstitucional contrariar aquilo que chamamos de constituição estaríamos em face de
norma inconstitucional.

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Direito Constitucional
E essas mesmas normas ou regras especificadas não devem de maneira nenhuma contrariar esta
lei mãe.

São ramos de direito que fazem relação com o direito constitucional dentre tantos,

 O direito Administrativo e processual art.249CRM

O direito constitucional determina o rumo a ser seguido por esta cadeira.

 Direito Penal art.59 n2,40,70

Também dispõe aqui o direito constitucional de importantes normas de direito penal onde
podemos encontrar.

Presunção de inocência art.59 n2

Direito a vida art.40 da CRM12, e no CP13 vem, aquele que matar outrem será condenado a uma
pena de 20 a 24 anos.

 Direito Civil

O direito civil recebe da constituição as normas fundamentais sobre a propriedade e a família.


Art.119 a 124.

 Direito de Trabalho art.84, 85, 86

O direito de trabalho encontra na constituição leis básicas sobre a protecção ao pleno emprego.

12
Constituição da Republica de Moçambique.
13
Código Penal

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UNIDADE II: ORIGEM E IDEIA DA CONSTITUIÇÃO

Constitucionalismo14 é uma teoria que deu ensejo15 a elaboração da constituição.

Surgiu a partir das teorias iluministas e do pensamento que também deu base à Revolução
francesa de 1789.

A magna carta16 é documento que esboçou o que posteriormente seria chamado de constituição.
Foi assinado pelo príncipe João sem terra face17à pressão dos Barões18 da Inglaterra medieval, e
apesar da notícia histórica de que os únicos que se beneficiariam com tal direito foram os barões
ingleses, o documento não perde a posição de elemento central na história do constitucionalismo
ocidental.

A partir da moderna doutrina constitucionalista, a interpretação dada à Magna sofre um processo


de mutação denominada mutação constitucional19, donde novos personagens ocupam posições
ocupadas originalmente pelos participantes daquele contrato feudal, de maneira que as
prerrogativas e direitos que foram concedidos aos barões passam a ser devidos (merecidos) aos
cidadãos, e os deveres e limitações impostos ao príncipe João Sem-Terra passam a limitar o
poder do Estado.

14
É o movimento social, político e jurídico e ate mesmo ideológico, a partir do qual emergem as constituições
nacionais.
Segundo Canotilho o constitucionalismo é uma técnica específica de limitação do poder com fins garantisticos.
O constitucionalismo apresenta vários significados, sendo os principais:
A limitação de poderes dos órgãos governantes;
Bem como a imposição das leis escritas, sendo o principio fundamental da organização social do estado,
denominado império da Lei.
15
Momento,
16
Resultou do desentendimento entre o príncipe João, e os barões ingleses acerca da prerrogativas do soberano
segundo os termos da magna carta, João deveria renunciar a certos direitos e respeitar determinados procedimentos
legais, bem como reconhecer que a vontade do rei estaria sujeita a lei.
Considera-se magna carta um longo processo histórico que levaria ao surgimento do constitucionalismo.
17
Príncipe da Inglaterra
18
Pertencem a nobreza do estado, e portanto, fazem parte da elite, tendo propriedades rurais, ocupando cargos
políticos e por vezes descendem da nobreza antiga, tendo as vezes uma formação cultural elevada.
19
A constituição não é uma norma imutável. Ao contrário, vinculada que é a uma sociedade dinâmica em suas
relações e em suas escolhas políticas, adapta-se às mudanças que lhe sucedem na sociedade. A essa adaptação às
mudanças sociais chama-se mutação constitucional.

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Direito Constitucional
Desta feita, o ideário Constitucional surgiu a partir das “Revoluções Liberais” (Revolução
Francesa20, Americana e Industrial) no qual seria necessário, para evitar abusos dos soberanos
em relação aos súbditos (subordinados), que existisse um documento onde se fixasse a estrutura
do Estado, e a consequente limitação dos poderes do Estado em relação ao povo.

Com o decorrer do tempo, em especial com as teorias elaboradas por Hans Kelsen21, passou-se a
considerar a Constituição não como apenas uma Lei limitadora e organizativa, mas como a
própria fonte de eficácia de todas as leis de um Estado. Tal teoria (chamada de Teoria Pura do
Direito, de Kelsen), apesar de essencial para a formação de um pensamento mais aprofundado
acerca desta norma, não dá todo o alcance possível do poder e função constitucional.

Mais tarde surgem outros pensadores como Konrad Hesse, Robert Alexy e Ronald Dworkin
contribuíram sobremaneira para definir a real função da constituição. Esta norma, superior a
todas, não teria apenas a função de garantir a existência e limites do estado. Ao contrário, ao
invés de apenas ter um carácter negativo em relação ao exercício dos direitos das pessoas, a lei
22
maior deve prever os Direitos Fundamentais inerentes a cada pessoa, e prever modos de
garantir a eficácia dos mesmos, de modo que o Estado não apenas se negue a prejudicar as
pessoas, mas a eficácia dos mesmos, de modo que o Estado não apenas se negue a prejudicar as
23
pessoas, mas sim cumpra aquela que é sua função precípua : a promoção da dignidade da
pessoa humana.

20
1789-1799, Foi um movimento social e politico ocorrido na franca no final do sec. XVIII que teve por objectivo
principal derrubar o antigo regime e instaurar um estado democrático que representasse e assegurasse os direitos de
todos os cidadãos.
É considerada o mais importante acontecimento da história contemporânea, inspirada pelas ideias iluministas, a
sublevação do lema “liberdade, igualdade e fraternidade” e em todo o mundo, pondo abaixo regimes absolutistas e
ascendendo os valores burgueses.
21
Grande jurista da Escola Austríaca da primeira metade do sec. XX.
22
São direitos subjectivos, direitos inerentes a cada pessoa
23
Principal, fundamental, essencial

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Em suma:

A origem da ideia da constituição começou a ganhar vulto no séc. XVIII com as Revoluções
Liberalistas, a mesma tinha como objectivos á necessidade da limitação do poder político e
defesa dos direitos e garantias fundamentais.

Classificação da Constituição de acordo com os vários critérios

Quanto à origem
Promulgados: populares: derivam de um trabalho da assembleia da República (democráticas).

Outorgadas: pactuadas: estabelecidas sem a participação popular, por meio de imposição


(monárquicas).

Quanto à forma

Escritas: é o conjunto de regras codificado e sistematizado em um único documento para fixar-se a


organização fundamental.24
Caracteriza-se por ser a lei fundamental de um povo, colocada no ápice da pirâmide das normas
legais, dotada de coercibilidade.

Não Escritas: é o conjunto de normas constitucionais esparsas, baseado nos costumes, na


jurisprudência e em convenções. Exemplo: Constituição inglesa Regras não aglutinadas.

24 CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 2002, pp.56.

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Quanto ao conteúdo

Materiais

Formais

 Constituição em sentido material

É o conjunto de normas que estruturam, dão forma e organizam o Estado.

É o conjunto de regras constitucionais esparsas, codificadas ou não em um único documento.

É a que trata de matéria tipicamente constitucional compreendendo as normas que dizem respeito
à estrutura mínima e essência do estado.

Compreende as normas constitucionais, escritas ou costumeiras inseridas ou não num documento


escrito que regulam a estrutura do estado, a organização de seus órgãos e os direitos
fundamentais.

Quanto ao conteúdo a constituição material compreende as normas que, mesmo não sendo
pertinentes à matéria constitucional que encontram inseridos em documento escrito e solene.

A constituição material não se resume basicamente em constituição escrita.

 Constituição em sentido formal

É o texto escrito, estabelecido pelo poder constituinte com os valores, princípios e regras
considerados fundamentais para o estado em um determinado momento histórico.

Consubstancia-se em um conteúdo normativo expresso, estabelecido pelo poder constituinte


originário em um documento solene que contém um conjunto de regras jurídicas estruturais e
organizadoras dos órgãos supremos do Estado.

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Podemos dizer que a constituição em sentido formal é a lei fundamental do Estado, em todas
normas que fazem parte deste texto escrito, incluindo as emendas constitucionais e os tratados
internacionais com status de emenda constitucionais.

O conceito formal não se preocupa com os conteúdos ou matéria inserida no corpo da


constituição, preocupa-se apenas com a forma da norma. Se uma norma está na forma da
constituição é constituição, se está fora da constituição não faz parte da constituição formal.

Espera-se que a C.FORMAL traga para dentro de si a C.MATERIAL. No entanto, é possível que
existam normas materialmente constitucionais fora da constituição formal ou, o que é mais
comum, que exista na constituição – normas apenas formalmente constitucionais. É possível
encontrar na constituição formal norma que não são “dignas” de ocupar, lugar na constituição.

A constituição formal não é o oposto da constituição material mais apenas uma tentativa de
colocar por escrito as disposições materialmente constitucionais. 25

Quanto ao modo de elaboração

Dogmática (escritas derivadas de crenças religiosas)

Históricas (escritas ou não. derivadas da evolução do Estado)

Quanto à Estabilidade: processo de reforma

Rígidas: Somente podem ser alteradas por órgãos solenes.

É aquela escrita, mas que pode ser alterada através de um processo legislativo mais solene e com
maior grau de dificuldade do que aquele normalmente utilizado em outras espécies normativas.

Flexíveis: Podem ser livremente alteradas.

25
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo II.6Ed.2007.p30-31

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É aquela em regra não escrita e que pode ser alterada pelo processo legislativo ordinário, sem
qualquer outra exigência ou solenidade

Semi - rígidas

É aquela que pode ter algumas de suas regras alteradas pelo processo legislativo ordinário,
enquanto outras somente podem sê-las por um processo legislativo mais solene e com maior grau
de dificuldade.

Constituição imutável é aquela onde é vedada qualquer modificação. Essa imutabilidade pode
ser, em alguns casos, relativa, quando prevê a assim chamada limitação temporal, consistente em
um prazo em que não se admitirá qualquer alteração do legislador constituinte reformador.

Diferença da Constituição em sentido Material da Constituição em sentido formal

Sentido Material - Conjunto de normas que estruturam, dão forma e organizam o Estado, isto é,
normas cujo conteúdo é essencial a estrutura do Estado, à regulação do exercício do poder e ao
reconhecimento dos Direitos Fundamentais.

Ao passo que:

Sentido Formal: É o complexo de normas formalmente qualificadas de constitucionais e


revestida de força jurídica superior a de qualquer outra, isto que dizer, que são normas constantes
do texto constitucional mas não tratam de assuntos relevantes para o estado.

A diferença entre sentido material e sentido formal da Constituição é que nesta temos a
existência estatal reduzida à sua expressão jurídica formalizada através da codificação solene das
normas constitucionais.

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EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL NA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

A primeira Constituição de Moçambique entrou em vigor em simultâneo com a proclamação da


independência nacional em 25 de Junho de 1975.Nesta altura, a competência para proceder a
revisão constitucional fora atribuída ao Comité Central da Frelimo até a criação da Assembleia
com poderes constituintes, que ocorreu em 1978.26 Considerando a importância da constituição
como a “lei-mãe” do Estado Moçambicano, e daí a necessidade do seu conhecimento pelos
cidadãos, de seguida é feita uma breve menção sobre a evolução constitucional de Moçambique.
CONSTITUIÇÃO DE 197527: tendo como um dos objectivos fundamentais “a eliminação das
estruturas de opressão e exploração coloniais... e a luta contínua contra o colonialismo e o
imperialismo”, foi instalado na República Popular de Moçambique (RPM) o regime político
socialista e uma economia marcadamente intervencionista, onde o Estado procurava evitar a
acumulação do poderio económico e garantir uma melhor redistribuição da riqueza.
O sistema político era caracterizado pela existência de um partido único e a FRELIMO assumia
o papel de dirigente. Eram abundantes as fórmulas ideológicas - proclamatórias e de papel das
massas, compressão acentuada das liberdades publicas em moldes autoritários, recusa de
separação de poderes a nível da organização política e o primado formal da Assembleia popular
Nacional.
Esta Constituição sofreu seis alterações pontuais, designadamente: em 1976, em 1977, em 1978,
em 1982, em 1984 e em 1986.. Destas, merece algum realce a alteração de 1978 que inclui
maioritariamente sobre os órgãos do Estado (sua organização, competências, entre outros),
retirou o poder de modificar a Constituição do Comité Central da Frelimo e retirou a
competência legislativa do Conselho de Ministro (uma vez criada a Assembleia Popular que teria
estas competências) e a de 1986 que fora motivada pela institucionalização das funções do
Presidente da Assembleia Popular e de Primeiro-Ministro, criados pela 5ªSessão do Comité
Central do Partido Frelimo.

26
Vid art.70 da CRPM
27 Ora designada por CRPM, com a conquista da Independência Nacional em 25 de Junho de 1975, devolveram-se
ao povo moçambicano os direitos e as liberdades fundamentais. Independência esta proclamada pelo primeiro
Presidente de Moçambique Samora Moisés Machel

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Direito Constitucional
CONSTITUIÇÃO DE 199028: A revisão constitucional ocorrida em 1990 trouxe alterações
muito profundas em praticamente todos os campos da vida do País. Estas mudanças que já
começavam a manifestar-se na sociedade, principalmente na área económica, a partir de 1984,
encontram a sua concretização formal com a nova Constituição aprovada.
Resumidamente, podemos citar alguns aspectos mais marcantes, como sejam:
 Introdução de um sistema multipartidário na arena política, deixando o partido Frelimo
de ter um papel dirigente e passando a assumir um papel histórico na conquista da
independência;
 Inserção de regras básicas da democracia representativa e da democracia participativa e o
reconhecimento do papel dos partidos políticos;
 Na área económica, o Estado abandona a sua anterior função basicamente
intervencionista e gestora, para dar lugar a uma função mais reguladora e controladora
(previsão de mecanismos da economia de mercado e pluralismo de sectores de
propriedade);

 Os direitos e garantias individuais são reforçados, aumentando o seu âmbito e


mecanismos de responsabilização;
 Várias mudanças ocorreram nos órgãos do Estado, passam a estar melhor definidas as
funções e competências de cada órgão, a forma como são eleitos ou nomeados;
 Preocupação com a garantia da constitucionalidade e da legalidade e consequente criação
do Conselho Constitucional; entre outras.
A CRM de 1990 sofreu três alterações pontuais, designadamente: duas em 199211 e uma em
1996. Destas merece especial realce a alteração de 1996 que surge da necessidade de se
introduzir princípios e disposições sobre o Poder Local no texto da Constituição, verificando se
desse modo a descentralização do poder através da criação de órgãos locais com competências e
poderes de decisão próprios, entre outras (superação do princípio com unidade do poder).

28 A Constituição de 1990 introduziu o Estado de Direito Democrático, alicerçado na separação e interdependência


dos poderes e no pluralismo, lançando os parâmetros estruturais da modernização, contribuindo de forma decisiva
para a instauração de um clima democrático que levou o país à realização das primeiras eleições multipartidárias.

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Direito Constitucional
CONSTITUIÇÃO DE 200429: Esta é a última revisão constitucional ocorrida em Moçambique.
Fora aprovada no dia 16 de Novembro de 2004. Não se verifica com esta nova Constituição uma
ruptura com o regime da CRM de 1990, mas sim, disposições que procuram reforçar e solidificar
o regime de Estado de Direito e democrático trazido em 1990, através de melhores
especificações e aprofundamentos em disposições já existentes e também pela criação de novas
figuras, princípios e direitos e elevação de alguns institutos e princípios já existentes na
legislação ordinária à categoria constitucional. Um aspecto muito importante de distinção desta
constituição das anteriores é o “consenso” na sua aprovação, uma vez que ela surge da discussão
não só dos cidadãos, como também da Assembleia da República representada por diferentes
partidos políticos (o que não se verificou nas anteriores).
A nova CRM começa por inovar positivamente logo no aspecto formal, dando nova ordem de
sequência aos assuntos tratados e tratando em cada artigo um assunto concreto e antecedido de
um título que facilita a sua localização (o que não acontecia nas Constituições anteriores).
Apresenta o seu texto dividido em 12 títulos, totalizando 306 artigos (a CRM de 1990 tinha 7
títulos e 212 artigos no total).
Quanto ao aspecto substancial, verificamos o reforço das directrizes já fixadas para o Estado
Moçambicano, como acima se mencionou. De forma meramente exemplificava, pode-se citar
alguns pontos que ajudam a entender tal afirmação, como sejam:
 Logo no capítulo I do título primeiro referente aos princípios fundamentais, podemos
destacar para além do maior ênfase dado a descrição do Estado moçambicano como de
justiça social, democrático, entre outros aspectos de um Estado de Direito, a referência
constitucional sobre o reconhecimento do pluralismo jurídico, o incentivo no uso das
línguas veiculares da nossa sociedade, entre outros;
 No âmbito da nacionalidade, destaca-se o facto de o homem estrangeiro poder adquirir
Nacionalidade moçambicana pelo casamento (antes só permitido para a mulheres estrangeira);
 Os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos para além de serem reforçados, ganham
maior abrangência. Pode-se citar exemplo de alguns direitos/deveres antes sem

29 Ora designada por CRM, ela reafirma, desenvolve e aprofunda os princípios fundamentais do Estado
moçambicano, consagra o carácter soberano do Estado de Direito Democrático, baseado no pluralismo de expressão,
organização partidária e no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos .

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Direito Constitucional
tratamento constitucional: direitos dos portadores de deficiência, os deveres para com o
semelhante e para com a comunidade, os direitos da criança, as restrições no uso da
informática, o direito de acção popular, o direito dos consumidores;
 Para além do pluralismo jurídico, a importância da autoridade tradicional na sociedade
Moçambicana passa a ter reconhecimento constitucional. Pode-se ainda mencionar a
terceira idade, os portadores de deficiência, o ambiente e a qualidade de vida como novos
temas tratados pela constituição;
 O capítulo VI do título IV que se dedica ao tratamento do sistema financeiro e fiscal em
Moçambique comporta um tema que antes não tinha tratamento constitucional;
 É criado um novo órgão político, o Conselho de Estado e um novo órgão de
representação democrática, as Assembleias Provinciais. As garantias dos cidadãos
relativamente a actuação da Administração Pública são reforçadas com a criação do
Provedor da Justiça. Surge igualmente o Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa. A Administração Pública e os princípios que norteiam a sua actuação
também passam a gozar de tratamento constitucional, assim como a Polícia de
Moçambique e o Ministério Público;
 O tratamento dado às disposições relativas aos tribunais no título IX da CRM é mais
pormenorizado. Merece destaque o tratamento mais aprofundado que é dispensado às
disposições relativas ao Tribunal Administrativo (na CRM de 1990 ocupava apenas 2
artigos);
 No título XV é tratado com cuidado as garantias constitucionais em caso de estado de
sítio e estado de emergência. A revisão constitucional encontra agora limites tanto
matérias quanto temporais, procurando-se com as primeiras salvaguardar as linhas bases
que definem o Estado moçambicano, como por exemplo: a forma republicana do Estado,
o sistema eleitoral e o tipo de sufrágio eleitoral, o pluralismo político, os direitos,
liberdades e garantias fundamentais. A restrição temporal é de 5 anos após a última
revisão (salvo deliberação extraordinária de ¾ da Assembleia da República), procurando
se com isto os aspectos positivos trazidos com a estabilidade e solidificação dos
Princípios e instituições criadas.30

30
Vid.as Constituições de 1975, 1990 e de 2004

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Direito Constitucional
UNIDADE V: O ESTADO

Bluntschili no sec. XIX defendia Estado como um conjunto de homens que compõem uma
pessoa orgânica moral sobre um território determinado na forma de governantes e governados;
desta feita, entende – se Estado como sendo a pessoa politicamente organizada da nação num
País determinado.

Colectividade

População, Nação e Povo.

 População, é a totalidade do agregado que habita num determinado Estado, quer seja
nacional, estrangeiros ou apatriados. Funciona apenas o critério Demográfico.
Portanto, o conceito População é eminentemente Demográfico.
 Nação, é uma comunidade que tem como base a cultura comum. Essa cultura comum,
baseia – se geralmente numa língua, conceito de vida dinamizada com as mesmas
aspirações de futuro e ideias colectivos.
É na comunidade cultural de raiz histórica para alem da identidade de origens étnicas, de
linguagem ou crença religiosa que nem sempre ocorre e quando ocorre nem sempre se
mostra decisiva, cimenta a identidade de tradições, de aspirações e de ideias de cultura.

 Povo, é o conjunto de pessoas que ao Estado se encontram ligadas por um vínculo da


nacionalidade ou cidadania. É um critério estritamente jurídico.

O Estado só concebe cidadania a um certo tipo de pessoas – Cidadania activa – que detêm o
poder de voto.

Houve uma grande evolução da Constituição de 1975 a de 2004,em quase todas vertentes. Por exemplo no que tange
a nacionalidade adquirida por casamento, a CRPM-1975 no seu art. 10 estabelecia o sgt:”adquire a nacionalidade
Moçambicana a mulher estrangeira que tenha contraído casamento com um Moçambicano….” Ao passo que a
CRM-2004 no seu ART.26 estabelece o sgt:” Adquire a nacionalidade moçambicana o estrangeiro ou a estrangeira
que tenha contraído casamento com moçambicana ou moçambicano”.nota-se logo com artigos acima descritos que
na Constituição de 1975 quanto a nacionalidade adquirida por casamento dava-se mais ênfase a mulher estrangeira e
não as duas partes (homem e mulher). E a Constituição de 2004 vem a mostrar uma posição contrária.

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Direito Constitucional
A determinados nacionais não se reconhece o poder de voto – Cidadania passiva – como por
exemplo, as comunidades primitivas onde estão os indígenas, nativos, índios. O Estado apenas os
protege permitindo que eles se organizem como quiserem, desde que os seus usos e costumes
não contrariem os interesses do Estado.

Estes, submetem – se ao poder do Estado onde se encontram, mas não podem ir a tropa ou
exercer actividades diplomáticas.

PODER POLÍTICO E SOBERANIA

 Poder Politico; é a faculdade de traçar os rumos da vida em comum e a capacidade de


impor esses rumos em comum através de meios de coação necessário (Jean Bodin).
Consiste fundamentalmente na actividade destinada a estabelecer a organização e
ordenamento da sociedade politica comum, vista a orientação e coordenação geral das

 Soberania, é uma propriedade do poder do Estado, no sentido de que a sua validade não
deva a nenhuma autoridade superior, quer na arena interna, quer na internacional.
Carré de Marlberg, refere a Soberania como poder politico, como a qualidade de poder
e o grau máximo que o poder pode atingir no sentido de que o Estado não reconhece
nenhum outro poder superior a ele, nem igual a ele, dentro ou fora dele.

TERRITORIO

Este designa – se como o elemento material do Estado. A colectividade do Estado deve ser
sedentária. Deve estar fixada num determinado espaço. Esta colectividade exerce jurisdição num
território em relação as pessoas e as coisas que nele se encontram.

O território inclui o espaço, solo e o subsolo, os recursos no fundo das águas (abrange ate mais
ou menos 12 milhas náuticas). O limite do território são todas as fronteiras (linhas naturais ou
convencionais traçados pelo homem).

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Direito Constitucional
FORMAS DE ESTADO

a) Soberanos e não Soberanos


b) Unitários e Compostos
c) Associações do Estado

a) Estado Soberano, aquele cujo poder político corresponde a plenitude da soberania por
ser supremo e independente.
Portanto, são Estados Supremos e Independentes. (art. 1 CRM).
 Não Soberanos, aquele cujo poder político não é Supremo ou não é independente.
 Estados membros de um Estado federal; cada um dos Estados membros abdica da sua
Soberania em favor do Estado federal; somente este é Soberano.
 Estados Protegidos (Protectorado internacional; Regime de mera Protecção;
protectorado de fachada colonial).
 Estados Vassalos

b) Estado Unitário; é a concretização da ideia da unidade política em que um único núcleo


de órgão exerce o poder.
 Estados Compostos; é a concretização da ideia do pluralismo político.
É constituído por outros Estados que gozam de uma ampla autonomia mas quem exerce a
soberania é o Estado composto.
O poder político está fraccionado aos diversos Estados que compõe o Estado Composto.
Ex.: O Estado Federal e as associações do Estado ou agrupamento de Estado.

ESTADO FEDERAL
Estado Federal, é uma forma de Estado em que a união soberana se concilia numa
comunidade de unidades territoriais que gozam de uma autonomia política e
administrativa.

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Direito Constitucional
Características
 É fundado pelo Direito público interno que é substanciado na constituição e não por
tratados;
 É Constituído pelo Estado federal Estados membros que não gozam de soberania e sim de
autonomia.
 É um exemplo de simultaneidade entre união e descentralização harmoniosa de poderes.
 Os Estados membros têm a capacidade de auto – governação e tem o 3 poderes:
Legislativo, Executivo e Judicial.

C) Associação de Estado
Os Estados independentes podem agrupar – se entre si sem que esta união resulte de um
ente Político, sem que resulte a criação de uma nova unidade política, os Estados podem
agrupar – se para realização de interesses comuns.
As razões desse agrupamento podem ser múltiplas;
 Disciplinar a Política externa;
 Maximizar um sistema e meios de defesa dos Países soberanos;
 Fomento do desenvolvimento de zonas de território nacional economicamente
mais pobres;
 Desenvolvimento de uma acção concentrada de relações diplomáticas ou
comércio externo;

A título de exemplo encontramos a Confederação, a união de Estados independentes com


escopo de defesa comum externa e paz interna. Esta união é contractual, resulta de um acordo ou
tratado entre Estados soberanos rescindível no momento em que qualquer dos Estados não mais a
quiser. Ex.: NATO, Acto de Viena, Guerra Civil dos EUA.

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Direito Constitucional
CARACTERÍSTICAS DA CONFEDERAÇÃO

 O Estado confederado mantém a personalidade internacional conservando suas


prerrogativas essenciais: o Direito de guerra “jus belli”. Assim, em caso de eclosão de
um conflito entre os componentes da confederação não é havido como uma guerra civil,
mas uma guerra internacional provocando o surgimento do Estatuto de Beligerância.
 Os Estados confederados estão vinculados por um facto que ee um tratado internacional
cujo texto insere um determinado numero de renuncias.

ESTADO FEDERAL VS ESTADO CONFEDERAL

Diferença Estado Federal Estado Confederal


Quanto ao modo Tem como fonte o Direito publico Tem como fonte o acto jurídico do
de Formação interno que é consubstanciado na direito publico internacional que é
constituição; vincula – se nas consubstanciado num tratado
relações internas. internacional; vincula – se nas
relações internacionais.
Quanto a Dispõe de órgãos que podem Agem por si só e directamente.
organização distribuir uma vontade própria
sobreposta aos Estados membros.
Quanto a Só o Estado Federal é que goza da Preserva a sua Soberania plena,
determinação da soberania, não os Estados pois os Estados que o compõem
Soberania membros; com isso, a Soberania não perdem a sua capacidade
pertence aos associados. internacional; nesse caso a
Soberania pertence a associação.

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Direito Constitucional
FINS E FUNÇÕES DO ESTADO

Os Fins do Estado constituem a razão de ser das sociedades, elas subdividem – se em:

a) Fins mediatos ou Longínquos; figuram a Segurança, Justiça e o Bem-estar.


 Segurança; é a capacidade de se poder traçar planos da vida com um mínimo de certeza
indispensável. A segurança assenta na estabilidade para se corrigir a paz interna e
externa, é necessária a aplicação do uso da forca, a forca desregrada gera conflitos
enquanto que a regrada pelo poder político arbitra os conflitos individuais.
 Justiça; divide – se em justiça comutativa e justiça distribuitiva. A primeira que é a
igualdade das duas partes intervenientes na permuta, e baseia – se numa equivalência de
prestações e contra – prestações. Já distribuitiva, a desigualdade para remunerar cada qual
seguindo os seus méritos; a serviços desiguais retribuição desigual.
 Bem – estar; corresponde a satisfação das necessidades materiais e espirituais de
colectividade. É alcançado através de acções: facilitar o comércio, restituir escolas, etc.

b) Fins imediatos ou próximos.

São aquelas que o Estado pratica para alcançar os fins mediatos. Ele torna – se numa grande
empresa para garantir o desenvolvimento dos serviços publico; o desenvolvimento comercial,
na produção agrícola, ao valor da moeda, transporte, agua, electricidade.

FUNÇÕES DO ESTADO

A função do Estado é uma actividade específica, complementar de outras actividades


específicas cujo exercício coordenado é indispensável a produção de certo resultado.
Podendo ser estudada em 4 critérios nomeadamente:

1. Critério Subjectivo ou orgânico


As funções do Estado distinguem – se em função dos órgãos a que estão acometidos (a
que estão encarregues de fazer o trabalho).

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2. Critério Formal
As funções do Estado distinguem – se pelo modo em elas são exercidas.

3. Critérios Teológicos
As funções do Estado distinguem – se segundo os fins que elas visam alcançar.

4. Critério Material
As funções do Estado distinguem – se em razão da matéria sobre o que elas se debruçam.
É este o critério mais relevante. Estas dividem – se em: Funções Jurídicas e não Jurídicas.

As funções jurídicas podem ser Legislativa e executiva.


Função legislativa; é a actividade dos órgãos do Estado que tem por objecto a estatuição
ou determinação das normas jurídicas de carácter e impessoal, inovadoras da ordem
jurídica.

Função executiva; é a actividade dos órgãos do Estado que tem por objecto imediato
promover e assegurar o cumprimento das leis e aplicar sanções aos infractores delas e faz
parte desta, a função judicial e podendo esta ser vista em 3 modalidades:
1ª – É a actividade repressiva dos órgãos de Estado, feita em duas etapas.
a) Decidir de forma autoritária e peremptória sobre os casos e conflitos entro
particulares dando razão a quem é de Direito;
b) Castigar o violador caso a violação da lei ou seu desacato.

2ª – É a actividade preventiva dos órgãos do Estado; o Estado acompanha, vigia e


fiscaliza os potenciais violadores da lei. Função feita através da actividade Policial.

3ª – É a actividade de prestação de serviços em que se faz a fixação das leis que


regulamentam o exercício do próprio Estado. Aqui, a participação individual é indirecta
pois é ele o beneficiário.

Portanto, a função judicial, neste caso, não é autónoma, pois faz parte da função
executiva.

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Direito Constitucional
Já a Função não Jurídica, divide – se um função Política e técnica.

Função Política; é a actividade dos órgãos do Estado cujo objecto directo e imediato é a
conservação da sociedade política e a definição e prossecução do interesse geral mediante a livre
escolha dos ramos ou das soluções consideradas preferíveis.

Função técnica; é a actividade dos agentes do Estado cujo objecto directo e imediato consiste na
produção de bens ou na prestação dos serviços destinados a satisfação de necessidades colectivas
de carácter material ou cultural, de harmonia com preceitos práticas tendentes a obter a máxima
eficiência dos meios empregados.

OS ÓRGÃOS DO ESTADO

Os órgãos do Estado sãos os cargos, colégios ou Assembleias aos quais, segundo a ordem
constitucional, pertence o poder de manifestar uma vontade imputável do Estado. Estes órgãos
são imprescindíveis ao exercício do poder politico, quer se trate do código eleitoral, quer de
Assembleias representativas ou cargos de que são titulares governantes singulares.

CLASSIFICAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO ESTADO

Há dois conselhos técnicos – orgânicos; é a questão dos órgãos do Estado e dos agentes do
Estado.

Os órgãos tem por carácter específico o facto de competir – lhes, manifestar uma vontade
funcional é imputável a pessoa colectiva.

O Agente um mero colaborador do órgão, executando trabalhos materiais como burocrata,


técnico, operário ou membros da forca publica, ou preparando as suas decisões. Ele não tem
competência para manifestar a sua vontade. Eles tomam as suas decisões por delegações dos
órgãos, ou em consequência das leis não constitucionais, podendo assim, ser considerado de
órgãos indirectos administrativos.

Os órgãos do Estado podem ser:

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 Órgãos Deliberativos; tem a competência de exprimir, manifestar a vontade funcional.
 Órgãos Consultivos; são órgãos que não tem competência para manifestar ou exprimir a
vontade funcional, mas colaboram na formação, ponderação dos actos da vontade
funcional. São órgãos de acessória, dão opinião de uma determinada matéria.
 Órgãos singulares; são aqueles que tem como suporte ou titular na única pessoa. Ex.: o
Presidente da República.
 Órgãos Colegiais; são aqueles que têm como suporte uma pluralidade de indivíduos
(Conselho de Ministros).
 Órgãos Independentes; são aqueles que não carecem da aprovação dos outros órgãos.
 Órgãos Hierarquizados; são aqueles que para manifestarem uma decisão, dependem ou
carecem de ordens e instruções dadas por outros órgãos superiores.

A relação que se estabelece entre o poder de der ordens e o dever de cumpri – las chama – se
relação hierárquica.

Competência; é o conjunto de poderes jurídico conferido por lei a um órgão para o desempenho
da sua função.

OS PODERES DO ESTADO

 A teoria de separação de poderes na óptica de John Locke

John Locke ao fazer os seus estudos tomou como base a Monarquia Britânica. Estudou e
investigou os poderes do Estado e viu que este tem 3 faculdades:

a) Faculdade de Poder fazer Leis (Legislativo);


b) Capacidade de executar ou aplicar essas leis por via da administração pública ou dos
tribunais ou ordem pública (Poder executivo);
c) Capacidade do Estado poder cuidar das relações internacionais, celebrar tratados,
alianças, declarar a guerra ou paz dentro do Estado (Poder Federativo).

John Locke também se debruça na questão da afectação desses poderes. Ele refere que estes
poderes estavam distribuídos por órgãos distintos.

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O Poder Legislativo residia no Parlamento;

O Poder Executivo residia no Rei e no seu governo;

O Poder Federativo também residia no Rei e no seu governo.

Para John Locke seria perigoso que esses poderes estivessem na posse de um único detentor
(Parlamento ou Rei), já que o Poder Legislativo, caso estivesse juntamente com os Poderes
Executivos e Federativo numa só entidade, facultaria a elaboração de Leis (mesmo tirânicas) e a
sua execução.

O Poder executivo e Federativo deveriam estar unidos numa só entidade (do Rei e seu governo).

O Poder Legislativo é o mais importante, não poderá ter um exercício contínuo (em que não há
interrupção), seria perigoso se assim o fosse. O seu exercício devera ser descontínuo ou
intermitente. Os restantes Poderes, deverão subordinar – se ao Poder Legislativo e o seu
exercício devera ser contínuo, assegurando a continuidade da governação do Estado.

 A teoria de separação de poderes na óptica de Montesquieu

Montesquieu na sua obra “Lesprit dês lois”, expos uma doutrina sobre a Separação de Poderes.
Nesta obra Montesquieu inspirou – se na teoria de John Locke; a sua analise baseia – se no
seguinte aspecto:

A ideia básica de Montesquieu era de garantir a liberdade individual do cidadão (o que é esta
liberdade?); a liberdade que se refere, é o Direito do cidadão de “facere” tudo o que as leis
permitem e de “non facere” nada que a lei não permita.

Montesquieu propõe os seguintes Poderes para o Estado:

O Poder Legislativo, matem – se como sendo a faculdade de elaborar leis (como para John
Locke).

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Direito Constitucional
Para Montesquieu o Poder Judicial é a fusão dos Poderes Legislativo e Executivo. Montesquieu
repulsa a existência de um controle dos poderes por uma só entidade: Parlamento; Rei e seu
Governo e os Tribunais.

Para Montesquieu, é inaceitável que um parlamento que possa fazer leis, as execute por igual.
Deste modo proteger – se – ia a elaboração e consequente execução de leis Tirânicas.

O Poder Judicial não poderá ser exercido sobre o Poder legislativo nem executivo. Caso um
Juiz tivesse também o exercício do Poder Legislativo, este, em função dos casos particulares,
poderia de forma arbitrária, elaborar uma lei, o que prejudicaria os Direitos dos cidadãos.

Para Montesquieu, cada Poder tem duas Faculdades.

 Faculdade de estatuir (faculte de statuer)


 Faculdade de Impedir (faculte d’impecter)

Cada um dos Poderes pode tomar decisões dentro da sua área de jurisdição, bem como poderá o
mesmo impedir que outro Poder impeça a sua livre acção, levando a um abuso do Poder e
prejuízo dos Direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.

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Direito Constitucional
DO PODER CONSTITUINTE

A primeira manifestação da actividade de um Estado empenhado para a prossecução de


determinados fins é o poder constituinte.

Posto isso, há um conjunto de questões que se colocam, a saber:

A) O que é o poder constituinte?


B) Quem é o titular desse poder?
C) Em que momento actua esse poder?
D) E por fim, existem, ou não, limites jurídicos e políticos quanto ao exercício desse poder.

Respostas as questões:
A) Poder constituinte é o poder ou a faculdade de elaborar uma nova constituição. (JORGE
BACELAR DE GOUVEIA, Manual…,II, 29)

Também o Morais vem a definir poder constituinte como sendo a manifestação soberana da
suprema vontade política de um povo, social e juridicamente organizado.31
O Poder Constituinte tem por objectivo a elaboração de normas jurídicas de conteúdo
constitucional.

B) Titular do poder

Hoje, em democracia, o titular do poder constituinte só pode ser o povo (v. art.2˚/1CRM)

Enquanto que no passado, o titular do Poder Constituinte era a nação, hodiernamente predomina
a tese de que o titular do Poder Constituinte é o povo, uma vez que o estado decorre da
soberania popular, cujo conceito é mais abrangente do que o de nação. Assim, a vontade
constituinte é a vontade do povo, expressa por meio de seus representantes.

31 MORAES, 2001, p.52.

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Direito Constitucional
Enquanto seja o povo o titular do Poder Constituinte, ele não o exerce directamente, mas através
de pessoas, representantes políticos, por ele escolhidas e que, em seu nome, através de uma
Assembleia Nacional Constituinte, editam uma nova Constituição.

C) Momentos da actuação do poder constituinte

O momento típico para o exercício do poder constituinte é o da criação de um Estado- decorrente


da descolonização de territórios; do desmembramento de uniões reais; ou pessoas 32; ou de
tratados internacionais33.

D)E por fim, existem, ou não, limites jurídicos e políticos quanto ao exercício desse poder.

O Poder Constituinte é hoje um poder Limitado

Segundo Jorge Miranda encontramos 3 categorias de limites materiais ao poder constituinte:

I.LIMITES TRANSCENDENTES

II.LIMITES IMANENTES

III.LIMITES HETERONIMO

I.LIMITES TRANSCENDENTES – são valores éticos superiores, anteriores ao próprio Estado,


Imperativos de direito natural.

Ou seja, ideias de direito ou valores éticos que resultam de uma consciência jurídica colectiva, e
que fluem internacionalmente.

Entre eles avultam os que se pretendem com os direitos fundamentais imediatamente conexos
com a dignidade da pessoa humana. É o caso de certos direitos que, mesmo em estado de sítio ou
emergência (V.art.282˚ da CRM) não podem ser limitados ou suspensos (V. art.286˚ da CRM).

32
As primeiras constituições dos países da Commonwealth, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Jamaica,
Maurícia,…foram aprovadas pelo parlamento Britânico
33
Como foi o caso da Albânia (1913), e de Chipre (1960).

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Direito Constitucional
II. Limites imanentes

Decorrem do poder constituinte formal, este é o poder de fixar princípios enquanto princípios
axiológicos fundamentais da sociedade política em concreto.

São limites que se reportam, no essencial, à soberania do Estado34 por vezes, à forma de Estado35
bem como a limites atinentes à legitimidade política em concreto.

III. Limites heterónimos

São os provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos, mx. Regras ou actos de
36
direito internacional donde resultam obrigações para a generalidade dos Estados , Ou só para
certos Estados37. Reportam-se ainda a regras de Direito interno, quando o Estado seja composto38

ESPECIES OU DIVISÃO DO PODER CONSTITUINTE

O poder constituinte divide-se em poder constituinte originário e poder constituinte derivado

Poder constituinte originário

É o poder de elaborar uma nova constituição. O Poder Constituinte é Originário, também,


quando elabora a primeira Constituição de um Estado.

34
Não se concebe que um Estado venha a aceitar a sua anexação a um outro Estado.
35
Um estado federal que pretenda continuar a sê-lo
36
Princípio de direito internacionl com carácter geral: os princípios de jus cogens (V. DUDH E ar. 2 da Carta das
Nações Unidas)
37
Limitações de conteúdo da constituição em virtude de deveres assumidos por um Estado em relação a outro, ou
outros, ou para com a comunidade internacional (as garantias de direitos das minorias impostas a certos estados após
I e II guerras mundiais)
38
São tipicamente os limites recíprocos entre o poder constituinte federal e os poderes constituintes dos estados
federados. Podem se confundir com os limites transcendentes e, por isso, há autores que negam a existência
daqueles.

Página 31
Direito Constitucional
Este é, em verdade, o único Poder Constituinte que realmente existe, pois como veremos adiante,
o Poder Constituinte Derivado é instituído pelo Originário tão-somente para proceder à sua
reforma.

O Poder Constituinte Originário caracteriza-se por ser inicial, ilimitado, autônomo e


incondicionado, na lição de Alexandre de Moraes.39
É inicial porque não se baseia em nenhum outro poder anterior, dele derivando todos os demais
poderes do Estado, sendo, assim, a base da base da ordem jurídica.
É ilimitado e autónomo porque não sofre nenhuma limitação do Direito positivo anterior.
É, por fim, incondicionado porque não possui forma pré-fixada para a sua manifestação.

Poder constituinte derivado (ou poder de revisão da constituição)

É o poder constituído: o poder ou a faculdade de modificar as regras da constituição formal, num


determinado estado.

É aquele instituído pela Constituição com o objectivo de proceder à sua reforma.


O Poder Constituinte é derivado porque deriva do Poder Constituinte Originário; é subordinado
porque se encontra limitado às normas constitucionais, expressas ou não,

Outras divisões

Poder constituinte material

Espelha as opções de conteúdo que se quer implantar, de acordo com o projecto de Direito que se
produziu.

Poder constituinte formal

Representa a formalização desse conteúdo através da redacção da constituição e dos actos


constituintes em que a respectiva aprovação se vai consumando.

39 MORAES, 2001, p. 54.

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Direito Constitucional
Exercido o poder constituinte material, segue-se a formalização que se traduz ou culmina no acto
de decretação de uma nova constituição formal ou acto constituinte strito sensu. Daqui resulta a
subordinação do poder constituinte formal ao poder constituinte material.

Modificabilidade e subsistência da Constituição

Temos que ter em conta que as constituições não são imutáveis, normalmente elas sofrem
algumas modificações de várias índoles (natureza) que se projectam sobre a ordem constitucional
que elas consubstanciam.

Tais modificações podem ser enquadradas de duas maneiras:

-Modificação da constituição e das suas normas e princípios

-Cessação da constituição e das suas normas e princípios 40

Tipologia das vicissitudes constitucionais

Essas modificações ou vicissitudes constitucionais, podem ser analisadas segundo cinco (5)
grandes critérios:

I. Quanto ao modo

II. Quanto ao objecto

III.Quanto ao alcance

IV.Quanto as consequências sobre a ordem constitucional

E finalmente

V. Quanto a duração dos efeitos.

40
Nenhuma constituição deixa de sofrer alterações –seja para se adaptar as circunstancias ou a novos tempos, seja
para acorrer à solução de problemas que podem, inclusivamente, suscitar-se da sua própria aplicação.

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Direito Constitucional
I. Vicissitudes constitucionais quanto ao modo

Quanto ao modo como se produzem as vicissitudes constitucionais podem ser:

Expressas e tácitas

Expressas

Se o evento constitucional se produz como resultado de um acto a ele especificamente dirigido.

Aqui o texto fica ou pode ficar alterado

Tácitas

Quando o evento é um resultado indirecto, uma consequência que se extrai aposteriori de um


41
facto normativo historicamente localizado Permanece o texto e modifica-se o conteúdo da
norma.

Quanto ao modo, expressas as vicissitudes constitucionais são:

a) A revisão constitucional
b) A derrogação constitucional
c) A transição constitucional
d) A revolução
e) A ruptura não evolucionista e
f) A suspensão (parcial) da constituição

Quanto ao modo tácito:

a) O costume constitucional
b) A interpretação evolutiva da constituição
c) A revisão indirecta da constituição

41
JORGE MIRANDA: Teoria do Estado e da Constituição , 390

Página 34
Direito Constitucional

II. Vicissitudes constitucionais, quanto ao alcance42

As vicissitudes constitucionais quanto ao alcance apenas a derrogação constitucional têm um


alcance geral e concreto ou excepcional; todas as restantes são de alcance geral e abstracto.

III. As vicissitudes constitucionais, quanto as consequências sobre a ordem constitucional

Há que distinguir entre aquelas que equivalem a um corte, a uma ruptura com a situação
anterior (são neste caso a revolução e a ruptura não revolucionaria) e aquelas outras que não
colidem com a sua integridade e, sobretudo, com a sua continuidade e que correspondem,
portanto a uma evolução constitucional (e que são todas, as restantes).

IV. Vicissitudes constitucionais, quanto à duração dos efeitos

Quanto a duração dos efeitos as vicissitudes constitucionais distinguem-se entre as de efeitos


temporários (a suspensão, parcial, da constituição lato sensu) e as de efeitos definitivos (que
são todas as restantes).43

RIGIDEZ E FLEXIBILIDADE CONSTITUCIONAL

Constituição flexível

Estamos em presença de uma constituição flexível quando a revisão ocorre sem a sujeição a
qualquer limite,

E o modo de introduzir uma modificação constitucional é semelhante ao da elaboração de uma


lei ordinária (são idênticos os processos legislativos e o de revisão constitucional), ou seja,
aquelas em que a forma é a mesma para a lei ordinária e para a lei de revisão constitucional

42
Destinatários das normas
43
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo II 6 ed.2007.p161-162

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Direito Constitucional
Constituição rígida

Exige procedimentos legislativos especiais (mais rigorosos) para sua alteração ou reforma. Estas
restrições são apresentadas mais detalhadamente em limitações ao poder de reforma. É o caso da
grande maioria dos Países. (Ex: Nova Zelândia e Israel).

Revisão constitucional

É como já vimos a forma mais frequente de introduzir vicissitudes constitucionais. Pela sua
relevância prática e teórica, é natural que lhe seja dada no nosso programa uma atenção especial,
para além da sua concretização no Direito Constitucional Positivo Moçambicano.

Tendo por referência os critérios de analise das vicissitudes constitucionais analisados o


anteriormente, a revisão constitucional é uma modificação da constituição expressa (quanto ao
modo), de alcance geral e abstracto (quanto ao alcance), a que, pela sua natureza, traduz mais
imediatamente um principio de continuidade institucional (quanto às consequências sobre a
ordem constitucional) e definitiva (quanto à duração dos efeitos). 44

É apenas parcial, porque modifica apenas uma parte da constituição, mantendo-se o essencial
dessa constituição (os princípios definidores da ideia de direito que a caracteriza), ou seja,
introduzem-se mudanças, mas o essencial, o que caracteriza a constituição, mantém-se.

Nisto se distingue das vicissitudes constitucionais totais- a transição constitucional, e a revolução


constitucional.

Distingue-se também, na medida em que aqui se afirma um poder constituinte derivado ou poder
de revisão constitucional a quem compete alterar, nos termos da constituição, as normas ou
princípios por estes fixados.45

A revisão Constitucional resulta de um poder que é constituído46, Que procede a modificação da


constituição, nos termos que decorram do sistema de órgãos e actos jurídicos- constitucionais-

44
Crf. JORGE MIRANDA: Teoria, 390-392
45
J.J. GOMES CANOTILHO: Direito Constitucional, 74, 1043-1044

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Direito Constitucional
insira-se a modificação no próprio texto constitucional ou aprove-se, para o efeito, uma lei
constitucional autónoma47.

Porque é que se faz a revisão constitucional?

Quanto as funções que essa revisão constitucional pode desempenhar no ordenamento jurídico –
Constitucional, podemos descortinar as seguintes:

Actualização da ordem constitucionais: Adequação da ordem constitucional ou mudança de


algumas opções, em vista de novas necessidades e preocupações

Interpretação constitucional: Estabelecendo novos critérios hermenêuticos que, por vezes, só a


prática constitucional permite detectar.

Completar a ordem constitucional (suprindo falhas e lacunas nas respectivas disposições, para
além de introduzir novos instrumentos)48.

Já quanto aos efeitos constitucionais, relativamente ao articulado constitucional existente,


podemos elencar os seguintes:

 Um efeito revogatório: quando o processo cessa a sua vigência;


 Um efeito inovatório: quanto é acrescentado um novo preceito constitucional;
 Um efeito modificativo: quando um determinado preceito é alvo de uma nova formulação
normativa;
 E ou um efeito suspensivo, quando o preceito constitucional existente deixa de vigorar
durante algum tempo.49

46
Por isso a quem conteste esta designação de poder constituinte derivado, v.g JORGE BACELAR DE GOUVEIA:
Manual, II, 638
47
JORGE BACELAR DE GOUVEIA: Manual,II,639
48
JORGE BACELAR GOUVEIA. Manual, 639
49
JAMES BRYCE,Constituciones flexible y constituciones rigidas, Madrid, 1988.

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Direito Constitucional
DO PODER POLITICO

PODER

I.I Conceito:

Vem do latim, potere

É o direito de deliberar, agir ou mandar, é uma faculdade de exercer uma autoridade sobre
alguém. É uma influência ou força sobre alguém.

O poder é mais do que essencial para o Estado, pois ele é o ; próprio Estado.

Não existe onde a moral e razão guiassem sem atritos as multiformes actividades da maioria,
sempre existiram uma fracção maior ou menor de inadaptados, criminosos, loucos ou
perversos, que seria preciso submeter pela forca ou pela ameaça da forca e para isso teria que
haver uma autoridade.

 O verdadeiro sentido de poder não é que uns homens são submetidos a outros, mais
sim o de que todos os homens estão submetidos às normas.

I. FORMAS DE PODER

Monarquia

Oligarquia

Democracia

Monarquia

Exercido por única pessoa (monarca) e a base dela é a fidelidade.

Oligarquia

Poder exercido por alguns para benefício próprio, e a forma desviada é a demagogia (que é
uma forma desordenada).

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Direito Constitucional
Democracia

Poder exercido por todos; e mal exercida chega a ser Demagogia

SURGIMENTO

Nasceu de uma forma natural, podemos observar isso em todas sociedades humana (as
civilizadas, barbaras e as selvagens) apresentam-se já organizadas, com um poder politico
permanente, ainda que rudimentar.

Temos como exemplo os povos primitivos que viviam em constante estado de luta, contra
grupos vizinhos e a natureza.

Nessa luta os grupos que possuíam uma autoridade que orientasse e dirigisse é que poderiam
sobreviver, assegurando assim a ordem interna e a segurança externa.

OBJECTIVO DO PODER

 É manter a ordem
 Assegurar a defesa e promover o bem-estar da sociedade
 É realizar em fim o bem público.

PODER POLITICO E A SOBERANIA

Pode haver uma colectividade fixada num território e não ser um Estado.

O estado só nasce desde que essa colectividade exerça o poder político.

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Direito Constitucional
O QUE É PODER POLITICO?

O poder político é a faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria (não recebida
de outro poder), instituir órgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e
imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coacção (imposição).

Ou seja, autoridade que o estado tem de impor ordem ou regras para o bem público.

Este poder não é intemporal, deve ter alternância (possibilidade de mudar) de quem exerce
esse poder, pode haver o mesmo partido mais com outros elementos ou governantes.

Soberania é o poder de decidir sem qualquer subordinação em relação ao outro poder. A


Soberania: significa a inexistência de qualquer poder acima do poder soberano. Na ordem jurídica
internacional, isto revela a absoluta independência política do estado dentro do seu território, com o
reconhecimento desta sua soberania por todos as outras nações.

Ela qualifica-se como absoluta, perpétua e indivisível50. Este conteúdo de soberania explica a
plenitude na ordem internacional51.

Soberania Nacional e Soberania Popular

Segundo a teoria da soberania nacional, a soberania pertence à nação52, pessoas moral distinta
dos indivíduos que a compõem.

A nação não se confunde com os cidadãos que a compõem num determinado momento, ela é
constituída não apenas pelos vivos, mas também pelos mortos e pelos que virão.

E tem como consequência a indivisibilidade e a inalienabilidade da soberania.

50
Estas duas últimas características afirmam a irrelevância dos indivíduos
51
Superior no plano interno e sem igual no plano externo
52
Conjunto de indivíduos de um pais organizado politicamente num estado autónomo (que se governa por leis
próprias, independentes)

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Direito Constitucional
Para a tese da soberania popular defendida por Rousseau, o poder de decidir de comandar, reside
de forma directa no conjunto de cidadãos. O seu corolário directo é o sufrágio universal.

Diferença entre a Soberania e Poder Político

Em suma: a distinção dá entre as figuras supra citadas

O que difere a Soberania do poder Político é que:

A soberania é:

Perpétua (para sempre)

E indivisível (porque é único poder).

Enquanto poder político

é exercido através dos nossos mandatários,

. Não é perpétua,

2.Pode ser dividido,

3.é exercida de uma forma legítima e essa legitimidade é feita de tempo em tempo.

NOTA:

O Estado só é estado quando tiver uma soberania, mesmo tendo todos elementos53.

Por isso Moçambique não era Estado porque Portugal estava sobre o domínio.

53
Povo, território, poder politico soberano

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Direito Constitucional
UNIDADE XII

PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS

Conceito

Princípios constitucionais são o fundamento de validade dos princípios infraconstitucionais.54

São o alicerce para qualquer indivíduo

São normas fundamentais de conduta de um indivíduo mediante as leis já impostas.

Os princípios constitucionais não são homogéneos, podem revestir diferente natureza ou


configuração. A doutrina tem proposto alguns agrupamentos ou classificações.

De acordo com o Jorge Miranda fala de uma parte dos princípios constitucionais substantivos
princípios validos em si mesmos e que espelham os valores básicos a que adere a
constituição material,

Tais princípios são

 Princípio da Legalidade art.60 da CRM


 Princípio da igualdade art.35 da CRM
 Princípio da liberdade art
 Princípio da ampla defesa.
 Princípio do contraditório
 Princípio da proporcionalidade
 Princípio da unidade da Constituição
 Princípio da máxima efectividade ou efectividade constitucional

54 Para que uma norma infraconstitucional seja valida ela deve se basear nos princípios constitucionais

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Direito Constitucional

Princípio da legalidade- diz respeito à obediência às leis. Por meio dele, ninguém será obrigado
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei, em direito. penal..nullan crime
sine legen scripta; estabelece que ninguém será punido sem que haja uma Lei prévia, escrita,
estrita e certa.

Princípio da Ampla defesa- garante a defesa no âmbito mais abrangente possível, Contém duas
regras básicas: a possibilidade de se defender e a de recorrer.
Princípio da Ampla defesa- O teor do art.35 é o sgt: igualdade nas diferenças, aos iguais devem
ser tratados de forma igual aos diferentes de forma diferente.

Principio do Contraditório -O princípio da ampla defesa e do contraditório possuem base no


dever delegado ao Estado de facultar ao acusado a possibilidade de efectuar a mais completa
defesa quanto à imputação que lhe foi realizada. As condições mínimas para a convivência em
uma sociedade democrática são pautadas através dos direitos e garantias fundamentais. Estes são
meios de protecção dos Direitos individuais do cidadão.

Principio da Proporcionalidade - deve haver um limite imposto, especialmente ao legislador, afim


de obedecer certos critérios na elaboração das normas, para que as mesmas conformem-se com a estrutura
constitucional do país.

INCONSTITUCIONALIDADE E AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

Noção ampla e Restrita da inconstitucionalidade

Constitucionalidade e inconstitucionalidade designam conceitos de relação: a relação que se


estabelece entre uma coisa - a constituição e outra uma coisa - um comportamento – que lhe está
ou não conforme, que cabe ou não cabe no seu sentido, que tem nela ou não a sua base.55

55
MIRANDA, Jorge. Ob.cit. Tomo II, 3 Ed.P 311

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Direito Constitucional
Inconstitucionalidade e ilegalidade
Pode falar-se em Legalidade em contraposição a mérito - para traduzir a conformidade do poder
com o Direito a que deve obediência. E, na nossa Constituição, afirma-se que o Estado se funda
na Legalidade (ar. 2 n 2 da CRM), a qual abrange ou implica, simultaneamente, um conjunto de
valores ligados à ideia de Direito democrático e às normas decretadas por órgãos baseadas no
sufrágio universal, igual, directo, secreto e periódico.
Pode falar-se também em legalidade como conformidade com a lei ordinária. Ao passo que a
constitucionalidade é a conformidade com a constituição; ou, negativamente, em ilegalidade e
em inconstitucionalidade. E essa é acepção que interessa para o estudo em causa.

Inconstitucionalidade e Ilegalidade ambas são violações de normas jurídicas por actos do poder.
Verificam-se sempre que o poder infringe a constituição, a lei ou qualquer outro preceito que ele
próprio edite e a que fica necessariamente fica adstrito. Não divergem de natureza, divergem pela
qualidade dos preceitos ofendidos, ali formalmente constitucionais, aqui contidos em lei
ordinária ou nesta fundados.
A distinção radica na norma que disciplina o acto de que se trate, fixando-lhe pressupostos,
elementos, requisitos (de qualificação, validade e regularidade). Se for a constituição, o acto será
inconstitucional no caso de desconformidade; se tais requisitos não se encontrarem se não na lei,
já a sua falta torná-lo-á meramente legal.56
A distinção radica na norma que disciplina o acto de que se trate, fixando-lhe pressupostos,
elementos, requisitos (de qualificação, validade e regularidade). se for a constituição, o acto será
inconstitucional no caso de desconformidade ; se tais requisitos não

Inconstitucionalidade e Hierarquia

O que deva entender-se por hierarquia constitui dificuldade grave. Se a doutrina dominante
admite, pelo menos, a necessidade de hierarquizar os actos normativos, muito continua a
discutir-se acerca do correcto significado que possui. A Escola de Viena realça o conceito
aludido a uma estrutura escalonada da ordem jurídica ligada a criação do Direito por grupos.

56
MIRANDA, Jorge.ob.cit.p323-332

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Direito Constitucional
Outras correntes consideram-no insuficiente para explicar a dinâmica jurídica e fazem apelo
também a outros conceitos.

A hierarquia não tem valor por si, exprime coerência intra e intersistemática, liga-se a ordenação
explícita ou implícita de instituições, funções, órgãos e formas no sistema.

Os diferentes tipos e juízos de inconstitucionalidade

Para ser apreendida em todas dimensões e manifestações que reveste, importa recortar vários
tipos de inconstitucionalidade (ou de juízos de inconstitucionalidade):

Inconstitucionalidade por acção e por omissão, inconstitucionalidade total e parcial,


Inconstitucionalidade material e formal ou formal e orgânico, inconstitucionalidade originária e
superveniente; inconstitucionalidade presente e pretérita; inconstitucionalidade antecedente e
consequente.

A inconstitucionalidade por acção é a inconstitucionalidade positiva, a que se traduz na prática


de acto jurídico público que, por qualquer dos seus elementos, infringe a constituição. A
inconstitucionalidade por omissão é a inconstitucionalidade negativa, a que resulta da inércia ou
do silêncio de qualquer órgão do poder, o qual deixa de praticar em certo tempo o acto exigido
pela constituição.

INCONSTITUCIONALIDADE TOTAL OU PARCIAL

Diz-se a inconstitucionalidade total ou parcial, consoante afecta todo um acto ou apenas uma sua
parte, seja esta ou parte de uma norma em face do conjunto das normas de um diploma ceder-se
a tal decomposição e operar-se depois uma redução ou actos jurídicos, não fundamentalmente
diverso do que preside à interpretação conforme a constituição.57

57
MIRANDA, Jorge.ob.cit.p 338

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Direito Constitucional
De acordo com Jorge Miranda diz que a distinção pode também reportar-se ao tempo de
aplicação da norma, sendo total então a inconstitucionalidade que a atinge em todo o tempo de
viagem e parcial a que atinge apenas em determinado, limitado tempo.

Quando a inconstitucionalidade por omissão, é total aquela que consiste na falta absoluta de
medidas legislativas ou outras que dêem cumprimento a uma norma constitucional e parcial
aquela que consiste na falta de cumprimento do comando constitucional quanto a alguns dos seus
aspectos ou dos seus destinatários.

A INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL E FORMAL

A inconstitucionalidade material reporta-se ao conteúdo, a formal à forma do acto jurídico-


publico (porque a distinção recai dentro da inconstitucionalidade por acção).

Se todo acto jurídico possui um conteúdo e uma forma, um sentido e uma manifestação, e se o
acto jurídico-público se destina a atingir o fim previsto pela norma e nasce, de ordinário,
mediante um processo, ele tanto pode ser inconstitucional (ou ilegal) por o seu sentido volitivo
divergir do sentido da norma como pode sê-lo por deficiência de formação e exteriorização; e, se
num acto normativo a norma como que parece desprender – se do acto que a gerou, tanto pode
ser esta norma ilegítima como ilegítimo o acto em si.58

INCONSTITUCIONALIDADE ORIGINARIA E SUPERVENIENTE

A separação entre inconstitucionalidade originária e superveniente concerne, o diverso momento


de edição das normas constitucionais.

A Inconstitucionalidade originaria resulta de defeito congénito da lei, ou seja; no momento de


ingresso no mundo jurídico. Já a, quanto superveniente, o conflito será resultado da
incompatibilidade entre norma já existente e nova constituição.

58
MIRANDA, Jorge.ob.cit.p 339
O que não é pouco relevante: a validade do acto tem de ser vista em cada momento que durar a sua vigência.

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Direito Constitucional
INCONSTITUCIONALIDADE POR ACCAO E POR OMISSAO

A Inconstitucionalidade por acção abrange os actos legislativos incompatíveis com texto


constitucional, destina-se a paralisar a eficácia ou a retirar do ordenamento um acto que foi
prático, uma lei inconstitucional. As condutas a serem adoptadas podem se originar de órgãos
integrantes dos três poderes do Estado, seja acto praticado por agente da administração publica,
actos do legislativo ou do próprio judiciário.

A inconstitucionalidade por omissão refere-se a falta de acto que deixa de seguir norma
programática estabelecida na Constituição, ou seja, não pode o poder executivo deixar de
cumprir com determinadas prestações positivas que foram estipuladas constitucionalmente, como
nas matérias de saúde, educação.

INCONSTITUCIONALIDADE DIRECTA E INDIRECTA

Entende-se por inconstitucionalidade directa a afronta imediata entre o acto impugnado e a


constituição. E inconstitucionalidade indirecta quando o acto objecto de discussão, antes de ser
analisado sob a óptica da constituição, conflita por lei do ordenamento.

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Direito Constitucional
Glossário

Estado de sitio – é um estado de excepção, instaurado como uma medida provisória de proteccao
do Estado, quando este esta sob uma deterrminada ameaça, como uma guerra ou uma calamidade
publica.

Esta excepção tem alguma semelhança com o Estado de emergência, porque também implica a
suspensão do exercício dos direitos, liberdades e garantias.59

59
MIRANDA, Jorge.ob.cit P324-332

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Direito Constitucional
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Doutrina

CANOTILHO, JJ Gomes; Direito Constitucional e Teoria de Constituição, Almedina.


MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo I.Ed.

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo II.3Ed.

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo III. Estrutura Constitucional do


Estado, 6ed.Coimbra editora, 2007.pp-7 à 30.

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo IV, Ed.

FERNANDES, António José. Introdução á Ciências Politicas; teorias, métodos e temáticas.


Porto: Porto Editora, 2008. PP 121 á 132

 Legislação

CRM, 1975

CRM, 1990

CRM, 2004

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Direito Constitucional
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO

1. O Direito Constitucional tem como objecto do Estudo:


a) o Estado;
b) o Povo;
c) a Constituição;
d) a política;
e) o governo.

2. A República de Moçambique tem como forma de Estado:


a) Estado Democrático de Direito;
b) Estado Federal;
c) Estado Republicano

3.Das definições abaixo, apenas uma não é aceitável para a Constituição:


a) Conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado;

b) É um ramo de direito público e interno dedicado a análise e interpretação das normas


Constitucionais.
b) Conjunto de normas que, por sua especial importância, podem ser alteradas tanto por
quórum especial quanto por maioria simples;
c) Lei fundamental do Estado;
d) Conjunto de normas fundamentais que regula a atribuição e o domínio do Poder Público, bem
como os direitos fundamentais do indivíduo;
e) Estatuto básico para a existência do Estado e que contém toda a estrutura organizacional de
uma nação organizada.

4. É critério para definir uma norma como formalmente constitucional o fato de que ela:
a) regulamente a forma de governo adoptada.
b) Preveja as espécies de lei que podem existir.
c) Discipline os procedimentos de elaboração legislativa.
d) Preveja o sistema eleitoral.
e) Esteja inserida no texto da Constituição, independente da matéria que trate.

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Direito Constitucional
Direito - é o conjunto de normas jurídicas revestidas de coercibilidade que visam regular uma
determinada sociedade e o mesmo é dividido em dois ramos que é o Direito Público e o Direito
Privado.
1. „‟‟Segundo as aulas de Direito Constitucional a cadeira enquadra – se no Direito:
A. Publico. _____
B. Privado. _____
C. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
2. Segundo Jorge Miranda, encontramos várias classificações das constituições e uma delas
e quanto a Origem, já a Constituição moçambicana enquadra – se na:
A. Promulgadas ou Populares. _____
B. Outorgadas ou pactuadas. _____
C. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
3. Quanto a forma a Constituição moçambicana classifica – se em:
A. Positivadas. ______
B. Não positivadas. _______
C. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
4. Nos Estados Federados a revisão constitucional é a mais complexa que nos Estados
Unitários devido a:
A. O papel activo dos estados membros. ______
B. Os Estados membros intervêm directamente no processo de revisão constitucional. ____
C. Há criação de uma comissão had hoc para a revisão. _____
D. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
5. ,,,Quanto aos efeitos de revisão constitucional da constituição de 1975 para 1990 houve:
A. Evolução Constitucional. ______
B. Suspensão da Constituição. _______
C. Ruptura. _____
D. Modificação Expressa. ______
E. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
6. Poder constituinte:
A. É o poder de criar e garantir a constituição. ______
B. É o poder político de criar e garantir a constituição. ______

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Direito Constitucional
C. É o poder de modificar, eliminar uma Constituição. _______
D. É o poder de criar, garantir ou eliminar uma constituição. _______
7. Quanto a Rigidez e Flexibilidade a CRM é:
A. Rígida. _____
B. Semi – Rígida. ______
C. Flexível. _____
D. Semi – Flexível. ______
8. Vicissitudes constitucionais:
A. São falhas ou erros existentes num texto constitucional. ______
B. São falhas ou erros existentes numa norma constitucional. ______
C. São falhas ou erros existentes numa parte da constituição. ______
D. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
9. O objecto do Direito Constitucional é:
A. As normas constitucionais. ______
B. A revisão constitucional. ______
C. A Constituição. ______
D. O Direito Público. _______
E. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
10. A relação que existe entre o Direito Constitucional e o Direito Fiscal é:
A. Fungibilidade. ______
B. Superioridade. ______
C. Coordenabilidade. _____
D. Subsidiariedade. ______
11. O poder constituinte material e formal:
A. O poder constituinte material precede o poder constituinte formal. _____
B. O poder constituinte formal precede o poder constituinte material. ______
C. O poder constituinte material depende do poder constituinte formal. ______
D. O poder constituinte formal depende do poder constituinte formal. ______
12. A Constituição de 1975 estabelecia um regime monopartidário:
A. A constituição de 2004 é que introduziu o regime Pluripartidário. _______
B. A carta das nações unidas obrigou o Estado a alterar o regime para Pluripartidário. ____

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C. A guerra dos 16 anos obrigou o Governo a mudar o regime para o Pluripartidário. _____
D. O acordo de Roma é que introduziu o novo sistema. _______
E. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
13. A função de preâmbulo na Constituição:
A. É a de introduzir o Estado de Direito. ______
B. É a de explicar a origem da Constituição. ______
C. É a de orientar o jurista. _____
D. É a de explicar a Evolução Constitucional. ______
E. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
14. Princípios Constitucionais. Os princípios fundamentais numa constituição servem para:
A. Definir a função da Constituição.
B. Criar as bases do poder político.
C. Colocar a disposição dos juristas os artigos constitucionais que falam dos limites
transcendentais da constituição e funcionalidade do poder político.
D. Representar todos os limites transcendentais do poder constituinte.
E. Nenhuma das alíneas está correcta. _____
15. Um dos limites materiais que não constam da CRM é o preceito sobre finanças públicas:
A. Para a introdução de um novo limite material o legislador disse que é preciso que a
Comissão had hoc apresentasse a Assembleia da República um referendo. _______
B. Para a introdução de um novo limite material o legislador disse que é preciso que a
Assembleia da República debate – se em Secção Ordinária um referendo que fala – se
do assunto. ______
C. Para a introdução de um novo limite material o legislador disse que é preciso que as
propostas de introdução de um novo limite sejam de iniciativa do Presidente da
República ou de um terço, pelo menos, dos Deputados da Assembleia da República.
____
D. Nenhuma das alíneas está correcta. _____

Página 53

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